O USO DE CONES VAGINAIS NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO DA LITERATURA

USE OF VAGINAL CONES IN THE TREATMENT OF FEMALE STRESS URINARY INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11285910


Driely Kelly Santana dos Santos1; Julia Santana Coelho1; Layla Maria de Almeida Carvalho1; Semyramy de Santana Silva1; Graciely Lima Ferraz da Silva2.


Resumo

A incontinência urinária de esforço é nomeada assim por ser uma perda involuntária de urina que ocorre quando há uma pressão intra-abdominal durante o exercício físico, tosse ou espirro. O tratamento tem como foco reabilitar e fortalecer o assoalho pélvico, podendo ser utilizada a intervenção cirúrgica ou tratamentos alternativos, principalmente oferecidos pela fisioterapia pélvica.  O objetivo desta pesquisa é revisar a literatura existente sobre o uso de cones vaginais no tratamento da incontinência urinária feminina de esforço (IUE), analisar a metodologia e os resultados dos estudos disponíveis. Verificou-se que existe evidências consistentes que a utilização dos cones vaginais associados ou não a outras modalidades são eficazes no tratamento da incontinência urinária de esforço, podendo assim proporcionar a diminuição da perda urinária e qualidade de vidas para as pacientes.

Palavras-chave: Incontinência urinária de esforço. Cones Vaginais. Mulheres, Treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP). 

1 INTRODUÇÃO

Segundo a International Continence Society (ICS) a incontinência urinária de esforço (IUE) é a perda urinária involuntária que ocorre durante o exercício físico, tosse ou espirro.8 A Incontinência Urinária aos Esforços (IUE) ocorre devido a uma deficiência no suporte vesical e uretral que é realizado pelos músculos do assoalho pélvico ou por fraqueza ou lesão do esfíncter uretral. Essa condição leva a perda de urina em situações de aumento da pressão intra-abdominal, tais como, tossir, espirrar, correr, rir, pegar peso, levantar-se da posição sentada ou até mesmo andar. Em geral, não ocorrem perdas em repouso e durante o sono, essa situação é bastante frequente em mulheres.5

Existem várias abordagens de tratamento disponíveis, incluindo abordagens cirúrgicas, medicamentosas e fisioterapêuticas. No entanto, muitas mulheres procuram alternativas não invasivas e de baixo custo para tratar seus sintomas. Os cones vaginais (CV) têm despertado interesse como uma opção terapêutica promissora para a incontinência urinária, mas sua eficácia ainda é objeto de debate. Os cones vaginais são pequenas cápsulas de formato anatômico feitos de um material resistente e de diferentes pesos que ao serem inseridos no canal vaginal estimulam a contração da musculatura do assoalho pélvico. Este trabalho tem como objetivo revisar a literatura existente sobre o uso de cones vaginais durante o tratamento da incontinência urinária feminina de esforço (IUE), analisar a metodologia e os resultados dos estudos disponíveis.

2 METODOLOGIA 

Por meio de um estudo qualitativo descritivo de revisão bibliográfica, foram consultadas as bases de dados científicas PUBMED, SCIELO, BVS e COCHRANE, utilizando-se os termos de pesquisa: cones vaginais, incontinência urinária de esforço, tratamento conservador e assoalho pélvico, nos idiomas inglês e português. Foram incluídos, além de estudos de caso, estudos clínicos controlados randomizados, revisões sistemáticas e meta-análises publicadas até a data deste trabalho (20 de maio de 2024). Adotaram-se critérios de inclusão como a relevância do tratamento, artigos com foco principal nos cones vaginais, incontinência urinária de esforço, público-alvo feminino, e critérios de exclusão como artigos com ênfase em outros tipos de tratamentos, diferentes classes de incontinências e idiomas, a fim de selecionar estudos relevantes e de qualidade adequada para análise. 

Foram selecionados 14 artigos como base inicial da pesquisa, os quais foram lidos na íntegra, excluindo-se as publicações repetidas. Em seguida, procedeu-se à identificação das características, objetivos e resultados de cada publicação, os dados de cada artigo foram transferidos para uma tabela em Excel que continha título, autores, ano de publicação, palavras-chave, resumo e relevância. O grau de relevância dos artigos foi classificado de acordo com a objetividade no campo de pesquisa. Ao final, foram excluídos os artigos em que os cones vaginais não eram o método principal de estudo, restando, assim, 7 artigos.

3 RESULTADOS 

Oliveira J et al. (2006) Avaliou a influência dos exercícios perineais e dos cones vaginais associados a correção postural da pelve no tratamento da IUE feminina. Foram obtidos melhora na contração da musculatura pélvica e aumento da contração dos músculos perineais nos dois grupos. Em relação aos CV concluíram que a melhora na percepção dos diferentes grupos musculares oferecido pelo feedback dos cones para a paciente, o que auxilia na reeducação e consciência corporal. 

Strassburguer et al. (2006) Estudou uma paciente de 60 anos de idade, com queixa de perda de urina persistente por mais de duas décadas. O tratamento foi conduzido através da cinesioterapia, utilizando um kit de cones vaginais. O protocolo de exercícios foi realizado no domicílio da paciente três vezes por semana, duas vezes ao dia, com acompanhamento semanal para orientação dos exercícios. Ao longo do acompanhamento, a paciente relatou uma melhoria significativa, afirmando sentir-se “curada” devido à ausência de perda urinária nas situações previamente problemáticas. Este relato sugere uma resposta positiva ao tratamento com cones vaginais, destacando sua eficácia na melhoria dos sintomas de pacientes portadoras da IUE.

Paiva Oliva et al. (2011) Buscou identificar os efeitos dos exercícios de Kegel associados ao uso de cones vaginais no tratamento da IU de uma mulher de 59 anos com histórico de diagnóstico há 30 anos e 10 anos de climatério, onde realizou dois partos cesáreos prévios em que o primeiro filho nasceu com 3.600g e o segundo com 4.100g. Com apenas 10 sessões foi possível observar ganho de força perineal, uma diferença significativa de perda urinária mensurada pelo pad-test de 35g no início do tratamento e 25g ao final, a paciente também relatou que conseguia realizar com mais qualidade as AVD´S.

Segundo Sutter Latorre et al. (2014) a reabilitação fisioterapêutica é de extrema importância no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE), no estudo foi a analisado um conjunto de publicações relacionadas com tratamento conservador fisioterapêutico, com finalidade de verificar a atuação da fisioterapia urológica no tratamento da IUE, os tratamentos vistos no estudo foram: exercícios do assoalho pélvico, eletroestimulação, biofeedback e cones vaginais. Em média, os resultados foram mensurados apenas em mulheres, onde tinha o objetivo de analisar o efeito da cinesioterapia na IUE, em um dos estudos da pesquisa avaliou uma mulher com perda urinária considerável ao esforço e após a utilização da técnica dos CV, reavaliou e não houve perdas, reforçando a eficiência e importância do procedimento. 

Holzschuh et al. (2019) adotou uma abordagem quantitativa, utilizando delineamento observacional exploratório do tipo estudo de casos para investigar os efeitos do tratamento da IUE em mulheres no período pós-menopausa. Participaram do estudo duas mulheres: a Paciente 1, de 66 anos, e a Paciente 2, de 71 anos. Ambas diagnosticadas com incontinência urinária de esforço. Iniciou-se o programa de tratamento, que consistiu no uso de CV e cinesioterapia, combinados com exercícios de Kegel, realizado três vezes por semana, com duração de 45 minutos cada sessão, totalizando 10 sessões. Os resultados demonstraram que a utilização dos cones vaginais foi benéfica para as participantes, fortalecendo os músculos do assoalho pélvico e resultando em uma melhora na qualidade de vida, evidenciado pelos resultados do questionário ICIQ-SF.

O estudo prospectivo, randomizado e controlado de Akın Sivaslıoğlu (2019) concluiu que a cura subjetiva da IUE em relação ao grupo que utilizou os cones vaginais por 3 meses e as mulheres que foram submetidas a intervenção cirúrgica com a fita transobtuatória (TOT), são semelhantes, mas o método invasivo ainda é o principal tratamento da IU. Com isso os cones vaginais são indicados como tratamento alternativo ou em casos em que as pacientes se neguem ou não tenham como arcar com os custos da cirurgia. Esse foi o primeiro estudo a comparar o tratamento conservador com cones vaginais ao procedimento. 

