ORTOREXIA: COMPULSÃO OBSESSIVA POR ALIMENTOS SAUDÁVEIS QUE ULTRAPASSAM O BEM-ESTAR E A QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7832086


Susiele do Nascimento Devezas Rodrigues
Profa. MSc. Isabela da Silva Moura


RESUMO

O presente artigo apresenta um estudo sobre a compulsão obsessiva por alimentos saudáveis que ultrapassam o bem-estar e qualidade de vida em mulheres. A ortorexia é uma doença que vem desencadeando vários problemas nos últimos tempos, tais como: depressão, deficiência de vitaminas, doenças crônicas, isolamento social, entre outras, que prejudicam tanto o bem-estar social como a qualidade de vida em mulheres no mundo todo. Dessa forma, o objetivo geral é realizar um estudo sobre os fatores que causam a ortorexia e quais consequências na vida da pessoa acometida por esse distúrbio. Já os objetivos específicos consistem em identificar as causas da ortorexia compulsiva; compreender os sintomas provocados em pessoas com essa doença; citar os tipos de alimentos excluídos de pessoas com ortorexia e propor soluções no auxílio nutricional em mulheres com ortorexia. Para o alcance dos objetivos, o estudo de casos e o levantamento bibliográfico serão passos metodológicos adotados no presente trabalho. A pesquisa foi fundamentada em artigos científicos, teses e dissertações de autores peritos no assunto abordado. Desse modo, o estudo tem caráter qualitativo e quantitativo e abrange fontes primárias e secundárias para o desenvolvimento do resultado e da discussão. Por fim, serão apresentadas medidas e soluções que possam ser usadas no tratamento de pessoas com o quadro clínico de ortorexia e como essas pessoas podem obter uma melhoria na qualidade de vida e no bem-estar social. 

Palavras-chave: 1.Ortorexia; 2.Causas;  3.Alimentação.

ABSTRACT

This article presents a study on the obsessive compulsion for healthy food that goes beyond well-being and quality of life in women. Orthorexia is a disease that has been triggering several problems in recent times, such as: depression, vitamin deficiency, chronic diseases, social isolation, among others, which harm both the social well-being and the quality of life of women worldwide. . In this way, the general objective is to carry out a study on the factors that cause orthorexia and what consequences it has in the life of the person affected by this disorder. The specific objectives consist in identifying the causes of compulsive orthorexia; understand the symptoms provoked in people with this disease; cite the types of foods excluded from people with orthorexia and propose solutions in nutritional support for women with orthorexia. In order to reach the objectives, the case studies and the bibliographic survey will be methodological steps adopted in the present work. The research was based on scientific articles, theses and dissertations by authors who are experts in the subject addressed. Thus, the study has a qualitative and quantitative character and includes primary and secondary sources for the development of the result and the discussion. Finally, measures and solutions will be presented that can be used in the treatment of people with the clinical picture of orthorexia and how these people can improve their quality of life and social well-being.

Keywords: 1.Orthorexia; 2.Causes; 3.Food.

1 INTRODUÇÃO

A ortorexia nervosa é uma alteração comportamental caracterizada por uma preocupação demasiada por uma alimentação saudável. As pessoas que apresentam esse distúrbio, além de ficarem excessivamente compulsivas pelo seu peso corporal e com a quantidade de alimentos ingeridos, revelam seu principal sintoma que é o cuidado exacerbado nos tipos de alimentos que são consumidos. Ou seja, a pessoa fica compulsiva em ingerir somente alimentos sem agrotóxicos, gordura, conservantes ou açúcar. Embora seja uma ideia relativamente boa à saúde, essa obsessão pode ser um fator prejudicial ao corpo humano (BRATMAN, 2018).

Nesse contexto, indivíduos com maiores chances de adquirir a ON são voltadas para o público feminino e para estudantes da área da saúde como médicos, enfermeiros e principalmente nutricionistas com 52,8%  devido ao conhecimento aprofundado da composição nutricional de alimentos, seja ele industrializados ou in natura. Além disso, 40,9% dos acometidos são atletas do fisiculturismo e do atletismo, pois, pessoas que trabalham com performance corporal tendem a ser mais cautelosos com os alimentos ingeridos. E, por fim, 7,7% são outras pessoas que podem desenvolver esse distúrbio (COELHO et al., 2016).

