CÍNTHYA DAYANE DE OLIVEIRA LIMAI; GRACILIANO DAVI SANTOS RODRIGUESI; HELOIZA OLIVEIRA MOTA FERNANDESI; HOSAMÉRLIN PAULA DA MOTAI; KAMILA STEPHANN SANTOS CAVALCANTII; RÉGIA CRISTINA DA SILVA RÉGISI; SÂMYA PIRES BATISTAII .
IDiscentes do curso de Fisioterapia, Universidade Potiguar (UnP) – Mossoró (RN), Brasil
IIDocente do curso de Fisioterapia, Universidade Potiguar (UnP) – Mossoró (RN), Brasil
Resumo
Os portadores de síndrome de down nem sempre apresentam as mesmas características físicas, este fato é resultado da estimulação cada vez mais precoce e a busca de uma melhor qualidade de vida, tornando o planejamento e a elaboração de condutas cada vez mais eficientes na busca de desenvolver habilidades que serão úteis no processo de envelhecimento desses indivíduos. Nesse trabalho objetivamos propor uma atuação fisioterapêutica, na tentativa de minimizar os efeitos deletérios da síndrome de down e do processo de envelhecimento, bem como desenvolver uma melhor independência e autonomia na realização das AVD’s. Realizou-se uma avaliação com uma portadora de síndrome de down, onde observaram-se algumas alterações músculo-esqueléticos que necessitam da intervenção fisioterapêutica, que foi descrita minunciosamente no presente estudo. Na análise dos fatores relacionados ao envelhecimento que são influentes nos indivíduos com síndrome de down, ficou evidente a carência teórica sobre o assunto na literatura, e sugerem-se novas pesquisas aleatórias e randomizadas, com maior amostragem e esclarecimento em relação ao tema abordado.
Palavras-chave: síndrome de down; envelhecimento; fisioterapia.
Abstract
The patients who are carrier of down syndrome don’t always have the same physical characteristics, this fact is a result of a precocious stimulation and the search of a better quality of life, making the planning and the preparation of treatments more efficients in finding develop useful skills in the aging process of these population. The objective of this study is to propose physiotherapy acting, in search of decrease the deleterious effects of this pathology and of the aging process and develop a better independence and autonomy in ADL\’s. It was performed an evaluation with a down syndrome patient, where there were observed some musculoskeletal problems that need of a physotherapy intervention, that was thoroughly described in this study. In the review of the factors related to aging process that are influential in down syndrome patients, was evident the theoretical deficiency about the subject in the literature, and suggest new randomized researchs, with more sampling and explanation regarding the subject.
Keywords: down syndrome; aging; physiotherapy.
Introdução
A síndrome de Down também é conhecida como a síndrome da trissomia do cromossomo 21, é a forma mais comum de retardo mental causada por uma alteração cromossômica microscopicamente demonstrável. É causada pela ocorrência de três cromossomos 21 na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele [1]. Essa alteração genética pode ocorrer de três formas distintas: trissomia livre em todas as células do indivíduo, translocação cromossômica e trissomia livre em parte das células do indivíduo (mosaicismo) [2].
Essa síndrome foi descoberta por John Langdon Down há mais de um século, e é responsável por 18% das causas mais freqüentes de deficiência mental [1], [3]. Baseados em dados realizados pelo IBGE no censo 2000, a prevalência desta doença no Brasil é de 300 mil pessoas.
A síndrome de down é um acidente genético com prevalência de 1 a cada 800 nascidos vivos em média, aumentando a incidência com o aumento da idade materna. Atualmente, é considerada a alteração genética mais frequente e a ocorrência dessa síndrome entre os recém nascidos de mães de até 27 anos é de 1/1.200. Com mães de 30-35 anos é de 1/365, e depois dos 35 anos a frequência aumenta mais rapidamente: entre 39-40 anos é de 1/100 e depois dos 40 anos torna-se ainda maior. Acomete todas as etnias e grupos sócio-econômicos igualmente.
Algumas características dos portadores desta síndrome são únicas e se diferenciam quando apresentadas em um grupo com pessoas aparentemente \”normais\”. Essas características são: rosto arredondado, bochechas salientes, glossoprotusão, orelha, nariz e mãos pequenas, pé plano e maior distanciamento entre os artelhos, pescoço encurtado, linha palmar solitária, hipotonia, frouxidão ligamentar, deficiência mental, olhos amendoados e defeitos cardíacos. Também apresentam dificuldade no desenvolvimento físico, onde as articulações são mais frouxas, comprometendo o equilíbrio (os problemas ortopédicos são vistos com uma freqüência mais alta em crianças portadoras de síndrome de down), e os músculos apresentam hipotonia, resultando em diminuição de força muscular [4].
As pessoas portadoras da síndrome de down apresentam associado ao retardo mental, que pode ser leve ou moderado, alguns problemas clínicos. Além do atraso no desenvolvimento, outros problemas podem estar associados, como cardiopatia congênita (40%); hipotonia (100%); problemas de audição (50 a 70%); de visão (15 a 50%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); distúrbios da tireóide (15%); problemas neurológicos (5 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce. Em termos de desenvolvimento, a síndrome de down apresenta natureza subletal, podendo ser considerada geneticamente letal quando se avalia que cerca de 70 a 80% dos casos são eliminados prematuramente [5].
O diagnóstico da síndrome de down é realizado pelo médico geneticista, fazendo-se necessário a realização de exames citogenéticos para confirmação do quadro, como também a análise das características clínicas. O diagnóstico pré-natal é indicado em casos de idade materna avançada, história de síndrome de down na família e malformações fetais (observadas na ultrassom), onde os exames realizados podem ser: coleta das vilosidades coriônicas, amniocentese, cordoncentese e técnica de DNA recombinante. O diagnóstico pós-natal é realizado pela observação dos sinais e sintomas da criança e pode ser confirmado pelo estudo cromossômico [6].
Em relação ao prognóstico, observa-se que a prevalência dessa síndrome tem aumentado na população geral devido ao aumento da sobrevida. Tratamentos e terapias, em especial a estimulação precoce com fisioterapia e fonoterapia, mostram uma melhor contribuição para um maior desenvolvimento e desempenho social do portador da síndrome de down [5].
Na síndrome de down, o envelhecimento rápido é uma característica bem comum, e pode está relacionada à hiperexpressão da enzima Cu/Zn superóxido dismutase. Essa enzima exerce papel fundamental na proteção da célula quanto à toxicidade de oxigênio, mas alguns estudos afirmam que a hiperexpressão da mesma também pode causar danos oxidativos às células. Em conseqüência desse evento, radicais hidroxil vão se formar em excesso e poderão ocasionar lesão oxidativa nas células, aumentando a frequência de alterações no DNA e promovendo o envelhecimento precoce [1].
Baseado nas deficiências encontradas na portadora de síndrome de down voluntária da pesquisa, este trabalho tem como objetivo propor uma atuação fisioterapêutica que visa minimizar os efeitos deletérios dessa patologia e do envelhecimento, garantindo uma melhor independência funcional e autonomia na realização de suas AVD’s.
Materiais e métodos
Esta pesquisa se desenvolveu com uma paciente portadora de síndrome de down de 35 anos de idade, onde investigou-se seu perfil cinético- funcional e suas relações familiares e sociais. Utilizou-se uma variedade de instrumentos e estratégias de recolha de dados específicos que possibilitam um maior alcance do conhecimento da patologia e do envelhecimento, bem como a relação entre estas vertentes que norteiam a base do estudo proposto.
Para a realização do presente estudo, a voluntária assinou o termo de consentimento livre e esclarecido, contendo informações relevantes para a participação na pesquisa, dando consentimento ao uso da sua imagem e seus dados pessoais.
Para propor a conduta fisioterapêutica adequada à voluntária da pesquisa elaborou-se uma ficha de avaliação (baseando-se nos dados da ficha de avaliação utilizada na clínica-escola do curso de fisioterapia da UnP Mossoró), e esta ficha encontra-se em anexo (Anexo I).
Após a coleta e análise dos dados, foi elaborada uma proposta de intervenção fisioterapêutica a fim de proporcionar maiores ganhos funcionais para a voluntária, pois a mesma necessita de um treinamento proprioceptivo, de equilíbrio e de marcha para auxiliar em sua autonomia na execução das AVD´s.
Resultados
São vários fatores que se fazem influentes no processo de envelhecimento dos indivíduos com síndrome de down. Dentre os achados cinético-funcionais da paciente referente ao estudo, encontramos as seguintes alterações: IMC de índice moderado, problemas na tireóide, joelhos e tornozelos valgos, protração de ombros, retificação da coluna cervical, hiperlordose lombar, marcha com passos curtos, pouca dissociação de cinturas, dor ao movimento em ombro direito, diminuição de força muscular em MMSS e MMII, rigidez articular de punhos, diminuição de amplitude de movimento em MMSS e MMII, alteração de equilíbrio, coordenação motora e déficit cognitivo.
Proposta de tratamento fisioterapêutico
Vários autores relatam a importância da ação multidisciplinar no tratamento dos portadores de síndrome de down. Alterações posturais são comumente encontradas nesses indivíduos, estando asssociadas ao déficit de coordenação motora e de conexão sensório-motora, gerando movimentos incoordenados e lentos. A ausência de estímulos precoces repercute numa deficiência global do indivíduo com essa patologia, devendo-se trabalhar primordialmente as habilidades cognitivas e motoras [7]. A estimulação precoce deve ser iniciada o mais cedo possível nas crianças com síndrome de down, onde se incentiva o desenvolvimento de estruturas cerebrais, que irão responder à atividades psicomotoras cada vez mais complexas [8].
Diversas pesquisas demonstram a ne¬cessidade da inserção do portador da síndrome de Down em programas de reabilitação com¬postos de fisioterapia, terapia ocupacio¬nal e fonoaudiologia. De acordo com a SOPERJ (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janei¬ro), toda criança com síndrome de Down deve ser submetida, no primeiro ano de vida, à estimula¬ção precoce realizada por uma equipe multiprofissional. Porém a fisioterapia é essencial nas patologias em que o aco¬metimento é preferencialmente motor, mas também atua no acompanhamento de crianças com deficiência mental, como no caso da síndrome de Down. O tratamento fisioterapêutico em portadores de síndrome de down objetiva diminuir os atrasos da motricidade grossa e fina, facilitar e estimular as reações posturais, bem como prevenir as instabilidades articulares e de de¬formidades ósseas. A partir do tratamento adequado, as crianças portadoras de síndrome de down apresen¬tam grande potencial de se tornarem adultos independen¬tes em suas atividades de vida diária e de se integrarem à sociedade a [9].
De acordo com os dados obtidos após a realização de avaliação fisioterapêutica, para o presente estudo foi proposto o seguinte protocolo de tratamento:
*Objetivos:
– Melhorar a marcha;
– Corrigir a postura;
– Melhorar o equilíbrio;
– Ganhar/manter ADM;
– Ganhar força muscular;
– Diminuir quadro álgico em ombro direito.
– Melhorar a coordenação motora;
– Aprimorar a propriocepção;
– Melhorar as condições da pele;
*Condutas:
– O treino de marcha será iniciado com a demonstração da mesma de forma correta realizada pelo fisioterapeuta, em seguida pede-se para ser repetida pela paciente, dando comandos verbais para levantar o joelho, pisar primeiramente com os calcanhares e depois encostar o antepé no chão;
– Realização de circuitos para a deambulação com tarefas de vencer obstáculos, andar entre duas linhas paralelas de cores diferentes no chão, andar sobre pés de EVA coloridos e colados no chão; como evolução, andar em linha reta demarcada no chão, depois um pé na frente do outro, e por fim, um pé sobre o outro;
– Dissociação de cinturas pélvica e escapular, utilizando bastão para o treino de marcha da seguinte maneira: o fisioterapeuta se posiciona na frente com os bastões (um em cada mão), e por trás a paciente, também segurando um bastão de cada lado. O fisioterapeuta inicia a deambulação, quando a mão esquerda for à frente, o pé direito dá um passo; quando a mão direita for a frente, o pé esquerdo dá outro passo, e assim sucessivamente; como forma de progressão deste exercício, pode-se realizar da mesma maneira, mas deambulando de costas;
– Caminhar na barra paralela em frente ao espelho, corrigindo a postura. Primeiramente, o fisioterapeuta demonstra ao paciente como deve ser realizada a marcha correta e com a postura adequada, em seguida a paciente tenta realizar da mesma maneira seguindo as orientações prescritas;
– Treinar a subida e decida na escada de canto. Após a demonstração realizada pelo fisioterapeuta, a paciente tentará reproduzir, inicialmente, com o auxílio dos corrimãos, e como evolução sem o apoio manual;
– Marcha no lugar. A paciente realizará uma simulação de caminhada sem sair do lugar, ou seja, alternância de reação ao solo dos membros inferiores e movimentos de membros superiores;
– Andar lateralmente em ambos os lados. Inicia-se o movimento em um ponto específico da sala; orienta à paciente que, do seu ponto de partida, em posição ortostática, permaneça com o membro inferior direito parado e abduza o membro inferior esquerdo, este permanece parado e o direito vem de encontro a ele, unindo os dois membros. Este mesmo movimento se repete até que chegue ao seu ponto final, onde a mesma irá voltar ao lugar inicial abduzindo agora o membro inferior contralateral;
– Alongamento da cadeia anterior, lateral e posterior da coluna cervical, torácica e lombar. Para alongar a cadeia anterior, posiciona o paciente em decúbito ventral, na maca, em posição de pupping, solicita que a mesma realize uma hiperextensão da cabeça o máximo que conseguir; pode ser realizado também, na bola suíça, em decúbito dorsal, fazendo hiperextensão da coluna. O alongamento da cadeia posterior pode ser realizado com a paciente sentado ou deitado na maca; quando sentada, orienta-se a mesma que tente alcançar seus pés com as mãos, alongando o máximo possível; deitado na maca, a paciente irá flexionar simultanemente o joelho e o quadril, abraçando os membros inferiores e flexionando a cabeça. Sentado na cadeira ou na bola suíça, com os pés fixos no chão, membros inferiores abduzidos na largura dos ombros (para uma melhor estabilidade), solicita-se que a paciente realize uma inclinação lateral direita, tentando alcançar o chão com a mão direita; o mesmo movimento deve ser repetido no lado contralateral;
– Fortalecimento do m. abdômen e dos mm. paravertebrais torácicos. Para fortalecer os mm. abdominais, posiciona a paciente em decúbito dorsal e orienta a mesma que realize flexão de tronco; os paravertebrais podem ser fortalecidos, posicionando o paciente em decúbito ventral e a mesma realizando hiperextensão de tronco, inicialmente com os membros superiores posicionados lateralmente ao tronco e, como forma de evolução, colocando as mãos sobre a nuca, caracterizando uma resistência;
– Exercícios ativo-livres de MMSS e MMII. Orienta a paciente a realizar até a sua amplitude máxima os movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação interna e rotação externa de ombro; flexão e extensão de cotovelo; pronação e supinação de antebraço; flexão, extensão, desvio ulnar e radial de punho; flexão, extensão, adução, abdução, rotação interna e rotação externa de quadril; flexão e extensão de joelho; dorsiflexão, flexão plantar, inversão e eversão de tornozelo; flexão, extensão, inclinações laterais e rotações de coluna;
– Fortalecimento de MMSS e MMII utilizando halteres, caneleiras e therabands, explorando os movimentos possíveis de cada articulação; em membros superiores, podemos inciar os movimentos com halteres de baixo peso e posteriormente, evoluindo para halteres de maior peso; da mesma forma o trabalho com therabands em membros superiores e inferiores, iniciando-se do mais fino progredindo para espessuras mais grossas; utilizando as caneleiras, progride-se da mesma maneira (da menos para a mais pesada). Como o exercicio tem objetivo de ganhar força, para cada um deles, realizam-se três séries de oito repetições;
– Mobilização intrarticular nos graus I e II em ombros e punhos;
– Para trabalhar equilibrio de tronco, posiciona o paciente em posição ortostática. O fisioterapeuta realiza desestabilizações laterais, anteriores e posteriores; como forma de evolução, este mesmo trabalho deve ser feito sentado na bola suíça, e posteriormente dando pulinhos na bola;
– Trabalhar equilíbrio na cama elástica, dando pequenos saltos com apoio bipodal, evoluindo para apoio unipodal direito e depois esquerdo;
– Balancim entre as barras paralelas, ficar em posição ortostática tentando se equilibrar. Inicialmente com as duas mãos apoiadas na barra, em seguida com apenas uma mão, depois com as mãos livres e ombros abduzidos, e por fim, tentar que a paciente fique em apoio unipodal;
– Tábuas de propriocepção látero-lateral e ântero-posterior. Paciente posicionada entre as barras paralelas (para servir de apoio) em posição ortostática sobre a prancha, primeiramente utilizando as mãos como apoio, e como evolução, sem apoio das mãos. Este método é utilizado para ambas as tábuas;
– Ficar em pé com apoio unipodal, sem apoio de uma das mãos e transferir o peso do corpo para o membro inferior homolateral, repetir o movimento no outro lado; como evolução, a paciente poderá ficar sem apoio de ambas as mãos.
