O PAPEL DA AVALIAÇÃO NAS FEIRAS DE MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ORIENTADORES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241170945


Carolina Aparecida
Marcelino Schmitt


Resumo

As feiras de matemática consolidaram-se como espaços de aprendizagem que transcendem a mera exposição de projetos, desempenhando um papel formativo essencial na formação de professores orientadores. Este estudo, de natureza bibliográfica, analisa os processos avaliativos dessas feiras e sua contribuição para o desenvolvimento profissional docente. Com base em referenciais teóricos, como o conceito de “terceiro espaço formativo”, a pesquisa destaca como a avaliação colabora para a integração entre teoria e prática, fomentando reflexões sobre metodologias e práticas pedagógicas. Os resultados apontam para a relevância das feiras na valorização da identidade profissional dos professores, na promoção da interdisciplinaridade e na melhoria da qualidade do ensino matemático. Conclui-se que as feiras representam dispositivos formativos estratégicos, impulsionando a inovação pedagógica e a construção de uma cultura avaliativa mais inclusiva e processual.

Palavras-chave: Feiras de matemática, Avaliação formativa, Formação docente, Ensino da matemática.

Abstract

Mathematics fairs have established themselves as learning spaces that transcend the mere exhibition of projects, playing a vital formative role in the training of mentor teachers. This bibliographical study analyzes the evaluative processes of these fairs and their contribution to professional teacher development. Based on theoretical frameworks, such as the concept of the “third formative space,” the research highlights how evaluation aids in integrating theory and practice, fostering reflections on methodologies and pedagogical practices. The results emphasize the fairs’ relevance in enhancing teachers’ professional identity, promoting interdisciplinarity, and improving the quality of mathematics teaching. It concludes that fairs represent strategic formative devices, driving pedagogical innovation and building a more inclusive and process-oriented evaluative culture.

Keywords: Mathematics fairs, Formative assessment, Teacher training, Mathematics education.

INTRODUÇÃO

As feiras de matemática têm se consolidado como importantes espaços de aprendizagem no contexto educacional brasileiro, desempenhando um papel central na formação docente e na promoção de práticas pedagógicas inovadoras. Desde sua origem, essas feiras oferecem um ambiente colaborativo que conecta professores, estudantes e a comunidade em torno da construção e socialização do conhecimento matemático. Além disso, proporcionam oportunidades para que os professores orientadores reflitam sobre suas práticas e desenvolvam habilidades alinhadas às demandas do ensino.

No cenário atual, caracterizado por rápidas transformações na educação, as feiras de matemática destacam-se por promoverem a interdisciplinaridade, a criatividade e o protagonismo discente. Ao integrarem teoria e prática, esses eventos vão além de uma mera exposição de projetos, assumindo um papel formativo, especialmente por meio dos processos avaliativos que envolvem orientadores e avaliadores. Como enfatizado por autores como Biembengut e Zermiani (2014), a avaliação realizada nas feiras não apenas incentiva a inovação, mas também possibilita a adoção de práticas mais inclusivas e contextualizadas.

Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar como os processos avaliativos das feiras de matemática contribuem para a formação pedagógica e profissional dos professores orientadores, destacando os impactos dessas práticas no desenvolvimento de estratégias pedagógicas, na interação com os estudantes e na motivação docente. A partir de uma revisão bibliográfica, são explorados conceitos fundamentais relacionados ao tema, como o de “terceiro espaço formativo” (Zeichner, 2010), e as dinâmicas colaborativas que caracterizam esses eventos.

A relevância deste artigo reside na necessidade de compreender o papel das feiras de matemática como ferramentas para a transformação do ensino e para a valorização da prática docente. Ao evidenciar as contribuições dessas feiras para a formação dos professores, busca-se também reforçar sua importância como elemento estratégico para o fortalecimento da educação matemática no Brasil.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O CONTEXTO E A IMPORTÂNCIA DAS FEIRAS DE MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE

As feiras de matemática têm sido um elemento significativo no panorama educacional brasileiro desde sua origem em 1985, oferecendo um espaço colaborativo para o desenvolvimento de habilidades docentes e a integração de múltiplos níveis de ensino. Segundo Zermiani (2002), essas feiras surgiram com o propósito de transformar a matemática em uma ciência descoberta pelos estudantes, ao invés de uma imposição dos professores, promovendo uma interação mais dinâmica entre teoria e prática no ambiente escolar. Essa perspectiva inovadora destaca o papel das feiras como laboratórios vivos de aprendizado, coparticipados pela comunidade, que contribuem para a construção de um ensino mais humanizado e inclusivo (Rodrigues; Santos, 2021).

