REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7983072
Solange Dourado1
Júlia Marta de Aquino2
RESUMO
Este artigo é resultado do trabalho de pesquisa conclusiva da utilização do jornal impresso e televisivo dentro de sala de aula, os quais embasaram-se primeiramente na opinião de diversos autores que abordam a temática e subsidiaram a compreensão de aspectos educativos que fazem parte do processo de aprendizagem, dentre os quais destacam-se: organização educacional, planejamento, formação de professores e a inserção de novas tecnologias. A proposta emergiu após perceber através da literatura que estes instrumentos são capazes de propiciar aos educandos o acesso a aprendizagens significativas que contribuem para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a formação holística dos mesmos como a leitura, escrita, interpretação, conhecimentos interdisciplinares.Desta forma, utilizou-se como cenário a Escola Municipal João Alfredo em Manaus para por em prática tanto discussões acerca das notícias veiculadas na mídia quanto a elaboração coletiva do jornal impresso, a fim de abordar a realidade em que a escola e seus sujeitos estão inseridos. Com isso, percebeu-se que o uso do jornal televisivo e impresso levou em consideração a realidade em que os mesmos estão inseridos, seus interesses e expectativas no que se refere a educação como instrumento de inserção nas práticas societárias.
Palavras-chave: Educação; Novas Tecnologias; Jornal impresso e televisivo.
1 INTRODUÇÃO
A educação é uma das práticas societárias que exige contínuas transformações, mesmo sabendo da existência de modelos educativos dogmáticos e ultrapassados. Acredita-se que através da intervenção de profissionais da educação que pensam, discutem e se preocupam com a adequação da mesma as exigências vigentes será possível romper com práticas pedagógicas incapazes de atingir e envolver seus partícipes no processo de aquisição de novos conhecimentos dentro da sala de aula. É justamente neste cenário de preocupações e mudanças que emerge as novas tecnologias aplicadas a educação as quais podem ser utilizadas como instrumentos de aprendizagem.
Diante de tais constatações emergiu a necessidade de utilizar duas tecnologias dentro do espaço de sala de aula para verificar a receptividade envolvimento dos educandos com a nova prática. Dentre as novas tecnologias utilizou-se o jornal televisivo e impresso, os quais foram inseridos dentre as práticas cotidianas do espaço de sala de aula a fim de propiciar aos mesmos acesso a diferentes saberes, aplicação dos conhecimentos interdisciplinares que já possuíam, despertando a autonomia, organização, participação, criatividade – elementos fundamentais no processo de construção da cidadania.
2 EDUCAÇÃO, ESCOLA E SOCIEDADE
A educação é uma das múltiplas vertentes que fazem parte da sociedade, a qual continuamente deve buscar transformações que visem a melhoria dos mecanismos e estratégias capazes de promover aprendizagens que possam ser aplicadas a curto, médio e longo prazo na vida de seus sujeitos.
Conforme afirma Libâneo (1994, p.16) a educação é um fenômeno tanto social quanto universal, pois existe uma dependência entre as partes, pois não existe sociedade sem educação e vice-versa. É através da prática educativa que a sociedade transforma-se, mediante a participação de seus sujeitos, os quais buscam a satisfação de suas necessidades nos aspectos econômicos, sociais, políticos, etc. Diante da mesma concepção de que a educação esta diretamente relacionada com a sociedade, Bock (2002) destaca a relevância das práticas que são estabelecidas dentro da escola e sua contribuição para a formação do cidadão, e acrescenta:
Na verdade, a escola, como instituição social, estabelece um vínculo ambíguo com a sociedade. É parte dela e, por isso, trabalha para ela, formando os indivíduos necessários à sua manutenção. No entanto, é tarefa da escola zelar pelo desenvolvimento da sociedade e, para isso, precisa criar indivíduos capazes de produzir riquezas, de criar, inventar, inovar, transformar. Diante desse desafio, a escola não pode ficar presa ao passado, ao antigo à tradição. Esta brecha abre a possibilidade para o surgimento de uma escola crítica e inovadora (BOCK, 2002, p. 267)
Mesmo sabendo que a educação ocorre nos mais diversificados cenários, família, igreja, convém destacar que é no ambiente escolar que a educação ocorre de forma sistematizada e com intencionalidades, através de planejamentos que levem em consideração a realidade dos educandos. Neste aspecto Pacheco (2007) direciona o tipo de postura a ser adotado pela escola , que almeja contribuir para a formação holística do educando, e sugere:
A escola deveria assumir o posto de comando e liderar um movimento global de renovação, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Na sociedade da informação, a escola deve tomar a dianteira nesse universo conhecimento. Deve fornecer uma formação integral, baseada numa concepção crítica, em que o contato e a vivência com a informação possam fazer florescer verdadeiros cidadãos. (PACHECO, 2007, p. 104 -105).
