OS BENEFÍCIOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA NA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL  

THE BENEFITS OF GLUTAMINE SUPPLEMENTATION IN IRRITABLE BOWEL SYNDROME

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11117178


Marcela Cabral de Mendonça Cavalcanti1
Orientador: Carlos Augusto de Oliveira Cavalcanti2


RESUMO

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição gastrointestinal crônica e funcional que afeta significativamente a qualidade de vida da população, principalmente das mulheres. Objetivo: O presente estudo foi realizado para buscar evidências cientificas da suplementação da glutamina no alívio dos sintomas e tratamento da Síndrome do Intestino Irritável (SII).  Metodologia: Trata-se de uma revisão da literatura, onde inclui-se estudos clínicos randomizados, ensaios clínicos controlados e revisões sistemáticas. As buscas dos artigos foram realizadas pelo Pubmed, Cochrane library e Google Acadêmico, restrito a estudos publicados entre 2009 e 2022, em inglês ou português, utilizando-se os seguintes descritores: Síndrome do Intestino Irritável, Glutamina, Síndrome do Intestino Irritável e a glutamina. Resultados: A maioria desses estudos, sugerem que a glutamina pode desempenhar um papel crucial na melhoria dos sintomas associados à SII, destacando-se como uma potencial intervenção terapêutica. Conclusão: a glutamina pode ser uma abordagem segura e eficaz, abrindo portas para futuras pesquisas e potencialmente transformando as práticas clínicas no tratamento da SII. 

PALAVRAS-CHAVE: Síndrome do Intestino Irritável. Glutamina. Suplementação Terapêutica.

ABSTRACT

Irritable Bowel Syndrome (IBS) is a chronic and functional gastrointestinal condition that significantly affects the quality of life of the population, especially women. Objective: The present study was carried out to seek scientific evidence of glutamine supplementation in relieving the symptoms and treating Irritable Bowel Syndrome (IBS). Methodology: This is a literature review, which includes randomized clinical studies, controlled clinical trials and systematic reviews. Article searches were carried out using Pubmed, Cochrane library and Google Scholar, restricted to studies published between 2009 e 2022, in English or Portuguese, using the following descriptors: Irritable Bowel Syndrome, Glutamine, Irritable Bowel Syndrome and glutamine. Results: The majority of these studies suggest that glutamine may play a crucial role in improving symptoms associated with IBS, standing out as a potential therapeutic intervention. Conclusion: Glutamine may be a safe and effective approach, opening doors for future research and potentially transforming clinical practices in the treatment of IBS.

KEYWORDS: Irritable Bowel Syndrome. Glutamine. Therapeutic Supplementation.

1 INTRODUÇÃO 

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) representa um desafio significativo no campo da gastroenterologia e da nutrição, sendo uma condição crônica que afeta substancialmente a qualidade de vida de 10% a 20% de adultos e adolescentes no mundo (WGO, 2015). É uma condição caracterizada por uma combinação de dor abdominal crônica associada a uma alteração na frequência ou forma das fezes (DROSSMAN, 2016).  

Seus impactos socioeconômicos são notáveis, com dados do World Gastroenterology Organization (WGO, 2015) revelando uma prevalência de cerca de 21% na América do Sul, ocorrendo principalmente entre os 15 e 65 anos de idade e, principalmente, em mulheres.

A SII não possui tratamento definitivo, mas pode ser controlada a partir da eliminação de fatores exacerbantes e do manejo dos sintomas (SOARES, 2014). As recomendações na mudança do estilo de vida para aliviar os sintomas são importantes, como alimentação, exercícios, lazer e qualidade do sono. A psicoterapia também pode ser recomendada, entretanto, é raro estar atrelada às causas dos sintomas, mas em geral é uma ferramenta para ajudar a atingir bons resultados (MOREIRA, 2010). 

Nesse cenário complexo, a glutamina, o aminoácido livre mais abundante no corpo humano, é um substrato importante utilizado pelas células intestinais. Foram relatados os papéis da glutamina na fisiologia intestinal e no manejo de múltiplas doenças intestinais. Na fisiologia intestinal, a glutamina promove a proliferação de enterócitos, regula as proteínas de junção apertadas, suprime as vias de sinalização pró-inflamatórias e protege as células contra a apoptose e os estresses celulares durante condições normais e patológicas (MIN-HYUN, HYEYOUNG, 2018).

