O PENSAR CRÍTICO-FILOSÓFICO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249062132


Aline Toquetto


RESUMO

O trabalho retrata a importância da disciplina de Filosofia em nossas escolas brasileiras, a fundamental importância de fazer com que nossos (as) estudantes pensem criticamente, buscando respostas para questionamentos do cotidiano que os cerca. As ideias que surgem diante de uma roda de conversa, seja em sala de aula ou mesmo em comunidade, a importância da compreensão diante dessas ideias diferentes, conseguindo superar conflitos que muitas vezes irão surgir, mas com o olhar crítico das aulas de Filosofia tudo se tornará mais equilibrado e harmonioso. Também as dificuldades enfrentadas de professores (as) que ministram aulas sem muitas vezes ter a devida formação necessária na área, mas que se esforçam e buscam conhecimentos e aprendizados constantes para repassar e também aprender muitas vezes junto aos (as) estudantes.  

Desenvolvido através de revisões bibliográficas com base na compreensão de ideias de autores que são de suma importância para o desenvolver e formação da compreensão do campo filosófico. Assim tornando-se fundamental observar questões do cotidiano dos (as) estudantes em nossas escolas brasileiras para que estes sejam capazes de analisar e formar opiniões críticas frente a diversas situações do dia a dia na sociedade em que estão inseridos.

Palavraschave: Filosofia; Ensino de Filosofia; Escolas brasileiras; Pensamento crítico.

SUMMARY

The work portrays the importance of the Philosophy discipline in our Brazilian schools, the fundamental importance of making our students think critically, seeking answers to everyday questions that surround them. The ideas that arise in a conversation circle, whether in the classroom or even in the community, the importance of understanding in the face of these different ideas, managing to overcome conflicts that will often arise, but with the critical eye of Philosophy classes everything becomes will make it more balanced and harmonious. Also the difficulties faced by teachers who teach classes without often having the necessary training in the area, but who make an effort and seek constant knowledge and learning to pass on and also often learn from students.  

Developed through bibliographical reviews based on the understanding of authors’ ideas that are of paramount importance for the development and formation of understanding of the philosophical field. Therefore, it becomes essential to observe the daily issues of students in our Brazilian schools so that they are able to analyze and form critical opinions regarding different day-to-day situations in the society in which they are inserted.

Keywords: Philosophy; Teaching Philosophy; Brazilian schools; Critical thinking.

INTRODUÇÃO

A Ensino de Filosofia nas escolas brasileiras tem o papel de impulsionar os nossos (as) estudantes para o conhecimento, ou seja, para a sabedoria como o próprio significado da palavra Filosofia em si já aborda. Buscar sabedoria através do ensino, através do diálogo em sala de aula, conhecendo as novas ideias que surgem. Os objetos de estudo que são abordados englobam temas comuns de nossa existência, como o bem e o mal, a vida e a morte, a felicidade e a dor, entre vários outros temas que nos envolvem mutuamente o conviver em sociedade.

Apresentarei neste trabalho, que se caracteriza como uma pesquisa bibliográfica, através de ideias expressas de diversos autores que são de suma importância, juntamente com análises pessoais da importância desta disciplina que por um longo tempo foi opcional em nossas escolas, a importância de fazer com que nossos (as) estudantes se tornem seres capazes de pensar criticamente, capazes de analisar situações de nosso cotidiano e encontrar as devidas soluções em meio a diversos questionamentos que os rodeiam. A relação desta disciplina com as demais, fazendo com que o conhecimento se torne multiplicador e multidisciplinar com o envolvimento desta e as demais em nossas escolas brasileiras.

Sendo este tema de extrema importância para a nossa sociedade atual, pois estamos constantemente buscando respostas para os nossos questionamentos. E a Filosofia como falo em aulas que ministro “é a busca por respostas”, estamos sempre nos questionando, qual será o melhor caminho a seguir, qual será a melhor resposta a se dar em determinada situação. A Filosofia está presente em nosso dia a dia, por mais que em muitos momentos não percebamos, mas estamos fazendo a análise de nossos questionamentos e buscando as devidas respostas em meio a tanto aprendizado que é fornecido através desta disciplina.

1. A IMPORTÂNCIA DOS OBJETIVOS CONSTRUÍDOS NO ENSINO DE FILOSOFIA

O termo Filosofia nos faz pensar e refletir sobre a sua importância, este termo que faz referência ao amor a sabedoria, amor na busca pelo saber, aos questionamentos, na busca dos “por quês”, na busca pelas respostas destes “por quês”. No nosso dia a dia nos deparamos com inúmeros questionamentos, como por exemplo: por que estou aqui? Qual o meu objetivo de vida? Para onde eu vou? São questionamentos incessantes que surgem e ao nos depararmos tentamos buscar respostas para estes questionamentos que nos fazem refletir sobre o nosso cotidiano, sobre o nosso presente, o nosso futuro.

E o nosso Ensino de Filosofia têm esse papel de fazer com que o (a) estudante busque pelas respostas de seus questionamentos, contribuindo para o desenvolvimento do pensar e analisar crítico, essencial para a nossa sociedade contemporânea, fornecendo bases para que os (as) estudantes analisem e consigam encontrar as respostas para suas incertezas, que certamente no decorrer do Ensino Médio são muitas, seja no seu lado emocional, familiar, futuramente profissional, estão buscando geralmente neste período se redescobrir e descobrir quais são realmente as suas habilidades e aptidões, para então ingressar futuramente na busca de seus sonhos profissionais.

E nós como professores (as) devemos ter o dever de despertar esta curiosidade e este pensar crítico em nossos (as) estudantes, fazer com que estes consigam analisar fatos de nosso cotidiano em sociedade, saibam discutir opiniões divergentes das suas, mas sempre com cautela, empatia e sabedoria. É neste percurso do descobrir e do despertar o pensamento crítico que entra o papel do professor (a) de Filosofia, devemos fazer com que nossas aulas sejam diferenciadas, de muita conversa e análises filosóficas, para que no futuro, ao sair do Ensino Médio os (as) estudantes impactem a nossa sociedade de forma positiva, com o seu pensar, olhar e capacidade de analisar fatos de forma reflexiva e crítica, contribuindo para o crescimento desta. 

Sabemos que a educação, e a qualidade da educação sempre foi questionada, o potencial dos (as) professores (as), o cursos de aperfeiçoamento que estes devem fazer para se qualificar cada vez mais, as verbas que deveriam vir para um ambiente de ensino mais adequado, materiais e laboratórios com equipamentos modernos, todos estes questionamentos são reflexões que são fundamentais, e partem de pessoas que possuem um olhar crítico, questionamentos estes que o Ensino de Filosofia faz despertar em sala de aula. Por isso, a importância do Ensino de Filosofia em sala de aula, fazendo com que o aluno construa o seu futuro com um olhar e um pensar diferenciado, visando melhorias e tente resolver situações do cotidiano com sabedoria.

Para que estas aulas de Filosofia sejam diferenciadas e que motivem o (a) estudante a refletir sobre diferentes contextos, o (a) professor (a) deve estar preparado e com uma visão ampla para várias ideias diferentes que irão surgir, sua mente deve estar aberta a opiniões e

sugestões, além de sua preparação profissional sempre atualizada, com um ambiente escolar acolhedor mostrando que opiniões diferentes surgem e são necessárias, mas que o mais importante é a conversa e a reflexão para se conseguir chegar a uma determinada decisão.

O espaço da escola deve ser um local onde prevaleça o processo de socialização, para que os (as) estudantes ali presentes possam ao sair da sala de aula estarem preparados para viver com as diversidades de forma integrativa, a sociedade de forma compreensiva, democrática e ativa.

Os (as) professores (as) devem estar preparados e qualificados, para conseguir conduzir os seus estudantes elencando os passos que deverão seguir nas atividades e dinâmicas das aulas para um despertar filosófico de sucesso. Essas atividades filosóficas servem para expandir a imaginação de cada estudante, como também fazer ele pensar criticamente em relação às ações desempenhadas pelo ser humano seja no tempo, espaço e em sociedade com o passar dos anos.

É necessário um ensino que esteja voltado aos princípios da reflexão, buscando educar o pensamento, onde este pensamento será moldado por cidadãos reflexivos e questionadores da realidade que os cerca, a partir de aulas que investiguem questões filosóficas voltadas a atualidade, abrangendo as várias diversidades culturais existentes em nossa sociedade. Formando cidadãos autônomos, com seus pensamentos em constante evolução, fornecendolhes o desenvolvimento e crescimento de seres com autonomia, isso lhes ajudará a trilhar um caminho de muita sabedoria possível de mudar e melhorar a sua realidade, por isso a importância do pensar filosófico ser inserido desde cedo aos nossos (as) estudantes em sala de aula. Esse conhecer filosófico será o primeiro passo para o desenvolver de outros campos de conhecimentos necessários para o aprendizado.

2. TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E OS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS 

As transformações de nossa sociedade são gigantescas, podemos citar as mudanças tecnológicas, pois estamos vivenciando uma sociedade de alta velocidade, essas mudanças estão impactando em diversos campos, e o primordial que deve ser observado é a educação, pois a qualidade de nosso país está ligada a ela. 

Devido a estas potencialidades a escola deve estar aberta a conversas com todas as pessoas, ainda mais nesta atual sociedade que estamos vivendo, onde as desigualdades são gigantescas e a valorização de valores e princípios éticos devem ser observados.

É de suma importância que a escola e os (as) professores (as) trabalhem a importância da educação ligada aos princípios filosóficos, estes devem ser trabalhados no ambiente escolar de forma libertadora e ética, pois abrange a diversidade de religiões, raças, gêneros, classes, …, deixando de lado o ensino tradicional, pois este não leva em conta as experiências já adquiridas dos (as) estudantes seja no ambiente escolar como também na sociedade atual. Por isto a importância da disciplina de Filosofia estar presente nas salas de aula, ela possibilita aos (as) estudantes irem além, desperta a curiosidade, capacidade reflexiva, o pensar, o analisar, onde o (a) estudante pode expor suas ideias e opiniões contribuindo para um ambiente de muitas aprendizagens que vai muito além da sala de aula. 

Os princípios filosóficos do conhecimento no ensino-aprendizagem, devem estar presentes e ser praticado no ambiente escolar dando direito a comunidade escolar a participar das atividades que são propostas pelas escolas também, podendo assim o (a) professor (a) mediar a compreensão da diversidade, questões éticas em sala de aula.

Para se trabalhar a disciplina de Filosofia em sala de aula, o (a) professor (a) deve ter disciplina, deve ser o mediador frente a dificuldades de diversos obstáculos que irão aparecer no percurso escolar, deve ser reflexivo e capaz de despertar este novo olhar filosófico em seus estudantes. Buscar envolver a escola com a comunidade escolar, pais e responsáveis, formando cidadãos conscientes de si, de seu agir e de seu pensar frente a sociedade que estão inseridos.

O Ensino de Filosofia deve ter claro os objetivos propostos construídos, compreender o real papel da disciplina de Filosofia em sala de aula, buscando desenvolver habilidades e experiências para a formação de cidadãos críticos, conscientes de seu pensar e agir perante a sociedade.

As atividades que são elaboradas, construídas pelos docentes e suas respectivas instituições, devem ser diversificadas, bem elaboradas para que os educandos consigam explorar e construir um saber filosófico de qualidade. Ainda mais por estarmos vivendo em um mundo cada vez mais tecnológico, o docente deve buscar sempre se aperfeiçoar para que suas aulas sejam motivadoras, com metodologias e recursos diferenciados, despertando interesse dos (as) estudantes em aprender e buscar o pensar crítico que a disciplina de Filosofia tanto almeja alcançar ao ser trabalhada.

