O OLHAR SIMBÓLICO DA COLONIALIDADE NO TRABALHO DOMÉSTICO DE HOMENS NEGROS NOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504091459


Anderson Souza dos Santos1


RESUMO 

Considerando o debate do Simbolismo nos estudos organizacionais, o objetivo deste artigo é evidenciar como esta abordagem pode contribuir com a compreensão e análise sobre as colonialidades nas vivências precarizadas de homens negros no âmbito do trabalho doméstico. Os conteúdos apresentados, em princípio, podem reforçar a importância de ressignificar determinados padrões de opressões dominantes que se ampliam nas diferentes esferas da vida social, nas práticas cotidianas e nas organizações com impactos em segmentos da população, nesta análise, em especial, homens negros em contexto de trabalho doméstico. Parte da pesquisa bibliográfica sobre o simbolismo, como eixo condutor para a análise dos estudos organizacionais e, também, do diálogo desta categoria com o trabalho doméstico. Evidencia os simbolismos e as práticas da colonialidade e decolonialidade presentes nestas vivências (homens negros), via de regra, vistas por um olhar colonizado, secundarizado pelo racismo. Entretanto, à vista disso, a presente análise empenha-se em capturar outros movimentos do saber, poder e ser para se estabelecer pontes a partir de um olhar descolonizado e com outros sentidos contra-hegemônicos destas práticas e seu potencial no campo dos EO. 

PALAVRAS-CHAVE: Simbolismo; trabalho doméstico de homens negros; (de)colonialidade; estudos organizacionais. 

1. INTRODUÇÃO 

Este artigo trata do debate do simbolismo nos estudos organizacionais, tendo por objetivo evidenciar como esta abordagem presente nas Ciências Humanas e Sociais vêm, em um movimento crescente, nas últimas décadas, provocando uma ampliação dos horizontes nos estudos organizacionais, como um campo de possibilidades que visam romper com abordagens tradicionais (Morgan; Frost; Pondy, 1983). 

A partir das rupturas metodológicas e epistemológicas acumuladas no campo do simbolismo (Morga;  Frost; Pondy, 1983; Weber; Dacin, 2011; Duarte; Alcapadipani, 2016), encontro interlocuções importantes que podem contribuir para o desenvolvimento da pesquisa sobre a (de)colonialidade inscrita nas vivencias precarizadas de caseiros negros. No que tange, em especial, na ampliação das perspectivas de análise que sob o olhar tradicional, aprisionaram o tema como um campo secundarizado e subalternizado nos estudos organizacionais que se referenciam, ainda, no conhecimento apoiado em dogmas e afirmativas hegemônicas, com profundas relações com o colonialismo e sua reprodução no desenvolvimento das relações capitalistas de dominação.  

Sendo assim, o objetivo deste artigo é evidenciar como a abordagem apresentada pode contribuir para a compreensão e análise acerca das colonialidades nas vivências precarizadas de homens negros no âmbito do trabalho doméstico. Pretende-se, com isso, problematizar aspectos relacionados às relações de trabalho dos caseiros negros e apontar como o simbolismo subsidia entendimentos outros sobre as referidas vivências. Um estudo que se soma, portanto, no campo organizacional para a superação destas hegemonias constituídas pelo saber, poder e ser (Quijano, 2005), caminhando para novas fronteiras decoloniais. 

Sendo assim, o objetivo deste artigo é evidenciar como a abordagem apresentada pode contribuir para a compreensão e análise das colonialidades nas vivências precarizadas de homens negros no âmbito do trabalho doméstico. Pretende-se, com isso, problematizar aspectos relacionados às relações de trabalho dos caseiros negros e mostrar como o simbolismo pode proporcionar novos insights sobre essas experiências. Este estudo se insere, portanto, no campo organizacional, buscando superar as hegemonias estabelecidas pelo saber, poder e ser (Quijano, 2005), e avançar em direção a novas fronteiras decoloniais. 

A justificativa e a relevância do debate sobre as vivências precarizadas de homens negros no trabalho doméstico podem ser resumidas da seguinte forma, utilizando argumentos teóricos para colocar o problema de pesquisa em foco: Marginalização e Invisibilidade: Historicamente, os estudos organizacionais têm negligenciado as experiências dos homens negros no trabalho doméstico, focando predominantemente nas mulheres. Esta lacuna reflete a marginalização desses trabalhadores dentro das estruturas de pesquisa e práticas organizacionais, ignorando suas realidades específicas e as interseções entre raça e gênero que moldam suas experiências (Teixeira, 2015).Abordagem Decolonial: A abordagem decolonial proposta neste estudo busca desafiar as narrativas hegemônicas que perpetuam hierarquias de conhecimento e poder. Ao destacar as colonialidades presentes nas vivências dos caseiros negros, o estudo não apenas amplia as fronteiras teóricas dos estudos organizacionais, mas também contribui para uma análise crítica das relações de poder e exclusão que permeiam o trabalho doméstico (Quijano, 2005).Simbolismo e Significados Culturais: Utilizar o simbolismo como uma ferramenta analítica revela-se crucial para desvelar os significados culturais e simbólicos presentes nas práticas cotidianas dos caseiros negros. Isso permite uma compreensão mais profunda das dinâmicas sociais e das estratégias de resistência que esses trabalhadores desenvolvem em contextos frequentemente desvalorizados e subalternizados (Morgan, Frost, Pondy, 1983). 

Portanto, este estudo se justifica pela necessidade de preencher uma lacuna significativa na literatura ao abordar as experiências subalternas dos homens negros no trabalho doméstico, oferecendo uma perspectiva decolonial e simbólica que pode informar práticas organizacionais mais inclusivas e justas. 

Na síntese das considerações finais, este artigo buscou explorar profundamente a intersecção entre simbolismo nas organizações, trabalho doméstico de homens negros caseiros e as abordagens pós-estruturalistas e decoloniais. 

Primeiramente, foi discutido como o simbolismo atua como uma lente através da qual podemos entender as dinâmicas organizacionais, destacando como os símbolos são criados e reinterpretados em contextos específicos, influenciando as práticas e interações sociais dentro das organizações. 

Em seguida, o artigo problematizou a presença do simbolismo nos modelos e na análise do trabalho doméstico de homens negros caseiros, evidenciando como essas práticas são moldadas por relações marcadas pelo colonialismo. Foi ressaltada a importância de reconhecer e desafiar essas estruturas de poder que historicamente marginalizaram e subalternizaram esses trabalhadores. 

Por fim, as abordagens pós-estruturalistas e decoloniais foram apresentadas como fundamentais para ampliar as perspectivas sobre as práticas e cotidianos dos homens negros no trabalho doméstico. Estas perspectivas oferecem uma visão crítica que não apenas desafia as narrativas hegemônicas, mas também propõe novas formas de entender e transformar as realidades organizacionais e sociais, promovendo a justiça social e a equidade. 

Assim, este estudo não apenas contribui para o avanço teórico no campo dos Estudos Organizacionais, mas também abre espaço para reflexões e ações que visam uma maior inclusão e reconhecimento das experiências dos homens negros em contextos de trabalho doméstico, num movimento em direção a práticas mais igualitárias e emancipatórias. 

2. OLHARES DO SIMBOLISMO E DAS TEORIAS DA PRÁTICA NAS ORGANIZAÇÕES 

É importante iniciar dizendo que não se pretende com este artigo esgotar a apresentação deste quadro. Este debate acerca dos homens negros no trabalho doméstico, se constitui como uma lacuna, uma vez que a maior parte dos estudos no campo organizacional, trata da situação das mulheres – até pela dimensão quantitativa e representativa no debate sobre gênero (Teixeira, 2015). Nisto, explicita-se uma dupla dimensão no que se refere à questão do trabalho: de gênero e de raça na formação social e, consequentemente, nas organizações. 

Para sustentar o argumento sobre a coerência teórica e o olhar pós-estruturalista em relação às produções de grupos subalternizados, especialmente no contexto de estudos sobre relações raciais, gênero e trabalhos domésticos, você pode usar a seguinte citação teórica: 

Conforme afirmado por Judith Butler, uma figura central no pós-estruturalismo e nos estudos de gênero: 

“O gênero não é simplesmente algo que alguém tem ou uma categoria dentro da qual alguém é colocado. É uma norma que regula a maneira como os corpos se materializam, se significam, e se fazem inteligíveis” (Butler, 1990, p. 33). 

Esta citação ajuda a elucidar como o pós-estruturalismo pode contribuir para uma compreensão mais profunda das dinâmicas de poder, identidade e marginalização enfrentadas por grupos subalternizados, como os homens negros no trabalho doméstico. 

Neste campo, o trabalho caseiro de homens negros ainda segue desconsiderado em relação a categoria trabalho e gênero no debate organizacional. Trata-se de perspectivas e relações pouco exploradas no universo dos EO, principalmente quando interseccionadas por relações raciais, de gênero e de trabalho. Nesse sentido, as vivências desses homens negros no espaço do trabalho doméstico apontam para a necessidade de romper com visões culturais hegemônicas e tradicionais sobre trabalho doméstico e organização generificada na sociedade brasileira.  

Para dar lugar ao universo de sujeitos, práticas e formas de organizar que contemplem diferentes perspectivas de gênero e espaços de trabalho, recorro aos estudos que problematizam categorias de trabalho generalizadas e racializadas. Estudiosos(as) apresentam caminhos em direção a necessidade de reconhecer a multiplicidade de significados por meio da diversidade de perspectivas presente nas relações sociais, humanas e organizacionais (Teixeira, 2015; Janssens; Steyaert, 2019; Bell; Vachhani, 2020; Weber; Dacin, 2011). 

Para explorar o tema dos símbolos, é fundamental abordar o conceito de Simbolismo conforme discutido por Morgan, Frost e Pondy (1983), que o definem como um conjunto de elementos criados e reinterpretados através das interações humanas, dando origem a padrões e significados que transcendem seus atributos iniciais. Segundo esses autores, “qualquer objeto, ação, evento, conceito ou imagem pode ser transformado em símbolo em qualquer contexto e momento” (Ibidem, p. 5). Neste artigo, destaca-se a relevância da dimensão cultural, pois, como afirmado por estudiosos contemporâneos, as práticas culturais revelam símbolos que estão intrinsicamente enraizados na sociedade, moldando percepções e interações sociais. Geertz (1973): “A cultura é um sistema de símbolos significativos; não máquinas simbólicas, mas símbolos concretos e ativos, padrões de significado em termos dos quais os homens [sic] interpretam suas experiências e orientam suas ações” (p. 5). Turner (1967): “Os símbolos culturais não são simplesmente instrumentos ou produtos, mas formas essenciais de atividade social, maneiras de viver e de ser” (p. 46). Douglas (1966): “Os símbolos são instrumentos de comunicação e, como tal, eles constroem a realidade social de uma maneira que os números e os fatos não podem” (p. 145). Assim esses autores esses autores trazem a importância dos símbolos na cultura e como eles não apenas refletem, mas também as práticas e as interações sociais dentro de uma sociedade. 

Ainda de acordo com Morgan, Frost e Pondy (1983), o simbolismo nas organizações possuem um estatuto, na medida em que encarna e transmite imagens e caracteres de significado particulares a quem os encontra. Tais modos de simbolismo, constituídos conscientemente (ou não), de modo simples (ou não), têm como intuito criar uma imagem e certos efeitos, os quais são fáceis de detectar em toda a organização.  

Vejamos: ao discutir o simbolismo no trabalho doméstico de mulheres negras, Teixeira (2015) constata que, na leitura da cultura brasileira, o trabalho doméstico está enraizado no próprio processo de formação social do país. Nas suas palavras: 

As primeiras mulheres que exerceram atividades domésticas em outras residências foram as  escravas presentes no País no período colonial. Anos depois da abolição da escravidão, a desigualdade racial no Brasil é ainda uma de suas características sociais marcantes. Os sujeitos construídos como negros estão nas piores ocupações no mercado de trabalho mundial; no caso brasileiro, englobando todos os grupos sociais, as mulheres construídas como negras são aquelas cuja situação de precariedade no trabalho é a mais alarmante. As mulheres construídas como brancas, por sua vez, ocupam ainda melhores ocupações que os homens negros. […] Embora as empregadas domésticas hoje não sejam somente mulheres construídas como negras, em termos de imaginário social construído, a personagem da empregada doméstica é muito acionada como uma personagem negra, pois as atividades de servir ainda permanecem como atividades simbólicas de negros (Texeira, 2015, p. 17-18, grifo nosso). 

Em consonância com Nardi (2007), a autora argumenta que: 

A modernidade ocidental tem dois importantes dispositivos de poder: a sexualidade e o trabalho. E são dois dispositivos que organizam a vida em sociedade e que exercem influência sobre as formas de subjetividade. Para o autor, além da sexualidade já estudada por Foucault (1980; 1985; 1998; 2004b), o trabalho também atua como um agenciador de modos de subjetivação (Teixeira, 2015, p. 15). 

Teixeira (2010; 2015; 2021) avança nos estudos sobre o trabalho doméstico e, em seu último livro, publicado no ano de 2021, demonstra que aproximadamente 20% das mulheres no Brasil são trabalhadoras domésticas remuneradas, de acordo com dados coletados e por ela analisados, em 2019. Esta autora aponta ainda, que 64% atualmente se autodeclaram negras, fruto dos antecedentes históricos, que remetem às personagens das ‘escravas domésticas’ – mulheres negras escravizadas – durante o período colonial. 

Não é sem razão que, “desde então, o tema tem sido considerado incômodo por escancarar desigualdade racial, étnicas, de gênero e de classe” (Ferreira, 2010, p. 339-360 apud Teixeira, 2021, p. 20). 

A importância desta pesquisa reside na necessidade de compreender e problematizar as experiências específicas dos homens negros que trabalham como caseiros, em um contexto onde o trabalho doméstico é predominantemente feminino. Argumenta-se que esta investigação é crucial por várias razões: Subalternização dos Homens Negros no Trabalho Doméstico: Historicamente, os homens negros que trabalham como caseiros enfrentam uma dupla marginalização: tanto pela natureza do trabalho doméstico, que é estereotipicamente associado às mulheres, quanto pela sua própria posição racial e social. Esta pesquisa visa dar visibilidade a essas experiências que muitas vezes são invisibilizadas ou estereotipadas. Desafio às Representações Estereotipadas de Gênero e Raça: Ao focar nos homens negros que atuam como caseiros, a pesquisa desafia representações estereotipadas de gênero e raça que limitam as oportunidades e perpetuam desigualdades estruturais. Isso é fundamental para uma análise mais completa e crítica das dinâmicas de trabalho e das relações de poder no contexto doméstico. Contribuição para Estudos Organizacionais e Decoloniais: Ao ampliar as perspectivas de análise dentro dos estudos organizacionais, esta pesquisa oferece insights valiosos para uma abordagem decolonial que busca desafiar e transformar as hierarquias de poder e conhecimento. Isso inclui não apenas uma crítica às hegemonias epistemológicas, mas também propostas para práticas organizacionais mais justas e inclusivas. Relevância Social e Política: A pesquisa tem implicações práticas significativas para políticas públicas e iniciativas que visam promover a igualdade de gênero e racial no mercado de trabalho, especialmente em setores historicamente marcados pela desigualdade e pela invisibilidade, como o trabalho doméstico. 

Portanto, argumenta-se que investigar as vivências precarizadas de homens negros que trabalham como caseiros não apenas preenche uma lacuna importante na literatura acadêmica, mas também pode catalisar mudanças sociais e organizacionais necessárias para uma sociedade mais justa e equitativa. 

Para melhor adentrar nesta discussão, cabe referir que, conforme apresenta Teixeira (2021), esses processos estão relacionados à construção social que estabelece para as mulheres, as funções de cuidado e fazeres domésticos, lidos na herança colonial e patriarcal como elementos biológicos. No entanto, são inerentemente sociais. Já no caso dos homens, é exatamente o oposto, a ausência do lugar do cuidado e a projeção masculina para os espaços públicos, cuja racialização presente no mundo trabalho, faz chegar aos homens negros, as condições precarizadas e subalternizadas que marcam as relações de gênero, raça e classe. 

Dialogando com este conteúdo, sabemos que a linguagem associada à uma dimensão mais ampla da compreensão sobre a cultura, representa um dos elementos centrais no padrão cultural da vida organizacional (Weber; Dacin, 2011). Também segundo estes autores, “recursos culturais são pedaços heterogêneos de cultura que incluem identidades esquemáticas amplamente reconhecidas, molduras, papéis, histórias, roteiros, justificativas e moralidades” (Ibidem, p. 290). 

Eles apresentam ainda como algumas vertentes de análise sobre a cultura, o “uso político de repertórios para dominação e resistência, onde as ferramentas culturais utilizadas nas organizações estão atreladas a estruturas institucionais externas à organização” (Weber; Dacin, 2011, p. 292). 

Com a finalidade de explicar os variados caminhos que o simbolismo encontra para decifrar os elementos presentes nas organizações, Duarte e Alcadipani (2016) apontam nas redes de ação a relevância de superar um campo ainda hegemônico tradicional nos EO, na formação, trabalho e pesquisas, que é marcado pela predominância do paradigma positivista.   

Os autores defendem que para avançar nas abordagens da prática, faz-se necessário partir do campo e do real, como espaços de possibilidades de confrontar o instituído e suas formas de inovação nos Estudos Organizacionais (EO). Tais inovações podem desafiar as estruturas convencionais ao explorar novas formas de organização e gestão que emergem das práticas cotidianas dos atores organizacionais. Adentrar nesse espaço significa reconhecer e valorizar as experiências vividas, os processos informais e as dinâmicas sociais que constituem as organizações, buscando entender como elas influenciam e são influenciadas por contextos mais amplos, como econômicos, políticos e culturais. E expressam, também, a necessidade de aprofundar a dimensão da Ontologia como um exercício político permanente do conhecimento da área e seus agentes, para pensar processos de transformação/inovação (Duarte; Alcadipani, 2016). 

O diálogo com esses autores se mostra potente, posto que ressalta a imprescindibilidade do alinhamento do exercício teórico ao exercício metodológico, bem como das pesquisas, para criar alternativas ao positivismo. Foi possível notar que as perspectivas acerca das organizações – a lógica da prática e a lógica da representação – não são excludentes, tendo em vista que as concepções aqui explicitadas indicam que não cabe abandonar por completo a compreensão de que as organizações possuem uma racionalidade. Em outras palavras, toda e qualquer organização, para existir, é influenciada e se constitui através de condições práticas e objetivas postas na realidade social. 

É, portanto, sob essa direção que este artigo se apropria do debate sobre simbolismo, ancorando-se, em especial, no que se refere à diversidade. Uma vez que esta abordagem evidencia que ainda na atualidade diversas organizações continuam a ser caracterizadas por discriminação e segregação, é fundamental pontuar que os estudos organizacionais enfrentam uma imensa responsabilidade com os sujeitos que se encontram à margem dos fortes impactos dos processos de globalização (Bell; Vachhani, 2020). Sendo assim, o simbolismo contempla um campo de estudos e conhecimentos, que possui uma racionalidade subjacente, e que precisa ser entendida no conjunto das relações sociais que abrangem um campo de poder e saber.  

Bell e Vachhani (2020) mostram que, do ponto de vista da ontologia relacional, é possível compreendermos as relações mutuamente constitutivas da natureza da vida social, que direciona os estudiosos da diversidade para não reproduzir certos dualismos. Dessas ideias conceituais, tiramos que, a ordem social particular de uma organização, é constantemente realizada através da promulgação de práticas. De seu projeto empírico, entendemos que os fenômenos relacionados à diversidade devem ser explicados (re)especificando-as, em termos de práticas e suas conexões no espaço e no tempo. Assumir essa forma de teorização é, como lembram Feldman e Orlikowski (2011, p. 1250), em si uma prática que produz “tipos particulares de consequências no mundo, para as quais nós, como produtores teóricos, somos responsáveis”. 

