REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202503091624
Adriana Emilene Sammario Borba; André Vogado; Ângela Machado Piovesan; Cristiane dos Santos Scalcon; Diro Borba; Jeferson Oviedo Machado; Jessica Vielmo Putzke; Jocasta Deolinda Doyle Kieser Giacomelli; Michele Pizzato Buker Thums; Roberto Bortolon Maraschin; Rodrigo Tolfo Ramalho
RESUMO
O espetáculo do consumo representa um dos principais instrumentos de dominação no capitalismo contemporâneo, ao transformar desejos em mercadorias e atribuir valores superficiais à experiência humana. A lógica capitalista organiza a sociedade ao redor de uma produção incessante de consumo, explorando as subjetividades e transformando indivíduos em consumidores compulsivos. A subjetividade é sufocada à medida que o valor de cada indivíduo é medido por sua capacidade de consumir e exibir símbolos de status. Essa dinâmica perpetua desigualdades, obscurece as possibilidades de emancipação e reforça um sistema de controle baseado na aparência e na efemeridade.
A indústria do entretenimento, aliada ao consumismo, intensifica esse processo ao oferecer distrações constantes que evitam reflexões críticas sobre o sistema econômico vigente. A transformação do entretenimento em mercadoria banaliza as experiências culturais, enquanto a lógica do consumo destrói a autonomia subjetiva e reduz as relações humanas a transações materiais. Dessa forma, o capitalismo contemporâneo esvazia a subjetividade ao reprimir a criatividade e o senso crítico, consolidando uma estrutura social onde o ter prevalece sobre o ser. Com isso, a alienação é mantida e a reprodução do sistema é assegurada, deixando pouco espaço para resistências significativas ou alternativas viáveis.
Palavras-chave: Consumo. Subjetividade. Capitalismo.
ABSTRACT
The spectacle of consumption represents one of the main instruments of domination in contemporary capitalism, transforming desires into commodities and assigning superficial values to human experience. The capitalist logic organizes society around an incessant production of consumption, exploiting subjectivities and turning individuals into compulsive consumers. Subjectivity is suffocated as the value of each individual is measured by their ability to consume and display symbols of status. This dynamic perpetuates inequalities, obscures possibilities for emancipation, and reinforces a control system based on appearance and ephemerality. The entertainment industry, allied with consumerism, intensifies this process by offering constant distractions that avoid critical reflections on the prevailing economic system. The transformation of entertainment into a commodity trivializes cultural experiences, while the logic of consumption destroys subjective autonomy and reduces human relationships to material transactions. In this way, contemporary capitalism empties subjectivity by repressing creativity and critical thinking, consolidating a social structure where having prevails over being. Thus, alienation is maintained, and the system’s reproduction is ensured, leaving little room for significant resistance or viable alternatives.
Keywords: Consumption. Subjectivity. Capitalism.
1. INTRODUÇÃO
O consumo desenfreado e o entretenimento transformado em mercadoria configuram dois dos pilares mais marcantes do capitalismo contemporâneo, operando como mecanismos de controle e manutenção do sistema vigente. A lógica capitalista, alicerçada na produção incessante e na necessidade de circulação de mercadorias, vai além de moldar as economias: ela penetra profundamente na subjetividade humana, redefinindo os modos de ser e existir. Nesse processo, o indivíduo não é mais compreendido em sua complexidade ou essência, mas reduzido à sua capacidade de consumir, ostentar e legitimar o sistema por meio de suas escolhas de consumo. A dominação não é explícita, mas manifesta-se de forma insidiosa e cotidiana, reconfigurando a liberdade individual em função das demandas do mercado e obscurecendo a possibilidade de pensar e propor alternativas às estruturas sociais estabelecidas.
A construção de uma sociedade fundamentada no espetáculo do consumo implica também na deterioração das relações humanas e na mercantilização das experiências culturais. Imagens, mensagens e promessas são incessantemente propagadas, associando o consumo de bens e serviços a ideais de felicidade, realização pessoal e sucesso social. Essa avalanche de estímulos, cuidadosamente arquitetada pelo marketing e pelas estratégias do mercado, provoca uma desconexão entre o indivíduo e suas reais necessidades, inserindo-o em um ciclo interminável de desejos artificiais. Com isso, a busca pelo essencial é substituída pelo apelo ao superficial, gerando uma vida moldada pela insatisfação constante e pela necessidade de atender padrões inatingíveis e descartáveis.
A subjetividade humana é, nesse contexto, severamente impactada por um processo de esvaziamento que limita a criatividade, a autonomia e a capacidade de reflexão crítica. As escolhas e ações individuais passam a ser condicionadas por padrões de comportamento que servem às necessidades do sistema econômico, configurando uma lógica que privilegia a alienação em detrimento da emancipação. Nesse sentido, a indústria do entretenimento desempenha um papel crucial, oferecendo distrações constantes que mascaram as opressões estruturais e desarmam qualquer tentativa de resistência consciente. Filmes, séries, jogos e outras formas de diversão transformam-se em ferramentas de controle, desviando a atenção das desigualdades e das contradições que sustentam o capitalismo contemporâneo.
O consumo, portanto, não pode ser analisado como um ato puramente individual. Ele é um fenômeno social que perpetua desigualdades, reforça estruturas de poder e condiciona a existência a uma lógica de competição incessante. A busca por símbolos de status aprisiona os indivíduos em um ciclo de insatisfação e inadequação, levando-os a internalizar as expectativas do sistema. A dinâmica do consumo evidencia como o capitalismo não apenas molda as práticas sociais, mas também intervém na constituição das subjetividades humanas, criando desafios significativos para aqueles que buscam resistir ou reimaginar a organização social e cultural.
Compreender como o espetáculo do consumo opera é, portanto, um passo essencial para qualquer projeto de emancipação. Essa compreensão passa pela análise crítica das bases que sustentam o sistema e pela formulação de alternativas que valorizem a subjetividade, a autonomia e as relações humanas genuínas. Ao questionar as estruturas que privilegiam o “ter” em detrimento do “ser”, abre-se espaço para a reconstrução de vínculos mais autênticos e significativos, bem como para a valorização do que realmente importa na experiência humana. Dessa forma, torna-se possível desafiar a lógica do consumo e trabalhar em direção a uma sociedade mais consciente, solidária e justa.
2. DESENVOLVIMENTO
O consumo desenfreado, como uma das principais engrenagens do capitalismo contemporâneo, é sustentado por estratégias que associam felicidade e realização ao ato de consumir. Essa lógica organiza a sociedade em torno da aquisição de bens e serviços, redefinindo os valores individuais e coletivos. Nesse cenário, o consumo não é apenas um comportamento, mas uma imposição que molda identidades e relações sociais. Essa dinâmica, que transforma desejos em mercadorias, contribui para a alienação e para a perpetuação de desigualdades estruturais, pois condiciona a relevância dos indivíduos ao seu poder aquisitivo (ALMEIDA, 2016).
A mercantilização do entretenimento intensifica ainda mais o impacto do consumo no cotidiano. As produções culturais, que antes buscavam estimular reflexões e promover experiências significativas, tornaram-se ferramentas para reforçar a lógica do mercado. O entretenimento, ao oferecer uma distração constante, não apenas desvia a atenção dos problemas sistêmicos, mas também atua como um elemento de controle que impede o desenvolvimento de senso crítico. Essa transformação reduz as expressões culturais a produtos descartáveis e reforça o ciclo de alienação (ALVES, 2018).
O esvaziamento da subjetividade no capitalismo contemporâneo é um dos resultados mais perversos da lógica de consumo. O ser humano, cada vez mais condicionado pela necessidade de se alinhar aos padrões impostos pela sociedade de consumo, perde autonomia e criatividade. As relações interpessoais são reduzidas a transações superficiais, e o senso crítico é suprimido pela busca incessante por status. A consequência é uma sociedade pautada pela competição e pela insatisfação constante, o que reforça a hegemonia do sistema capitalista (BARRETO, 2019).
A indústria do entretenimento desempenha um papel central nesse processo ao moldar os valores e comportamentos de forma alinhada aos interesses do mercado. A sobrecarga de estímulos e as promessas de satisfação imediata ocultam as desigualdades e os problemas estruturais que sustentam o sistema. Ao privilegiar o superficial e o efêmero, a indústria cultural limita a capacidade de reflexão e aliena os indivíduos, consolidando o domínio das grandes corporações sobre a subjetividade humana (BARROS, 2019).
Compreender a lógica do espetáculo do consumo e suas consequências é essencial para traçar caminhos de resistência. A conscientização sobre a forma como as estratégias de consumo e entretenimento moldam a sociedade é o primeiro passo para a emancipação subjetiva e coletiva. Ao repensar os padrões culturais e valorizar práticas que promovam o ser em detrimento do ter, torna-se possível vislumbrar uma sociedade mais autêntica e menos subordinada aos interesses mercadológicos (GOMES, 2015).
2.1 O Teatro do Consumo: Como a Lógica Capitalista Anula a Subjetividade
O capitalismo contemporâneo reorganiza as relações sociais ao promover o consumo como principal eixo de significação na vida humana. Essa lógica não apenas transforma o indivíduo em um consumidor voraz, mas também redefine a percepção de valor e status na sociedade. A subjetividade humana, nesse contexto, é continuamente moldada por uma cultura de consumo que privilegia o efêmero e o superficial em detrimento do autêntico e do essencial. Essa estrutura promove um vazio existencial, resultado da substituição de relações genuínas por transações baseadas em mercadorias e na ostentação material (ROCHA, 2017).
Além disso, a dinâmica do consumo incessante aprofunda as desigualdades sociais, pois nem todos os indivíduos possuem as mesmas condições para participar da lógica de consumo que rege o capitalismo contemporâneo. Isso reforça a exclusão social, enquanto promove a ilusão de inclusão por meio do acesso parcial a bens ou serviços supérfluos. Essa realidade é mascarada por narrativas publicitárias que exaltam a igualdade de acesso, mas ignoram as condições estruturais que perpetuam a desigualdade e alienação (VIEIRA, 2022).
A cultura de mercado, sustentada pela lógica do consumo, também redefine o significado de liberdade. Em vez de ser uma expressão de autonomia e criatividade, a liberdade passa a ser associada à capacidade de adquirir bens e serviços, criando uma falsa sensação de escolha. Ao privilegiar o consumo em detrimento da produção cultural e social autêntica, o capitalismo reduz o ser humano a um agente passivo, cuja principal função é alimentar o ciclo econômico (TEIXEIRA, 2017).
Nesse processo, as relações humanas também são impactadas pela lógica do consumo. A busca incessante por status, mediada por mercadorias, reduz as interações interpessoais a transações materiais. O capitalismo mercantiliza não apenas bens e serviços, mas também os próprios vínculos sociais, promovendo relações superficiais e utilitaristas. Essa dinâmica, longe de fortalecer a coesão social, aprofunda a fragmentação e a alienação nas relações humanas (VASCONCELOS, 2021).
Ademais, o espetáculo do consumo molda as subjetividades de maneira quase imperceptível, promovendo uma adaptação coletiva às suas exigências. Essa adaptação é reforçada por mecanismos culturais e econômicos que naturalizam a lógica do consumo e mascaram suas contradições. Assim, os indivíduos, enquanto buscam significado na aquisição de bens, tornam-se prisioneiros de um sistema que os utiliza como instrumentos de sua própria reprodução (RODRIGUES, 2020).
A construção de uma sociedade pautada pelo espetáculo do consumo tem como uma de suas principais características a distorção das relações humanas. Nesse modelo, a identidade do indivíduo é definida pelo que ele consome, criando uma hierarquia social baseada na posse de bens materiais e no acesso a serviços. Essa dinâmica fragmenta as relações humanas, tornando-as cada vez mais baseadas em interesses materiais, ao invés de vínculos genuínos, o que enfraquece a coesão social (ROCHA, 2017).
A mercantilização das experiências culturais, intensificada pela lógica capitalista, é outro aspecto central do espetáculo do consumo. A cultura, ao ser transformada em mercadoria, perde sua função crítica e emancipatória, tornando-se apenas um meio de reforçar o status quo. A banalização de produtos culturais contribui para a alienação, uma vez que reduz a arte e o entretenimento a ferramentas para manter a distração dos indivíduos frente às desigualdades e opressões estruturais (VIEIRA, 2022).
A publicidade e as estratégias de marketing desempenham um papel fundamental nesse processo. Essas ferramentas promovem um ideal de felicidade associado ao consumo, criando desejos insaciáveis e uma constante sensação de insuficiência. Essa narrativa, além de alimentar o ciclo do consumo, impede que os indivíduos reflitam criticamente sobre suas condições de existência e sobre o sistema econômico que os oprime (TEIXEIRA, 2017).
Por outro lado, o espetáculo do consumo também utiliza as experiências culturais para reforçar a lógica da competição e do status. Até mesmo atividades que deveriam promover conexões interpessoais, como eventos culturais ou esportivos, são transformadas em vitrines para exibição de poder aquisitivo. Isso distorce o propósito original dessas atividades e reforça a lógica excludente do capitalismo (VASCONCELOS, 2021).
O bombardeio constante de imagens e mensagens que promovem o consumo cria uma sobrecarga de estímulos, tornando difícil para o indivíduo distinguir entre suas necessidades reais e as necessidades impostas pelo mercado. Esse cenário perpetua a alienação, uma vez que os indivíduos perdem a capacidade de questionar o sistema e se tornam reféns de seus mecanismos de controle (RODRIGUES, 2020).
O esvaziamento da subjetividade, promovido pelo espetáculo do consumo, limita a capacidade dos indivíduos de desenvolverem senso crítico e autonomia. Nesse contexto, a lógica capitalista atua de maneira sistemática para moldar comportamentos que atendam às suas demandas, substituindo a criatividade por padrões previamente estabelecidos. Esse processo restringe a liberdade individual, transformando o ser humano em um agente passivo dentro do sistema econômico (ALMEIDA, 2016).
A indústria do entretenimento, como parte do espetáculo do consumo, exerce um papel crucial nesse processo de esvaziamento. Ao oferecer distrações constantes, o entretenimento impede a reflexão crítica e reforça o conformismo. Filmes, séries e outras formas de entretenimento tornam-se ferramentas para mascarar as contradições do sistema, promovendo a aceitação das desigualdades e da lógica capitalista (ALVES, 2018).
Além disso, o entretenimento transformado em mercadoria não apenas banaliza as experiências culturais, mas também contribui para a alienação ao reduzir a cultura a um produto descartável. Essa dinâmica enfraquece o potencial transformador da arte e da cultura, ao mesmo tempo que consolida a hegemonia do mercado sobre as subjetividades humanas (BARRETO, 2019).
O impacto do consumo sobre as relações humanas é igualmente evidente. A busca por bens materiais e símbolos de status redefine os vínculos sociais, tornandoos cada vez mais superficiais e utilitários. Essa lógica não apenas destrói a autenticidade das interações interpessoais, mas também aprofunda a alienação individual (BARROS, 2019).
O espetáculo do consumo utiliza a alienação como ferramenta de controle, perpetuando a reprodução do sistema. A transformação das subjetividades em mercadorias ajusta os indivíduos às demandas do mercado, reduzindo sua capacidade de resistência e mantendo-os presos a uma lógica de consumo incessante e insaciável (GOMES, 2015).
Nesse cenário, o consumo não é apenas um ato individual, mas um fenômeno social que estrutura e reforça desigualdades profundas. A busca por símbolos de status torna-se uma armadilha que aprisiona os indivíduos em uma lógica incessante de competição e insatisfação. Essa dinâmica reflete a maneira como o capitalismo explora as subjetividades, utilizando o desejo por pertencimento e reconhecimento como combustível para a expansão do mercado (ALMEIDA, 2016).
A lógica do consumo reforça também a exclusão social, ao criar barreiras invisíveis que separam aqueles que podem consumir dos que são marginalizados pelo sistema. Os indivíduos que não conseguem acompanhar o ritmo de consumo imposto pelo mercado são estigmatizados e colocados à margem das relações sociais. Isso contribui para o aumento das desigualdades e para a perpetuação de um modelo que privilegia o “ter” em detrimento do “ser” (ALVES, 2018).
