O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7541815


Luciene das Chagas¹


Resumo: O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica cujo objetivo foi repensar o trabalho do Orientador Educacional no ambiente escolar. Para que a educação alcance a formação de cidadãos críticos e autônomos faz-se necessário que todos os segmentos da escola se manifestem de uma forma positiva. Um desses segmentos e a Orientação Educacional, que por se configurar como o elo entre a escola, o aluno e a comunidade em torno se reveste de atribuições específicas.  pode fazer a diferença na escola. Assim, busca-se refletir sobre a o papel deste profissional na contemporaneidade que não se pode dar de forma isolada das mudanças que se protagonizam na sociedade globalizada e em permanente mudança. Para tanto buscar identificar o conceito, origem e histórico da Orientação, além de expor as atribuições e responsabilidades do Orientador Educacional nos dias hodiernos.

Palavras chave: Educação, Orientação Educacional, Desenvolvimento.

Abstract: The present paper it is a literature whose aim was to rethink the work of the Guidance Counselor escolar. For environment within the range that education and training of citizens independent and critical need for all segments of the school manifest themselves in a way positif within the range that education and training of citizens independent and critical need for all segments of the school manifest themselves in a way positif a these segments and Educational Guidance, which deal directly with the student can make a difference in school, this paper reflects upon the same nowadays. It seeks to identify the concept, origin and historical orientation in addition to exposing the role and responsibilities of the Guidance Counselor today.

Keywords: Education, Educational Guidance, Development

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trata de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa em educação cujo objetivo foi analisar a trajetória histórica do pedagogo especialista em Orientação Educacional, seus avanços e recuos e uma reflexão acerca do panorama vigente na sociedade e na escola contemporâneas sobre o que se espera deste profissional.

A Orientação Educacional vista como um processo continuo e interativo na escola, articula currículo escolar e intervenção preventiva junto aos alunos cuja abordagem devendo adotar uma visão holística em que a integralidade do aluno supera o reducionismo de aquisição e transmissão acrítica de conteúdos desvinculados das experiências de vida de todos os estudantes.

 Para tanto sua atuação deve abarcar os aspectos físico, afetivo, cognitivo, motor e ético, como um construto indissociável e harmônico, aliado a uma visão política da formação para a cidadania, ou seja, capaz de construir cidadãos críticos e participativos, autônomos intelectualmente, portanto, capazes de responder competentemente aos desafios impostos pela sociedade contemporânea.

O Orientador Educacional precisa ainda, adotar uma atitude inter e transdicsciplinar, enunciando um fazer/agir que abarque todos os educadores da escola, mormente o professor, no sentido da construção de profissionais organicamente comprometidos com a emancipação humana de todos os alunos como contributo para a transformação social.

Portanto, suas ações não se dão ao largo do contexto social em que se insere a escola nem distante de uma relação efetiva com as famílias, configurando-se como o elo entre a sociedade, a escola e a comunidade em torno.

Este trabalho, com vistas a uma organização das ideias que embasaram e nortearam o rumo da pesquisa se encontra da seguinte forma estruturado: inicialmente, discorre sobre a Orientação Educacional (OE): conceito, especificidades e atribuições. Em seguida trata do resgate histórico da prática do pedagogo especialista em OE, por último analisa algumas condições ´pessoais do Orientador Educacional. Finalmente, apresenta as considerações finais do estudo.  

2 ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A Orientação Educacional (OE) pode ser concebida como um processo dinâmico, continuo e sistemático, articulado ao currículo escolar tendo como foco na intervenção preventiva e algumas vezes curativa junto aos alunos e cuja abordagem deve ser global, isto é, harmônica e equilibrada em seus aspectos físico, afetivo, cognitivo e ético. (GRISNPUN, 2003).

A OE é um processo de ações interdisciplinares, envolvendo a escola, a família e o aluno, a fim de se conhecê-lo em seus múltiplos aspectos, cooperando com o professor e sempre em contato com este.

Assim, este profissional lidera um processo educacional organizado no sentido de orientar o aluno em sua formação integral, levando-o ao conhecimento de si mesmo, de suas capacidades e dificuldades e oferecendo-lhe elementos para o seu desenvolvimento harmonioso em relação ao meio escolar e social em que se insere.

Suas ações junto aos docentes devem ocorrer de forma compartilhada e cooperativa auxiliando-os na tarefa de compreender o comportamento do grupo e do aluno no sentido de estabelecer parâmetros de ação.

No entanto, hoje, a OE não se volta para um aluno específico, a não ser em casos especiais. A OE trabalha preventivamente a partir dos dados obtidos, colaborando com o Supervisor Escolar e provendo subsídos de temas a serem desenvolvidos na formação docente continuada no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem.

O Orientador atua em estreita articulação com a família, vista como propiciadora de elementos importantes para discernir, muitas vezes, comportamentos inadequados, além de estimular os pais à participação da vida escolar de seus filhos de forma atuante, não se restringindo apenas a reuniões esparsas e descontextualizadas de sua vida social (GRISNPUN, 2003).

Conforme dito anteriormente, essas ações são efetuadas em equipe, onde todos, professor, orientador e supervisor, trabalham os diversos assuntos, sem, no entanto, obscurecer as tarefas específicas de cada um dos atores.

Portanto, o OE trabalha preventivamente nas situações de dificuldades, promovendo condições que favoreçam o aluno e criando um clima de cooperação na escola, orientando pesquisas sobre as causas do desajustamento e desempenho deficiente do aluno, assessorando o professor no planejamento de experiências que permitam ao aluno descobrir, por meio de uma auto avaliação a ressignificação de sua relação com o objeto do conhecimento. 

Assessora, portanto, os professores em seu processo de avaliação, que se espera formativa e personalizada considerando, no que diz respeito ao aluno, suas dificuldades e facilidades descobrindo o seu modo e ritmo de trabalho, sua forma de relacionar-se com os seus colegas e profissionais da escola.

Vale ressaltar que o atendimento individual, sempre que for necessário, requer uma análise prévia de todos os dados do aluno e, se necessário o encaminhamento ao atendimento de profissionais de outras áreas devendo haver sempre um olhar eminentemente pedagógico destes profissionais para que não se perca o objetivo educacional e não se retorne ao modelo clínico terapêutico de simples atendimentos clínicos.

A Orientação Educacional adapta-se ao momento histórico quando volta seu olhar para as necessidades afetivas de todos os alunos, instrumentalizando-os para o desenvolvimento de suas habilidades para responder aos imperativos da sociedade hodierna, que requer cidadãos com uma personalidade equilibrada, de forma a serem capazes de enfrentar os desafios cotidianos com responsabilidade e competência.

Sob este aspecto, os saberes escolares reelaborados propiciam o desenvolvimento pleno da individualidade humana porque liberta as ansiedades, angústias e conflitos, assim como torna possíveis a realização de sonhos e esperanças por um mundo mais justo e igualitário.

Isso porque a cada recorte da história surge uma nova necessidade, que precisa de um método próprio para intervenção. Grinspun (2003, p.16) afirma que, “[…] para se compreender as atividades desenvolvidas pelos orientadores, temos que nos deter aos diferentes períodos em que a orientação foi desenvolvida […]”, de forma a compreender, as perspectivas das atividades desenvolvidas.

Diversos fatores influenciaram os caminhos e transformações vividas pela atuação do OE a partir de meados do século passado: políticos, culturais, contextos sociais e históricos e a escola precisa adequar-se às mudanças por meio de seus profissionais. O trabalho do OE veio se transformando para responder aos desafios do processo de ensino e aprendizagem da população escolar. Sobre este aspecto, hoje se requer deste profissional ser um investigador e pesquisador da vida social, política, física, afetiva e econômica do aluno, influenciando de forma importante a cultura da escola.

