O USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENVELHECIMENTO HUMANO: REFLEXÃO SOBRE A LIBERDADE SOB A VISÃO PLATÔNICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411151432


Beatriz Granizo Carvalho Santos¹


Resumo

O artigo busca analisar os efeitos da tecnologia de comunicação no envelhecimento humano como uma forma de garantir sua liberdade, sendo esta sob a ótica do filósofo Platão.

Ao considerar a liberdade política de Platão (liberdade na polis), será analisado como esta liberdade pode ser garantida no envelhecimento humano, colocando como uma das formas possíveis, as tecnologias de comunicação, tendo em vista que o domínio da tecnologia se tornou algo de grande importância para que o ser humano mantenha-se informado, crie relações sociais, e possa ter a liberdade de atender às suas necessidades mais básicas cotidianas e, neste ponto, sabe-se que pessoas idosas possuem grande dificuldade, tornando-se, assim, uma pessoa cerceada da liberdade que se é possível ter na sociedade.

Portanto, o presente artigo visa analisar o uso das tecnologias de informação enquanto um garantidor de liberdade no envelhecimento humano.

Palavras chaves: tecnologia, envelhecimento, liberdade, Platão

Abstract

The article aims to analyze the effects of communication technology on human aging to ensure freedom, viewed through the lens of the philosopher Plato.

By considering Plato’s concept of political freedom (freedom in the polis), the article will explore how this freedom can be guaranteed in human aging, with communication technologies being proposed as one possible means. This is especially relevant given that mastering technology has become crucial for individuals to stay informed, establish social relationships, and maintain the freedom to meet their most basic daily needs. It is well known that elderly people face significant difficulties in these areas, which often leads to a restricted sense of freedom in society.

Therefore, this article seeks to analyze the use of information technologies as a guarantor of freedom in human aging.

Keywords: technology, aging, freedom, Plato.

Introdução

Sabe-se que o computador passou a ser utilizado em 1940 e, gradativamente, se tornou indispensável, senão insubstituível para a sociedade. Isto porque, ainda que não de forma consciente, todos têm interação com o computador no cotidiano.

Contudo, ressalta-se que o computador é uma máquina que necessita de cuidados rotineiros e que precisa do ser humano para que tenha pleno funcionamento e crie as novidades que estão constantemente surgindo.

A partir disso, com a evolução do computador, foram criadas novas tecnologias, principalmente, atreladas à informação e comunicação, como as mídias do meio digital e a Internet. Isto trouxe muito conhecimento e liberdade para muitos seres humanos, no entanto, nem todos foram alcançados por tal conhecimento, como as pessoas que nasceram em uma época distante do cenário apresentado.

Sendo assim, pessoas de mais idade possuem certas dificuldades com uso dessas tecnologias, o que as cerceia da liberdade plena na sociedade, dado que passam a não conseguir ter fácil acesso a informações e interações com outras pessoas, bem como não possuem conhecimento para manuseio dos recursos digitais.

A Tecnologia da Comunicação e Informação

Tecnologia da informação (TICs) é, a princípio, qualquer tecnologia utilizada para tratar informações. Contudo, a expressão está mais intimamente ligada à tecnologia eletrônica de computação e comunicação.

Em seguida, a ideia de comunicação foi correlacionada à tecnologia da informação (STEVENSON COMMITTE, 1997), formando o que hoje conhece-se como tecnologia da informação e comunicação. Esta correlação visou frisar que tanto a informação como a comunicação são importantes na sociedade.

As tecnologias da informação e da comunicação prevalecem na sociedade atual, sendo nomeada de sociedade da informação, por estudiosos da área (CASTELLS, 2010). Isto porque, a sociedade atual está diretamente ligada a transformações de ordem tecnológica, bem como a profundas modificações sociais e culturais.

A sociedade da informação está atrelada a transformações estruturais, sendo estudada como um modelo técnico-econômico, dado que consiste em um fenômeno global modificador de processos sociais e econômicos, tendo em vista que o fenômeno tem uma estrutura e dinâmica que estão ligados à infraestrutura de informações (TAKAHASHI, 2000).

