THE USE OF THE WAPICHANA INDIGENOUS LANGUAGE AT SCHOOL: CHALLENGES AND POSSIBILITIES FOR BUILDING AN INTERCULTURAL EDUCATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202503301123
Ana Claudia da Silva Gino1
Claudinero Reis de Lima2
Denilson Cavalcante de Lima3
Elkcilanir Matos Santos4
Janaína Almeida Gomes5
Resumo: A língua Wapichana, pertence ao grupo linguístico Arawak, é falada por comunidades indígenas situadas principalmente na região de fronteira entre o Brasil e a Guiana. São cooficiais nos municípios do Bonfim e Cantá, na região serra da lua. Este artigo investiga a riqueza e a vitalidade dessa língua, abordando sua importância, o contexto sociocultural dos seus falantes, desafios e possibilidades para a construção de uma educação intercultural. Como ocorre com diversas línguas indígenas, o Wapichana corre o risco de extinção devido à crescente assimilação cultural, a globalização e ao domínio do português, tornando urgente o estudo e a valorização dessa língua para garantir a continuidade de sua transmissão entre as novas gerações. Além disso, carregam raízes culturais riquíssimas, que dizem muito sobre a história e a origem das regiões e comunidades falantes. Sendo assim, preservar a língua Wapichana significa, também, preservar a história das regiões onde elas são faladas. O papel das escolas indígenas para a preservação da cultura Wapichana é fundamental, o fortalecimento dessas instituições faz com que novas gerações continuem a acessar a língua Wapichana e aprendam os elementos ligados à sua identidade, fazendo um resgate. A preservação da língua Wapichana requer um esforço colaborativo e abrangente, envolvendo a comunidade indígena, educadores, linguistas e organizações governamentais e não governamentais. Ao incorporar a língua de maneira estruturada e contínua nos âmbitos educacional, cultural e social, é possível assegurar que a língua Wapichana se mantenha viva e fortalecida, transmitindo sua valiosa herança cultural e linguística para as próximas gerações.
Palavra chave: Cultura, Educação, língua materna, intercultural, Wapichana.
The Wapichana language, belonging to the Arawak language group, is spoken by indigenous communities primarily located in the border region between Brazil and Guyana. It is co-official in the municipalities of Bonfim and Cantá, in the Serra da Lua region. This article investigates the richness and vitality of this language, addressing its grammatical structure, the sociocultural context of its speakers, and the challenges and possibilities for the development of intercultural education.
As with many indigenous languages, Wapichana faces the risk of extinction due to increasing cultural assimilation, globalization, and the dominance of Portuguese, making the study and valorization of this language urgent to ensure its transmission to future generations. Additionally, it carries rich cultural roots that reveal much about the history and origin of the regions where the speaking communities are located. Therefore, preserving the Wapichana language also means preserving the history of the regions where it is spoken. The role of indigenous schools in preserving Wapichana culture is crucial; strengthening these institutions ensures that new generations continue to access the Wapichana language and learn the elements tied to their identity, making a cultural recovery. The preservation of the Wapichana language requires a collaborative and comprehensive effort involving the indigenous community, educators, linguists, and both governmental and nongovernmental organizations. By incorporating the language in a structured and continuous way within the educational, cultural, and social spheres, it is possible to ensure that the Wapichana language remains alive and strengthened, passing on its valuable cultural and linguistic heritage to future generations.
Keywords: Culture, Education, Mother Tongue, Intercultural, Wapichana.
Introdução
O presente trabalho intitulado: O uso da língua indígena Wapichana na escola: desafios e possibilidades para a construção de uma educação intercultural, é decorrente das aulas da disciplina: Ensino Aprendizagens de Línguas, no âmbito de pós graduação em Letras a nível mestrado da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A partir de provocações e reflexões apresentada como sugestão para o desenvolvimento do trabalho que ressaltam a importância da língua materna Wapichana, em uma educação intercultural com desafios e possibilidades no bilinguismo. Seguindo os critérios proposto pela disciplina de ajustar conforme as sugestões apresentadas pelos professores doutores, professora Dra. Cora Elena Gonzalo Zembrano, e o professor Dr. Fabricio Paiva Mota. A pesquisa é do tipo bibliográfica, com abordagem qualitativa, com o intuito de facilitar o entendimento e apresentar de forma concisa os elementos mais relevantes sobre a Língua Wapichana.