Na tendência tradicionalista o OE tinha a função de ajustar o aluno à família e à sociedade, por meio de aplicação de testes no intuito de avaliar sua personalidade; suas carências e dificuldades, seus anseios e perspectivas e, a partir do resultado, eram mensuradas estratégias de acordo com um padrão pré-estabelecido de conformação. Mas na tendência renovada ou progressista, o OE assume o papel de consultor, identificador das mudanças vivenciadas pelo aluno através de atividades motivadoras, articulando a realidade social do aluno contrapondo dados entre indivíduo e sociedade, buscando o amadurecimento do estudante de forma integral para o exercício de uma cidadania ativa.

Sua atuação atualmente está focada na valorização do coletivo dos alunos, sem esquecer a diversidade de pessoas e pensamentos. Assim, para alcançar os objetivos propostos para uma educação de qualidade, ele deve atuar de forma inter e transdiciplinar junto a outros profissionais apoiando o aluno em todos os aspectos: cognitivos, afetivos e relacionais consciente de seu papel na sociedade. Para tanto, requer um profissional com boa formação psicológica, pedagógica, cultural e política para atender esse aluno diante das transformações que se dão na sociedade. 

De acordo com a Lei 9394/96 não há mais obrigatoriedade da Orientação Educacional atuar isoladamente, em salas especificamente destinadas para atendimentos individualizados como antes, mas este profissional tem espaço próprio junto aos demais protagonistas da escola para um trabalho pedagógico integrado, propositivo e sempre reavaliado pelo grupo.

A escola de hoje exige dos seus educadores um comprometimento maior com alunos oriundos de classes menos privilegiadas que trazem a marca da exclusão e marginalização quanto ao acesso a bens e serviços de qualidade, o que os torna vulneráveis a toda sorte de manifestações.

A maioria das vezes, apresentam comportamentos desviantes como forma de externalizar sua insatisfação, e até mesmo revolta com o mundo em que vive, o que demanda uma abordagem holística e uma análise das causas e dos determinantes que culminam em desvios, facilmente preveníveis e ou trabalhados sob uma perspectiva mais humanística. Para que isso aconteça, é necessário que o orientador educacional assuma sua verdadeira função, que é compreender as dificuldades enfrentadas pelos alunos. 

O trabalho do orientador dentro da escola se dá, portanto, em permanente escuta às problemáticas que os envolve e acabam enredando os alunos mais susceptíveis, a ponto de, em não intervindo adequadamente e com a ajuda da família, terem silenciadas suas vozes e anseios. Como o orientador é na verdade um pedagogo suas tarefas e atribuições devem ser redirecionadas para que assuma o que é especificamente pedagógico.

Na prática real de sua função, hoje o orientador deve procurar ajudar o aluno a construir o conhecimento, além de promover as interações entre o indivíduo e o meio em que ele vive, ou seja, deve ter sempre claro na sua prática profissional que cada aluno é um ser único em suas peculiaridades, e que reagem diferentemente ante cada desafio.  O conviver com as diferenças individuais é o que torna a ação orientadora um trabalho gratificante e importante de um estabelecimento educacional.

O trabalho do OE se direciona a todas as áreas da escola onde todos, mesmo exercendo funções diferenciadas, comungam o objetivo comum de tornar a instituição o eco dos propósitos da atual sociedade no que diz respeito ao perfil de cidadão necessário em tempos de hoje, o que requer professores críticos e reflexivos. Assim, o OE deve contribuir para a busca de uma cidadania crítica. Assim, a com base no seu nível intelectual.

