REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202409241645
Ana Sofia Uchôa
Joaquim Ângelo
Letícia Albuquerque Maranhão de Lira
Resumo
O Movimento Empresa Júnior (MEJ), nascido na França em 1967, encontra seu maior contingente operacional no Brasil em 2024, presente no país desde 1987. Neste processo, com a criação do Planejamento Estratégico da Rede, documento realizado trienalmente desde 2007 cujo o conteúdo visa unir o Movimento Empresa Júnior em prol de objetivos e metas em comum, o MEJ consegue posicionar pessoas com uma forte educação empreendedora em diversas instâncias do primeiro ao terceiro setor, auxiliando o sucesso e desenvolvimento de inúmeras instituições. O presente artigo busca entender e aprofundar como o Movimento Empresa Júnior, conhecido comumente como MEJ, consegue influenciar um panorama de menor porte, auxiliando na disposição de tomadores de decisão em organizações de até 50 colaboradores.
Palavras-chave: Empresa Júnior, Impacto, Comunidade, Mercado
Introdução
É visado no artigo, apresentar como a difusão de uma educação empreendedora por meio da vivência empresarial proporcionada por Empresas Juniores e como esse fato impacta no ecossistema local, colocando tomadores de decisão jovens e mais autônomos no mercado de trabalho. É notado que 90% de pessoas que passaram pelo Movimento Empresa Júnior, se sentem mais preparadas para enfrentar seu futuro profissional, justamente por já terem sido postos em prática habilidades como: Comunicação, Liderança e Postura.
No mesmo sentido, mais de 90% concordam, total ou parcialmente, que o contato direto com o cliente e o desenvolvimento de soluções para problemas reais de clientes os preparou melhor para o mercado de trabalho, bem como desenvolver competências técnicas a fim de torná-los aptos profissionalmente.
CARNEIRO FILHO, Antônio José Lopes. Empresas Juniores: o impacto na educação e na economia da Paraíba. 2016.
O que são Empresas Juniores?
As Empresas Juniores são associações civis sem fins lucrativos, compostas por estudantes universitários que buscam desenvolver suas habilidades profissionais e gerar impacto social positivo. Ao oferecerem serviços de consultoria à comunidade, as EJ’s promovem a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos em sala de aula, estreitam os laços entre a academia e o mercado de trabalho, e estimulam a autonomia e o empreendedorismo entre seus membros.
As empresas juniores são organizações autônomas vinculadas às instituições de ensino superior, geridas por estudantes e graduação, desde os aspectos técnicos de prestação de serviços e projetos, como da gestão das empresas (Oliveira, 2005).
A opção por se engajar em uma empresa júnior como atividade extracurricular, seja ao mesmo tempo que atividades de estágio remunerado e/ou outros projetos acadêmicos, ou até em substituição a esses, é justificada pelas suas características distintas e pelos benefícios exclusivos que oferece. Esta escolha depende das especificidades do curso de graduação e das necessidades individuais de cada estudante.
Gerir uma empresa júnior proporciona uma experiência prática para aplicar a teoria aprendida nas aulas e desenvolver competências em áreas como estratégias de venda e marketing, bem como na execução de projetos. Os alunos têm a oportunidade de desenvolver produtos finais para clientes reais, atendendo às suas demandas e necessidades.
Destaca-se, nesse cenário, a significativa autonomia dos estudantes, que são encarregados de diversas funções: desde o planejamento estratégico da empresa, criação de campanhas de marketing e realização de estudos de mercado, até a definição e superação de metas. Eles também participam diretamente em todas as etapas do processo com os clientes, incluindo negociações, execução, entrega e renovação de contratos.
Em uma estrutura horizontal de gestão, comum nas empresas juniores, não existem superiores a quem se deve prestar contas. O sucesso da empresa depende do entendimento de que cada membro deve assumir seu papel de forma eficaz e aproveitar as oportunidades para contribuir para o crescimento pessoal e profissional, assegurando assim o bom andamento das atividades.
O que são Micro e Pequenas Empresas?
No Brasil, as empresas são divididas em classificações empresariais baseado em alguns critérios, como número de funcionários, receita bruta anual e alguns outros fatores a depender das instituições envolvidas. Neste artigo serão analisadas as micro e pequenas empresas brasileiras.