A indústria do entretenimento, como parte do espetáculo do consumo, também desempenha um papel central nesse processo. Ela não apenas reforça os padrões de consumo, mas transforma experiências culturais e artísticas em ferramentas de reprodução das desigualdades. Ao invés de fomentar a emancipação, o entretenimento serve para legitimar a lógica de competição e o status, alienando os indivíduos de sua condição real (BARRETO, 2019).
As relações humanas, nesse contexto, tornam-se cada vez mais instrumentalizadas. A lógica utilitarista do consumo transforma os vínculos interpessoais em relações pautadas por interesses materiais e transações. Essa superficialidade afeta a autenticidade das conexões sociais, promovendo uma alienação que desumaniza e desvaloriza as interações genuínas (BARROS, 2019).
Assim, o consumo, ao ser promovido como solução para as frustrações individuais e coletivas, aprofunda a alienação e enfraquece a capacidade de resistência crítica. A estrutura social capitalista, ao transformar o desejo humano em mercadoria, promove a perpetuação de uma lógica de insatisfação constante. Essa insatisfação é essencial para a manutenção do sistema, pois garante o consumo contínuo e a aceitação das suas contradições (GOMES, 2015).
Compreender como o espetáculo do consumo opera é essencial para identificar caminhos de emancipação e resistência. Essa compreensão exige uma análise crítica das estruturas que sustentam a lógica capitalista, bem como o desenvolvimento de alternativas que promovam a valorização da subjetividade e das relações humanas autênticas. Essa reflexão é fundamental para desmascarar as estratégias de alienação e manipulação que sustentam o sistema (ROCHA, 2017).
A promoção de práticas que valorizem o “ser” em detrimento do “ter” é uma das principais ferramentas para romper com a lógica alienante do consumo. Isso inclui a criação de espaços de diálogo e reflexão crítica, onde os indivíduos possam questionar os padrões impostos e buscar alternativas para a construção de uma sociedade mais justa e humana. Essa reconstrução é essencial para a superação das desigualdades e para o fortalecimento da autonomia individual e coletiva (VIEIRA, 2022).
Além disso, é necessário repensar o papel da cultura e do entretenimento na sociedade contemporânea. Essas esferas, que deveriam promover a emancipação e a criatividade, são frequentemente utilizadas como ferramentas de controle e alienação. Investir na produção cultural que valorize a subjetividade e estimule o senso crítico é um passo fundamental para reverter o impacto do espetáculo do consumo (TEIXEIRA, 2017).
A educação também desempenha um papel crucial nesse processo, ao formar cidadãos críticos e conscientes das armadilhas do consumo. Através da conscientização e do acesso à informação, é possível fomentar uma sociedade mais preparada para resistir às imposições do mercado e para construir alternativas que priorizem as relações humanas autênticas e os valores não materiais (VASCONCELOS, 2021).
A mobilização de indivíduos e coletivos para a construção de alternativas ao modelo capitalista exige, antes de tudo, um rompimento com a lógica alienante do consumo. Esse rompimento requer um exercício constante de reflexão crítica e a conscientização acerca do papel que o consumo desempenha na reprodução de desigualdades e na perpetuação do vazio existencial. É essencial compreender que a mudança não pode vir de iniciativas isoladas, mas de um esforço coletivo que ressignifique os valores sociais, colocando a subjetividade, a autonomia e as relações humanas genuínas no centro das práticas cotidianas. Essa mobilização deve ir além da simples recusa ao consumo excessivo, envolvendo a reestruturação das práticas culturais, educacionais e políticas que sustentam o espetáculo do consumo (ALMEIDA, 2016).
Nesse sentido, o fortalecimento das comunidades é uma estratégia crucial para romper com o individualismo imposto pela lógica do mercado. A criação de espaços coletivos que promovam o diálogo e a solidariedade pode ser uma resposta direta ao isolamento social causado pela mercantilização das relações humanas. Esses espaços devem valorizar a diversidade de experiências e perspectivas, incentivando práticas que estimulem a criatividade, a empatia e o engajamento social. A partir dessas práticas, torna-se possível construir um ambiente onde as pessoas se reconheçam como parte de um coletivo, desafiando a lógica utilitarista que define as relações interpessoais na sociedade de consumo. Assim, a valorização do “ser” pode começar a tomar forma em um contexto que privilegia o bem-estar coletivo em detrimento do acúmulo material (ALVES, 2018).