Libâneo (1994, p. 222) ressalta que o ato de planejar a educação perpassa pelos vários segmentos societários como economia, política, cultura, haja vista que estes elementos fazem parte da realidade do educando. Entretanto, o que se tem notado dentro do cenário educativo é a mecanização do processo de planejar tão somente para atender a exigências institucionais, descartando totalmente o interesse dos educandos.
Desta forma, questiona-se se é possível promover uma educação que envolva seus sujeitos, tornando-os participantes ativos do processo de construção de saberes? Ou o que mais importa para os profissionais da educação é o alcance de metas ilusórias que se baseiam tão somente em índices de aprovação e reprovação?
Embora alguns profissionais não se preocupem com o desenvolvimento holístico de seus alunos, ainda existem um grande quantitativo de educadores engajados na transformação da educação e suas práticas. Entregando a sociedade sujeitos autônomos, criativos, participativos, interventores e transformadores.
É nessa perspectiva que Libâneo (1994, p. 110) e Moran (2009, p. 01) destacam a importância de incentivar a aquisição de aprendizagens fundamentadas nas necessidades, interesses , desejos que conduzam os educandos a auto realização, a fim de que estes se enquadrem as novas exigências sociais, rompendo com modelos ultrapassados que não conduzem a aprendizagens, ideia que é ressaltada a seguir:
Numa sociedade cada vez mais complexa, a educação social – além da escolar – é decisiva para encontrar novos caminhos de aprendizagem e realização. A educação atual é previsível, repetidora, distante da vida. Com as mudanças tão profundas em todos os campos, a educação precisa ser muito mais criativa, diferente, envolvente. (MORAN, 2009, p. 01)
2.1 Novas Tecnologias: transformação X comodismo
Neste cenário de contínuas transformações referentes às práticas adotadas no âmbito educacional Mercado (2002, p. 12-13) destaca a valorização da informação na sociedade atual, a qual tem priorizado sujeitos criativos, críticos, capazes de pensar, de trabalhar em grupo. Assim, percebe-se que o modelo educativo adotado outrora não contempla os interesses vigentes de cidadão autônomo, criativo,questionador, capaz de propor soluções aos problemas e responder às mudanças que ocorrem continuamente.
As mudanças societárias de acordo com Pacheco (2007, p. 98) tem conduzido alguns educadores à reflexão acerca de suas profissões, os quais devem procurar adequar-se as novas exigências e inserir em suas práticas alternativas como as novas tecnologias, as quais irão subsidiar ações mais dinâmicas que atenda a realidade dos educandos.
Mercado (2002, p. 18) ressalta que a sociedade do conhecimento tem exigido dos educadores o enquadramento em um novo perfil , o qual deve ser: comprometido, competente, crítico, aberto a mudanças, interativo e exigente.
Desta forma, destaca-se que os problemas que emergem na sociedade, na maioria das vezes procura culpados pela origem do fato. Porém, não se pode atribuir a falta de interesse pela educação, tão somente a professores.Precisa-se sim de uma reversão cultural, econômica, social para que a educação ocupe o papel primordial que lhe compete.
O que fazer diante desta realidade em que o professor não é o único responsável pela degradação da educação, escola, aprendizagem? Ficar parado esperando a transformação societária, mediante a sensibilização populacional?
Acredita-se que não, os profissionais podem agir inserindo em suas práticas mecanismos como as novas tecnologias, a fim de facilitar e promover aos educandos a construção de saberes significativos e de aplicabilidade no seu entorno. É exatamente assim que Moran (2009) percebe o ambiente de sala de aula, o qual destaca:
Podemos transformar uma parte das aulas em processos contínuo de informação, comunicação e de pesquisa, onde vamos construindo o conhecimento equilibrando o individual e o grupal, entre o professor-coordenador-facilitador e os alunos-participantes ativos. Aulas-informação, onde o professor mostra alguns cenários, algumas sínteses, o estado da arte, as coordenadas de uma questão ou tema. Aulas-pesquisa, onde professores e alunos procuram novas informações, cercar um problema, desenvolver uma experiência, avançar em um campo que não conhecemos. (MORAN, 2009.)
