REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7834194
Bárbara Christina Chaves Portes¹
Marcos Vinícius Guimarães Viana²
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar a técnica H.T.P. (House-Tree-Person) na Gestalt-terapia, explorando suas características, aplicação clínica e benefícios para os pacientes. A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que valoriza a compreensão holística da pessoa, considerando suas experiências subjetivas, emoções e relacionamentos interpessoais. A técnica H.T.P. consiste em solicitar ao paciente que desenhe uma casa, uma árvore e uma pessoa, permitindo que o terapeuta compreenda sua visão de mundo, emoções e conflitos internos. O estudo da Gestalt-terapia tem sido relevante para a área da saúde mental, pois oferece uma visão ampla e integrada do ser humano e seus processos psicológicos. Além disso, a técnica H.T.P. tem se mostrado eficaz na avaliação da personalidade e do estado emocional do paciente, permitindo um diagnóstico mais preciso e uma intervenção mais adequada às necessidades do paciente. A abordagem não diretiva e não interpretativa da Gestalt-terapia também é uma característica importante, permitindo que o paciente construa sua própria compreensão de si mesmo e de suas questões. Ao longo do artigo, serão discutidas as origens e fundamentos da técnica H.T.P. e sua relação com os princípios teóricos da Gestalt-terapia. Também serão apresentados exemplos práticos de como a técnica pode ser utilizada na clínica, ilustrando sua utilidade no processo terapêutico. Em resumo, o H.T.P. é uma técnica valiosa para a prática clínica na Gestalt-terapia, permitindo uma compreensão mais profunda do paciente e contribuindo para uma intervenção mais eficaz.
Palavras-chave: Testes; Gestalt-Terapia; HTP; Desenhos
ABSTRACT
This article aims to present the H.T.P. (House-Tree-Person) in Gestalt therapy, exploring its characteristics, clinical application and benefits for patients. Gestalt therapy is a psychotherapeutic approach that values the person’s holistic understanding, considering their subjective experiences, emotions and interpersonal relationships. The H.T.P technique It consists of asking the patient to draw a house, a tree and a person, allowing the therapist to understand their worldview, emotions and internal conflicts. The study of Gestalt Therapy has been relevant to the field of mental health, as it offers a broad and integrated view of human beings and their psychological processes. In addition, the H.T.P. has been shown to be effective in assessing the patient’s personality and emotional state, allowing for a more accurate diagnosis and intervention that is more appropriate to the patient’s needs. The non-directive and non-interpretive approach of Gestalt therapy is also an important feature, allowing the patient to build his own understanding of himself and his issues. Throughout the article, the origins and foundations of the H.T.P. and its relationship with the theoretical principles of Gestalt therapy. Practical examples of how the technique can be used in the clinic will also be presented, illustrating its usefulness in the therapeutic process. In short, the H.T.P. it is a valuable technique for clinical practice in Gestalt Therapy, allowing a deeper understanding of the patient and contributing to a more effective intervention.
Keywords: Tests; Gestalt-Therapy; HTP; Designs
INTRODUÇÃO
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que enfatiza a compreensão holística da pessoa, levando em consideração sua experiência subjetiva, suas emoções e suas relações interpessoais. Uma das técnicas mais utilizadas na Gestalt-terapia é o H.T.P. (House-Tree-Person), que consiste em solicitar ao paciente que faça três desenhos simples: uma casa, uma árvore e uma pessoa. Essa técnica permite que o terapeuta compreenda a visão de mundo do paciente, suas emoções e seus conflitos internos, além de fornecer informações valiosas sobre sua personalidade e seu estado emocional (GARCIA, 2019).
Este artigo tem como objetivo apresentar a técnica H.T.P. na Gestalt-terapia, explorando suas características, sua aplicação clínica e os benefícios que pode proporcionar aos pacientes. Serão discutidas as origens e fundamentos da técnica, bem como sua relação com os princípios teóricos da Gestalt-terapia. Ao final, serão apresentados exemplos práticos de como a técnica pode ser utilizada na clínica, ilustrando sua utilidade no processo terapêutico.
