O USO DA LEVOTIROXINA NO HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO GESTACIONAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DOS DESFECHOS MATERNO-FETAIS 

THE USE OF LEVOTHYROXINE IN GESTATIONAL SUBCLINICAL HYPOTHYROIDISM: A CRITICAL ANALYSIS OF MATERNAL-FETAL OUTCOMES 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202508072033


Camila Alexandre Alves Moura1
Bianca Ayumi Parreira Hayashida2
Monica Martinez Segura Teixeira Coelho3


ABSTRACT  

Maternal subclinical hypothyroidism (SCH) is a prevalent condition during pregnancy and,  although often asymptomatic, may be linked to obstetric and neurological risks. The use of  levothyroxine remains controversial, particularly in patients with negative TPOAb or mildly  elevated TSH. This critical review synthesizes recent evidence suggesting treatment benefits  in specific groups, such as women with TSH ≥ 4.0 mIU/L, autoantibodies, or recurrent  pregnancy loss. Treatment effectiveness is also influenced by adherence, pharmaceutical  variability, and social context. Emerging technologies like the metaverse show potential for  enhancing care delivery, although their clinical application remains limited. It is concluded that  SCH management must be individualized and guided by established protocols, considering  each patient’s risk profile. Integration of digital tools should complement, not replace, traditional  evidence-based medical approaches. Individualized care strategies and monitoring are  essential to promote maternal and fetal health in cases of SCH during pregnancy.  

KEYWORDS: hypothyroidism, levothyroxine, pregnancy.  

RESUMO  

O hipotireoidismo subclínico materno (HSC) é uma condição de alta prevalência na gestação  e, apesar de ser frequentemente assintomático, pode estar associado a riscos obstétricos e  neurológicos. A controvérsia sobre o tratamento com levotiroxina persiste, especialmente em  gestantes com TPOAb negativo ou com níveis levemente elevados de TSH. Esta revisão  crítica reúne evidências atualizadas que apontam benefícios do tratamento em grupos  específicos, como gestantes com TSH ≥ 4,0 mIU/L, presença de autoanticorpos ou histórico  de perdas gestacionais. Fatores como adesão terapêutica, variabilidade farmacológica e  suporte socioeconômico também influenciam os resultados. Embora o uso de tecnologias  como o metaverso no acompanhamento gestacional seja promissor, sua aplicação clínica ainda é incipiente. Conclui-se que o manejo do HSC deve ser individualizado, pautado por  diretrizes clínicas bem definidas, respeitando o perfil de risco da paciente. Integrando  abordagens tecnológicas de forma complementar à prática médica tradicional, não substituila.  Estratégias de cuidado individualizado e monitoramento são essenciais para promover a  saúde materna e fetal nos casos de HSC na gestação;  

PALAVRAS-CHAVE: Hipotiroidismo; levotiroxina, gestação. 

INTRODUÇÃO  

O hipotireoidismo subclínico (HSC) materno é uma condição caracterizada por discretos  níveis elevados de hormônio estimulador da tireoide (TSH), com concentrações séricas  normais de tiroxina livre (T4 livre), sendo cada vez mais diagnosticado durante a gestação  devido à intensificação da triagem hormonal pré-natal. Essa disfunção endócrina leve pode  ocorrer mesmo em gestantes assintomáticas, dificultando a tomada de decisão terapêutica,  principalmente por seus efeitos ainda controversos sobre os desfechos obstétricos e  neonatais. A prevalência do HSC em gestantes varia de 2% a 5% e tende a ser maior em  populações com deficiência de iodo, autoimunidade tireoidiana ou histórico de doenças  tireoidianas (SCHOLZ et al., 2025; LI et al., 2022).  

A função tireoidiana materna desempenha papel crucial durante a gestação,  especialmente no primeiro trimestre, quando o feto é totalmente dependente dos hormônios  tireoidianos maternos para o adequado desenvolvimento neurológico. A tireoide fetal torna-se  funcionalmente madura somente em torno da 20ª semana de gestação (Febrasgo, 2025). 

Qualquer alteração na homeostase hormonal pode repercutir diretamente na morfogênese  cerebral, na maturação pulmonar fetal e na manutenção da gravidez. Estudos de imagem  cerebral demonstram alterações significativas em adolescentes expostos a distúrbios  tireoidianos gestacionais, mesmo em níveis subclínicos (SCHOLZ et al., 2025). Esses dados  reforçam a importância da detecção precoce e do manejo adequado da função tireoidiana  materna como forma de prevenção de desfechos adversos de longo prazo. 

A literatura científica recente mostra associação entre o HSC materno e riscos  aumentados para complicações obstétricas como pré-eclâmpsia, descolamento prematuro de  placenta, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino. A ausência de  sintomatologia clássica torna o diagnóstico clínico desafiador, sendo necessária a triagem  laboratorial de TSH e T4 livre em mulheres em risco. A persistência de alterações hormonais  não tratadas durante a gestação pode gerar repercussões no metabolismo placentário,  alteração no volume tireoidiano fetal e até prejuízos neurocognitivos (MIKOŁAJCZAK et al.,  2020; VIEIRA et al., 2023).  

Embora a intensificação da triagem hormonal durante a gestação tenha contribuído  para o diagnóstico precoce de disfunções tireoidianas, a FEBRASGO (Federação Brasileira  das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) recomenda que a triagem da função tireoidiana  não seja universal, solicitar o rastreio em gestantes com fatores de risco específicos, que incluem história pessoal ou familiar de disfunção tireoidiana, cirurgias de tireoide ou  iodoterapia prévias, presença de autoanticorpos, sintomas clínicos sugestivos, idade materna  avançada, infertilidade, uso de medicamentos interferentes (como amiodarona ou lítio), e  condições autoimunes associadas. 

O tratamento com levotiroxina para o HSC gestacional tem sido amplamente debatido  nos últimos anos, dividindo opiniões entre especialistas e sociedades científicas. Enquanto  alguns ensaios clínicos randomizados de grande escala, como o de Casey et al. (2017), não  encontraram benefícios significativos na melhora do QI infantil com o uso da terapia, outros  estudos demonstram melhora nos desfechos perinatais quando o tratamento é iniciado  precocemente, antes da 12ª semana de gestação (CASEY et al., 2017; ZHAO et al., 2023).  Essa controvérsia acentua a necessidade de individualização da conduta médica e maior  compreensão sobre o perfil das pacientes que mais se beneficiariam da intervenção  terapêutica.  

Apesar de alguns estudos apontarem benefícios do uso precoce da levotiroxina em  gestantes com HSC, especialmente quando iniciado antes da 12ª semana, a FEBRASGO  adota uma postura mais cautelosa e baseada em estratificação de risco. Segundo a diretriz, o  tratamento é recomendado nas seguintes situações: TSH ≥ 10 mUI/L (independentemente de  TPOAb); TSH entre 4,0 e 9,9 mUI/L com TPOAb positivo; e TSH entre 2,5 e 4,0 mUI/L apenas  se TPOAb positivo, sendo esta última uma recomendação opcional (grau C). Para gestantes  com HSC sem autoanticorpos, especialmente com TSH entre 2,5 e 4,0 mUI/L, não há  recomendação firme de tratamento, devido à ausência de comprovação robusta de benefícios  em desfechos neurocognitivos infantis. Portanto, a decisão terapêutica deve ser  individualizada, baseada em fatores clínicos e laboratoriais bem estabelecidos (FEBRASGO,  2022).  

Diversas evidências apontam que o HSC pode prejudicar o desenvolvimento  neurológico fetal, mesmo na ausência de sintomas evidentes ou alterações de T4 livre. A  dependência fetal dos hormônios tireoidianos maternos nos primeiros meses torna o cérebro  um órgão vulnerável a déficits hormonais sutis. Estudos como o de Zhao et al. (2023) e Leng  et al. (2022) demonstraram que o tratamento com levotiroxina em gestantes com HSC  promoveu melhores índices de desenvolvimento infantil e aumento nas taxas de nascidos  vivos em grupos de alto risco, como mulheres com perdas gestacionais recorrentes (ZHAO et  al., 2023; LENG et al., 2022). 

A presença de autoanticorpos tireoidianos, especialmente o anticorpo peroxidase  tireoidiana (TPOAb), configura um fator de risco adicional nos casos de HSC. Quando  associado ao TSH elevado, o TPOAb positivo aumenta as chances de aborto espontâneo,  parto prematuro e disfunção tireoidiana progressiva. Por essa razão, muitas diretrizes  recomendam o início do tratamento com levotiroxina em gestantes TPOAb positivas com HSC,  mesmo quando os níveis de TSH estão apenas levemente elevados (SGARBI et al., 2013; LI  et al., 2022). Contudo, ainda existem divergências quanto ao valor de corte ideal de TSH para  iniciar a terapêutica.  

Embora a eficácia do tratamento com levotiroxina em todas as gestantes com HSC  ainda seja debatida, estudos recentes trazem evidências promissoras. Zheng et al. (2025)  mostraram, por meio de abordagem digital via metaverso, que o acompanhamento remoto  personalizado em pacientes com HSC resultou em maior adesão terapêutica e controle  hormonal, além de maior satisfação da paciente com o cuidado pré-natal. Esses dados  mostram que, além da indicação terapêutica, a forma como a intervenção é aplicada influencia  nos resultados (ZHENG et al., 2025).  

A utilização de tecnologias emergentes, como ferramentas baseadas em inteligência  artificial ou metaverso, no acompanhamento do HSC durante a gestação, é um campo  promissor, mas ainda não consolidado na prática clínica, especialmente no contexto brasileiro.  A FEBRASGO não menciona essas abordagens em suas diretrizes atuais, o que reforça que  seu uso deve ser interpretado como experimental ou complementar a uma conduta baseada  em evidências clínicas tradicionais. Esses modelos tecnológicos podem contribuir futuramente  para o acompanhamento remoto e adesão ao tratamento, mas atualmente não substituem a  avaliação clínica individual e os protocolos terapêuticos já estabelecidos (FEBRASGO, 2022).  

Por outro lado, fatores socioeconômicos e ambientais também interferem  significativamente na resposta ao tratamento com levotiroxina. Premkumar et al. (2021)  demonstraram que gestantes em vulnerabilidade social apresentaram menores benefícios da  terapêutica hormonal, possivelmente por baixa adesão, dieta inadequada ou ausência de  suplementação de iodo, o que compromete a eficácia do tratamento (PREMKUMAR et al.,  2021). Isso reforça a necessidade de abordagem multiprofissional e apoio social às gestantes  de risco, indo além da prescrição medicamentosa.  

Com o avanço das tecnologias médicas, novos modelos de triagem, estratificação de  risco e intervenção terapêutica têm sido propostos. Aplicações de inteligência artificial e  sistemas de monitoramento remoto já estão sendo utilizados com sucesso para predizer riscos e otimizar doses hormonais em tempo real. Além disso, estudos como os de Bertoncini et al.  (2023) alertam para a necessidade de garantir bioequivalência entre as formulações de  levotiroxina utilizadas, especialmente em países em desenvolvimento, onde a variabilidade  farmacológica pode comprometer o tratamento (BERTONCINI et al., 2023).  

Diante da complexidade e das variáveis que envolvem o diagnóstico e o tratamento do  HSC materno, torna-se essencial considerar abordagens personalizadas. A avaliação  individual de cada paciente, levando em conta histórico clínico, níveis hormonais, presença de  autoanticorpos, idade gestacional e fatores ambientais, é crucial para determinar a melhor  conduta. Além disso, o início precoce da intervenção, idealmente antes da 12ª semana, parece  ser determinante para o sucesso terapêutico, conforme defendido por autores como  Hubaveshka et al. (2014) e Silva Carreira (2017), que destacam a importância do ajuste  posológico precoce (HUBAVESHKA et al., 2014; CARREIRA, 2017).  

A relevância da discussão sobre o tratamento do HSC com levotiroxina reside,  sobretudo, nas suas implicações práticas sobre a saúde pública materno-infantil. A ausência  de consenso unificado nas diretrizes internacionais, somada à diversidade dos achados  clínicos e ao impacto potencial na vida da criança, torna essa questão um campo fértil para  pesquisa e revisão contínua. Ao reunir estudos recentes, evidências clínicas, abordagens  tecnológicas e análise crítica dos desfechos, este artigo busca contribuir com uma reflexão  aprofundada sobre as indicações, benefícios e limitações da levotiroxina na gestão do HSC  gestacional.  

O objetivo deste trabalho foi analisar criticamente, com base em evidências científicas  atuais, a associação entre o uso da levotiroxina no tratamento do hipotireoidismo subclínico  durante a gestação e seus impactos sobre os desfechos maternos e neonatais. Buscou-se  compreender em quais contextos o tratamento é realmente benéfico, considerando variáveis  como presença de autoanticorpos, níveis hormonais, idade gestacional ao início da terapia,  histórico reprodutivo e fatores socioeconômicos. A partir dessa análise, pretende-se oferecer  subsídios clínicos e teóricos para orientar práticas médicas baseadas em protocolos  personalizados, visando à promoção da saúde materno-fetal com segurança e eficácia.  

MÉTODOS  

A busca de artigos científicos foi feita a partir do banco de dados contidos no National  Library of Medicine (PubMed). Os descritores foram “hypothyroidism, levothyroxine,  pregnancy” considerando o operador booleano “AND” entre as respectivas palavras. As categorias foram: ensaio clínico e estudo clínico randomizado. Os trabalhos foram  selecionados a partir de publicações entre 2010 e 2025, utilizando como critério de inclusão  artigos no idioma inglês e português. Como critério de exclusão foi usado os artigos que  acrescentavam outras patologias ao tema central, desconectado ao assunto proposto. A  revisão dos trabalhos acadêmicos foi realizada por meio das seguintes etapas, na respectiva  ordem: definição do tema; estabelecimento das categorias de estudo; proposta dos critérios  de inclusão e exclusão; verificação e posterior análise das publicações; organização das  informações; exposição dos dados.  

RESULTADOS  

Diante da associação dos descritores utilizados, obteve-se um total de 2428 trabalhos  analisados da base de dados PubMed. A utilização do critério de inclusão: artigos publicados  nos últimos 15 anos (2010-2025), resultou em um total de 1120 artigos. Em seguida foi  adicionado como critério de inclusão os artigos do tipo ensaio clínico, ensaio clínico controlado  randomizado, totalizando 41 artigos. Foram selecionados os artigos em português ou inglês,  resultando em 41 artigos e depois adicionado a opção texto completo gratuito, totalizando 30  artigos. Após a leitura dos resumos foram excluídos aqueles que não se adequaram ao tema  abordado ou que estavam em duplicação, totalizando 30 artigos, conforme ilustrado na Figura  1. 

FIGURA 1: Fluxograma para identificação dos artigos no PubMed. 

FIGURA 2: Síntese dos resultados mais encontrados de acordo com os artigos analisados.

DISCUSSÃO  

O uso da levotiroxina no tratamento do hipotireoidismo subclínico materno tem sido um  dos temas mais controversos e importantes na endocrinologia obstétrica contemporânea. O  texto base propõe uma análise sobre a associação entre a administração de levotiroxina  durante a gestação e os desfechos relacionados à saúde materna e fetal, sobretudo no  contexto do hipotireoidismo subclínico (HSC), que é caracterizado por discreto aumento dos níveis de TSH com T4 livre normal. Essa condição tem sido cada vez mais diagnosticada,  especialmente com o aumento da triagem pré-natal, e levanta o dilema clínico entre o  tratamento universal e a abordagem seletiva. Estudos como o de Zheng et al. (2025) inovam  ao investigar estratégias modernas, como o uso de clínicas no metaverso para monitorar  gestantes com HSC, sugerindo benefícios do acompanhamento digital contínuo para adesão  e controle terapêutico, embora os resultados ainda necessitem de validação em escalas  maiores (ZHENG et al., 2025).  

Por outro lado, os resultados de ensaios clínicos como o realizado por Casey et al. (2017),  que constituem um dos maiores estudos multicêntricos da área, não encontraram benefícios  significativos do uso da levotiroxina em gestantes com HSC em termos de melhora no desenvolvimento cognitivo da criança, o que levantou importantes questionamentos sobre a  indicação rotineira do tratamento (CASEY et al., 2017). Da mesma forma, Lazarus et al. (2012)  também observaram que o tratamento pré-natal com levotiroxina em mulheres com função  tireoidiana limítrofe não se traduziu em melhora nos escores de QI das crianças aos 3 anos  de idade (LAZARUS et al., 2012). Tais evidências apontam para a necessidade de  individualização das condutas, principalmente em gestantes sem autoanticorpos positivos.  

No entanto, o trabalho de Zhao et al. (2023) contradiz esses achados ao demonstrar que  o tratamento com levotiroxina em gestantes com HSC e TPOAb negativo se associou a melhor  desenvolvimento neurológico precoce das crianças, destacando um possível benefício mesmo  na ausência de autoimunidade (ZHAO et al., 2023). Isso abre margem para se discutir a  heterogeneidade dos desfechos clínicos e a influência de fatores como tempo de início da  terapia, dose utilizada, perfil imunológico da gestante e variações genéticas individuais. Leng  et al. (2022), em outro estudo randomizado, mostraram que a levotiroxina foi eficaz na melhora  da taxa de nascidos vivos em mulheres com histórico de perdas gestacionais recorrentes,  sugerindo que em populações selecionadas o tratamento é claramente benéfico (LENG et al.,  2022).  

No que se refere aos riscos associados ao HSC não tratado, autores como Mathews et al.  (2023) e Wu et al. (2022) mostraram que a função tireoidiana alterada no início da gestação  pode comprometer o funcionamento placentário e predispor a distúrbios do eixo fetal placentário, além de influenciar o microbioma intestinal materno, interferindo na  imunomodulação durante a gravidez (MATHEWS et al., 2023; WU et al., 2022). Esse  panorama reforça a necessidade de diagnóstico precoce e monitoramento contínuo. Ainda,  Scholz et al. (2025) apontam que anormalidades tireoidianas gestacionais influenciam  negativamente a morfologia cerebral na adolescência, mesmo quando os níveis de T4  permanecem dentro da faixa de referência, sugerindo um impacto de longo prazo subestimado (SCHOLZ et al., 2025).  

Estudos de coorte e revisão sistemática como os de Silva Carreira (2017) e Vieira et al.  (2023) confirmam que o tratamento com levotiroxina pode reduzir riscos obstétricos como pré eclâmpsia, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino, especialmente quando  iniciado antes da 12ª semana de gestação. Esses achados são corroborados pelo estudo de  Li et al. (2022), que documentou melhores desfechos perinatais entre gestantes com  Hipotiroxinemia tratadas com levotiroxina (LI et al., 2022; VIEIRA et al., 2023). Ao mesmo  tempo, autores como van Welie et al. (2020) e Mikolajczak et al. (2020) analisaram o impacto da função tireoidiana materna sobre a glândula tireoide neonatal, mostrando que a exposição  prolongada a disfunções hormonais maternas pode alterar o volume tireoidiano fetal,  sugerindo influência transplacentária persistente (MIKOŁAJCZAK et al., 2020; VAN WELIE et  al., 2020).  

Um ponto interessante trazido por estudos como o de Premkumar et al. (2021) é o papel  do contexto socioeconômico na eficácia terapêutica. Os autores identificaram que gestantes  em situação de vulnerabilidade socioeconômica apresentam pior resposta clínica, mesmo  quando tratadas com levotiroxina, devido a fatores como má adesão, insegurança alimentar e  ausência de suplementação adequada de iodo (PREMKUMAR et al., 2021). Isso implica que,  além do tratamento hormonal, o sucesso terapêutico depende de intervenções  complementares que envolvem políticas públicas e ações multiprofissionais. Essa visão é  também apoiada por Bertoluci (2021), que propõe uma abordagem holística e multidisciplinar  para a gestão do HSC na gravidez (BERTOLUCI, 2021).  

Outro aspecto relevante discutido nos estudos é a segurança e a posologia da levotiroxina.  Hubaveshka et al. (2014) recomendam um aumento de 20–30% na dose de levotiroxina logo  no início da gestação, visto que a demanda hormonal aumenta substancialmente nesse  período (HUBAVESHKA et al., 2014). A dose inicial adequada é essencial para evitar tanto a  iatrogenia quanto o subtratamento. Bertoncini et al. (2023) ainda ressaltam a necessidade de  padronização das formulações de levotiroxina, especialmente em países da América Latina,  onde a bioequivalência entre marcas pode impactar diretamente a eficácia terapêutica  (BERTONCINI et al., 2023).  

O panorama das evidências reforça que a presença de autoanticorpos (como o TPOAb)  constitui um fator relevante na tomada de decisão clínica. Segundo Sgarbi et al. (2013), o  tratamento com levotiroxina deve ser indicado em gestantes com HSC e TPOAb positivo, dado  o aumento de risco para desfechos gestacionais adversos (SGARBI et al., 2013). Contudo,  Safari et al. (2023) trazem novas abordagens que sugerem que a suplementação de vitamina  D e irisin também pode beneficiar a função tireoidiana, sendo alternativa adjunta ao tratamento  com levotiroxina, especialmente em casos leves (SAFARI et al., 2023).  

Por fim, o consenso atual parece convergir para a ideia de que o tratamento com  levotiroxina no HSC materno deve ser individualizado, levando em consideração fatores como  idade gestacional ao diagnóstico, níveis de TSH, presença de anticorpos tireoidianos, histórico  obstétrico, e condições clínicas associadas como síndrome metabólica ou SOP. Embora  alguns estudos não demonstrem benefício universal, como o de Casey et al. (2017), uma análise mais refinada revela que subgrupos específicos de pacientes podem sim se beneficiar  do tratamento precoce. A revisão sistemática de Ramos (2018) sustenta esse raciocínio,  concluindo que há evidência moderada a forte para uso da levotiroxina em gestantes com TSH  > 4,0 mIU/L, com ou sem autoimunidade (RAMOS, 2018).  

A associação entre hipotireoidismo subclínico materno e prejuízos no desenvolvimento  neurocognitivo da criança ainda é motivo de controvérsia na literatura. Embora alguns estudos  sugiram efeitos negativos mesmo em casos subclínicos, como mencionado em seu texto, a  FEBRASGO ressalta que não há consenso quanto a prejuízos diretos e clinicamente  significativos no QI de crianças expostas ao HSC materno não tratado, principalmente quando  os níveis de T4 livre permanecem normais. O estudo de Casey (2017), amplamente  referenciado pelas diretrizes, não demonstrou benefícios cognitivos claros com o uso da  levotiroxina em gestantes com HSC. Assim, a indicação de tratamento com o intuito de  proteger o neurodesenvolvimento deve ser feita com prudência e apenas nos casos com risco  reconhecido (FEBRASGO, 2022; CASEY, et al. 2017).  

Portanto, diante da complexidade do tema, é possível concluir que o tratamento com  levotiroxina em gestantes com hipotireoidismo subclínico apresenta benefícios relevantes,  principalmente em casos com TPOAb positivo, TSH elevado e histórico obstétrico negativo.  No entanto, a heterogeneidade dos dados exige que as decisões clínicas sejam pautadas em  protocolos bem definidos, com monitoramento rigoroso e abordagem multidisciplinar,  respeitando a individualidade biológica de cada paciente. A integração de novas tecnologias,  como monitoramento digital e inteligência artificial na estratificação de risco, pode ampliar  ainda mais a precisão terapêutica. Assim, o equilíbrio entre evidência científica, julgamento  clínico e atenção humanizada permanece como pilar da conduta nesse cenário sensível da  saúde materno-fetal.  

CONCLUSÃO  

A análise crítica sobre o uso da levotiroxina no tratamento do hipotireoidismo subclínico  durante a gestação demonstra que a conduta terapêutica deve ser orientada por critérios  clínicos bem definidos e embasada na individualização do cuidado. Os dados mais recentes  apontam que, embora não haja consenso sobre o tratamento universal de todas as gestantes  com HSC, há evidências robustas de benefício em subgrupos específicos, como aquelas com  TSH ≥ 4,0 mIU/L, TPOAb positivo ou histórico de perdas gestacionais. Nesses casos, a  intervenção precoce, idealmente antes da 12ª semana de gestação, está associada a melhores desfechos perinatais e menor risco de complicações obstétricas. A discussão em  torno da proteção ao neurodesenvolvimento fetal, apesar de recorrente, ainda carece de  consenso definitivo. Estudos como o de Casey et al. (2017) não evidenciaram benefício  significativo da levotiroxina nesse aspecto, o que leva à recomendação prudente de tratamento  apenas quando há fatores de risco adicionais. Além disso, diretrizes como as da FEBRASGO  enfatizam a necessidade de triagem dirigida, evitando o tratamento desnecessário em  gestantes com alterações leves e transitórias. A resposta terapêutica também é influenciada  por aspectos sociais, econômicos e logísticos. A baixa adesão ao tratamento, a variação entre  formulações farmacêuticas e a ausência de suplementação adequada de iodo são fatores que  comprometem os resultados. Nesse sentido, políticas públicas que garantam o acesso  universal à triagem e ao tratamento são fundamentais, bem como a atuação de equipes  multiprofissionais no cuidado pré-natal.  

O surgimento de tecnologias como inteligência artificial e plataformas de monitoramento  remoto, incluindo ambientes imersivos como o metaverso, representa um novo horizonte na  assistência pré-natal. Ainda que essas soluções não substituam a avaliação clínica, elas têm  potencial para melhorar a adesão ao tratamento e a vigilância terapêutica, principalmente em  populações de difícil acesso. Portanto, o manejo do HSC materno deve se basear na  conjugação entre evidência científica atual, julgamento clínico individualizado e políticas  integradas de saúde. O equilíbrio entre tratamento oportuno, triagem criteriosa e inovação  tecnológica pode garantir melhores desfechos para mães e bebês, respeitando a diversidade  de contextos clínicos e sociais presentes na prática obstétrica contemporânea.  

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FEBRASGO/Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco. Doenças da  tireoide na gestação. 3ªed. São Paulo – FEBRASGO, 2025.


1Discente de Medicina, Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil.

2Discente de Medicina, Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. 

3Docente orientador, Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil.