OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA DOS PACIENTES ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DO ITPAC-PORTO

OBESITY AND METABOLIC SYNDROME OF PATIENTS ATTENDED AT THE ITPAC-PORTO AMBULATORY

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11271842


Daiuny Moara Pinto Fiuza1; Maria Paula Cipriano Alves Rosa2; Talytta Ramyanny Silva Guimarães3; Taynara Augusta Fernandes4


RESUMO:

Introdução: A obesidade constitui um dos mais importantes problemas de saúde pública, exibindo aumento de risco no surgimento precoce das complicações em associação ao excesso de gordura corporal. Objetivos: Esse estudo avaliou a obesidade com ou sem Síndrome Metabólica (SM) nos pacientes atendidos pelo Ambulatório Escola Dr Valter Evaristo Amorim, localizado no município de Porto Nacional – TO. Metodologia: Trata-se de um estudo observacional analítico, com abordagem qualiquantitativa e delineamento transversal com coleta de dados sobre a relação ou não da obesidade à síndrome metabólica de pacientes atendidos no ambulatório supracitado. A população da pesquisa é composta de prontuários de pacientes de ambos os sexos que foram atendidos durante o ano de 2023. Resultados: Foi realizada uma análise descritiva das variáveis sexo, faixa etária, peso, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal, pressão arterial, triglicerídeos, HDL e glicemia em jejum. Sendo que a média de idade dos 97 pacientes analisados foi de 49 anos e o perfil predominante é de pacientes do sexo feminino, de estatura baixa e IMC evidenciando sobrepeso a obesidade e com circunferência abdominal acima do preconizado. Considerações Finais: Esse estudo identificou a SM em 13,4% dos pacientes avaliados e o perfil predominante aponta a necessidade de estímulo de realização de dieta e prática de atividade física pelos pacientes analisados.

Palavras-chave: Endocrinologia. Obesidade. Prevalência. Síndrome Metabólica.

ABSTRACT:

Introduction: Obesity is one of the most important public health problems, showing an increased risk of early complications in association with excess body fat. Objectives: This study evaluated obesity with or without Metabolic Syndrome in patients treated at the Dr Valter Evaristo Amorim School Outpatient Clinic, located in the municipality of Porto Nacional – TO. Methodology: This is an analytical observational study, with a qualitative and quantitative approach and a cross-sectional design with data collection on the relationship or not between obesity and metabolic syndrome in patients treated at the aforementioned outpatient clinic. The research population is made up of medical records of patients of both sexes who were treated during the year 2023. Results: A descriptive analysis was carried out on the variables gender, age group, weight, body mass index (BMI), waist circumference, blood pressure, triglycerides, HDL and fasting blood glucose. The average age of the 97 patients analyzed was 49 years old and the predominant profile is female patients, with a short stature and a BMI showing overweight or obesity and with an abdominal circumference above that recommended. Final Considerations: This study identified MS in 13.4% of the patients evaluated and the predominant profile points to the need to encourage diet and physical activity practice by the patients analyzed.

Keywords: Endocrinology. Obesity. Prevalence. Metabolic Syndrome.

1. INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) representam a maior causa de mortes no Brasil e no mundo e a sua relação com a alimentação destaca-se como fator de risco, que repercute em óbitos precoces evitáveis e altos custos estatais para o setor de saúde pública (Nilson et al., 2020). Dentre as enfermidades supracitadas, destaca-se a síndrome metabólica (SM), que é uma condição crônica, de origem multifatorial e resultante da relação entre fatores não modificáveis, como a predisposição genética, e fatores modificáveis, como a falta de atividade física e uma dieta rica em calorias (Jesus, 2020).

Ademais, para se chegar ao diagnóstico de SM, o paciente deve possuir pelo menos três dos aspectos seguintes: aumento da circunferência abdominal (≥ 88 cm para mulheres e ≥ 102 cm para homens), aumento dos níveis de triglicerídeos no sangue (≥ 150 mg/dL), redução do HDL-colesterol sanguíneo (˂ 40 mg/dL para homens e ˂ 50 mg/dL para mulheres), pressão arterial elevada (≥ 130 mmHg sistólica e/ou ≥ 85 mmHg diastólica) ou uso de medicamentos anti-hipertensivos, e resistência à insulina com glicemia em jejum ≥ 110 mg/dL. Sendo que tais parâmetros estão associados a um maior risco de desenvolvimento de patologias cardíacas (Costa; Souza; Sanches, 2020).