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que tem ganhado cada vez mais destaque e reconhecimento na área da saúde mental. Essa abordagem enfatiza a compreensão holística da pessoa, levando em consideração sua experiência subjetiva, suas emoções e suas relações interpessoais. Uma das principais características da Gestalt-terapia é a sua abordagem não diretiva e não interpretativa, ou seja, o terapeuta não impõe sua interpretação ao paciente, mas o ajuda a construir sua própria compreensão de si mesmo e de suas questões (ESCH et al., 2012).
O estudo da Gestalt-terapia tem sido relevante para a área da saúde mental, pois oferece uma visão ampla e integrada do ser humano e de seus processos psicológicos. Além disso, a técnica H.T.P. (House-Tree-Person) é uma das mais utilizadas na Gestalt-terapia e tem se mostrado eficaz na avaliação da personalidade e do estado emocional do paciente. Através da análise dos desenhos realizados pelo paciente, o terapeuta pode compreender a visão de mundo do paciente, seus conflitos internos e sua forma de lidar com eles. Isso permite um diagnóstico mais preciso e uma intervenção mais adequada às necessidades do paciente (LIMA, 2022).
2 GESTALT-TERAPIA
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que surgiu na década de 1950, na Europa e nos Estados Unidos. Seus principais fundadores foram Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman. Fritz Perls, um psicanalista alemão, foi o principal responsável por desenvolver e difundir a Gestalt-terapia, sendo considerado o pai da abordagem (CIORNAI, 2004).
A Gestalt-terapia teve sua origem na psicologia da percepção, que estudava como as pessoas percebem o mundo ao seu redor. A ideia básica da abordagem é que a percepção humana não é passiva, mas sim ativa e criativa. Ou seja, as pessoas não apenas recebem informações do mundo exterior, mas as interpretam e constroem de acordo com suas necessidades e interesses (CIORNAI, 2004).
Fritz Perls acreditavam que a psicoterapia deveria ser uma experiência integrada, na qual o terapeuta e o paciente se relacionam de forma autêntica e espontânea. A Gestalt-terapia enfatiza a importância da experiência presente, do contato direto com as emoções e do trabalho com o corpo e a expressão corporal (RIBEIRO, 2021).
A abordagem Gestalt-terapêutica foi influenciada por outras correntes da psicologia, como o existencialismo, o behaviorismo e a fenomenologia. Ao longo dos anos, a Gestalt-terapia evoluiu e se expandiu, incluindo novos conceitos e técnicas, como a técnica H.T.P. (House-Tree-Person) e a terapia do diálogo. Atualmente, a Gestalt-terapia é uma das abordagens psicoterapêuticas mais reconhecidas e utilizadas em todo o mundo, sendo aplicada em diversos contextos clínicos e sociais (CARUCA; LIMA, 2018).
2.1 O DESENHO
O desenho é um dos meios de comunicação mais antigos, surgido antes mesmo da escrita e da leitura. O pioneiro no trabalho com desenho como fenômeno de expressão foi realizado por Conrado Ricci em 1887. Ele realizou vários estudos acerca dos estágios da evolução do desenho da figura humana, mas seu foco foi na arte infantil (ARTECHE, 2006).
Posteriormente, surgiram estudos como os de Cooke (1887), Sully (1898), Roubier (1901) entre outros. Com o movimento sociocultural iniciado por Jean-Jacques Rousseau foi instaurado um interesse da psicologia com um novo olhar sobre a infância.
Os teóricos clássicos da psicologia do desenvolvimento propuseram uma divisão do processo de desenvolvimento do desenho em estágios, nos quais os processos cognitivos e de interação da criança são evidenciados. Um dos pioneiros na descrição dessa evolução foi Luquet (1969), que identificou quatro estágios: realismo causal, realismo perdido, realismo intelectual e realismo visual. Cada estágio representa uma etapa diferente na evolução do pensamento da criança e em sua habilidade para representar o mundo ao seu redor através do desenho. Esses estágios são importantes para a compreensão do desenvolvimento da criança e para a identificação de possíveis dificuldades ou transtornos no processo de aprendizagem.