De acordo com as ideias e reflexões lançadas em sala de aula, são fundamentais para a formação do cidadão que está sendo inserido em nossa sociedade como ser pensante. Mas para que isto seja possível, o papel do (da) professor (a) tem fundamental importância, ao planejar e elaborar as suas aulas também deve ter um olhar filosófico, trazendo questionamentos, fazendo os seus estudantes pensar, analisar, elaborar respostas, soluções, tornando assim suas aulas cada vez mais dinâmicas e possibilitando ao (a) estudante se tornar o protagonista da vez, pois poderá expor o que pensa sobre determinado assunto, construindo assim o seu pensar e analisar crítico.

Assim como destaca a Pedagoga Oliveira, Rosana Machado, em seu artigo Filosofia Na Escola: A Necessidade De Um Pensar Crítico E Reflexivo Em Torno Do EnsinoAprendizagem Em Sala De Aula:

“[…] A escola como instituição social, tem o dever de informar, mediar e formar cidadãos atuantes em sociedade, capazes de se relacionarem com as diversas realidades, pessoas, e grupos existentes, assim como, saberem se posicionar contra ou a favor dos acontecimentos sociais[…]”. (Oliveira, 2018, p. 25-26).

Por isso a grande importância do ensino da disciplina de Filosofia em sala de aula, essencial para o desenvolvimento dos (as) estudantes na sua formação como seres pensantes reflexivos e críticos. Não sendo somente no momento em que estão no ambiente escolar, mas também formando seres humanos que mais tarde estarão inseridos em uma sociedade que necessita deste olhar e desta busca pela consciência crítica.

Um dos papéis fundamentais da Filosofia na educação é o desenvolvimento, e o impulsionar rumo ao conhecimento, pois como dizia Paulo Freire “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão. ” (FREIRE, Paulo. Rio de Janeiro: 1987.), a educação deve ser libertadora, deve instigar aos (as) estudantes a busca pelo papel crítico frente a nossa sociedade, aprendendo, ensinando, sempre buscando qualificações, inovações que são fundamentais para um futuro promissor, e o (a) professor (a) com o seu saber e a capacidade de impulsionar para esta busca de libertação ao conhecimento, em suas aulas de Filosofia, despertará esta curiosidade, fazendo com que os (as) estudantes busquem este avanço na aprendizagem que refletirá futuramente perante a sociedade. 

Esta busca será em conjunto, através de pensamentos reflexivos, debatidos e analisados nas aulas de Filosofia com a ajuda do (da) professor (a), sendo ele o mediador neste caminho do pensar filosófico. Formando cidadãos capazes de observar a realidade e tudo que os cerca, aquilo que os causa inquietações, conseguindo a partir de então formar, decidir e desenvolver as suas próprias convicções frente a desafios e situações de seu cotidiano.

A Filosofia sendo parte do ensino-aprendizagem, se torna transformadora, por mais que em certas vezes tenha sido vista como uma disciplina difícil de compreensão, os temas que são trabalhados englobam situações de nosso cotidiano e fundamentais da nossa existência, como a verdade e a falsidade, a vida e a morte, felicidade e dor, e bem e o mal, como tantos outros temas que envolvem o estar e conviver em sociedade. Temas tão importantes de serem abordados em nossa sociedade pois estão inseridos e fazem parte dela. 

Importante também é perceber a participação da Filosofia em nossas vidas, como na política, em nossas lutas diárias, conquistas, vida e até morte, diversas situações, pois estamos constantemente cercados de questionamentos que nos fazem pensar e refletir sobre diversos assuntos de nosso cotidiano, assim como o filósofo Nietzsche aborda em vários de seus ensinamentos, onde estamos nos questionando e buscando respostas para essas dúvidas e questionamentos a fim de alcançarmos as verdades absolutas para sanar as dúvidas recorrentes.

Desde a obrigatoriedade do Ensino de Filosofia em sala de aula a partir – da promulgação da Lei 11.684, de 2 de junho de 2008, a Filosofia volta a ser uma disciplina obrigatória nas escolas brasileiras, função que ela não desempenhava desde 1961 (Lei nº 4.020/61). Segundo a nova lei, o Ensino de Filosofia (assim como o de Sociologia) assume um caráter de obrigatoriedade em todas as séries do Ensino Médio, a última etapa da educação básica no país. (Silva, 2011, p. 202).

Desde que oficializada esta obrigatoriedade deve-se observar que não somente devido a lei, mas também pela importância da disciplina em si, para o avanço da educação em nosso país, irá possibilitar a partir dela o despertar do senso crítico, fazendo com que o (a) estudante desde cedo saiba questionar e buscar respostas para seus questionamentos, tornando-se um ser participativo e atuante perante nossa sociedade.

O grande filósofo Sócrates, personagem de uma das principais obras de Platão “A República”, defendia a busca pelo conhecimento, enunciava a busca por diálogos na praça pública da Grécia Antiga, defendia por volta dos séculos IV e V a.C. o poder da argumentação, valorizando a palavra e a razão. Observando-se assim que já desde muitos séculos atrás a Filosofia já estava presente no campo pedagógico, Sócrates e seus discípulos como Platão ensinavam e declaravam apoios a aprendizagem, abordando a importância de se comunicar em comunidade. Nos dias atuais, não é diferente, a Filosofia faz com que os cidadãos sejam seres participativos e atuantes em sociedade, saibam fazer escolhas conscientes, possuidores e construtores de suas próprias opiniões.

Sendo necessário compreender as variadas formas do saber que nos é apresentado dia após dia, como o conhecimento científico compreende a comprovação dos fatos e informações a partir da ciência, já o conhecimento filosófico é elaborado devido as reflexões que são feitas pelos cidadãos perante a questões subjetivas, destacadas a partir de hipóteses que não são analisadas e observadas, como o subjetivo e o imaterial. A partir do uso do raciocínio, reflexo, análises e conceitos são construídos.

3. PROFESSORES (AS) EM CONSTANTE APRENDIZADO

Ao ensinar em sala de aula, nós professores (as) estamos em constante aprendizado, pois como já dizia Paulo Freire: 

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. (Freire, 2002, p. 25).

 Ainda mais na disciplina de Filosofia onde o (a) estudante é proposto a despertar a sua curiosidade e criatividade frente a diversas situações. Devido a isto a Filosofia no ensinoaprendizagem, tem o papel de agregar e fornecer crescimento ao ambiente escolar. Já no Ensino Médio o seu papel virá ainda mais para somar no crescimento, pois o (a) estudante estará se preparando para logo mais ingressar ao campo universitário e mercado de trabalho, devendo estar preparado para diversas situações em busca de seus sonhos e objetivos. Esta estimulação a reflexão ajudará na consolidação de cidadãos com personalidades, que saibam expor as suas próprias opiniões frente a diversas situações que irão surgir com o passar dos anos em suas vidas.

Os (as) estudantes em anos finais do Ensino Médio, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estarão praticando na disciplina de Filosofia ensaios para a sua vida acadêmica e posterior campo profissional que irão escolher. Devido a isso, a fundamental importância desta disciplina no desenvolvimento da vida dos (das) estudantes contribui como um todo, está ligada aos demais componentes escolares, pois almeja o desenvolvimento do (da) estudante não somente na sala de aula, mas também perante a sociedade, uma disciplina de uma grandiosidade ligada a um buscar transformador no desenvolvimento de aprendizagens constantes.

A Filosofia de certa forma é uma reflexão sobre diversos questionamentos de nossa humanidade. Cada período possui questionamentos do seu determinado tempo e a Filosofia ajudou a responder a esses questionamentos.

A Filosofia segundo o Professor Brangatti, é destacada como:

“a Filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ao contrário ela é a própria manifestação humana e sua mais alta expressão (…) A Filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, o homem não se alimenta da Filosofia, mas sem dúvida nenhuma, com a ajuda da Filosofia” (Brangatti, Paulo R., 1993, p. 25). 

