OCORRÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT E FATORES ASSOCIADOS ENTRE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ATUANTES NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

OCCURRENCE OF BURNOUT SYNDROME AND ASSOCIATED FACTORS AMONG NURSING PROFESSIONALS IN URGENCY AND EMERGENCY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8040581


Antônio Osmar Santos Gusmão1, Joaquina Márcia Gonçalves Barbosa1, Victoria Maria Siqueira Ferreira2, Brunna Ariely Lopes de Souza3, Wilson Ruas da Rocha Junior4, Adélia Dayane Guimaraes Fonseca4, Carla Michelle Mendes4, Luis Henrique Sousa4, Paulielly Glória dos Santos4, Robson de Souza França Ramos4, Davidson Gonçalves Soares4, Elisabete Cordeiro Muniz Silva1, Carla Rodrigues Pereira4, Lázaro Breno Antunes1


RESUMO

Objetivo:identificar a ocorrência da síndrome de burnout e fatores associados entre enfermeiros atuantes na urgência e emergência. Métodos: foi utilizado como método a revisão integrativa da literatura, quando foram utilizados, para a análise, periódicos indexados que referiam ao tema, o que resultou na seleção de 15 artigos. A busca literária foi conduzida na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), indexadas nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online) com os seguintes descritores: burnout”, “esgotamento profissional”., “enfermeiro”, “urgência” e “emergência”. Resultados: verificou-se que os profissionais de saúde, enfermeiros atuantes na urgência e emergência são acometidos por esta síndrome pelo fato de que lidam com intensas emoções, cargas excessivas de trabalho e situações estressantes. Foi possível identificar nos estudos que entre os três fatores presentes no burnout, à exaustão emocional é considerado o mais prevalente, uma vez que é o sintoma que mais representa as consequências que o estresse no trabalho pode causar aos profissionais de saúde, seguida da despersonalização. Conclusão: a prevalência da síndrome é significativa entre os profissionais que atuam nesse setor, faz-se necessário a conscientização dos gestores e profissionais sobre a existência da síndrome por meio de cursos e treinamentos direcionados à redução e/ou enfrentamento de estressores.

Descritores: Burnout; Esgotamento Profissional; Enfermeiros; Urgência; Emergência.

ABSTRACT:

Objective: to identify the occurrence of burnout syndrome and associated factors among nurses working in urgency and emergency. Methods: the integrative literature review method was used when indexed journals were used for analysis that referred to the theme, which resulted in the selection of 15 articles. The literary search was conducted in the Virtual Health Library (VHL), indexed in lilacs (Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences) and SciELO (Scientific Electronic Library Online) databases with the following descriptors: “burnout”, “professional exhaustion”., “nurse”, “urgency” and “emergency”. Results: it was found that health professionals, nurses working in urgency and emergency are affected by this syndrome because they deal with intense emotions, excessive workloads and stressful situations. It was possible to identify in the studies that among the three factors present in burnout, emotional exhaustion is considered the most prevalent, since it is the symptom that most represents the consequences that stress at work can cause health professionals, followed by depersonalization. Conclusion: the prevalence of the syndrome is significant among professionals working in this sector, it is necessary to raise awareness among managers and professionals about the existence of the syndrome through courses and training aimed at reducing and/or coping with stressors.Keywords: Burnout; Professional Exhaustion; Nurses; Urgency; Emergency.

INTRODUÇÃO

O momento histórico atual é marcado pela rapidez das atividades refletidas no cotidiano, em consequência, gerando escassez de tempo, tanto para desempenhá-las como para descanso e lazer. O tempo ganho pela inclusão das facilidades tecnológicas se reverte em novas atividades e demandas que acabam por sobrecarregar o ser humano. A partir dessa situação, pode ocorrer a síndrome de burnout, síndrome que se caracteriza por apresentar cansaço físico e emocional, além de estresse e, consequentemente, pode desencadear outras doenças que refletirá em todo sistema do organismo (CARVALHO; MAGALHÃES, 2011).

O termo burnout na área da psicologia é descrito como uma síndrome multifatorial constituída por exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal relacionada ao trabalho. Recentemente, é considerada uma questão de saúde pública devido às repercussões na saúde física e mental, além das implicações socioeconômicas decorrentes dessa condição (CAMPOS; MAROCO, 2012).