A definição das micro e pequenas empresas brasileiras pode variar de acordo com a entidade, de acordo com a Receita Federal (Simples Nacional) as microempresas (ME) são as empresas com receita bruta anual de até R$360.000,00 e as empresas de pequeno porte (EPP) são as organizações com receita entre R$360.000,00 e R$4.800.000,00. Neste modelo do Simples Nacional, as empresas que são administradas por uma pessoa jurídica não podem fazer parte deste regime. (Serasa Experian, 2021)
Já de acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), as microempresas (ME) são as organizações com até 9 funcionários no comércio e serviços, ou até 19 funcionários na indústria. Já as pequenas empresas (EPP) são as organizações com a partir de 10 até 49 funcionários no comércio e serviços, ou entre 20 e 99 funcionários na indústria. (Serasa Experian, 2021)
Estas definições e classificações das empresas servem para ajudar na formulação de programas de apoio e de políticas públicas, levando em consideração o tamanho da organização, receita anual e o impacto dessas empresas na economia brasileira. Deste modo, estas divisões ajudam a padronizar e organizar as empresas de acordo com a sua situação financeira e também de acordo com a sua capacidade operacional.
Breve Histórico do Movimento Empresa Júnior
O Movimento Empresa Júnior (MEJ) teve seu início na França no ano de 1967 ao ser fundada a primeira empresa júnior por estudantes da ESSEC, em Paris. O objetivo inicial era ter a oportunidade de criar uma empresa e poder aplicar na prática o que estava sendo dado em sala de aula. A iniciativa foi muito bem vista e acabou sendo replicada por várias outras universidades francesas e também começou a se espalhar para outros países. No Brasil, o movimento chegou em 1988, com a criação da primeira Empresa Júnior na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A ideia de uma Empresa Júnior envolve a criação de uma organização sem fins lucrativos, criada e gerenciada exclusivamente por estudantes universitários. O principal objetivo é proporcionar aos alunos um momento de aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos em sala de aula, oferecendo serviços de consultoria para empresas, pessoas físicas e instituições. Esses serviços, embora pagos, têm todo o valor revertido para o desenvolvimento das atividades da própria EJ e para o investimento nos membros, fortalecendo o aprendizado dos alunos.
No Brasil, o movimento das empresas juniores cresceu consideravelmente desde a sua chegada no país. Atualmente, o país é a maior rede mundial de EJs, contando com mais de 1.500 empresas e cerca de 30.000 empresários juniores ativos (Carvalho, 2023). As empresas juniores são regulamentadas pela Lei Nº 13.267/2016, que dita algumas regras para sua fundação e funcionamento, incluindo o trabalho voluntário com obrigação e a proibição de vínculos partidários.
No Brasil, O MEJ tem como objetivo fomentar o empreendedorismo, aproximando a relação dos jovens universitários com o mercado de trabalho. Cada Empresa Júnior oferece algumas soluções inovadoras baseadas em conhecimento acadêmico e na sua área de atuação, contribuindo para o desenvolvimento de hard e soft skills nos estudantes, preparando-os para o mercado de trabalho. A passagem do jovem por uma EJ é muito enriquecedora visto que é um momento inicial de bastante aprendizado, oportunidade de liderança e criação de networking. Além disso, algumas multinacionais como Ambev, Azul, e Bradesco já firmaram parcerias com o movimento, atraindo talentos formados dentro das EJs.
O movimento empresa júnior francês é um dos mais relevantes ao ser comparado com o brasileiro, mas possui algumas diferenças estruturais. Na França, os jovens universitários que fazem parte de alguma EJ recebem remuneração por seu trabalho, e há regulamentações que garantem direitos sociais, incluindo a obrigatoriedade de filiação à seguridade social. A Confédération Nationale des Junior-Entreprises (CNJE) regula as EJs francesas, que são vistas como estruturas profissionais legítimas e com elevado nível de expertise (Carvalho, 2023). Tanto o MEJ francês quanto o brasileiro, compartilham o compromisso com a inovação e a formação de lideranças empreendedoras, porém possuem algumas diferenças em aspectos como remuneração e estrutura organizacional.
Dessa forma, o MEJ representa uma ponte entre os estudantes universitários e o mercado de trabalho, promovendo a oportunidade de que os estudantes desenvolvam competências essenciais para suas futuras carreiras enquanto contribuem com soluções inovadoras para o setor empresarial. No Brasil, o movimento segue crescendo, consolidando-se como um dos maiores exemplos de empreendedorismo universitário no mundo (MEJ).
Lei das Empresas Juniores
A Lei 13.267 de 2016 estabelece orientações gerais relacionadas ao funcionamento das empresas juniores, cabendo a cada instituição de ensino – pública ou particular – legislar em seu próprio âmbito interno, consoante o princípio constitucional da autonomia universitária. Considera-se empresa júnior a entidade organizada nos termos desta Lei, sob a forma de associação civil gerida por estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino superior, com o propósito de realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos associados, capacitando-os para o mercado de trabalho.