Rodrigues et al (2020) produziu o seu estudo através de uma revisão literária caracterizada por uma abordagem descritiva qualitativa, concluindo que os cones vaginais são eficazes no tratamento da IUE, pois promovem a prevenção e reabilitação, visto que o parto vaginal predispõe a IUE devido a disfunção por fraqueza do assoalho pélvico. O autor também aborda que o custo financeiro da intervenção cirúrgica trouxe uma grande visibilidade a fisioterapia por utilizar métodos alternativos e não-invasivos, como por exemplo o foco desse estudo, os cones vaginais, pois têm baixo custo e apresenta eficácia na redução de sintomas em 80% dos casos.

3.1 Discussão

Os autores Strassburger et al. (2006) e Paiva Oliva et al (2011) concordam que os cones são benéficos para auxiliar na reeducação e consciência perineal, melhorando a percepção de perda de urina e realização das atividades de vida diária. destacam a eficácia da utilização de cones vaginais, associados a exercícios de Kegel e cinesioterapia, no tratamento da incontinência urinária em mulheres de diferentes faixas etárias e condições clínicas.  

Holzschuh et al. adotou uma abordagem de estudo de casos para investigar os efeitos do tratamento da incontinência urinária em mulheres pós-menopausa. As participantes, Paciente 1 e Paciente 2, foram submetidas a um programa de tratamento com cones vaginais, cinesioterapia e exercícios de Kegel. Os resultados assim como os estudos de Strassburger et al. (2006) e Paiva Oliva et al (2011) evidenciam uma melhora significativa na função do assoalho pélvico e na qualidade de vida das participantes, destacando a eficácia dos cones vaginais como parte integrante do tratamento da incontinência urinária em mulheres de variadas idades e condições clínicas. O autor utiliza Questionário Internacional de Incontinência urinária (ICIQ-SF) para validar a conclusão. 

Rodrigues et al. (2020) observou uma redução das perdas miccionais em três pacientes estudadas, após a intervenção fisioterapêutica, comprovando que o fortalecimento perineal é eficaz na melhora clínica de portadoras de IUE. Os cones vaginais são considerados um método complementar para a consolidação dos resultados dos exercícios de fortalecimento da musculatura pélvica em razão da facilidade de execução e do baixo custo. No qual há uma eficácia melhor dessas técnicas (eletroestimulação, biofeedback e cones vaginais) como complemento para os exercícios de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, corroborando com o estudo de Sutter Latorre et al. (2014)   onde concluiu que o tratamento fisioterapêutico é efetivo na reeducação das perdas urinárias e na qualidade de vida das portadoras, independentemente da terapêutica aplicada. 

Em contrapartida, Akın Sivaslıoğlu (2019) concluir que a cura subjetiva da IUE em relação ao grupo que utilizou os cones vaginais por 3 meses e as mulheres que foram submetidas a intervenção cirúrgica (TOT), são semelhantes, mas a intervenção cirúrgica ainda é o principal tratamento da IU. Com isso os cones vaginais são indicados como tratamento alternativo ou em casos em que as pacientes se neguem ou não tenham como arcar com os custos da intervenção cirúrgica.

4 CONCLUSÃO

Essa revisão fornece evidências de que a utilização de cones vaginais, combinada com outras modalidades de tratamento (biofeedback, eletroestimulação, TMAP, intervenção cirúrgica), torna-se opção de intervenção eficaz no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres de diferentes faixas etárias e condições clínicas. 

Os resultados obtidos demonstram-se relevantes, constando que os cones vaginais podem tratar a IUE feminina com eficácia, pois recrutam fibras do tipo I e II responsáveis pelo fortalecimento e propriocepção, prevenindo e reabilitando o assoalho pélvico. Conclui-se que a utilização dos cones vaginais faz parte de um tratamento alternativo e/ou complementar, é importante ressaltar a necessidade de mais pesquisas para evidenciar os benefícios da terapêutica. 

REFERÊNCIAS

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1Universidade Salvador (UNIFACS), Salvador, BA, Brasil 
2Universidade de Ensino Superior de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil