O PRONATEC NO COLÉGIO PEDRO II: HISTÓRIA, MEMÓRIA E IMPACTOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505190956


Andréa Karla Wanderley Chianello1


RESUMO

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi criado para ampliar a formação profissional no Brasil, promovendo qualificação e inserção no mundo do trabalho. No Colégio Pedro II, tradicionalmente voltado para a educação básica, a implementação do programa gerou transformações na dinâmica pedagógica e na cultura institucional. Este artigo procurou verificar os impactos do Pronatec na formação dos alunos, analisando a adequação dos cursos às demandas do mercado, os desafios enfrentados na infraestrutura e a influência na memória escolar. A integração do programa ao modelo pedagógico da instituição trouxe desafios estruturais e metodológicos. A análise contribui para a compreensão da relação entre políticas públicas e qualidade da formação profissional, auxiliando no aprimoramento de futuras iniciativas educacionais.

Palavras-chave: Formação Inicial e Continuada, Políticas Educacionais, Memória Escolar.

ABSTRACT

The National Program for Access to Technical Education and Employment (Pronatec) was created to expand professional training in Brazil, promoting qualification and insertion into the world of work. At Colégio Pedro II, traditionally focused on basic education, the implementation of the program generated transformations in the pedagogical dynamics and institutional culture. This article sought to verify the impacts of Pronatec on student training, analyzing the adequacy of courses to market demands, the challenges faced in infrastructure and the influence on school memory. The integration of the program into the institution’s pedagogical model brought structural and methodological challenges. The analysis contributes to the understanding of the relationship between public policies and the quality of professional training, helping to improve future educational initiatives.

Keywords: Initial and Continuing Education, Educational Policies, School Memory.

INTRODUÇÃO

A formação profissional no Brasil tem sido historicamente marcada por desafios relacionados ao acesso, à qualidade e à articulação com o mundo do trabalho. A criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), em 2011, representou um esforço governamental para ampliar a oferta de cursos técnicos e profissionalizantes, democratizando o ensino e promovendo a qualificação profissional. Dentro desse contexto, o Colégio Pedro II, (CPII) uma das instituições educacionais mais tradicionais do país, tornou-se um espaço relevante para analisar os impactos do Pronatec, com foco na implementação e no desenvolvimento do programa, resgatando memórias, experiências e percepções de ex-alunos(as) e profissionais envolvidos. Além da oferta educacional, a pesquisa buscou compreender como essas ações contribuíram para o fortalecimento da identidade institucional e para a construção de um registro histórico das políticas públicas voltadas à educação profissional e tecnológica.

A implementação do Pronatec no CPII trouxe transformações significativas, impactando a educação e a cultura institucional da escola. O programa ampliou as oportunidades de formação, mas é essencial avaliar sua contribuição para a qualificação dos egressos, a manutenção da excelência acadêmica e a compatibilidade dos cursos com as demandas do mundo do trabalho. Também é importante verificar se a infraestrutura da escola atendeu às exigências pedagógicas do programa, garantindo uma formação integral. A análise da trajetória do Pronatec no CPII revela tanto benefícios quanto desafios, oferecendo subsídios para futuras políticas de ensino profissionalizante.

A relevância desta análise reside na importância de compreender os impactos do Pronatec dentro de um contexto educacional consolidado, como o CPII, que possui uma história marcada pelo rigor acadêmico e pela excelência na educação básica. Além disso, este estudo contribui para a preservação da memória da instituição, registrando as transformações decorrentes da implementação do programa. 

Possibilita-se, assim, ao longo do estudo, identificar as transformações ocorridas com a chegada do Pronatec ao CPII, analisando se os cursos de qualificação profissional ofertados atenderam às expectativas de alunos e professores e quais desafios foram enfrentados ao longo do processo. Dessa forma, torna-se possível compreender se a política pública cumpriu seu papel de democratização da educação profissional e quais foram seus desdobramentos para a instituição, contribuindo para a reflexão sobre a trajetória da formação profissional no Brasil, especialmente no que se refere à sua implementação em instituições de ensino tradicionais.

Educação Profissional e Tecnológica (EPT)

A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é uma modalidade de ensino voltada para a formação de profissionais qualificados, integrando conhecimentos teóricos e práticos. No Brasil, a EPT abrange cursos de qualificação profissional, técnicos e tecnológicos, sendo ofertada por instituições como os Institutos Federais, escolas técnicas e universidades. Além de preparar os estudantes para diversas áreas do setor produtivo, a EPT também pode estar integrada ao ensino médio, proporcionando uma formação completa e alinhada às demandas do mundo do trabalho (Pereira, 2022).

As políticas de educação técnica e profissional no Brasil começaram em 1909, com a criação das Escolas de Aprendizes e Artífices pelo presidente Nilo Peçanha, com o objetivo de qualificar a força de trabalho e controlar o proletariado, no contexto da abolição da escravatura e da industrialização. No entanto, projetos voltados ao ensino de artes e ofícios surgiram já em 1826, mas de forma fragmentada (Machado, 1991). A Constituição de 1937 atribuiu ao Estado a responsabilidade de oferecer ensino técnico às classes menos favorecidas, e o acordo Brasil-EUA de 1946 resultou na criação da Comissão Brasileiro-Americana para Ensino Industrial (CBAI), que introduziu o método TWI no Brasil até 1963 (Machado, 2008).

Na década de 1960, o Ministério da Educação (MEC) passou a regulamentar o magistério na educação profissional, e a LDBEN de 1961 organizou a aprendizagem industrial. Durante o governo Geisel (1974-1979), as Escolas Técnicas Federais foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) (Azevedo et al., 2012). Na década de 1990, a criação do Sistema e Conselho Nacional da Educação Tecnológica e a reforma do Decreto nº 2.208/1997, no governo FHC, fragmentaram a educação profissional, afastando-a da educação regular. O governo Lula (2003) revisou essa abordagem, promovendo a integração da EPT com outras políticas educacionais (Brasil, 2003).

Em 2008, a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), com os Institutos Federais (IFs), CEFETs e outras instituições, ampliou o acesso ao ensino técnico gratuito de qualidade (Silva et al., 2024).

O Pronatec foi criado em 2011 pelo Governo Federal com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso à formação profissional e tecnológica no Brasil. O programa surgiu para atender à crescente demanda por qualificação da força de trabalho e fortalecer a inclusão social por meio da educação profissionalizante (Pereira, 2022).

Diferente de outros modelos, o Pronatec focou na ampliação da oferta de cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), de curta duração, variando entre 160 e 360 horas. Esses cursos foram promovidos por diversas instituições, como os Institutos Federais, o Sistema S (Senai, Senac, Sesi e Sesc), escolas técnicas estaduais e municipais. Além disso, o programa oferece bolsas de estudo e financiamentos para facilitar o acesso de jovens e adultos ao ensino profissionalizante (Pereira, 2022).

A EPT desempenha um papel fundamental na inclusão social, ao oferecer oportunidades educacionais para jovens, adultos, trabalhadores em busca de requalificação e pessoas em situação de vulnerabilidade. A formação profissional contribui para a redução das desigualdades e para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos (Lucena Lira et al., 2024).

Na visão de Frigotto (2001), o ensino profissional deve ir além das habilidades técnicas, incorporando elementos científicos, culturais e políticos para formar cidadãos críticos e engajados. Essa perspectiva está alinhada com a proposta de Ramos (2014, p.123), que destaca a formação humana integral em contraponto a modelos educacionais voltados exclusivamente para o mercado de trabalho. A autora discute o impacto das políticas educacionais na consolidação da EPT, considerando o papel do Estado na estruturação da educação técnica e tecnológica.

Frigotto (2001) enfatiza que a educação profissional deve transcender a mera capacitação técnica, promovendo uma formação integral que engloba dimensões científicas, culturais e políticas. A proposta da politecnia visa integrar essas diversas dimensões na formação educacional, capacitando os indivíduos não apenas com habilidades práticas, mas também com uma compreensão crítica da realidade social e produtiva em que estão inseridos. Isso implica no desenvolvimento da capacidade de análise, questionamento e participação ativa na sociedade, preparando os profissionais para contribuir significativamente para o desenvolvimento social. 

Dermeval Saviani (2016) argumenta que a educação não deve ser vista de forma isolada, mas em relação intrínseca com as condições sociais, econômicas e políticas mais amplas. Ele propõe uma prática educativa que reconheça a influência das estruturas sociais na educação e que considere a educação como um fenômeno capaz de contribuir para a transformação social. Saviani destaca a importância de uma prática educativa que não apenas transmite conhecimentos, mas também promove a reflexão crítica e a conscientização dos indivíduos sobre sua realidade social. No entanto, permanece o desafio de equilibrar a formação profissional com a educação integral, garantindo que os estudantes não apenas se qualifiquem para o mundo do trabalho, mas também desenvolvam competências críticas e cidadãs.

PRONATEC: Diretrizes, modalidades de oferta e impactos no ensino profissional e sua implementação no Colégio Pedro II

O CPII, fundado em 2 de dezembro de 1837, é uma instituição pública federal de ensino localizada no Rio de Janeiro, nomeada em homenagem ao Imperador D. Pedro II. Sua origem remonta ao Seminário dos Órfãos de São Pedro, estabelecido em 1739 por Frei Antônio de Guadalupe. Em 1837, o então ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos propôs a reorganização do seminário, resultando na criação do Imperial Colégio de Pedro II, com o objetivo de oferecer uma formação acadêmica abrangente, preparando alunos para profissões como advocacia, medicina e magistério. 

Ao longo de sua história, o CPII consolidou-se como referência no ensino secundário brasileiro, influenciando outras instituições por meio de seus estatutos e programas educacionais. Inicialmente, embora fosse uma escola paga, mantinha 29 vagas gratuitas para alunos carentes, número correspondente ao do antigo seminário. 

Em 1857, a instituição dividiu-se em externato e internato, com este último estabelecido na Tijuca em 1858 e transferido para São Cristóvão em 1888. Foi pioneira ao estruturar um currículo laico e diversificado, incluindo disciplinas como história, geografia, matemática, português, literatura e música, contribuindo significativamente para a formação cultural e científica do país. 

Após a Proclamação da República em 1889, o colégio enfrentou crises institucionais e mudanças de nomenclatura, sendo denominado Instituto Nacional de Instrução Secundária e Ginásio Nacional, até retomar o nome Colégio Pedro II em 1911. Reconhecido como “Colégio Padrão do Brasil” até a década de 1950, expandiu suas unidades para atender à crescente demanda estudantil, inaugurando seções nos bairros do Engenho Novo, Humaitá e Tijuca. 

Em 2012, equiparou-se aos Institutos Federais, ampliando suas ofertas pedagógicas e passando a denominar suas unidades como campi. Além do ensino básico, iniciou atividades no ensino superior, incluindo programas de residência docente e cursos de especialização. Destaca-se também a participação ativa de seus alunos em movimentos estudantis e mobilizações sociais ao longo de sua trajetória. 

A filosofia educacional do CPII alinha-se às ideias de Paulo Freire, que enfatiza a importância do diálogo e da participação ativa na construção do conhecimento. Freire afirma que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (Freire, 1987). Essa abordagem reforça o compromisso da instituição com uma educação integral e inclusiva, preparando cidadãos críticos e conscientes para a sociedade. 

As diretrizes do Pronatec foram estabelecidas para ampliar e democratizar o acesso à educação profissional no Brasil, e buscou fortalecer parcerias entre instituições públicas e privadas, incluindo a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e o Sistema S, além de alinhar a formação profissional às demandas do mercado de trabalho (Caldeira et al., 2025).

Segundo Frade et al., (2022), o Pronatec se estruturou em diferentes modalidades de oferta para atender diversos perfis de público e ampliar o acesso à educação profissional, a Bolsa-Formação oferece cursos gratuitos para estudantes da rede pública, trabalhadores e beneficiários de programas sociais e a Rede e-Tec Brasil possibilitou a formação técnica na modalidade a distância, expandindo o alcance do ensino profissional. 

Os cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) foram voltados à capacitação rápida de trabalhadores, promovendo a qualificação em curto prazo, o Mediotec integrou a formação técnica ao ensino médio, permitindo que os alunos concluíram a educação básica com uma qualificação profissional, já o Pronatec Aprendiz foi destinado à formação de jovens aprendizes, combinando ensino e experiência prática no mercado de trabalho, essas modalidades permitiram que milhões de brasileiros tivessem acesso à educação profissional, fortalecendo a empregabilidade e contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do país (Frade et al., 2022).

Houve um impacto significativo no ensino profissional brasileiro com o Pronatec, ampliando o acesso à qualificação e fortalecendo a educação técnica no país, com a oferta de cursos gratuitos, o programa possibilitou que milhões de brasileiros, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social, tivessem a oportunidade de se capacitar para o mercado de trabalho, além de contribuir para a expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e do Sistema S, aumentando a disponibilidade dos cursos técnicos e de formação continuada em diversas regiões do Brasil (Lucena Lira et al., 2024).

O CPII desenvolveu os cursos FIC considerando a formação integral dos alunos, buscando promover uma educação crítica e emancipatória. Os cursos proporcionaram aos alunos não apenas qualificação profissional, mas também incentivo à continuidade dos estudos. De acordo com a pesquisa feita no CPII que originou esse artigo, 53,6% dos participantes do FIC aplicam os conhecimentos adquiridos no mundo do trabalho, reforçando a importância do programa. Além disso, a experiência da implementação do programa contribuiu para a memória coletiva da instituição, destacando a necessidade de políticas públicas que promovam a formação de trabalhadores conscientes de seu papel social, econômico e político. 

O Pronatec fortaleceu a empregabilidade ao oferecer cursos alinhados às demandas do setor produtivo, facilitando a inserção dos formandos no mercado de trabalho. Além disso, impulsionou o desenvolvimento regional, promovendo a qualificação da mão de obra e estimulando setores econômicos estratégicos. Mesmo com reformulações ao longo dos anos, o programa consolidou a educação profissional como ferramenta essencial para a inclusão social e o desenvolvimento econômico do país (Lucena Lira et al., 2024).

Segundo Sauka et al., (2021), a modalidade Bolsa Formação Trabalhador (BFT) do Pronatec foi criada para oferecer cursos gratuitos de qualificação profissional a trabalhadores, incluindo aqueles em situação de vulnerabilidade social, essa iniciativa visava ampliar as oportunidades de capacitação e melhorar a empregabilidade, alinhando a formação profissional às demandas do mercado de trabalho.

A BFT disponibilizou cursos de FIC e cursos técnicos em diversas áreas, atendendo especialmente beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família e o Seguro-Desemprego, além de trabalhadores que buscavam requalificação profissional, as aulas foram oferecidas por instituições como os Institutos Federais, o Sistema S e escolas técnicas estaduais e municipais (Sauka et al., 2021).

Por meio do Pronatec, o Colégio Pedro II ofereceu cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) tanto para alunos do ensino médio quanto para a comunidade externa. A formação abrangeu áreas como informática, administração e saúde, alinhando-se às demandas do mundo do trabalho. Os cursos, oferecidos gratuitamente, tinham como foco a capacitação de jovens e adultos, muitos em situação de vulnerabilidade social.

A parceria entre o CPII e o Pronatec teve um impacto positivo, proporcionando uma educação de qualidade, promovendo a inclusão social e melhorando a empregabilidade. Além disso, o programa contribuiu para a valorização da educação técnica e para a integração da escola com as necessidades do mercado de trabalho e da sociedade (Alves et al., 2023).

A importância do resgate da memória coletiva na história da EPT

Baseado nos apontamentos de Nora (1993) sobre as diferenças entre história e memória é possível compreender que memória nada mais é que um arquivo dos acontecimentos do presente e do futuro e, a história fica perpetuada pelos acontecimentos, que podem ser pessoas, grandes obras, etc., gravadas na memória, que depois os transfere para a história. Ao contrário da memória, a história aposta na descontinuidade, pois ela é, ao mesmo tempo, registro, distanciamento, problematização, crítica e reflexão (Nora, 1993, p. 9).

Maurice Halbwchs (2013) trata com propriedade a relação entre memória individual e memória coletiva, ressaltando que a memória individual não é um fenômeno isolado, mas está fortemente ligada à memória coletiva de um grupo ou sociedade. O autor destaca que a memória coletiva tem importância na construção da identidade coletiva, oferecendo uma base compartilhada de pertencimento e continuidade histórica para os grupos sociais. As nossas lembranças precisam de uma comunidade, que é pautada no convívio social, e podemos então ter base em nossa impressão nas memórias de outras pessoas que estão compondo o mesmo grupo/comunidade da qual estamos inseridos para completar a nossa própria percepção dos acontecimentos.

Segundo Le Goff (2013), a memória desempenha um papel fundamental na construção da identidade, tanto individual quanto coletiva, sendo um elemento central na busca dos indivíduos e das sociedades contemporâneas. Além de representar uma conquista, a memória coletiva também se configura como um instrumento e um objeto de poder. As sociedades cuja memória social é predominantemente oral ou que estão em processo de formação de uma memória coletiva escrita ilustram de maneira mais evidente a disputa pela preservação da recordação e da tradição.

O resgate da memória coletiva na história da EPT é fundamental para compreender a evolução desse modelo educacional e seu papel na formação de profissionais capacitados para o mercado de trabalho, a EPT, ao longo do tempo, se consolidou como uma ferramenta essencial de inclusão social, desenvolvimento econômico e promoção da cidadania. Resgatar essa memória permite a reflexão sobre os avanços, desafios e conquistas das instituições que formam profissionais qualificados, além de preservar as experiências e as trajetórias de pessoas e grupos que passaram por essas escolas (Machado et al., 2021).

A memória coletiva da EPT inclui não apenas a evolução curricular e pedagógica das escolas, mas também as transformações sociais e políticas que impactam o ensino profissional ao longo das décadas, ao revisitar os marcos históricos da EPT, é possível identificar os momentos-chave em que políticas públicas, como o Pronatec, e as mudanças no mercado de trabalho influenciaram a direção e a expansão dessa modalidade de ensino, permitindo destacar a contribuição das escolas técnicas e dos Institutos Federais para a redução das desigualdades sociais e a promoção do desenvolvimento regional (Pereira, 2022).

O resgate da memória coletiva ajuda a valorizar o legado dessas instituições e o impacto que tiveram na vida de milhares de estudantes, é um instrumento de fortalecimento da identidade escolar, permitindo que as novas gerações compreendam e se apropriem da história da EPT, inspirando-as a continuar o trabalho de transformação social por meio da educação profissional (Machado et al., 2021).

A pesquisa documental e bibliográfica desempenha um papel essencial na preservação do histórico do Pronatec no CPII, permitindo o resgate, a sistematização e a análise crítica das ações desenvolvidas no âmbito do programa, esse tipo de investigação possibilita compreender como o Pronatec foi implementado na instituição, quais foram seus impactos na formação profissional e tecnológica e como ele contribuiu para a inclusão social e a empregabilidade dos estudantes (Albuquerque Leocádio et al., 2024).

Por meio dessas abordagens, a pesquisa contribui para a preservação da memória institucional e para o aprimoramento das políticas educacionais, fornecendo subsídios para futuras iniciativas na educação profissional e tecnológica, fortalecendo a identidade do CPII como um espaço de referência na formação técnica, garantindo que sua contribuição ao Pronatec seja devidamente reconhecida e documentada (Albuquerque Leocádio et al., 2024).

Souza et al., (2024) afirmam que a produção de um e-book como produto educacional é uma estratégia eficaz para a valorização da memória institucional do Pronatec, pois permite registrar, sistematizar e divulgar as experiências e impactos do programa em uma instituição de ensino, no caso do CPII, um e-book pode funcionar como um repositório acessível e dinâmico de informações sobre a implementação do Pronatec, destacando suas contribuições para a educação profissional e tecnológica.

Esse tipo de material contribui para a preservação da memória institucional ao reunir documentos, relatos de alunos e professores, dados sobre os cursos oferecidos, metodologias aplicadas e os resultados alcançados pelo programa, um e-book pode incluir entrevistas, imagens, gráficos e análises que contextualizam a atuação do Pronatec na instituição e seu impacto na formação profissional dos estudantes, outra vantagem do e-book é sua acessibilidade e alcance, uma vez que pode ser distribuído gratuitamente e consultado por diferentes públicos, como educadores, gestores, pesquisadores e futuros alunos, também pode ser utilizado como ferramenta pedagógica para discutir a história da educação profissional no Brasil, inspirando novas iniciativas e fortalecendo a identidade da escola como referência na formação técnica e tecnológica (Souza et al., 2024).

De acordo com Serra (2015), a produção de um e-book não apenas preserva a história do Pronatec no CPII, mas também promove sua valorização e disseminação, garantindo que as experiências e aprendizados gerados pelo programa sejam reconhecidos e utilizados para aprimorar políticas educacionais futuras.

Dentre as principais tendências para o futuro da EPT, se destaca a expansão da oferta de cursos técnicos e tecnológicos, especialmente no formato híbrido e a distância, aproveitando os avanços das plataformas digitais e metodologias ativas de ensino, a crescente digitalização do mercado de trabalho exige que os currículos da EPT sejam constantemente atualizados, incorporando temas como inteligência artificial, automação, programação, energias renováveis e sustentabilidade (Machado et al., 2021).

Frade et al., (2022) afirmam de que é importante considerar relevante o fortalecimento da parceria entre escolas, setor produtivo e instituições de ensino superior, promovendo a formação de profissionais mais preparados para os desafios do mercado, a adoção de modelos como a aprendizagem baseada em projetos e o ensino dual, que combina teoria e prática no ambiente empresarial, tende a ganhar mais espaço.

Espera-se uma maior integração da EPT com políticas de inclusão social, garantindo que jovens de baixa renda e grupos historicamente marginalizados tenham acesso à formação de qualidade. Programas como o Pronatec podem ser ampliados e modernizados para atender às novas demandas da sociedade, a internacionalização da EPT pode se tornar uma realidade mais presente, permitindo que estudantes brasileiros tenham acesso a experiências globais, intercâmbios e certificações internacionais, elevando a competitividade da mão de obra nacional no cenário mundial (Pereira, 2022).

A experiência do Pronatec no CPII: desafios e avanços da EPT no Brasil

De acordo com Neves (2021), a experiência do Pronatec no CP II reflete de forma significativa os desafios e avanços da EPT no Brasil, evidenciando tanto os impactos positivos dessa expansão quanto a implementação dos cursos de FIC (Formação Inicial e Continuada). 

Apesar dos avanços, a experiência do Pronatec no CPII também revelou desafios comuns à EPT no Brasil, um dos principais entraves foi a questão do financiamento e da continuidade do programa, uma vez que mudanças políticas e cortes orçamentários impactaram a manutenção da oferta de cursos, a infraestrutura das instituições de ensino, muitas vezes inadequada para atender a grande demanda, também se apresentou como um desafio, exigindo investimentos em laboratórios, equipamentos e formação de professores (Neves, 2021).

Caldeira et al., (2025) explicam que as políticas públicas de qualificação profissional desempenham um papel fundamental na promoção do desenvolvimento econômico, na inclusão social e no fortalecimento da empregabilidade, a continuidade e o aprimoramento dessas políticas são essenciais para garantir que a educação profissional e tecnológica acompanhe as transformações do mercado de trabalho e prepare trabalhadores para os desafios de um mundo em constante evolução.

Nesse sentido, investir em educação profissional não apenas melhora a empregabilidade e a qualidade de vida da população, mas também impulsiona o desenvolvimento do país como um todo, garantindo que o Brasil esteja preparado para os desafios do futuro do trabalho. Assim, a continuidade dessas políticas é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e economicamente competitiva (Caldeira et al., 2025).

A continuidade e o aprimoramento das políticas públicas voltadas à qualificação profissional são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e economicamente competitiva, portanto, investir em educação profissional não apenas melhora a empregabilidade e a qualidade de vida da população, mas também impulsiona o desenvolvimento do país como um todo, garantindo que o Brasil esteja preparado para os desafios do futuro do trabalho (Caldeira et al., 2025).

A Constituição de 1988, em seu artigo 207, estabelece a “indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, reafirmando a extensão como um processo acadêmico essencial para a formação educacional. Nessa perspectiva, estima-se que as ações de extensão adquiram maior efetividade quando vinculadas ao processo de formação de pessoas (ensino) e à geração de conhecimento (pesquisa).

Os projetos de extensão desempenham um papel fundamental na articulação entre o ensino, a pesquisa e a comunidade, promovendo uma formação acadêmica mais conectada às demandas sociais. No contexto do Colégio Pedro II, essas iniciativas ampliam as possibilidades de aprendizado, permitindo que estudantes e docentes desenvolvam ações voltadas para a solução de problemas reais da sociedade. Além disso, a extensão fortalece a interdisciplinaridade e a contextualização do conhecimento, favorecendo a construção de práticas pedagógicas inovadoras e alinhadas às necessidades contemporâneas. Dessa forma, esses projetos não apenas contribuem para o enriquecimento da formação dos estudantes, mas também fomentam a democratização do conhecimento e a inclusão social.

A relevância dos projetos de extensão também está atrelada à capacidade de promover um diálogo constante entre a instituição e diferentes setores da sociedade. Por meio de cursos, eventos, atividades de formação e iniciativas comunitárias, a extensão possibilita a troca de saberes entre o meio acadêmico e os contextos populares, fortalecendo a cidadania e a participação social. No caso do CPII, essa atuação se alinha ao compromisso institucional com a superação das desigualdades sociais, consolidando a escola como um espaço de transformação e desenvolvimento. Assim, os projetos de extensão não apenas preparam os estudantes para o mercado de trabalho e para a vida acadêmica, mas também incentivam uma atuação socialmente responsável, crítica e engajada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A EPT é crucial para a qualificação da força de trabalho e o desenvolvimento socioeconômico. O Pronatec, criado em 2011, ampliou o acesso ao ensino técnico, visando democratizar a formação profissional e atender às demandas do mercado. A efetividade dessa política depende de sua implementação em diferentes contextos institucionais, como no CPII, onde a tradição acadêmica e a estrutura existente influenciaram seus impactos.

A experiência do Pronatec no CPII revelou tanto avanços quanto desafios na expansão da EPT no Brasil. Embora o programa tenha criado oportunidades de qualificação, sua implementação exigiu adaptações na infraestrutura e alinhamento com as demandas do setor produtivo. Também foi necessária uma gestão contínua que garantisse a sustentabilidade dos cursos, essencial para a consolidação da formação profissional.

O resgate da memória coletiva e institucional da EPT no Brasil, especialmente no contexto do CPII, contribui para entender as transformações no ensino técnico ao longo do tempo. Valorizar a história da educação profissional é fundamental para identificar avanços, corrigir falhas e aprimorar futuras iniciativas, assegurando que políticas públicas bem estruturadas promovam a formação profissional de qualidade, alinhada aos desafios do mundo do trabalho.

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1Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT- Colégio Pedro II), Especialista MBA em Gestão Empresarial (UNISUAM),  Bacharel em Gestão de Recursos Humanos (UNOPAR), Servidora federal técnica-administrativa em educação no Colégio Pedro II. Correio eletrônico: dea.chianello@gmail.com