3 UM BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Por volta do século XV aproximadamente, Carlos Magno estimulou a abertura de escolas, principalmente nas paróquias, onde os párocos desempenhavam uma função de orientação selecionando os jovens mais capazes para cursar as escolas. Após Carlos Magno ate praticamente o século XIX as escolas da época tinham objetivos claramente doutrinário religioso. No fim do século XIX a educação sofreu inúmeras modificações e passou a exigir uma assistência ao educando que não podia ser dada pelo professor, surgindo então a orientação formal (BRASIL,  1971)

Os Estados Unidos organizaram a Orientação Educacional nas escolas a partir de 1916 e atualmente existe em todos os seus estabelecimentos de ensino. No Brasil surgiu em 1931, em São Paulo, através de Lourenço Filho de acordo com os documentos legais a trajetória brasileira da Orientação Educacional passou por diversas transformações.

A Lei Capanema de 1942 traça as diretrizes para a Orientação Educacional nas escolas secundarias, definindo as funções de orientador.

Em 1968, a Ditadura Militar promulgou a Lei n. 5564 que estabelecia “A Orientação Educacional se destina a assistir o educando individualmente ou em grupo, no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível médio e primário, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparação para o exercício das opções básicas.

A Lei Federal 5692/71 reestruturou o ensino de 1º e 2º graus e confirmou a posição da Orientação Educacional, incluindo o aconselhamento vocacional em cooperação com professores, família e comunidade (BRASIL, 1971)

A orientação educacional se utiliza de métodos e técnicas específicas direcionadas a um melhor aproveitamento do aluno, de forma a garantir o êxito em sua trajetória escolar, o que implica considerar, além da aprendizagem dos conteúdos escolares, o desenvolvimento de habilidades e competências social e culturalmente válidas. (ALVES & GARCIA, 1999)

Manifesta-se assim, a importância do OE no cotidiano de todas as escolas de educação básica do país.

Recorrendo a Pimenta (1988), entende-se que a orientação educacional teve origem na década de 30 do século passado sob forte influência estadunidense e que incluía a ajuda ao adolescente em suas escolhas profissionais. 

No período compreendido entre 1942 e 1946, época em que não havia cursos especiais de orientação educacional, as Leis Orgânicas do Ensino se referem ao OE como técnicos de educação, sem critérios transparentes para sua contratação 

Em 1958, foi provisoriamente regulado seu exercício pelo MEC vigorando até 1961, quando a LDB 4.024/61 regulamenta a formação do Orientador Educacional. (BRASIL, 1961, p. 15).

Em 1971, surge a LDB de nº 5.692 que determina em seu artigo 10: “será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional em cooperação com os professores, a família e a comunidade” (BRASIL, 1971, p. 11).

Pimenta (1981, p. 99) pontua que “a LDB dá um sentido novo ao ensino de 1º e 2º graus: sondagem de aptidão e profissionalizante, por isso, a Orientação Educacional deveria se ocupar de aconselhamento vocacional”. 

Diversos estudos apontavam para a necessidade da definição das funções e campos de atuação do OE, no sentido de estabelecer um vínculo entre sua prática e as variações da sociedade e cultura brasileiras, das ciências humanas e das teorias da educação.

A questão discutia a atuação do OE restrita e direcionada ao disciplinamento, desconsiderando a importância de formar para uma vida cidadã, relegando a segundo plano a formação integral do estudante no que diz respeito à autonomia moral e intelectual.

Na década de 1970, críticas foram feitas à fragmentação da escola e seu descompromisso com uma atuação mais equalizadora de direitos e deveres em relação à equipe pedagógica da instituição.

Porém, a Orientação Educacional começa, na verdade, a ser problematizada a partir da década de 80, confluindo os esforços pela democratização na pré-constituinte, quando os pressupostos teóricos passam a ser ressignificados. (ALVES & GARCIA, 1999). 

O orientador passa a uma situação mais ativa no contexto social e no espaço-tempo escolar, sendo nas discussões entre currículo e sociedade, currículo e família, metodologias de ensino, objetivos, critérios de avaliação, na direção da melhoria da escola pública e da qualificação do processo de ensino e aprendizagem.

Assim, é preciso problematizar juntamente com os alunos acerca das relações que são estabelecidas no meio em que se inserem e onde desenvolvem suas experiências auxiliando-os a repensar seus valores e exercer sua cidadania.

