O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA: DIFICULDADES DE ALUNOS DO 7º ANO DO FUNDAMENTAL NA EMEIF DE ITAÚNA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10827325


Catarina Xavier Sá1
Josiane Cristina Pantoja Moraes2
Maria de Fátima Silva Ramos3
Marcio Vasconcelos da Silva4
Marineuza Mendes Moreira5
Orientadora: Lenise Maria da Silva Ferreira6


RESUMO: o processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa, é determinante para a formação completa do sujeito, assim como a garantia de sua cidadania em sociedade, contudo, observa-se que durante esse momento, podem surgir algumas dificuldades a serem enfrentadas pelos alunos durante sua formação nos anos iniciais, que resultam em problemas na aprendizagem, tais como em leitura e escrita, além de haver a extensão para outras áreas afins dos estudos, pois a inabilidade de ler, e escrever, acarretam problemas de interpretação e compreensão textual, dificultando a assimilação de conteúdo nas outras áreas do conhecimento. É neste cenário, que se justifica a escolha desse tema, pois entende-se a importância de uma base educacional sólida. Quanto ao objetivo geral, pretende-se compreender as interfaces do processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa, na perspectiva da distinção em os motivos pelos quais, mesmo após o período de alfabetização, alunos não dominam a leitura e ou a escrita com competência. O processo metodológico utilizado, foi uma pesquisa exploratória, a partir de uma abordagem qualitativa. As bases teóricas que foram utilizadas, foram encontradas por meio da ferramenta da internet, a partir de um levantamento bibliográfico em sites como google acadêmico, CAPES, Scielo.

PALAVRAS CHAVE: Aprendizagem. Dificuldades. Leitura e escrita. Desafios.

INTRODUÇÃO

O processo de ensino aprendizagem pode ser compreendido como a trajetória acadêmica em qual o aluno é introduzido, a fim de adquirir novos saberes, dentro do mesmo, é possível que se observe as metodologias utilizadas por profissionais da educação, a fim de garantir o acesso há uma educação igualitária e de qualidade. Freitas (2018) aponta que não há aprendizagem sem que haja assimilação de qualquer conhecimento. Isso porque a aprendizagem é o determinante para a formação integral do sujeito. Ocorre, porém, que durante tal processo, alguns indivíduos apresentam dificuldades, assim, dificultando a estruturação de seu cognitivo.

No cerne do processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa, as dificuldades enfrentadas pelos alunos, resultam em problemas na aprendizagem, tais como em leitura e escrita por exemplo, além de haver a extensão para outras áreas afins dos estudos, pois a inabilidade de ler, e escrever, acarretam problemas de interpretação e compreensão textual, dificultando a assimilação de conteúdo. Libâneo (1994) acerca do processo de ensino aprendizagem, afirma que para que isto aconteça, é preciso ainda que haja motivação intrínseca e extrínseca, em linhas gerais, estímulo interno e externos, ou seja, desejo do aluno e professor, respectivamente.

Desta maneira, seguindo tais pressupostos teóricos, justifica-se a elaboração desta pesquisa, pois, compreender como o processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa está sendo desenvolvido e estruturado pelos profissionais da educação, é fundamental para que se compreenda os fenômenos educacionais, e as defasagens escolares. Sendo assim, o objetivo geral que norteia essa proposta, está em compreender as interfaces do processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa, na perspectiva da distinção entre os motivos pelos quais, mesmo após o período de alfabetização, alunos não dominam a leitura e ou a escrita com competência. No que diz respeito aos objetivos específicos, foram elaborados a fim de proporcionar suporte ao geral, pois, através deles foi restringido a área de abrangência, tais como identificar qual a compreensão que o professor possui acerca da representatividade e importância do processo de ensino aprendizagem; enumerar quais os principais fenômenos que acontecem no ambiente escolar em decorrência de falha no processo de ensino; registar quais os maiores desafios enfrentados pelos docentes em relação ao planejamento e aplicabilidade de uma prática pedagógica eficaz; verificar se há relação entre a ineficiência no processo de leitura e escrita dos alunos, com falhas na estruturação do processo de ensino aprendizagem. Ressalta-se ainda, que esta proposta é uma pesquisa exploratória, com uma abordagem qualitativa, que se utilizou de um levantamento bibliográfico para a fundamentação teórica e construção desta. Para melhor compreensão, a proposta segue a seguinte estrutura organizacional: o primeiro tópico “o processo de ensino aprendizagem em língua portuguesa; o segundo “leitura e escrita: contextualização e conceitos; o terceiro, “prática de leitura e escrita nas séries iniciais”, o quarto tópico faz referência ao “processo metodológico”, o seguinte refere-se aos “resultados e discussões”, e por fim, as “considerações finais”.

2. O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA

2.1. A PRÁTICA DOCENTE

O processo educacional ao longo das décadas, passou por inúmeras e profundas transformações em suas concepções e ideias, isso porque, algumas orientações foram desvinculadas, pois estavam afetando a qualidade de ensino. Esse cenário revolucionário, proporcionou a integração de outras ciências no âmbito pedagógico, como psicologia, sociologia, filosofia, antropologia e, tantas outras que, em conjunto contribuem para a reestruturação de uma educação de qualidade, que contemple o aluno como um sujeito ativo. A prática educativa que hoje se aborda nas escolas, apesar de haver inúmeros estudos que orientam uma abordagem que considere o aluno como o centro do processo, ainda está pautada em uma concepção tradicionalista. Isso porque, a busca pela compreensão de como os alunos aprendem, tem ocupado espaço pequeno dentro das prioridades dos docentes.

Neste cenário, a educação vai aos poucos retornando ao pragmatismo tradicionalista, conteudista, onde a prioridade era em repassar um número expressivo de conteúdos aos discentes, sem a mínima preocupação com a s outras capacidades intelectuais, considerando o professor como detentor total do conhecimento, que possuía o dever de repassar informações, tornando-se um mero transmissor. A esse respeito, considera que:

Se analisarmos a situação atual da prática educativa em nossas escolas identificamos problemas como: a grande ênfase dada à memorização, pouca preocupação com o desenvolvimento de habilidades para reflexão crítica e autocrítica dos conhecimentos que aprende; as ações ainda são centradas nos professores que determinam o quê e como deve ser aprendido e a separação entre educação e instrução. (SANTOS, 2019, p.3)

Observa-se no excerto acima que, é preciso instigar através do ensino, a reflexão crítica no aluno, descentralizando das mãos dos professores o poder de escolha de como é o que deve ser aprendido, haja em vista, que é preciso considerar a realidade do aluno e suas especificidades enquanto sujeito. Neste sentido, é preciso que se compreenda que o processo de ensino-aprendizagem “é uma integração dialética entre o instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial contribuir para a formação integral da personalidade do aluno” (KLUTH, 2017, p.20), ou seja, é o resultado da união entre a prática docente, e os conhecimentos prévios dos alunos, acontecendo uma troca simultânea de informações.

Ressalta-se ainda que, no contexto escolar, as rotinas diárias dos professores, atreladas com conceitos tradicionalistas enraizados, problematizam ainda mais tais questões, isso porque as “preocupações do professor com o seu trabalho, em sala de aula, são de várias ordens[…], chegar ao final do programa dentro do prazo previsto; suprir as dificuldades de aprendizagem dos alunos; escolher recursos didáticos[…]; elaborar tipos de atividades e formas de avaliação dos alunos”(AMORIN, 2019, p. 9), ou seja, o docente encontra-se sobrecarregado com a rotina laboral, e, inconscientemente negligencia seu real papel. Silva (2018) afirma que, a função da educação é transformar sujeitos e o mundo em algo melhor, e que o homem, só entende o processo de construção do saber quando aprende a problematizar suas práticas, não basta apenas memorizar conteúdos, é preciso praticar a reflexão acerca deles.

Enfatiza-se então, que, tanto a formação inicial quanto a continuada dos docentes, interferem diretamente em sua prática, isso porque, influenciam diretamente a maneira como o ensino será aplicado, pois uma prática adequada, instiga o aluno a refletir, e ampliar sua visão de mundo. O professor, pode ser considerado uma peça fundamental, pois é a mediação entre o aluno e novos saberes, ao passo que, é preciso também, que além de o docente ser devidamente qualificado, este deve ser amparado estruturalmente pela escola. Nóvoa (2013) descreve que a formação inicial de professores é um momento crucial, pois se trata da primeira experiência do sujeito no ambiente educativo, ou seja, é quando ocorre a mudança entre ser aluno e ser professor, por isso, o processo de formação docente deve estar pautado em metodologias que privilegiem a integração entre teoria e prática.

Por outro lado, é importante ressaltar, que a prática docente não deve ser limitada a conhecimentos científicos, Tardig (2008) afirma que esta deve contemplar também diversos outros saberes pedagógicos. Freire (1997) define ainda a formação do professor como algo inacabado, pois, este profissional deve estar em estado de formação permanente, sempre buscando por novas óticas acerca da educação, modificando a maneira de como concebem o mundo e as transformações, caso contrário, não compreenderão seu real papel enquanto educador. A esse respeito Tardif (2008) reflete:

Os alunos passam pelos cursos de formação de professores sem modificar suas crenças anteriores sobre o ensino. E, quando começam a trabalhar como professores, são principalmente essas crenças que eles reativam para solucionar seus problemas profissionais, prevalecendo assim, a sua concepção de professor e de aluno. (TARDIF 2008, p. 13)

Observa-se então, que as instituições de ensino superior desempenham papel fundamental no resultado final do processo de ensino docente, isso porque, a base de formação desses profissionais deve contemplar também uma formação crítica não somente acerca do sistema, mas, do próprio docente, desmistificando qualquer tipo de senso comum acerca da aprendizagem do aluno. No cerne da formação profissional, o educador (AMORIN, 2019, p. 4) deverá compreender que é “por meio da partilha, da troca de experiências com outros profissionais, através de encontros e discussões pedagógicas, que o professor terá sua formação fortalecida” isso porque a interação com outros profissionais é primordial, facilitando, assim, seu desempenho profissional.

Amorin (2019) relaciona a prática docente com a identidade ou experiências dos alunos, estabelecendo assim, uma direção acerca de como o docente deve voltar o olhar para o ensino, priorizando o aluno e suas singularidades, pois dessa maneira os “saberes vão se formando e acumulando durante as suas experiências, por esse motivo, só se vivencia a prática docente significativa quando a teoria serve de base para a formação dos professores” (AMORIN, 2019, p. 5), é na prática real, que será confrontado os universos distintos da teoria e prática, e assim, o professor irá construindo sua própria prática docente, por meio de erros e acertos.

Diante desta perspectiva, o professor que se forma atualmente, deve ser auto reflexivo, tendo a capacidade de aprender a aprender, realizando a troca de informações para abstrair os saberes novos, pois a capacidade para atuar em sala de aula, além de preconizar os conceitos teóricos, necessita também ser relacionada com outras habilidades profissionais, tais como ser “ comunicativo, dominar a linguagem informacional, saber usar os meios de comunicação, articulando suas aulas com mídias e multimídias” (LIBÂNEO, 2013, p. 12).

Nesse cenário, não é possível permanecer com o modelo de formação tradicionalista, amparado na mera transmissão de conhecimento acadêmico, contudo, faz-se necessário educar para que as pessoas aprendam a conviver em sociedade, respeitando as diferenças, e com os conhecimentos adquiridos, possam estar contribuindo para o convívio social.

3. LEITURA E ESCRITA: CONTEXTUALIZAÇÃO E CONCEITOS

Expressar-se de maneira competente na língua materna, é uma necessidade da interação social para que haja comunicação. A comunicação acontece por meio da linguagem, sendo elas partes integrantes de nossas vidas, de modo geral, é preciso refletir sobre as distintas concepções entre linguagem e língua. Segundo (OLIVEIRA, 2014, p. 3) a linguagem pode ser compreendida como o “uso da língua para comunicar-se com as pessoas”, considerando esta faculdade como todo o “sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos comunicativos” (OLIVEIRA, 2014, p. 4).

Neste sentido, compreende-se que há então várias linguagens. Por outro lado, a língua se refere “ao conjunto de expressões e palavras que são usadas por um determinado povo, sendo esta munida de regras para o uso adequado” (TERRA, 1997, p.13). A respeito dessas concepções, Sussurre (1972) discorre que:

[…] língua não se confunde com linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 1972, p.17)

Observa-se no excerto, que o autor afirma que não se deve confundir linguagem com língua, pois ela (a língua) é um produto social da faculdade comunicativa dos indivíduos, ou seja, a língua seria um aspecto da linguagem e, pertence a um grupo de sujeitos, concretizando-a, através da fala. Dentre as conceituações que permeiam o âmbito da comunicação, há ainda a concepção de língua falada e língua escrita. Neste sentido, (OLIVEIRA, 2014, p.13) define a fala a partir “do uso do falante em relação à língua falada ou escrita”. Notoriamente, observa-se que a fala se adquire naturalmente, enquanto que a escrita, é ensinada.

As particularidades da fala e escrita, acentuam suas diferenças e, ratificam a importância de ambas deveriam serem estudadas juntas, pois ao dissociá-las, corre-se o risco de afetar a competência comunicativa do falante, que necessita expressar-se seja por meio da escrita ou da fala. A comunicação dos falantes de uma língua, porém, exige o domínio mínimo de suas estruturas, pois além da oralidade, a comunicação verbal por meio da escrita, é fundamental, pois, a segunda é de maior importância para as teorias gramaticais.

3.1. DICOTOMIAS ENTRE LEITURA E ESCRITA

São os estudos linguísticos realizados ao longo das décadas, que ratificam a importância da compreensão em estudos simultâneos entre oralidade e escrita, isso porque, há entre elas uma relação de dependência, ou seja, dissociá-las, pode prejudicar os falantes.

Apesar de a oralidade ser oposta à gramática normativa, as duas modalidades são resultadas uma das outras (CALIMAN, 2010)

Compreende-se então, que tanto a habilidade de ler quanto a de escrever, assemelham-se em um dado momento, assim como o ouvir e o falar, isso porque ambos são necessários para a comunicação. Segundo Caliman (2010), antes do processo de convencionalização da escrita, houve a internalização da fala, contudo o aprimoramento de ambas, é o produto final da habilidade em domínio da escrita, ou seja, a gramática normativa estabelece o parâmetro do diálogo formal, tornando os sujeitos competentes não somente na grafia, mas, na oratória.

Neste sentido, (SADAGNA, 2016, p. 3) afirma que “leitura é uma atividade primordial no contexto do mundo atual, ela é a racionalidade própria do ser humano”, pois seu hábito converge o sujeito passivo, em ativo crítico, pois a prática de ler, amplia a ótica social do o sujeito, instigando-o a com tantas reflexões, além de ser útil “[…] para entender o mundo, para viver melhor” (LAJOLO, 1982, p.7). Desta maneira, é importante ressaltar que a leitura deve ser entendida como um processo ativo, no qual o indivíduo constrói significados, através de diálogos entre o leitor e o texto, pois, segundo (BAKHTIN, 1981, p.123) o diálogo não seria “apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas, toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja”.

Nesta perspectiva, é necessário atentar-se ao fato de que, os leitores precisam apropriar-se da palavra escrita, dominando seus conceitos e regras, para então se tornarem leitores conscientes, assimilando ou não as informações. Vale ressaltar, que no meio processo de aquisição das informações decodificadas pelo hábito de ler, suas experiências cognitivas, culturais e linguísticas interagem com o texto, rejeitando ou confirmando suas hipóteses. A respeito as práticas de leitura, considera que:

A prática de leitura representa um fenômeno social, ou seja, o trabalho realizado por meio da leitura e da produção de texto é muito mais que decodificação de signos linguísticos. É um processo de construção de significado e atribuição de sentidos; é uma atividade que ocorre no meio social através do processo histórico da humanização. Neste sentido, o trabalho com a leitura e escrita adquire o caráter sócio-histórico do diálogo. (BAKHTIN, 1981, p. 119)

A partir do excerto, entende-se então que a leitura e a escrita, são construções históricas, que ao passar do tempo passou por profundas transformações, e, continua a modificar-se, desse modo, o leitor realiza através de ambas a ampliação de seu horizonte de compreensão das coisas. Seguindo tais pressuposto, para que um sujeito aprenda a ler e escrever, é preciso antes que este supere os problemas de natureza lógica, isso porque, a alfabetização não “é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motor” (SILVA, 2015, p.30). É, antes uma representação da necessidade comunicativa da linguagem em comunicar-se:

A oralidade, a leitura e escrita devem ser trabalhadas de forma integrada, potencializando-se os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens solicita das crianças. Neste documento, os conteúdos são apresentados em um único bloco para as crianças de zero a três anos, considerando-se as especificidades de faixa etária. (RCNEI, 1998, p. 18)

Neste sentido, nãos e deve dissociar a leitura da escrita, pelo contrário, é preciso que haja a intergeração, pois quando um professor realiza atividades de leitura, este está também trabalhando aspectos gramaticais, pois oportuniza que os discentes manipulem as regras e ultrapassem as barreiras educacionais. Por outro lado, é preciso que o docente consiga desenvolver uma prática que estimule o aluno, proporcionando um ensino de língua portuguesa com métodos criativos e não enfadonhos.

O momento da leitura deve ser visto como “uma forma de lazer e de prazer, na aquisição do conhecimento e do enriquecimento cultural, na ampliação nas condições do convívio social e de sua interação” (SILVA, 2015, p.31), isso porque, não se pode ensinar crianças a ler e escrever sem um processo didático que contemple e compreendam as necessidades lúdicas. Coelho (2009) relaciona a leitura como um processo que envolve aspectos emocional, sensorial, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, assim como, econômicos, culturais e políticos, ou seja, não se pode negar fatores externos e internos, que interferem diretamente na alfabetização do aluno.

A leitura não é um comportamento natural, ela é adquirida, Ziberman (2006) infere que, infere que ela induz a reflexão, pois é problematizadora. É a funcionalidade da língua que exige a apropriação dos códigos de leitura e escrita, para a comunicação. Neste contexto, importante frisar que, o processo de alfabetização que hoje é vivenciado, não é o mesmo de décadas atrás. A concepção atual desmistifica a prioridade em codificar e decodificar, a memorização, valorizando agora, a capacidade de compreender o código escrito e interpretá- lo, assim como, saber utilizá-lo corretamente de acordo com as necessidades sociais.

Em contrapartida, em meio as dicotomias entre leitura e escrita, destaca-se um fenômeno linguístico, que é alvo de inúmeras discussões entre os teóricos, são as variações linguísticas. Consideradas por muitos gramáticos como uma reprodução em “errado”, pois, através delas, os falantes tendem a falar em discordância com as regras da escrita, ocasionando, assim, dificuldades na leitura, pois, apesar de conseguirem decodificar os códigos, não conseguem reutilizá-los em ambientes públicos ou privados, destaca-se então, que as variações linguísticas devem ser entendidas, estudadas, analisadas como uma particularidade de um grupo de falantes, e, consideradas como parte importante da formação da identidade de indivíduos.

3.2. ESTIGMATIZAÇÃO DA ORALIDADE(FALA) EM RELAÇÃO À ESCRITA

O Brasil é um país que possui um vasto território regional, com uma imensa extensão territorial, e, com isso, a língua fala apresenta uma rica variabilidade, proporcionando a singularidade de cada região. Bagno (2007) e seu livro “preconceito linguístico: o que é, como se faz”, discorrer a respeito da imensa variabilidade linguística e suas implicações em relação a gramática normativa, assim como a separação entre o que é considerado por alguns estudiosos normativos como “certo” ou “errado” na língua Portuguesa. Em relação a variabilidade da língua, (BAGNO, 2007, p. 9) infere que o “preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada. […] entre língua e gramática normativa”, ou seja, é preciso que se compreenda a funcionalidade da língua em todos os aspectos, tanto interno, quanto os externos ao contexto escolar.

Hoje, a atmosfera social é circundada pela luta contra qualquer tipo de preconceito, na garantia dos direitos e deveres de todos, e, na valorização de suas identidades. No cerne da língua portuguesa, as discussões acerca dos preceitos normativos na escrita, e, seu uso na língua falada, é alvo de inúmeros questionamentos, já que em meio a essas prerrogativas, surge os estigmas linguísticos, proporcionando o desprestigio da língua falada em relação à escrita. Bagno (2007) ainda fala, que nas décadas anteriores, os próprios livros didáticos ratificados a ideia de “certo” ou “errado”, foi, porém, com o advento dos estudos da sociolinguística, que a ótica sobre tais perspectivas foi aos poucos modificando-se. A respeito do preconceito linguístico, compreende que:

No âmbito linguístico, o prestígio linguístico alia-se simultaneamente a injunções sociais (extralinguísticas) e linguísticas que configuram uma variedade e qualificam seu uso como prestigioso, estandardizado ou estigmatizado. A outorga de prestígio é afetada pelo grau de influência de agências emblematicamente simbólicas e institucionalizadas, tais como a norma acadêmica, a correção gramatical, a adequação pragmático-linguística dos enunciados às situações comunicativas e a aceitabilidade sintático-semântica (que não deve ser confundida com a norma, já que se relaciona às distintas alternativas sintático-semânticas de que os usuários da língua dispõem a partir de um sistema de produção de sentidos dentro de um determinado grupo sociocultural. Assim, um uso pode ser aceito em uma dada comunidade linguística ou da fala, mas rejeitado em outra). Já no escopo propriamente sociolinguístico, o prestígio pode ser mensurado com base na ocupação (prestígio do indivíduo, atributos de sua reputação e de seu posto social) e na atitude (prestígio como conduta, abalizado pelo uso de formas e posturas social e culturalmente valorizadas e conferido a partir da interação entre membros de distintos grupos). Nesse domínio, distingue-se também entre prestígio vertical ou externo (entre classes ou grupos sociais, influenciando, por exemplo, a imitação de condutas de classes mais altas por aquelas de classes mais baixas) e horizontal ou interno (no interior de cada classe ou grupo social, influenciando, por exemplo, a propagação de inovações ou mudanças linguísticas). (RONCARATI, 2008, p. 47)

No excerto acima, compreende-se então que o prestígio de uma modalidade da língua, se refere ao uso dela em seus contextos, por outro lado, o desprestígio é propagado e influenciado pelas classes sociais dominantes, que direta ou indiretamente, polarizaram os debates a respeito da fala, impondo inclusive uma soberania de fala. O preconceito linguístico vivenciado hoje, é um dos grandes propulsores da exclusão social, isso porque, ao ridicularizar a fala de um sujeito, estão negando sua identidade, desvalorizando suas raízes e rejeitando sua história.

O desprestígio da fala, e supremacia da escrita, sufocam os nativos, que apesar de falarem a mesma língua, a proferem de maneira distinta, e em consequência calam suas vozes em detrimento de um “parâmetro”, contudo, é preciso compreender que as variantes da língua, estão ligadas diretamente às diferenças regionais, tais como os dialetos, gírias, sotaques, regionalismo, envolvendo os aspectos históricos, culturais e sociais de um determinado grupo de falantes.

Neste sentido, Diana (2019) destaca que se, o preconceito linguístico ocorre através do deboche vexatório, este por sua vez pode gerar diversos tipos de violência, como a verba, física e psicológica, ocasionando problemas maiores do que regras gramaticais. Ao passo que, salientam-se, alguns problemas de interação social, podem estar associados a tais fatores. Por outro lado, observa-se que “os sotaques que distinguem não somente nas cinco regiões do Brasil, mas também dentro de um próprio estado” (DIANA, 2019, p. 01), ou seja, a descriminalização linguística pode acontecer dentro do mesmo estado, observável por exemplo, em um sujeito que reside no interior de um estado, e de repente vai para a capital deste, o choque linguístico é visível.

Neste cenário, termos pejorativos são utilizados com frequência para designar tais falantes. Ao considerar que a língua falada no Brasil como uma unidade, pode ser bastante prejudicial à educação, isso porque ao desconsiderar a diversidade da língua falada no Brasil, “a escola tenta impor sua norma linguística, […] independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc.” (BAGNO, 2007, p. 15)

O papel da escola, é proporcionar ao sujeito a formação integral não apenas repassando conteúdos, mas prepará-los para o convívio social. Contudo, os falantes das variantes desprestigiadas, ficam à margem do processo de ensino, isso porque, o domínio da norma culta ainda é uma realidade para poucos, visto que, o próprio acesso a uma educação de qualidade, não é uma realidade para todos. Neste sentido:

É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão. (BAGNO, 2007, p. 18)

Entende-se então, que o ensino nas escolas necessita reconhecer a amplitude e importância da valorização das variantes não padrão, pois dessa maneira o aprendizado do aluno será completo, e o ensino facilitado. É importante destacar ainda, que não se pretende inferiorizar a gramática normativa, pelo contrário, esta, é fundamental para a funcionalidade de nossa língua, mas, é preciso que se discuta a implementação de políticas públicas que proporcionem um diálogo mais amplo, pois, apesar de os PCNs conterem algumas colocações acerca das variedades linguísticas, pouco se estuda de fatos elas em sala de aula, abrindo precedentes para problemas de escrita e leitura, especialmente em alunos que usam a variante não padrão.

4. PRÁTICA DE LEITURA E ESCRITA NAS SÉRIES INICIAIS

A educação básica, é uma etapa do processo de ensino primordial, pois dela depende o desempenho dos alunos durante o percurso restante, ou seja, se o sujeito recebeu um sólido ensino nos anos iniciais, provavelmente conseguirá desenvolver-se melhor nos anos seguintes, pois seu aprendizado foi melhor estruturado. Nos anos iniciais, é recorrente a presença de inúmeros fenômenos educacionais que dificultam a aprendizagem dos alunos, um desses problemas, é a dificuldade na aprendizagem de aquisição de leitura e escrita nos anos iniciais, pois, os alunos apresentam rejeição e falta de entusiasmo nas aulas de Língua Portuguesa.

As aulas de Língua Portuguesa, é encarada por muitos alunos como algo chato ou enfadonho, refletindo no mal desempenho dos alunos. Neste sentido, o docente deve buscar através de metodologias adequadas, buscar identificar, reconhecer, e refletir acerca das dificuldades de leitura e escrita de seus alunos, pois somente assim, este conseguirá desenvolver um trabalho eficaz, que contemple as especificidades de seus discentes. O não conhecimento das falhas, pode induzi-lo ao erro, e prejudicar o processo de ensino. A esse respeito, conceitua dificuldades de aprendizagem como:

As dificuldades de aprendizagem correspondem a uma categoria ampla de fenômenos que podem influenciar negativamente o aprendizado. Abrangem os problemas de aprendizagem e os problemas escolares, isto é, o modo como a escola lida com o processo de ensino-aprendizagem. Enquanto os problemas de aprendizagem concentram o peso da dificuldade no aluno, as dificuldades de aprendizagem incluem os fatores externos ao aluno. No caso da escola, são os problemas de origem pedagógica. (CIASCA, 2003, p. 31 apud LEITE, 2012, p. 16).

Observa-se então, a distinta concepção entre problemas de aprendizagem, e, dificuldades de aprendizagem, ou seja, as dificuldades podem ser o reflexo negativo da falta de preparo, tanto dos professores como da gestão escolar, que devem construir seus planos de ensino de acordo com as necessidades do aluno, conhecendo sua realidade, buscando realizar um mapeamento acerca dos conhecimentos que este já traz consigo, e, de acordo com o apurado, traçar os melhores caminhos a serem traçados. A exemplo, observa-se o fato de que “no processo de iniciação da leitura, o educando relacionar palavras com imagens, com a finalidade de encontrar um padrão entre elas” (SOUZA, 2019, p. 03), ou seja, a familiaridade das imagens que estes já conhecem, são as que fazem sentido, e a assimilação por exemplo da letra “A” como as palavras “avião e anel”, são melhores compreendidas por elas.

Para Cagliari (1989), o indivíduo que está sendo alfabetizado, a priori deve conhecer a estrutura da escrita, já que a oralidade não é algo a ser ensinado, e, posteriormente, de forma racional, o aluno conseguirá compreender a organização e as unidades, os princípios fundamentais da escrita, mas, utilizá-la em seu cotidiano, estabelecendo a relação entre a escrita e o mundo que o cerca. Neste sentido, quanto ao processo de aquisição da leitura, ressalta-se que este, ultrapassa a mera codificação e decodificação dos signos linguísticos da escrita, pois é preciso atribuir sentido ao que se está lendo, isso porque, se a leitura não ressignificar os códigos para o aluno, está se intensificando a prática do o analfabetismo funcional, e não formando leitores aptos.

Contudo, em meio a tantos percalços existentes no processo educacional, como o professor poderá identificar o que distancia o aluno de uma sólida alfabetização? O primeiro ponto a destacar, é que o docente necessita compreender que a leitura e escrita, são atividades que devem estar interligadas, pois há entre elas uma relação de dependência, para que o sujeito se torne socialmente crítico e apto ao convívio social. A “leitura e escrita no contexto escolar deve ser desenvolvido gradativamente pelo professor” (Silva, 2019, p. 03), através de avaliações diárias. Isso porque, é importante que se compreenda, que a leitura é aprimorada, através de hábitos diários, pois ao “avaliar, que leitura de textos literários para as crianças, acorda[…] com o empenho pelo aprendizado, pelo entrelaçamento, pelo mito, pela ampliação da linguagem consistir em oral”, ou seja, não se pode descontextualizar a leitura do processo de escrita, pois a ampliação da linguagem, pressupõem também a aquisição da escrita e oralidade.

4.1 OS ENFRENTAMENTOS NOS ANOS INICIAIS

As dificuldades de aprendizagem, podem se manifestar em qualquer fase da vida intelecto de um sujeito, podendo ser reportada a fatores internos ou externos ao alunado. Contudo, é na infância, em que ocorrem as primeiras manifestações de problemas, que, se não forem identificados, podem retardar o desenvolvimento cognitivo do discente. Ressalta-se ainda, que a busca pela rápida alfabetização de alunos, faz com que o sistema de ensino se paute na era repetição de palavras, e aquisição de códigos linguísticos, ou seja, as crianças, não estão sendo letradas.

Na maioria das escolas no Brasil, as dificuldades de aprendizagem tanto na escrita quanto na leitura, está atrelada diretamente a inúmeros sintomas, compreender então o mundo que nos rodeia, é uma necessidade também da escola, pois, o que se aprende lá dentro, será externalizado na vida real do cotidiano. Seguindo tais perspectivas, Kleiman (2008, p. 18), discute acerca do letramento, e o uso real da gramática na vida social dos sujeitos, pois segundo ela, “[…] passamos a definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que são usadas na escrita, como símbolos e tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. A esse respeito, considera que:

As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizada ou não alfabetizada, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita (KLEIMAN, 2008, p. 19).

Neste sentido, observa-se nas palavras da autora, uma das maneiras de trabalhar a prática da leitura ou escrita, é através das especificações dos temas abordados, ou seja, o que o aluno estuda em sala de aula, deve fazer sentido para o aluno, ao relacioná-lo com sua realidade. O letramento, é um fenômeno que ultrapassa os muros escolares, é algo social, pois,assim sendo, fora dos ambientes escolares outros usos e práticas ligados à escrita são vivenciados” (SILVA, 2019, p. 06) e, não esquecidos.

O fracasso escolar, é um outro fenômeno que se manifesta devido às dificuldades de aprendizado das crianças, especificamente durante a aquisição da leitura e escrita. Um ponto interessante a respeito do fracasso escolar, é a incapacidade de as crianças conseguirem interpretar os signos que estas identificam, ou seja, elas conseguem oralizara os verbetes, mas, não compreendam o que estão lendo. A fragilidade de uma leitura fragmentada, compromete não apenas a disciplina de língua portuguesa, mas, reflete negativamente nas demais. Skinner (1992) discute o fato de que, no processo de leitura e escrita é possível realizar a leitura das palavras, sem sua compreensão, em suas palavras:

O comportamento textual pode ser definido como um operante verbal caracterizado por uma correspondência ponto a ponto entre um estímulo discriminativo visual (palavras escritas) e a resposta oral (ou gestual, no caso de libras), o qual é mantido por consequências generalizadas. Trata-se, portanto, de um operante discriminado, que não implica necessariamente leitura com compreensão. (SKINNER, 1992, p. 23)

Neste sentido, para que o leitor possa compreender o que lê, este necessita manter relações “condicionais entre o objeto/evento ou a figura do objeto/evento, a palavra escrita e seu respectivo som devem ser observadas, formando o que foi denominado classes de estímulos equivalentes” (SKINNER, 1992, p.23). é importante ressalta, que com a nova concepção educacional, problemas educacionais que antes eram ignorados, agora são alvos de investigações por estudiosos. O fracasso escolar, é um dos grandes inimigos da aprendizagem, pois através dele, os alunos permanecem na escola, mas, não conseguem progredir. Neste sentido, o principal aliado na luta contra o fracasso escolar, é o professor, já que este exerce a função de mediador, e está em contato direto com o aluno.

Dessa maneira, o fracasso escolar pode ser considerado a soma total de inúmeros outros problemas, que interferem diretamente na produção pedagógica do professor, quanto na compreensão dos alunos, “falta de apoio e infraestrutura nas escolas; alta rotatividade de professores (muitos deles adoecendo); desqualificação dos saberes docentes; além das classes muito heterogêneas decorrentes da progressão continuada”, ou seja, são acontecimentos acumulativos, que convergem para um único resultado, o fracasso escolar. No cerne da leitura e escrita, o fracasso escolar pode ser compreendido como o reflexo da tradicionalidade do ensino, ainda presente, ou seja, os alunos tornaram-se copistas. Devido a grande variabilidade intelectual de alunos em uma mesma sala de aula, a prática docente vê-se em risco, muitos professores não conseguem acompanhar especificamente um único aluno, e este, por sua vez, não consegue corresponder no mesmo nível que os demais, causando uma disparidade entre o que ensinar e como ensinar.

As queixas escolares acerca dos problemas de aprendizagem na leitura e escrita, tem crescido significativamente, isso porque, não se trata de apenas de problemas restritos a língua portuguesa, pois essas defasagens podem interferir também nas outras disciplinas dos alunos, isso porque, afetam a capacidade interpretativa do aluno. A influência da leitura e escrita nas outras áreas de aprendizagem, é de vital importância para a formação completa do sujeito. É preciso que os professores avaliem como está acontecendo o processo de concretização da leitura e escrita. Isso porque:

A alcançada leitura pelo pensamento, da capacidade criar, da demonstração de ideias, ajuda a colaborar amadurecimento pela leitura e pela escrita de forma sensível, oportunizando ocorrências expressivas, que as crianças sobrevêm à interação em ação alcançada de construção do conhecimento, autorizando assim, com aumento de atitude gradativa e qualitativa nos múltiplos contextos sociais. Em semelhança à estima, o trabalho com a leitura (SILVA, 2019, p. 06)

Observa-se então, que é através da leitura que se potencializam as capacidades de criar, desenvolver ideias e o amadurecimento do pensamento. Contudo, é também necessário que haja a prática da escrita para que esta se concretize, na verdade, a aquisição de ambas devem acontecer paralelamente. O sistema educacional, deve compreender que as medidas interventivas acerca das dificuldades de aprendizagens dos alunos, devem ser planejadas para todo o percurso educacional, já que não é possível identificar o momento exato em que tais problemas podem se manifestar.

A completa inserção do indivíduo na sociedade, como um ser crítico, ativo, e não alienado só acontece quando há aquisição da leitura e escrita, pois estas partem dos primeiros conhecimentos, e os incentivos pela busca de novos saberes. Nesta perspectiva, quando há a defasagem de alunos especificamente por não se sentirem estimulados, é preciso, prioritariamente traçar uma linha de investigação acerca do processo de alfabetização pelo qual o aluno passou, ou seja, identificar qual o nível de leitura e escrita este aluno encontra-se, pois, quando ele não consegue dominar essas duas áreas, geralmente nas demais, ele não apresentará bons resultados, a leitura e sua compreensão, é fundamental os estudos. A esse respeito, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP):

Ler é uma atividade complexa que faz amplas solicitações ao intelecto e às habilidades cognitivas superiores da mente: reconhecer, identificar, agrupar, associar, relacionar, generalizar, abstrair, comparar, deduzir, inferir, hierarquizar. Não está em pauta apenas a simples decodificação, mas a apreensão de informações explícitas e implícitas e de sentidos subjacentes, e a construção de sentidos que dependem de conhecimentos prévios a respeito da língua, dos gêneros, das práticas sociais de interação, dos estilos, das diversas formas de organização textual. […] Os testes de Língua Portuguesa do Saeb, cujo foco é a leitura, têm por objetivo verificar se os alunos são capazes de apreender o texto como construção de conhecimento em diferentes níveis de compreensão, análise e interpretação. A alternativa por esse foco parte da proposição de que, “ser competente no uso da língua significa saber interagir, por meio de textos, em qualquer situação de comunicação”. (INEP, 1997, p. 53)

Desta maneira, observa-se então, que ler é uma atividade complexa, não se trata apenas de decodificar os códigos, é preciso que o que se está lendo faça sentido, que haja compreensão sobre a temática. Observa-se ainda, que apesar dos esforços e iniciativas governamentais para proporcionar uma educação de qualidade para todos, há a defasagem na aprendizagem dos alunos, pois estes possuem muitas dificuldades na compreensão e interpretação das palavras, resultando em repetência e evasão escolar, neste sentido, é importante considerar as distintas situações que acontecem, que, comprometem o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

5. PROCESSO METODOLÓGICO

Pesquisar é o único meio pelo qual pode-se comparar o que já aconteceu, com o que está acontecendo, contudo, ao realizar uma pesquisa, é preciso que se estabeleça os critérios a que está obedecendo, ou seja, a que tipo de pesquisa o problema levantado deverá ser abordado. Neste sentido Gil (2008) considera que as tipologias de pesquisas podem ser divididas de acordo em dois blocos, os referentes aos objetivos, e quanto aos procedimentos técnicos. Prioritariamente, optou-se em utilizar a pesquisa exploratória, que faz referência quanto aos objetivos, pois através dela, será possível explicitar o problema, para que haja melhor compreensão, e possivelmente aprofundamento nas análises. Segundo Gil (2008), a pesquisa exploratória é:

proporcionar maior familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso. (GIL, 2008, p.06)

Destaca-se também, que neste tipo de pesquisa, ela pode assumir também o papel de pesquisa bibliográfica, isso porque, quanto aos procedimentos, a pesquisa assume-se também como bibliográfica, pois será necessário realizar um levantamento de literatura pertinente ao tema. A pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2008, p. 07). É importante ressaltar, que o levantamento deve seguir alguns passos estratégicos, para que a confiabilidade das fontes seja irrefutável.

Neste sentido, para a elaboração dessa pesquisa, utilizou-se também da abordagem qualitativa, na qual entende-se que a “pesquisa qualitativa é uma abordagem de pesquisa que estuda aspectos subjetivos de fenômenos sociais e do comportamento humano” (GUERRA, 2014, p. 15), ou seja, essa abordagem é a responsável em realizar a catalogação do material que foi coletado, realizando os cortes no material bibliográfico. Um outro ponto importante a destacar, é a delimitação das datas de publicação de pesquisas acadêmicas, isso porque, ao longo do tempo, há algumas atualizações nas fontes, ficando alguns trabalhos públicos defasados.

Desta maneira, o método utilizado foi a princípio o bibliográfico, o qual as investigações ocorreram em alguns momentos, nos quais o primeiro se deu pela observação, vale ressaltar, que esse momento foi obtido através da experiência já vivenciada por essa pesquisadora, visto que, já atuou na escola em questão. Quanto à materialidade de informações, foi elaborada uma entrevista com 10 perguntas referentes ao tema, direcionadas especificamente a outros professores de língua portuguesa, com o intuito de verificar a realidade de cada profissional.

A entrevista estruturada, a qual foi utilizada por essa pesquisa, é uma técnica importante para coleta de dados, pois o entrevistador segue um roteiro, do qual não pode surgir novas indagações, o que faz com que, a elaboração dos questionamentos, sejam interligados entre si, e sempre com duplas possíveis respostas dos entrevistados, ou seja, “o uso de entrevistas como instrumento científico de coleta de dados, deve ser o reflexo de um planejamento metodológico consciente e informado”(LEITÃO, 2021, p. 03).

A referida escola está localizada no município de Cametá no estado do Pará na E.M.E.I.F. Itaúna de baixo. A turma na qual a observação acontecerá é no turno da tarde, que consta com 21 alunos do 7 ano, na região ribeirinha. A escola é feita de madeira, sala de aula não padrão. Por final, foram revesados para a observação, além da experiência de trabalho, três dias corridos, nos quais foram reservados não apenas os docentes e alunos, mas, a escola de modo geral, assim, como a realização de algumas conversas paralelas informais, além de que, foram entrevistados o quantitativo de 2 docentes, que lecionam em língua portuguesa, que somadas ao material das entrevistas, contribuíram para a produção desta abordagem. Vale ressaltar, que como medidas de segurança, a identidade dos entrevistados serão preservados, e desta maneira, durante a produção acadêmica, eles serão identificados como PROFESSOR 1 e PROFESSOR 2.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O processo de construção de leitura e escrita perpassa as premissas da normatização técnica da língua portuguesa, isso porque, não basta o sujeito conseguir decifrar os códigos da escrita, ele necessita praticar a compreensão do mesmo, para reter a informação. Nesse aspecto crianças “tidas como normais, que apresentam normalidade visual, auditiva, motora que apresentam situação problema na comunicação, memória e atenção ainda dificuldades momentâneas em áreas específicas, são propensas” (SILVA, 2019, p. 07) a apresentarem dificuldades ainda maiores que as demais, pois, geralmente não conseguem acompanhar o fluxo das aulas.

Desta maneira, percebe-se que as dificuldades de aprendizagem são vistas diariamente no contexto de sala de aula, sendo necessário um maior desempenho de professores, e outros profissionais na identificação da causa desses problemas. É verdade também, que é preciso tanto os professores quanto os gestores escolares, a qualificação necessária para o exercício completo e com eficiência.

As dificuldades de aprendizagem apresentam-se corriqueiramente nas salas de aula, sendo necessário maior empenho e dedicação na realização das atividades educacionais. Isso porque, os incentivos coerentes tanto da gestão escolar quanto das governamentais, “despertam o interesse do docente, por tentar buscar respostas sobre o porquê de o aluno não aprender seu itinerário formativo” (SILVA, 2019, p. 9). É importante destacar, que durante muitas décadas, os alunos que apresentavam alguma dificuldade de aprendizagem, era totalmente ignorado, pois, ainda poderiam atrapalhar o processo de ensino dos demais. Neste sentido, é importante caracterizar a princípio, o que representa para realidade do aluno e do professor em sala de aula, a disparidade entre o desenvolvimento distintos de aluno para aluno:

Dificuldade de aprendizagem significa um distúrbio em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos no entendimento ou no uso da linguagem, falada ou escrita, que pode se manifestar em uma aptidão imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos. (SOUZA, 2019, p. 15)

Segundo o excerto, as dificuldades de aprendizado podem ser compreendidas como um distúrbio em processos psicológicos, que agregados a fatores externos, colidem para que o aluno tenha um retardo em seu aspecto cognitivo. Neste sentido, durante as entrevistas, foi reportado aos informantes acerca da compreensão do processo de ensino aprendizagem, com o intuito levar o professor a refletir, sobre sua prática, e o que compreende. “o que você entende por processo de ensino aprendizagem? Qual o papel do professor nesse processo?”. Como resposta, obtivemos, “para mim, é todo o trajeto que o educando percorre ao longo de sua formação, é algo não acabado, e o professor é um grande articulador, que orienta e instiga o aluno a não desistir” (PROFESSOR 2, junho, 2023) “através do processo de ensino aprendizagem, que o professor vai buscar de maneiras mais fáceis e práticas para ensinar” (PROFESOR 1, junho, 2023).

De acordo com as falas distintas dos professores, se observa então que o processo de ensino aprendizagem desperta perspectivas diferentes em cada docente, no entanto, convergem no sentido de que, é através desse processo, em que o aluno entrará em contato com novos saberes. Nesse contexto, o processo de ensino aprendizagem pode ser entendido então como:

O processo de ensino-aprendizagem é uma integração dialética entre o instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial contribuir para a formação integral da personalidade do aluno. O instrutivo é um processo de formar homens capazes e inteligentes. Entendendo por homem inteligente quando, diante de uma situação problema ele seja capaz de enfrentar e resolver os problemas, de buscar soluções para resolver as situações. Ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só será possível se ele for formado mediante a utilização de atividades lógicas. O educativo se logra com a formação de valores, sentimentos que identificam o homem como ser social, compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e outros elementos da esfera volitiva e afetiva que junto com a cognitiva permitem falar de um processo de ensino-aprendizagem que tem de pôr fim a formação multilateral da personalidade do homem. (GUERRA, 2014, p. 07)

Essa concepção compreendida pela autora acima, revela uma importante colocação, na qual a aprendizagem tem como objetivo contribuir para a formação completa do sujeito, e que este processo, é fruto da integração entre os saberes que o homem consegue adquirir através de seu intelecto, e o conhecimento empírico que este já possui, delimitados pelo senso comum, como as regras básicas de convivência social. Essa formação de valores, destacada no excerto, é a peça propulsora para que este sinta-se estimulado na busca por novos conhecimentos, compreendo, a importância para a manutenção da estrutura social, ou seja, o processo de ensino aprendizagem tem como função a formação completa do indivíduo, e não apenas restrito a assuntos escolares.

No cerne da pesquisa, voltada para a disciplina de língua portuguesa e suas intercorrências, foi questionado aos entrevistados acerca de “quais os benefícios que o ensino e domínio da língua portuguesa proporciona para o aluno?”, objete-se como respostas a proposição de que “[…] os benefícios são inúmeros. Ao dominar a língua materna, o sujeito consegue ser ativo e crítico na sociedade, além de utilizá-la não apenas na escola, na matéria de português, mas, para a vida toda” (PROFESSOR 2, junho, 2023), “através do aprendizado da língua portuguesa, o aluno vai poder se expressar melhor e escrever suas palavras em seus textos e documentos corretamente” (PROFESOR 1, junho, 2023).

Neste sentido, se compreende através da fala dos informantes, que o ensino de língua português é de suma importância para a formação crítica do sujeito, contudo, é preciso que a escola compreenda que apesar de seu dever ser ensinar a língua padrão, o aluno já possui consigo uma carga linguística trazida de casa, e com isso, torna-se imprescindível criar situações que fazem com que tais conhecimento prévios da língua sejam valorizados, e utilizados de maneira a facilitar o ensino da língua padrão. Seguindo tais pressuposto, faz uma importante colocação:

Ao começar a escolaridade básica, qualquer criança já tem um domínio da língua utilizada nos grupos de socialização com os quais elas convivem. Assim, elas já terão um conhecimento que as ajudará quando adentrarem na sala de aula, porque, apesar da Língua Portuguesa ter suas regras, um falante nativo já tem a capacidade de compreender a estrutura da língua. Como podemos perceber, esse conhecimento e domínio, que as crianças já trazem de sua convivência, ajudarão no processo da escola no ensino da Língua Portuguesa. (ANDRADE, OLIVEIRA, 2019, p.2)

O ensino de língua portuguesa nas escolas, realmente é um ponto importante de discussão, isso porque, apesar de a língua materna da maior da população do Brasil ser a língua portuguesa, seu ensino apresenta inúmeros problemas, pois as dificuldades de aprendizagem dos alunos não são supridas, e, com isso, há a rejeição por parte dos discentes nessa matéria especificamente, ocasionando defasagem do ensino, assim como a evasão escolar, problemas de leitura e escrita, ou ainda, o analfabetismo funcional em crianças. Neste sentido, Andrade e Oliveira (2019), enfatizam que o ensino da Língua Portuguesa possui suas falhas, pois acreditam que o mesmo não está sendo ensinado de forma correta, isso porque ao não valorizar o conhecimento prévio que o aluno carrega, o professor pode estar prejudicando as capacidades intelectuais do discente, em alguns casos, “o aluno é interrogado por se expressar de forma inadequada e isso não pode acontecer, o professor tem que lidar com as variedades linguísticas existentes na sala de aula”(ANDRADE, OLIVEIRA, 2019, p. 03).

Seguindo esse contexto então, foi reportado aos sujeitos da entrevista sobre “o que acontece para que os alunos, mesmo após o período de alfabetização, não consigam ler ou escrever com competência?”, visto que grande parte das crianças que estão na fase inicial da educação básica, apresentam dificuldades de leitura e escrita, e, com isso, prejudicam não apenas na matéria específica, mas, nas demais. Desta maneira, o motivo pelo qual as crianças mesmo após o período de alfabetização apresentarem dificuldades, deve-se:

[…] a falta de uma base estrutural mais intensa, com uma prática pedagógica que envolva a criança e a instigue a querer estudar, e que os incentivos continue mesmo após o encerramento desse período, aulas dinâmicas, além da ajuda dos pais, é fundamental a participação da família, porque só o professor, não será possível que o aluno seja alfabetizado por completo, deve haver uma parceria (PROFESSOR 2, junho, 2023)

Observa-se então, que o período de alfabetização, é um momento muito delicado para o educando, pois é a transição do convívio familiar, para o mundo externo, e com isso, as crianças demoram a adaptar-se com a nova realidade, e com isso, a afetividade então, é fundamental para suprir a ruptura desse laço. O professor, assim como já foi dito anteriormente, necessita compreender sua real função, pois este carrega a responsabilidade no auxílio da formação completa do aluno, e, em específico aos que lecionam em língua portuguesa, o dever é ainda maior, pois trata-se de o entrelace entre as estruturas da gramática normativa, e a língua que este já traz de casa.

É importante destacar, que a qualificação docente é primordial, pois é através dela, que teoricamente as práticas pedagógicas serão melhor produzidas. Contudo, a gestão escolar deve também proporcionar ao professor, ferramentas que o auxiliem cotidianamente, assim como incentivando eles, sempre a buscarem por formação continuada, seja através de cursos, oficinas entre outros. Seguindo esse contexto, foi perguntado aos entrevistados sobre “o que a gestão escolar pode estar fazendo para que o ensino de língua portuguesa alcance seus objetivos?”, respondendo que “ a gestão escolar tem o dever de incentivar tanto os aluno, quanto os professores, seja por projetos de leitura e escrita, oficinas ou minicursos, proporcionando qualificação docente”(PROFESSOR 2, junho, 2023), além de “ a gestão escolar pode entrar conseguindo formar para que seu professor esteja se atualizando, através de cursos que os gestores podem proporcionar”(PROFESSOR 1, Junho, 2023).

É nítido, que apesar de as respostas serem proferidas por sujeitos distintos, elas convergem para uma única resposta, que a gestão escolar possui o dever de proporcionar ao docente e ao aluno, ambientes favoráveis para o ensino, cursos qualificadores, e projetos didáticos respectivamente. Desta maneira, o contexto do ensino de língua portuguesa deve refletir nos alunos, o cuidado e entendimento que a gestão possui acerca das diversidades sociolinguísticas, e, a maneira adequada de abordar esse tema em sala de aula. “A escola frente às diversidades sociolinguísticas é de suma importância, não podemos facilmente ignorar a variedade linguística cultural dos alunos e querer trocar pela língua da cultura institucionalizada” (ANDRADE, OLIVEIRA, 2019, p. 3).

Ao ignorarem a diversidade linguística presente no ambiente escolar, pode-se estar prejudicando diretamente o ensino das crianças, especificamente os processos de leitura e escrita, pois, ao não terem sua carga linguística trazida de casa compreendidas pelos professores, os alunos se retraem, e sentem-se envergonhados de até mesmo manterem um simples diálogo com colegas. A respeito das dificuldades de leitura e escrita dos alunos, foi questionado então, “no cerne da leitura e escrita, aponte quais as maiores dificuldades dos alunos?”, com o intuito de averiguar as possíveis causas, e se, algumas delas possui relação direta ou indiretamente com a desvalorização da língua materna trazida de casa pelos alunos.

“Na verdade, a maioria dos alunos apresentam dificuldades nas duas áreas, pois aqueles que não conseguem ler, geralmente também não conseguem escrever, e com isso, as aulas ficam difíceis” (PROFESSOR 2, junho, 2023), “a maior dificuldade é entre leitura e escrita. Os alunos têm maior dificuldade na escrita pelo fato de errarem muitas palavras durante sua escrita” (PROFESSOR, junho, 2023). Observa-se na fala dos informantes, que no processo de aprendizagem de língua portuguesa, as maiores dificuldades são referentes à leitura e escrita, e que, é preciso melhor investigar a causa, a fim de proporcionar um ensino igualitário e de qualidade.

É importante destacar, que é importante a gramática normativa, mas, não se deve desprezar a gramática natural do aluno, suas vivências fazem parte de sua identidade cultural. Neste sentido, “para que haja uma formação do leitor é preciso realizar uma leitura estimulante, crítica e prazerosa. Cada aluno, ao chegar na escola, traz um conhecimento, e cabe à escola e ao professor proporcionar inúmeras interações de leitura e escrita” (ANDRADE, OLIVEIRA, 2019, p. 3), ou seja, o cenário didático proporcionado pelos docentes, será o diferencial nas aulas, é através da metodologia abordada pelo professor, que o aluno poderá ou não desenvolver interesse pelas aulas de língua portuguesa. Desta forma, compreende que:

O acompanhamento do professor ao despertar e motivar o interesse do aluno com a leitura, não deve ser de forma obrigatória, mas, também cabe ao professor deixar claro o conhecimento que o aluno terá ao praticar o ato de ler. Assim, o aluno aprende que é capaz de dominar a leitura, mostrando toda sua disposição e criatividade. E cabe ao professor proporcionar atividades que envolvam seus alunos de forma espontânea, pois é notório quando o aluno tem interesse de ler, sempre que necessitar usar as suas capacidades na leitura e na escrita será visto como um período de aprendizagem significativa. (SOUZA, 2019, p. 11)

O excerto acima, faz uma interessante colocação, a de que o professor deve motivar e despertar no aluno o interesse em leitura e escrita, através de disposição e criatividade, sempre informando aos discentes os motivos pelos quais é fundamental que este aprimore a prática de ler e escrever. É válido ressaltar, que não necessariamente deve-se criar um momento específico para a leitura, pois, a todo instante é momento de praticar, o professor pode estar instigando o aluno a realizar pequenas leituras diariamente, assim, ele conseguirá compreender que tanto a leitura como a escrita são fundamentais não apenas em aulas de língua portuguesa. É importante que o professor possa estar a todo instante estimulando o aluno, contudo, que tais práticas sejam inovadoras e prazerosas, pois, passar demasiados e repetitivos conteúdos não contribuem com o intelecto. A esse respeito, discorre que:

A leitura e a escrita são indispensáveis para serem trabalhadas pelo professor na sala de aula, exigindo um pouco de cuidado quando forem distinguir as condições de leitura e escrita de cada aluno. Visto que promover a prática da leitura na totalidade escolar solicita condições favoráveis e anseio dos professores em aperfeiçoar seus alunos leitores, e não só passar atividades mecânicas de memorização de conceitos e procedimentos, limitados às cópias e repetições de conteúdos prontos, descontextualizados com as demandas culturais e sociais dos alunos. (SOUZA, 2019, p. 9)

Observa-se então, que o trabalho docente deve ultrapassar quaisquer resquícios de uma pedagogia tradicional, pois esta deve ser voltada para as necessidades do aluno. Neste sentido, o cenário atual da educação, aponta para a necessidade de as aulas serem estimulantes, e, uma possibilidade para dinamizar as aulas, é através da ludicidade. O lúdico, é uma importante metodologia que pode ser utilizada pelos docentes, pois através dele, as crianças encontram prazer em realizar as atividades propostas.

As práticas pedagógicas que contemplem a leitura e escrita devem ser pautadas em discussões que reflitam as dificuldades e o desafio que é formar leitores. Isso porque “a leitura é também instrumento para a participação do aluno nas discussões da comunidade política” (SANTOS, 2019, p. 10), ou seja, não se trata apenas da gramática normativa, é uma preparação para vida e garantia de cidadania. Durante o processo de observação na referida escola, devido ao fato de a pesquisadora já exercer uma função na mesma, foi a oportunidade de melhor compreender o funcionamento do processo de ensino, a partir de uma ótica oposta.

Durante as pesquisas em lócus, um dos maiores desafios acerca da leitura, é sua própria conceituação e compreensão dela pelos docentes. As aprendizagens se tornaram mecânicas, ou seja, os professores necessitam cumprir a carga horária, e de uma certa maneira, fazer com que seus alunos progridam em um certo nível, como se houvesse uma corrida contra o tempo. De certo que, o ato de ler deve corresponder ao processo de apreensão da realidade que cerca o indivíduo, o que pode acontecer nas mais distintas linguagens, e não necessariamente através da escrita. Portanto, “o ato de ler não diz respeito à apreensão da realidade somente através da leitura do texto escrito: é a interpretação do pensamento expresso por símbolos da escrita com a vivência e a afetividade do leitor” (SANTOS, 2019, p.9).

A respeito de todas essas colocações, foi perguntado então aos sujeitos entrevistados “o que pode ser feito, para que o aluno consiga se tornar um usuário competente da gramática da língua portuguesa?”. Bem, esta pergunta foi também respondida pelos entrevistados, porém, é uma retorica, pois enquanto educado, sabe-se o que deve ser feito na prática para modificar o atual cenário da educação básica no Brasil, contudo, na maioria das vezes, a aceitação de que mudanças devem acontecer, não é absoluta entre os profissionais da educação, ocasionando uma prática monótona. Referente ao questionamento acima, o PROFESSOR 2 respondeu “acredito que deve haver muita prática, muita leitura, e que, ele entenda a importância e relevância do estudo, e gradativamente o aplique em seu cotidiano” (PROFESSOR 2, junho, 2023), “o professor através dos seus métodos de ensino, chama a atenção do aluno e fazendo ele gostar do assunto repassado” (PROFESSOR 1, junho, 2023).

Observa-se então, que os dois professores possuem a consciência de que o primeiro passo para que o aluno se torne um leitor competente e domine a habilidade da escrita, é sem dúvidas, a prática pedagógica docente, contudo, é preciso que o professor possua além de uma formação inicial adequada, objetive estar sempre em busca de novos saberes, pois é a formação continuada do docente, que garantirá a ele a reflexão por novas propostas. Segundo MATOS, SANTOS (2006) as novas perspectivas acerca da leitura, devem ir além de decifrar símbolos, pois, devem envolver a interpretação e compreensão, pautada na interatividade entre o leitor, e o que se ler. Já a escrita, deve seguir as mesmas estratégias, não se pode tornar o ensino conteudista, pois a demasiada repetição de atividades escritas, torna a proposta monótona e enfadonha para o aluno, que perde o interesse pelas atividades.

