O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS COMO RECURSO PEDAGÓGICO: UM OLHAR SOBRE A ESCOLA ESTADUAL VICENTE MACHADO MENEZES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10903252


Elayne Messias Passos1


RESUMO

O texto pretende discutir a questão da inserção da tecnologia na educação, especialmente no ensino público, sustentando ser o mundo digital uma nova ferramenta capaz de potencializar a relação professor-aluno. O desenvolvimento dos recursos eletrônicos cria oportunidades para a aprendizagem. Partindo dessa ideia, e tomando como parâmetro a realidade da Escola Estadual Vicente Machado Menezes, em Itabaiana/ SE, o trabalho procura retratar as condições atuais do uso da tecnologia na escola pública, os entraves ainda existentes e as possibilidades para o futuro. Ignorar tal temática representaria um atraso significativo na educação do país.

Palavras-chave: Educação. Tecnologia. Escola Pública. Escola Estadual Vicente Machado Menezes.

ABSTRACT

The text intends to discuss the issue of the insertion of technology in education, especially in public education, arguing that the digital world is a new tool capable of enhancing the teacher-student relationship. The development of electronic resources creates opportunities for learning. Starting from this idea and taking as a parameter the reality of Escola Estadual Vicente Machado Menezes, in Itabaiana/ SE, the work seeks to portray the current conditions of the use of technology in public schools, the obstacles that still exist and the possibilities for the future. Ignoring this issue would represent a significant delay in the country’s education.

Keywords: Education. Technology. Public school. Vicente Machado Menezes State School.

INTRODUÇÃO 

Situada na cidade de Itabaiana, agreste sergipano, a Escola Estadual Vicente Machado Menezes apresenta problemas viscerais na sua estrutura organizacional e humana, como déficit de aprendizagem, indisciplina, violência, falta de comprometimento, etc. Estes são os principais fatores que compõem o ambiente dessa Unidade Escolar.

Com uma média de 600 alunos, divididos entre o Ensino Fundamental Maior (6° ao 9° ano) e a Educação de Jovens e Adultos (6° ao 9° ano), a instituição conta com doze salas de aula em funcionamento, sala de informática dotada de apenas onze computadores, sala de recurso, biblioteca e sala de vídeo, distribuídas em um terreno de 1.800 m² com três andares.

Os lances de escadas que nos levam aos três andares da escola são escuros e mal sinalizados, o que dificulta a locomoção dos alunos com necessidades especiais, além da sujeira que se acumula nos corredores, gerando uma visão desagradável para quem percorre o local.

Contudo, a escola não dispõe apenas de características ruins, pois está repleta de recursos metodológicos muito interessantes, como Data Show, Lousa Digital, Câmeras Digitais e de Vídeo, entre outros, que mesmo pouco utilizados, oferecem o suporte necessário para impulsionar as transformações de que a instituição precisa. 

O tema por nós proposto, o uso de ferramentas tecnológicas para a diminuição do abandono escolar, surge de uma demanda dos alunos do Vicente Machado: a busca por uma escola atraente, receptiva e humana, que exista para além do ensino mecânico e pouco representativo. Nesse sentido, investigamos e chegamos à conclusão de que o primeiro passo para o fomento de cidadãos atuantes e conscientes é fazer com que a instituição, antes de tudo, se torne um lugar agradável, agregando lazer e conhecimento.

Nessa linha, o manejo dos recursos de mídia se apresenta como uma forma eficaz e rápida para revertermos o quadro alarmante em que se encontra a escola apresentada nesta pesquisa.

Para transmitir conhecimentos de uma forma, no mínimo, humana é necessário reunir uma série de desejos e pretensões. Ver o “outro” crescer, se desenvolver e reproduzir o que lhe foi transmitido é o que cada docente e representante do corpo escolar engajado almeja.

Sem nos determos aos clichês, embasamos a edificação deste estudo em alicerces que não estão diretamente ligados a tão falada “falência” da escola pública e ausência da família na escola; aqui, diversamente, buscamos fomentar a ideia de que, ao melhorar o ambiente da unidade de ensino dotando-o de uma estrutura que propõe torná-la um lugar agradável, tecnológico, dinâmico etc., conseguiremos angariar uma melhor aprendizagem e, assim, desenvolver o ideal de cidadania nos nossos discentes.

