REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502061537
Moisés de Oliveira Batista
Cristina Grobério Pazó
Resumo
O futuro das comunidades rurais está em constante transformação, impulsionado por inovações tecnológicas, políticas públicas e a colaboração entre os diversos atores sociais e econômicos. A integração de tecnologias digitais, como aplicativos de gestão agrícola e plataformas de e-commerce, oferece novas possibilidades para o aprimoramento das práticas agrícolas e para o fortalecimento das redes de apoio entre os produtores. Este artigo analisa o papel das tecnologias, das políticas públicas, das instituições financeiras e da solidariedade na construção de comunidades rurais resilientes e sustentáveis. Argumenta-se que a agricultura familiar, com o devido suporte, pode se tornar um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, capaz de enfrentar desafios globais e gerar um futuro próspero para as gerações futuras.
Introdução
A agricultura familiar tem sido observada nos últimos anos por participar na produção de alimentos e redução da fome, gerar bem-estar, combater a pobreza e empregar grande parte das pessoas do setor rural. Ela ainda ganha destaque pela sua forma de conduta, seguindo os princípios da sustentabilidade e promovendo o desenvolvimento rural sustentável (ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR, 2014; PERSPECTIVAS, 2014).
A agricultura, no Brasil, é uma das principais bases da economia do país e tem sido fundamental para os saldos comerciais positivos nas últimas três décadas. É o que revela um estudo liderado por Rogério Freitas, técnico de planejamento do Ipea. A pesquisa abrange um período de 34 anos, 1989 a 2022, e demonstra que a exportação de produtos agropecuários apresentou superávit no saldo comercial em todos os anos analisados. Segundo a pesquisa, somente em 2022, esses produtos responderam por 42% das receitas obtidas pelas exportações brasileiras em dólares.
À medida que o mundo avança para uma era de inovações tecnológicas e profundas transformações sociais, as comunidades rurais apresentam um grande potencial de adaptação e evolução. A incorporação de tecnologias digitais no campo e o fortalecimento das redes de apoio entre os agricultores podem representar um marco importante para o desenvolvimento sustentável dessas comunidades. Neste contexto, o papel das políticas públicas, das instituições financeiras e da solidariedade comunitária surge como elemento central para garantir que as mudanças sejam inclusivas e benéficas para todos os envolvidos (FAO, 2018).
Tecnologias Digitais no Contexto Rural
A integração das novas tecnologias no meio rural pode transformar a agricultura familiar, tornando-a mais eficiente, conectada e competitiva. Aplicativos de gestão agrícola e plataformas de e-commerce são exemplos de ferramentas que possibilitam a comunicação rápida e eficaz entre os produtores, permitindo o compartilhamento de experiências, o monitoramento das colheitas e a comercialização de produtos de maneira mais ampla e acessível (TAYLOR et al., 2019). Um exemplo prático disso é o uso de aplicativos que permitem aos agricultores monitorar suas colheitas em tempo real e trocar informações com outros produtores sobre práticas agrícolas eficientes.
Estudos mostram que a digitalização das práticas agrícolas contribui para a melhoria da produtividade e da gestão no campo, especialmente quando aplicada a pequenas propriedades, como ocorre com muitos agricultores familiares (ANDRADE et al., 2021). Tais tecnologias, quando utilizadas adequadamente, não apenas otimizam a produção, mas também facilitam a entrada dos produtores em novos mercados, como as plataformas de e-commerce que tornam o processo de venda mais acessível e eficiente (OLIVEIRA, 2020).
O Papel das Políticas Públicas no Fortalecimento das Comunidades Rurais
As políticas públicas têm um papel essencial na criação de um ambiente favorável à inovação e à colaboração no meio rural. A promoção da educação digital e a capacitação de agricultores para o uso de novas tecnologias são fundamentais para garantir que esses produtores possam acessar as ferramentas necessárias para aprimorar seus processos de produção (MACHADO et al., 2019). Além disso, o incentivo à formação de cooperativas e redes de apoio pode criar uma base sólida para que os agricultores enfrentem os desafios econômicos e ambientais de maneira conjunta. Programas governamentais que oferecem cursos e capacitação sobre o uso de plataformas digitais, por exemplo, têm o potencial de fortalecer a economia local e promover a inclusão digital (LIMA, 2021).
No entanto, a implementação eficaz dessas políticas exige uma cooperação entre o governo, as instituições de ensino e as organizações locais, a fim de garantir que as políticas sejam bem direcionadas e que os benefícios cheguem de fato aos agricultores familiares (SANTOS, 2017).
Colaboração com Instituições Financeiras: O Papel do Agroamigo
A colaboração com instituições financeiras, como o programa Agroamigo, é um fator decisivo para a sustentabilidade das comunidades rurais. Ao oferecer crédito e consultoria especializada, o Agroamigo pode ajudar os agricultores a desenvolverem planos de negócios sólidos, diversificarem suas produções e adotarem práticas agrícolas mais sustentáveis (CARDOSO, 2020). A implementação de tecnologias sustentáveis por meio do crédito rural não só aumenta a produtividade, como também contribui para a redução de impactos ambientais, como o desmatamento e a degradação do solo, além de estimular práticas mais eficientes de uso da água.
O Agroamigo, enquanto linha de crédito do Banco do Nordeste, se insere no contexto das políticas públicas voltadas para a promoção da agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável no Brasil. Diversos autores discutem a importância do acesso ao crédito e suas implicações na melhoria das condições de vida dos agricultores. Segundo Afonso e Santos (2019), “o financiamento rural é fundamental para a viabilização de projetos produtivos e para a geração de emprego e renda nas comunidades rurais”.
Essa parceria vai além da simples concessão de recursos financeiros, tornando-se uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento econômico e a redução de riscos. A assistência técnica e o acompanhamento contínuo proporcionam aos agricultores as condições necessárias para aumentar sua produtividade e sua competitividade no mercado (SILVA, 2018).
O conceito de inclusão financeira, abordado por Ferreira e Lima (2020), é essencial para entender o impacto das iniciativas como o Agroamigo. “Através do crédito acessível, pequenos produtores têm a oportunidade de investir em suas atividades, garantindo não apenas a sobrevivência das propriedades, mas também o aumento da produtividade”. A pesquisa de Silva e Coelho (2018) revela que “o acesso a essas linhas de crédito facilita a capacitação técnica dos agricultores, preparando-os para enfrentar os desafios do mercado”. Adicionalmente, segundo Pereira (2021), “a promoção do cooperativismo e das associações na agricultura familiar, apoiada por programas como o Agroamigo, é crucial para fortalecer a rede de apoio entre os produtores”. Essa estratégia não apenas amplia o acesso ao crédito, mas também fomenta a troca de conhecimentos e experiências, essenciais para a inovação e a sustentabilidade na agricultura. Em termos gerais, acredita-se que haja uma tendência de que o microcrédito surge como uma ferramenta de auxílio à redução da pobreza e das desigualdades regionais e sociais.
Solidariedade e Apoio Mútuo nas Comunidades Rurais
A solidariedade e o apoio mútuo são fundamentais para a resiliência das comunidades rurais. Em tempos de crise, como alterações climáticas ou flutuações de mercado, a troca de experiências e o compartilhamento de recursos entre os agricultores podem fazer a diferença entre a superação ou o colapso das atividades agrícolas (FRANCISCO et al., 2021). O fortalecimento de redes de apoio, onde os produtores se auxiliam mutuamente, contribui para a construção de uma cultura de colaboração, essencial para a criação de soluções coletivas para os desafios enfrentados.
A participação ativa dos agricultores familiares no processo de formulação de políticas públicas é outra questão central para o sucesso das intervenções. O enfoque sistêmico valoriza a inclusão dos diversos atores envolvidos, garantindo que as políticas públicas reflitam as necessidades e as realidades locais. A criação de conselhos participativos e a realização de consultas públicas são mecanismos importantes para assegurar que a voz dos agricultores seja ouvida. Zimmerman et al. (2014) enfatizam que a integração das perspectivas locais no processo decisório contribui para a elaboração de políticas mais eficazes e adaptadas às especificidades da agricultura familiar, promovendo maior adesão e sucesso nas ações implementadas.
A solidariedade não apenas melhora a resiliência das comunidades, mas também cria um ambiente no qual os agricultores se sentem mais seguros e confiantes para inovar e compartilhar suas conquistas (ALVES, 2020).
Conclusão
O futuro das comunidades rurais depende de sua capacidade de adaptação às novas realidades e da união entre tecnologia, políticas públicas, instituições financeiras e solidariedade comunitária. A agricultura familiar, quando devidamente apoiada, pode se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo, capaz de enfrentar desafios globais e proporcionar uma base econômica sólida para as gerações futuras. As tecnologias digitais, as políticas públicas eficazes e a colaboração entre os diversos atores sociais e econômicos têm o potencial de transformar as comunidades rurais em centros de excelência agrícola, promovendo a inovação, a resiliência e a prosperidade. A colaboração é, assim, a chave para um futuro próspero na agricultura familiar, e todos têm um papel a desempenhar nesse processo.
Referências
ALVES, M. F. A solidariedade nas comunidades rurais: Estratégias de resistência e adaptação. Revista Brasileira de Sociologia, v. 52, n. 4, p. 35-50, 2020.
ANDRADE, A.; LIMA, S.; SOUZA, C. Digitalização e agricultura familiar: Impactos das tecnologias no campo. Revista Brasileira de Economia Agrária, v. 19, n. 3, p. 75-92, 2021.
CARDOSO, V. F. O Agroamigo e o apoio à agricultura familiar no Brasil. Estudos Financeiros, v. 38, p. 112-130, 2020.
FRANCISCO, R.; MORAIS, A.; COSTA, J. Resiliência nas comunidades rurais: O papel do apoio mútuo em tempos de crise. Revista de Desenvolvimento Rural, v. 17, p. 89-102, 2021.
LIMA, A. B. Políticas públicas de inclusão digital no campo: O papel da educação rural. Estudos em Educação e Tecnologia, v. 15, n. 2, p. 25-41, 2021.
MACHADO, R.; PEREIRA, D.; GOMES, F. Capacitação digital para agricultores familiares: Impactos e perspectivas. Cadernos de Desenvolvimento Rural, v. 22, p. 33-47, 2019.
OLIVEIRA, L. M. E-commerce e novas possibilidades de mercado para a agricultura familiar. Revista de Marketing Digital, v. 28, n. 3, p. 46-61, 2020.
SANTOS, T. M. Políticas públicas para o fortalecimento da agricultura familiar. Cadernos de Políticas Públicas, v. 23, n. 1, p. 76-91, 2017.
SILVA, D. P. A importância das cooperativas na agricultura familiar: O papel das instituições financeiras. Revista Brasileira de Economia Rural, v. 34, n. 5, p. 59-70, 2018.
TAYLOR, J.; SMITH, M.; JOHNSON, R. Inovações tecnológicas no campo: O impacto das ferramentas digitais na agricultura. Journal of Agricultural Innovation, v. 8, n. 4, p. 42-56, 2019.