Esta noção, pautada em um novo materialismo, concebe o fazer como expressão relacional entre sujeito e objeto e as práticas são produtoras de uma ordem social, contemplando aspectos estéticos e éticos, não estáticos (Janssens; Steyaert, 2019). Em uma livre tradução dos autores, nota-se que este raciocínio oferece uma maneira de pensar sobre a prática organizacional, que atende tanto a importância ética das sensibilidades incorporadas, quanto reconhece a importância das orientações ou disposições em relação à matéria na transformação da ética dos encontros organizacionais. 

Defendemos, assim, a necessidade de uma ontologia relacional — onde fenômenos sociais são continuamente produzidos e constituídos relacional mente (Feldman & Orlikowski, 2011) — o que ajudaria a pesquisa sobre diversidade a entender melhor os fenômenos relacionados como desigualdade, racismo, discriminação, homofobia, climas de diversidade, inclusão e brancura são realizadas. Como a teoria da prática é uma grande teoria social que visa justamente superar os dualismos (Reckwitz, 2002; Sandberg & DaII’AIba, 2009; Sandberg & Tsoukas, 2016), propomos trazer a teoria da prática para os estudos da diversidade e explorar o seu valor. (Janssens; Steyaert, 2019, p. 4). 

Sendo assim, os autores acima citados, partem de um fundamental questionamento acerca das teorias que tornam a leitura estática da realidade como padrão. E mostram que tais teorias, que reduzem a vida social a apenas alguns elementos, são improváveis de explicar a persistente desigualdade, complexidade e sensibilidade de diversidade dentro e entre as organizações. Uma teoria da diversidade baseada na prática, com sua ênfase em descobrir criticamente as práticas tidas como certas que produzem problemas de ordens sociais, mas também seu potencial afirmativo para identificar práticas situadas que valorizam a diversidade (Bell; Vachhani, 2020). 

Com isso, tal posição permite-nos o aprofundamento de princípios éticos geralmente agenciados por relações materialistas no capitalismo, que capturam um tipo de padrão que separa o produtor do seu produtor, retirando a sua dimensão consciente e estética do produzir, anulando, assim, a diversidade e multiplicidade dos processos. 

Deste modo, este movimento da teoria da prática possibilita, também, encontros éticos, sensoriais e afetivos. Usamos o conceito de uma “ética da importância” afetiva, a qual concentra-se no cultivo de uma sensibilidade ética ou disposições que permitem a generosidade para com os outros (Bell; Vachhani, 2020). 

Diante do exposto, a dimensão dos estudos da prática se articula na busca de dar concretude ao objeto da pesquisa, no que diz respeito ao simbolismo do trabalho doméstico de homens negros.  

Por um lado, a racionalidade colonizada se apresenta como o lugar do instituído, por meio das formas de opressão, marginalidade, subalternização e precarização nestas relações, colocando homens negros na performance de uma masculinidade pautada na força bruta, nas habilidades manuais e não intelectuais, na ausência da capacidade de gerenciar, etc. Por outro, as formas de saber, domínios de processos, histórias de vida e lidas cotidianas podem revelar símbolos e práticas de resistência, reconstrução e ressignificação dos lugares que colocam o homem negro como mero objeto.  

Assim, entre as formas comunais de produção apreendidas na ancestralidade, do cultivo da terra, da organização do trabalho, das possibilidades de constituição de suas famílias que remetem às estratégias de sobrevivência e a precarização das relações de trabalho na sociedade capitalista que remontam até mesmo à escravização destes sujeitos, busca-se conhecer as narrativas e práticas deste mundo, muitas vezes, não reconhecidas e altamente silenciadas. 

Sob essa ótica, faz sentido pensar que esses simbolismos e práticas não foram instituídos num vácuo social e histórico, ao contrário, dizem respeito aos processos historicamente construídos desde o contexto no qual se aborda as relações raciais no Brasil. Vale dizer ainda, que esses processos possuem contradições que escapam deste olhar e destas práticas no exercício efetivo dessas masculinidades. 

3. O OLHAR SIMBÓLICO SOBRE A COLONIALIDADE PRESENTE NO TRABALHO DOMÉSTICO 

Na linguagem está a promessa do reconhecimento; dominar a linguagem, um certo idioma, é assumir a identidade da cultura.  Esta promessa não se cumpre, todavia, quando vivenciada pelos negros2. (FANON, 2008, p. 15). 

Considerando a dimensão simbólica hegemônica, característica da modernidade a partir da colonialidade e da branquitude, a citação acima nos indica como esta manifestação do simbolismo opera na construção da racionalidade em torno da negritude, enquanto sinônimo de subalternidade e inferioridade construindo as marcas do racismo estrutural. Sabemos que este se faz presente nas diversas dimensões das relações sociais e atravessa fortemente o universo do mundo do trabalho (ALMEIDA, 2019).  

O simbolismo presente em torno desta questão, ocasiona ao longo da história, um conjunto de estereótipos, marcas sociais e subjetivas, formas de remuneração, subserviência e outras expressões degradantes de trabalho a partir de um imaginário que se sustenta pela reprodução e práticas do racismo nas relações sociais e organizacionais.  

De outro lado, as manifestações simbólicas da branquitude, bastante exploradas por Joseane Gouveia (2019 e 2020), mostram o (não)lugar e status sociais que subjuga negros e negras, situação que se torna ainda mais complexa quando faz relação ao espaço de trabalho doméstico de homens negros. Diversas pesquisas e a própria realidade atestam este “(não)lugar” racializado e generificado historicamente organizado na sociedade brasileira. (TEIXEIRA, 2015; GOUVEIA, 2019) 

A naturalização e invisibilização do trabalho doméstico de homens negros é uma lacuna nos estudos sobre o trabalho doméstico (TEIXEIRA, 2021). Dentre os quais, por exemplo, se inclui os trabalhadores caseiros, podem inicialmente ser colocadas em questão, uma vez que estes homens exercem no mundo privado atividades que envolvem a segurança, a manutenção, o transporte, a jardinagem e em alguns casos, até a pequena agricultura.  

Sabe-se que um dos requisitos é também a permanência no lugar de trabalho, o que se confunde entre a vida pública e privada do empregado doméstico, que pode inclusive se ampliar ao seu núcleo familiar. Assim, a manutenção deste trabalho pode esconder para além de um conjunto de violações de direitos trabalhistas e violências, as profundas relações colonizadoras que remetem ao período da escravização (com suas devidas proporções neste tempo histórico). (TEIXEIRA, 2021) 

Ao apreender as ideias apresentadas por Weber e Dacin (2011),  sobre a  abordagem crítica aos simbolismos hegemônicos/predominantes articulando esta ideia aos estudos sobre a negritude, encontramos em Gouveia (2019) uma preocupação em superar uma visão organizacional tida como tradicional, colonizada e  subordinada vinculada aos estereótipos de força, virilidade, incapacidade técnica/intelectual, que os coloca no limbo entre o mundo público (ocupado por homens brancos no mundo do trabalho na gestão e funções mais especializadas) e o privado (via de regra ocupado por mulheres no âmbito doméstico e por homens em funções menos qualificadas e remuneradas de serviços braçais).  

No campo organizacional, há uma lacuna nas abordagens tradicionais ao não desvelar as contradições dos simbolismos presentes nestas relações, podendo ocasionar a sua naturalização. Estas reflexões sobre o simbolismo, perpassam o debate em torno da colonialidade, que precisa ser superada. Para Quijano (2005) 

Na América, a ideia de raça foi uma maneira de outorgar legitimidade às relações de dominação impostas pela conquista. A posterior constituição da Europa como nova identidade depois da América e a expansão do colonialismo europeu ao resto do mundo conduziram à elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela à elaboração teórica da ideia de raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre europeus e não europeus. Historicamente, isso significou uma nova maneira de legitimar as já antigas ideias e práticas de relações de superioridade/inferioridade entre dominantes e dominados. (QUIJANO, 2005, p. 118) 

Desde então, o racismo demonstrou ser o mais eficaz e durável instrumento de dominação social universal em tempos modernos. Os povos conquistados e dominados foram postos numa situação natural de inferioridade, e consequentemente também seus traços fenotípicos, bem como suas descobertas mentais e culturais. Desse modo, a raça se converteu no primeiro critério para a distribuição da população mundial em níveis, lugares e papéis na estrutura da nova sociedade. Em outras palavras, no modo básico de classificação social universal da população mundial. (QUIJANO, 2005) 

Este processo envolveu segundo o autor formas de dominação por meio de um padrão intersubjetivo que se consolidou através de operações que ajudaram a conformar estas novas relações intersubjetivas da seguinte forma: 1) expropriações das populações colonizadas, inclusive na dimensão cultural; 2) reprimiram as formas de produção do conhecimento dos povos, seu universo simbólico, linguagem, formas de expressão e formação da subjetividade com base em signos próprios; 3) forçaram os povos colonizados em apreender a cultura dos dominadores em tudo que fosse interessante para garantia para a reprodução da dominação, incluindo aspectos culturais e religiosos. (QUIJANO, 2005).  

Para Quijano (2005) a modernidade e a racionalidade foram imaginadas como experiências e produtos exclusivamente europeus. Sob essa codificação das relações entre europeu/não-europeu, raça é, sem dúvida, a categoria básica do eurocentrismo, impôs-se como mundialmente hegemônica no mesmo fluxo da expansão do domínio colonial da Europa sobre o mundo. Este padrão revela o uso de instrumentos estéticos, tido como simbolismos universais e únicos. 