Enfim, diante desta possibilidade de inserir novas práticas pedagógicas em sala de aula é que optou-se em trabalhar duas tecnologias: o jornal impresso e o jornal televisivo, os quais podem contribuir para a compreensão da dinamicidade dos fatos que ocorrem na sociedade. Mas, ao incorporar tais instrumentos pedagógicos Martin (2009, p. 03), enfatiza a importância da reflexão e do uso adequado destes na aquisição de aprendizagens e acrescenta:
Se é real o perigo de que os sistemas educacionais se tornem totalmente defasados em relação ao desenvolvimento tecnológico, não é menos certo que com a adoção precipitada de todos os novos meios que nos são apresentados e vendidos como panacéas, correríamos o grave risco de aceitar as novas tecnologias em nossas aulas por um imperativo comercial, por medo de perder posições na corrida do progresso, sem nos perguntar sobre as implicações ideológicas ou sobre as repercussões no processo de ensino e aprendizagem. (MARTIN, 2009, p.03 – 04)
2.2 Jornal impresso e televisivo: instrumentos pedagógicos aplicáveis em sala de aula
O jornal é um instrumento universalizador de informações , e de acordo com Martin (2009, p. 01) pode ser utilizado dentro do espaço educativo proporcionando avanços no segmento , haja vista que despertam o interesse dos educandos e os capacita para o exercício da cidadania.
Assim, percebe-se que é atribuição da educação, seus profissionais e ambientes, proporcionar aos educandos a acesso a saberes que desenvolvam habilidades necessárias para sua formação integral. Porém, Paroli (2009, p. 03) ressalta que o fato de inserir novas tecnologias na educação não garante a aprendizagem, mas se esta estiver alicerçada num planejamento adequado que priorize o desenvolvimento de saberes e práticas relacionadas ao prazer de aprender, sem dúvida alcançará êxito em sua proposta.
No que se refere a aprendizagem Blattman (2009, p. 03) destaca que este processo ocorre de formas diversificadas onde a informação é o fator primordial que busca proporcionar compreensão dos sujeitos que dela se apropriam. Jonassen (2009, p. 74) acrescenta que a utilização de novas tecnologias deve acima de tudo proporcionar aos educandos aprendizagens significativas que envolvam questões relacionadas a complexidade dos problemas que ocorrem na sociedade, contextualizando-os de uma forma que conduza os mesmos a compreensão do que esta sendo exposto de forma oral ou escrita.
Sousa (2009, p. 07) destaca que as muitas informações que circulam na sociedade atualmente, principalmente através da mídia são superficiais e fáceis de serem esquecidas, e é justamente nesta fragmentação decorrente do excesso de fontes que a educação e seus profissionais podem intervir de forma significativa, orientando seus alunos na perspectiva de capacitá-los a construir um conhecimento aprofundado dos fatos que ocorrem em seu entorno.
Desta forma, o que fora veiculado de forma efêmera pode ser pesquisado, questionado, reconstruído de forma que possa ser utilizado na elucidação de uma problemática ou uma dúvida que permeia a vida dos educandos.
Assim, acredita-se que o jornal refletido pelos sujeitos do cenário educacional pode ser considerado um instrumento didático pedagógico, pois considera o universo do aluno, suas dificuldade, dúvidas, interesses, transformando a informação no conhecimento que agrega valor ao desenvolvimento da cidadania dos mesmos.
Megid (2009, p. 04-07) ressalta a importância da reflexão acerca das informações apresentadas nos jornais, pois a notícia difere significativamente entre o jornal impresso e o televisivo, enquanto o primeiro pressupõe um leitor reflexivo, o jornal televisivo que atinge todos os níveis culturais e econômicos veicula notícias de forma pronta e acabada.
Daí um dos motivos de utilizar ou implementar o jornal dentro do cenário educativo, pois de acordo com Diniz (2009, p. 01) o jornal escrito teve seu início na área educacional por volta dos anos 30, quando o New York Times direcionou suas edições para serem trabalhadas dentro do cenário educacional, o qual tem alcançado cada vez mais adeptos da utilização deste objeto como instrumento pedagógico de extrema relevância na apropriação de saberes.