Nesta linha de pensamento percebemos a importância da Filosofia em nossas vidas, pois o ser humano é um conjunto de vários elementos, o sentir, o pensar e o agir, assim como destaca Brangatti, não somos apenas um ser social, espiritual, corpóreo e intelectual, somos muito mais do que isso, somos capazes de analisar criticamente, compreender informações, tendo ideias diferentes, capazes de dialogar frente a situações desafiadoras de nosso dia a dia, devido a isso a Filosofia tenta entender em seus estudos essa complexidade que é o ser humano.

Ao darmos um espaço adequado a Filosofia, estamos levando a sério a necessidade de fazermos os (as) estudantes pensar, desenvolvendo um senso crítico, possibilitando que este possa ter a capacidade de expor as suas opiniões e debater sobre diversos temas de nosso cotidiano em geral. Conseguindo assim compreender qual o seu real papel no mundo, como cidadão presente em nossa sociedade.

4. A FILOSOFIA E O ELO COM AS DEMAIS DISCIPLINAS DO CURRÍCULO ESCOLAR

Sendo importante abordar, que no ambiente escolar não basta desenvolvermos um trabalho eficiente na disciplina de Filosofia com os (as) estudantes,  se este trabalho não for em conjunto com as demais disciplinas do currículo escolar, pois a Filosofia abrange não somente o campo concreto palpável, mas também os conceitos abstratos, sendo necessário fazer a ligação deste elo com as demais disciplinas, pois uma complementa a outra, uma contribui com a outra, é tudo um somatório, que no final beneficia não somente o (a) estudante, mas também os demais que estão ao seu redor.

Assim, como destaca a Professora Marilena Chauí, a relação que a escola desempenha com a troca de opiniões, as ideias divergentes e ao ato de filosofar: 

“Acreditamos que os outros seres humanos também são racionais, pois, graças à linguagem, trocamos ideias e opiniões, pensamos de modo muito parecido e a escola e os meios de comunicação garantem a manutenção dessas semelhanças” (Chauí, Marilena, 2000, p.116).

Percebemos que por muitas vezes possuímos ideias e pensamentos parecidos, mas não é por este motivo que iremos deixar de formar opiniões próprias ou muitas vezes expor o nosso real pensamento diante de um grupo seja escolar, familiar ou na sociedade em geral. Mas claro sempre respeitando a opinião que irá surgir diferente da sua, pois estamos vivendo em sociedade e nela merecemos dar e receber respeito para que possamos conviver em harmonia.

Outro ponto importante a ser destacado, é o fato da falta de incentivo de novos (as) professores (as) no componente de Filosofia, e também a falta de valorização dos profissionais já atuantes, seja pelo salário ou até mesmo pela falta de interesse de muitos (as) estudantes, causando uma grande defasagem como um todo em nossa educação. Também a falta de profissionais com formação adequada para atuar nesta disciplina, embora seja permitida a atuação destes neste campo, sendo visto que muitas vezes não haverá uma formação a altura que esta disciplina e os (as) estudantes mereçam. 

Por isso, para melhorar os níveis de educação, faz se necessário a presença de profissionais com titulação específica para a sua atuação, ou ao menos momentos em que todos os profissionais da educação da escola passam participar de formações pedagógicas para que possam desenvolver um trabalho interligado com as demais disciplinas, um complementando o trabalho do outro e fazendo com que o aprendizado do (a) estudante cresça e evolua dia após dia.

Sendo assim, podemos entender que a metodologia de ensino em sala de aula deve ser um conjunto de ações que abrangem o processo pedagógico. Destacando que o ideal é que o (a) professor (a) proponha atividades que englobam técnicas e métodos coerentes com os interesses e a realidade de cada estudante. Adequando-se assim os métodos de ensino no processo de assimilação de habilidades e conhecimentos, atualizando os potenciais dos (das) estudantes, fazendo com que estes adquiram e dominem seus métodos de aprender.

Destacando também as diferenças entre técnicas e métodos, ou seja, a técnica faz parte da metodologia do (da) professor (a), pois é um detalhe do método. Sendo o método um conjunto, que abrange de forma organizada possibilidades para se atingir um objetivo, assumindo um compromisso pedagógico e social com a sociedade atual. Esses métodos devem orientar e motivar os (as) estudantes, conduzindo-os a prática da pesquisa, para que saibam conceituar, criticar, julgar e os façam refletir na produção de seus conhecimentos.

Essa perspectiva somente será positiva se o (a) professor (a) tiver domínio desses meios, aliando-os no crescimento do processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que os (as) estudantes se sintam motivados em relação aos conteúdos propostos. Então a partir da eficácia de metodologias, buscar empregar uma prática pedagógica comprometida e coerente integralmente com os (as) estudantes.

Importante destacar, que em muitos momentos a disciplina de Filosofia foi vista de uma forma diferente, onde somente algumas pessoas seriam capazes de conseguir compreendê-la. Esses parâmetros foram mudando com o passar do tempo, e hoje essa realidade é bem diferente, hoje esse ensino deve alcançar de maneira simples e igual a todos os (as) estudantes. Os desafios que surgem para se conseguir igualar esse ensino a todos são inúmeros, desafios esses que devem ser superados sem deixar que a qualidade de ensino diminua. Esse envolvimento na construção de atitudes e ideias, faz com que a cada passo dado surja um aprendizado complementar e diferente. Esse desejo pelo saber deve ser cultivado pelo aprendiz-filósofo, tornando-se cada vez maior a utilização de métodos de ensino que façam com que estes evoluam tanto no ensino, quanto posterior em sociedade.

Para que tenhamos na educação uma democracia justa, o certo seria primeiro ouvirmos para depois conseguirmos solucionar o que nos é abordado, e é nesta ideia que a disciplina de Filosofia se encaixa, pois, ela vem de forma autêntica guiar os (as) estudantes para que reflitam sobre os acontecimentos e a realidade que os cerca, sendo essas discussões de forma filosóficas presentes desde a antiguidade até os nossos dias atuais. 

Sendo que uma das estratégias docentes seria dar espaço para que o (a) estudante possa expor suas ideias, preocupações, sentimentos, possa além de questionar, buscar soluções ou até mesmo estratégias para conseguir solucionar de determinados questionamentos que lhe são impostos ou que surgem no decorrer de sua caminhada escolar, até mesmo pessoal. Esse ensino do filosofar, onde o (a) professor (a) instiga o (a) estudante a pensar, e a partir daí as respostas vão surgindo, os conhecimentos são reordenados, e a capacidade de pensar criticamente aumenta, beneficiando além do crescimento do (a) estudante, também aulas com muito conhecimento transmitido e adquirido, através das trocas de saberes.

Para Kant, somente seria possível o ato de filosofar, através do uso contínuo da razão, permitindo assim um diálogo certamente crítico com a razão. Pois possuímos a capacidade de compreensão que nos permite realizar análises de fatos, questionamentos de nosso passado, presente e futuro, instrumento este considerado estritamente filosófico. Por esta razão Immanuel Kant destaca em uma das suas principais obras sobre a teoria do conhecimento filosófico “Crítica da Razão Pura”, que fazer Filosofia é o próprio ato de filosofar:

“[…] Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendoa seguir seus princípios juízos universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os […]. (Kant, 1983, p. 407-408).

Portanto, assim desafiamos as inquietações de nossos (as) estudantes pela busca da compreensão, pela busca das respostas para os seus questionamentos, recriando conceitos através do filosofar, fazendo com que construam criticamente as suas ideias, elaborem opiniões divergentes dos demais colegas e que consigam compreender as que surgirem diferente das suas.