Além disso, mulheres com ortorexia fazem dietas restritivas que podem ser prejudiciais à saúde e também ao comportamento social no meio em que convive. Essas pessoas, por vezes, fazem dietas pobres em caloria e carboidrato, ficando com uma deficiência alimentar abaixo das necessidades energéticas exigidas por um adulto saudável. Assim, umas das consequências da ortorexia é a perda de água e a diminuição da massa muscular, além da falta nutrientes essenciais que são encontrados apenas em fontes de proteínas como carne, frango e peixe (CÓRDAS, 2014).

Além disso, umas das características da ortorexia é compulsividade obsessiva por alimentos saudáveis (pelo sujeito) que limita a variedade de alimentos ingeridos por meio da exclusão de certos grupos alimentares como: carnes, laticínios, gorduras, carboidratos, sem a substituição adequada e de acordo com as crenças de cada indivíduos.  Ademais, pacientes com o quadro clínico de ortorexia optam pela substituição do próprio alimento por remédios encapsulados nutricionais, como multivitamínicos ou alimentos em cápsulas, gerando um grande dano físico e psicológico na composição nutricional do corpo (SOUZA, et al. 2017). 

Esse distúrbio possui características similares a outros transtornos alimentares, porém, ainda não é reconhecida como um transtorno alimentar como a Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN) e sim como uma doença nova que tem apresentado sintomas comportamentais obsessivos-patológicos que podem ser prejudiciais à saúde humana. Estudos científicos comparam os sintomas que ocorrem na ortorexia nervosa com os ciclos de comportamento alimentar extremo: as obsessões alimentares e o distanciamento social. Estes são sintomas comuns em transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. (SANTOS et al., 2020).

2 JUSTIFICATIVA

Justifica-se a temática em estudo pela necessidade de investigar os sintomas e fatores que podem desencadear a ortorexia nervosa compulsiva, uma vez que existem poucos estudos sobre essa temática e tem surgido cada vez mais nos dias de hoje. Também se justifica pela  importância de propor um tratamento eficiente com alimentos nutricionais que possam combater sintomas da ortorexia e proporcionar uma melhoria no bem-estar social e na qualidade de vida das pessoas.

5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo Geral

Realizar um estudo sobre os fatores que causam a ortorexia e quais consequências na vida da pessoa acometida por esse comportamento. 

5.2 Objetivos Específicos

  • Identificação das causas da ortorexia compulsiva; 
  • Compreender os sintomas provocados em pessoas com essa doença; 
  • Citar os tipos de alimentos excluídos de pessoas com ortorexia; 
  • Propor soluções no auxílio nutricional em mulheres com ortorexia.

6 METODOLOGIA

A metodologia abordada no presente trabalho fundamenta-se em fontes primárias e secundárias para sua realização. Foram analisados dados técnicos de pesquisas científicas e coleta de informação com imagens, gráficos e tabelas para viabilidade comprobatória das informações assim apresentadas. 

Também será fundamentada em artigos científicos, teses e dissertações de autores peritos no assunto abordado. Desse modo, vale ressaltar, portanto, o uso de biografias intituladas com base em estudos voltados para ortorexia e a compulsividade obsessivas que ultrapassam o bem-estar social e a qualidade de vida em mulheres com dados de caráter qualitativo e quantitativo.

Para o estudo em questão o levantamento bibliográfico e o estudo de casos foram os passos metodológicos estabelecidos para fundamentar os resultados e discussões do trabalho. Assim, a pesquisa envolve um vasto material sobre o uso de abordagens sistêmicas e por fim traz um estudo sobre a Ortorexia Nervosa (ON).