No Brasil e no Amazonas a mesma prática tem sido adotada na perspectiva de proporcionar aos educandos o acesso a informações atualizadas as quais podem e devem ser trabalhadas em sala de aula, de maneira interdisciplinar, dinâmica e divertida. Mas, o fato de ter a disposição exemplares de jornais de grande circulação na cidade, estado ou país em que residem, não significa que estes não possam construir o referido instrumento didático pedagógico que retrate mais precisamente a realidade da escola, da comunidade, alunos, professores e demais problemas e anseio que permeiam o imaginário e a vivência de cada cidadão educativo.
Ora, sabe-se que todo programa desenvolvido na sociedade apresenta uma intencionalidade a ser atingida, conforme Diniz (2009, p. 01) geralmente estes programas voltam-se mais para aspectos relacionados a leitura, a fim de criar cidadãos leitores e futuros consumidores do produto Jornal. É claro que além disso, este instrumento pode ser utilizado dentro do espaço educativo como um mecanismo de apoio pedagógico as várias disciplinas presentes no currículo educativo, estimulando a criticidade, a reflexão e o questionamento dos fatos que ocorrem aos eu redor.
Blattman (2009, p. 01) ressalta que a televisão também já faz parte do cenário educativo a muito tempo, e que ainda hoje ela pode ser utilizada como um a tecnologia educativa capaz de despertar o interesse , a participação dos alunos nos questionamentos e temas que são propostos e direcionados pelos professores na perspectiva de compreender a realidade da qual fazem parte. Por trabalhar com imagens, a televisão é atrativa, desde que tenha metas bem definidas e intencionalidades a serem alcançadas.
Diniz (2009, p. 02) acrescenta que o jornal de forma geral proporciona ganhos a seus leitores, elaboradores, pois aumenta a cultura, estimula o desenvolvimento do intelecto, e dentro do espaço educativo permite relacionar as práticas enfatizadas no currículo com a realidade da qual fazem parte. Desta forma, destaca-se que ao elaborar ou até mesmo utilizar o jornal no cenário educativo o educando tem acesso a interdisciplinaridade curricular, o qual pode intervir, propor, reconstruir, comparar com os fatos que ocorrem ao seu redor e que despertam seu interesse e curiosidade.
Para alunos da rede pública sobretudo, matérias sobre a merenda escolar, o vestibular, ou a reforma do ensino serão certamente familiares. Trabalhando com assuntos e temas locais, regionais ou globais, traz o pensamento nacional para a escola e provoca os alunos para questões próximas a eles, pois dizem respeito direta ou indiretamente às suas vidas, demandando posicionamento crítico, o que colabora para a formação cidadã.(DINIZ, 2009, p. 03).
É nesta perspectiva de utilizar mecanismos capazes de comunicar e auxiliar na obtenção de aprendizagens significativas que buscou-se selecionar duas tecnologias que podem ser aplicadas no cenário educacional, o jornal impresso e o televisivo, sendo que o primeiro centrou–se tão somente em debates e questionamentos acerca do que é difundido diariamente pela televisão, até que ponto o jornal televisivo tem contribuído para a formação de cidadão críticos? Como o professor pode intervir para a leitura crítica do que tem sido disseminado na mídia? Enquanto que o segundo, o jornal impresso, foi elaborado pelo universo educacional da escola Municipal João Alfredo, os quais de forma colaborativa colocaram em prática as diversas ciências aprendidas no decorrer da vida acadêmica.
De acordo com Augusto (2009, p. 01) ao produzir um jornal, deve-se estimular a produção textual, o uso de diferentes linguagens, estimular a pesquisa, o trabalho coletivo, valorização dos múltiplos saberes que cada sujeito possui, para que este s se comprometam com o desenvolvimento do trabalho. Assim, ao envolvê-los na execução do jornal estes poderão opinar acerca de temas, seções, logotipo, público a qual se destina, ,etc.
No que se refere à temática de utilização de novas tecnologias dentro da área educacional acreditava-se ser possível melhorar o processo de aprendizagem dos educandos. Com isso, inicialmente a proposta fora aplicada em algumas turmas do ensino fundamental, as quais ministrava a disciplina História, haja vista que apesar de utilizar diferentes mecanismos para que os alunos se apropriassem do conhecimento histórico em suas várias interpretações, ainda faltava algo. O que de acordo com Megid é a interdisciplinaridade e acrescenta:
A leitura crítica da mídia deve permear as mais diversas disciplinas sejam elas exatas, biológicas ou humanas. É essencial saber que o que é dito em cada veículo de comunicação poderia sê-lo de outra forma. O que está escrito em um jornal não se repete em outro. Além disso, quem lê uma notícia não produz uma mesma leitura que uma outra pessoa. São pequenas ou grandes diferenças na construção do texto (construído por linguagem verbal e não verbal) e dos leitores que determinam a produção dos sentidos. (MEGID, 2009, p. 09).