Importância da empresa júnior na vida do jovem universitário
Essa sistemática de preparação, execução e entrega, embasada na autonomia, na liderança e no senso de pertencimento, outorga ao empresário júnior responsabilidade, maturidade, visão estratégica, aprendizado prático e a possibilidade de adquirir e/ou aperfeiçoar inúmeras habilidades, como a oratória e a negociação, a resolução de casos concretos e a propositura de soluções emergenciais para problemas inéditos, concretizando o já mencionado plano de formação com base em competências. Em função disso, o estudante, quando ingressa no mercado de trabalho, já o faz com familiaridade, mas também com capacidade decisória, com criatividade e com postura inovadora e empreendedora (Silva; Andrade, 2015; Lemos, 2017).
Diferenciais de um pós júnior no mercado de trabalho
Profissionais que têm experiência em empresas juniores desenvolvem habilidades valiosas que os destacam no mercado de trabalho. Entre essas competências estão as soft skills, como comunicação eficaz, liderança e trabalho em equipe, todas essenciais para enfrentar os desafios do ambiente corporativo. Além disso, os pós júniores costumam ter experiência prática em gestão de projetos, o que proporciona uma visão estratégica e resiliente, características fundamentais para cargos de liderança. Outro diferencial é a capacidade de inovação e espírito empreendedor, já que o ambiente das empresas juniores incentiva a busca por soluções criativas e melhorias contínuas. Essa vivência prática não apenas complementa a formação acadêmica, mas também prepara o profissional para se adaptar rapidamente às demandas de um mercado em constante mudança, oferecendo um diferencial competitivo significativo.
METODOLOGIA
A metodologia empregada na elaboração deste artigo foi dividida em duas etapas distintas. Inicialmente, foram conduzidas pesquisas em matérias jornalísticas e artigos científicos relacionados ao Movimento Empresa Júnior (MEJ), visando a obtenção de informações atualizadas e relevantes sobre o tema. Isso proporcionou uma base sólida de dados e eventos recentes que enriqueceram a compreensão do contexto e do panorama atual do MEJ no Brasil e no mundo. Visa-se medir os impactos do Movimento Empresa Júnior de maneira quantitativa e aplicada, de maneira descritiva e com estratégia documental.
Essa abordagem metodológica combinada permitiu uma análise abrangente e fundamentada do movimento, incorporando diferentes perspectivas e fontes de informação para oferecer uma visão completa e atualizada do movimento no contexto brasileiro.
CONCLUSÃO
Com base nas análises do presente artigo, conclui-se que o Movimento Empresa Júnior desempenha um papel fundamental no desempenho individual e práticas estratégicas em Micro e Pequenas Empresas, preparando estudantes universitários de uma forma eficiente e eficaz para o mercado de trabalho. A experiência de fazer parte de uma Empresa Júnior oferece uma oportunidade única de jovens aplicarem o conhecimento teórico universitário adquirido em sala de aula em situações reais, desenvolvendo habilidades técnicas e comportamentais de alto impacto para empresas, contribuindo cada vez mais em um Movimento de expansão constante para um ecossistema empresarial mais saudável e competitivo. Além disso, o MEJ estimula o espírito empreendedor e a capacidade de inovação.
Observa-se que a estrutura horizontal e a autonomia concedida aos estudantes para a gestão e execução de projetos são diferenciais que proporcionam um desenvolvimento acelerado de competências de liderança, resolução de problemas e tomada de decisão. As características citadas tornam o empresário júnior mais preparado e madura para enfrentar o mercado de trabalho, mostrando que a atuação direta com clientes reais e responsabilidade em gerenciar pessoas e processos fazem parte de um aprendizado sólido, fomentando diversas áreas do saber.
O impacto do MEJ em Micro e Pequenas Empresas é notável, e os empresários juniores vêm contribuindo bastante para o desenvolvimento e expansão das mesmas, oferecendo não só serviços de consultoria a preços acessíveis auxiliando na otimização de processos internos e posicionamento de mercado, mas como também lideranças cada vez mais desenvolvidas, que visam integrar o futuro destas organizações, com propósito, ética e principalmente, competência. O MEJ, impactando diretamente a realidade empresarial das MPEs, impacta também o desenvolvimento positivo da economia local e estimula a busca de jovens universitários à educação empreendedora, fator chave no Movimento Empresa Júnior, que também diminui a evasão escolar no âmbito acadêmico.
Por fim, percebe-se o Movimento Empresa Júnior como ferramenta de transformação e mudança tanto econômica quanto educacional. O MEJ consolida-se como uma plataforma teórica e prática, preparando futuros profissionais capacitados e com ampla visão das necessidades e desafios do mercado. O crescimento contínuo do Movimento no Brasil e sua relevância adquirida nos últimos 10 anos, demonstram seu potencial para continuar influenciando o cenário empresarial e acadêmico, sendo um elo crucial entre formação universitária, educação e desenvolvimento sustentável da economia regional.
REFERÊNCIAS
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