O PAPEL DAS HABILIDADES EMOCIONAIS NA EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ATIVO PARA A EMPRESA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12751004


Felipe dos Santos Candido1


RESUMO 

As empresas passaram por mudanças significativas no conceito de ativo, especialmente em relação aos colaboradores. Antigamente, os trabalhadores eram vistos como meras ferramentas de produção, obrigados a trabalhar longas horas e produzir mais a cada dia, muitas vezes em condições desumanas e com salários extremamente baixos. A Teoria das Relações Humanas foi um marco importante para mudar esse paradigma, trazendo um novo conceito de colaborador dentro das empresas. A partir de então, a felicidade e o bem-estar dos trabalhadores passaram a ser considerados importantes, assim como a construção da marca da empresa. Nesse novo cenário, as empresas passaram a valorizar cada vez mais as habilidades e competências de seus colaboradores. A capacidade de desenvolver a Inteligência Emocional tornou-se fundamental para o sucesso nos negócios. Isso porque permite que as pessoas entendam e controlem suas próprias emoções, além de lidar de forma eficaz com as emoções dos outros. No entanto, é importante destacar que a responsabilidade pelo desenvolvimento das habilidades dos colaboradores não é exclusivamente da empresa. Os próprios trabalhadores também devem se dedicar a aprimorar suas habilidades e competências, e buscar o equilíbrio entre sua vida pessoal e profissional. 

Palavras-chave: Inteligência Emocional. Habilidades. Liderança. 

ABSTRACT 

Companies have undergone significant changes in the concept of assets, especially in relation to employees. Formerly, workers were seen as mere production tools, forced to work long hours and produce more every day, often under inhumane conditions and with extremely low salaries. The Human Relations Theory was an important milestone in changing this paradigm, bringing a new concept of employee within companies. From then on, workers’ happiness and well-being became important considerations, as well as the company’s brand building. In this new scenario, companies began to increasingly value the skills and competencies of their employees. The ability to develop Emotional Intelligence became fundamental for business success, as it allows people to understand and control their own emotions, as well as effectively deal with the emotions of others. However, it is important to emphasize that the responsibility for developing employees’ skills is not solely on the company. Workers themselves must also dedicate themselves to improving their skills and competencies and seek balance between their personal and professional lives. 

Keywords: Emotional Intelligence. Skills. Leadership.  

1 Introdução  

Desde a revolução industrial, o conceito de ativo para empresa mudou drasticamente. Os colaboradores, que antes eram vistos apenas como ferramenta de produção, deixando de lado todo aspecto físico e mental, hoje passaram a fazer parte do foco da empresa a partir da necessidade de humanizar e democratizar a Administração. A Teoria das Relações Humanas2, que surgiu aproximadamente em 1930, revolucionou o modo como as empresas enxergavam seus colaboradores e passaram a abandonar conceitos de autoridade e hierarquia, passando a dar mais importância para a felicidade humana.  

Com a ascensão das Relações Humanas, os colaboradores deixaram de ser meros executores de tarefas para se tornarem parte integral das estratégias e do desenvolvimento organizacional. Essa mudança exigiu novas habilidades, especialmente a capacidade de entender e gerenciar emoções próprias e alheias, conforme destacado por Goleman (1995). Além disso, os colaboradores passaram a desenvolver novas habilidades que também passaram a ser cada vez mais exigida pelas empresas, de modo que, quando uma pessoa consegue desenvolver uma boa inteligência emocional, ela consegue entender e conhecer melhor o sentimento das outras pessoas, e se adapta melhor às circunstâncias através da regulação das emoções. Com isso, capacita o indivíduo a controlar o tipo, o momento e a intensidade com que uma emoção pode ser sentida e expressa.  

No entanto, é importante que as empresas busquem participar na formação do processo de desenvolvimento de novas habilidades junto aos colaboradores, visto que o processo exige disciplina e foco, e a empresa pode utilizar ferramentas de avaliação para mensurar o desenvolvimento. Ao fim do processo, os benefícios serão compartilhados entre a organização, colaboradores e clientes.  

2 Da Revolução Industrial até os dias atuais  

Da Revolução Industrial até os dias atuais, houve grande mudança no conceito de ativo para a empresa. Antes, o homem era visto apenas como uma ferramenta de produção, onde as indústrias só se importavam com os lucros, deixando de lado todo o aspecto físico e mental dos colaboradores. Neste tempo, os colaboradores eram obrigados apenas a produzir cada vez mais, chegando no limite de suas forças físicas, e recebiam salários extremamente baixos pelos trabalhos. 

Ao fim do Padrão Ouro3, com a Grande Depressão4 e com a necessidade de humanizar e democratizar a Administração, surge aproximadamente em 1930 a Teoria das Relações Humanas, nos Estados Unidos.  

A partir da Teoria das Relações Humanas, os conceitos de autoridade e hierarquia passaram a ser abandonados ou contestados, a felicidade humana passa a ser vista de modo diferente, colaboradores ganham mais espaço dentro das empresas e surgem novas expressões na administração, como liderança, comunicação, dinâmicas em grupo, etc. 

Os colaboradores deixaram de executar somente suas tarefas para as quais foram contratados dentro das empresas e passaram também a fazer parte da construção da marca, das definições de estratégias, passando ser, assim como os clientes, o foco da empresa. Isso tornou necessário o desenvolvimento de novas habilidades, mas as empresas encontraram dificuldades para o desenvolvimento, visto que, influências intrapessoais (emoções, valores, crenças e pensamentos) e interpessoais (fatores externos, interações com outras pessoas, pressões, familiares, normas sociais) dificultavam o progresso. 

Goleman (1998) define que o primeiro passo para o desenvolvimento de novas habilidades parte do próprio indivíduo, que deve estar pronto para agir. Caso contrário, será perda de tempo e levará ao desastre. 

O desenvolvimento de novas habilidades passou a trazer ganhos e benefícios também para as empresas, que passaram a exigir cada vez mais habilidades de seus colaboradores. Quando uma pessoa consegue desenvolver uma boa inteligência emocional, ela consegue entender e conhecer melhor o sentimento das outras pessoas.  

Além disso, Mendelson e Stabile (2019) ressaltam que os líderes educacionais estão cada vez mais focados em traços e características que transcendem as habilidades técnicas. Argumentam que a IE desempenha um papel fundamental na seleção e desenvolvimento de líderes educacionais eficazes. A IE não se limita ao intelecto; ela abrange também a capacidade de gerenciar emoções, entender as necessidades dos outros e liderar com empatia e compreensão. 

A Inteligência Emocional (IE), que se popularizou por meio de Daniel Goleman (1995), com o livro “Inteligência Emocional”, destaca a importância da adaptação às circunstâncias através da regulação das emoções, de modo que, capacita o indivíduo a controlar o tipo, o momento e a intensidade com que uma emoção pode ser sentida e expressada.  

“A Teoria das Relações Humanas constatou a existência das necessidades humanas básicas. O comportamento humano é determinado por causas que, às vezes, escapam ao próprio entendimento e controle da pessoa. (Chiavenato, 2003, p.119).” 

É importante que as empresas auxiliem seus colaboradores no desenvolvimento e manutenção de suas habilidades. Existem diversos tipos de avaliações sobre desempenho que ajudam, como: avaliação baseada em objetivos, competências, resultados, competências interpessoais, desempenho comportamental, entre outras. Desenvolver ou melhorar uma habilidade é um processo gradual que requer disciplina e comprometimento, pois durante o processo haverá recaídas (velhos hábitos) consideradas como parte do processo e as pessoas devem saber entender e lidar com o processo e entendê-lo. 

Segundo Goleman (1998), cultivar um novo hábito é eliminar o velho hábito e o domínio da nova competência é definido quando a resposta do cérebro passar a ser a condição de resposta automática naquele momento.  

Glassie e Schutte (2024), complementam este entendimento ao explorar a associação entre a Inteligência Emocional e otimismo. A consciência emocional e a regulação emocional são fatores críticos que contribuem para uma visão otimista do futuro organizacional, de forma que, aqueles que são capazes de perceber e responder às emoções de maneira adaptativa tendem a manter um estado emocional positivo, promovendo assim um ambiente de trabalho mais produtivo e harmonioso. 

A liderança eficaz vai muito além das simples métricas de desempenho empresarial, impactando profundamente o bem-estar ideal dos membros da equipe (Goleman e Cherniss, 2024). Segundo os autores, a capacidade de influenciar positivamente os outros é o cerne da liderança eficaz. A inteligência emocional de um líder não apenas ajuda na gestão de suas próprias emoções, mas também promove uma cultura organizacional de resiliência e adaptação. 

Os benefícios do desenvolvimento vão muito além das condições de tomada de decisão, várias empresas utilizaram e utilizam de estratégia de marketing e vendas com base no desenvolvimento de inteligência emocional, onde seus clientes e consumidores adquirem a confiança na marca de tal modo que deixam totalmente de lado as evidências empíricas. 

Segundo Sinek (2018), empresas como Apple e Coca-Cola, por exemplo, não precisam convencer um cliente de adquirir seus produtos, em razão de que seus consumidores possuem plena confiança nas companhias e nos produtos oferecidos, pois a decisão de compra partiu de dentro para fora, ou seja, uma decisão emocional por parte dos clientes e consumidores. 

3 Considerações Finais  

A Teoria das Relações Humanas trouxe uma nova abordagem ao mundo empresarial, onde o colaborador passou a ser visto como um ativo importante para a empresa. As empresas perceberam que, para alcançar seus objetivos, era necessário valorizar e humanizar seus colaboradores. Com isso, surgiram novas expressões na administração, como liderança, comunicação e dinâmicas em grupo, e o desenvolvimento de novas habilidades tornou-se fundamental para os colaboradores. 

A IE, popularizada por Daniel Goleman, destaca a importância da regulação das emoções e capacita o indivíduo a controlar o tipo, o momento e a intensidade com que uma emoção pode ser sentida e expressada. Isso se tornou fundamental para as empresas, que utilizam a estratégia de marketing e vendas baseada no desenvolvimento da IE. Empresas como Apple e Coca-Cola são exemplos de companhias que não precisam convencer um cliente a adquirir seus produtos, pois seus consumidores possuem plena confiança nas empresas e nos produtos oferecidos. Portanto, o desenvolvimento de habilidades e a valorização do colaborador são benéficos não apenas para o indivíduo, mas também para a empresa. As empresas devem auxiliar seus colaboradores no desenvolvimento e manutenção de suas habilidades, utilizando avaliações de desempenho que ajudam nesse processo. Com isso, a empresa ganha em produtividade e eficiência, e o colaborador ganha em qualidade de vida e satisfação profissional. É necessário entender que o desenvolvimento de habilidades é um processo gradual que requer disciplina e comprometimento, e as recaídas são consideradas como parte do processo. O importante é compreender o processo e lidar com ele da melhor forma possível. 

4 Referências Bibliográficas 

Chiavenato, I. (2014). Introdução à teoria geral da administração (9th ed.). Editora Manole. 

Cobêro, C., Primi, R., & Muniz, M. (2006). Inteligência emocional e desempenho no trabalho: um estudo com MSCEIT, BPR-5 e 16PF. Paidéia, 16(35), 337-348. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2006000300005 

Fonseca, L., Valle, T. M. d., Reis, R., & Mesquita, K. (2016). INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: UMA COMPETÊNCIA DA ATUALIDADE [Master’s thesis]. 

Glassie, S. L., & Schutte, N. S. (2024, January 12). The relationship between emotional intelligence and optimism: A meta-analysis. International Journal of Psychology, 59(3), 353-367. https://doi.org/10.1002/ijop.13108 

Goleman, D. (1999). Trabalhando com a inteligência emocional. Objetiva. 

Goleman, D., & Cherniss, C. (2024). OPTIMAL LEADERSHIP AND EMOTIONAL INTELLIGENCE. Leader to Leader, 2024(113), 7-12. https://doi.org/10.1002/ltl.20813 

Marcondes, R. L. (1198). Padrão-Ouro eEstabilidade. Estudos Econômicos, 28(3), 533-559. https://doi.org/10.1590/1980-53572836rlm 

Mendelson, R. A., & Stabile, C. (2019, December 30). Emotional Intelligence: What does it look like in Education Leadership? New Directions for Teaching and Learning, 2019(160), 11-17. https://doi.org/10.1002/tl.20361 

Prado, L. C. D. (2011, December). A Grande Depressão e a Grande Recessão: Uma comparação das crises de 1929 e 2008 nos EUA. Revista Econômica, 13(2), 9-44. https://doi.org/10.22409/reuff.v13i2.34830 

Rossés , G. F., Gelatti, C. B., da Silva, A., dos Passos, L. J., & do Amaral, L. S. (2010). Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. VII SEGeT. 

Sinek , S. (2018). Comece pelo porquê: Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir (1st ed.). Editora Sextante.