Diante do impacto expressivo da SII e da falta de abordagens terapêuticas completamente eficazes, a necessidade de investigar novas perspectivas de tratamento se torna evidente. A glutamina, dada sua importância fisiológica, emerge como um candidato promissor. No entanto, embora existam indícios clínicos favoráveis à sua eficácia, uma análise aprofundada se faz necessária para fundamentar essa potencial intervenção terapêutica.

Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo principal aprofundar a compreensão da relação entre a glutamina e a SII. Através de uma revisão bibliográfica detalhada, ancorada em contribuições de autores como, DROSSMAN e SOARES, e da análise crítica de estudos clínicos recentes sobre a suplementação de glutamina na gestão da SII, busca-se consolidar o conhecimento existente e explorar novas abordagens terapêuticas.

2 METODOLOGIA

A pesquisa, realizada de forma virtual, foi restrita a estudos publicados entre 2009 e 2022 no pubmed, no google acadêmico e na Cochrane library, em inglês ou português, utilizando-se os seguintes descritores: Síndrome do Intestino Irritável, Glutamina, Síndrome do Intestino Irritável e a glutamina.

A seleção de estudos seguiu critérios específicos. Trata-se de uma revisão da literatura, onde inclui-se estudos clínicos randomizados, ensaios clínicos controlados e revisões sistemáticas, que investigaram os efeitos da suplementação de glutamina na SII. Desse modo, foram incluídos artigos completos e atuais, com pesquisas apenas em adultos sintomáticos, e que fossem coerentes com o objetivo dessa revisão. Estudos com amostras pequenas, relatos de caso e estudos não diretamente relacionados ao assunto foram excluídos.

A revisão bibliográfica permitiu consolidar informações relevantes sobre a suplementação de glutamina na Síndrome do Intestino Irritável (SII), enquanto a análise de estudos clínicos forneceu compreensões mais específicas sobre os efeitos da glutamina em pacientes com SII.

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 A Glutamina

A glutamina é um ácido L-alfa-amino, sendo o aminoácido livre mais abundante no sangue humano. Ela é necessária para várias funções no corpo, incluindo a síntese de proteínas, bem como uma fonte de energia. Ela pode ser sintetizada pelo organismo e também pode ser obtida da dieta (ANDERSON; LALLA, 2020). Nutricionalmente é classificada como um aminoácido não essencial, uma vez que pode ser sintetizada pelo organismo a partir de outros aminoácidos (CRUZAT; PETRI; TIRAPEGUI, 2009).  

WANG et al (2018) destacam sua presença abundante, citando que a função fisiológica da glutamina é mediada em grande parte por radicais moleculares especiais ressaltando suas duas cadeias laterais de nitrogênio, grupo amino e grupo amida. Este aminoácido desempenha papéis cruciais no metabolismo intracelular, contribuindo significativamente para o crescimento e diferenciação celular, sendo fundamental tanto para os linfócitos quanto para o Trato Gastrointestinal (TGI). É considerado o combustível preferível para essas células, evidenciando sua importância, além de ser um importante doador de nitrogênio no metabolismo intracelular e na manutenção do trato intestinal, das células imunes e do músculo. (WANG et al, 2018; ANDERSON; LALLA, 2020).

A absorção da glutamina ocorre principalmente no jejuno, e ela promove o crescimento da mucosa intestinal, especialmente em caso de lesão intestinal. Aproximadamente 80% da glutamina do corpo está armazenada no músculo esquelético (CHEN et al, 2019). Tanto o intestino delgado como o intestino grosso são capazes de metabolizar grandes quantidades de glutamina fornecidas pela dieta e/ou pela corrente sanguínea (CRUZAT; PETRY; TIRAPEGUI, 2018). O fígado tem um papel crucial como mediador, processando a absorção intestinal e fornecendo glutamina ao plasma para nutrir o TGI. Essa interação equilibrada contribui para a homeostase da glutamina no plasma e para o metabolismo da superfície da mucosa intestinal (ANDERSON; LALLA, 2020).

Além de sua função como transportador de nitrogênio entre músculo e tecidos, a glutamina exerce papel fundamental no metabolismo intracelular. A depleção desse aminoácido durante situações de estresse, inflamação ou doença pode levar à atrofia das células epiteliais intestinais e à hiperpermeabilidade intestinal. (ANDERSON; LALLA, 2020). No entanto, ZHOU et al (2019) destacam que a suplementação dietética pode restaurar a permeabilidade intestinal, evidenciando o papel crucial da glutamina na defesa contra infecções e na homeostase intestinal. 

A glutamina desempenha um papel vital no fornecimento de energia e na cicatrização de tecidos danificados. Sendo assim, a suplementação de glutamina pode ser essencial para a defesa contra infecções, além de auxiliar a mucosa em ser uma barreira contra a infecção, contribuindo para a absorção de nutrientes e a manutenção do estado nutricional adequado. Seus mecanismos de ação incluem síntese peptídica, desintoxicação de amônia, equilíbrio ácido-base sistêmico e a restauração da permeabilidade intestinal (ANDERSON; LALLA, 2020).

Pesquisas recentes nos quais a L-glutamina foi administrada de forma parenteral demonstraram que a maior oferta desse aminoácido às células pode atenuar sua redução no plasma ou no meio intracelular ocorrido após eventos de estresse metabólico ou enfermidades, tais como dengue, câncer, vírus da imunodeficiência humana (HIV), queimaduras, cirurgias, entre outros. Nos estudos de CRUZAT, PETRY e TIRAPEGUI (2018), a utilização de glutamina tem sido correlacionada com melhora na recuperação dos pacientes.

Diversos estudos destacam os benefícios da suplementação de glutamina em condições específicas. No câncer, a glutamina demonstrou eficácia na redução de sintomas associados à quimioterapia e à radiação, promovendo melhor qualidade de vida (ANDERSON; LALLA, 2020). ABBOUD et al (2019) destacam sua capacidade de reduzir a circunferência abdominal, em casos de sobrepeso/obesidade,  melhorando à resistência à insulina e, consequentemente, reduzindo o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2.  

CAMPOS et al (2018) investigaram a administração pré-operatória de bebida enriquecida com carboidratos e glutamina, revelando sua eficácia no cuidado ao paciente cirúrgico. Essa intervenção mostrou melhorar a resposta metabólica ao trauma, otimizando a recuperação pós-operatória e evidenciando benefícios como a redução da resistência insulínica e melhora do controle glicêmico.

Diante da diversidade de funções e benefícios atribuídos à glutamina, a investigação sobre os benefícios de sua suplementação na Síndrome do Intestino Irritável se apresenta como uma abordagem possivelmente promissora. Ao compreender os mecanismos de ação desse aminoácido em condições diversas, esta pesquisa busca contribuir para a compreensão de seu potencial terapêutico na melhoria dos sintomas associados à SII.

3.2 Síndrome do Intestino Irritável 

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio de interação intestinoencéfalo, e é prevalente em toda a população mundial, exercendo um impacto profundo na qualidade de vida e gerando consideráveis custos de saúde (NADAI et al., 2017; MOLESKI, 2022). 

Dados provenientes das Diretrizes Globais da Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO, 2015) indicam que aproximadamente 10% a 20% dos adultos e adolescentes em nível global apresentam sintomas compatíveis com a SII. A prevalência da SII na Europa e América do Norte é estimada em 10–15% e na China, em 15,9%. Na América do Sul, os dados são escassos, mas dentro da média mundial. Ocorre principalmente entre os 15 e 65 anos de idade e em mulheres, havendo  uma redução dessa proporção após os 65 anos. 

A SII é caracterizada por critérios diagnósticos fundamentados em sintomas, com a ausência de causas orgânicas identificáveis, ou seja, não existe nenhuma causa específica responsável pela SII. Não foi encontrada uma causa anatômica em exames laboratoriais, em exames de imagem e em biópsias. Entretanto, fatores emocionais, dietéticos, farmacológicos ou hormonais podem precipitar ou agravar os sintomas gastrointestinais. O estresse é um importante fator, pois está relacionado ao agravamento da SII, com variação de 51% a 86,7%. (BELO; RODRIGUES, 2018;  MOLESKI, 2022).

É uma condição crônica que figura como diagnóstico diferencial e de exclusão para diversas enfermidades que afetam o sistema gastrointestinal. Os sintomas característicos incluem dor abdominal, desconforto e irregularidade no hábito intestinal, tais como distensão abdominal, defecação desordenada e alteração na consistência das fezes. Esta última alteração clínica é classificada de acordo com a escala de Bristol e é responsável por determinar em qual subgrupo da SII o paciente se encontra, podendo ser constipação (SII-C), diarreia (SII-D) ou misto (SII-M). (NADAI et al., 2017; BELO; RODRIGUES, 2018).

