THE MOURNING OF MOTHERS IN FRONT OF THE DIAGNOSIS OF CHILDREN WITH CHILDHOOD CANCER
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8083943
Adriano Matozo dos Santos1
Luana Tobias de Souza1
Paulo Claudino de Souza2
Queila Maria da Silva3
Francleia de Nazaré Correia4
Chimene Kuhn Nobre4
RESUMO
O presente trabalho busca compreender algumas possíveis significações do sofrimento psíquico materno diante de um filho com câncer infantil e a importância de uma escuta psicanalítica voltada para as mães dessas crianças adoecidas. O objetivo do presente artigo é analisar a compreensão dos impactos psicológico e emocional que as mães sofrem ao receber o diagnóstico de Câncer (CA), do filho. O tema desse projeto surgiu após leituras e vivências, sobre o tema para conhecimento de todo estresse e de barreiras enfrentadas junto a um processo de luto que essas mulheres enfrentam, geralmente sem suporte emocional e psicológico. Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com revisão de literatura brasileira, que tem como intuito investigar os aspectos que abordam a temática, a fim de levantar dados para auxiliar sobre o luto das mães frente ao diagnóstico de CA do seu filho. Diante do artigo exposto, conclui-se que o luto de uma mãe frente a perda de um filho que se foi para o câncer é de extrema delicadeza. A mãe fica em uma vulnerabilidade psíquica e, diante disso, merece atenção.
Palavras-Chave: Luto de Mãe. Câncer Infantil. Filhos com Câncer.
ABSTRACT
The present work seeks to understand some possible meanings of maternal psychic suffering in the face of a child with childhood cancer and the importance of psychoanalytic listening aimed at the mothers of these sick children. The objective of this article is to analyze the understanding of the psychological and emotional impacts that mothers suffer when receiving the diagnosis of Cancer (CA) from their child. The theme of this project emerged after readings and experiences, on the subject for knowledge of all the stress and barriers faced along with a grieving process that these women face, usually without emotional and psychological support. This study is a bibliographical research, with a review of the Brazilian literature, which aims to investigate the aspects that address the theme, in order to collect data to help with the mourning of mothers facing the diagnosis of CA in their child. In view of the above article, it is concluded that the mourning of a mother facing the loss of a child who died due to cancer is extremely delicate. The mother is in a psychic vulnerability and, given that, deserves attention.
1 INTRODUÇÃO
A doença neoplásica desintegra as famílias, causando angústia e perturbações antecipadas no ambiente familiar, social e econômico. O medo da morte, a perda física e psicológica são os principais motivos de desorganização do cotidiano familiar. Portanto, o câncer infantil e suas consequências e tratamento têm grande impacto na organização familiar, pois a torna vulnerável ao sofrimento mental, que afeta não só as crianças, mas também seus cuidadores (MENEZES et al, 2007).
O momento do diagnóstico de câncer (CA) é de grande impacto para a mãe, dessa maneira, o sentimento de impotência expresso pela mesma, ocorre porque desde a gestação é gerada uma grande expectativa em relação ao filho, desejando que nunca ocorra alguma intercorrência.
Sabe-se que frente a um contexto de adoecimento uma série de aspectos psicológicos se atualizam não apenas no paciente, mas também nas pessoas com as quais se relacionam: cuidadores, equipe e família. Frequentemente, estudos abarcam a participação da família no contexto de enfrentamento da doença como fonte de apoio e suporte ao sujeito que atravessa essa experiência direta de adoecimento (SIMONETTI, 2004).
Cabe ressaltar que a mãe, geralmente, projeta no filho o que ela gostaria para suas vidas, mas que por alguma razão não conseguiram. A criança surge como uma nova possibilidade de realizar sonhos e alcançar objetivos e, quando se descobre o CA, em razão desse amor tão intenso, deflagra um sofrimento materno exacerbado. A realidade inesperada que se apresenta de enfrentar uma doença grave, que pode causar sofrimento e que pode levar à morte do filho, é vista por muitas mães como um choque, algo arrasador.
Para abordar as questões referentes ao sofrimento da mãe frente a uma doença grave como o CA, faz-se necessário uma contextualização histórica acerca do conceito de infância e da construção do lugar materno. Por sua vez elas desmerecem seu próprio sofrimento para dedicar-se ao máximo ao filho adoecido, dessa forma, nem sempre é dada a devida atenção ao sofrimento psíquico.