Segundo Piaget (1976), foram identificadas cinco fases do desenvolvimento do desenho. A primeira fase consiste em garatujas desordenadas e ordenadas, que ocorrem durante o período sensório-motor, compreendido entre 0 a 2 anos e início do período pré-operatório. A segunda fase é a fase pré-esquemática, que ocorre durante a fase pré-operatória, entre os 2 e 7 anos. A terceira fase é a fase esquemática, que ocorre durante o período operatório concreto, entre 7 e 10 anos. A quarta fase é o realismo, que acontece no final das operações concretas. E a última fase é o pseudo naturalismo. Por outro lado, Luria (1988) identificou quatro fases, sendo elas: pré-instrumental, fase topográfica, fase pictográfica e a fase simbólica.
De acordo com De Oliveira e Grubits (2019), o desenho foi empregado inicialmente como uma ferramenta para avaliação de aspectos cognitivos em testes psicológicos, e mais tarde passou a ser utilizado como uma técnica projetiva.
Além do entendimento no nível cognitivo, pesquisadores influenciados por pensamentos psicanalíticos como Di Leo (1991) e Hammer (1991) perceberam no desenho uma forma de investigar a personalidade.
O desenho revela conteúdos simbólicos, habilidades cognitivas artísticas, além de ser a forma de comunicação da criança. (DE OLIVEIRA, GRUBITS, 2019)
O desenho pode ser visto por algumas modalidades, entre elas:
o desenho enquanto representação das relações do mundo emocional da criança como uma maneira de chegar ao mundo psíquico infantil e, o desenho enquanto referência ao funcionamento mental do par terapeuta-cliente. (FERRO, 2005)
É possível através do desenho investigar aspectos subjetivos da criança, analisando o tamanho, cor, forma, localização, pressão do lápis no papel e conteúdo que foi desenhado. (DI LEO, HAMMER 1991)
É a partir do desenho que o sujeito expressa a ideia que tem de si mesmo, e a percepção a respeito das outras pessoas que convivem com ele. Também pode representar outros aspectos como preferências, pessoas vinculadas a ele, imagem ideal, padrões de hábitos, atitudes para com o examinador e a situação de testagem.
O contexto cultural do sujeito que realizará o teste é outra questão a ser analisada, pois há possibilidade de variações na frequência de alguns itens de correção de acordo com a cultura. (HUTZ E BANDEIRA, 2000)
A criança quando desenha, de acordo com sua fase de desenvolvimento, vivencia experiências muito particulares “ela está nos oferecendo uma janela para o seu próprio entendimento em desenvolvimento do mundo e de seus relacionamentos com pessoas, coisas e locais importantes que a cercam” (ANNING; RING, 2009, p. 9). Ressalta-se que também pode ser utilizado na prática com adultos, embora apresentem uma maior recusa inicial em desenhar. (DE OLIVEIRA; GRUBITS, 2019)
2.2 O H.T.P
John Buck desenvolveu o teste HTP em 1949, e sua utilização foi autorizada no Brasil pela Resolução do CFP n. 002/2003. A finalidade desse teste é possibilitar a compreensão de aspectos da personalidade do indivíduo, bem como a forma como esse indivíduo interage com o ambiente e com outras pessoas. Em suma, o teste HTP é uma técnica que busca fornecer informações valiosas sobre a personalidade e o comportamento humano por meio da análise de desenhos simples de uma casa, uma árvore e uma pessoa.
Na Gestalt-terapia, H.T.P. é uma sigla que significa “House-Tree-Person” (Casa-Árvore-Pessoa, em tradução livre). É uma técnica de avaliação psicológica que utiliza desenhos simples para investigar a personalidade e o estado emocional do paciente.