Dessa forma, é indispensável repensar os padrões educacionais para que se tornem ferramentas de emancipação e não de conformismo. A educação tem o poder de romper com as amarras do consumo, ao estimular o senso crítico e a consciência coletiva. No entanto, essa transformação exige a implementação de um modelo pedagógico que vá além da mera transmissão de conteúdos, priorizando a formação integral do indivíduo. A educação deve preparar os cidadãos para compreenderem as dinâmicas de poder que sustentam o capitalismo e para se posicionarem como agentes de transformação social. Dessa forma, os indivíduos podem não apenas repensar seus padrões de consumo, mas também criar soluções práticas que favoreçam a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde o “ser” supere o “ter” como base das relações humanas (BARRETO, 2019).
3. CONCLUSÃO
A lógica do espetáculo do consumo manifesta-se como um dos maiores desafios à preservação da subjetividade humana na era do capitalismo contemporâneo. Transformando desejos em mercadorias e reduzindo o valor humano à capacidade de consumir, o sistema cria uma estrutura de poder que reforça desigualdades, aliena os indivíduos e aprofunda o distanciamento da essência humana. Nesse contexto, o entretenimento emerge como uma ferramenta estratégica, não apenas ao mascarar as opressões estruturais, mas também ao oferecer distrações constantes que desmobilizam a crítica ao sistema vigente e perpetuam a aceitação de suas normas.
A mercantilização das experiências culturais e a banalização das relações humanas são apenas alguns dos efeitos colaterais dessa lógica opressora. A vida, organizada em torno da busca incessante por bens materiais e símbolos de status, perde sua profundidade e se converte em um ciclo de satisfação efêmera e insatisfação crônica. Esse movimento sufoca a subjetividade, limitando a criatividade, a introspecção e o senso crítico, que são vitais para a emancipação individual e coletiva. Assim, a prevalência do “ter” sobre o “ser” consolida um modelo de sociedade que explora o vazio existencial como motor de lucro.
Apesar da força avassaladora do espetáculo do consumo, há caminhos de resistência que podem ser trilhados. A conscientização acerca das dinâmicas do sistema é o primeiro passo para romper com sua lógica alienante. A promoção de práticas que resgatem a subjetividade e a autenticidade das relações humanas emerge como alternativa essencial. Priorizar reflexões críticas sobre o consumo e repensar as estruturas culturais do entretenimento pode abrir espaço para a criação de uma sociedade menos dependente da lógica mercantil. A busca por formas mais conscientes de viver e interagir é uma ação transformadora que pode desestabilizar a hegemonia do capitalismo.
A construção de espaços de diálogo e questionamento coletivo desempenha um papel central nessa resistência. Esses ambientes fomentam debates críticos que podem desvelar as estruturas invisíveis de poder que sustentam o espetáculo do consumo. Além disso, a educação, tanto formal quanto informal, tem um papel crucial ao estimular a reflexão sobre os impactos dessa lógica na subjetividade e nas relações sociais. Investir na formação de cidadãos críticos e conscientes das armadilhas do consumo é um caminho estratégico para uma mudança de paradigma.
Por fim, superar o esvaziamento imposto pelo espetáculo do consumo exige a revisão dos valores que sustentam o modelo capitalista contemporâneo. A ênfase na valorização do “ser” deve se tornar o horizonte principal para a reconstrução de uma sociedade que valorize a subjetividade, a solidariedade e a autenticidade. Ao questionar as bases de um sistema que lucra com a alienação, é possível imaginar uma realidade onde o materialismo e a lógica mercantil não definam os parâmetros da existência humana. Apenas assim, a subjetividade poderá ser resgatada, e a emancipação individual e coletiva terá uma chance real de prosperar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RODRIGUES, Bruno. Consumo e desigualdade no capitalismo contemporâneo. Curitiba, 2020.
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VASCONCELOS, Tatiana. A sociedade do consumo e a mercantilização das relações humanas. Porto Alegre, 2021.
1Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de TCC.