Destarte, a temática acerca do uso consciente dessas ferramentas como elementos mediadores do conhecimento irá figurar no nosso primeiro tópico, que, além de discorrer sobre os exemplos de recursos que podem vir a ser utilizados para ampliar o campo do espaço educacional, também tratará da forma como essa questão está sendo discutida academicamente.

Já no segundo tópico, falaremos das possibilidades de uso da tecnologia na Escola Estadual Vicente Machado Menezes e quais resultados almejamos alcançar a partir do uso desses novos recursos.

1. A TECNOLOGIA E OS SEUS USOS NA SALA DE AULA

Ao abrirmos um site genérico de notícias não é estranho percebermos a presença de matérias que tratam da invasão de tablets, smartphones, mp3 etc., nas salas de aula; muitos destes recursos até com o seu uso institucionalizado pelas escolas. Também não é estranho ouvirmos contínuas reclamações acerca do uso excessivo desses dispositivos pelos alunos e, até mesmo, pelos professores, dispositivos esses que são acusados de causar dispersão e baixo rendimento no processo de aprendizagem.

Mas, se para proporcionar o aprendizado, o professor deve educar, a educação nada mais seria do que:

o ato de inserir seres humanos na sociedade como pessoas sabedoras de conteúdos básicos e, também, direito e deveres. Ela deve ser revista a todo instante a fim de que sejam realizadas as formas mais convenientes de se implantar ensinamentos em cada indivíduo. Para isso, são necessárias discussões para se chegar à utopia de melhorar o mundo por meio de conhecimentos (2010, p. 85).

Porém, como devemos adequar as nossas aulas à tecnologia que invade de forma tão agressiva as instituições de ensino? O professor deve se tornar um mero interlocutor nesse sistema, que, para alguns, gera indivíduos autodidatas, independentes, mas que, para outros, cria seres inertes, alienados? A tecnologia, no caso, é a “vilã ou é a mocinha”?

São indagações que nos levam a uma série de contradições, mas que nos colocam defronte a um debate que se apresenta como, talvez, uma possível solução para os índices alarmantes de abandono escolar.

Se a tecnologia foi criada para facilitar as nossas vidas, como o sistema de transporte que aproximou todos os continentes, a comunicação que nos permite falar ao vivo do Brasil com alguém que está na China, por que também não utilizá-la para implementar melhorias na educação? Partindo desses pressupostos, os recursos tecnológicos estão intimamente ligados com o progresso da sociedade, por isto, o termo é objeto de reflexão desde o seu surgimento, já que não se resume aos meios de produção, mas, também, aos produtos e objetos, como CDs, DVDs, página impressa, computadores, MP3 etc. (JÚNIOR e SILVA apud FERREIRA, 2010, p. 87). Assim, ao inserirmos estes recursos em sala de aula, estaremos promovendo a abertura de um novo mundo às crianças e jovens (JÚNIOR e SILVA, 2010, p. 87). Ou seja, o horizonte de possibilidades e conhecimento dos alunos que tiverem acesso a esses recursos será ampliado.

Entretanto, como salientam Ária Lobo da Silva e Miguel Adilson de Oliveira Júnior, o professor deve ser um conhecedor da causa, já que é inadmissível um ensino de qualidade se o mediador não tem conhecimento do que deve ser feito (2010, p. 88). Por isso, antes de tudo, o docente deve estar apto a utilizar Tecnologias da Informação e Comunicação, TIC, desde o seu processo de formação, mas aqui não iremos aprofundar este assunto.

Essa lacuna deixada na constituição do profissional de ensino, além de não capacitá-lo, cria uma resistência, difícil de aplacar, por parte do professor.

Muitos não admitem ter dificuldade em trabalhar com as informações recebidas, assim como em lidar com a inserção das novas tecnologias no contexto escolar. Muitos acabam se intimidando com a utilização dos aparelhos tecnológicos que já estão na maioria das escolas, como o DVD, a TV pen drive (no estado do Paraná), e principalmente o computador e a internet (ARIAS, GOZZI, MIRANDA, SIGOLLI, VISCOVINI e ZANQUETTA, 2009, p. 1233).