Na técnica H.T.P., o paciente é convidado a fazer três desenhos: uma casa, uma árvore e uma pessoa. Cada desenho é solicitado em momentos separados, permitindo ao terapeuta observar a evolução do traço, as escolhas de cores e os elementos presentes em cada desenho.
O objetivo da técnica é permitir que o paciente projete seus conflitos, emoções e padrões de comportamento nos desenhos, fornecendo informações valiosas sobre sua personalidade e suas questões emocionais. A técnica H.T.P. é uma ferramenta importante na prática da Gestalt-terapia, pois ajuda o terapeuta a compreender a visão de mundo do paciente, bem como seus conflitos internos e sua forma de lidar com eles.
O uso do H-T-P é mais adequado para indivíduos acima de 8 anos de idade. A aplicação requer de 30 a 90 minutos, dependendo do número de desenhos solicitados pelo examinador. Utiliza-se folhas em branco, vários lápis pretos nº. 2 (ou mais macio) com borrachas juntamente com um conjunto de crayons (pelo menos oito cores – vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta, marrom e preto), caso os desenhos coloridos sejam pedidos. Um relógio ou cronômetro é necessário para anotar a latência (tempo gasto até o início do desenho) e o tempo total dos desenhos.
O HTP foi planejado para incluir, no mínimo, duas fases: A primeira é não estruturada, criativa e não-verbal. Consiste em convidar o indivíduo a fazer um desenho em páginas separadas, a mão livre acromático, de uma casa, de uma árvore e de uma pessoa; A segunda fase envolve fazer uma série de perguntas relativas às associações do indivíduo sobre aspectos de cada desenho (Buck, 2003). Alguns detalhes podem ser observados:
2.2.1 Casa
As condições de funcionamento do indivíduo estão diretamente relacionadas à estruturação de sua representação, de acordo com Cunha (2000). O autor destaca que a análise de elementos como telhados, paredes, chaminés e portas é importante, sendo que estes últimos estão ligados ao modo como o indivíduo se relaciona com outras pessoas.
2.2.2 Árvore
De acordo com Cunha (2000), a análise de desenhos que retratam árvores inclui a avaliação de elementos como o tronco, a copa, os galhos e a localização na página. Tais elementos estão relacionados à forma como o indivíduo se relaciona com o ambiente, seu comportamento social e seu equilíbrio emocional, incluindo um bom relacionamento com ambos os sexos.
2.2.3 Figura Humana
Está relacionada aos diferentes aspectos do self. O desenho da pessoa revela a percepção mais próxima da consciência que o indivíduo tem de si mesmo, ou de um self ideal e de sua relação com o ambiente, ou seja, a forma como se vê, assim como acredita que os outros o veem. (HAMMER, 1991)
Na análise de um desenho, são observados aspectos como a proporção do desenho em relação à página, a perspectiva utilizada, a qualidade do traço e a presença de detalhes. Esses elementos, de maneira geral, podem fornecer informações sobre o funcionamento de um indivíduo em relação ao seu nível de desenvolvimento esperado e sua capacidade de reconhecer elementos do cotidiano. (DA SILVA et al, 2010).
A aplicação propõe, também, que se realize um Protocolo de Inquérito Posterior ao Desenho acerca de características e descrições de cada desenho realizado sendo esse um subsidio que o avaliador tem para melhor analisar o desenho. (Da Silva et al, 2010).
2.3 PARTICULARIDADES DO H-T-P NO DIAGNÓSTICO
Para propósitos diagnósticos, o H-T-P fornece informações, que, quando relacionadas à entrevista e a outros instrumentos de avaliação, podem revelar conflitos e interesses gerais dos indivíduos, bem como aspectos específicos do ambiente que ele ache problemáticos. Durante o processo terapêutico em andamento, os desenhos podem ser indicativos de transformações amplas no estado psicológico de uma pessoa. (Buck, 2003). O próprio manual do HTP adverte que as informações advindas do protocolo não devem ser analisadas isoladamente e devem ser combinadas com a história clínica do indivíduo e com outros dados.
Caruca e Lima (2018) tem como objetivo discutir a importância da inclusão escolar de crianças autistas e as possibilidades de intervenção a partir da abordagem gestáltica. A partir da análise de relatos de experiências de profissionais que trabalham com crianças autistas em escolas inclusivas, as autoras destacam a importância da relação interpessoal entre professores e alunos, e a necessidade de flexibilização dos métodos de ensino e de adaptação do ambiente escolar para acomodar as necessidades específicas dessas crianças.
É importante valorizar a subjetividade das crianças autistas, respeitando suas peculiaridades e promovendo um ambiente de acolhimento e de aceitação da diferença. Nesse sentido, a abordagem gestáltica se mostra uma possibilidade de intervenção, na medida em que valoriza a experiência subjetiva do indivíduo e busca promover a autorregulação emocional, a percepção corporal e a expressão criativa como recursos para o desenvolvimento pessoal e social (CARUCA; LIMA, 2018).
Observa-se na versão atual do manual do HTP no Brasil a falta considerável de informações sobre os critérios para a interpretação e sobre a origem das associações propostas entre os itens dos desenhos e as psicopatologias.
O HTP possui uma característica patologizante e reducionista, na medida em que vincula as particularidades dos desenhos a indicadores psicopatológicos, sem considerar outras variáveis envolvidas e que não podem ser apreendidas através da aplicação de um único instrumento. Não deve ser considerado como um instrumento único em um processo diagnóstico que vise avaliar aspectos da personalidade de um indivíduo.
Marques et al. (2019) investigam a contribuição da abordagem gestáltica para a compreensão e intervenção em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir de uma revisão integrativa da literatura, os autores destacam a importância da abordagem gestáltica como uma possibilidade de intervenção terapêutica eficaz para o tratamento de crianças com TEA.
A técnica HTP (House-Tree-Person) como uma das técnicas utilizadas na abordagem gestáltica para a avaliação do funcionamento emocional e cognitivo de crianças com TEA. A técnica HTP é apresentada como uma possibilidade de avaliar a organização perceptiva, a integração sensorial e a capacidade de simbolização da criança com TEA, a partir da análise de desenhos espontâneos de uma casa, uma árvore e uma figura humana (MARQUES et al., 2019).
Marques et al. (2019) afirmam que a abordagem gestáltica pode ser uma forma importante de ajudar crianças com TEA, já que valoriza a singularidade do indivíduo, sua subjetividade e seus recursos emocionais e criativos. A técnica HTP é apresentada como uma opção de avaliação e intervenção na abordagem gestáltica para o tratamento de crianças com TEA.
A aplicação do HTP é recomendada no contexto clínico, pois é nesse ambiente que é possível compreender as características individuais do sujeito avaliado. O desenho é considerado uma ferramenta comunicativa que estimula o encontro existencial, que é uma abordagem fundamental na Gestalt-terapia. Por meio do desenho, é possível que o indivíduo se expresse, mostre sua forma de se relacionar com o mundo e revele aspectos que possam estar ocultos de sua própria consciência (BELMIRO, 2020).
A abordagem gestáltica considera não apenas o que o sujeito desenha, mas também como desenha, integrando aspectos biopsicossociais. O desenho é utilizado não só como ferramenta de investigação, mas também como intervenção terapêutica e facilitador do estabelecimento do vínculo, contribuindo para o processo de atualização e crescimento do cliente. O desenho é visto como técnica, pois ajuda a liberar emoções intensas, e como experimento, pois transforma ideias em ações concretas e contribui para a presença plena no momento presente. Essa técnica é fundamentalmente baseada no método fenomenológico e oferece um suporte flexível para estabelecer vínculos terapêuticos. (CASTELAR, 2005; SHEPERD, 1975; ZINKER, 2007).