Sob outra perspectiva, a síndrome supracitada pode ser produto da obesidade abdominal, pois essa é caracterizada pelo excesso de tecido adiposo na região abdominal e essa adiposidade possui uma atividade lipolítica elevada, liberando, de forma excessiva, ácidos graxos e citocinas inflamatórias. E tal atividade pode repercutir na resistência à insulina, aumentando os níveis desse hormônio na corrente sanguínea com impactos no metabolismo que induzem de forma crônica a enfermidade estudada (Sociedade Brasileira de Diabetes,  2019).

Sendo que a obesidade pode ser medida de várias formas, incluindo o Índice de Massa Corporal (IMC), o qual é a principal ferramenta utilizada na avaliação do estado nutricional em adultos. Este é calculado pela divisão do peso pela altura ao quadrado do paciente e é acordado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que valores iguais ou superiores a 25 kg/m² indicam excesso de peso, enquanto valores iguais ou superiores a 30,0 kg/m² caracterizam obesidade, a qual pode ser dividida em graus 1, 2 ou 3 (Ferreira; Szwarcwald; Damacena, 2019).

Desse modo, a obesidade é considerada um fator de risco independente para o surgimento de hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemias e entre outras condições que coadunam para o desenvolvimento da SM (Costa et al., 2020). E a ocorrência dessas enfermidades fortalecem a necessidade de rastreio na população, bem como de proposição de medidas como a perda de peso e a prática de atividade física para se mitigar a ocorrência de futuras doenças cardíacas e outras complicações (Brasil, 2017).

Doravante, a importância da pesquisa se reafirma ao permitir delinear um quadro de conhecimento acadêmico-científico e social com educação em saúde e esclarecimentos relacionados aos parâmetros clínicos que podem caracterizar a SM no paciente, os quais fortalecerão a proposição de ações de prevenção, controle e manejo da SM e da obesidade pelos gestores públicos.

Nesse enfoque, esse artigo busca estudar sobre a prevalência da obesidade no município de Porto Nacional – TO, relacionada à síndrome metabólica, e as ações realizadas na população de Porto Nacional – TO para o combate desses agravos, sob a perspectiva dos atendimentos do Ambulatório Escola Dr Valter Evaristo Amorim, localizado no município supracitado, realizados no ano de 2023. Assim, verificando nesses atendi mentos a existência da Síndrome Metabólica documentada nos prontuáriosdos indivíduos obesos.

2. METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de um estudo observacional analítico, do tipo transversal com coleta de dados, os quais foram adquiridos por meio da revisão de prontuários dos pacientes com obesidade e/ou SM no Ambulatório Escola Dr Valter Evaristo Amorim, localizado no município de Porto Nacional – TO, atendidos durante o ano de 2023. Projeto esse que foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Ademais, a população analisada foi composta por paciente atendidos no Ambulatório ITPAC- Porto e na análise da pesquisa foram considerados os critérios de SM, sendo que os dados foram analisados de forma descritiva e explanados em forma de tabelas e gráficos, a fim de facilitar a compreensão das informações. As variáveis observadas nos prontuários foram idade, sexo, peso, altura, IMC, circunferência abdominal, HDL, triglicerídeos e pressão sistólica e diastólica e glicemia em jejum aferidas durante o atendimento.

Outrossim, entre os critérios de inclusão da pesquisa estão os prontuários de pacientes atendidos no ambulatório de endocrinologia durante o ano de 2023 e os prontuários de pacientes com IMC classificados como obesos; e os critérios de exclusão utilizados foram os prontuários de pacientes não residentes em Porto Nacional – TO e os prontuários de pacientes que não têm informações pertinentes ao projeto.

Por fim, de acordo com a resolução nº 466/2012, o presente projeto de pesquisa se propôs a garantir a confidencialidade, a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos envolvidos da pesquisa, assegurando a não utilização das informações em prejuízo das pessoas, inclusive em termos de autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômico-financeiros, sendo que não foram realizados registros fotográficos, nem filmagens dos prontuários. Sendo que a pesquisa foi protocolada na Plataforma Brasil e submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), o qual gerou aprovação pelo parecer número 6.652.746.