O trabalho foi realizado com a utilização de fontes bibliográfica relacionadas com a educação escolar indígena, com base em PATTANAYAK (1990), CABRAL (2000) , FREIRE (2011), STORTO (2015), BAKER (2001), ANDRADE (2015), MONTEIRO (2017) BANIWA (2019) dentre outros, e também textos apresentados nas aulas que fazem parte do contexto histórico bilingue e artigos pesquisados que ressaltam a importância da língua materna, não apenas como ferramenta de comunicação, mas também como elemento fundamental da identidade, cultura e educação, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento das capacidades cognitivas e sociais de indivíduos e comunidades. Essas informações contribuíram para a construção desse trabalho.
Contudo, foram abordados neste trabalho, os procedimentos que dão forma ao bilinguismo, desafios e possibilidades para a construção de uma educação intercultural que garante aos indígenas, e suas comunidades uma educação indígena específica, diferenciada.
A educação intercultural no Brasil desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, particularmente no que se refere à valorização da cultura indígena e de suas línguas, elementos essenciais da identidade e da história do país. Com sua vasta diversidade cultural, o Brasil enfrenta o desafio de integrar diferentes povos e culturas de maneira respeitosa e equitativa, e a educação intercultural é uma ferramenta chave nesse processo. Sendo assim tem como função fundamental valorizar a cultura indígena, proporcionando aos estudantes um entendimento mais profundo das tradições, crenças e práticas desses povos. A incorporação dos conhecimentos indígenas no currículo escolar, incluindo suas cosmologias, histórias e saberes ancestrais, é crucial para reconhecer a riqueza cultural dessas comunidades, frequentemente marginalizadas ou invisibilizadas pela sociedade dominante.
Por meio dessa abordagem, é possível desconstruir estereótipos, combater preconceitos e promover o respeito pela diversidade cultural indígena. Esse processo também fortalece o orgulho e a autoestima dos jovens indígenas, permitindo-lhes se sentir representados e respeitados no ambiente escolar.
Nesse sentido, a educação intercultural se configura como uma ferramenta poderosa para a promoção da igualdade, da justiça social e da preservação das identidades culturais, tanto dos povos indígenas quanto da sociedade brasileira como um todo.
A implementação de uma educação bilíngue e intercultural voltada para a língua Wapichana enfrenta desafios significativos, como a escassez de professores qualificados, a falta de materiais didáticos adequados e a resistência, tanto cultural quanto institucional. Contudo, esses desafios podem ser superados com a adoção de políticas públicas eficazes, investimentos na formação de educadores, criação de materiais pedagógicos específicos e o fortalecimento da participação da comunidade indígena na elaboração dos projetos educativos. Quando corretamente implementada, a educação bilíngue e intercultural pode ser uma ferramenta poderosa para preservar a língua Wapichana e promover o fortalecimento da identidade cultural dos povos indígenas.
O objetivo deste trabalho é identificar os desafios e as possibilidades na implementação da língua Wapichana no âmbito educacional, com ênfase na educação bilíngue e intercultural. O trabalho visa identificar os principais desafios e possibilidades enfrentadas pela comunidade escolar, se tratando de desafios cito aqui alguns como: A falta de materiais didáticos, a escassez de professores qualificados e as barreiras institucionais.
Além disso, busca explorar as possíveis estratégias e soluções para superar esses desafios, promovendo a preservação e o fortalecimento da língua Wapichana nas escolas e em toda a sociedade. Dando ênfase em conceitos que geram novas possibilidades para promover o aprendizado da língua, tornando-o mais acessível, interativo e eficaz em uma educação intercultural.
Metodologia
O percurso metodológico que utilizamos se fundamenta no uso de fontes bibliográficas em textos, livros e artigos sobre o bilinguismo, os instrumentos utilizados foram fichamentos e caderno de anotações ao longo das aulas.
De acordo com Boccato (2006), a pesquisa bibliográfica busca o levantamento e análise crítica dos documentos publicados sobre o tema a ser pesquisado com a finalidade de atualizar, desenvolver o conhecimento e contribuir com a realização da pesquisa. Com a temática definida e delimitada, o pesquisador terá que trilhar caminhos para desenvolvê-la. A base da pesquisa bibliográfica são os livros, teses, artigos e outros documentos publicados que contribuem na investigação do problema proposto na pesquisa.
A fundamentação teórica está baseada em autores que ressaltam a importância da língua materna, como afirma Baker (2001), Colin Baker, em seu livro argumenta sobre bilinguismo, enfatiza que a língua materna não apenas transmite conhecimento, mas também preserva a cultura, a história e as tradições de um povo. Ele destaca a importância da língua materna na construção da identidade e no fortalecimento das relações sociais dentro de uma comunidade.
O trabalho apresentado possui caráter qualitativo, pois nos possibilita investigar diversas fontes dentre as estudadas na disciplina e selecionar as que trazem uma melhor compreensão para o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as pesquisas, de acordo com Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.
A língua Wapichana é fundamental para a identidade e cultura do povo Wapichana, não apenas como uma forma de comunicação, mas como um elo essencial com suas tradições, cosmovisão e história. A importância dessa língua se destaca em vários aspectos:
Segundo Silva (SILVA, 2019, p. 45). A língua Wapichana é mais do que um meio de comunicação; ela é um elo profundo com as tradições e a identidade cultural do povo Wapichana, sendo essencial para a preservação da história e das cosmovisões dessa comunidade. Portanto a língua Wapichana é um pilar central da identidade cultural desse povo. Ela carrega cosmovisões, práticas e valores que são cruciais para a compreensão do mundo e da vida cotidiana da comunidade. Além de ser um meio de comunicação, a língua reflete as relações sociais, a espiritualidade, as mitologias e o conhecimento ancestral do povo Wapichana. Sem a língua, muitos desses saberes correm o risco de desaparecer, comprometendo a continuidade da identidade cultural única dessa comunidade.
Além disso, a língua é a principal ferramenta para a transmissão dos saberes tradicionais, como histórias, mitos, canções e rituais que estruturam a vida cultural do povo Wapichana. A educação oral em Wapichana é vital para que as novas gerações compreendam suas origens, sua relação com a natureza e o cosmos, além das práticas que sustentam a coesão e a sobrevivência da comunidade. A extinção da língua acarreta também a perda desses conhecimentos, afetando diretamente a continuidade das tradições culturais.
Bem como a língua desempenha um papel importante na coesão social dentro das comunidades Wapichana. Ela fortalece os laços de pertencimento e solidariedade entre os membros, criando um sentimento de unidade e continuidade. O uso constante da língua em diferentes esferas da vida cotidiana reforça a identidade coletiva, permitindo que as pessoas se vejam como parte de um grupo com uma história e cultura compartilhadas.
Não só em um contexto de crescente assimilação cultural e predominância do português, a língua Wapichana se torna uma ferramenta de resistência e afirmação cultural. Ao preservar e valorizar sua língua, o povo Wapichana resiste ao processo de desintegração cultural imposto pela globalização e pelo contato com outras culturas. A língua Wapichana, portanto, é uma forma de empoderamento, permitindo que a comunidade se mantenha fiel à sua identidade enquanto se posiciona no contexto mais amplo da sociedade brasileira.
A língua Wapichana enfrenta uma realidade desafiadora, marcada por esforços de preservação e ameaças constantes à sua sobrevivência. Falada por comunidades indígenas situadas principalmente nas áreas fronteiriças entre o Brasil e a Guiana, especialmente nos estados de Roraima e no norte do Amazonas, a língua Wapichana faz parte da família Arawak e é um componente vital do patrimônio cultural desses povos. No entanto, diversos fatores, como o crescente uso do português, a assimilação cultural e a escassez de ações para sua revitalização, colocam em risco a continuidade da língua.
