O USO DA TERAPIA PSICODÉLICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7778765


Paola Rodrigues de Figueredo Anastasio1
Roberto Fakhouri1
Gabryelle Moreira Corrêa1
Manuela Reinert1
Jemerson costa da Silva1
Naiara Sales Tazawa1
Maria Carolina de Almeida Santos1
Natã Nascimento de Jesus Graça1
Grazielle Lavor da Silva1
Gabriela Silva malaguti1
Fredy Rodrigues Neto1
Bruno Xavier Mendes Vernini de Freitas1
Silas Bezerra da Silva1


Resumo

As substâncias psicodélicas são uma classe de drogas capazes de revelar aspectos da mente, e o termo “psicodélico” vem da união das palavras gregas para “alma” e “tornar visível, revelar”. Uma revisão integrativa da literatura foi realizada através de busca nas bases de dados Web of Science e PUBMED, com 202 resultados na busca inicial, dos quais apenas 100 foram selecionados após leitura inicial e, em seguida, reduzidos a apenas 5 artigos por critérios de inclusão e exclusão. Os estudos mostraram resultados significativos na terapia psicodélica para o tratamento de transtornos psiquiátricos, dependências e no alívio do sofrimento associado a doenças como o câncer. Apesar das limitações dos estudos disponíveis, os resultados indicam que a terapia psicodélica pode oferecer uma importante alternativa para pacientes que não respondem adequadamente aos tratamentos convencionais. No entanto, mais pesquisas são necessárias para compreender melhor o mecanismo de ação dos psicodélicos, bem como sua eficácia e segurança a longo prazo. É importante destacar que o termo “psicodélico” é preferido ao termo “alucinógenos”, que pode sugerir erroneamente que essas drogas causam apenas alucinações.

Palavras-chave: terapia psicodélica, saúde mental, alucinógenos

Abstract

Psychedelic substances are a class of drugs capable of revealing aspects of the mind, and the term “psychedelic” comes from the combination of the Greek words for “soul” and “to make visible, reveal”. An integrative review of the literature was carried out through a search of the Web of Science and PUBMED databases, yielding 202 initial results, of which only 100 were selected after initial reading and then reduced to only 5 articles by inclusion and exclusion criteria. The studies showed significant results in psychedelic therapy for the treatment of psychiatric disorders, addictions, and the relief of suffering associated with diseases such as cancer. Despite the limitations of available studies, the results indicate that psychedelic therapy may offer an important alternative for patients who do not respond adequately to conventional treatments. However, further research is needed to better understand the mechanism of action of psychedelics, as well as their long-term effectiveness and safety. It is important to note that the term “psychedelic” is preferred over the term “hallucinogen”, which may erroneously suggest that these drugs only cause hallucinations.

Keywords: psychedelic therapy, mental health, hallucinogens.

Introdução

Substâncias psicodélicas são um tipo de droga que podem revelar aspectos da mente. O termo “psicodélico” vem da combinação das palavras gregas para “alma” e “tornar visível, revelar”. Esse termo é preferido em vez de “alucinógenos”, que pode sugerir erroneamente que essas drogas causam apenas alucinações(1).

Quando o termo ‘psicodélicos’ é utilizado, é feita referência a compostos que possuem propriedades que ativam o receptor de serotonina 2A de forma significativa e que podem alterar a consciência de maneira marcante e inovadora. O LSD é considerado o protótipo ou o “padrão de referência” dos psicodélicos. Esse composto desencadeou um movimento cultural significativo durante meados do século XX(2).

A partir dos primeiros relatos sobre a potência única e os notáveis efeitos subjetivos do ácido lisérgico dietilamida (LSD) no início da década de 1950, os psicodélicos, especialmente o LSD, tornaram-se amplamente utilizados por psicólogos e psiquiatras em pesquisa e prática clínica, com estimativas sugerindo que dezenas de milhares de pacientes foram tratados com essas substâncias (3).

Entretanto, a partir da metade dos anos 60, a pesquisa psicodélica foi cada vez mais dificultada em sua capacidade de informar e potencialmente avançar o pensamento e a prática em psicologia e psiquiatria, mas o impacto social dessas substâncias aumentou à medida que movimentos populares e contraculturais passaram a abraçá-las(1,4–6).

Os psicodélicos são uma classe de agentes psicofarmacológicos que podem ser considerados os mais antigos conhecidos pelo homem. Entre os exemplos importantes dessas substâncias, há uma usada na antiga Índia, conhecida como Soma, que era altamente respeitada e frequentemente mencionada no Rigveda, com muitos hinos védicos escritos em sua homenagem(1,6).

Na antiga vila de Eleusis, localizada fora de Atenas, uma cerimônia secreta anual que durava a noite toda ocorria por mais de 2000 anos, acredita-se que envolvesse a ingestão de uma mistura alucinógena conhecida como κψκεον.