A partir do momento do diagnóstico ela sem perceber perde sua identidade, ficando agora conhecida como “mãe da criança com CA”. Enquanto essas mães não conseguirem aceitar a realidade dos fatos que estão vivendo, seguirão em sofrimento psicológico, emocional e consequentemente físico devido à exaustão somatizada (NOGUEIRA; GAIO, 2020).
Vale ressaltar, diante do sofrimento da mãe, que é importante reconhecer os sentimentos e expectativas em torno do contexto da assistência à criança com CA, permitindo ressignificar seu papel de cuidadora quanto mãe, e que carrega todo um sentimento de proteção, amor e zelo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com revisão de literatura brasileira, que tem como intuito investigar os aspectos que abordam a temática, a fim de levantar dados para auxiliar sobre o luto das mães frente ao diagnóstico de CA do seu filho.
Para tanto, foram utilizadas publicações científicas, como artigos, monografias e dissertações, consultadas nas bases de dados eletrônicas, Scielo, Pepsic, Lilacs, Google Acadêmico, Instituto Nacional de Câncer (INCA) e Ministério da Saúde (MS).
O critério de seleção do referencial bibliográfico foi realizado de acordo com o grau de relevância destes diante da temática principal e dos subtemas relacionados. Portanto, foram enfatizados os artigos das últimas décadas.
Os critérios de inclusão estabelecidos foram: publicados apresentando textos completos no idioma português e inglês que foram traduzidos online, artigos originais, com o descritor Mãe, Filho, Diagnóstico, Família, Câncer, Psico-oncologia, Luto e Emocional no título, resumo ou palavras-chave em artigos classificados como originais de natureza primária. Dentre estes artigos foram pesquisados aproximadamente 60 artigos, sendo 33 referenciados que tratavam sobre a temática abordada. Os critérios de exclusão consistiram em artigos com temas repetidos, de revisão, editoriais, cartas ao editor, comentários críticos e livros abordando o assunto, assim como artigos não disponíveis na íntegra e duplicatas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Câncer infantil
O CA infantil foi, por muito tempo, considerado como uma doença letal e fatal, uma vez que a grande maioria das crianças acometidas pela doença acabavam morrendo. O câncer é definido como o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos, determinando a formação de tumores malignos.
O câncer é causado por alterações na estrutura do DNA e, em diferentes órgãos, a formação das células pode mudar e eventualmente se formar de maneira acelerada, de modo que a patologia do câncer é determinada pelas células do órgão. Alterações primárias ocorrem quando essas células migram para outros órgãos próximos, ocorrem metástases e, nesse estágio, o câncer se torna incontrolável (INCA, 2019).
O câncer mais comum em crianças é a leucemia, sendo esta, ocasionada por alterações dos glóbulos brancos na medula óssea, que substituem as células saudáveis e se proliferam de maneira acelerada. Em crianças abaixo de 15 anos o câncer mais comum é a Leucemia linfoide aguda, já em adultos são mais incidentes a Leucemia linfóide crônica e a Leucemia mieloide aguda. Só no Brasil, é estimado para o triênio 2023 – 2025 cerca de 11.540 casos de câncer de leucemia, onde são previstos 6.250 casos em homens e 5.290 casos em mulheres (INCA, 2022).
Segundo os dados do INCA (2022), com o desenvolvimento de novas terapêuticas e com o avanço de pesquisas médicas, o número de crianças que sobrevivem ao câncer aumentou consideravelmente, visto que 80% das crianças podem ser curadas se tratadas em centros especializados.
É de suma importância salientar que o CA infantil é diferente do CA adulto em vários aspectos patológicos, os tipos de neoplasias desenvolvidas, sendo que alguns destes têm maior prevalência na infância, pelo fato da origem do câncer infantil não ser influenciada por hábitos alimentares, estilo de vida e aspectos emocionais, e também os tipos de tratamento que se diferem.
Nos últimos tempos a preocupação com a qualidade e a integração dos cuidados paliativos prestados aos pacientes que não conseguem mais obter a cura da doença tem sido de forma crescente, quais são as circunstâncias envolvidas com a morte de uma criança, e o modo como esse processo é vivenciado por ela, por seus familiares e pela equipe médica.
A mãe que perde um filho é considerada como a dor mais difícil e intensa de todas as experiências de luto e que esta perda é considerada a maior tragédia com que um ser humano pode se deparar, além disso, os filhos são vistos como uma extensão de seus pais. É por isso que a sua morte parece levar um pedaço daqueles que ficaram e aí surge o vazio existencial, que provavelmente pode durar pelo resto da vida, caso não sejam adotadas medidas de conscientização e compreensão pelo ocorrido.
A morte no contexto do câncer infantil assume um caráter complexo, as mães a descrevem como uma dor indescritível. Além disso, o câncer costuma ser associado à morte que, por sua vez, assume a conotação de um processo difícil permeado de sofrimento. Quando o sujeito adoecido é uma criança, as dificuldades associadas a essa vivência são acentuadas porque uma doença grave sugere a possibilidade de uma cura precoce fim da vida (MÜNCHEN et al, 2021).
O luto é uma vivência humana universal e pode estar associado com diversas reações emocionais como os agentes estressores e levando até uma possível depressão diagnosticada e com um risco elevado para o aparecimento de morbidade psicológica e de mortalidade (STROEBE; SCHUT; STROEBE, 2007).
Conforme os estudos de Kreicbergs et al (2004) relata que os sintomas depressivos continuam entre 5 dos 10 pais enlutados que compuseram a pesquisa, mesmo transcorridos o tempo de 7 a 9 anos do falecimento do filho.
Nos estudos de Stroebe, Schut e Stroebe (2005) outros fatores coexistem para elevar o status da saúde do enlutado, tais como: as circunstâncias da morte, variáveis intra e interpessoais do enlutado e os mecanismos de enfrentamento utilizados.
3.1 A criança no ambiente hospitalar
A Constituição Federal garante que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Isso significa que todas as pessoas com qualquer doença, incluindo câncer, têm direito a receber assistência médica de instituições mantidas pelo governo federal, estadual e municipal, incluindo: aconselhamento, medicamentos, cirurgia, exames laboratoriais, exames de imagem e radiação. Tratamentos como terapia, quimioterapia, etc. devem ser realizados no Centro de Alta Complexidade Oncológica (CACON), mantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e custeado pelos estados. Se a doença acometer crianças ou adolescentes, um dos pais ou responsável tem o direito de acompanhar o paciente durante todo o período de tratamento, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (LEITE, 2021).
O câncer infantil por muito tempo foi considerado como uma doença fatal, por isso a importância da afetividade no ambiente hospitalar, uma vez que a grande maioria das crianças acometidas pela doença vive um sofrimento. O diagnóstico de câncer confronta o indivíduo com a realidade da morte e com questões da finitude. Dessa maneira, já no momento da comunicação do diagnóstico, inicia-se para a família o processo de perda do ente querido, trazendo o temor da possibilidade de morte e, portanto, um processo de luto antecipado (PARKS, 1998).
As crianças quando iniciam o tratamento passam por todos os estágios e continuam a retornar ao hospital com frequência após o término do tratamento, especialmente nos primeiros dois anos. As chances de recorrência são muito frequentes durante esse período, mas essas chances diminuem gradualmente com o tempo. Esses retornos são usados para determinar se a doença está sob controle e para verificar e lembrar os danos que os tratamentos podem ter causado. Com o desenvolvimento dos tratamentos, os pacientes podem viver mais tempo com a doença, ser capazes de controlar a doença e reverter os sintomas.
No hospital, as pessoas recebem o nome de pacientes e são identificadas por números e prontuários, utilizam uniformes e recebem atendimento de diversos profissionais de saúde. A criança encontra-se assustada com as mudanças que ocorrem a partir da sua inserção nesse ambiente, em virtude das regras estabelecidas pela instituição e da manipulação em seu corpo, realizada pelos profissionais do setor (OLIVEIRA; DIAS; ROAZZI, 2003).
O ambiente hospitalar numa perspectiva humanizada possibilita a criação de mecanismos que levarão a mãe a expressar seu sofrimento ao assistir o filho, no constante reconhecimento de seu ser, fazer do bem-estar emocional condição básica do cuidado, revelar uma visão da criança em sua singularidade, e não por doença (ARAUJO et al, 2014).
3.2 Sentimento materno ao receber um diagnóstico de câncer infantil
O câncer, como toda doença grave, desencadeia uma série de experiências estressantes e cheia de sofrimentos para a criança e principalmente para mãe, pois envolve um tratamento prolongado e doloroso, que necessita de cuidados e de mudanças, que por sua vez, não são oriundas somente da progressão da enfermidade, mas sim da condição crônica, considerando os aspectos sociais, emocionais, afetivos, culturais e espirituais.
A mãe é considerada, dentro da família, o eixo principal de todos os seus membros (MOREIRA; ANGELO, 2008). Ela é a responsável por educar os filhos, cuidar da casa e também dos outros membros, isto é, ela é uma pessoa que lida e decide sobre o que é o melhor para seus filhos.
As famílias enfrentam uma enorme dificuldade para lidar com uma doença como o câncer, que causa muito sofrimento, e quanto mais avançada a doença, maior o sofrimento. A instabilidade nas condições sociais, econômicas e culturais dos pacientes e seus familiares aumenta a vulnerabilidade social imposta pela doença (CARVALHO, 2008).
Contudo, dentro do contexto do câncer, o sentido de ser mãe após o diagnóstico do filho ganha outro sentido. Pois diante do diagnóstico, muda a vida da criança e da família de uma hora para a outra e faz surgir uma nova realidade repleta de dificuldades, englobando questões psicológicas, sociais e emocionais. Dentre as questões psicológicas podemos citar, como exemplo, o conflito existente entre a idealização de ser mãe e o enfrentamento da realidade de se reconhecer como alguém que também necessita de cuidados. Os pais também sentem medo de estabelecer vínculo afetivo com uma criança que poderá ter pouco tempo de vida. Essa dificuldade de adaptação à nova realidade é capaz de desencadear uma desestruturação familiar e traumas psicológicos (SANTOS et al, 2011).
A descoberta do câncer traz o medo da dor, do sofrimento, da mutilação e a insegurança em relação ao futuro devido ao risco de morte. A criança e seus familiares têm todos estes medos compartilhados e suas vidas e rotinas transformadas com a descoberta da doença. Cada criança e cada família reagiram de formas diferentes. Tudo dependerá, entre outros fatores, não só do estágio em que a doença se encontra, como da personalidade de cada um dos sujeitos envolvidos. Mas em todos os casos, recursos internos sempre serão utilizados para o melhor enfrentamento de uma situação tão difícil que é ter um câncer ou ter um filho com este diagnóstico.
Quanto mais precoce o diagnóstico, mais tempo os pais têm para buscar informações, compreender a situação de desenvolvimento do filho que estão esperando e lidar, gradativamente, com os sentimentos inerentes a essa condição.
A doença oncológica pode desencadear nas famílias disfuncionalidades previamente existentes ou até então inexistentes, pode ser um fator de coesão entre as pessoas, relacionado ao tratamento e sobretudo à cura.
No que diz respeito ao luto materno, uma vez que uma mãe perde um filho, a dor aparece como uma ruptura na relação da mãe que perdeu um filho, gerando sofrimento e dor. Não uma dor física produzida no sistema nervoso, mas uma dor com sentido de sentimento de perda, de aflição, tristeza e desgosto, essa dor ela é sentida, vivida, sendo a dor de perder um filho indescritível (ASSIS; MOTTA; SOARES, 2019).
Vale ressaltar, diante do sofrimento da mãe, que é importante reconhecer os sentimentos e expectativas, em torno do contexto da assistência à criança com CA, permitindo ressignificar seu papel de cuidadora, quanto mãe, e que carrega todo um sentimento de proteção, amor e zelo (SANTOS et al, 2017)
4 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CÂNCER INFANTIL
Hoje, o profissional psicólogo está cada vez mais atuante na área da oncologia junto com a equipe multidisciplinar, prestando assistência aos familiares e portadores de câncer quando recebem o diagnóstico, acompanhando os comportamentos emocionais de todos em sua volta quando recebem a notícia. É importante que o psicólogo orienta, aconselha e esclareça como o câncer pode ser menos dolorido psicologicamente, uma vez que, a estrutura familiar sofre com o impacto da notícia como impotência, sensação de perda de controle e medo de morte (CAMPOS; RODRIGUES; CASTANHO, 2021).
É nesse contexto que, de acordo com Carmo e Souza (2004), os familiares buscam compreender o porquê da doença e encontrar explicações de sua causa, pois nesse momento há uma mistura de sentimentos, como a raiva pela doença, culpa pelo acontecimento, e a negação do diagnóstico.
Quando comunicado o diagnóstico de câncer para os filhos/as, é causado grandes mudanças nos familiares, uma vez que a vida de uma criança quando informada da doença podem ocorrer experiências que geram diferentes emoções. A dor causada pode levar a problemas psicológicos que desencadeiam processos emocionais vulneráveis, que nestes casos precisam ser acompanhados por um profissional durante o tratamento (OLIVEIRA, 2021).
Dessa forma, na família, em especial, a mãe que acompanha o diagnóstico e as fases do tratamento, desenvolvem em seu emocional sentimentos positivos e negativos como a tristeza, choque, o medo, a dor, afastamento de familiares e amigos e mudanças de vida social. Enquanto que as crianças já apresentam sentimentos que sentem solidão, isolamento, desconforto físico, incapacidade, perda da infância devido às restrições que o câncer exige, tudo isso acaba comprometendo a infância da criança além da própria patologia diagnosticada (OLIVEIRA, 2021).
Para ajudar a lidar com o sofrimento emocional de famílias e crianças, um papel importante dentro do hospital é o de psicólogos que trabalham no campo da psico- oncologia pediátrica. Esta é uma área de trabalho que atua com equipes multidisciplinares para facilitar a progressão mais adequada do tratamento desde a fase de diagnóstico até ao processo de morte, com acompanhamento regular dos doentes, crianças e família. Os profissionais de psicologia também realizam intervenções psicológicas necessárias para ajudar as crianças e os pais e/ou responsáveis a articular o luto. Em ambiente hospitalar, a psicologia é responsável por três eixos, simbolizando suas atividades de intervenção, formação e pesquisa (OLIVEIRA; ROSA; MARBACK, 2018).
Também dentro dos tratamentos de câncer, temos o tratamento paliativo onde o termo paliativo é o cuidado recomendado por equipes multidisciplinares para oportunizar uma “boa morte”, sucedendo procedimentos de alívio da dor, possibilitando ao paciente manter o bem-estar psicológico, aspectos sociais e espirituais, e trabalhar com equipes multidisciplinares e interdisciplinares para fornecer suporte psicossocial aos pacientes e suas famílias durante o processo de luto, garanta sempre a melhor qualidade de vida possível para seus pacientes. No entanto, considerando o processo de internação e todo o suporte psicológico para a família, pode-se observar que eles estão esgotados física e mentalmente devido à tediosa rotina de exames, tratamento e internação que têm que seguir (INCA, 2018).
A partir disso, a relação entre a família e a criança muda, sendo comum a voz parental e/ou o cuidador tem dificuldade em controlar a doença da criança, certos comportamentos são difíceis devido à extrema preocupação, ou dificuldade em assumir as responsabilidades exigidas. A maneira como os pais e/ou responsáveis lidam com a doença depende em parte de suas experiências passadas, valores e crenças pessoais, mas também dos recursos sociais disponíveis na comunidade para lidar com eventos estressantes.
A morte em decorrência de câncer infantil reflete um desfecho precoce da vida podendo provocar forte repercussão na existência da mãe. O processo de morrer e o acontecimento da morte inscrevem-se nos âmbitos individual e social como dado inexorável, a partir de diferentes formas de interpretação, negociação e enfrentamento. Neste cenário, o lugar da doença crônica/mortal na infância instaura, inicialmente, um sentimento de frustração e pode vir a inaugurar, a posteriori, uma crise de sentido, que repercute como uma crise da própria vida. Conviver com a experiência da morte de outrem inaugura um fenômeno chamado de luto, processo frequentemente convencionado à perda irreversível de outro ser humano, ou seja, ao rompimento de um vínculo (SILVA; MELO, 2013).
Dessa forma, quando uma mãe perde um filho, sofre o luto patológico, este é classificado como luto patológico quando a dor da perda persiste por um longo período de tempo, em que a melancolia é acompanhada de luto profundo que pode levar a problemas de saúde, transtornos mentais e isolamento social, geralmente, a perda de um ente querido acaba gerando um sentimento de abandono e depressão no subconsciente do enlutado (SILVA; CARNEIRO; ZANDONADI, 2017).
Hoje, o luto materno é considerado a dor mais profunda da perda apropriada no caso do luto patológico. Quando ocorre uma ruptura após a morte de um filho a mãe fica em um estado de sofrimento muito doloroso. Dessa forma, é necessário que eles expressem seus sentimentos, mas nem todos conseguem passar por esse processo de forma saudável. Nesses casos o luto é prolongado, como os casos que vivenciam uma morte por suicídio de filhos (TRISTÃO; GOMES, 2019)
Com a terapia de acompanhamento é possível normalizar os sentimentos e restaurar o interesse pela vida, pois durante o curso da terapia são processadas cinco fases: negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação. Durante a terapia, essas etapas permitem que a aceitação da perda do ente querido seja menos dolorosa e, assim, consigam lidar com a perda e melhorar a qualidade de vida (AZEVEDO; SIQUEIRA, 2020).
Nessas fases, a negação é quando o enlutado não quer aceitar a morte de um ente querido, a raiva é quando ele não consegue continuar negando o fato da perda, na fase de negociação, o enlutado tenta encontrar uma forma de mudar o que aconteceu, principalmente a Deus, tentando assim retardar a perda. Na depressão, o enlutado começa a pensar no ocorrido e muitas vezes se retrai, enquanto na fase de aceitação a mordida é mais dolorosa e encontra paz total (LEAL et al, 2019)
Diante de fatores que pressionam familiares e pacientes, há situações que pressionam os especialistas, dificuldades em internar pacientes. Em alguns procedimentos, como os cuidados paliativos, esse é um dos fatores que podem causar mais estresse. Quando a morte de uma criança é sentida iminente, a equipe pode demonstrar a impotência e incompetência, diante da morte de uma criança. Muitos profissionais lutam para lidar com essa situação e acabam se distanciando de seus familiares e pacientes (HERMES; LAMARCA, 2013).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do artigo exposto, conclui-se que o luto de uma mãe frente a perda de um filho que se foi para o câncer é de extrema delicadeza. A mãe fica em uma vulnerabilidade psíquica e, diante disso, merece atenção. É perceptível que com a vulnerabilidade destas mães tem que ter um espaço de escuta para elas, pois somente lhes escutando, será possível identificar as mães que estão em um sofrimento, luto mais intenso, as quais o CA no filho é uma situação traumática capaz de provocar dor psíquica.
O CA infantil ao longo dos tempos sempre foi considerado como uma doença terminal, com enorme desgaste físico e mental tanto para o paciente quanto para mãe, uma vez que a grande maioria dos pacientes acometidos pela doença acabavam morrendo. De fato, é uma doença grave, sendo a principal causa de morte por doenças em crianças. Atualmente, com o desenvolvimento de novos métodos terapêuticos e com o avanço de pesquisas médicas, o número de crianças que sobrevivem ao CA aumentou consideravelmente, visto que 80% das crianças podem ser curadas, se tratadas em centros especializados. Embora a medicina tenha avançado muito no tratamento do CA, há um descompasso entre a visão médica da doença e a percepção pela sociedade. Associação da doença a uma série de significados negativos, com enormes influências psíquicas, por ser grave e de difícil tratamento e compreensão. Na maioria das vezes, quando se recebe o diagnóstico do CA, logo se refere à morte diante da perplexidade causada pela informação do diagnóstico.
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1Acadêmico de psicologia. E-mail:matozoadriano75@gmail.com. Artigo apresentado à UNIRON, como requisito para obtenção do título de Bacharel em psicologia, Porto Velho/RO, 2023.
2Acadêmico de psicologia. E-mail: luanatobiasdesouza@gmail.com. Artigo apresentado à UNIRON, como requisito para obtenção do título de Bacharel em psicologia, Porto Velho/RO, 2023.
3Acadêmico de psicologia. E-mail:paulo.92claudino@gmail.com. Artigo apresentado à UNIRON, como requisito para obtenção do título de Bacharel em psicologia, Porto Velho/RO, 2023.
4Acadêmico de psicologia. E-mail:keilasantos_silva@hotmail.com. Artigo apresentado à UNIRON, como requisito para obtenção do título de Bacharel em psicologia, Porto Velho/RO, 2023.
5Professora Orientadora. Professor do curso de Psicologia. E-mail: francleia.silva@uniron.edu.br
6Professora Orientadora. Professor do curso de Psicologia. E-mail: chimene.nobre@uniron.edu.br