Algumas dificuldades de aprendizagem, por serem multideterminadas precisam ser analisadas em seu contexto, o que implica considerar os fatores familiares, médicos, relacionais e afetivos, e o lugar da escola neste contexto (ALVES & GARCIA, 1999).

De fato, o caráter político da atuação do orientador educacional não se restringe ao interior da escola, mas requer múltiplos olhares, uma visão mais abrangente entre o que se passa intra e extramuros da escola.

Sem dúvida, esta visão privilegiada pode abrir novas perspectivas para a atuação do orientador, superando o reducionismo de uma prática cristalizada ao longo do exercício desta função. educacional, que hoje se defronta com fatores diversos, não se reduzindo em apenas conformar os alunos aos desideratos da escola.

Indubitavelmente, hoje, a Orientação Educacional se destina à tarefa de formar um cidadão adiante de seu tempo, que se comprometa com o presente para a construção de um futuro não muito distante, tendo em vista os avanços na sociedade, “trabalhando com esse aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas.” (GRINSPUN, 2003, p. 13)

Disto se depreende que a construção de identidades sadias demanda um processo de ensino-e aprendizagem em permanente diálogo com os valores em que se assenta a vida em sociedade e o conhecimento acadêmico, sem fragmentar a integralidade do aluno.

4  CONDIÇÕES PESSOAIS DO ORIENTADOR EDUCACIONAL

Por ser responsável pela integração do educando ao sistema educacional, o orientador deve possuir alguns requisitos pessoais imprescindíveis. Martins lista as condições pessoais desejáveis ao orientador educacional:

Equilíbrio emocional e de personalidade que não sofra influência pelos problemas do educando nem permite que seus problemas pessoais interfiram em seu trabalho; Empatia para ser capaz de colocar-se no lugar do educando a fim de melhor compreender os problemas do mesmo; Iniciativa e liderança com propósito a transmitir segurança e confiança ao educando; Domínio e vivência prática dos princípios de Psicologia das Relações humanas com intuito a relacionar-se bem com os agentes educativos e com os educandos; Sensatez moral, bom senso, justiça, veracidade a fim de levar o educando à autoeducação pelo exemplo de vida; Estímulo às relações entre pessoas nas comunidades a que pertencem as instituições da sociedade (1984, p. 31).

4.1  Funções Orientadoras

  É tarefa do Orientador Educacional buscar elementos que propiciem debates sobre questões que, direta ou indiretamente, dizem respeito ao aluno, em relação ao processo ensino-aprendizagem, com o propósito de contribuir para a reflexão de toda a equipe escolar, que inclui professores, supervisor e equipe de direção (ALVES & GARCIA, 1999).

  Para tanto, este profissional precisa participar de todas as reuniões da escola, sejam elas de pais, formação de turmas, planejamento, avaliação ou organização de festas.

  É de fundamental importância a participação do Orientador Educacional na busca de metodologias adequadas ao tipo de clientela, refletindo sobre a maneira como devem ser dados os conteúdos e sua finalidade, sem deixar de enfatizar a necessidade de que a escola transmita a todos os alunos o máximo de conteúdos, em vez de diminuí-los. Devendo estar atento para o fato que a escola tem sido o único acesso ao saber socialmente valorizado para as classes populares.

  O momento atual na Orientação está direcionado para compreender o desenvolvimento do aluno do ponto de vista cognitivo, da afetividade, da tomada de decisão, de sua inserção social.

  O especialista supervisor ou orientador deve manter um diálogo franco e cordial com a direção e o corpo docente e nunca promover uma luta entre os funcionários.

  Incentivadas durante o período de maior repressão por parte do Estado, na prática das habilitações administrativas escolares, a supervisão pedagógica e, em menor grau, a Orientação Educacional, se constituíram como fiscalizadoras do trabalho docente.