3. RESULTADOS

A tabela 1 mostra a análise descritiva das variáveis sexo, faixa etária, peso e índice de massa corporal (IMC). Sendo que a média de idade dos 97 pacientes analisados foi de 49 anos, com todos os prontuários analisados contendo a informação da idade do paciente, e há uma predominância de pessoas do sexo feminino que foram atendidas (82,48%). Em relação a variável peso, dos 97 prontuários analisados, apenas 2 não continham informação desse item (2%) e na variável IMC faltou informação em 13 prontuários (13,5%).

Já ao observar a tabela 2, na variável altura faltou informação de 6 pacientes (6,2%) e pôde-se observar uma alta incidência de usuários com altura de até 1,70, o equivalente a 83,5% do total. No parâmetro circunferência abdominal, faltou informação de 45 pacientes (46,5%) e quando se observou os dados dos pacientes que continham informações, 23,7% dos 53,5% que puderam ser analisados, apresentam circunferência acima de 102 cm.

Ainda na tabela 2, o item pressão arterial não continha informações em 8 prontuários (8,2%) e dos dados obtidos menos do que 40% encontravam-se em valores de normalidade (até 120 x 80 mmHg). O item de glicemia em jejum também apresentou elevada abstenção de informações, com a falta de 34 dados dos pacientes (34,6%) e quando se observou a quantidade restante, apenas 18,4% possuem valores fisiológicos.

Outrossim, os itens colesterol HDL e triglicerídeos também apresentaram elevada abstenção de informações, com falta de 59 dados do primeiro (60,8%) e 61 dados do segundo (63%), sendo que as informações referentes ao HDL obtiveram ,% dos 39,2% analisados com taxas acima do recomendado e no item triglicerídeos, 7,2% dos 37% analisados estão caracterizados como “alto”. E, por fim, foi observado também se nos prontuários havia o diagnóstico de síndrome metabólica, e foi evidenciado que 77 prontuários não continham essa informação (79,4%), que 13 apresentaram a síndrome (13,4%) e 7 pacientes foi cogitado a síndrome pelo médico e estudantes que atenderam (7,2%).

4. DISCUSSÃO

No presente estudo foram analisados os atendimentos no Ambulatório Escola Dr Valter Evaristo Amorim e os resultados obtidos apontam um perfil de usuários do sexo feminino, com uma idade próxima a 50 anos, de estatura baixa e IMC evidenciando sobrepeso a obesidade e com circunferência abdominal acima do preconizado. Paralelamente, a maioria dos pacientes apresentaram pressão arterial elevada no momento da consulta coadunando o quadro de saúde prejudicada exposto pelos altos índices encontrados em triglicerídeos e glicemia em jejum e baixo no colesterol HDL nessa pesquisa.

Nessa perspectiva, em 2001, o critério National Cholesterol Education Program– Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) instituiu como paradigma da síndrome metabólica, e de forma de fácil entendimento, os índices clínicos e laboratoriais glicemia de jejum, pressão arterial, circunferência abdominal, triglicerídeos e HDL. Os quais posteriormente foram corroborados pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I-DBSM) (Moreira et al., 2019).

Desse modo, Cardinal et al. (2018) encontraram 35,5% dos indivíduos estudados com SM utilizando critérios estimados pelo NCEP-ATP III e com o propósito de relacionar com a predisposição de tal enfermidade com doenças cardiovasculares na população. Assim, mesmo com uma inexpressiva quantidade de prontuários com diagnóstico de SM analisados, os dados obtidos apontam uma necessidade de um olhar especial dos gestores públicos para essa população que se encontra fora de padrões tido como saudáveis.

Neves e Mesquita (2018) também utilizaram os valores estimados pelo NCEP- ATP III para diagnóstico de SM, os quais apontam pelo menos três dos cinco critérios, observando que a tríade que apresentou alteração com maior evidência foi circunferência abdominal (CA), glicemia e triglicerídeos (22%). Sendo que o presente projeto, também obteve dados preocupantes em relação à CA, com 23,7% dos 53,5% analisados acima dos 102 cm, sendo que o perfil prevalente no estudo é de mulheres, as quais apresentam risco de complicações metabólicas e cardiovasculares aumentado quando se apresenta CA acima de 80 cm e muito aumentado quando se apresenta maior do que 88 cm (Ferraz et al., 2019).