Burnout é uma palavra inglesa que deriva da conjugação de burn (queima) e out (exterior), sugerindo um consumo físico, emocional e mental causado pelo desajustamento entre o indivíduo e o seu ambiente se refere a algo que deixou de funcionar por exaustão/cansaço. Assume concepção multidimensional, cuja manifestação se caracteriza por esgotamento emocional, redução da realização pessoal no trabalho e despersonalização do outro. Assim, essa doençaé característica do meio laboral, vista como um artifício que se dá em resposta à cronificação do estresse (CARVALHO; MAGALHÃES, 2011; GUIDO et al., 2012; MARIN et al., 2011).

Sabe-se que a sobrecarga profissional pode desenvolver a Síndrome de Burnout e apresentar sintomas que podem ser agrupados em quatro áreas: psicossomática, comportamental, emocional e defensiva. Os psicossomáticos são: o aparecimento de cefaleias, tensões musculares, alterações gastrointestinais, perda de peso, insônia, asma e hipertensão arterial. Os comportamentais são: o absenteísmo ao trabalho, aumento de conduta violenta, incapacidade para relacionar- se, até o uso de drogas e problemas familiares. Os emocionais são marcados pelo distanciamento afetivo, impaciência, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização. Em relação aos defensivos, as manifestações abrangem a negação de suas emoções, desprendimento das pessoas e atenção seletiva, tudo para evitar uma experiência negativa (OLIVEIRA; CAREGNATO; CÂMARA, 2012).

A Síndrome de Burnout foi incluída na CID-10, Anexo II, grupo V, nos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais. No entanto, esta, ainda é desconhecida, até por alguns profissionais que fazem o diagnóstico, pelos profissionais que sofrem dessa síndrome e, por outros, que lidam diretamente com relações interpessoais (BRASIL, 2007).

Os trabalhadores estão sujeitos ao desgaste físico e mental nos ambientes de trabalho. Todavia, esta doença é considerada mais prevalente em profissões de assistência ou de serviços, tem sido observado em todos os tipos de ocupações, presenteentre profissionais da área da saúde, devido a sua exposição a distintas fontes de estresse, constituindo-se como um dos serviços de maior incidência (BARLEM et al., 2013).

Nesse sentido, verificou-se que trabalhar em urgência e emergência nem sempre é prazeroso, diante do cenário da prestação de serviços em saúde, a cada dia mais complexo. Sabe-se que a falta de recursos aliada à exigência de contenção de custos e otimização do tempo de permanência são fatores que favorecem o estresse e o desgaste nos profissionais, entre eles os enfermeiros (BENETTI et al., 2009). É muito comum enfermeiros (as) terem dois ou mais empregos. É uma realidade quase constante na vida da maioria, isto devido à baixa remuneração da classe. A sobrecarga de trabalho tem sido uma das variáveis mais predisponentes ao burnout (MEIRA; CARVALHO; CARVALHO, 2015).

Assim, é importante buscar o conhecimento acerca desses pressupostos que indicam a necessidade de se realizar investigações para subsidiar projetos que envolvam o sistema formador como espaço articulador de discussões relacionadas a ocorrência da síndrome de burnout. Nesta perspectiva, esta pesquisa poderá colaborar para novas discussões a respeito da percepção da equipe de enfermagem, gestores e formadores de políticas públicas. Ademais, os resultados poderão embasar outras pesquisas sobre o tema. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo identificar a ocorrência da síndrome de burnout e fatores associados entre enfermeiros atuantes na urgência e emergência.

MÉTODOS

Esta investigação delineou-se a partir de uma revisão integrativa da literatura que tem por propósito agrupar, avaliar e sintetizar o resultado de pesquisas sobre um determinado assunto, de forma organizada e sistemática. Método amplo de abordagem metodológica referente a revisões, que possibilita a exploração abrangente de determinado assunto, a fim de reconhecer o atual estado do assunto e apontar lacunas do conhecimento (BROOME, 2006).

A pesquisa foi realizada durante o segundo semestre de 2022. Para o levantamento bibliográfico foram utilizadas bases de dados científicas, buscou-se para o estudo publicações científicas brasileiras, na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), indexadas nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online) com os seguintes descritores:burnout”, “esgotamento profissional”, “enfermeiro”, “urgência” e “emergência”.