O esforço para entender e manusear esses “novos” instrumentos não deve partir apenas dos órgãos responsáveis pela educação, mas também do interesse individual de cada um, pois, é imprescindível que ele aceite esse momento como um desafio a ser enfrentado (ARIAS, GOZZI, MIRANDA, SIGOLLI, VISCOVINI e ZANQUETTA, 2009, p. 1233).

A escola não se mantém alheia ao mundo que a cerca, ela não está ilhada, e deve acompanhar, claro, com sabedoria, o progresso que conduz a sociedade. Para tal, o professor pode agregar aos recursos didáticos em sala de aula (…), a utilização de tecnologias e da exploração de equipamentos laboratoriais, que podem servir de elementos para a democratização do saber em prol de uma educação de qualidade (ARIAS, GOZZI, MIRANDA, SIGOLLI, VISCOVINI e ZANQUETTA, 2009, p. 1233).

Retirar do professor o papel de único detentor do conhecimento –  conforme preconiza o ensino tradicional – acarreta uma maior liberdade para o aluno e uma consequente autonomia dos discentes, que, com o auxílio da tecnologia, estão possibilitados de construir o seu conhecimento por outros meios complementares, aproximando-se de realidades sociais diversas.

Mesmo com tantas possibilidades, observamos que alguns docentes ainda oferecem certa resistência quanto ao uso de novas tecnologias e não apenas por falta de conhecimento ou por serem escassas em seus locais de trabalho. Este fato vai na contramão da experiência de muitos alunos que desde a infância já têm contato com o computador, por exemplo (ARIAS, GOZZI, MIRANDA, SIGOLLI, VISCOVINI e ZANQUETTA, 2009, p. 1234).

Para revertermos esse quadro, é importante conscientizar os professores dos benefícios do uso desses recursos, não só para o crescimento das instituições de ensino, mas para o crescimento particular de cada discente, que estará conectado com o futuro e pronto a solucionar situações cotidianas.

Em relação aos alunos, a conscientização deve partir de outras vertentes, ensinando-os a equilibrar os variados recursos presentes na escola, como a leitura de livros, o diálogo direto com os colegas e professores, sem intermédio da internet, o contato interpessoal e o uso inteligente dessas novas tecnologias no seu dia a dia e na sala de aula.

2. O CASO DA ESCOLA ESTADUAL VICENTE MACHADO MENEZES

No caso da Escola Estadual Vicente Machado Menezes, para dotá-la de um espaço com recursos de entretenimento, como uma sala de cinema, por exemplo, destinada à exibição de filmes e documentários, comerciais ou teóricos, é necessário, antes de tudo, criar um planejamento e a qualificação dos professores, como observado por JÚNIOR e SILVA, para quem o uso de tecnologias nas aulas é um ponto de partida importante à educação, mas, para que isso ocorra, é preciso que escolas e professores estejam aptos a lidar com esses recursos (2010, p. 84).

  Nesse passo, também se faz necessário melhorar a autoestima e o desempenho escolar dos alunos, com a criação de espaços para o fomento do debate acerca da prática cidadã abordando temáticas direcionadas. Dessa forma, a escola poderá se tornar um espaço de lazer e participação familiar.

Ocorre que essa perspectiva atualmente é distante, por causa da existência de entraves burocráticos a sua execução, como o desvio de função, escassez de funcionários e falta de qualificação de alguns professores, que, por serem mal remunerados, têm uma carga de trabalho exaustiva, o que os impossibilita de participar de cursos de aperfeiçoamento em tecnologia ofertados, mesmo que insuficientemente, pelo Estado.

De fato, no âmbito da direção escolar e do corpo docente, percebemos algumas dificuldades para inserção da tecnologia no ensino, a saber:

i) Falta de domínio dos recursos por alguns professores, incluindo o receio de parte deles em se aventurar na utilização das novas ferramentas, bem como a ausência de suporte técnico e teórico do Estado (auxílio e capacitação) para estimulá-los a tanto;

ii) Número grande de aulas e quantidade excessiva de conteúdos a serem  trabalhados, que tomam enorme parcela de tempo, o qual poderia ser utilizado para conhecimento e aprendizado das novas tecnologias e elaboração de atividades com o uso de recursos digitais;

iii) Inexistência de laboratório de informática compatível com a Escola;

iv) Salários ruins e falta de infraestrutura de ensino, que contribuem para desvalorização dos profissionais e para ausência de estímulo em tentar novidades.