Ainda nesse enfoque, sabe-se que a elevação da gordura na região abdominal aumenta a glicemia e os triglicerídeos reduzindo os níveis de HDL e aumentando a pressão arterial, o que incide diretamente no aumento do risco cardiovascular e torna a síndrome metabólica uma enfermidade preocupante para quem a possui. E tal perspectiva foi abordada por Agyemang-Yeboahy et al. (2019) que vai ao encontro com o perfil obtido por esse estudo ao inferir que pacientes do sexo feminino são mais propensas a terem obesidade abdominal e menores níveis de HDL do que os do sexo masculino.

E, sob outra vertente, Silva, Braz e Nascimento (2024) perceberam em seu estudo que 20% dos pacientes analisados não identificaram pelo menos 3 dos 5 critérios para a SM, podendo estar sob risco da enfermidade. O que foi observado também no presente projeto, o quanto uma quantidade expressiva de pacientes se consultaram uma única vez durante o ano analisado e não voltaram para fazer um acompanhamento, nem mostrar os exames solicitados. Já que os autores desse estudo tiveram acesso aos prontuários do ano inteiro e alguns pacientes fizeram consultas com outras especialidades e até por vezes retornaram ao ambulatório de endocrinologia, mas não expressaram em seus dados diminuição dos parâmetros clínicos avaliados.

Vale ressaltar também que a razão triglicerídeo/HDL é uma sagaz ferramenta para predizer a evolução da doença arterial coronariana e que tal razão é condicionada por fatores genéticos e ambientais, como alimentação e prática de atividade física (Silva, Braz e Nascimento, 2024). E tal estudo relacionou a quantidade de indivíduos que fazem atividade física, o que não foi abordado no presente estudo, porém, a incidência de 65,9% dos 86,5% pacientes que tinham o dado do IMC no prontuário e que se encontram em estado de sobrepeso ou obesidade apontam a necessidade de redução de peso, bem como de se praticar ou intensificar as atividades físicas de modo a melhorar a sua saúde.

Por fim, Nilsson (2019) apontou que a resistência à recepção de glicose compelida pela insulina e hiperinsulinemia estão presentes na essência etiológica do DM tipo 2, hipertensão e doença arterial coronariana. Para tanto, o fato de que os 47% dos 65,4% dos pacientes analisados nesse estudo estavam em estado de pré-diabetes ou diabetes aponta para a necessidade de diminuição dos valores encontrados nas consultas para que o panorama de desenvolvimento de doenças mais graves como as supracitadas não façam parte da realidade desse público, o qual já possui um perfil carente de cuidados e diminuição dos parâmetros clínicos e laboratoriais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo identificou a SM em 13,4% dos pacientes avaliados e uma expectativa da doença em outros 7,2% dos pacientes, sendo que muitos dos prontuários avaliados evidenciaram uma ausência de continuidade de tratamento, bem como de uma falta de efetivação de exames solicitados pelos médicos do ambulatório, o que inviabiliza uma eficaz cadeia de cuidados para com o paciente.

Ademais, dentre os critérios estudados nesse estudo, dois se destacaram pela expressividade de resultados e por andarem juntos, a CA e o IMC, sendo que no primeiro item observou-se que 23,7% dos 53,5% dos pacientes possuem CA maior do que 102 cm, um número alto para o perfil predominante encontrado. E o quadro preocupante de pacientes obesos obtidos nesse estudo aponta que os principais condicionantes do tratamento da SM, a dieta alimentar e a prática de atividade física, devem ser preconizados a esse público massivamente.

Conclui-se assim reafirmando que a SM é uma epidemia global que afeta todas as faixas etárias, o que mostra a necessidade crucial da participação ativa das autoridades de saúde para a reversão desse quadro. Assim, compreender a fisiopatologia subjacente da síndrome e promover medidas preventivas são aspectos fundamentais para a identificação precoce de pessoas em alto risco são passos significativos que não apenas facilitam o diagnóstico precoce, mas também mitigam o impacto negativo sobre a mortalidade decorrente das complicações advindas da SM e da obesidade.

REFERÊNCIAS

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1Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
2Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
3Acadêmica do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
4Professora doutora do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos