REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10801732
Ester Blach Vieira1; Maria Eduarda Bacin da Silveira2; Thaís Rodrigues Sousa3; Jeanine Moscone de Miranda4
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo explorar a relevância do Centro de Atenção Psicossocial para Dependentes de Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) e sua abordagem humanizada no apoio às pessoas com transtornos mentais persistentes da dependência de substâncias psicoativas, assim como suas famílias. Esse estudo visa compreender a implementação desses serviços no CAPS AD por meio de uma revisão de literatura. Foram buscados trabalhos nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic) sendo estes produzidos nos últimos dez anos. Nos resultados e discussão, nove artigos discorrem sobre o objetivo principal desta pesquisa. Conclui-se que as assistências no dispositivo dos CAPS AD são cruciais devido à exclusão social enfrentada pelo público-alvo, em razão do estigma associado ao uso de drogas. Por fim, enfatizamos a importância do apoio e acolhimento para promover a autonomia e reintegração desses indivíduos na sociedade, tanto pela equipe multiprofissional quanto pela comunidade.
Palavras-chave: Caps AD; Família; Estigma; Saúde Mental.
ABSTRACT
This article aimed to explore the relevance of the Psychosocial Care Center for Alcohol and Other Drug Dependents (CAPS AD) and its humanized approach in assisting people with persistent mental disorders caused by dependence on psychoactive substances, as well as their families. This study aims to understand the implementation of these services at CAPS AD through a literature review. Works were searched in the databases: Scientific Electronic Library Online (Scielo) and Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic), these being produced in the last ten years. In the results and discussion, nine articles discuss the main objective of this research. It is concluded that assistance in the CAPS AD device is crucial due to the social exclusion faced by the target audience, due to the stigma associated with drug use. Finally, we emphasize the importance of support and acceptance to promote the autonomy and reintegration of these individuals into society, both by the multidisciplinary team and by the community.
Keywords: Caps AD; Family; Stigma; Mental Health
INTRODUÇÃO
O surgimento do uso de álcool e outras drogas, embora seja insuficientemente esclarecido, retrocede ao período da chegada dos comerciantes Portugueses e dos negros escravizados da África nos séculos XVIII e XIX (Santos; Vidal, 2009 apud Crepop, 2019). Ambos os grupos utilizavam a maconha para diferentes fins: Portugueses utilizavam a maconha na fabricação de tecidos rústicos, enquanto os Africanos a incorporaram em seus rituais religiosos como erva sagrada, além de explorá-la em sua farmacopeia como recurso medicinal para amenizar o cansaço e induzir ao sono (Crepop, 2019).
Durante o período da escravidão, a plantação era mantida de forma discreta. No entanto, após a abolição da escravatura, ela ganhou visibilidade e passou a ser considerada pelos âmbitos políticos e social como ameaçadora, principalmente devido à sua popularização entre os jovens afrodescendentes envolvidos em práticas com a capoeira, o maculelê e o candomblé. Ocasionando, na aplicação de força policial nesses grupos (Crepop, 2019).
Diante da percepção dessa população representar um potencial ameaça às autoridades, à possibilidade de rebeliões urbanas e considerando que estavam proibidos de integrar-se ou ascender socialmente através da participação produtiva, ou seja, eram marginalizados e privados de seus direitos, sendo estigmatizados como uma presença ameaçadora. Isso perpetuou a associação estereotipada entre o uso de maconha e a identidade negra, sendo rotulados como “desordeiros”, “marginais” e até mesmo “cachaceiros” (Crepop, 2019). A partir dessa narrativa, torna-se possível compreender como originou e persiste até hoje a visão racista da sociedade em relação aos usuários de substância psicoativas, o que dificulta a reintegração social.
Conforme registrado em Brasil (2023), através do Sistema Único de Saúde (SUS), O aumento de 12,4% no ano de 2021, nos atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool e outras drogas, que serve como um alerta para o país, destacando a importância de serviços como o CAPS AD. De acordo com a ONU (2017), todos os indivíduos possuem o direito à saúde, educação e trabalho. No entanto muitos indivíduos usuários de substâncias psicoativas não conseguem exercer seus direitos plenamente, visando dar suporte às demandas desses indivíduos e seus familiares as unidades de atenção básica à saúde oferecem programas específicos.
Nesse contexto, a reabilitação psicossocial é fundamental, pois é compreendida como um processo de restauração, exercício da cidadania e contratualidade nos âmbitos familiar, social e do trabalho (Sanches; Vecchia, 2020). Este processo ajuda a promover a reintegração desses indivíduos na sociedade e a melhorar sua qualidade de vida, abordando não apenas suas necessidades clínicas, mas também suas necessidades sociais e emocionais.
Segundo dados da Fiocruz (2019), cerca de mais ou menos 3 milhões de pessoas no Brasil possuem algum tipo de dependência química, muito além disso, o vício em drogas é um problema não só para quem faz uso de alguma substância, mas para toda sua rede familiar, sendo assim uma questão de saúde pública. No entanto, persistem desafios a respeito do tratamento oferecido a essas pessoas, uma vez que as redes de saúde pública não estão devidamente preparadas para acolher esses indivíduos de forma correta, o que resulta no afastamento mesmo daqueles que buscam auxílio. A falta de investimento público destinado a apoiar essas pessoas contribui para uma superlotação de recursos especializados limitados, dificultando o tratamento desses indivíduos.
Tendo em vista tudo que foi discutido até o momento, este artigo teve como objetivo, trazer perspectivas acerca do apoio fornecido pelos dispositivos dos CAPS AD aos dependentes e suas famílias por meio de uma revisão de literatura. Compreende-se que com os dados obtidos através desta revisão de literatura, será possível divulgar maior conhecimento para a sociedade e pesquisadores da área, como o CAPS AD fornece apoio e direciona seus cuidados frente a realidade dos dependentes que apresentam o transtorno por uso de substâncias e álcool e suas famílias, tendo em vista que o corpo social que necessita dos serviços oferecidos pelo CAPS é excluído pela sociedade por conta do estigma existente.
REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com o Ministério da Saúde (2020), o CAPS é um centro de atenção com estratégias para atendimento às pessoas com sofrimento em detrimento de um transtorno mental grave e/ou persistentes. A modalidade de CAPS abordada nesta revisão é o CAPS – ÁLCOOL E DROGAS. Diante disso, o CAPS tem como prática propor para os sujeitos um ambiente de acolhimento diante da situação de vulnerabilidade psicossocial nas reabilitações e situações de crise.
De acordo com Dalpiaz et al. (2014) o CAPS além de proporcionar o acolhimento, visa fornecer para o indivíduo ferramentas de autoconhecimento, proporcionando assim, através dos projetos, momentos de reflexões, diante do contexto que se está inserido, com o objetivo da sua reabilitação. Diante da pesquisa feita, foram analisados os impactos pertinentes ao uso excessivo de álcool e drogas e a qualidade de vida diante dos mesmos.
Sobre os impactos pertinentes ao uso excessivo de álcool e outras drogas, as autoras Machado, Modena e Profeta de Luz (2019) fazem refletir sobre as expectativas em relação à abstinência. É descrito por elas a importância das gestões de consumo de drogas, utilizando como exemplo pacientes que usam drogas desde muito novos que não tem estratégias para o rompimento do ciclo do vício, sendo citados a redução do uso e a retomada da qualidade de vida.
Um dos impactos dentro da qualidade de vida do sujeito, seria desenvolvimento de problemas de saúde, tais como distúrbios mentais e comportamentais (Dalpiaz et al. 2014), englobando doenças não transmissíveis, como cirrose hepática, alguns tipos de câncer e lesões resultante de violências e acidentes. Diante disso, a qualidade de vida pode ser retomada através de tratamentos que visam expandir as informações acerca de doenças que podem ser desencadeadas com o uso desmoderado de substâncias psicoativas e alcoólicas.
De acordo com da Rocha (2017), é de grande relevância pontuarmos sobre a assistência ao usuário de drogas na Atenção Primária à Saúde, trazendo ao usuário a importância de se inserir em todos os pontos da rede de atenção. Sendo assim, faz com que o sujeito se sinta visto perante as políticas públicas que visam sua saúde física e mental.
Apesar da existência de um centro específico para atendimento desses usuários, é de suma relevância discutir a assistência ao usuário de drogas na Atenção Primária à Saúde, levando em consideração que o uso dessas substâncias traz agravos biopsicossociais aos seus usuários. Fazendo uma análise das políticas de saúde no Brasil, seguindo o princípio da universalidade proposto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os usuários de drogas e suas famílias possuem o direito de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de atenção e não apenas nos serviços especializados (PAULA et al., 2014).
À vista disso, o autor da Rocha (2017), pontua que a atenção básica é o contato mais próximo com o território e a família, ou seja, devem ser garantidas relações entre profissionais e usuários centradas no acolhimento e no estabelecimento de vínculos, bem como ações destinadas aos familiares e à constituição atividades, envolvendo a relação familiar e profissional.
Em geral, os dependentes de substâncias psicoativas apresentam condições de higiene bucal e corporal precárias, acarretado por diversos fatores como: perda da autoestima, estilo de vida e marginalização social, que influenciam de forma direta no contexto amplo em saúde (Falcão et al., 2015).
Sendo assim, o autor da Rocha (2017), descreve que os fatores de condições dos sujeitos, que são expostas a condições precárias de higiene bucal e corporal, podem interferir no desenvolvimento da adesão ao tratamento, e refletir sobre a importância do acompanhamento pela atenção básica a esse usuário.
Entende-se á partir do que foi discutido que o uso de álcool e outras drogas, possui uma grande influência na vida do sujeito, ou seja, o seu uso excessivo trás consigo uma série de fatores que contribuem para o sofrimento, trazendo consigo violências, culpas, exclusão social, quebra de vínculos familiares e sociais, acidentes prejudiciais a terceiros com o uso excessivo do álcool no trânsito e doenças físicas e mentais. Diante do que foi elucidado, percebe-se o Caps Ad como um dispositivo de suma importância para o indivíduo, e o quanto as atividades terapêuticas fornecidas têm influência em seu cotidiano de tratamento.
METODOLOGIA
Este artigo teve como objetivo analisar pesquisas brasileiras que investigam a importância e as perspectivas acerca do apoio fornecido pelos dispositivos dos CAPS AD para dependentes de álcool e outras drogas, bem como suas famílias. Tendo como método utilizado uma revisão de literatura, buscando por trabalhos nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic). Buscamos pesquisas realizadas nos últimos 10 anos.
No presente artigo, apresentamos como pergunta norteadora: qual o suporte e apoio prestado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps AD), aos dependentes de álcool e outras drogas, assim como aos seus familiares? Tendo em vista que, a importância de identificar o suporte oferecido pelo CAPS AD aos dependentes de substâncias psicoativas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, bem como aos seus familiares que desempenham um papel primordial na reabilitação do indivíduo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Logo abaixo seguem expostos os nove artigos identificados na coleta de dados. Os mesmos foram organizados em 3 categorias: Apoio aos usuários, apoio às famílias e O cuidado com relação ao estigma do usuário do CAPS AD.
APOIO AOS USUÁRIOS
Observando o cenário, o apoio aos usuários se entrelaça com a autonomia em que os usuários do serviço desenvolvem no decorrer do processo do tratamento, os autores Wandekoken, Dalbello-Araujo e Sodré (2021) conceituam a autonomia como proveniente dos trabalhadores envolvidos no CAPS AD, sendo assim, havendo necessidade de políticas públicas para o aumento dessa autonomia.
Afirmamos que, para a produção da reabilitação e/ou reinserção social dos usuários de drogas, é fundamental que haja autonomia por parte dos profissionais de saúde […] para que haja autonomia, é preciso que a rede de dependências esteja presente. Esta rede muitas vezes se manifesta em aspectos como: estrutura de serviço adequada, rede de atenção eficaz, salário digno, profissionais engajados e gestão participativa. (Wandekoken; Dalbello-Araujo; Sodré, 2021, p. 100)
Ainda na ideia a ser discorrida sobre autonomia, existem defensores da prática GAM (Gestão Autônoma de Medicação) para a melhoria da sua saúde mental, tendo como objetivo a autonomia coletiva através de oficinas com a participação da equipe multiprofissional, que questionavam a relação do CAPS AD com a medicalização dos pacientes por haver uma redução na autonomia dos assistidos pela instituição (Caron; Feuerwerker; Passos, 2020).
É importante explicar que o trabalho do CAPS AD é financiado pela rede municipal e que os usuários do serviço além de se sentirem excluídos do meio social, se sentem negligenciados no serviço público de saúde, marcado por um processo de estigmatização que acarreta na falta de visibilidade e de acolhimento para pessoas dependentes de substâncias quando procuram por algum suporte (Barros et al., 2022).
Através desses estudos, entende-se que podemos ter diversas formas de apoiar os usuários do CAPS AD, os autores Martins, Buchele e Bolsoni (2021) acreditam que a valorização do usuário iria atribuir positivamente para o vínculo do tratamento, ocorrendo com estratégias como: a autonomia levada para fora dos serviços de saúde, novas possibilidade de redes de apoio, o acolhimento, os Planos Terapêuticos Singular (PTS), grupos de apoio e os seus direitos a cultura, lazer e arte preservados.
Outro fator observado é a importância do vínculo de confiança estabelecido entre a equipe e os usufruidores do serviço, pois são vítimas constantes de estigmas sociais, enquanto o CAPS tem como objetivo o acolhimento em função da valorização do usuário e dos grupos de apoio que visam redução de danos através do compartilhamento de experiências, educação coletiva sobre assuntos diversos (saúde, políticas públicas, direitos e deveres, entre outros) e redução de riscos sociais (Martins, Buchele e Bolsoni, 2021) .
Em suma, o CAPS AD proporciona o entrelace com a autonomia através dos grupos terapêuticos, a aproximação da família do processo, ajuda no autocuidado, acompanhamento psicoterápico individual, acompanhamento psiquiátrico e desenvolvimento de oficinas criativas multiprofissionais, com o objetivo de propiciar a reinserção do sujeito dentro da sociedade. Martins, Buchele e Bolsoni (2021) ainda citam sobre o desenvolvimento de uma rede territorial concreta com dispositivos facilitadores para moradias, cooperativas de trabalhos, expressão política e socioeconômica.
APOIO ÀS FAMÍLIAS
Observou-se que a magnitude da família na adesão ao tratamento dos indivíduos dependentes de substâncias psicoativas é primordial. A família desempenha um papel crucial no apoio emocional, motivação e supervisão do tratamento. Ela pode fornecer um ambiente de suporte que ajuda o indivíduo a manter o foco no processo de recuperação (Borges; Schneider, 2020).
Além disso, a família pode ser uma fonte de incentivo e estabilidade durante os momentos difíceis e desafiadores que podem surgir ao longo do tratamento. A comunicação aberta e o envolvimento da família no plano de intervenção também são essenciais para o sucesso a longo prazo. Em resumo, o apoio familiar é um pilar fundamental no processo de recuperação das pessoas dependentes de substâncias psicoativas (Borges; Schneider, 2020).
Por esta razão, a família do usuário de drogas é uma população vulnerável que necessita de atenção e cuidados específicos. Entretanto, embora os familiares possam adoecer em função dos conflitos decorrentes de conviver com um usuário de substâncias, a abordagem da dependência química ainda tem como foco principal o tratamento específico do usuário de substância (Bortolon, Machado, Ferigolo, & Barroso, 2013).
Além do mais, podemos destacar a presença da família no tratamento de um indivíduo no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, que pode incluir a implementação de programas de apoio familiar. Esses programas podem oferecer sessões educativas e informativas para os membros da família, abordando a importância do seu papel no processo de recuperação do paciente (Bortolon, Machado, Ferigolo, & Barroso, 2013).
Ademais, os autores Azevedo e Miranda (2015), descrevem que podem ser promovidas terapias familiares, onde os parentes têm a oportunidade de participar de sessões terapêuticas em conjunto com o paciente, facilitando a comunicação, fortalecendo as relações interpessoais e promovendo um ambiente de apoio saudável.
A inclusão da família nas sessões de planejamento de tratamento e na definição de metas terapêuticas pode ser uma estratégia eficaz para garantir que todos estejam alinhados e engajados no processo de recuperação. Ou seja, ao envolver a família de forma ativa no tratamento no CAPS AD, é possível fortalecer o suporte social ao paciente, melhorar a adesão ao tratamento e promover uma recuperação mais eficaz e duradoura (Azevedo; Miranda, 2015).
Nesse sentido, os autores, Azevedo; Miranda (2015), retratam sobre a influência de oficinas terapêuticas como instrumento de reabilitação psicossocial, dentro da percepção de familiares, em outros termos, seria incentivar a participação da família nas atividades terapêuticas do CAPS AD, permitindo que eles integrem o processo de recuperação do paciente. Isso pode envolver desde sessões de terapia em grupo, oficinas do tipo expressiva (artístico/cultural – expressão plástica, corporal, verbal ou musical).
Os familiares destacaram que o atendimento grupal e individual, realizado no CAPS AD, constitui em fonte de forças para eles por proporcionar orientações, informações, apoio e aprendizado. Tais recursos envolvem o modo de manejar o usuário e compreender melhor o âmbito da dependência de substâncias psicoativas (Claus et al., 2018, p. 01).
Outrossim, é de extrema relevância que os profissionais dentro do CAPS AD, estejam sensíveis ao sofrimento das famílias e forneçam apoio adequado. Isso pode incluir educação sobre a dependência química, orientações sobre como lidar com a situação e encaminhamentos para outros recursos de apoio na comunidade Claus et al., (2018).
O estigma social em torno da dependência química pode levar as famílias a se sentirem isoladas e envergonhadas, dificultando a busca por apoio e compreensão. É essencial que o Caps AD reconheça e aborde esse sofrimento, oferecendo suporte emocional, e recursos para ajudar as famílias a lidar com esses desafios de forma mais eficaz Claus et al., (2018).
É fato que, criar um ambiente acolhedor e de confiança no CAPS AD, onde os familiares se sintam bem-vindos e ouvidos, é essencial para promover essa parceria entre a família e a equipe de profissionais de saúde (Azevedo; Miranda, 2015).
O CUIDADO COM RELAÇÃO AO ESTIGMA DO USUÁRIO DO CAPS AD
Nesse contexto mais amplo, compreendemos que os estigmas podem ter um impacto significativo na saúde física, mental e psicossocial dos indivíduos dependentes de substâncias psicoativas. Esses estigmas não se limitam apenas às manifestações sociais, que podem ser demonstrados com isolamento social, julgamentos, preconceitos, discriminação e estereótipos negativos, mas também nos serviços de saúde, influenciando diretamente o auto estigma que o indivíduo desenvolve (Fernandes; Ventura, 2018).
Sendo assim, os estigmas nos serviços de saúde podem ter repercussões negativas, resultando em atendimentos desiguais e desumanizados para essas pessoas. Quando proveniente de representantes de instituições públicas, como na área da saúde, esses estigmas podem influenciar os indivíduos a ocultar seu uso de álcool e outras drogas, com receio de receberem um atendimento deficitário, com isso, em suma maioria, o atendimento não atende as necessidades relacionadas ao uso da substância (Fernandes; Ventura, 2018).
O estigma é percebido pelas pessoas dependentes de substâncias como uma “marca social”, empregada de maneira pejorativa e com o intuito de desvalorizar o indivíduo em comparação aos demais membros da sociedade. Esses estigmas levam esses indivíduos a se isolarem, pois acreditam que não pertencem a diversos espaços sociais, não se sentindo confortáveis ou acreditando que o ambiente não é apropriado para eles (Sanches; Vecchia, 2020).
Dessa forma, essas pessoas têm menos acesso a eventos culturais, como cinemas, museus, bibliotecas municipais, festivais de músicas e teatros. Portanto, é fundamental reconhecer a importância da cultura como um meio de integração e inclusão social, e é essencial que as pessoas dependentes de substâncias psicoativas tenham acesso a esses espaços e atividades, não apenas durante o tratamento, mas como parte de uma vida plena e participativa na sociedade (Sanches; Vecchia, 2020).
Isso ocorre porque a percepção que esses representantes têm sobre os usuários, muitas vezes rotulando-os como “perigosos”, “violentos” e “moralmente fracos”, considerando-os os únicos responsáveis por sua condição e incapazes de superar a doença. Essa visão influencia diretamente o auto estigma e, consequentemente, as repercussões para o indivíduo, pois o uso de substâncias psicoativas não é visto como problema médico, mas sim com uma falha do caráter (Fernandes; Ventura, 2018).
Considerando que a dependência química é reconhecida como doença que impacta o indivíduo no campo biopsicossocial e o tratamento depende da busca do restabelecimento físico, psicológico e da reinserção social (Brasil 2024). É fundamental ressaltar que o sucesso e efetividade desse processo terapêutico dependem de um elevado grau de motivação por parte do indivíduo.
Nesse sentido, compreende-se que o tratamento da dependência exige uma abordagem abrangente que envolva não apenas o usuário em si, mas também sua família, profissionais de saúde e a comunidade em que este sujeito está inserido. A colaboração e o apoio desses diferentes atores são essenciais para proporcionar um suporte integral ao indivíduo em seu caminho em direção à recuperação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo evidenciou o apoio aos pacientes do CAPS AD e sua família e os estigmas da sociedade acerca dos usuários, políticas públicas e incentivo à saúde mental. Diante da revisão de literatura apresentada neste trabalho, ficou compreendido que o apoio do CAPS AD aos seus usuários, e a suas famílias fornece incentivo, acolhimento, autoestima, valorização individual dentro do CAPS e da sociedade, sendo assim algo de extrema importância para os usuários.
As principais ferramentas utilizadas pelos profissionais do CAPS AD para o fornecimento do serviço são: as oficinas terapêuticas, acolhimento e acompanhamento em grupo, acolhimento e acompanhamento individual, ou seja, é crucial que o serviço garanta um acompanhamento contínuo com suporte psicossocial.
Torna-se fundamental, portanto, que apesar da alta prevalência de dependência química no Brasil, existem desafios no tratamento devido à falta de preparo das redes de saúde pública para acolher adequadamente esses pacientes. Isso resulta em uma superlotação de serviços especializados e dificulta o acesso ao tratamento. Portanto, a pesquisa compreendeu como o CAPS AD lida com usuários com transtornos por abuso de substâncias psicoativas, considerando a exclusão social enfrentada por esse público devido ao estigma existente na sociedade. Por fim, recomendamos maiores investigações, acerca desse tema, pois compreendemos que a área da saúde mental bem como o atendimento de seus usuários carece de maiores pesquisas.
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1Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário São Lucas – AFYA, Porto Velho – E-mail: esterblachbct@gmail.com
2Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário São Lucas – AFYA, Porto Velho – E-mail: rodriguesthais449@gmail.com
3Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário São Lucas – AFYA, Porto Velho – E-mail: dudaclassea2@gmail.com
4Professora do Centro Universitário São Lucas – AFYA, Porto Velho. Mestre em Psicologia – jeanine.miranda@saolucas.edu.br