No âmbito da formação docente, as feiras proporcionam um espaço singular para o intercâmbio de experiências pedagógicas e a reflexão sobre práticas educativas. De acordo com Oliveira e Civiero (2019), esses eventos além de promover a socialização de conhecimentos matemáticos, estimulam também os professores a revisitar suas abordagens metodológicas, considerando as contribuições recebidas durante as avaliações e interações com outros educadores. Esse ciclo contínuo de aprendizado fortalece a prática docente e amplia a compreensão dos professores sobre o papel transformador da matemática no contexto educacional.

Além disso, as feiras de matemática configuram-se como um “terceiro espaço formativo”, conceito elucidado por Zeichner (2010), onde há uma aproximação entre universidade e escola, criando uma articulação efetiva entre teoria e prática. Esse ambiente híbrido é importante para superar as tradicionais desconexões entre o conhecimento acadêmico e o prático, oferecendo aos professores orientadores a oportunidade de integrar essas dimensões em sua atuação pedagógica (Rodrigues; Santos, 2021). Essa interação possibilita uma formação mais completa e contextualizada, alinhada às demandas contemporâneas do ensino

A avaliação nas feiras de matemática também é importante para o desenvolvimento dos professores orientadores, especialmente ao promover um processo reflexivo e colaborativo. Conforme destacado por Civiero, Possamai e Andrade Filho (2017), a avaliação é estruturada de forma a incentivar o diálogo entre avaliadores, orientadores e estudantes, fomentando um ambiente de aprendizagem mútua. Essa abordagem transcende o caráter tecnicista tradicional da avaliação escolar, proporcionando um espaço onde os professores podem experimentar novas metodologias e expandir suas perspectivas sobre o ensino da matemática

Segundo Biembengut e Zermiani (2014), outro aspecto relevante das feiras é a capacidade de fomentar a criatividade e a inovação pedagógica. os professores orientadores são encorajados a desenvolver projetos que integram múltiplas disciplinas, promovendo uma visão interdisciplinar do ensino. Essa prática não apenas enriquece a formação dos professores, mas também fortalece a conexão entre os conteúdos curriculares e as realidades vivenciadas pelos estudantes, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais significativo e contextualizado.

Conforme observado por Santos e Angelim (2019), as feiras também oferecem uma oportunidade ímpar para que os professores orientadores ampliem suas redes profissionais e estabeleçam colaborações que vão além do ambiente escolar. esses eventos promovem a troca de conhecimentos e práticas pedagógicas entre docentes de diferentes regiões e contextos educacionais, contribuindo para a construção de uma comunidade de aprendizagem contínua.

De acordo com Oliveira, Hoeller, Civiero e Bauer (2012), as feiras de matemática possibilitam um olhar crítico sobre as práticas de ensino e os métodos avaliativos utilizados nas escolas, a participação nas feiras incentiva os professores a refletirem sobre suas concepções de avaliação e a considerarem abordagens mais inclusivas e processuais. Essa mudança de paradigma é essencial para alinhar o ensino às demandas de uma educação mais equitativa e voltada para o desenvolvimento integral dos estudantes.

O impacto das feiras na formação docente também se manifesta, segundo Bauer et al. (2012), na capacidade dos professores orientadores de adaptar suas práticas para atender às necessidades específicas de seus alunos. O autor argumenta que os professores que participam das feiras desenvolvem uma maior sensibilidade para identificar e responder às dificuldades de aprendizagem, utilizando estratégias diferenciadas e inovadoras, sendo esse aprimoramento essencial para promover a inclusão e a equidade no ensino da matemática.

Ressalta-se ainda que as feiras de matemática funcionam como um espaço de valorização da prática docente, reconhecendo o esforço e a dedicação dos professores orientadores. Segundo Zabel e Scheller (2019), a participação nesses eventos é uma forma de celebrar as contribuições dos professores para o avanço da educação matemática, fortalecendo sua identidade profissional e sua motivação para continuar aprimorando suas práticas pedagógicas.

De acordo com Assunção e Escher (2019), os professores que participam desses eventos desenvolvem uma visão mais ampla e integrada do currículo, explorando possibilidades de ensino que promovem a interconexão entre diferentes áreas do conhecimento, contribuindo para a construção de um ensino mais holístico e significativo.

Outro ponto de destaque é o papel das feiras na formação continuada dos professores orientadores. Conforme observado por Melo, Siewert e Guttschow (2018), esses eventos oferecem um espaço para a atualização e o aperfeiçoamento profissional, permitindo que os professores acompanhem as tendências e inovações na área de educação matemática.

Assim, as feiras de matemática representam um espaço de construção coletiva do conhecimento, onde professores, estudantes e a comunidade escolar trabalham em conjunto para explorar e solucionar problemas matemáticos. Conforme destacado por Santos e Angelim (2019), essa abordagem colaborativa é fundamental para a promoção de uma educação mais democrática e inclusiva, que valoriza a diversidade de perspectivas e experiências.

2.2  PROCESSOS AVALIATIVOS NAS FEIRAS DE MATEMÁTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

De acordo com Rodrigues e Santos (2021) as feiras de matemática, ao incorporarem processos avaliativos, transformam-se em espaços dinâmicos de aprendizagem e desenvolvimento para professores orientadores. Esse movimento, segundo os autores, não se limita ao simples julgamento dos projetos apresentados, mas engloba uma interação rica que estimula reflexões sobre práticas pedagógicas e metodologias de ensino. Nesse contexto, os professores avaliam e também ampliam sua compreensão sobre as múltiplas dimensões do aprendizado matemático.

Ao acompanhar os estudantes na elaboração e apresentação de projetos, os professores orientadores vivenciam um processo contínuo de autodescoberta, segundo Civiero, Possamai e Andrade Filho (2017), a avaliação realizada nas feiras possibilita que os docentes identifiquem os pontos fortes e as fragilidades de suas abordagens, promovendo uma constante evolução em sua prática pedagógica.

Esse ambiente de avaliação formativa, como apontam Siewert e Andrade Filho (2022), diferencia-se por seu foco no desenvolvimento integral dos participantes. Em vez de priorizar resultados imediatos, busca-se fomentar uma análise reflexiva que permita aos professores adaptarem suas práticas às demandas contemporâneas. É durante as discussões e trocas de ideias que os orientadores têm a chance de reavaliar suas concepções sobre o ensino da matemática, integrando novas perspectivas ao seu trabalho.

Além disso, o diálogo entre avaliadores e orientadores nas feiras é fundamental para fortalecer o papel dos professores como mediadores do conhecimento. Oliveira, Civiero e Guerra (2019) destacam que essa interação ajuda os docentes a desenvolverem uma visão mais ampla sobre o processo de ensino-aprendizagem, permitindo a aplicação de abordagens mais inclusivas e contextualizadas.

Biembengut e Zermiani (2014) menciona que  As avaliações realizadas durante as feiras avaliam o conteúdo matemático, e incentivam a criatividade e a interdisciplinaridade, os professores são estimulados a explorar conexões entre diferentes áreas do conhecimento, criando projetos que transcendem os limites tradicionais da sala de aula. Essa abordagem amplia as possibilidades de ensino e promove uma educação mais integrada e significativa.

Outro aspecto relevante é o impacto das avaliações na autoestima e no reconhecimento profissional dos professores orientadores. Conforme observado por Zabel e Scheller (2020), a participação nas feiras de matemática e o retorno dos avaliadores fortalecem a identidade profissional dos docentes, motivando-os a continuar investindo em sua formação e no aprimoramento de suas práticas. Essa valorização é essencial para manter o entusiasmo e o compromisso dos professores com a educação.

Ainda, as feiras oferecem aos professores orientadores uma oportunidade única de vivenciar um aprendizado colaborativo. Santos, Oliveira e Civiero (2020) argumentam que a interação entre professores, alunos e avaliadores cria um ambiente de coaprendizagem, onde todos contribuem para o crescimento mútuo. Essa dinâmica reforça a importância da colaboração no processo educativo, transformando as feiras em espaços ricos em possibilidades pedagógicas.