De acordo com (SILVA, 2020, p. 88). A língua Wapichana é falada por aproximadamente 10.000 a 15.000 pessoas, principalmente nas regiões fronteiriças entre o Brasil e a Guiana, com uma significativa concentração nas comunidades indígenas do estado de Roraima, com a maior parte desses falantes vivendo em áreas rurais e nas comunidades indígenas. No entanto, muitos membros das gerações mais jovens têm se distanciado da língua materna, optando pelo português, especialmente devido à educação formal que ocorre predominantemente nesse idioma. Esse fenômeno é intensificado pela crescente urbanização e pela falta de oportunidades para o uso cotidiano do Wapichana, principalmente entre os mais jovens.
Desafios para a Preservação da Língua Wapichana
Um dos maiores obstáculos para a preservação da Língua Wapichana é o uso do português nas áreas urbanas e nas escolas, tem levado aos mais novos a abandonar a língua materna em favor da língua dominante.
A proximidade com a sociedade envolvente falante de língua portuguesa é a principal causa de os Wapichana terem deixado sua língua para aderir ao português. Isso se justifica não somente pela facilidade em estabelecer relações com os não índios, mas também pelas mudanças de suas características culturais, pois
A língua portuguesa, como língua dominante no Brasil, exerce uma forte influência sobre as línguas indígenas, levando muitas vezes à substituição linguística, o que resulta na perda de diversas línguas maternas e das tradições culturais que elas carregam. (SANTOS, 2014).
Logo, a língua Wapichana, como muitas outras línguas indígenas, sofre uma forte influência do português, processo que resulta na redução do uso da língua materna, especialmente entre as gerações mais jovens, o que compromete a preservação da língua e da identidade cultural do povo Wapichana. (SILVA, 2017). O bilinguismo, com o português se tornando a língua principal, tem reduzido consideravelmente o uso diário da língua Wapichana. O sistema educacional, predominantemente em português, não oferece recursos suficientes para que as crianças e jovens aprendam o Wapichana de forma estruturada. Sabemos que a falta de programas bilíngues adequados nas escolas indígenas é um desafio crucial. Embora existam iniciativas pontuais de ensino de Wapichana, elas ainda são limitadas e não atendem a todas as comunidades falantes, mesmo as que atendem enfrentam desafios diariamente para proporcionar às aulas.
Segundo (DUBEUX, 2019) A educação escolar indígena enfrenta desafíos significativos, como a escassez de recursos didáticos específicos, a falta de professores qualificados e a resistência institucional, o que dificulta a implementação de um ensino que respeite as especificidades culturais e linguísticas dos povos indígenas. São vários os desafios encontrados para oferecer um ensino de qualidade para a educação escolar indígena e manter viva a língua materna, cito aqui algumas como: A falta de materiais didáticos em Wapichana, como livros, dicionários e registros sonoros, dificulta o aprendizado formal e informal da língua. A produção de materiais adequados é essencial para que o Wapichana seja ensinado de maneira eficaz, tanto nas escolas quanto nas comunidades.
Conforme o autor (MARTINS, 2015). A desvalorização das línguas indígenas é um dos maiores desafios para a preservação e o fortalecimento da identidade cultural desses povos. A imposição de línguas dominantes, como o português, muitas vezes leva ao enfraquecimento do uso das línguas nativas, contribuindo para a marginalização e invisibilidade das culturas indígenas. Muitas vezes, as línguas indígenas são consideradas inferiores ou menos úteis, o que leva ao afastamento das gerações mais jovens. A falta de reconhecimento social e institucional do Wapichana enfraquece os esforços para sua preservação.
A educação bilíngue para alunos indígenas desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e sócio emocional dessas crianças e jovens, além de ser crucial para a preservação de suas línguas e culturas. Essa abordagem, que combina o ensino da língua materna com o português, traz benefícios significativos para os alunos em diversas áreas, promovendo o fortalecimento de suas identidades culturais e habilidades cognitivas.
No que diz respeito ao bilinguismo (MARTÍNEZ, 2012). Afirma em seus estudos que a educação bilíngue é um processo pedagógico que valoriza a língua materna do aluno ao mesmo tempo em que oferece a aprendizagem de uma segunda língua, com o objetivo de promover a equidade educacional e o fortalecimento da identidade cultural. Contribui para o aprimoramento das capacidades cognitivas, como a resolução de problemas, memória e atenção. Crianças bilíngues tendem a ter uma maior flexibilidade mental, pois precisam alternar entre dois idiomas. No caso dos alunos indígenas, aprender a língua nativa junto com o português facilita a adaptação e fortalece suas habilidades mentais de forma global. O bilinguismo é um processo em que o indivíduo adquire e usa duas línguas, geralmente com fluência, em diferentes contextos sociais. (GROSJEAN, 2010, p. 5).
O bilinguismo oferece aos alunos a oportunidade de desenvolver um pensamento mais crítico e profundo, já que eles aprendem a compreender e interpretar o mundo a partir de diferentes perspectivas culturais e linguísticas. O ensino da língua indígena juntamente com o português permite que as crianças estabeleçam conexões mais amplas, tornando-as mais aptas a questionar e analisar diferentes contextos sociais e culturais.
A educação bilíngue também contribui para a manutenção dos conhecimentos tradicionais, que são frequentemente passados de geração em geração por meio da língua materna. O ensino dessas línguas nas escolas não apenas preserva o idioma, mas também garante que os saberes ancestrais, como mitos, histórias e práticas culturais, sejam transmitidos às novas gerações, mantendo vivos os fundamentos culturais do povo indígena.
Além disso, a educação bilíngue é essencial para o fortalecimento da identidade cultural dos alunos indígenas. Ao aprenderem sua língua materna, eles estabelecem um vínculo mais profundo com suas raízes, promovendo um senso de pertencimento e orgulho de sua herança. Isso ajuda a fortalecer a autoestima e a confiança, permitindo que as crianças se sintam valorizadas e reconhecidas por quem são.
Em muitas escolas, os alunos indígenas enfrentam o desafio de se comunicar em um idioma que não é o seu, o que pode gerar sentimentos de isolamento e alienação. A educação bilíngue ajuda a minimizar esse problema ao permitir que as crianças usem sua língua nativa como meio de expressão, proporcionando um ambiente mais confortável e acolhedor, o que favorece seu bem-estar emocional.
Visto que a escassez de professores capacitados para o ensino de línguas indígenas representa um grande obstáculo à preservação dessas línguas e ao fortalecimento da educação bilíngue nas comunidades indígenas. A falta de formação específica nas universidades e a escassez de programas voltados ao ensino bilíngue e intercultural resultam em um número reduzido de educadores aptos a ensinar as línguas maternas nas escolas. Isso compromete a transmissão da língua indígena falada e, muitas vezes, limita o desenvolvimento acadêmico dos alunos indígenas, que ficam sem um ensino adequado nas duas línguas.
Além disso, essa carência de profissionais qualificados dificulta a continuidade do aprendizado das línguas e saberes tradicionais, já que as crianças dependem de educadores que compreendam a importância da língua indígena no fortalecimento de sua identidade cultural. A formação de professores capacitados em línguas indígenas, como a Wapichana, é fundamental para garantir que os estudantes indígenas tenham acesso a uma educação de qualidade, respeitando suas identidades culturais e linguísticas. (Adaptado de: LIMA, 2010).
Para mitigar essa situação, é essencial implementar políticas públicas que promovam a formação de professores indígenas, além de preparar educadores não indígenas para o ensino bilíngue, assegurando assim uma educação de qualidade e inclusiva para as novas gerações. A ausência de livros, recursos audiovisuais, dicionários e outros materiais pedagógicos impede que os estudantes tenham uma aprendizagem completa da sua língua materna. Isso não só dificulta o processo de ensino da língua Wapichana, mas também prejudica a transmissão de conhecimentos culturais e tradicionais essenciais para a formação da identidade dos jovens.
De acordo (SOUZA, 2017, p. 45). A falta de materiais didáticos e recursos adequados é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas escolas indígenas na implementação de um ensino bilíngue eficaz. Essa carência de recursos também limita as abordagens pedagógicas dos professores, dificultando a criação de estratégias de ensino que integrem a língua indígena ao currículo de forma dinâmica e eficaz. Além disso, em um contexto onde o português é a língua dominante, a ausência de materiais didáticos específicos para o Wapichana torna o ensino ainda mais desafiador.
De acordo com (Vidal, 2013, p. 89). A escassez de materiais didáticos nas línguas indígenas é um dos maiores desafios para a implementação de uma educação bilíngue eficaz. Sem recursos adequados, como livros, dicionários e materiais multimídia, o ensino da língua materna torna-se prejudicado, comprometendo tanto a aprendizagem da língua quanto a preservação da cultura indígena.
A resistência de alguns membros da comunidade escolar à implementação da educação intercultural também é um desafio, e pode surgir por diversos motivos. Frequentemente, essa resistência está relacionada a uma compreensão limitada do que a educação intercultural representa e aos preconceitos profundamente enraizados na sociedade. O objetivo dessa abordagem educacional é promover o respeito e a valorização das diferentes culturas, mas em muitos casos, ela enfrenta obstáculos devido à visão dominante de uma educação homogênea e à falta de reconhecimento das culturas indígenas e de minorias.
Em muitas escolas, tanto professores quanto alunos podem não entender ou valorizar adequadamente as culturas indígenas e outras minorias. Isso ocorre devido a uma educação que não contempla a diversidade cultural de forma justa, levando ao surgimento de preconceitos que dificultam a aceitação da educação intercultural.
Assim (VIEIRA, 2017, p. 98) afirma que a resistência à língua materna nas escolas indígenas está frequentemente associada à percepção de que as línguas indígenas são menos úteis no contexto moderno, levando à marginalização de suas práticas e conhecimentos. A resistência também se dá pela falta de preparo dos professores para atuar em contextos interculturais.
Assim como a formação inadequada ou a ausência de treinamentos específicos sobre a diversidade cultural impede que os educadores desenvolvam práticas pedagógicas que respeitem e integrem as diferentes culturas na sala de aula. Na mesma perspectiva os currículos escolares, na maioria das vezes, são centrados em uma visão eurocêntrica, sem incluir de maneira significativa as culturas indígenas ou de outros grupos minoritários. Isso leva a uma resistência natural à implementação de conteúdos interculturais, principalmente em escolas que não estão acostumadas com uma abordagem inclusiva.
Possibilidades para a Preservação da Língua Wapichana
Com tudo, apesar dos desafios, existem diversas iniciativas voltadas para a preservação e revitalização da língua Wapichana, como: Programas bilíngues em escolas indígenas, que buscam garantir o ensino tanto do português quanto do Wapichana, promovendo a língua materna como parte do currículo. Projetos de documentação linguística, como a criação de dicionários, gramáticas e registros de tradições orais, com o apoio de linguistas da comunidade e pesquisadores. Iniciativas comunitárias, como oficinas, grupos de conversação e eventos culturais, que incentivam o uso diário da língua em diversos contextos. Parcerias com organizações indígenas e não governamentais para criar recursos educativos em Wapichana, como aplicativos e livros, para facilitar o aprendizado e a divulgação da língua.
De acordo com o autor (SILVA, 2010, p. 98) Há iniciativas em curso que visam à preservação e revitalização da língua Wapichana, como a criação de materiais didáticos, programas de ensino bilíngue nas escolas indígenas e projetos culturais que envolvem a comunidade, com o objetivo de fortalecer a identidade linguística e cultural do povo Wapichana. Do mesmo modo capacitar membros da comunidade Wapichana para atuar como educadores bilíngues, garantindo a transmissão fiel da língua e cultura. Além de dominar a língua, é essencial que os professores indígenas adquiram conhecimentos pedagógicos para ensinar de forma eficaz, levando em consideração as particularidades culturais de seus alunos. Professores indígenas devem ser capacitados para compartilhar os conhecimentos ancestrais da comunidade, conectando a língua à cosmovisão e às práticas culturais, fortalecendo a identidade cultural dos alunos. Promover cursos e capacitações regulares para que os educadores indígenas possam aprimorar suas metodologias de ensino e se manter atualizados sobre novas abordagens pedagógicas.
Bem como capacitar também educadores não indígenas para o ensino da língua Wapichana, de forma respeitosa e eficiente, promovendo uma educação intercultural .Os professores não indígenas precisam entender a importância da língua Wapichana na construção da identidade dos alunos e aprender a valorizar a diversidade cultural, tem também vários professores indígenas não falantes que precisam ser capacitados: Ensinar os educadores a adotar abordagens pedagógicas que respeitem a diversidade cultural e promovam o ensino da língua Wapichana de forma integrada ao currículo. Incluir o aprendizado da língua Wapichana no currículo de formação dos professores não indígenas, para que possam utilizá-la de maneira correta e significativa no ambiente escolar. Sobre Para lidar com a resistência, de alguns professores não querer aprender a língua é fundamental: Oferecer formação contínua para os professores, para que eles compreendam a importância de uma educação que valorize a diversidade cultural e saibam como aplicar metodologias interculturais eficazes. Revisar os currículos escolares, garantindo que eles incluam as culturas indígenas e minoritárias de maneira representativa, para que os alunos desenvolvam uma visão mais ampla e crítica sobre a sociedade. Criar espaços de intercâmbio cultural, envolvendo as próprias comunidades indígenas, para que a educação se torne mais inclusiva e respeitosa para todos.
Desenvolver recursos educacionais que facilitem o ensino e aprendizado da língua Wapichana. Criar livros, dicionários, vídeos e outros materiais didáticos em Wapichana, adaptados às necessidades dos educadores e alunos. Desenvolver materiais que apresentem o Wapichana ao lado do português, promovendo o aprendizado
Promover a troca de experiências entre professores indígenas e não indígenas, fortalecendo as práticas pedagógicas e a utilização da língua Wapichana. Organizar eventos periódicos para que os professores compartilhem suas experiências no ensino da língua Wapichana, além de discutir desafios e estratégias pedagógicas.
Segundo (Harrison, 2007). Estabelecer programas de mentoria em que educadores mais experientes possam apoiar os iniciantes, ajudando na implementação do ensino bilíngue nas comunidades. A tecnologia tem se mostrado uma aliada importante na preservação das línguas indígenas, permitindo o desenvolvimento de recursos educacionais como aplicativos, sites e plataformas digitais, que ajudam a manter vivas as línguas ameaçadas e a ensinar novas gerações, tem se mostrado uma abordagem promissora para a preservação e revitalização dessa língua indígena.
As tecnologias oferecem a oportunidade de levar o ensino da língua Wapichana a comunidades distantes ou em regiões isoladas. Por meio de plataformas digitais, aplicativos e outros recursos online, os falantes e aprendizes da língua podem acessar conteúdos de maneira prática e flexível, mesmo em locais com pouca oferta de materiais tradicionais.
Dessa forma o uso de tecnologias interativas, como aplicativos de celular, jogos educativos e vídeos, pode tornar o aprendizado da língua mais atrativo e dinâmico. Essas ferramentas incentivam a participação ativa dos alunos, tornando o processo de aprendizado mais envolvente e facilitando a retenção de informações. As tecnologias de gravação, edição de áudio e vídeo são ferramentas poderosas na documentação da língua Wapichana. Linguistas e membros das comunidades podem gravar e organizar vocabulários, expressões e pronunciamentos, criando um banco de dados que pode ser utilizado para fins educacionais e para preservar o idioma a digitalização de materiais culturais, como histórias, canções e mitos na língua Wapichana, pode contribuir para a preservação dessas tradições. As tecnologias permitem que esses conteúdos sejam registrados e compartilhados de forma duradoura, garantindo que a língua e a cultura não se percam ao longo do tempo.
Educação Intercultural
A educação intercultural é uma abordagem pedagógica que busca promover a convivência harmoniosa e o respeito mútuo entre culturas diferentes dentro do ambiente educacional. Seu objetivo é integrar e valorizar as diversas manifestações culturais, garantindo que todos os alunos, independentemente de sua origem, se sintam incluídos e respeitados no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, visa formar cidadãos críticos e empáticos, capazes de interagir com a diversidade de maneira positiva, compreensiva e construtiva. A educação intercultural é um processo que visa a construção de uma sociedade democrática e pluralista, onde as diferenças culturais são reconhecidas e respeitadas, promovendo a convivência pacífica e a equidade entre todos os grupos sociais. (Banks, 2008, p. 74). Essa abordagem pedagógica propõe uma educação que não apenas transmite conhecimento acadêmico, mas também contribui para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as culturas sejam reconhecidas e tenham as mesmas oportunidades. Princípios da Educação Intercultural respeito à diversidade cultural A educação intercultural parte do princípio de que todas as culturas têm valor e devem ser respeitadas. Isso implica reconhecer as diferentes formas de viver, ver o mundo e se relacionar, respeitando as tradições, crenças, línguas e costumes de cada grupo cultural presente na escola e na sociedade.