O desenvolvimento do (a) estudante dia após dia é favorecido através da prática docente voltada ao Ensino de Filosofia, possibilitando o reconhecimento do saber, fazendo com que o (a) estudante e o próprio professor (a) reconheçam o verdadeiro ato de filosofar. Alguns questionamentos irão surgir no meio do caminho, principalmente no início da profissão, ou quando se é inserido para dar as aulas de Filosofia em sala de aula, dúvidas estas que se iniciam através de como será ensinar esta disciplina. A construção dessa resposta se inicia quando o próprio professor (a) descobre a importância desta grande disciplina e após os aprendizados que irá alcançar ao ministrá-la.

E esse “aprender Filosofia” é destacado por Alejandro Cerletti como:

“é conhecer sua história, adquirir uma série de habilidades argumentativas ou cognitivas, desenvolver uma atitude diante da realidade ou construir um olhar sobre o mundo”. (Cerletti, 2009, p. 12).

Segundo Cerletti estes argumentos fazem parte de nossa vida, pois vários problemas e situações de nosso cotidiano não são resolvidos exclusivamente por estudantes de Filosofia e até mesmo por filósofos, são resolvidos pelas próprias pessoas através da análise de sua realidade com as possíveis soluções, as suas habilidades argumentativas, através dos questionamentos que surgem ao longo do processo analítico. É tudo uma construção que deve passar por etapas que servem para a construção do conhecimento que vai muito além da sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que haja a construção do conhecimento que vai além da sala de aula, com bons resultados no aprendizado, faz-se necessário um ambiente acolhedor, calmo, harmonioso, onde o (a) estudante se sinta acolhido. Um ambiente onde ele perceba que pode expor as suas opiniões, claro que sempre respeitando as opiniões que irão surgir diferentes das suas, possibilitando assim rodas de discussões onde haverá a interação com os demais colegas. Sob este pensamento, a disciplina de Filosofia se torna uma peça interdisciplinar, provendo juntamente com as outras disciplinas de diferentes áreas, um pensar crítico e autônomo.

O (a) professor (a) ao ministrar as suas aulas, percebe a real importância de ser educador, a responsabilidade em estar à frente de uma turma, possibilitando aos seus estudantes aprendizados constantes, agregando e construindo a partir de suas curiosidades, compartilhando conhecimentos. Percebendo qual o seu real papel perante a turma e mesmo em sociedade, qual o tipo de cidadãos que queremos formar, sujeitos ativos e críticos perante ela, em um processo permanente onde professor (a), e estudantes estejam em aprendizados contínuos.

E com a disciplina de Filosofia estando em vigor em nossas escolas brasileiras, com certeza esses aprendizados constantes serão possíveis, pois o (a) estudante estará inserido em um meio em que os questionamentos estão sendo desafiados através da busca por respostas, estarão desenvolvendo o pensamento crítico, formando opiniões e sabendo lidar com ideias diferentes das suas de forma respeitosa e harmoniosa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SILVA, Thiago Cruz. A Filosofia no Ensino Médio: Por que, o que e como ensiná-la? Porto Alegre, RS: UFRS, 2011.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Idade Média. A formação do homem de fé. História da Educação. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna. 1996

CEPPAS, Filipe. Anotações sobre a Formação Filosófica no Brasil. GT- 17 Filosofia da Educação. PUC. Rio de Janeiro.

KOHAN, Walter Omar. Infância, entre Educação e Filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. LIPMAN, M. A Filosofia na sala de aula: tradução Ana L. F. Falcone. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

OLIVEIRA, Rosane Machado de. Filosofia Na Escola: A Necessidade De Um Pensar Crítico E Reflexivo Em Torno Do Ensino-Aprendizagem Em Sala De Aula.  Acessado em 10/07/2024. https://isciweb.com.br/revista/1673-a-importancia-da-Filosofia-na-educacao. Acessado em 25/07/2024. 

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[1] Tecnóloga em Gestão de Recursos Humanos (UCB 2010). Licenciada em História (UNIJUÍ 2015). Especializanda em Ensino de Filosofia (UFPEL 2024). E-mail: alinetoquetto89@gmail.com.