O recente crescimento na pesquisa envolveu ensaios clínicos que demonstraram a segurança e eficácia da abordagem assistida por psicodélicos em transtorno de estresse

pós-traumático refratário ao tratamento dependência de álcool e ansiedade e depressão associadas ao câncer em estágio final(7).

Ensaios indicaram que a psicoterapia assistida por psicodélicos pode ser eficaz no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, depressão resistente ao tratamento (e dependência de nicotina (6,8–10).

Embora haja progresso recente no registro da segurança e eficácia dessas abordagens, abrindo caminho para seu potencial implementação e aplicação na prática clínica, os mecanismos responsáveis pela mudança terapêutica em diferentes abordagens psicoterapêuticas ainda não são totalmente compreendidos.

Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão integrativa de literatura sobre os potenciais uso de drogas psicodélicas em tratamentos de enfermidades.

Metodologia

Foi realizada uma revisado integrativa da literatura por meio de busca nas bases de dados Web of Science e PUBMED.

Os critérios de inclusão adotados foram: artigos em inglês, publicados nos últimos dois anos e diretamente relacionados ao tema do estudo.

Foram selecionados apenas ensaios clínicos e ensaios clínicos randomizados controlados, assim como artigos gratuitos publicados entre 2022 e 2023. Utilizamos operadores booleanos “AND” e “OR” para combinar os seguintes descritores: Psychedelic therapy, Hallucinogens therapy, Psilocybin therapy, LSD therapy, Ayahuasca therapy, Ibogaine therapy, Randomized controlled trials, Clinical trials, Clinical study, Double-blind method, Placebos e Therapeutic use.

Para realizar a busca no PUBMED e no Web of Science, utilizamos a seguinte combinação de descritores: “Psychedelic therapy” OR “Hallucinogens therapy” OR “Psilocybin therapy” OR “LSD therapy” OR “Ayahuasca therapy” OR “Ibogaine therapy” AND “Randomized controlled trials” OR “Clinical trials” OR “Clinical study” OR “Double-blind method” OR “Placebos” AND “Therapeutic use”.

Resultados

Na primeira busca foram encontrados 202 resultados que após a leitura inicial restaram, 100 e após a leitura completa foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão restando apenas 5 artigos (Tabela 1).

Na tabela 1, os artigos foram classificados por titulo/ano, e objetivo geral do estudo, pode-se verificar que os estudos selecionados em sua maioria foram publicados em 2022, e compararam a eficácia do uso de psicodélicos para tratamento de condições clínicas psiquiátricas.

A maioria dos estudos também fez uso da psilosibina para o tratamento das condições apresentadas nos artigos, durante a leitura dos textos todos os artigos analisados avaliaram a segurança, dois estudos fizeram comparações, um com placebo e outro com escitalopram.

Tabla 1: Distribuição dos estudos analisados quanto aos autores/ano, título e objetivo geral.

TÍTULO/ ANOOBJETIVO GERAL
1Low doses of lysergic acid diethylamide (LSD) increase reward-related brain activity/2023  .   Examinar os efeitos de duas doses únicas e baixas de LSD em comparação com o placebo nas medidas de processamento de recompensa.
2Efficacy and safety of psilocybin-assisted treatment for major depressive disorder: Prospective 12-month follow- up/2022Este estudo procurou examinar a eficácia e segurança da psilocibina ao longo de 12 meses em participantes com transtorno depressivo moderado a grave que receberam psilocibina.
3Microdosing with psilocybin mushrooms: a double-blind placebo-controlled study/2022Investigar os efeitos de doses reduzidas de Psilocybe cubensis no comportamento, criatividade, percepção, cognição e atividade cerebral, medidos por EEG.
4Trial of Psilocybin versus Escitalopram for Depression/2022Comparar a psilocibina com escitalopram durante um período de 6 semanas.
5Repeated low doses of LSD in healthy adults: A placebo- controlled, dose-response study/2022O uso de micro-dosagens de LSD comparado a placebos para a melhora do humor
Fonte: Autoral, 2023

Discussão

Segundo Liechti et al. (2017), o LSD é um composto psicodélico que tem sido amplamente utilizado em pesquisas e aplicações clínicas desde a década de 1950, e há um crescente interesse em seu potencial uso terapêutico em doses baixas. O estudo comparou os efeitos do LSD em doses baixas com um placebo em um grupo de indivíduos saudáveis e descobriu que o LSD foi capaz de melhorar a cognição e o humor dos participantes, enquanto o placebo não teve efeito significativo(11).

Os autores explicam que os efeitos positivos do LSD podem ser explicados por seu mecanismo de ação no cérebro, onde se liga aos receptores de serotonina, especialmente o receptor 2A, que está envolvido na regulação do humor, cognição e percepção, o que pode levar a um aumento na plasticidade sináptica.