Olhando para os alunos, também enxergamos dificuldades para implementação da tecnologia no colégio Vicente Machado Menezes:

i) Falta de habilidade no uso das ferramentas: a maioria do alunado tem origem humilde e não utiliza ou pouco utiliza da tecnologia em casa, por falta de acesso à internet, não possuir computador etc.;

ii) Desvirtuamento dos recursos, como o uso deles para realização de pesquisas e trabalhos através do notório processo de “copia-e-cola” ou para acesso a sites de material duvidoso (informações de má qualidade) ou de jogos.

Tais constatações revelam a necessidade de orientar os professores para o uso das novas tecnologias, oferecendo-lhes cursos de formação continuada que os habilite a trabalhar com os elementos digitais no espaço escolar e a conscientizar os alunos para o uso responsável dessas ferramentas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ensinar virou sinônimo de transmitir, e a transmissão dos conhecimentos não deve estar unicamente atrelada ao quadro negro e ao giz, nem baseada, apenas, nos livros amarelados pelo tempo. O conhecimento deve ter muitas cores, cores, às vezes, não encontradas na biblioteca da escola, cores que possam ser encontradas nas ondas da internet e nos gráficos dos smartphones, ou celulares vindos da China.

A escola de hoje pede novas formas de aprender e ensinar, formas dinâmicas, capazes de envolver discussões sobre os temas mais complexos que envolvem a sociedade, ou sobre a pauta do jornalzinho que será distribuído na escola. E o uso da tecnologia permite a conexão desses temas, possibilita, também, que pessoas de idades diferentes, religiões diferentes, gêneros diferentes tenham contato com a informação e possam interpretá-la de acordo com a sua cultura e posicionamento. Mas, para que isso possa ocorrer de forma eficiente, o professor tem que ser a peça fundamental, o elemento que irá articular os debates e criar a estratégias necessárias para proporcionar uma melhor aprendizagem, uma aprendizagem mais consciente e humana.

O uso da tecnologia pelos alunos, orientados por professores capacitados, possibilita a criação de indivíduos críticos, cultos e mais politizados, aptos a exercer a cidadania.

No caso específico da Escola Estadual Vicente Machado Menezes, é notório que ainda há um caminho longo a ser percorrido, não só apenas no que condiz com a instalação e manutenção de uma infraestrutura que possibilite o desenvolvimento de ações que envolvam o uso de novas tecnologias, mas também com o “material humano”, que precisa ser conscientizado e treinado para lidar com esses novos recursos.

O presente trabalho, portanto, nos possibilitou identificar que, diante dos hábitos mais modernos surgidos com as inovações tecnológicas os profissionais da educação estão percebendo que a tecnologia pode contribuir com o aprimoramento da prática pedagógica.

E, para isso, é preciso uma permanente reflexão acerca da implementação dos materiais e objetos disponíveis ao planejamento da escola.

As observações do nosso cotidiano indicam que, apesar do investimento já efetuado, mais pode ser feito nesse sentido, para a ampliação da capacitação dos profissionais de ensino e para o aumento do suporte técnico ao uso de tecnologias.

O professor, igualmente, ao deparar com o desafio do uso dos recursos virtuais, precisa assumir uma postura mais ativa e criativa, não se deixando cair na defasagem.

Já à direção da escola cabe, cada vez mais, incentivar a utilização de diferentes mídias (vídeos, filmes, computadores etc.) pela equipe docente, abrindo “leque” de possibilidades capazes de enriquecer a prática pedagógica.

Outrossim, há ainda a necessidade de um maior interesse por parte dos discentes no que diz respeito à interação entre os conteúdos na sala de aula e as ferramentas tecnológicas.

Por fim, concluímos que a trajetória aberta pelos novos recursos tecnológicos e mídias é irreversível. Por isso mesmo, só nos resta nos adequarmos a essa nova realidade.

BIBLIOGRAFIA

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1Doutora Em Antropologia/Ufba