O IMPACTO DAS CASAS DE APOSTAS NO PODER DE COMPRAS DAS CLASSES C, D E E NO NORDESTE BRASILEIRO

THE IMPACT OF BETTING HOUSES ON THE PURCHASING POWER OF CLASSES C, D AND E IN THE BRAZILIAN NORTHEAST

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410301443


Juliana de Freitas Soares Avelar Caldas,
João Victor Maia Nobre Maranhão,
João Henrique Correa Souza Leão,
Professor: Carlos Henrique Michels de Sant’anna


RESUMO

O avanço das casas de apostas no Nordeste brasileiro tem gerado um impacto significativo no poder de compra das classes C, D e E, com implicações tanto econômicas quanto sociais. A promessa de ganhos rápidos atrai um grande número de pessoas dessas classes, que, movidas pela esperança de melhorar sua condição financeira, acabam comprometendo uma parcela considerável de sua renda em jogos de azar. Este comportamento, frequentemente impulsionado por estratégias de marketing agressivas, contribui para uma redução do poder aquisitivo dessas classes, refletindo em menores gastos com necessidades básicas e um aumento no endividamento. Além disso, o impacto psicológico e social sobre as famílias e comunidades é notável, com a proliferação de comportamentos compulsivos e o aumento da vulnerabilidade econômica. Assim, o estudo deste fenômeno torna-se essencial para compreender as dinâmicas econômicas regionais e o papel das casas de apostas na redistribuição de renda, bem como na perpetuação das desigualdades sociais no Nordeste.

Palavras-chave: Endividamento; Estratégias de marketing; Impacto social, Vulnerabilidade econômica.

1 INTRODUÇÃO

O fenômeno das casas de apostas tem se tornado uma parte importante da paisagem econômica e social em muitos países, especialmente com o advento das plataformas digitais que facilitam o acesso às apostas. Esse crescimento levantou preocupações sobre como essas atividades influenciam o comportamento econômico dos indivíduos, particularmente dos grupos socioeconômicos mais vulneráveis.

Estudos anteriores indicam que o envolvimento com apostas pode ter efeitos prejudiciais sobre a situação financeira dos indivíduos. De acordo com Williams et al. (2011), o comportamento de jogo pode resultar em perdas financeiras substanciais, que podem comprometer o orçamento familiar e aumentar o risco de endividamento (Williams et al., 2011). Pesquisas apontam que as pessoas de baixa renda são mais propensas a gastar uma parcela significativa de seus recursos em apostas, o que pode afetar negativamente seu poder de compra e suas condições de vida (Williams, Rehm & Stevens, 2011).

A problematização central reside na observação de que as casas de apostas frequentemente direcionam suas campanhas publicitárias e ofertas promocionais para segmentos da população que já enfrentam dificuldades financeiras. Isso levanta questões sobre a ética e as consequências desse direcionamento para os mais pobres. As pessoas que já lutam para atender suas necessidades básicas podem se ver atraídas por promessas de ganhos rápidos, mas acabam exacerbando sua situação financeira ao gastar recursos que deveriam ser alocados para necessidades essenciais.

O objetivo principal deste estudo é analisar como a participação em atividades de apostas influencia o poder de compra das pessoas com menor capacidade econômica. Especificamente, busca-se entender a extensão do impacto financeiro das apostas e como ele afeta a capacidade desses indivíduos de adquirir bens e serviços essenciais. Além disso, a pesquisa visa identificar possíveis correlações entre o gasto com apostas e a deterioração das condições econômicas dos indivíduos afetados.

A relevância deste estudo é destacada pelo potencial de suas descobertas para informar políticas públicas e estratégias de intervenção social. Compreender o impacto das apostas sobre os mais pobres pode ajudar a formular medidas mais eficazes para proteger esse grupo vulnerável e promover alternativas de suporte financeiro. A pesquisa também contribui para a discussão acadêmica sobre a relação entre comportamento de jogo e pobreza, fornecendo insights valiosos para futuras investigações e para a elaboração de estratégias de mitigação de riscos associados. Portanto, a pesquisa se justifica pela necessidade de abordar uma questão de crescente importância social e econômica, oferecendo uma análise detalhada dos efeitos das casas de apostas no poder de compra dos indivíduos mais pobres e propondo possíveis caminhos para a intervenção e suporte adequados.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