Diante de tais embasamentos teóricos chegou o dia em que fora levado notícias atuais que eram veiculadas na mídia, as quais inicialmente foram hostilizadas pelos educandos que rotulavam o veículo de informação como algo monótono e sem graça.Mesmo assim, decidiu-se adotar o jornal televisivo continuamente nas aulas, a fim de fazê-los compreender as entrelinhas e fatores que culminaram na eclosão de determinado fato.
Paralelamente a prática utilizada na sala de aula decidiu-seconhecer os motivos que fazem-nos assistir ou não, o jornal televisivo, mediante a elaboração de um questionário fechado que seria aplicado ao universo de aproximadamente 120 alunos (os quais ministro a disciplina História) com alguns itens que fizesse o pesquisador conhecer a realidade dos educandos, compreender dificuldade, anseios e perspectivas para então intervir e contribuir para a obtenção de aprendizagens com a utilização de novos mecanismos que podem ser incorporados em suas práticas diárias.
Ora, após perceber os principais motivos que culminaram na falta de interesse pelo jornal televisivo teve-se argumentos para continuar o trabalho pedagógico com tal instrumento no dia – a – dia de sala de aula. Para isso utilizava-se os fatos da realidade imediata, os quais eram questionados, analisados, criticados para enfim serem apropriados como aprendizagem.
2.2.1 Jornal impresso e televisivo: instrumentos pedagógicos aplicáveis em sala de aula
Dentre os fatos que foram diagnosticados através do questionário estava a resistência em assistir ao jornal televisivo, apesar de ser de fácil acesso aos educandos. A grande maioria do público pesquisado não assiste o jornal, conforme mostra o gráfico.
Gráfico 1 :Opinião dos alunos sobre a audiência dos mesmos ao jornal televisivo
Sabendo que o fato de assistir ao jornal televisivo não é uma prática contínua dos educandos que fazem parte do universo da pesquisa, buscou-se descobrir quais os motivos que os impedem de obter informações acerca dos fatos que ocorrem na sociedade. E para surpresa a grande maioria informou que não consegue compreender as notícias que são veiculadas, em seguida um quantitativo significativo informou que não tem interesse em assistir ao jornal e por fim poucos não assistem por falta de tempo. Conforme será apresentado no gráfico.
Gráfico 2 :Opinião dos alunos acerca dos fatores que os impede de assistir ao jornal na TV
Com isso percebe-se que o jornal apesar de ser de fácil acesso este não procura elucidar as dúvidas que persistem com os telespectadores, até por que a notícia é pronta e acabada e não pode ser amplamente discutida na televisão em decorrência do custo. Mas questiona-se qual tem sido a recepção das informações por parte dos alunos, estes acreditam em tudo que é veiculado? Ou questionam, pesquisam? Diante de tal dúvida levou-se até o público alvo da pesquisa a questão, a qual será elucidada no gráfico.
Gráfico 3: Opinião dos alunos sobre a veracidade das informações do jornal televisivo
É justamente na perspectiva de superar o vazio existente entre a notícia veiculada e a compreensão do fato que nota-se a superficialidade da informação, e acredita-se que o debate , a pesquisa são fundamentais para superar a crença de que tudo que é transmitido é a verdade absoluta e inalterável, pois ao saber de uma notícia precisa analisar os fatores que culminaram na eclosão do fato. Conforme o gráfico a seguir será possível perceber a postura dos educandos frente as informações veiculadas pela mídia:
Gráfico 4: Opinião dos alunos sobre as causas que originam o acontecimento noticiado
A alternativa de conduzir os educandos a compreensão dos fatos que ocorrem na sociedade atual, e levar novas tecnologias ao espaço da sala de aula para que estes percebam a importância do mecanismo utilizado pela mídia desde que este seja utilizado de forma adequada objetivando a formação de cidadãos críticos e interventores. É claro, que toda ideia precisa da aprovação de seus partícipes e de acordo com informações obtidas no questionário (que serão representadas no Gráfico 5), os alunos , o público alvo acharam interessante buscar alternativas que os façam compreender o que ocorre e acima de tudo que contribua para a formação holística dos mesmos.
Gráfico 5: Opinião dos alunos sobre a abordagem do noticias do jornal televisivo dentre as práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula
Ao levar o jornal televisivo para sala de aula e discuti-lo, compará-lo e relacioná-lo com coisas do passado e contribuições para o futuro os alunos se motivaram e reconheceram que abordagem de uma notícia pode ocorrer nos diversos espaços societários, inclusive na sala de aula, de forma dinâmica e envolvente proporcionando a seus sujeitos a compreensão do que ocorre ao seu redor, bem como pode aprimorar conhecimentos relacionados a leitura, escrita, interpretação, participação, iniciativa, respeito, etc. De um universo de 120 alunos 80% aumentou o rendimento escolar em todas as disciplinas e 20% melhorou somente na disciplina História. De qualquer forma foi um avanço significativo que norteou novas abordagens pedagógicas.
Foi a partir deste primeiro momento em que se utilizou a tecnologia do jornal televisivo que emergiu a ideia de elaborar o jornal impresso com o mesmo público que fora trabalhado o jornal televisivo, só que seria limitada a algumas salas de aulas, acabou sendo do conhecimento de toda a Escola Municipal João Alfredo, os quais mesmo não fazendo parte do universo da pesquisa estes tiveram acesso as etapas e ao produto final, o Jornal Impresso que fora disponibilizado aos alunos e professores dos diversos turnos e séries,a fim de motivá-los a incorporar novas tecnologias capazes de promover aprendizagens.
2.3 A construção do jornal na Escola Municipal João Alfredo
Figura 1: Capa do jornal Escola em Ação (2007)
O jornal impresso embora fosse instrumento de um universo de 120 educandos ele não tinha por objetivo somente a construção de um produto. Este ao ser pensado e elaborado centrava-se na possibilidade de proporcionar aos educandos o acesso a conhecimentos diversificados, bem como estimular a liderança, organização, iniciativa , cooperação e tantos outros elementos que devem fazer parte da formação do cidadão da atualidade. Além de desenvolver nos mesmos o hábito de leitura e escrita como forma reflexiva e crítica que possibilitam crescimento cognitivo, afetivo e social.
Por perceber que no ambiente escolar existiam inúmeras reclamações por parte dos professores em relação a escrita e a linguagem utilizadas nas atividades em sala de aula, as quais eram percebidas através da leitura de texto, escrita em testes ou exercícios gerais, haja vista que os alunos adotavam no espaço educativo a mesma linguagem das lan houses, grupos de jovens, demonstrando total desprezo a linguagem culta que deve ser adotada em diversos ambientes societários. Nesta situação entendemos que a escola como veículo de transformação da realidade, pode e deve contribuir para formação crítica dos seus alunos, agregando as ferramentas que são de uso cotidiano dos alunos “novos” instrumentos de mediação pedagógica.
Na perspectiva de incorporar as práticas pedagógicas novos instrumentos de aprendizagens idealizou-se este projeto, por acreditar que a produção de um jornal estimula a leitura e escrita, por meio de ferramentas que já são do conhecimento dos alunos como o computador, internet e agrega neste processo a valorização da pesquisa tanto virtual como real ( livros, revistas, entrevistas, etc), a fim de fomentar a relação entre pares, a discussão reflexiva e crítica, domínio da expressão verbal em público, afetividade, aspectos relevantes para uma vida social, que prioriza o desenvolvimento individual e coletivo dos cidadãos.
Assim para por em prática a ideia foi necessário a divulgação da proposta, a qual foi embasada em pesquisa bibliográfica, visita in loco a redação de jornal, estudo da linguagem impressa, experimentação da produção textual jornalística. Claro que para atingir tal nível de organização foi necessário a realização de várias reuniões que estabelecessem equipes para atuar em segmentos distintos, a fim de agilizar a produção jornalística.
Desta forma, alguns alunos ficaram responsáveis pela visitação em bibliotecas, TV Escola, Internet, para coleta de materiais sobre histórico do Jornal, Funcionamento, Linguagem, Estrutura, outros pela síntese do material coletado. Posteriormente, superada a etapa inicial, o processo de pesquisa teve prosseguimento no que se refere a incorporação do jornal na escola,desenvolvimento dos cadernos do jornal, impressão, criação da apresentação do jornal, tabulação dos dados, organizarão matérias de caráter coletivo a serem desenvolvidos pelas salas de aula ( Ex: Caderno de Saúde responsabilidade da sala x) e pauta das matérias de caráter da equipe do jornal ( Ex: Entrevista com a Diretora da Escola).