A partir disso, tem-se que a sociedade de informação possui duas dimensões, a político-econômica e social (TAKAHASHI, 2000). A primeira diz respeito à infraestrutura de informações, o que desperta interesse em regiões mais desenvolvidas nas áreas de negócios. Já a segunda dimensão, consiste na capacidade de integrar indivíduos e aumentar o nível de acesso destes à informação.

Ainda, a sociedade da informação também está ligada ao tipo de desenvolvimento da sociedade e da economia, relacionados ao processamento, aquisição, distribuição e transmissão da informação, o que é ponto central na atividade econômica e na produção de conhecimento, que também beneficia os cidadãos no tocante à qualidade de vida e necessidades cotidianas.

Para definir a sociedade contemporânea como uma sociedade da informação, avalia-se o aumento da informação na vida diária das pessoas (FREIRE, 2006). Dessa forma, essa sociedade é marcada pela maneira como os indivíduos conseguem e se apropriam da informação e do conhecimento e como as colocam no âmbito produtivo da sociedade.

Assim, a sociedade da informação surge a partir dos avanços científicos do século passado, especialmente impulsionados pela revolução tecnológica. Na segunda metade do século XX, o crescimento econômico global, principalmente nos países desenvolvidos, começou a se basear em tecnologias que possuem respaldo em teorias e pesquisas científicas. (SUAIDEN LEITE, 2006).

Como uma nova etapa no desenvolvimento histórico, a sociedade da informação é fruto de várias transformações interconectadas, ligadas à informação e à tecnologia. A tecnologia, em especial, desempenha um papel central nas atividades diárias dessa nova sociedade, facilitando a produção e a circulação de informações e gera modificações sociais, políticas e culturais, perfazendo uma realidade dinâmica, que está em constante crescimento. (PINHO, 2011).

Dadas as características da sociedade de informação, percebe-se que é necessário que as pessoas estejam em constante aprendizado para que possam se desenvolver em diversos aspectos, como pessoal e cultural. Não obstante o conhecimento e sua comunicação serem fenômenos fundamentais da sociedade humana, a definição da sociedade contemporânea está ligada à chegada das novas tecnologias e seus efeitos globais. A informação é um componente essencial para o desenvolvimento econômico, assim como o capital, a matéria-prima e o trabalho. No entanto, o que a distingue atualmente é sua natureza digital. (CASTELLS, 2010).

Portanto, as TICs englobam um vasto conjunto de tecnologias destinadas ao manejo, organização e disseminação de informações (TAKAHASHI, 2000). Isso inclui dispositivos como computadores, tablets, smartphones, aplicativos, redes de computadores, sistemas de telecomunicações e a Internet. Recentemente, seus avanços podem ser observados nas áreas de computação em nuvem, inteligência artificial, entre outros.

As TICs estão intimamente relacionadas às transformações observadas na sociedade da informação. Elas desempenharam um papel crucial nas mudanças significativas na estrutura e no funcionamento social, que levaram ao surgimento da sociedade da informação.

De acordo com Takahashi (2000), três fenômenos inter-relacionados são a base dessas mudanças. O primeiro é a convergência da base tecnológica, que uniu conteúdos, computação e comunicações através do tratamento digital da informação. O segundo fenômeno é a prática da indústria de computadores, que possibilita a constante diminuição dos preços em relação às capacidades de processamento. O terceiro é o crescimento da Internet, que se fundamenta nos dois primeiros fenômenos apresentados.

No contexto social, as TICs vão além de simples dispositivos tecnológicos; elas funcionam como instrumentos de cognição, englobando todas as tecnologias coordenadas por computadores, como softwares, clouds, recursos multimídia e a Internet.

Quando utilizadas corretamente, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) têm o potencial de revolucionar a aprendizagem e desenvolver a capacidade intelectual das pessoas. Através das TICs, uma enorme quantidade de dados e informações é acessível à sociedade. Essa vasta memória eletrônica ultrapassa em muito as habilidades cognitivas individuais. No entanto, essa disponibilidade não assegura, por si só, a formação ou o acesso ao conhecimento.

O acesso ao conhecimento vai além de simplesmente utilizar as TICs ou ter acesso à informação digital. Ele está ligado à capacidade de assimilar essa informação (BARRETO, 2003) e envolve, necessariamente, o processo de aprendizagem, seja em contextos formais ou informais, dependendo em parte das experiências que cada indivíduo vivenciou.

No contexto atual das TICs, é notável o crescimento das sociedades virtuais, como empresas e bibliotecas online, além das práticas associadas, como o comércio eletrônico, o trabalho remoto e a colaboração mediada por tecnologia. Uma análise mais ampla sobre o papel das tecnologias na sociedade revela que a atualidade depende significativamente do desenvolvimento das TICs (COLL E MONEREO, 2010).

Na sociedade contemporânea, a informação e o conhecimento têm um papel central e significativo. Esses elementos são fundamentais para a vida social e sempre foram importantes nas sociedades ao longo da história. No entanto, o que os distingue atualmente é principalmente a sua natureza digital, que impulsiona a disseminação do conhecimento.

Nesse contexto, as tecnologias da informação e comunicação (TICs) desempenham um papel crucial, especialmente como parte dos sistemas de informação. Elas facilitam o processamento, a organização e a distribuição de dados em formato digital, proporcionando suporte tecnológico à informação e ao conhecimento, além de introduzirem novas dinâmicas na tradicional organização social em rede. A sociedade atual é fruto de uma série de transformações que ocorreram simultaneamente nas últimas décadas, resultando em mudanças significativas não apenas na tecnologia, mas também nas esferas social, econômica, política e cultural.

O Envelhecimento Humano

O envelhecimento humano é compreendido pelos aspectos biológico, cronológico, psicológico e social. A inter-relações entre esses aspectos ocorre de acordo com a cultura, política, economia e história em que o indivíduo está inserido. Ainda, há uma correlação entre a velhice perante a sociedade e as atitudes da sociedade frente à pessoa idosa.

Portanto, o conceito de idade é constituído por diversas dimensões, não só a cronológica. Todas as dimensões são importantes de serem analisadas, dado que o número de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 7,3 milhões entre os anos de 1980 e 2000, resultando em mais de 14,5 milhões no ano 2000. Diante disso, o Brasil, até o ano 2025, será o sexto país em número de pessoas idosas (World Health Organization – WHO, 2005). Isso ocorre devido à redução da taxa de fertilidade e aumento da expectativa de vida.

Tendo esse cenário em vista, especialistas em envelhecimento classificam as pessoas mais velhas em três grupos: jovens idosos, idosos mais velhos e os mais velhos. O grupo dos jovens idosos, que abrange pessoas de 65 a 74 anos, geralmente inclui indivíduos ativos e enérgicos. Já os idosos mais velhos, com idades entre 75 e 84 anos, e os idosos mais velhos, de 85 anos ou mais, tendem a apresentar mais fragilidade e problemas de saúde, podendo enfrentar dificuldades em realizar atividades diárias (PAPALIA, OLDS & FELDMAN, 2006). Apesar dessa categorização ser comum, pesquisas recentes mostram que o envelhecimento é uma experiência diversa e única para cada pessoa.

Definir o início da velhice é uma tarefa complexa, pois é difícil generalizar sobre esse período, além de haver diferenças significativas entre os diversos tipos de idosos e suas experiências de envelhecimento. Embora a idade seja um fator determinado, a forma como cada pessoa vivencia seus anos varia de acordo com suas características individuais. Por isso, estabelecer critérios para a definição do início da velhice é desafiador, uma vez que os elementos que a caracterizam geram debates entre especialistas e atraem a atenção de pesquisadores.

Existem várias maneiras de definir a velhice. A Organização Mundial da Saúde considera que, para países desenvolvidos, a velhice começa aos 65 anos, enquanto para países em desenvolvimento, esse marco é de 60 anos. No Brasil, conforme o Estatuto do Idoso (2003), são reconhecidas como idosas as pessoas com 60 anos ou mais. Contudo, o envelhecimento humano é cada vez mais visto como um processo afetado por múltiplos fatores, incluindo gênero, classe social, cultura e padrões de saúde, tanto individuais quanto coletivos.

Conforme San Martín e Pastor (1996), não há um consenso sobre a definição de velhice, pois as divisões cronológicas da vida não são absolutas e não refletem necessariamente as etapas do envelhecimento natural. A velhice não se resume a uma questão cronológica, mas está relacionada às condições físicas, funcionais, mentais e de saúde dos indivíduos, indicando que pessoas da mesma idade cronológica podem apresentar diferentes idades biológicas e subjetivas.

Dessa forma, a idade cronológica não é um indicador exato das transformações que ocorrem com o envelhecimento, ela se torna uma maneira padronizada de contabilizar anos vividos. Existem variações significativas na saúde, participação e níveis de independência entre pessoas mais velhas que têm a mesma idade. Ademais, é indubitável que eventos da vida pessoal, familiar e profissional também são marcos importantes para entender essas mudanças. Assim, o envelhecimento humano pode ser visto como um processo complexo que abrange diferentes aspectos, seja pela idade, meio social e psicológico.

Especificamente, o campo da idade psicológica, pode ser utilizado de duas formas, referente à idade cronológica e às capacidades psicológicas, como de aprendizado, memória e perspicácia, o que demonstra o funcionamento da pessoa idosa.

A idade psicológica é a capacidade dos indivíduos de se adaptarem às exigências do ambiente (HOYER e ROODIN, 2003). Essa adaptação é realizada por meio de diversas habilidades psicológicas, como aprendizado, memória e controle emocional.

Dito isso, o reconhecimento de uma pessoa como velha ocorre, normalmente, quando surgem lapsos de memória, dificuldades de aprendizado e problemas de orientação, em comparação com suas habilidades cognitivas anteriores. Contudo, tais perdas podem ser equilibradas por sabedoria e experiência. Em grande parte dos casos, o declínio cognitivo resulta mais de desuso, doenças mentais, fatores comportamentais e sociais, como a solidão. (WHO, 2005).

Além disso, a senilidade não é considerada algo corriqueiro do envelhecimento, o que significa que a idade não implica necessariamente em um declínio das funções intelectuais. Na verdade, as patologias são geralmente responsáveis pelos problemas que afetam as habilidades cognitivas em pessoas idosas.

A idade psicológica também pode ser entendida por meio dos padrões de comportamento que a pessoa desenvolve e mantém ao longo da vida, influenciando diretamente como ela envelhece. O envelhecimento resulta de uma construção pessoal ao longo da vida. A capacidade de enfrentar adversidades impacta o nível de adaptação a mudanças e crises relacionadas ao envelhecimento (WHO, 2005).

Pesquisas recentes demonstram que os idosos possuem uma notável habilidade de se adaptar a novas circunstâncias e elaborar estratégias que funcionam como fatores de proteção e são fundamentais para um envelhecimento próspero.

Portanto, o envelhecimento é um processo complexo e influenciado por diversos aspectos. A singularidade de cada indivíduo, tanto biológica quanto social, dificulta a definição de parâmetros universais. Assim, utilizar apenas a idade cronológica como critério é insuficiente, pois ignora uma série de variáveis. A idade não determina o envelhecimento em si, é somente um dos aspectos do desenvolvimento, servindo como referência temporal.

Dado o panorama apresentado, dos aspectos que devem ser levados em consideração ao tratar de pessoas idosas, ressalta-se o Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03, o qual, em seu artigo 20, dispõe que o Poder Público deve oferecer oportunidades de acesso ao idoso à educação (ESTATUTO DA PESSOA IDOSA, 2003).

Portanto, é de suma importância que seja possibilitado às pessoas idosas o acesso às tecnologias e informação e comunicação, o que contribuiria para a sua inclusão social e combate ao preconceito que ainda existe contra a pessoa idosa na utilização de tais tecnologias.

As tecnologias de informação e comunicação são uma das formas de inclusão social dos idosos, vez que significam novas oportunidades para pessoas idosas. Isto se concretiza através das idealizações de aplicativos para tablets, smartphones, que colaborem com as atividades cotidianas das pessoas idosas, inclusive o internet banking, é uma área crescente, dado que os bancos reforçam mecanismos de segurança e possibilitam sua utilização por meio de números e letras maiores, para uma melhor visualização.

Atrela-se a isso, o fato de que boa parte das pessoas idosas valorizam a tecnologia ao passo que melhora sua vida (MINCACHE et al.,2011).

Contudo, sabe-se que as pessoas idosas são a minoria dos usuários, conforme pesquisa realizada em 2019 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br, 2020) cerca de somente um da população idosa brasileira possuíam acesso regular à internet. Ainda, com a pandemia e maior utilização da internet para a realização de atividades, a proporção aumentou para 50% (cinquenta por cento). No entanto, ainda permanece sendo valor baixo quando comparado com a população jovem.