As casas de apostas têm uma longa história que evoluiu significativamente com o tempo. De atividades informais a operações regulamentadas e altamente sofisticadas, o setor passou por mudanças estruturais que impactam diretamente a economia dos indivíduos envolvidos. O crescimento acelerado das casas de apostas, impulsionado pela tecnologia e pela liberalização das leis de jogos, tem criado novos desafios econômicos e sociais para as classes mais baixas (Smith, 2021). O modelo de negócio geralmente se baseia em estratégias que visam maximizar o engajamento e o gasto dos clientes. Essas estratégias incluem promoções agressivas, bônus e ofertas especiais que atraem principalmente os apostadores frequentes, muitas vezes resultando em altos gastos por parte de indivíduos de baixa renda (Jones & Robinson, 2022).

As apostas podem ter um impacto significativo no poder de compra das pessoas, especialmente das mais pobres. Estudos mostram que o gasto com apostas pode reduzir a capacidade dos indivíduos de gastar com necessidades básicas, como alimentação e moradia. Este efeito é exacerbado quando os indivíduos utilizam uma parte significativa de sua renda para jogos, comprometendo sua estabilidade financeira e qualidade de vida (Williams et al., 2011). A relação entre apostas e pobreza é complexa, dados sugerem que a aposta pode criar um ciclo de pobreza, onde indivíduos que já estão em situações econômicas precárias acabam exacerbando suas dificuldades financeiras ao gastar recursos em jogos de azar. Este fenômeno é muitas vezes alimentado por uma falta de educação financeira e a busca por ganhos rápidos (Harrison, 2019).

O comportamento dos consumidores é influenciado por uma combinação de fatores sociais e psicológicos. Estudos indicam que a busca por gratificação instantânea e a ilusão de controle sobre os resultados das apostas são fatores significativos que impulsionam os gastos em jogos de azar. O impacto psicológico das perdas financeiras pode levar a comportamentos de apostas mais compulsivos e destrutivos (Parke & Griffiths, 2018). Elas têm implicações sociais significativas, incluindo impactos negativos nas relações familiares e na coesão comunitária. A dificuldade financeira causada pelo gasto excessivo pode levar a conflitos familiares e aumentar a pressão sobre redes de apoio social, resultando em uma maior marginalização das pessoas afetadas (Griffiths, 2021).

A regulamentação é uma área fundamental, para diminuir os impactos negativos sobre as pessoas, diversos países têm implementado políticas para limitar o acesso a jogos de azar e proteger os consumidores vulneráveis. Analisar as políticas existentes e suas efetividades pode ajudar a entender como melhorar a proteção das populações mais afetadas e promover práticas de jogo mais responsáveis (Kearney & Lee, 2022). No Brasil, a legalização, o plano de regulamentação e a demanda dos apostadores abriram espaço para uma ampla variedade de plataformas de apostas online emergirem, o que contribuiu para uma lista diversificada de esportes e modelos de apostas (Magalhães, 2023). Para Chagas (2016) o governo validou as loterias esportivas com o argumento de ajudar no desenvolvimento do esporte.

O estado da técnica no setor de apostas inclui avanços tecnológicos que transformaram a forma como os jogos são oferecidos e acessados. A tecnologia digital permitiu uma maior personalização e acessibilidade das apostas, o que pode amplificar os riscos para os consumidores, especialmente aqueles de baixa renda. A análise das inovações tecnológicas no setor pode oferecer uma visão sobre como esses desenvolvimentos estão influenciando o comportamento dos apostadores e o mercado em geral (Miller & Ruse, 2023).

3 METODOLOGIA

Segundo Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é caracterizada pela investigação a partir de contribuições teóricas publicadas, o que permite uma ampla compreensão do fenômeno em estudo. Para este estudo, foram selecionados trabalhos que abordam o comportamento de consumo de populações de baixa renda, o impacto socioeconômico das casas de apostas, e a relação entre vício em jogos de azar e vulnerabilidade financeira (Reis, 2018).

A escolha das fontes considerou a relevância dos autores no campo, bem como a atualidade e qualidade das publicações, garantindo que o material utilizado fosse capaz de fornecer um panorama atualizado e robusto sobre a questão. A análise dos dados coletados foi feita por meio da técnica de análise de conteúdo, conforme proposta por Bardin (2011), que permitiu a identificação de padrões, categorias e relações entre o tema central e as consequências econômicas do comportamento de apostadores de baixa renda.

A partir desse processo, foi possível compreender como o acesso fácil a casas de apostas pode influenciar negativamente o poder de compra dos mais pobres, gerando ciclos de endividamento e empobrecimento progressivo (Carvalho, 2019).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Os resultados das pesquisas bibliográficas indicam que as casas de apostas têm se tornado uma presença crescente no cotidiano das classes mais pobres, exercendo um impacto significativo no poder de compra dessa parcela da população. Estima-se que, em muitos casos, essas empresas oferecem um atrativo imediato de ganho financeiro rápido, mas acabam contribuindo para o agravamento das dificuldades econômicas daqueles que já se encontram em situação de vulnerabilidade.

De acordo com Scalea (2017), o acesso facilitado às plataformas de apostas, por meio de dispositivos móveis e promoções agressivas, tem seduzido um grande número de indivíduos das classes C e D. Isso se deve, em parte, à promessa de uma melhoria rápida na condição financeira, com a perspectiva de que os ganhos possam superar as limitações impostas pela falta de oportunidades de emprego e renda.

Entretanto, como destaca Vendramel (2020), o envolvimento em jogos de azar tende a resultar em perdas financeiras contínuas, especialmente entre aqueles que apostam repetidamente. A falsa sensação de controle, associada à crença de que “a próxima aposta trará o retorno”, faz com que muitos indivíduos acabem comprometendo uma parte substancial de sua renda disponível. Esse comportamento é corroborado por Santos el al. (2022), que aponta que, em uma análise feita com 500 indivíduos de baixa renda, 40% dos entrevistados admitiram destinar uma parcela significativa de seu salário mensal a essas atividades.

A literatura também sugere que as casas de apostas promovem uma distorção na percepção de risco financeiro. Gomes (2019) ressalta que a propaganda dessas empresas tende a focar nos vencedores e nas recompensas imediatas, deixando de lado o fato de que a maioria dos apostadores acaba perdendo mais dinheiro do que ganha ao longo do tempo. Essa realidade gera um efeito adverso, diminuindo a capacidade de consumo dos indivíduos e comprometendo suas condições de vida.

No que tange ao impacto direto no poder de compra, Carvalho (2024) argumenta que, com a crescente popularização das apostas, muitas famílias enfrentam uma redução em suas capacidades de aquisição de bens essenciais. O estudo realizado por esses autores indicou que famílias que participam regularmente de apostas acabam comprometendo em torno de 15% a 20% de sua renda em jogos de azar, o que diminui sua capacidade de adquirir alimentos, pagar contas de serviços básicos e investir em necessidades essenciais, como saúde e educação.

Além disso, o impacto psicológico das apostas também não deve ser negligenciado. A frustração gerada pelas perdas pode resultar em comportamentos impulsivos, levando o indivíduo a buscar mais apostas como uma forma de “recuperar” o dinheiro perdido, o que apenas perpetua o ciclo de empobrecimento.

O fácil acesso e a disseminação de campanhas publicitárias atraentes criam um ambiente onde o comportamento de risco é incentivado, comprometendo a renda já escassa desses indivíduos. Portanto, é fundamental que políticas públicas e programas educativos sejam implementados para conscientizar a população sobre os perigos financeiros associados a essas atividades, de modo a reduzir seus impactos nas classes mais vulneráveis.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo confirmam que a participação em atividades de apostas impacta negativamente o poder de compra das pessoas com menor capacidade econômica, corroborando os objetivos da pesquisa. Observa-se que indivíduos de baixa renda tendem a comprometer uma parte significativa de seus recursos em jogos de azar, resultando em perdas financeiras que agravam sua situação econômica e limitam o acesso a bens e serviços essenciais.

A pesquisa evidencia uma correlação clara entre o gasto com apostas e a deterioração das condições econômicas dos apostadores, destacando a vulnerabilidade desse grupo diante de campanhas publicitárias agressivas e da fácil acessibilidade às plataformas digitais. Além disso, confirma-se que o comportamento compulsivo gerado pelas apostas pode perpetuar um ciclo de empobrecimento, impactando não apenas as finanças pessoais, mas também o bem- estar familiar e social.

Em relação às contribuições teóricas, o estudo amplia a compreensão da relação entre jogos de azar e vulnerabilidade econômica, destacando a necessidade de intervenções mais robustas no campo da educação financeira e na regulação dessas atividades. No campo prático, os achados sugerem a importância de políticas públicas que restrinjam a exposição das populações mais pobres a práticas predatórias das casas de apostas.

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