– Exercícios de encaixe utilizando brinquedos que contenham orifícios de formas geométricas diferentes, solicitando que a paciente encaixe objetos nos lugares conrespondentes;
– Orientação quanto aos cuidados com a hidratação da pele e para a paciente não machucar as acnes. Explicar à paciente quanto a necessidade do uso de hidratante corporal, uma vez que, a pele da mesma encontra-se ressecada;
Discussão
A expectativa de vida dos indivíduos com síndrome de down era reduzida, entretanto nos dias atuais estudos mostram o contrário, que a faixa etária de sobrevivência saltou da adolescência para 70 anos ou mais. Esse fato relaciona-se ao estímulo precoce e perdura até a faixa etária estabelecida por cada indivíduo envolvido[8].
O sedentarismo, os problemas ortopédicos e a hipotonia muscular, dentre outras características físicas peculiares aos portadores dessa síndrome, faz com que seja de suma importância o acompanhamento a todo o momento de profissionais capacitados, sendo que a grande maioria não tem esse acompanhamento [4].
Ribeiro et. al. (2003), relatam que as crianças com síndrome de down apresentam muitas infecções respiratórias, representando uma das causas mais comuns de morte precoce. Porém com o avanço da ciência, os antibióticos se tornaram mais potentes e os cuidados médicos mais eficientes, tornando o tratamento mais eficaz [10].
A freqüência de cardiopatias congênitas em portadores de síndrome de down é bastante variável na literatura, com porcentagens variando de 20 até mais de 60%. A cardiopatia mais frequente no estudo de Vilas Boas et al. (2009), foi a comunicação interatrial (17%), onde o defeito do septo atrioventricular (DSAV) ocorreu em cinco pacientes, sendo a forma completa do DSAV uma das cardiopatias mais comuns na síndrome de down. As cardiopatias congênitas tem sido disgnosticadas durante os primeiros 6 meses de vida, fator importante para a redução da mortalidade e morbidade nesses pacientes, já que a doença vascular pulmonar irreversível de desenvolvimento precoce nessa síndrome (com fluxo sanguíneo da esquerda para a direita) está intimamente relacionada aos DSAV. Esses dados não se confirmaram no presente estudo, pois ocorrência de cardiopatias não foi encontrada na voluntária da pesquisa [11].
As alterações da glândula tireóide em pacientes adultos portadores de síndrome de down tem prevalência em 28 a 64% dos casos. Nos pacientes mais jovens há predomínio de quadros congênitos de hipotireoidismo e nos pacientes adultos, de doenças auto-imunes, detectando-se anticorpos anti-tireóide (anti-tireoglobulina e anti-microssomal). Muitos autores relatam alterações da tireóide nos portadores de síndrome de down, onde as manifestações clínicas variam do hipertireoidismo ao hipotireoidismo, sendo este último o mais frequente, porém nem sempre de fácil diagnóstico. A paciente dessa pesquisa apresenta problemas na tireóide, entretanto sua cuidadora não soube informar o diagnóstico preciso [12].
De acordo com o estudo de Silva et.al. (2006), a população com síndrome de down do sexo feminino e masculino atinge o percentual de 82,3% e 68,5% de sobrepeso e obesidade, respectivamente. Observou-se na voluntária do presente estudo um IMC de valor 32,44, sendo classificado como obesidade moderada, concordando com os autores a acima [13].