  Hoje, o especialista procura ser um aliado do professor, e mesmo com todas as inovações, continua sendo um fiscalizador, como mediador do trabalho docente e a organização escolar. A mediação escolar acontece através do contato imediato entre educador e educando. O trabalho docente possibilita o encontro formativo entre o aluno e a matéria de ensino. A função mais importante do professor é ensinar de uma maneira que todos os seus alunos aprendam.

A organização do trabalho escolar é, por sua vez, mediação entre o trabalho docente e a prática social global. Afirmar este caráter de mediação da organização escolar significa afirmar que ela não se justifica por si mesma, mas tem sua razão de ser nos efeitos que se prolongam para além dela e que persistem mesmo após a sua cessação (…) o critério para se aferir o grau de democratização atingida no interior da escola deve ser buscado, pois, na prática social (SAVIANI, 2004, p. 51).

  As relações democráticas de trabalho na escola favorecem essa mediação. Quanto mais atuante e conhecedor dos conteúdos for o professor, mais condições ele terá de exercera mediação de maneira fluída.

  A organização da escola compete aos profissionais docentes e não docentes. Muitas questões administrativas são de competência dos especialistas em educação, quase sempre do orientador educacional. Ele deve ser a figura mediadora entre a organização escolar e o trabalho docente, garantindo o êxito dos objetivos propostos do Projeto Político Pedagógico da escola.

  O trabalho do orientador educacional é de assessorar o processo ensino-aprendizagem desenvolvido na relação professor-aluno. Ele precisa convencer os alunos e os professores. Muitas vezes o professor não aceita a sugestão do orientador, gerando conflitos e descontentamento. 

4.2  Atribuições do orientador Educacional

O que se espera do OE no exercício de suas atribuições, é o de orientação, acompanhamento, implementação e avaliação do processo de ensino e aprendizagem cujo principal objetivo é criar condições para o bom desempenho de todos os educadores, mormente os professores, no sentido da emancipação humana de todos os alunos e como contributo para a transformação social.

 Sob esta visão, cabe-lhe trabalhar no sentido da consolidação de uma cultura de avaliação, de análise de dados, de intervenção pedagógica sempre com uma visão de práxis que se caracterize pela ação-reflexão-ação, sob uma perspectiva crítico-reflexiva (SAVIANI, 2004; GRINSPUN, 2003).

 Isto equivale a revestir-se de uma atitude de co-responsabilidade quanto ao sucesso dos estudantes em sua trajetória escolar, como profissionais capazes de analisar as condições concretas da unidade escolar, planejar e mediar a construção projetos educativos consistentes como uma ferramenta de apoio à Escola e aos Professores.

O profissional da Pedagogia/Orientação Educacional, ao exercer um senso crítico sobre a sua atuação age sob uma perspectiva sociopolítica e epistemológica, refletindo criticamente sobre a sua práxis na dinâmica/dialética de ação-reflexão-ação e no sentido de uma permanente busca da integralidade. Isto pressupõe a não fragmentação teoria-prática.

Sob esta ótica privilegiada é capaz de encontrar a solução para as questões que surgem em seu cotidiano, vistas como co-construção de uma experiência coletiva sob uma perspectiva de transformação.

 Desta forma, sua prática vem cada vez mais evidenciando que a educação é uma ferramenta por excelência para o desenvolvimento da consciência social dos cidadãos, o conhecimento dos direitos e deveres dos indivíduos e a tomada de consciência deste profissional para se organizar em grupo nas lutas pelos direitos sociais (SAVIANI, 2004; GRINSPUN, 2003). 

O Orientador Educacional precisa estar convicto de que a forma tradicional de se pensar o trabalho individualizado em um determinado campo de ação, não produz resultados práticos nem pode contribuir para uma vida em coletividade. No contexto da sociedade do conhecimento e aprendizagem, as escolas já não podem mais se ater ao assistencialismo e às medidas repressivas como estratégias para conter os problemas educacionais. 