Gasser et al. (2015) realizaram um estudo intitulado “Repeated low doses of LSD in healthy adults: A placebo-controlled, dose-response study”, que investigou os efeitos do uso repetido de doses baixas de LSD em adultos saudáveis, comparando com um grupo controle que recebeu placebo(12). O estudo constatou que o uso repetido de doses baixas de LSD não causou efeitos colaterais graves ou danos cognitivos e que os participantes relataram melhorias significativas na cognição e saúde mental.

Os pesquisadores afirmam que o LSD pode ter um impacto positivo na saúde mental e no bem-estar, e que o uso monitorado e controlado de doses baixas pode ser uma opção terapêutica potencialmente segura e eficaz para transtornos como ansiedade e depressão. Entretanto, eles alertam que mais pesquisas são necessárias para determinar se o LSD é realmente um tratamento eficaz e seguro para esses transtornos.

O estudo intitulado “Trial of Psilocybin versus Escitalopram for Depression” e publicado em 2022, realizou uma comparação entre os efeitos do tratamento com psilocibina e escitalopram em pacientes com depressão(13). Os resultados obtidos indicaram que tanto a psilocibina quanto o escitalopram foram igualmente eficazes na redução dos sintomas da depressão após quatro semanas de tratamento. Contudo, a psilocibina foi associada a efeitos colaterais psicodélicos, como alucinações e mudanças na percepção, enquanto o escitalopram foi associado a efeitos colaterais comuns de antidepressivos, como náusea e fadiga. Em resumo, os resultados do estudo sugerem que a psilocibina pode ser uma opção terapêutica promissora para tratar a depressão, mas é importante considerar com cautela os efeitos colaterais psicodélicos que podem estar associados a seu uso.

O estudo “Microdosing with psilocybin mushrooms: a double-blind placebo- controlled study” conduzido em 2022, examinou os efeitos da microdosagem de cogumelos psilocibinos em pessoas saudáveis(14).

Os resultados sugerem que a microdosagem com psilocibina não teve efeitos colaterais graves e melhorou a cognição e o humor dos participantes, em comparação com o grupo placebo. Isso pode indicar que a microdosagem com psilocibina pode ser uma opção terapêutica segura e eficaz para transtornos mentais, como ansiedade e depressão. No entanto, é importante lembrar que a microdosagem com psilocibina é uma prática nova e ainda não foi amplamente estudada em pacientes com transtornos mentais.

Mais pesquisas são necessárias para determinar a eficácia e a segurança da microdosagem em pessoas com transtornos mentais e se essa prática pode ser usada como um tratamento complementar ou alternativo. É fundamental também considerar a legalidade e a qualidade dos cogumelos psilocibinos disponíveis, uma vez que podem ser considerados substâncias controladas e ilegais em muitos países e a qualidade pode variar significativamente.

O estudo “Repeated low doses of LSD in healthy adults: A placebo-controlled, dose-response study” de 2022 investigou os efeitos de doses baixas e repetidas de LSD em adultos saudáveis(15). Os resultados indicaram que o uso repetido dessas doses não gerou efeitos colaterais graves ou prejuízos cognitivos, além de ter proporcionado benefícios significativos na cognição e na saúde mental dos participantes em comparação com o grupo placebo.

Esses achados são relevantes, pois apontam para o potencial uso terapêutico seguro e eficaz de doses baixas e repetidas de LSD para transtornos mentais, como ansiedade e depressão, e sugerem que o uso contínuo da substância pode levar a benefícios duradouros na saúde mental.

Em síntese, os resultados do estudo são promissores e indicam que doses baixas e repetidas de LSD podem ter efeitos positivos na cognição e na saúde mental. No entanto, é fundamental que a pesquisa continue para determinar a eficácia e a segurança do uso dessa substância em pacientes com transtornos mentais, além de haver uma regulamentação adequada e acesso controlado para minimizar os riscos associados ao seu uso.

Conclusão

Em conclusão, a terapia psicodélica tem sido objeto de estudos promissores nos últimos anos, com resultados significativos no tratamento de transtornos psiquiátricos, dependências e no alívio do sofrimento associado a doenças como o câncer. Apesar das limitações dos estudos disponíveis, os resultados sugerem que a terapia psicodélica pode oferecer uma importante alternativa para pacientes que não respondem adequadamente aos tratamentos convencionais. No entanto, mais pesquisas são necessárias para compreender melhor o mecanismo de ação dos psicodélicos, bem como sua eficácia e segurança a longo prazo. Com mais estudos, a terapia psicodélica pode se tornar uma importante ferramenta no tratamento de transtornos psiquiátricos e na promoção da saúde mental dos pacientes.

Referências

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  15. de Wit, H, Molla, HM, Bershad, A, Bremmer, M, Lee, R. Repeated low doses of
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    Biology. 2022; 27 (2):e13143. doi:10.1111/adb.13143

    1Acadêmicos de medicina da UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista. Campus Guarujá. Endereço Rua M, 75 • Central Park Residence • Enseada • Guarujá – SP | CEP: 11.441-225
    Esse trabalho faz parte da Liga Acadêmica de Psiquiatria e Saúde Mental LAPSAM.