Segundo Felício et. al. (2008), cerca de 50% das crianças portadoras de síndrome de down apresentam alterações na marcha, constatando que o comprimento do passo das mesmas era maior apenas nas crianças na faixa etária de 3 anos de idade, pois os passos apresentavam um decréscimo ao longo da idade. Os autores ainda relatam que
essa alteração se dá pelo fato da fase de apoio bipodal e de apoio simples serem maiores nas crianças com a síndrome do que nas crianças normais, resultando em redução da estabilidade. A voluntária do presente estudo confirma esses dados, pois ao se avaliar a marcha, constatou-se que a mesma deambula realizando passos curtos [14].
A voluntária da pesquisa apresentou alterações tanto de coordenação quanto de equilíbrio (estático e dinâmico), observadas nos respectivos testes realizados. Alguns autores afirmam que as alterações no cerebelo são as mais frequentes e significativas na síndrome de down, considerando que o cerebelo é menor e que se mantém hipoplástico ao longo da vida nos portadores dessa síndrome. Na síndrome de down não há dificuldade em executar atividades rotineiras, mas quando se tenta construir uma conduta nova, que exija organização programada e uma nova sequência de atos, a dificuldade se instala. Estudos recentes sugerem que o cerebelo possa estar envolvido com a memória de trabalho, atenção e organização de tempo, ressaltando que pessoas com alterações cerebelares tornam-se mais lentas e simplificam seus movimentos como forma estratégica compensatória [15].
O estudo realizado por Meneghetti et. al. (2009) afirma que os indivíduos com síndrome de down avaliados em relação ao equilíbrio estático, apresentavam um déficit deste tanto para a condição com visão, quanto para a sem visão, sendo esse déficit mais exacerbado no último caso. Tais alterações encontradas nesses indivíduos se dão devido atrasos motores e, provavelmente, alterações sensório-motoras, fraqueza muscular, hipotonia e hipoplasia do cerebelo [3]. Esse fato também foi observado na avaliação do equilíbrio estático realizada com a voluntária da pesquisa do presente estudo.
Num estudo realizado por Rodrigues (2008), observou-se que a anteriorização da cabeça, aumento da lordose lombar e anteversão pélvica são mais encontrados em pessoas portadoras de síndrome de down com sobrepeso e obesidade, fato também encontrado na voluntária do presente estudo. Estes autores também observaram que a hipotonia muscular associada à hiperflexibilidade ligamentar contribuem para o desequilíbrio, favorecendo o aparecimento de desvios posturais [16].
Alguns autores acreditam que o desenvolvimento da cognição decorre da interação do indivíduo com o ambiente. Sugerem que o meio é mediador da aprendizagem, visando a um desenvolvimento significativo. Algumas pesquisas apontam que a estimulação psicomotora exerce influência positiva no desenvolvimento cognitivo do indivíduo com síndrome de down. A paciente dessa pesquisa apresentou déficits cognitivos, observados quando pediu-se para a mesma ler e escrever um texto e quando se testou a compreensão, sendo os resultados insatisfatórios [15].
Visto que a voluntária da pesquisa apresenta diminuição de ADM e força muscular, torna-se indispensável uma associação entre treinamento de força e exercícios de alongamento para se obter uma reabilitação eficaz de seu estado funcional. Alguns autores relatam que após uma série de alongamentos se nota uma redução do quadro álgico e afirmam que um alongamento de maior intensidade é mais efetivo para o aumento da ADM [17].
Mendelson et al. (2004), enfatizaram a importância da restauração da propriocepção articular em sua pesquisa ao aplicarem um protocolo enfocando a força muscular isométrica e o treino de marcha. Observaram-se aumento na mobilidade, melhora no equilíbrio, maior confiança dos pacientes à movimentação ativa, melhora no posicionamento angular articular e melhora da propriocepção, indicando que esse treinamento estimula a área representante no sistema nervoso central, proporcionando adaptação e automação dessas habilidades músculo-esqueléticas [18].
Mangione e Palombaro (2005), após realizarem um protocolo incluindo fortalecimento muscular, treino aeróbico, funcional e de equilíbrio, obtiveram bons resultados, porém, destacou-se o ganho significativo de força dos extensores e abdutores do quadril e dos extensores do joelho. Estes grupos musculares promovem a estabilização e o posicionamento articular, facilitando a ação dos receptores proprioceptivos e favorecendo a percepção motora e o equilíbrio e, consequentemente, a marcha [18].