Trabalhar de forma interdisciplinar, compartilhando saberes, crenças e experiências, possibilita a obtenção de um referencial teórico-metodológico capaz de avistar um futuro a partir das práticas do presente sem perder as referências do passado (GRINSPUN, 2003).

A formação do OE educacional se dá como uma habilitação dentro da pedagogia. Porém, com as discussões que passaram a ocorrer de forma sistemática a partir do início da década de 1980, a respeito da formação dos profissionais da educação, e, em especificidade do pedagogo, muitas mudanças têm ocorrido, entre elas a formação do orientador educacional como uma especialização da pós-graduação. 

Tal aprendizado possibilitou ao OE tomar posse de uma visão sistêmica do contexto escolar ficando claro que as soluções dos problemas em educação não se encontram, nas causas e efeitos da relação do indivíduo com a sociedade. 

Trabalhar dentro desta perspectiva equivale a reconstruir a forma como se vê o mundo em torno, pois, uma visão holística do processo de ensino e aprendizagem supera o reducionismo de ver no conteúdo curricular um fim e não o meio de construir a cidadania do aluno.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo analisar a trajetória histórica do pedagogo especialista em Orientação Educacional, seus avanços e recuos e uma reflexão acerca do panorama vigente na sociedade e na escola contemporâneas sobre o que se espera deste profissional.

Diversos fatores influenciaram os caminhos e transformações vividas pela atuação do OE a partir de meados do século passado: políticos, culturais, contextos sociais e históricos. Sendo assim a escola precisa adequar-se às mudanças por meio de seus profissionais. 

O trabalho do OE veio se transformando para responder aos desafios do processo de ensino e aprendizagem sob uma perspectiva político-pedagógica. Sobre este aspecto, hoje se requer deste profissional ser um investigador e pesquisador da vida social, política, física, afetiva e econômica do aluno, influenciando de forma importante a cultura da escola.

A Orientação Educacional pode ser cocompreendida como um processo dinâmico, continuo e sistemático, que centraliza seus esforços a partir da intervenção preventiva e algumas vezes curativa junto aos alunos, de forma equilibrada e a partir de sua realidade vivenciada.

Ao mesmo tempo, é um processo de ações interdisciplinares, envolvendo a escola, a família e a comunidade em torno, a fim de se conhecer o aluno e apoiá-lo em seus múltiplos aspectos, cooperando com o professor e sempre em contato com este.

Assim, este profissional lidera um processo no sentido da formação integral do aluno, garantindo-lhe, além do acesso, sua permanência com êxito pela trajetória escolar, levando-o ao conhecimento de si mesmo, de suas capacidades e dificuldades e oferecendo-lhe elementos para o seu desenvolvimento harmonioso, o que requer uma visão indissociável quanto aos aspectos, afetivo, motor, cognitivo e social.

O Orientador atua também em estreita articulação com a família, vista como propiciadora de elementos importantes para discernir, muitas vezes, comportamentos inadequados, além de estimular os pais à participação da vida escolar de seus filhos de forma ativa, não se restringindo apenas a reuniões esparsas e fragmentado do processo educativo como um todo. 

A Orientação Educacional adapta-se ao momento histórico para responder aos imperativos da sociedade hodierna, que requer cidadãos com uma personalidade equilibrada, competentes, críticos e autônomos intelectualmente. Na tendência tradicionalista o OE tinha a função de ajustar o aluno à família e à sociedade, por meio de aplicação de testes no intuito de avaliar sua personalidade; suas carências e dificuldades, seus anseios e perspectivas e, a partir do resultado, eram mensuradas estratégias de acordo com um padrão pré estabelecido de conformação. 

Mas na tendência renovada ou progressista, o OE assume o papel de consultor, identificador das mudanças vivenciadas pelo aluno através de atividades motivadoras, articulando a realidade social do aluno contrapondo dados entre indivíduo e sociedade, buscando o amadurecimento do estudante de forma integral para o exercício de uma cidadania ativa.

Sua atuação atualmente está focada na valorização do coletivo dos alunos, sem esquecer a diversidade de pessoas e pensamentos. Assim, para alcançar os objetivos propostos para uma educação de qualidade, ele deve atuar de forma inter e transdiciplinar junto a outros profissionais na direção da formação dos estudantes em todos os aspectos: cognitivos, afetivos e relacionais consciente de seu papel na sociedade. Para tanto, requer um profissional com boa formação psicológica, pedagógica, cultural e política para atender esse aluno diante das transformações que se dão na sociedade. 

Portanto, o trabalho do OE se direciona a todas as áreas da escola onde todos, mesmo exercendo funções diferenciadas, comungam o objetivo comum de tornar a instituição o eco dos propósitos da atual sociedade no que diz respeito ao perfil de cidadão necessário em tempos de hoje, o que requer professores críticos e reflexivos. 

O OE é o especialista que procura ajudar o aluno a entender a si mesmo e a desenvolver a sua capacidade de tomar decisões. Ele faz aconselhamento em alguns casos e encaminha quando julga necessário para instâncias e profissionais de outras áreas, mantendo junto a estes profissionais o caráter pedagógico da intervenção, para superar o modelo médico e fragmentado de simples atendimento.

No contexto atual, a Orientação Educacional busca maior aproximação com o projeto pedagógico da escola e procura não só atender alunos problemas, mas junto com todos os professores e alunos encontrar soluções e respostas.

A orientação educacional deve ser um serviço planejado, organizado, que vise proporcionar ao educando condições de superar suas dificuldades de aprendizagem escolar, de integração familiar e social.

No entanto, o caráter político da atuação do orientador educacional não se restringe ao interior da escola, mas requer múltiplos olhares, uma visão mais abrangente entre o que se passa intra e extramuros da escola.

Sem dúvida, esta visão privilegiada pode abrir novas perspectivas para a atuação do orientador, superando o reducionismo de uma prática cristalizada ao longo do exercício desta função. educacional, que hoje se defronta com fatores diversos, não se reduzindo em apenas conformar os alunos aos desideratos da escola.

  A organização da escola compete aos profissionais docentes e não docentes. Muitas questões administrativas são de competência dos especialistas em educação, quase sempre do orientador educacional. Ele deve ser a figura mediadora garantindo o êxito dos objetivos propostos do Projeto Político Pedagógico da escola.

  Sem dúvida, se o trabalho do orientador educacional é de assessorar o processo ensino-aprendizagem desenvolvido na relação professor-aluno, ele deve estar intencionalmente aberto a mudanças paradigmáticas cada vez mais presentes e surpreendentes no mundo em permanente mudança.

Trabalhar dentro desta perspectiva equivale a reconstruir a forma como se vê o mundo em torno, pois, uma visão holística do processo de ensino e aprendizagem supera o reducionismo de ver no conteúdo curricular um fim e não o meio de construir a cidadania do aluno.

REFERENCIAS

ALVES, Nilda e GARCIA, REGINA Leite “Atravessando Fronteiras de Descobrindo (mais uma Vez)a c omplexidade do Mundo” In:  ALVES, N. e GARCIA,R.L. (orgs) O Sentido da Escola. Rio de Janeiro:DP&A, 1999.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996. .Brasília, 1996.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 5692/71.  Brasília, 1971.

GRINSPUN, M.P.S.Z. O papel da orientação educacional diante das perspectivas atuais da escola. In._________. Supervisão e orientação educacional perspectivas de integração na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

MARTINS, João Pedro. Orientação Escolar São Paulo:  Ática, 1984.

MIGUEL, JC- Manual de Orientação-Belo Horizonte: Autêntica, 1973.

SAVIANI, Dermeval. A nova Lei da Educação: trajetórias, limites e perspectivas. São Paulo: Campinas: Autores Associados, 2004.


¹Pós Graduanda em Supervisão e Inspeção Escolar e Orientação Educacional do IST-Instituto Superior Tupy lulucitaq@hotmail.com.