O método fenomenológico embasa todo trabalho com desenho em Gestalt-terapia que, além de ser o método básico da Gestalt-terapia, garante a autenticidade do vivido pelo cliente e impede que projeções do psicoterapeuta afetem o trabalho, comprometendo o processo, já que o Gestalt- Terapeuta não se utiliza de hipóteses (OLIVEIRA; GRUBITS, 2019).
Com os adultos os desenhos podem ser utilizados no dia-a-dia da prática clínica, contudo, eles se mostram de grande valia em momentos em que o processo psicoterapêutico se encontra estagnado, ou quando o cliente está fixado em um determinado conteúdo (OLIVEIRA; GRUBITS, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A técnica HTP é uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas na abordagem gestáltica, sendo considerada uma técnica projetiva e expressiva. Através da análise de desenhos espontâneos de uma casa, uma árvore e uma figura humana, a técnica HTP permite avaliar aspectos do funcionamento emocional e cognitivo do sujeito, bem como sua capacidade de simbolização e integração sensorial.
Na gestalt terapia, a técnica HTP é utilizada como uma ferramenta complementar à abordagem fenomenológica, na qual o terapeuta busca entender a vivência subjetiva do sujeito em relação a si mesmo, aos outros e ao mundo. Através da análise dos desenhos realizados pelo sujeito, o terapeuta pode identificar padrões de comportamento e percepção, que podem ser trabalhados durante o processo terapêutico.
É especialmente útil no trabalho com crianças e adolescentes, uma vez que permite avaliar e intervir em questões relacionadas ao desenvolvimento emocional, cognitivo e sensorial desses sujeitos. Além disso, a técnica pode ser utilizada em contextos clínicos e não clínicos, sendo adaptada para diferentes idades e níveis de desenvolvimento.
Representa uma importante ferramenta da Gestalt-terapia, que permite avaliar e intervir em questões relacionadas ao funcionamento emocional, cognitivo e sensorial do sujeito. Sua utilização é especialmente relevante no trabalho com crianças e adolescentes, uma vez que permite explorar aspectos do desenvolvimento desses sujeitos de maneira lúdica e não invasiva. Dessa forma, a técnica HTP contribui para o desenvolvimento de uma abordagem mais integrada e abrangente da Gestalt-terapia, que valoriza a singularidade do sujeito e sua capacidade criativa e expressiva.
REFERÊNCIAS
ANASTASI, A., & URBINA, S. (2000). Testagem psicológica (7a ed.). Porto Alegre: Artmed.
ANNING, A., & RING, K. (2009). Os significados dos desenhos de crianças. Porto Alegre, RS: Artmed.
ARTECHE, A. X. Indicadores emocionais do desenho da figura humana: Construção e validação de uma escala infantil. 2006.
BORSA, J. C. Considerações sobre o uso do teste da Casa-Árvore-Pessoa-HTP. Avaliação Psicológica, v. 9, n. 1, p. 151-154, 2010.
BUCK, J. N. (2003). H-T-P: Casa – Árvore – Pessoa. Técnica Projetiva de Desenho: Manual e Guia de Interpretação. (1ª ed.). São Paulo: Vetor
CAMPOS, D. M. S. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade: validade, técnica de aplicação e normas de interpretação. 38. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.
CARUCA, Antonia Jucieelly Silva; LIMA, Deyseane Maria Araújo. Os desafios e possibilidades de socialização de crianças autistas na escola numa perspectiva gestáltica Challenges and possibilities of socialization of autistic children at school in a gestalt perspective. IGT na Rede ISSN 1807-2526, v. 15, n. 29, 2018.
CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. Cadernos Cedes, v. 25, p. 209-225, 2005.
CIORNAI, Selma. Percursos em arteterapia arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. Summus Editorial, 2004.
CUNHA, J. A. (2000). Psicodiagnóstico – V (5a ed.). Porto Alegre: Artmed.