Estas apresentações características da SII normalmente se associam a sintomas psicológicos. Estudos epidemiológicos estimam uma prevalência em torno de 40 a 90% de transtornos de depressão e ansiedade nesses pacientes. A fisiopatologia da SII ainda não está completamente elucidada, mas mecanismos como alterações na motilidade gastrointestinal e hipersensibilidade visceral são frequentemente citados. Além disso, as interações entre o sistema imunológico da mucosa, a barreira epitelial e fatores luminais, incluindo alimentos e bactérias intestinais, são consideradas na fisiopatogenia (WGO, 2015; NADAI et al., 2017).

Em geral, o diagnóstico da SII é suspeitado com base na anamnese e no exame físico, sem testes adicionais, sendo alcançado através da clínica apresentada pelo paciente, tomando por base os novos critérios de Roma IV, o qual exige a presença de um critério obrigatório (dor abdominal frequente, pelo menos 1 vez por semana, mantida nos últimos 3 meses e recorrente há mais de 6 meses) associada a dois ou mais dos seguintes: relação com evacuação (piora ou melhora da dor), mudança na frequência das evacuações e alteração na consistência das fezes pela escala de Bristol. Para confirmação do diagnóstico devem ser realizados exames para exclusão de outras doenças, e caso haja presença de sinais de alarme, deve ser realizada colonoscopia para excluir causas orgânicas (NADAI et al., 2017; WGO, 2015).  

Estudos demonstraram consistentemente que a SII prejudica as atividades relacionadas ao trabalho e, também, reduz a qualidade de vida. Portanto, o desenvolvimento de estratégias de tratamento eficazes e eficientes para a SII assume considerável importância, não apenas para o sofredor individual, mas para a sociedade em geral. O diagnóstico precoce e preciso é essencial para proporcionar o tratamento adequado, visando o melhor prognóstico possível para os pacientes (FORD et al, 2018; WGO, 2015;).

O tratamento de pacientes com SII pode ser difícil, pois não existe algoritmo de terapêutica validado. Nem todos os pacientes respondem ao tratamento e pacientes com sintomas semelhantes frequentemente respondem ao mesmo tratamento de maneira diferente. Felizmente, uma variedade de novas estratégias terapêuticas estão sendo exploradas (FORD et al, 2018).

Visto que a frequente associação entre sintomas da SII e fatores como dieta, estresse e fatores psicológicos, deve ser prestada atenção à adoção de medidas que possam aliviar, se não eliminar, tais precipitantes. Esses pacientes recorrem muitas vezes a uma série de terapias alternativas/ complementares, além de uma mudança na dieta, com baixo teor de FODMAPs (oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis), suplementação de fibras e probióticos e ao tratamento farmacológico. (WGO, 2015; BELO; RODRIGUES, 2018).

Diante da complexidade da Síndrome do Intestino Irritável e dos desafios vinculados ao seu diagnóstico, buscou-se neste estudo, contextualizar a prevalência da doença, destacar os critérios diagnósticos e discutir sua classificação dentro do grupo dos Distúrbios Funcionais Gastrointestinais. 

3.3 Evidências clínicas da suplementação de Glutamina na Síndrome do Intestino Irritável (SII) 

O estudo conduzido por RASTGOO et al. (2021) buscou avaliar a eficácia da adição de suplementação de glutamina a uma dieta baixa em FODMAP em pacientes com SII. O ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo envolveu adultos submetidos a uma dieta baixa em FODMAP por 6 semanas, com metade do grupo recebendo 15g/dia de glutamina. Os resultados indicaram uma significativa redução nos sintomas da SII, com 88% dos participantes do grupo da glutamina apresentando melhora superior a 45%, em comparação com 60% no grupo controle. Os achados sugerem a superioridade da adição de glutamina na melhoria dos sintomas da SII quando combinada com uma dieta baixa em FODMAP.

 O protocolo proposto por ZHANG et al. (2021) delineia uma revisão sistemática e meta-análise para avaliar a eficácia e segurança das cápsulas entéricas compostas de glutamina no tratamento da SII. Essas cápsulas contêm 120 mg Lglutamina, ginseng, alcaçuz, Atractylodes macrocephala e Poria cocos. O estudo propõe uma busca abrangente na literatura, abordando os aspectos eficazes e seguros do tratamento com essas cápsulas em pacientes com SII. A avaliação incluirá uma análise de risco de viés, síntese de dados e avaliação da qualidade das evidências por meio da GRADE (Classificação de recomendações, avaliação, desenvolvimento e avaliação). Os resultados deste estudo fornecerão uma base sólida para a prática clínica.