Neste sentido, entende-se então que o processo de ensino aprendizagem de língua portuguesa, apresenta algumas situações que devem serem revistas, visto que, uma parcela dos alunos que foram alfabetizados, apresentam dificuldades de leitura e escrita, necessitando o aperfeiçoamento das técnicas apreendidas anteriormente, tais ocorrências poderiam ser interrompidas, se a sua base de formação apresentasse êxito em suas metodologias de ensino, o fato é que, o período de alfabetização deve ser compreendida como um momento primordial para formação do sujeito, pois é seu primeiro contato com uma gama de saberes e informações.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa, foi de extrema importância para mim, isso porque, em todos os meus anos de profissão, foi a primeira vez em que pude ter a oportunidade de visualizar o contexto escolar, sob uma ótica investigativa, com imparcialidade no olhar. Estar no ambiente de sala de aula diariamente com o papel de professor, em parte, nos acomodar, pois devida a correria do cotidiano, dificilmente se dedica um tempo para auto reflexão acerca de nossas práticas pedagógicas.

No cerne propriamente da pesquisa, a elaboração desta proposta foi bastante intensa, pois, além de trabalhar diariamente na escola, foi preciso reservar tempo para as pesquisas, leituras, análises e por fim, a escrita. Neste sentido, destaca-se que o papel do professor é fundamental para que o processo de ensino aprendizagem flua com eficiência, contudo, sabe- se que a realidade de muitos docentes, não condizem com o ideal de uma proposta inovadora. A falta de preparo, ou ainda interesse dos docentes, pode ser um dos principais fatores para que haja a falha no processo de ensino.

Tais pressupostos, refletem diretamente no âmbito das dificuldades apresentadas por alunos no processo de leitura e escrita de alunos no ensino fundamental, pois a inadequação de práticas pedagógicas, refletem no mal desempenho escolar do aluno, neste caso, especificamente no ensino de língua portuguesa. Foi observado durante a pesquisa, que as aulas de língua portuguesa apresentam uma certa rejeição por parte dos alunos, alguns a rotulam como “chata” ou ainda “cheia de regras”, e de fato, se o professor não dinamizar suas aulas, os alunos não se sentiram instigados ao aprendizado.

Por outro lado, é nítido também, que o professor necessita de auxílio e compreensão, muitos deles não possuem qualquer tipo de apoio institucional, seja por meio de estrutura (materiais pedagógicos), incentivos (cursos) ou ainda disponibilidade de tempo para sua qualificação profissional, o fato é que muitos professores estão sem uma prévia orientação, e a deriva em um mar cheio de informações, mas, sem nenhum manual de instrução.

Neste cenário, se tem o alunado, que está dentro do processo de ensino, mas, não participa dele ativamente, pois as práticas realizadas não condizem com sua realidade, ou seja, o aluno está na escola, mas, não consegue assimilar saberes. Grande parte dos alunos, conseguem representar graficamente as letras, mas, não possuem seu domínio, apresentando dificuldades de interpretação e compreensão de textos, pois não conseguem os ressignificarem para sua realidade. Ressalta-se ainda, que no que diz respeito aos objetivos e metas traçados por esta pesquisa, todos foram alcançados, pois foi possível realizar as análises, assim como compreender a partir de uma outra perspectiva alguns fenômenos educacionais que acontecem no contexto escolar, e, apesar de os resultados não apontaram um resultado positivo para a educação, ainda sim foi gratificado ter a oportunidade de contribuir para esses estudos, oportunizando reflexão e, intensificando as pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Suzana Medeiros Batista. Formação Docente à Prática Pedagógica: a Articulação entre Teoria e Prática. VI Congresso Nacional de Educação. CONEDU- RJ .2019- Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2019/TRABALHO_EV127_MD1_SA1_ID 5150_20082019172324.pdf

ANDRADE, Edisônia Costa de. OLIVEIRA, DAISY Cristina Buzalo de. O ensino da língua Portuguesa na educação Básica: literatura, uma proposta metodológica. IV Congresso Nacional de Educação. CONEDU. 2019- Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2019/TRABALHO_EV127_MD1_SA15_I D5268_14082019170707.pdf

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso (1952-1953). In.: Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão Gomes e Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 277-326

BRASIL. MEC. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação: Prova Brasil: ensino fundamental: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SEB; INEP, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

DIANA, Daniela. Preconceito linguístico. 2019- Disponível em: https://www.todamateria.com.br/preconceito- linguistico/#:~:text=Os%20sotaques%20que%20se%20distinguem,pessoa%20que%20vive% 20no%20interior.

CAGLIARI, Gladys; CAGLIARI, Lucas Carlos. Diante das letras: a escrita na alfabetização. Campinas: Mercado das Letras; ALB, 1989.

CALIMAN, G. A avaliação de programas socioeducativos. In: SIVERES, Luis (Org.). A avaliação na educação superior. Brasília: Universa, 2007, p. 121-154.

COELHO, M. T. . problemas de aprendizagem. São Paulo. Editora: Ática S. A. 2009

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 2008

GUERRA, Leonor. X Curso de formação de Gestores e educadores em educação inclusiva em Santa Maria – RS. Disponível em: https://www.santamaria.rs.gov.br. Acesso em: 20 abr. 2018.

KLUTHE, Verilda Speridão. Prática docente e formação de professores. Ed. ALAMEDA- RJ. 2017 Disponível: https://www.alamedaeditora.com.br/livro-gratis-pratica-docentes-e- formacao-de-professores/

LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1982

LEITE, V. A. M. Dimensões da Não Aprendizagem. Curitiba, PR: IESDE, 2012.

LEITÃO, Wanderléia Azevedo Medeiros. Ensino, aprendizagem e formação de professores. 2021 DISPONÍVEL EM: https://repositorio.ufpa.br/handle/2011/12926

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2013

KLEIMAN, A. Leitura e prática social no desenvolvimento de competências no ensino médio. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 23-36.

KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 2008.

NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: EDUCA, 2009.

OLIVEIRA, Hélvio Frank de. Ensino/ aprendizagem de língua portuguesa na escola: explorando letramentos. Goias-2014 – Disponível: https://www.scielo.br/j/rbla/a/b937MbfFvKdJGbDDr673DSN/?format=pdf&lang=pt

RONCARATI, Cláudia. Prestígio e preconceito linguísticos. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito linguístico e cânone literário, n. 36, p. 45-56, 2008. Disponível em: http://www.cadernosdeletras.uff.br/joomla/images/stories/edicoes/36/artigo2.pdf. Acesso em: 16 ago. 2008.

SILVA, Josefa Natali da. Dificuldade na leitura e na escrita nos anos iniciais do ensino fundamental I. VI Congresso Nacional de Educação- RJ- 2018 Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2019/TRABALHO_EV127_MD1_SA8_ID 3783_29072019200951.pdf

http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/2211. Acesso em: 07 nov. 2021

SANTOS, W. L. P. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 36, p. 474-550, 2007. Disponível em: Acesso em: 18 jan. 2019.

SARDAGNA, Célio Antônio. Estratégias de leitura. 2016

SOUZA, Leandro Quaresma de. As dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita no ensino fundamental e seu contexto escolar. 2019 Disponível: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_socorrimha_0.pdf

SOUZA, B. P. Funcionamentos escolares e produção do fracasso escolar e sofrimento. In: SOUZA, B. P. (Org.) Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2018. p.241-278.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Organização de Charles Bally e Albert Sechehaye com a colaboração de Albert Riedlinger. Trad. de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 24ª ed. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 1972

Skinner, B. F. (1957/1992). Verbal Behavior. Acton, Massachusetts: Copley.

TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

TARDIF, Maurice. LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

TERRA, M. R. Letramento e letramentos: uma perspectiva sócio-cultural dos usos da escrita. DELTA, São Paulo, v. 29, n 1, p. 29-58, 1997.

ZIBERMAN, Regina. Memória entre oralidade e escrita. 2006


1Discente do programa de Pós- Graduação em ciências da Educação da faculdade Interamericana de ciências sociais.
2Discente do programa de Pós- Graduação em ciências da Educação da faculdade Interamericana de ciências sociais.
3Discente do programa de Pós- Graduação em ciências da Educação da faculdade Interamericana de ciências sociais.
4Discente do programa de Pós- Graduação em ciências da Educação da faculdade Interamericana de ciências sociais.
5Discente do programa de Pós- Graduação em ciências da Educação da faculdade Interamericana de ciências sociais.
6Orientadora da turma