DA SILVA, R. B. F. et al. O desenho da figura humana e seu uso na avaliação psicológica. Psicologia Argumento, v. 28, n. 60, 2010.
DE OLIVEIRA, E. D. F.; GRUBITS, S. O Desenho na Gestalt-Terapia: A Versatilidade dos Traços em Interface com a Prática Clínica. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 19, n. 4, p. 1036-1050, 2019.
DI LEO, J. H. (1991). A interpretação do desenho infantil (3a ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
ESCH, Cristiane Ferreira et al. Descortinando o Passado para Vislumbrar o Porvir: da Gestalt-Terapia à Abordagem Gestáltica no Brasil 40 anos de histórias. 2012.
FERRO, A. (2005). A Técnica na Psicanálise Infantil – a criança e o analista: Da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago.
GARCIA, Gustavo. Terapia de revivência transpessoal: Um modelo emergente em psicoterapia e sua evidência clínica. Editora AGE, 2019.
HAMMER, E. F. (1991). Aplicação clínica nas técnicas projetivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.
HUTZ, C. S., & BANDEIRA, D. R. (2000). Desenho da figura humana (5a ed.). In Cunha, J. A. Psicodiagnóstico – V (pp. 507-512). Porto Alegre:Artmed.
LIMA, Natasha Cabral Ferraz. Práticas da Gestalt-Terapia no Contexto Hospitalar: revisão sistemática de literatura. Revista Científica Gênero na Amazônia, v. 22, n. 2, p. 27-44, 2022.
LUQUET, G. (1969). O desenho infantil. Barcelona: Porto Civilização.
LURIA, A. R. (1988). O Desenvolvimento da escrita na criança. In L. S. Vigotski (Ed.), Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem (pp. 143-190). São Paulo, SP: Ícone – Editora da Universidade de São Paulo.
MARQUES, Maria Andréia Bezerra et al. A Criança com Transtorno do Espectro Autista na Perspectiva da Gestalt-terapia: uma revisão integrativa The Child with Autism Spectrum Disorder in the Gestalt-therapy Perspective: a integrative review. IGT na Rede ISSN 1807-2526, v. 16, n. 31, 2019.
NETO, Almeida et al. A arte como veículo de expressividade e autorreflexividade em alunos com dificuldades de aprendizagem. 2016.
NUNES, M. L. T., SILVA, R. B. F., DEAKIN, E. K., DIAN, S. V., & CAMPEZATTO, P. V. M (2006). Avaliação psicológica e a indicação de psicoterapia psicanalítica para crianças. In Werlang, B. G., & Oliveira, M. S. Temas em psicologia clínica (pp. 29-35). São Paulo: Casa do Psicólogo.
OLIVEIRA, Evelyn Denisse Felix; GRUBITS, Sonia. O desenho na Gestalt-terapia: a versatilidade dos traços em interface com a prática clínica. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 19, n. 4, p. 1036-1050, 2019.
PIAGET, J. (1976). A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro, RJ: Zahar Editores.
RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. Summus Editorial, 2021.
SHEPERD, I. L. (1975). Limitações e cautelas na abordagem gestaltista. In J. Fagan & I. L. Sheperd (Eds.), Gestalt-terapia: Teoria, técnicas e aplicações (pp. 303-309). Rio de Janeiro, RJ: Zahar Editores.
WECHSLER, S. M. (2003). DFH-III – O desenho da figura humana: Avaliação do desenvolvimento de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas: Impressão Digital.
ZINKER, J. (2007). Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo, SP: Summus Editorial.
¹Psicóloga; Gestalt-terapeuta formada pelo IPGF; Especialista em Psicologia da Saúde e Hospitalar (PUC-RIO).
²Psicólogo; Gestalt-terapeuta formado pelo IPGF; Mestre em Psicologia Social (UERJ); Especialista em Psicologia Clínica com Ênfase em Gestalt-terapia (UCL); Docente no Ensino Superior (Estácio de Sá e Universidade Salgado de Oliveira)