Conclusão
Diante do exposto quando se trata dos desafios e possibilidades da implementação da língua Wapichana na escola evidencia que, embora a língua enfrente sérios obstáculos como a escassez de materiais didáticos, a falta de professores capacitados e a resistência cultural, existem também oportunidades para superação desses desafios. A implementação de políticas públicas eficazes e o fortalecimento de programas de formação de educadores bilíngues e interculturais são fundamentais para garantir a preservação e valorização da língua Wapichana. Além disso, iniciativas de documentação linguística, o uso de tecnologias e a colaboração com as comunidades indígenas para a criação de materiais didáticos podem contribuir para a revitalização da língua no contexto escolar. A educação bilíngue e intercultural, quando bem estruturada, não apenas assegura a continuidade da língua Wapichana, mas também fortalece a identidade cultural dos alunos indígenas, proporcionando-lhes um ambiente educacional mais inclusivo e respeitoso de suas tradições. Portanto, com esforços coordenados e investimentos adequados, a língua Wapichana pode se fortalecer nas escolas, garantindo sua transmissão às futuras gerações e promovendo o respeito à diversidade cultural no Brasil.
Entre outros, a valorização da cultura indígena nas escolas exige um esforço conjunto de educadores, alunos, famílias e comunidades. Ao integrar conteúdos culturais indígenas no currículo, capacitar os professores, criar parcerias com as comunidades e desenvolver recursos adequados, as escolas podem desempenhar um papel crucial na preservação e promoção da diversidade cultural. Implementando essas ações, a escola não só contribui para o fortalecimento da identidade indígena, mas também para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa.
Enfim, sobre a relação entre língua materna e educação intercultural destaca a importância fundamental de se valorizar as línguas indígenas no contexto educacional, como forma de preservar a identidade cultural dos povos originários e promover um ensino mais inclusivo e equitativo. A educação intercultural, ao respeitar e integrar as línguas maternas, não só contribui para o fortalecimento das tradições e saberes indígenas, mas também favorece o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos estudantes. A língua materna, como ferramenta de ensino, proporciona um aprendizado mais significativo, promovendo uma maior conexão dos alunos com suas raízes culturais. No entanto, os desafios, como a escassez de materiais didáticos e a falta de formação de professores qualificados, exigem políticas públicas eficazes e o envolvimento das comunidades indígenas para que se construam soluções adequadas. Com um compromisso coletivo e investimentos em educação bilíngue e intercultural, é possível garantir a continuidade e o fortalecimento das línguas maternas, promovendo, assim, o respeito à diversidade cultural e contribuindo para uma sociedade mais justa e plural.
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1Mestranda em Letras do programa de pós graduação em letras – PPGL da Universidade Federal de Roraima – UFRR, anaclaudia.gino1424@gmail.com
2Mestre em Educação do Programa de pós graduação em educação – PPGEDUC pela Universidade Federal de Roraima – UFRR, claudyo.reys@gmail.com claudyo.reys@gmail.com
3Mestrando em História do Curso profissional em ensino de história – PROFHISTÓRIA da Universidade Federal de Roraima – UFRR, denilson.cavalcantedelima832@gmail.com
4Mestranda em História do Curso profissional em ensino de história – PROFHISTÓRIA da Universidade Federal de Roraima – UFRR, elkcilanirmatos2011@hotmail.com
5Mestranda em educação inclusiva pelo Programa de pós graduação em educação inclusiva – PROFEI da Universidade Federal de Roraima – UFRR, janaina.gomes.ufrr.t5@gmail.com.