Para escolher os estudos estabeleceram-se critérios de exclusão e inclusão. Neste sentido, foram incluídos estudos disponíveis em texto completo nas bases de dados indexadas selecionadas; artigos publicados em português, espanhol ou inglês e realizados no Brasil. Considerou-se o período temporal de publicação até o ano de 2020 em razão da pandemia de covid-19. Foram descartados artigos disponíveis apenas em resumo; estudos publicados em fontes que não sejam disponíveis eletronicamente, como artigos, livros, monografias, dissertações e teses; editoriais; cartas ao leitor; comentários.

Na busca inicial foram encontradas 46 publicações nas bases de dados LILACS e BDENF, MEDLINE, SciELO. Desses, 32 foram excluídos e 15 foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão propostos, constituindo-se na amostra deste estudo.

RESULTADOS

Todas as 15 publicações selecionadas atenderam aos critérios de inclusão e estão assim distribuídas: 08 na base Scielo, 03 na BDENF e 04 na LILACS (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos artigos encontrados e selecionados.

BASESPUBLICAÇÕES ENCONTRADAS
N=46
PUBLICAÇÕES EXCLUÍDAS
N=32
PUBLICAÇÕES SELECIONADAS N=14
LILACS151203
BDENF131003
MEDLINE020200
SCIELO160808
TOTAL461015

Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde, 2022.

O Quadro 1 apresenta os artigos selecionados, segundo título, periódico, classificação Qualis, autores, ano de publicação, características do estudo e principais desfechos da pesquisa no período de 2012 a 2020. O ano de 2015 houve maior publicação (4), seguido em 2013 (3), 2017 (3), 2012 (2), 2014 (1), 2016 (1) e 2020 (1). O periódico com maior número de publicações foi a Revista Escola de Enfermagem da USP (2).

Quanto ao objetivo das publicações, os autores buscaram, em sua maioria, analisar a prevalência da Síndrome de Burnout em profissionais enfermeiros atuantes na urgência e emergência.

Verificou-se que o município de Recife foi o cenário da maioria das publicações (3), seguido de Alagoas (2), Rio de Janeiro (2) e São Paulo (2). Quanto a abordagem dos estudos encontrou-se: estudos quantitativo (1), estudo descritivo e correlacional (1), descritivo e transversal(1), descritivo exploratório (1), descritivo exploratório com abordagem quantitativa (1), estudo descritivo transversal, quantitativo (2), descritivo com abordagem quantitativa (1) e estudo de revisão integrativa (6).

Quadro 1. Distribuição dos artigos selecionados, segundo título, periódico, classificação Qualis, autores, ano de publicação, características do estudo e principais desfechos da pesquisa.

Título dos ArtigosPeriódico/Qualis/Ano de publicaçãoAutorObjetivo do EstudoMetodologiaConsideração final
01Estresse ocupacional dos enfermeiros de urgência e
emergência: Revisão Integrativa da Literatura.
Revista ACTA Paulista de Enfermagem / 2012Bezerra, F.N.; Silva, T.M.; Ramos, V.P.Analisar a produção científica relacionada ao modo como o estresse ocupacional está presente na vida do enfermeiro que atua no cenário
da urgência e emergência.
Local: Recife. Tipo: Revisão Integrativa.Verificou-se que o sentido do trabalho para os profissionais contribui para sua proteção contra o sofrimento e o estresse ocupacional.
02Preditores da Síndrome de Burnout em enfermeiros de
serviços de urgência pré-hospitalar.
Revista ACTA Paulista de Enfermagem / 2012França, S.P.S.; Aniceto, E.V.S.; Martino, M.M.F.Avaliar os preditores da Síndrome de Burnout apresentados por enfermeiros de serviços de urgência pré-hospitalar móvel.Local: Alagoas. Tipo: Estudo descritivo, exploratória
com abordagem quantitativa.
A Síndrome de Burnout pode estar mais relacionada com fatores organizacionais do trabalho.
03Qualidade de vida no trabalho e burnout em trabalhadores
de enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva.
Revista Brasileira de Enfermagem/ A2 2013Schmidt DRC, et al.Avaliar a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
e a presença da Síndrome de Burnout entre profissionais de enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva.
Local: Paraná. Tipo: Estudo descritivo e correlacional.Os trabalhadores estudados apresentaram baixa exaustão emocional, baixa despersonalização e escore elevado para realização profissional, não apresentando risco para a doença.
04Exaustão Emocional em Enfermeiros de um Hospital
Público.
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem / 2013 B1
Rissardo, M.P.; Gasparino, R.C.Identificar o nível de burnout dos enfermeiros de um hospital
público do interior do Estado de São Paulo.
Local: São Paulo. Tipo: Estudo Descritivo e Transversal.O desenvolvimento da Síndrome de Burnout pode acarretar resultados
negativos para os profissionais, pacientes e instituições.
05O Esgotamento Profissional na Enfermagem: uma análise da produção científica de teses e dissertações.Revista de Enfermagem UFPE on line. / 2017 B2Costa, M.E.M, et al.Enfermagem é uma atividade
desgastante que merece ser mais explorada, pondo em voga a estreita relação entre a organização e condições de trabalho e o esgotamento profissional.
Local: Recife. Tipo: Revisão Integrativa.Observou-se que a enfermagem é uma atividade cansativa que merece ser mais explorada, pondo em voga a estreita relação entre a organização e
condições de trabalho e o esgotamento profissional.
06Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem
de um hospital de urgência/emergência.
Revista da Universidade Vale do Rio Verde / 2014 B1Pereira, S.S. et al.Avaliar o desenvolvimento da síndrome de burnout, fazendo um comparativo entre os
profissionais do período diurno e noturno de um hospital de emergência de Campina Grande.
Local: Pernambuco. Tipo: Estudo Transversal e Quantitativo.O estudo concluiu que os pontos de desequilíbrio entre trabalhadores e o ambiente de trabalho confirmam desgaste profissional e propensão para a síndrome.
07Síndrome de Burnout em profissionais de Enfermagem
de um grande serviço de urgência de sergipe
Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente/ 2015Coutinho, M.S.Identificar a Síndrome de Burnout e os possíveis preditores em profissionais de enfermagem de um grande
pronto socorro público de Sergipe
Local: Aracaju. Tipo: Descritivo com abordagem quantitativa.Propõe-se que as
ações de enfermagem possam ser sistematizadas, com implementação da SAE, protocolos e rotinas.
08Ambiente da prática profissional e burnout em enfermeiros.Revista Rene / 2015 B2Gasparino, R.C.; Guirardello, E.B.valiar o ambiente da prática profissional do enfermeiro, sua relação com a síndrome de burnout e diferenças
entre três instituições
Local: São Paulo. Tipo: Estudo Descritivo e Transversal.Os achados ajudaram na implementação de mudanças que favoreçam a prática profissional do enfermeiro, possibilitando alcançar a satisfação dos envolvidos no
processo, como pacientes, profissionais e instituição.
09Síndrome de Burnout em Profissionais de Enfermagem de Serviços de Urgência e Emergência.Revista de Pesquisa (Online): cuidado é fundamental (Online) / B2 2015Portela N.L.C. et al.Analisar como os estudos científicos descrevem a síndrome de Burnout em profissionais de
enfermagem de serviços de urgência e emergência.
Local: Rio de Janeiro. Tipo: Revisão Integrativa.Conclui-se que este estudo é
importante para que população, profissionais e gestores adquiram conhecimento acerca da síndrome,
podendo contribuir para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.
10Depressão e risco de suicídio entre profissionais de Enfermagem: revisão integrativa.Revista Escola de Enfermagem da USP / 2015 A2Silva, D.S.D., et al.Discutir sobre os
fatores associados à depressão e ao risco de suicídio entre
profssionais de enfermagem
Local: Alagoas. Tipo: Revisão integrativa.Risco de suicídio entre os profissionais de enfermagem está associado a sintomas depressivos e os correlacionados com a Síndrome de Burnout.
11Síndrome de Burnout: consequências e
implicações de uma realidade cada vez mais
prevalente na vida dos profissionais de saúde.
Revista Brasileira de Medicina do Trabalho / 2016Silveira, A.L.P., et al.Descrever as consequências e as implicações da Síndrome de Burnout nos profissionais de saúde.Local: Belo Horizonte. Tipo: Revisão integrativa.Síndrome de Burnout tornou-se um problema de saúde pública
em vários países, incluindo o Brasil, nesse sentido, conclui-se que é necessário diagnóstico preciso e precoce.
12A síndrome do esgotamento profissional no contexto da
enfermagem: uma revisão integrativa da literatura.
Revista Escola de Enfermagem da USP / 2017 A2Costa, M.E.M., et al.Caracterizar a produção científica sobre a Síndrome de Esgotamento Profissional (SEP) no contexto da enfermagem.Local: Ceará. Tipo: Revisão integrativa.Conclui-se que o construto mais relacionado com a SEP é o estresse.
13Síndrome de burnout em profissionais do serviço de atendimento móvel de urgência.Revista Online de Pesquisa Cuidade é Fundamental / 2017 B2
Luz, L.M.; et al.Analisar a prevalência da Síndrome de Burnout em profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.Local: Piaui. Tipo: Estudo Descritivo, exploratório e transversal.Observou-se que a produção de maior conhecimento sobre a temática pode contribuir no cotidiano destes profissionais, visto que a síndrome manifestou-se entre os profissionais do presente estudo.
14Síndrome de Burnout no Contexto da EnfermagemRevista Baiana
de Saúde Pública / 2017 B5
Mourão, A.L.; et al.Abordar as experiências inerentes ao contexto dos profissionais da enfermagem e suas possíveis relações com a síndrome de burnout.Local: Rio Grande do Norte. Tipo: Revisão Integrativa.Concluiu-se que é preciso traçar estratégias que propiciem
prevenção, intervenção e manejo adequado do enfrentamento dessa síndrome.
15Síndrome de burnout em profissionais de enfermagem de pronto-socorroRev enferm UFPE on line/2017 B2Pires, F.C.; et al.Verificar o escore para a classificação da Síndrome de BurnoutLocal: Minas Gerais. Tipo: estudo transversal.Predominou de moderada a alta exaustão emocional, moderada a alta despersonalização e baixa realização emocional.

DISCUSSÃO

O trabalho possibilita crescimento, transformação, reconhecimento e independência pessoal, todavia, as constantes mudanças impostas as pessoas podem gerar também, problemas como insegurança, insatisfação, desinteresse e irritação. Nesta perspectiva, o serviço pode favorecer tanto a saúde como o adoecimento (BEZERRA; SILVA; RAMOS, 2012; SILVEIRA et al., 2016; PEREIRA et al., 2014).

Um desses adoecimentos é a síndrome de burnout conhecida também como esgotamento profissional sendo definida como um dos maiores problemas psicossociais, o que tem chamado atenção e preocupado não só a comu­nidade científica internacional, como também as entidades governamentais, empresariais, educacionais e sindicais, devido à severidade de suas consequências, tanto a nível individual quanto coletiva (VASCONCELOS et al., 2012; GASPARINO; GUIRARDELLO, 2015; MEDEIROS et al., 2017).

A doença está presente entre profissionais da área da saúde, principalmente a equipe de enfermagem que atua na urgência e emergência, devido a sua exposição a distintas fontes de estresse, constituindo-se como uma das profissões de maior incidência (MEDEIROS et al., 2017).

Desta forma, sabe-se que estes profissionais lidam constantemente com o risco iminente de morte, em que a complexidade dos cuidados prestados, somada aos fatores pessoais, tem relação frequente com o desencadeamento do estresse. Portanto, estes estressores devem ser identificados, para que medidas de enfrentamento sejam adotadas, a fim de evitar ou minimizar o adoecimento. Sabe-se que esta doença é identificada atualmente como uma das principais causas para o suicídio entre os profissionais de enfermagem (BEZERRA; SILVA; RAMOS, 2012; SILVA et al., 2015).

Os atuantes nos serviços de saúde, especialmente a equipe de enfermagem, que atuam em urgência e emergência, diariamente, deparam-se com situações que exigem condutas tão rápidas que, em alguns momentos, demandam ações simultâneas sem prévios planejamentos. Assim, necessitam de conhecimento, autocontrole e eficiência ao prestarem assistência ao paciente, para não cometerem erros (BEZERRA; SILVA; RAMOS, 2012).

No geral os profissionais de saúde são acometidos por esta doença pelo fato de que lidam com intensas emoções, cargas excessivas de trabalho e situações estressantes. Todavia, os mais susceptíveis por Burnout são os enfermeiros, uma vez que estabelecem contato estreito com os pacientes e que realizam atividades estressantes no ambiente de trabalho (SILVEIRA et al., 2016).

Outro fator observado em um estudo realizado em um hospital de emergência em Campina Grande com 40 profissionais de enfermagem foi que a baixa remuneração tem sido apontada como sendo uma variável de importância (PEREIRA et al., 2014).

Os primeiros sintomas do Burnout são direcionados aos desencadeantes do processo, ou seja, clientes e colegas de trabalho; logo após atingem amigos e familiares e, por último, o próprio profissional. Os sintomas físicos e possíveis implicações dessa síndrome, podem ser observados: cefaleia, alterações gastrointestinais, absenteísmo, intenção de sair do emprego, baixa produtividade, aumento da rotatividade, diminuição da satisfação com o trabalho (RISSARDO; GASPARINO, 2013).

Um estudo realizado com 32 profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência no município de Picos, Piauí, destacou-se baixo/moderado o risco de adquirir a SB, aos participantes que indicaram trabalhar até 40 horas totais por semana. Também, verificou que a metade 5 (41,7%) dos participantes que trabalhavam mais de 60 horas por semana apresentaram nível alto em desgaste emocional. A relação e a sobrecarga de trabalho da profissão para o desenvolvimento do burnout têm sido descritas em diversos estudos (LUZ et al., 2017).

Estudos demonstram que entre os três fatores presentes no burnout, à exaustão emocional é considerado o mais prevalente, uma vez que é o sintoma que mais representa as consequências que o estresse no trabalho pode causar aos profissionais de saúde. Em seguida, o quesito mais prevalente é a despersonalização, seguida da baixa realização pessoal. Também, verificaram que os fatores epidemiológicos na SB, como idade, sexo e estado civil. Em relação à idade, os profissionais de saúde mais acometidos foram os mais jovens. Acredita-se que, isso se deve ao fato de os profissionais mais jovens serem residentes e, por isso, se sentirem despreparados, além de possuírem carga exaustiva de trabalho, incluindo plantões noturnos. No entanto, alguns estudos revisados não demonstraram correlação significativa entre idade e Burnout (SILVEIRA et al., 2016; SCHMIDT et al., 2013).

Atualmente, burnout é considerado uma doença ocupacional, que resulta em abandono do local de trabalho, fato que gera prejuízos tanto para o empregador quanto para a economia e para os cofres públicos. Fica claro a necessidade de execução das várias políticas públicas com mais eficácia e responsabilidade por parte das autoridades de saúde e dos gestores. Torna-se urgente a implantação de medidas preventivas e o controle de doenças laborais para impedir um caos no setor previdenciário e na economia do Brasil (MOURÃO et al., 2017).

Um estudo feito com 38 enfermeiros em um serviço de Atendimento Móvel em Maceió e Arapiraca – Alagoas, levantou a necessidade de avaliar e correlacionar outros facilitadores organizacionais que possam ser desenvolvidos, a fim de levantar discussões e reflexões sobre os reais facilitadores de burnout e, assim, políticas públicas de prevenção de Burnout possam ser planejadas e implantadas nas instituições que atendem os profissionais enfermeiros atuantes na urgência e emergência (FRANÇA et al., 2012).

Estudos intervencionistas na enfermagem envolvendo SB ainda são iniciantes. As práticas interpostas não necessariamente visam alterações na organização ou no contexto do trabalho propriamente dito, a fim de evitar a síndrome. Propostas são sugeridas como, estruturação do tempo livre com atividades prazerosas e atrativas, avaliação periódica da qualidade de vida individual; avaliação do limite individual de tolerância e exigência; busca de convivência menos conflituosa com pares e grupos; organizações de trabalho; aprimoramento do conhecimento de seus problemas econômicos, sociais e de saúde.

CONCLUSÃO

A prevalência da síndrome é significativa entre os profissionais que atuam nesse setor. A revisão integrativa possibilitou verificar que a síndrome de burnout é prevalente nos profissionais de serviços de saúde, especialmente enfermeiros que atuam em urgência e emergência. Observou-se que a maioria dos estudos informa que entre os três fatores presentes no Burnout, à exaustão emocional é considerado a mais prevalente, uma vez que é os sintomas que mais representa as consequências do estresse no trabalho, seguindo do outro fator, a despersonalização. Faz-se necessário a conscientização dos profissionais sobre a existência da síndrome por meio de cursos (visando à difusão de informações) e treinamentos direcionados à redução e/ou enfrentamento de estressores.

Neste sentido, sabe-se que poucas são as investigações realizadas em hospitais visam investigar esta síndrome na enfermagem em geral e tomam o ambiente hospitalar como um todo por ser um espaço potencialmente facilitador para o desencadeamento da síndrome e conveniente para abordar tais profissionais. Assim, sugere-se o desenvolvimento de novos estudos que abordem esta temática.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Decreto nº 6.042, de 12 de fevereiro de 2007.
Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999, disciplina a aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção – FAP e do Nexo Técnico Epidemiológico, e dá outras providências.

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1Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais.

2Universidade Federal de Minas Gerais.

3Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna.

4Universidade Estadual de Montes Claros.