Este projeto tem como objeto o estudo das causas patológicas da ortorexia compulsiva em mulheres, com caráter de estudo qualitativo, quantitativo, exploratório, descritivo e analítico. Dessa forma, o projeto teve como base bibliografias embasadas em publicações de trabalhos científicos da Plataforma Sucupira, Periódicos da CAPES, CNPq, Artigos científicos da Scielo, de revistas científicas publicadas em Qualis A1. Ao todo, foram utilizados 10 trabalhos científicos entre eles: artigos, monografias e dissertações.

Estudo de Caso é um método específico de pesquisa de campo, onde as evidências vêm de várias fontes: documentos, laudos técnicos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante, artefatos físicos, entre outros (YIN, 2011).

6.1 Coleta de Dados

A primeira etapa da coleta de dados consistiu na pesquisa bibliográfica referente ao estudo técnico sobre a ortorexia compulsiva em mulheres com ênfase em comportamentos alimentares gerados pelos sintomas da doença. Já a segunda etapa direcionou-se para a coleta de dados, registros em imagens, análise de dados estatísticos, gráficos e tabelas, além das causas patológicas, sintomas e consequências. 

Assim, na terceira etapa foi possível desenvolver a fundamentação teórica e analisar normas, leis e regulamentos que tratam sobre transtornos alimentares como o Manual de Diagnóstico da OMS, e posteriormente discutir os resultados apresentados através de estudos de casos e comparativos em pessoas que possuem estados avançados da ortorexia nervosa.

Por fim, a quarta etapa voltou-se para proposta de intervenção com o intuito de apresentar medidas e soluções com alimentos saudáveis que auxiliem no combate dos sintomas da ortorexia compulsiva em mulheres de acordo com o Manual de Diagnóstico da OMS em consonância com a Lei n° 11.346 de 2006 que trata do Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN) e diretrizes vigentes, proporcionando uma melhoria na qualidade e no bem-estar do indivíduo.

8RESULTADOS 

8.1 Origem e causas da Ortorexia Nervosa

A Ortorexia Nervosa é um distúrbio alimentar recente descrito pela primeira vez em 1997 pelo médico norte-americano Steven Bratman. A palavra Ortorexia provém do grego e significa “apetite correto”. Tal distúrbio é uma obsessão patológica em comer alimentos puros, tornando a dieta restrita. Indivíduos ortoréxicos evitam alimentos que tenham sido tratados com herbicidas, pesticidas ou substâncias artificiais e se preocupam com os materiais e técnicas utilizadas no preparo dos alimentos (RIBEIRO et al., 2011).

Indivíduos com o quadro clínico de ortorexia vivem umas buscas incessantes pela perfeição e pureza do consumo de alimentos. Logo, são pessoas vidradas em rótulos e querem saber tudo sobre a produção e origem do produtor. Elas mesmas chegam a pesquisar informações como, por exemplo, qual foi a alimentação do boi, tipo de adubo utilizado no cultivo dos vegetais, ambiente em que foram criados e de que maneira foram transportados. E isso não acontece só na hora da compra, mas também na hora de preparar o alimento, pois, tudo deve ser feito de forma calculada para não perder qualquer nutriente, sempre com pouco ou nada de sal e gordura (COELHO et al., 2016).

Ainda, Batrina (2017) ressalta que: Os rituais de escolha e preparo dos alimentos demandam horas e acompanham sentimentos de satisfação ou culpa conforme o resultado do processo. Assim, por considerar-se superior aos demais por suas escolhas alimentares, o indivíduo ortoréxico se abstém de relações pessoais e atividades anteriormente apreciadas.

Além disso, alguns estudos também apontam grupos vulneráveis à ortorexia, dentre os quais estão mulheres adultas e profissionais da saúde, como médicos e nutricionistas. Pois, o conhecimento a respeito da alimentação e da sua composição nutricional torna esse grupo suscetível a esse distúrbio. 

Desse modo, segundo Souza e Rodrigues (2013), levando em consideração esse fato, um estudo mostrou que estudantes de nutrição, comparados com outros cursos, são os mais suscetíveis a desenvolver esse distúrbio. No Brasil, constatou-se que estudantes de nutrição representam 88,7% do grupo de risco da amostra total de universitários que apresentam risco de terem Ortorexia Nervosa (ON).

Ainda, de acordo com Bratman (2018): É possível comprar, em alguns aspectos, os sintomas que ocorrem na Ortorexia Nervosa com os ciclos comportamentais alimentares extremos: como a compulsão alimentar, a anorexia e a bulimia, que são transtornos alimentares reconhecidos pelo CID e pelo manual de diagnóstico da OMS.

Geralmente, esse transtorno pode ser considerado de longo prazo e não transitório em que o comportamento tem um impacto negativo de alta significância na qualidade de vida do indivíduo. Considerada um termo recente e dificilmente compreendido, a ON é pouco abordada por profissionais da saúde e da alimentação, que tem como foco o ensino de uma alimentação saudável. Trata-se de um quadro que vem aos poucos começando a ser discutido como um Transtorno Alimentar (TA), devido a sua abrangência e potencial gravidade (COELHO et al., 2016).

8.2 Sintomas e diagnósticos provocados pela Ortorexia em mulheres 

A Ortorexia Nervosa é dividida em duas fases. Na primeira, os indivíduos apresentam preocupação com objetivos relacionados à adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, o início da prática de exercícios físicos e finalmente o emagrecer. No segundo momento, já é possível observar uma preocupação exagerada com os tipos de alimentos ingeridos, sua origem e sua composição nutricional, além da aparência física do alimento (RAMACIOTTI et al., 2011).

Segundo Córdas (2014) a Ortorexia Nervosa afeta particulamente o grupo adolescentes e adultos jovens do sexo feminino. Além disso, destaca-se que outra condição importante para o aumento da prevalência nesse grupo é o envolvimento com práticas esportivas. Assim, atletas das modalidades de fisiculturismo e atletismo podem estar mais susceptíveis a Ortorexia Nervosa.

Eventualmente, com a diminuição do peso corporal ocorre o aumento da carga de atividades físicas e a obsessão por alimentos julgados saudáveis pelo sujeito, que toma conta da maior parte do tempo da pessoa. A ON está ligada à sensação ilusória de segurança relacionada à prevenção das doenças, ao controle absoluto da ingestão alimentar e com a eliminação do imprevisível, ao “conformismo disfarçado” para aceitar o modelo de corpo ideal imposto pela mídia e finalmente, à busca tanto da perfeição quanto de um desejo obsessivo e a autoprivação social (BRATMAN el al., 2017).

Assim, como consequência dessas condutas, os indivíduos podem apresentar carências nutricionais de micronutrientes (Vitaminas e Minerais), como anemia por carência de ferro, osteoporose por falta de calcio e hipovitaminose por déficit de vitaminas B12, apresentando uma elevação nos índices de morbidade e mortalidade por perda de vitaminas e sais minerais no organismo humano (RIBAS el al., 2013).

No Gráfico 1 é apresentado o percentual de pessoas e grupo de risco de indivíduos com chances de obterem ortorexia.

Gráfico 1. Percentual de pessoas com maiores chances de obter Ortorexia.

Fonte: SOUZA, E.C. 2017.

Dessa forma, a ingestão de comidas encaradas como “puras” cumpre uma função de transcendência purificante, porém, diante de muitas tentações cotidianas, eventualmente ocorrem quedas que podem envolver a ingestão de alimentos “impuros”, onde são realizadas dietas mais restritas, como forma de autodisciplina compulsiva. Ademais, quem possui ON não sente mais a necessidade de interagir com outras pessoas, por se considerar “superior” aos que não seguem o seu estilo de vida. Por esse motivo ocorre, em grande parte dos casos, um isolamento social (ALVARENGA et al., 2011).

8.2.1 Transtornos Alimentares em mulheres

Os Transtornos Alimentares (TA) em mulheres são alterações do comportamento alimentar em ingerir comida ou rejeitá-las. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Alimentares V (DSA-V), os distúrbios alimentares são alterações negativas que podem gerar prejuízos físicos, sociais e psíquicos. São prevalentes em mulheres adultas entre 19 a 26 anos e são considerados transtornos mentais obsessivos-compulsivos nessa fase e gênero e quem pode se transformar em crônicos se não tratados (CRUZ et al,. 2018).

Além disso, as mulheres mais novas podem ser influenciadas através da mídia e das redes sociais que estabelece a magreza como requisito para aceitação social é sinônimo de sucesso social. Dessa forma, os TA também podem ser desencadeados após sentimentos aversivos, por exemplo, perdas, mudanças, ansiedade, separação, dentre outros (OLIVEIRA et al., 2020).

Os principais transtornos alimentares são a Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN). A anorexia é quando a pessoa possui peso corporal abaixo daquele considerado normal. Caracterizada por comportamentos de evitar certos alimentos que consideram hipercalóricos e geralmente está associada a comportamentos purgativos, como vômitos induzidos, sendo prevalente em até 95% dos indivíduos do sexo feminino (DSM-V, 2014).

Os critérios de diagnósticos da Anorexia Nervosa, segundo a DSM-2014, p.338:

  • Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado.
  • Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo.
  • Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na auto avaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.

Já a Bulimia Nervosa (BN) acontece quando o peso geralmente está na faixa normal ou com um leve sobrepeso, porém com episódios de ingestão alimentar de forma descontrolada, seguido por sentimento de culpa associada também aos métodos purgativos. Sua incidência é de 2% a 4% em mulheres (DSM-V, 2014).

Como consequência há irregularidades menstruais; intestino torna-se dependente do laxante, além da ansiedade. Os principais critérios da Bulimia Nervosa, Segundo a DSM-V (2014) são:

  • Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p, ex., dentro de cada período de duas horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. 2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p, ex., os de não conseguir parar de comer ou controlar o que é o quanto se está ingerindo). 
  • Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de peso, como vômitos auto induzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejum; ou exercício em excesso. 
  • A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. d) A auto avaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporal. e) A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa (DSM-V, 2014, p. 345).

Dessa forma, tais transtornos alimentares podem ser apresentados como outras doenças psiquiátricas, como comorbidades, como síndromes depressivas e fobias sociais. Destaca-se que índice de mortalidade é mais alto nas anoréxicas, de 0,56% ao ano em razão do acometimento físico. Já na Bulimia o risco de morte é maior por suicídio, pois demonstram quadros depressivos diante do sofrimento alimentar (ALVARENGA et al., 2011).

8.2.2 Comparativo entre Ortorexia Nervosa e Transtorno Obsessivo-compulsivo

Ao revisar estudos clínicos e biológicos, Fontenelle et al. (2018) encontraram diversos trabalhos que sugerem existir grande semelhança entre a Ortorexia Nervosa e o Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC). Esses autores afirmam ainda que tais resultados têm servido como argumento para a inclusão dos Transtornos Alimentares no espectro obsessivo-compulsivo. Ainda, esclarecem que o conceito de espectro é utilizado para definir entidades nosológicas distintas, mas com apresentações sintomatológicas semelhantes.

No Quadro 1 é apresentado as características comparativas entre a ortorexia e o TOC segundo o quadro clínico demonstrado.

Quadro 1. Comparação entre as características presentes na Ortorexia e no TOC.

OrtorexiaTranstorno Obsessivo-Compulsivo
ObsessõesO conteúdo do pensamento relacionado à alimentação é percebido como normal e apropriado Pensamentos, impulsos ou imagens experimentados como intrusivos e indesejados. As obsessões são percebidas como egodistônicas 
CompulsõesOs rituais estão presentes na compra minuciosa e hipercrítica de cada um dos alimentos, assim como no preparo culinário composto por procedimentos, técnicas não prejudiciais à saúde Comportamentos repetitivos ou atos mentais são executados em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rígidamente aplicadas.
TempoPassar mais de 3 horas diárias pensando epreparando alimentos saudáveis (Alvarez- Arenas, Toro & Manso, 2003).As obsessões ou compulsões tomamtempo (p. ex., tomam mais de uma  hora por dia).
IsolamentosocialPassa a não frequentar eventos coletivos ou convencionais, com a certeza de não ser possível encontrar alimentos e bebidas “saudáveis” para comer As preocupações obsessivas causam perda de relacionamentos sociais einsatisfações afetivas 

Impacto significativo no funcionamento da vida diária, pois alguns pacientes passam muitas horas do dia envolvidos com suas obsessões e rituais.
Sofrimento psíquicoA alimentação se transforma em uma religião e a mínima transgressão se torna um pecado. Em ocasiões em que os rituais pré- estabelecidos não são atendidos, instaura- se culpa e preocupação em decorrência da transgressão A culpa desemboca em dietas rigorosas ouJejuns.
Os rituais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida.As obsessões e/ou compulsões causam sofrimento clinicamente significativo.

Fonte: Batrina e Fontenelle, 2018.

O TOC raramente ocorre sozinho e a proximidade com Transtornos Alimentares se apresenta através de obsessões e comportamentos ritualizados. As características psicopatológicas comuns entre tais transtornos conduzem a hipóteses sobre disfunções neurológicas semelhantes. Os raciocínios recorrentes e intrusivos e comportamentos repetitivos presentes no TOC e na Ortorexia causam um impacto significativo no funcionamento da vida diária, pois alguns pacientes passam muitas horas do dia envolvidos com suas obsessões e rituais (RIBEIRO E OLIVEIRA, 2011).

8.3 Alimentos excluídos por indivíduos com Ortorexia

Muitos pacientes com Ortorexia Nervosa se negam a comer alimentos de origem animal ou derivados deles, no entanto, muitos alimentos apresentam, em sua composição nutricional, vitaminas e sais minerais necessários para o sustento do corpo humano, como carne, peixe e frango. Assim, pacientes com o quadro clínico de ON optam mais pelo consumo de legumes e frutas que, por vezes, não suprem todas as necessidades nutricionais que precisam e, dessa forma, fazem dietas restritivas ou até mesmo consomem medicamentos em cápsulas, no qual desenvolvem quadros clínicos de anemia, desnutrição ou déficit de vitaminas (IPAN, 2016).

Nesse sentido, de acordo com Batrina (2018), alguns alimentos são excluídos da dieta de pessoas com o quadro clínico de ortorexia, tais como: 

  • Produtos industrializados; 
  • Alimentos enlatados; 
  • Carne em conserva; 
  • Bebidas em caixa; 
  • Doces, salgados, sorvetes; 
  • Produtos com conservantes e corantes; 
  • Salsicha, chocolates, cereais.

No Quadro 2 é apresentado os alimentos excluídos pelos indivíduos com ortorexia e que são indicados pelos nutrólogos para composição nutricional necessários de um corpo humano saudável, segundo o IPAN, 2016.

Quadro 2. Composição nutricional dos alimentos.

Tipo de AlimentoEfeitos nutricionaisComposição NutricionalValor Energético
Carne bovinaAuxilia no ganho de massa muscular e no desenvolvimento corporal20,8 g de Proteína e 6,1 gorduras totais144 kcal com valor diário de 7,2%
Leite de sojaAjuda a reduzir a gordura corporal e o colesterol6,4g de carboidrato, 12,9g de Proteínas e 7,5 gorduras totais124 kcal com valor diário de 6,4%
OvosFonte de proteína pura que contém aminoácidos, vitaminas A, D, E, B, fósforo, ferro e cálcio6 g de Lípidos e ácidos gordos saturados de 1,5g82 kcal com valor diário de 4%
FrangoRico em vitaminas A e dos complexos B,C,D,E e K, proteínas energéticas26g Proteínas e 5g gorduras totais e 56 mg de sódio104 Kcal com valor diário de 6%
PeixeRico em vitaminas do Complexo B e B12 melhorando o funcionamento do sistema Nervoso e rico em minerais como iodo, fósforo, ferro e cálcio17,6 de proteínas, 1,4 de gordura total e 0,2 de gordura saturadas83 kcal em média 

Fonte: Instituto de Pesquisa de Alimentos Nutricionais (IPAN), 2016.

8.4 Soluções que possam combater a ortorexia em mulheres

As recomendações nutricionais apresentam como principal diretriz a necessidade da reposição de vitaminas e minerais, devido às deficiências de micronutrientes encontradas com frequências em pacientes com quadro de ortorexia. Os indivíduos com ON podem apresentar complicações e casos de desnutrição que impliquem em seu internamento em unidades hospitalares, incluindo UTIs (LUNA e BOLMONTE, 2016).

Segundo os estudos direcionados por Luna e Bolmente (2016): é importante a atuação de uma equipe multidisciplinar para acompanhar os pacientes com Ortorexia Nervosa. Dessa forma, essa equipe deve ser formada por nutricionistas, médicos, nutrólogo, psiquiatra, psicólogo e educador físico. Além disso, deve existir uma investigação médica e nutricional inicial que favoreça um consenso sobre uma alimentação mais equilibrada e confortável para o paciente com sintomas da ON, conforme o Fluxograma 1.

Fluxograma 1. Formação de equipe multidisciplinar para pacientes com ortorexia.

Fonte: Luna e Belmonte, 2016.

A abordagem do nutricionista com o paciente ortoréxico implica na realização de anamnese alimentar, diagnóstico clínico, exames físicos, análises antropométricas e avaliação laboratorial e a aplicação do questionário ORTO-15. Podendo haver a solicitação de exames complementares laboratoriais ou de imagem no intuito de identificar as deficiências nutricionais e excluir diagnósticos diferenciais relacionados a outras doenças psiquiátricas, doenças infecciosas, reumatológicas e neoplasias (BARTRINA, 2017).

Nutricionistas e Psicólogos devem intervir sempre após a correção dos distúrbios cognitivos provocados pelos déficits de nutrientes. Além disso, terapia cognitiva comportamental, reestruturação cognitiva e psicoeducação alimentar podem ser muito úteis e devem ser individualizados para cada paciente (ABRAN, 2016).

Nesse contexto, a atuação do nutricionista juntamente com a ação de uma equipe multidisciplinar apresenta um papel significativo nas atividades de prevenção, diagnóstico e no tratamento da Ortorexia Nervosa. O nutricionista em sua atuação oportuniza a identificação do momento de transição das fases da adoção de hábitos alimentares mais saudáveis para uma preocupação exagerada com os tipos de alimentos ingeridos e com a aparência física (VARGAS, 2014).

CONCLUSÃO

Foi possível concluir que a ortorexia é um comportamento alimentar obsessivo que apresenta características semelhantes com outros transtornos alimentares, porém, a obsessão compulsiva por alimentos perfeitos é o que diferencia uma nova doença. Dessa forma, são necessários mais estudos para descrever de modo mais completo o comportamento ortoréxico, sua etiologia, possível diagnóstico, tratamento, grupos e/ou populações vulneráveis. Embora a ortorexia nervosa ainda não seja oficialmente reconhecida como um TA, estudos sobre esse comportamento alimentar poderão embasar o seu possível futuro reconhecimento.

A Ortorexia nervosa apresenta-se como um distúrbio complexo e, assim como a Anorexia e a Bulimia, mantém relações próximas com o TOC, dificultando o diagnóstico, prognóstico e categorização entre as desordens já aceitas no DSM. As mudanças que ocorreram nesta quinta edição do manual demonstram a importância da continuidade nos estudos.

Os resultados do presente trabalho levantaram uma temática nova e pouco discutida em nutrição. Destaca-se a importância de que profissionais da área da saúde estejam atentos e atualizados sobre o ato de comer e suas implicações. O conceito e a adoção de hábitos saudáveis e seguros na alimentação devem estar afastados de atitudes e práticas obsessivas e perfeccionistas, ainda que elas sejam motivadas por um desejo de alcançar a pureza da dieta a qualquer custo.

Portanto, o presente artigo contribui para a compreensão da Ortorexia e o alerta para a necessidade de pesquisas investigativas subsequentes que esclareçam a relação entre a Ortorexia e o TOC, auxiliando o manejo terapêutico, médico e nutricional e, por fim, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida e no bem-estar de pessoas com o quadro clínico de ortorexia, principalmente no que diz respeitas às mulheres.

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Universidade Nilton Lins – Curso de Graduação em Nutrição