As contribuições das avaliações para a prática docente, de acordo com Oliveira et al. (2012) também se refletem na adaptação e inovação metodológica. Os autores apontam que os professores, ao receberem os retornos avaliativos, são incentivados a revisar e ajustar suas abordagens, experimentando novas formas de ensinar.

Por outro lado, o caráter interdisciplinar das feiras incentiva os professores a olharem além das fronteiras de sua área específica, conectando a matemática a outros campos do saber. Biembengut e Zermiani (2014) enfatizam que essa perspectiva amplia as possibilidades de ensino, tornando-o mais relevante e engajador para os alunos. Essa abordagem interdisciplinar é particularmente eficaz em promover o interesse e a motivação dos estudantes pelo aprendizado matemático.

As feiras também oferecem uma plataforma para que os professores orientadores compartilhem suas experiências e aprendam com as práticas de outros colegas. De acordo com Andrade Filho et al. (2017), essa troca de conhecimentos é fundamental para o desenvolvimento profissional, permitindo que os docentes ampliem sua rede de contatos e adquiram novas ideias para aplicar em suas escolas. Esse aspecto comunitário das feiras é uma das razões de seu sucesso como ferramenta de formação docente.

Além disso, os processos avaliativos ajudam os professores a desenvolverem um olhar mais crítico e analítico sobre os projetos apresentados, segundo Rodrigues e Santos (2021) essa habilidade é essencial para que os docentes possam identificar padrões, propor melhorias e promover um aprendizado mais significativo para seus alunos.

Dessa forma, as avaliações realizadas nas feiras têm um impacto duradouro na prática pedagógica dos professores orientadores. Luckesi (2005) observa que, ao incorporarem os aprendizados obtidos nas avaliações, os docentes são capazes de transformar suas abordagens de ensino, promovendo uma educação mais inclusiva e centrada no aluno. Esse impacto vai além das feiras, influenciando diretamente a qualidade do ensino nas escolas.

2.3  A AVALIAÇÃO COMO DISPOSITIVO MEDIADOR DO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E DA IDENTIDADE DOCENTE

A avaliação nas feiras de matemática não se limita à análise técnica dos projetos apresentados, mas se desdobra como um importante dispositivo mediador do desenvolvimento profissional e da consolidação da identidade docente. Ao atuarem como orientadores, os professores vivenciam um processo formativo contínuo, em que o ato avaliativo se torna um instrumento de reflexão crítica sobre suas práticas, crenças pedagógicas e concepções acerca da matemática, do ensino e da aprendizagem (Civiero; Possamai; Andrade Filho, 2017).

Nesse contexto, a avaliação, entendida em um sentido formativo, promove a articulação entre teoria e prática ao oferecer um espaço no qual os professores podem experimentar, questionar e (re)significar seus fazeres pedagógicos (Zeichner, 2010). Ao receberem feedbacks de avaliadores, colegas docentes e estudantes, os professores orientadores se deparam com questionamentos que vão além dos conteúdos matemáticos apresentados, alcançando dimensões como a clareza dos objetivos didáticos, a pertinência das metodologias empregadas e a relevância dos projetos diante dos contextos socioeducacionais nos quais estão inseridos (Biembengut; Zermiani, 2014; Oliveira et al., 2012).

Esse processo, portanto, contribui para a superação da perspectiva tecnicista de avaliação, muitas vezes centrada unicamente na verificação de resultados. Ao contrário, nas feiras de matemática a avaliação assume um caráter dialógico, ao envolver trocas entre todos os atores envolvidos, valorizando o percurso formativo do professor e reconhecendo-o como sujeito ativo na construção de saberes (Rodrigues; Santos, 2021). Nessa interação, o professor orientador não é apenas avaliado, mas também avalia o contexto, os recursos disponíveis, a participação dos estudantes, e sobretudo suas próprias estratégias de mediação do conhecimento.