Tendo isso em vista, por meio de uma revisão da literatura, Bhattacharjee, Baker e Waycott (2020) demonstraram cinco impedimentos para a inclusão digital de pessoas idosas: (i) perdas cognitivas e físicas associadas ao processo de envelhecimento; (ii) a constante atualização e complexidade das tecnologias de informação e outras; (iii) a escassez de iniciativas para ensinar os idosos, juntamente com a crença de que eles são incapazes de aprender a utilizar determinados recursos tecnológicos; (iv) materiais de ensino inadequados para esse público; e (v) a falta de incentivo social para que os idosos se dediquem ao aprendizado e novos recursos digitais.

Tais impedimentos encontram suporte na própria sociedade, que não buscam ensinar às pessoas idosas, tampouco buscam criar ferramentas que colaborem com a adaptação das pessoas idosas às tecnologias disponíveis (GLEN, 2016).

Os impedimentos somados com a ausência de iniciativa da sociedade resultam em uma população idosa que, além de ter menos acesso à internet em comparação com os jovens da mesma classe social (CGI.br, 2021), também expressa insegurança e medo ao usar dispositivos digitais (FEBRABAN/IPESPE, 2022), o que, evidentemente, priva a pessoa idosa de diversas formas de comunicação e informação.

Com base no que foi apresentado, sugere-se a adoção de mais medidas para promover a inclusão digital dos idosos, o que envolve aumentar a conscientização sobre a capacidade dos idosos de utilizar ferramentas digitais, criar interfaces mais amigáveis e adaptadas às suas necessidades, e, principalmente, desenvolver programas de ensino que realmente atendam a essa população. Embora vários programas tenham sido criados para ensinar os idosos a manusear dispositivos digitais, a análise realizada por Bhattacharjee, Baker e Waycott (2020) indica que essas iniciativas têm sido inadequadas, pois não oferecem materiais especificamente direcionados a esse grupo específico da sociedade.

A Liberdade em Platão

De início, vale destacar que para Platão, a filosofia está pautada em três pilares, que são a epistemologia, ou seja, o verdadeiro conhecimento somente poderia ser adquirido pela razão e considerava as sensações como percepções que levam ao engano e nos afastam da verdade e do conhecimento. O segundo pilar é a ética, que está diretamente ligada à moralidade, o que permite ao indivíduo fazer o discernimento entre o bem e o mal e agir conforme a virtude, de forma que a filosofia, que é a busca pelo saber, estaria atrelada à busca pela moralidade. Por fim, há a metafísica, que consiste na ideia de que o mundo sensível era a sombra dos desejos e das paixões e que o mundo das ideias é a realidade, o conhecimento, de modo que a filosofia leva ao verdadeiro conhecimento.

Tendo em vista o conceito de filosofia para Platão, a liberdade para vai além de agir de acordo com a própria vontade. Na verdade, a liberdade está atrelada à busca por conhecimento, ligado à ética e à metafísica e à harmonia entre corpo e alma.

Neste ponto, vale dizer que Platão defendia que a alma é constituída por três partes essenciais, quais sejam, o apetite, que consiste nos desejos e impulsos do ser humano; o espírito, ligado às emoções e paixões e a razão, que é a parte nobre a alma.

A partir destas três partes que compõem a alma, Platão defendia que a verdadeira liberdade somente poderá ser atingida quando a razão domina as demais partes da alma, qual seja, o apetite e o espírito.

Para explicar, Platão utilizou a Alegoria da Caverna, na qual um grupo de pessoas presas apenas conseguem enxergar sombras projetadas na parede, o que representa os desejos e prazeres materiais. Portanto, as pessoas que estão presas, somente atingiram a liberdade ao alcançar o mundo das ideias, onde prevalece o conhecimento e a essência da alma.

Ainda, em sua obra A República, Platão aborda a liberdade ligada ao exercício da virtude e à harmonia entre as partes da alma para que se alcance o verdadeiro conhecimento. Portanto, para Platão, a liberdade está atrelada ao autodomínio e à superação dos desejos e das paixões, de forma que o conhecimento e virtude levam à liberdade.

Assim, a liberdade consiste na capacidade da alma de buscar conhecimento, visando suas capacidades e limitações, para que seja possível o autoaperfeiçoamento, o que possibilitaria o afastamento da servidão e aproximação da virtude. Isto é, a questão da liberdade implica na concretização da problemática do autoconhecimento, de forma que a pessoa que possui conhecimento sobre si, age conforme o conhecimento, ocupando-se consigo mesmo para se evadir da condição de servo, alcançando o papel de governante de si e de governar.

Portanto, a liberdade significa a superação das limitações, para que a alma possa se autogovernar, ou seja, não se sujeitar à vontade alheia, de forma que o indivíduo possa viver regido por seus próprios costumes e lei, no contexto da polis (cidade), de modo a defender sua liberdade.

Dado os pontos apresentados, tem-se que para Platão o ser humano alcança a liberdade ao atingir a posição de governante, que é suportado pela ideia de superação da parte da alma dos desejos e das paixões, de modo que a parte que prevalece é a da razão, que é o conhecimento e capacidade de se autogovernar.

Assim, ao trazer a ideia de conhecimento e autogoverno para o âmbito de discussão do presente artigo, analisa-se que a verdadeira liberdade para Platão é a capacidade de se autogovernar, porque está diretamente ligada à ideia de capacidade de ser independente na sociedade, de agir e pensar de forma autônoma perante a sociedade.

Conclusão

Tendo em vista a evolução do computador, desde 1940, percebe-se que a dinâmica do mundo se modificou, tarefas cotidianas aos poucos foram facilitadas ou modificadas de forma tudo pôde passar a ser realizado através do computador, bem como as formas de obter informação e interação com outras pessoas.

Evidente que para pessoas que nasceram muito antes deste contexto, as quais são pessoas com mais idade, seja ela cronológica, psicológica, naturalmente, possuem certas dificuldades, já que a realidade das tecnologias de informação e comunicação foi instaurada e imposta na sociedade de forma rápida, devidos aos avanços nos recursos digitais.

Soma-se a isso o fato de que a população está envelhecendo cada vez mais e as tecnologias de informação e comunicação estão cada vez mais disseminadas e complexas para pessoas de gerações mais antigas.

Este paradoxo impacta diretamente na liberdade das pessoas mais velhas, ou pessoas já idosas, tendo em vista que, atualmente, boa parte do cotidiano das pessoas, de forma geral, é resolvida através de recursos digitais, seja através de um email, do pagamento de contas por meio dos aplicativos dos bancos, de obtenção de informação via aplicativos também.

Portanto, pessoas idosas, que não cresceram nesse cenário, possuem dificuldades que são consideradas básicas no dia a dia, como o adquirir comprovante de pagamento de uma fatura, por exemplo, vez que pessoas idosas muitas vezes possuem dificuldade de entender que não é necessário pagar fisicamente do banco para obter o comprovante.

Essa dificuldade faz com que as pessoas com mais idade comecem a depender de parentes para realizar coisas simples dos cotidianos para eles, como demonstrar como entrar em certo aplicativo, como pagar um boleto por meio do aplicativo, ou até mesmo para explicar como isso pode ser feito através do celular ou até, o que significa um aplicativo.

Esta dependência é uma barreira à verdadeira liberdade na sociedade, no conceito do filósofo Platão, que aponta que a liberdade está diretamente ligada à capacidade de autogoverno e conhecimento, pois, as pessoas mais velhas passam a depender de outras pessoas para que possam lhe explicar determinados processos tecnológicos ou que realizem funções básicas do cotidiano para elas.

Portanto, vê-se que as tecnologias de informação e comunicação são de suma importância no processo de envelhecimento humano, vez que é uma das formas de liberdade atualmente, dado que os recursos digitais são necessários em diversos aspectos do cotidiano de muitas pessoas.

Assim, saber manejar as tecnologias de informação e comunicação oferece liberdade na sociedade, vez que através destas, se obtém informações, conhecimentos, atualizações sobre temas e interações com outras pessoas, o que é de grande valia no processo de envelhecimento, pois, ao estar atualizado e em contato direto com a sociedade e com o que ocorre nela, a pessoa idosa consegue se sentir parte daquilo, sem o sentimento de estar atrás dos demais ou de não se sentir parte da sociedade.

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¹Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestranda em Direito Constitucional. Email: biagranizo@hotmail.com