Esta direção precisa ser questionada, pois do ponto de vista da realidade, à despeito de toda a marginalidade imposta ao povo negro, este tem resistido por meio de tecnologias e práticas de oposição ao modelo tido como padrão.  

Trazendo estas reflexões para o diálogo com o simbolismo, tendo por referência o pensamento de Lefebvre, citado por Wasserman e Frenkel (2011), tais processos históricos acontecem, mas não ocorrem livre de estratégias e resistências em diferentes espaços e escalas sociais, inclusive no plano do espaço vivido.  

Daí, a importância de se observar as práticas cotidianas como elemento disparador de processos de negação destes modelos instituídos, que no caso da negritude, se colocam junto aos demais segmentos oprimidos da sociedade mulheres, LGBTQUIA+, indígenas, migrantes), que juntos representam de fato, a sua necessidade de superação. 

Ressalta-se que neles se projetam as mudanças sociais realizadas nas relações do cotidiano, por meio de práticas e transgressões ao instituído. Wasserman e Frenkel (2011), ao citar Lefebvre, evidenciam a articulação nas diferentes esferas das relações em níveis macrossociais e também subjetivos, uma vez que o espaço social a partir de suas práticas, possuem atos de interferência cultural e estética.   

Assim, mostram que no jogo da dominação e internalização predominantemente colonizado, a questão racial tende a ser silenciada e naturalizada. Mas, isso na verdade se constitui como uma forma de agenciar uma dada racionalidade estética, no caso, a racionalidade de uma branquitude racista, ocidental e judaico-cristã. (WASSERMAN E FRENKEL: 2011) 

Ao tratar do intersubjetivismo culturalista, por exemplo, temos como chave reflexiva as possibilidades de compreender como a interação é um processo de transferências de significados que foram internalizados na mente e assim, passíveis de serem ressignificadas. (RECKWITZ, 2002)  

Ao buscar as vivencias precarizadas de caseiros negros, podemos compreender como estas trajetórias, para além da história de precarização e marginalização social, perpassam por reconstruções afetivas, laborais e comunitárias que, via de regra, em espaços urbanos trazem marcas da violência, desemprego, negações culturais e familiares que só podem ser recuperadas por meio da reconstrução do saber, poder e ser.  

Marcas que a colonialidade reitera na vida e práticas destes trabalhadores e por outro lado, a partir de um movimento (de)colonial pode recuperar as práticas de quilombos e comunidades tradicionais portadoras de vida e liberdade.  

As ideias defendidas por Hassad e Cox (2014), passam pela necessidade de apresentar um quadro teórico amplo, que contemple teorias para além das metanarrativas filosóficas e assim, ampliar as bases teóricas que sustentam os estudos organizacionais nos tempos recentes, com especial atenção, ao campo pós-estruturalista.  

Defende-se nesta direção, que o estudo em tela, possa contribuir para uma vertente reflexiva e desconstrucionista na perspectiva de teorias organizacionais que contemplem aspectos mais próximos das diferentes realidades. É neste campo que o debate das relações étnico-raciais tem se ampliado na TO, como afirma Teixeira (2015). 

Para esta autora, o pensamento a partir de experiências práticas se propõe a superar uma racionalidade pautada exclusivamente na razão formal e abstrata. Tais considerações afetam fenômenos culturais globais, onde muitas vezes seguem linhas de influência colonial ou geopolítica ampliando as possibilidades de evidenciar relações entre o simbolismo e as experiências de trabalho doméstico.    

Assim, diferentes fenômenos organizacionais podem reproduzir relações geopolíticas de dominação, por exemplo critérios estéticos, estes muitas vezes, afirmam como relações de poder são incorporadas em julgamentos de gosto sentidos, refletindo escolhas estéticas e assimetrias de poder nas economias que fazem parte de processos relacionais complexos de negociação, dentro da colaboração estética, que resultam formas culturais (Louisgrand, N; Islam, G. 2021).  

Estas reflexões no campo do simbolismo, trazidas por Louisgrand, N; Islam, G. (2021), são importantes ao se relacionar com a análise do trabalho de pessoas negras, pois apontam como sabemos pouco sobre como diferentes tradições culturais, reunidas em relações assimétricas de poder, administram os micros- interações de colaboração ética.  

Para estes autores, o padrão hegemônico estético, tende a reproduzir que a estética negra africana, tem uma representação negativa ou não aceita para os padrões ocidentais. Em suma, a epistêmica da estética, por estar inserida em convenções, está sujeita a processos relacionais que envolvem poder, bem como resistência. 

Reconhecer a colonialidade articulada aos simbolismos do trabalho doméstico tido como mera condição de subalternidade, representação de gênero e de relações raciais pode revelar outros sentidos desde a perspectiva do trabalhador caseiro negro, o da resistência e de formas de sobrevivência de relações que precisam ser superadas no sistema de dominação.  

Nos estudos sobre o trabalho doméstico, para além de tentar conferir o padrão de ocupação feminina dito de normalidade como os estabelecidos pelas teorias organizacionais tradicionais, busca-se com a perspectiva de gênero masculina inovar, com evidência nas microrelações e transgressões desses sujeitos homens negros no trabalho, e como estas relações de gênero e raça resguardam um saber fazer, como ação concreta de poder e contra poder.  

Assim, o simbolismo demonstra a importância da prática, pois nas relações sociais, são necessárias as habilidades de a) saber como fazer; b) saber como identificar; e c) saber como solicitar e responder. Fazeres e dizeres são inteligíveis para participantes da prática quando indivíduos compartilham de entendimentos comuns. Considera que a realidade consiste em modos de organizar e como estas se constituem por meio das práticas.       

A partir das práticas com respeito à diversidade e reconstrução de novos olhares simbólicos para esses trabalhadores domésticos negros que reconstroem suas vivências portadoras de dimensões éticas e estéticas silenciadas e que possuem tecnologias e práticas carreadas de saberes, poderes e novas formas de ser.  Este movimento é carregado de sentidos que podem contribuir para a emergência de outra racionalidade livre do machismo, racismo, homofobia e todas as formas de opressão. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Constatando que o objeto deste artigo, ao tratar do olhar simbólico da colonialidade no trabalho doméstico racializado e generificado é produzido a partir de questionamentos que surgem acerca das consequências da imposição de algo instituído. Na maioria das vezes, um processo social organizado por práticas hegemônicas de grupos de pessoas das classes burguesas/dominantes sobre as classes proletárias, que passam por processos históricos de dominação, exploração e opressão, como forma de manter a força de trabalho de negros sob um olhar estático e naturalizado das relações sociais. (WEBER, DACIN: 2011) 

Romper com esta leitura tradicional a partir do debate sobre o simbolismo nas formas de poder, saber e ser nos termos de Quijano (2005), no que se refere ao trabalho doméstico de homens negros se apresenta como um desafio na produção do conhecimento da área, como atestado por pesquisadoras negras que vêm em um processo engajado de ampliação dos horizontes da TO, frente ao longo processo de negação da questão racial e da categoria trabalho, especificamente doméstico e no caso desta pesquisa caseiro, como temas a serem enfrentados pelos EO, colocando tais estudos do campo da diversidade como secundários de menor relevância. (TEIXEIRA, 2015; GOUVEIA, 2019). 

Frente aos agenciamentos da modernidade, observa-se que o mundo empresarial, organizacional e institucional deve sempre priorizar áreas que fazem sentido para o atendimento mais imediato das suas demandas (capitalistas e mercantis).  

No entanto, a partir de estudos sobre o Organizar, percebe-se uma necessária e urgente transformação no olhar sobre estas relações de trabalho e em especial, aos sujeitos deste processo repleto de interações, contradições e novas possibilidades que contemplam um campo das práticas capazes de romper com tais padrões hegemônicos. (Weber e Dacin: 2011; Louisgrand, N; Islam, G.: 2021; Wasserman e Frenkel: 2011);        Portanto, quando falamos de olhar simbólico, podemos refletir as expressões dos simbolismos. O olhar simbólico, engessado nas normatividades modernas, se manifesta por meio de violências aparentemente abstratas, relacionadas ao cognitivo das relações humanas sobre gêneros, sexualidades, raça, classe social, padrões sociais e culturais, entre outros. 

No entanto, de acordo com os autores aqui referenciados (e outros), o conceito simbolismo possui um amplo sentido, como gestos, condutas, agressões verbais, olhares, práticas de forma que podemos dizer se tratar de um dano causado às pessoas atingidas, em função da dominação do grupo oposto. Estas marcas, conferem no caso de pessoas negras e a relação com os EO, a ampla (re)produção do racismo institucional, como trata, Silvio Almeida (2019). 

O combate ao racismo será uma chave importante, fazendo transitar as formas pejorativas e degradantes deste simbólico para novas formas que desmitifiquem a colonialidade presente nas relações de trabalhos domésticos e subalternos destinado à população negra no contexto brasileiro de ampla difusão do ódio e genocídio deste segmento, ainda visto como fenômeno de exclusão e normalidade das relações sociais.  

O compromisso com a melhoria das condições de vida desses trabalhadores e trabalhadoras negros/as, está diretamente ligado ao combate ao racismo e ao respeito à diversidade e reconstrução de novos olhares simbólicos e práticas sociais antirracistas que considerem todos os tipos de diversidades. 


2 O trecho destacado constitui um de seus textos mais conhecidos de Franz Fanon, intitulado “Pele Negra, Máscaras Brancas”, em que o sociólogo discute como a linguagem é um dos mecanismos de branqueamento das pessoas negras, pois ela funciona como uma das principais ferramentas de dominação.


REFERÊNCIAS: 

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1Mestre em Administração no PPPGADM DA UFES (2024) 
Graduação em Ciências Contábeis – FASEERA/ES (2008) 
Pós-graduação em Controladoria e Finanças – FAESA/ES (2013) 
Formação Pedagógica em Matemática – Uniasselvi (2023) 
Pós-graduação em Ensino de Matemática – Uni Vitoria (2024)