E o mais interessante de tudo isso é que o processo ensino aprendizagem desenvolveu-se de forma prazerosa e todos os sujeitos que contribuíram para a construção do jornal tiveram a oportunidade de desenvolver conhecimentos adotados no currículo educativo como a leitura, a escrita, interpretação, saberes matemáticos, artísticos, históricos, geográficos, ou seja, foi um produto interdisciplinar que agregou valor a formação dos educandos, dos quais 80% aumentou o rendimento nas múltiplas disciplinas inseridas no currículo, tornando-se executores de uma história de luta e conquista.
O jornal revelou talentos, motivou alunos que não acreditavam em suas capacidades, despertou o espírito da cidadania e o anseio de modificar práticas prejudiciais a coletividade e permitiu trazer á tonas interesse dos próprios sujeitos que os elaboraram.
Enfim, decorrido o período de sensibilização, incorporação, aplicabilidade das novas tecnologias, jornal escrito e televisivo dentro do universo educativo, percebeu-se inúmeros avanços no desenvolvimento e formação cidadã. O fato de por em prática os conhecimentos teóricos desenvolveu nos educandos a segurança de intervir, opinar, sugerir, modificar, o que sem dúvida vai ser utilizado no cenário educativo em todas as disciplinas acadêmicas, mas também vai ser levado para a vida.
Figura 2: Fotografia/Capa do jornal Escola em Ação (2007)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao propor a inserção de novas tecnologias como objeto de estudo que pode ser aplicado de forma contributiva no setor educacional percebeu-se que esta temática já vem sendo amplamente discutida por profissionais de diversos segmentos, a fim de incorporá-la como um instrumento facilitador da aprendizagem dentro da sala de aula.
Mas afinal é possível inserir novas tecnologias no cenário educacional e aperfeiçoar aprendizagens no ambiente de sala de aula ?
Através da experiência vivenciada na elaboração e execução do projeto, o qual resultou neste artigo percebe-se que é possível inserir novas tecnologias na educação, porém o fato de lavar o instrumento ao ambiente proposto não é suficiente para elucidar toda uma problemática que perpassa por questões culturais, sociais , econômicas, etc.
Até porque é notório que a educação como a sociedade é composta por sujeitos de opiniões antagônicas, os que são favoráveis as mudanças e os opositores. O que sem dúvida foi um dos motivos que dificultou a aplicação da ideia proposta Além disso, percebeu-se que muitos dos profissionais que atuam no segmento educativo não se veem preparados para romper com práticas que são adotadas a anos, atribuindo tal limitação a má formação dispensada aos mesmos, e os próprios alunos mostram-se desmotivados e desinteressados pelo fato de aprender.
Mesmo diante de todas as dificuldades, o que norteou o desenvolvimento do projeto foi a necessidade e anseio de proporcionar aos educandos o acesso a novas aprendizagens que os conduzissem ao aperfeiçoamento de habilidades científicas, acadêmicas, sociais, etc.
Desta forma, optou-se em abordar justamente tecnologias que já são utilizadas em outros ambientes domésticos e sociais, que os alunos conhecem utilizam, mas que na maioria das vezes não conseguem explorá-los em suas múltiplas contribuições.Assim, fora trabalhado no decorrer do ano letivo da Escola Municipal João Alfredo, o jornal televisivo (primeiramente) e o jornal impresso.
Por fim, a utilização de tecnologias como o jornal televisivo e impresso foi possível permitiu o aperfeiçoamento de conhecimentos de cunho científico incorporados no currículo como leitura, escrita, interpretação, saberes matemáticos, artísticos, históricos, bem como aprimorou relações de amizade, de solidariedade além de despertar a credibilidade e confiança nas potencialidades que serão levadas a todos os segmentos societários, mas que acima de tudo modificou rendimento (de 80% dos partícipes da pesquisa), postura, perspectivas de futuro dentro do cenário educativo. Vamos continuar envolvidos no trabalho de formação cidadã com a utilização de mecanismos capazes de proporcionar aprendizagens relevantes e prazerosas.
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