A avaliação, nesse sentido, torna-se uma ponte entre o “terceiro espaço formativo” (Zeichner, 2010) — que integra vivências acadêmicas, práticas escolares e saberes comunitários — e o desenvolvimento de competências profissionais complexas. Ao revisitar seus pressupostos pedagógicos diante dos retornos avaliativos, o professor amplia sua percepção sobre a diversidade de perfis e ritmos de aprendizagem, aprimorando sua capacidade de adequar o ensino às necessidades e potencialidades dos estudantes (Andrade Filho, 2017). Essa sensibilidade didática é, portanto, lapidada continuamente, contribuindo para o fortalecimento da identidade docente e para a consolidação de uma visão mais ampla e crítica sobre o ensino da matemática.

Ademais, ao dialogar com outros professores orientadores, avaliadores e pesquisadores, o docente encontra um ambiente propício à socialização de experiências e à construção colaborativa de conhecimentos. Assim, a avaliação não apenas fomenta um processo individual de crescimento, mas também impulsiona a formação de redes profissionais que apoiam a inovação pedagógica, o intercâmbio de metodologias e a busca por soluções criativas para os desafios educativos contemporâneos (Santos, 2019).

Sendo assim, a avaliação nas feiras de matemática configura-se como um momento de mediação formativa, em que o professor orientador se vê instigado a refletir criticamente sobre suas práticas, a revisitar suas concepções sobre a matemática e o ensino, e a dialogar com pares e especialistas. Desse modo, ela contribui decisivamente para o desenvolvimento profissional do docente, fortalecendo sua identidade e qualificando sua atuação, ao mesmo tempo em que promove transformações mais amplas nos processos de ensino-aprendizagem da matemática.

3 METODOLOGIA

Este trabalho adota a metodologia de revisão bibliográfica,  a qual é uma abordagem que permite reunir e interpretar conhecimentos já consolidados na literatura, oferecendo subsídios teóricos para a discussão dos temas abordados.

A construção do referencial teórico baseou-se em estudos científicos previamente publicados, priorizando artigos, livros e anais de eventos que abordam a temática das feiras de matemática, a formação docente e os processos avaliativos. A pesquisa foi realizada em bases acadêmicas como Scielo, Google Scholar e periódicos especializados em educação e matemática, utilizando palavras-chave como “feiras de matemática”, “formação docente” e “avaliação formativa”.

Após o levantamento, os textos foram submetidos a uma leitura exploratória, com o objetivo de identificar aqueles que apresentavam discussões alinhadas aos objetivos do estudo.

Por se tratar de uma revisão bibliográfica, o estudo não incluiu coleta de dados primários ou entrevistas com professores orientadores. No entanto, as obras analisadas oferecem uma base teórica para discutir os impactos das feiras de matemática na formação docente.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos estudos selecionados e a reflexão teórica empreendida ao longo deste trabalho evidenciam o papel estratégico das feiras de matemática na formação dos professores orientadores, sobretudo por meio de processos avaliativos dialógicos e formativos. Embora a pesquisa aqui apresentada seja de caráter bibliográfico, a convergência de resultados encontrados na literatura aponta para um conjunto de contribuições importantes dessas feiras na melhoria da prática docente, no fortalecimento da identidade profissional dos professores e na promoção de estratégias de ensino mais inclusivas e contextualizadas.

Em primeiro lugar, constatou-se que a avaliação no contexto das feiras de matemática opera como um dispositivo mediador que vai além da mera certificação ou medição de resultados. Diferentemente da avaliação tradicional, muitas vezes centrada em notas e aspectos quantitativos, as feiras propõem uma avaliação processual, dialogada e formativa (Civiero; Possamai; Andrade Filho, 2017; Luckesi, 2005). Essa característica possibilita aos professores orientadores uma compreensão mais ampla sobre o papel do feedback, transformando a avaliação em um momento de reflexão sobre as práticas pedagógicas, as concepções de aprendizagem e as demandas específicas dos alunos.

Outro aspecto emergente dos resultados consiste no reconhecimento de que a participação nas feiras de matemática impulsiona o desenvolvimento de competências profissionais complexas. Ao orientarem projetos, acompanharem o processo de construção do conhecimento pelos estudantes, receberem feedback dos avaliadores e trocarem experiências com outros docentes, os professores ampliam seu repertório didático-metodológico, consolidam conhecimentos matemáticos e aprimoram sua habilidade de articular teoria e prática (Rodrigues; Santos, 2021; Zeichner, 2010). Esse processo formativo contínuo contribui para a criação de um “terceiro espaço” no qual saberes da academia, da prática escolar e das comunidades se encontram e se enriquecem mutuamente.

A literatura aponta ainda para o impacto da participação nas feiras sobre a identidade docente. Ao sentirem-se valorizados pelos pares, avaliadores e pela comunidade escolar, bem como ao perceberem avanços reais na aprendizagem dos estudantes, os professores orientadores fortalecem sua autoconfiança, motivação e percepção de relevância social do seu trabalho (Zabel; Scheller, 2019; Santos; Angelim, 2019). Esse fortalecimento identitário reflete-se na determinação em continuar aprimorando suas práticas, buscando formações continuadas e assumindo uma postura reflexiva perante os desafios educacionais.

Além disso, os resultados indicam que a natureza interdisciplinar e contextualizada dos projetos apresentados nas feiras atua como um catalisador para a inovação pedagógica. Ao incentivarem a integração entre a matemática e outras áreas do conhecimento, bem como ao conectarem o conteúdo escolar a situações reais da vida dos estudantes, os professores orientadores desenvolvem uma prática mais significativa, que envolve e motiva a participação discente (Biembengut; Zermiani, 2014). Isso contribui não apenas para a aprendizagem mais profunda dos estudantes, mas também para a diversificação das abordagens didáticas, com potencial de melhorar a qualidade do ensino de matemática em contextos variados.

A análise das publicações consultadas destaca o potencial das feiras de matemática como espaços de formação continuada, nos quais o aprendizado não se encerra após a realização do evento. As redes de colaboração estabelecidas entre docentes, o intercâmbio de experiências bem-sucedidas e as reflexões geradas a partir dos processos avaliativos tendem a reverberar no cotidiano escolar, promovendo, em longo prazo, melhorias tangíveis na prática docente e no desempenho dos alunos. Dessa forma, as feiras funcionam como laboratórios vivos de inovação pedagógica, nos quais a avaliação deixa de ser um fim em si mesma para tornar-se um instrumento formativo, transformando a cultura avaliativa vigente na educação.

Em suma, os resultados e a discussão aqui apresentados reforçam a relevância das feiras de matemática não só como eventos pontuais, mas como parte de uma política formativa ampla e contínua. Ao atuarem como espaços híbridos, colaborativos e reflexivos, as feiras promovem a construção coletiva do conhecimento, o desenvolvimento de práticas mais inclusivas e o fortalecimento da identidade profissional docente.

CONCLUSÃO

Este estudo evidenciou que as feiras de matemática exercem um papel significativo na formação dos professores orientadores, atuando como espaços híbridos de aprendizagem, onde teoria e prática se encontram. Ao analisarmos o impacto dos processos avaliativos nessas feiras, constatamos que a avaliação deixa de ser vista como mera ferramenta de mensuração e assume um caráter formativo, dialógico e reflexivo.

A partir dos referenciais teóricos e da discussão apresentada, torna-se claro que as feiras de matemática, ao promoverem a socialização de saberes, o intercâmbio de experiências pedagógicas e o diálogo entre professores, avaliadores e estudantes, contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento profissional dos docentes. Nesse contexto, a avaliação não se limita à análise dos resultados apresentados pelos estudantes, mas amplia-se para abarcar práticas, metodologias, concepções de ensino e a própria identidade docente.

Além disso, a participação nessas atividades fortalece a autonomia e a motivação dos professores, incentivando-os a repensar suas estratégias, integrar diferentes áreas do conhecimento, experimentar abordagens inovadoras e priorizar o protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento matemático. Esse movimento repercute na qualidade do ensino, na relevância social das práticas pedagógicas e na construção de uma cultura avaliativa mais inclusiva, processual e significativa.

Dessa forma, as feiras de matemática apresentam-se não apenas como eventos pontuais, mas como importantes dispositivos formativos que impactam a prática docente para além do seu período de realização. Por meio do envolvimento ativo, do diálogo e da reflexão crítica proporcionados pelos processos avaliativos, as feiras tornam-se um elemento-chave para a melhoria contínua do ensino da matemática, para o fortalecimento da identidade docente e para a promoção de uma educação mais integral, contextualizada e comprometida com a aprendizagem efetiva dos estudantes.

REFERÊNCIAS

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