O estudo de BERTRAND et al. (2016) focou em avaliar os efeitos da glutamina na expressão de proteínas de junção apertada (claudina-1 e ocludina) na mucosa colônica de 12 pacientes com SII com predominância de diarreia. Em um ambiente ex vivo, biópsias colônicas foram incubadas com concentrações crescentes de glutamina, resultando em um aumento significativo na expressão de claudina-1. Os resultados sugerem que a glutamina pode modular positivamente a expressão de proteínas de junção apertada em pacientes com SII-D, fortalecendo a barreira intestinal.

O estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo conduzido por ZHOU et al. (2018) avaliou a eficácia e segurança da terapia oral com glutamina em pacientes com SII-D pós-infecção entérica. Os participantes receberam 5g de glutamina três vezes ao dia por 8 semanas. Os resultados demonstraram uma redução dramática em todos os principais pontos finais relacionados à SII, incluindo a pontuação de gravidade da SII, frequência diária de movimentos intestinais, forma das fezes (escala de Bristol) e permeabilidade intestinal. Os eventos adversos foram mínimos, sugerindo que a suplementação de glutamina pode ser uma abordagem segura e eficaz para a SII-D pós-infecção.

As evidências clínicas apresentadas nesta pesquisa sustentam a eficácia da suplementação de glutamina na gestão dos sintomas da SII e na melhoria da qualidade de vida desses pacientes. A combinação de resultados positivos de estudos clínicos, revisões sistemáticas e estudos ex vivo indicam um potencial promissor para a utilização da glutamina como uma abordagem terapêutica ou complementar na Síndrome do Intestino Irritável. 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A suplementação da glutamina para o tratamento da SII vem sendo bastante estudada pelos pesquisadores. Com isso, esta pesquisa buscou aprofundar a compreensão da relação entre a glutamina e a Síndrome do Intestino Irritável, explorando uma abordagem terapêutica potencialmente promissora diante da complexidade dessa condição gastrointestinal crônica.

Ao iniciar com uma contextualização abrangente da SII, abordando sua prevalência, fisiopatologia, sintomas e desafios diagnósticos, estabeleceu-se o cenário desafiador que envolve essa condição. A glutamina emergiu como elemento crucial, fundamentado nas contribuições de autores sobre o tema, como RASTGOO et al., e WANG et al., destacando suas propriedades fundamentais no metabolismo intracelular e no Trato Gastrointestinal (TGI). A justificativa para investigar a glutamina como potencial intervenção terapêutica ganhou destaque diante da falta de abordagens completamente eficazes na gestão da SII.

Assim sendo, a glutamina tem se mostrado ser um aminoácido fundamental para a saúde. Seu potencial nutracêutico é de extrema importância, mesmo ela estando presente na alimentação, sendo fundamental para a saúde intestinal e imunológica.   

Os estudos recentes respaldam a eficácia da suplementação de glutamina na gestão dos sintomas da SII. As pesquisas proporcionaram uma visão abrangente e promissora, indicando a melhoria significativa dos sintomas quando a glutamina é introduzida, seja como complemento a uma dieta baixa em FODMAP ou em terapias específicas para a SII.

As evidências clínicas apresentadas reforçam a plausibilidade de considerar a glutamina como uma intervenção terapêutica na SII. Sua eficácia em diversos aspectos, desde a redução de sintomas até a modulação positiva de proteínas de junção apertada, sugere um papel crucial na gestão dessa condição complexa. As implicações práticas desses resultados indicam que a glutamina pode ser uma abordagem segura e eficaz, abrindo portas para futuras pesquisas e potencialmente transformando as práticas clínicas no tratamento da SII.

Considerando a complexidade da SII e a crescente compreensão da importância da glutamina, perspectivas futuras podem se concentrar em estudos mais amplos, investigando a eficácia a longo prazo, otimização de dosagens e considerando a diversidade de perfis de pacientes. 

Portanto, apesar dos dados promissores, são necessários mais estudos e ensaios clínicos para avaliar a suplementação da glutamina na prática clínica. Desta maneira, explorar a interação da glutamina com outras abordagens terapêuticas pode fornecer uma visão mais holística e inovadora para a gestão da SII, e consequentemente, melhorar a saúde e a qualidade de vida de milhões de pessoas que vivem com essa doença. 

REFERÊNCIAS

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1Graduanda do Curso de Nutrição/CESMAC
marcelinhacmc@hotmail.com

2Doutor em Cirurgia pela UNICAMP; Professor titular do Curso de Medicina/CESMAC
Professor adjunto do curso de Medicina/UNCISAL
caugustooc@gmail.com