Diante dos fatos expostos, verifica-se que são vários os fatores influentes no processo de envelhecimento dos portadores de síndrome de down. Um tratamento adequado tem relevância no desenvolvimento de cada indivíduo, que se estende desde o nascimento até o envelhecer. É necessário que se faça uma avaliação detalhada para buscar o desenvolvimento físico, psicológico e social, buscando tratamentos que atuem nas características específicas de cada um, na tentativa de melhorar a qualidade e a expectativa de vida.
Conclusão
Diante dos dados levantados, conclui-se que uma abordagem fisioterapêutica quando bem elaborada e planejada de maneira efetiva, permite aprofundar o conhecimento sobre as alterações advindas no processo de envelhecimento do individuo portador de síndrome de down. Porém, essa realidade ainda encontra-se deficitária em relação ao conhecimento cientifico abordado sobre este tema, entretanto partindo do princípio que a estimulação precoce associada ao meio em que se encontra o portador da síndrome de down, seja o social ou familiar, tem papel determinante no processo do envelhecimento em busca de qualidade de vida.
A comunidade também pode contribuir com esse processo, devendo proporcionar ao indivíduo com síndrome de down uma série de fatores socioeconômicos, culturais e psicológicos que façam com que este sinta-se satisfeito com sua existência e com seu ambiente. Assim, ele terá condições de desenvolver-se adequadamente tornando-se um adulto feliz e podendo atingir a terceira idade.
Fica evidente a carência teórica sobre esse assunto na literatura, e sugerem-se novas pesquisas aleatórias e randomizadas, com maior amostragem e esclarecimento em relação ao tema abordado.
Referências
1. MARQUES, R. C.; MARREIRO, D. N. Aspectos metabólicos e funcionais do zinco na Síndrome de Down. Revista de Nutrição. 2006, vol. 19, n. 4. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2010.
2. SILVA N. M. et. al. Indicadores antropométricos de obesidade em portadores da síndrome de Down entre 15 e 44 anos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. 2009, vol. 23, n. 4, pp. 415- 424. Disponível em: < http://www.usp.br/eef/rbefe/v23n42009/10_RBEFE_v23_n4_p415_424.pdf >. Acesso em: 12 abr. 2010.
3. MENEGHETTI, C. H. Z. et. al. Avaliação do equilíbrio estático de crianças e adolescentes com síndrome de Down. Revista Brasileira de Fisioterapia. 2009, vol. 13, n. 3. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-35552009000300007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >. Acesso em: 9 abr. 2010.
4. SOARES, F. A.; SOUZA, M. O. A longevidade na Síndrome de Down. Revista Digital. 2008, ano 13, n. 121. Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd121/a-longevidade-na-sindrome-de-down.htm >. Acesso em: 10 abr. 2010.
5. MOREIRA, L. M. A. et. al. A síndrome de Down e sua patogênese:considerações sobre o determinismo genético. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2000, vol. 22, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462000000200011&script=sci_arttext&tlng=in >. Acesso em: 16 abr. 2010.
6. DAMASCENO, K. L. C. et. al. Síndrome de Down. Disponível em: < http://guaiba.ulbra.tche.br/pesquisas/2005/artigos/biologia/58.pdf >. Acesso em: 12 abr. 2010.
7. GONZÁLEZ, Eugenio.Necessidades educacionais específicas: intervenção psicoeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007. (capítulo 4- pp. 54 a 62);
8. VALENZA, A. A.; JÚNIOR, H. P. O envelhecer dos indivíduos com Síndrome de Down. Disponível em: < http://www.cesumar.br/epcc2009/anais/angelica_aparecida_valenza.pdf >. Acesso em: 12 abr. 2010.
9. RIBEIRO, C. T. M. et. al. Perfil do atendimento fisioterapêutico na Síndrome da Down em algumas instituições do município do Rio de Janeiro. Revista Neurociências. 2007, vol. 15, n. 2, pp. 114-119. Disponível em: < http://www.miotec.com.br/pdf/Neurociencias.pdf#page=21 >. Acesso em: 14 abr. 2010.
10. RIBEIRO, L. M. A. et. al. Avaliação dos fatores associados a infecções recorrentes e/ou graves em pacientes com síndrome de Down. Jornal de Pediatria. 2003, vol. 79, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572003000200009 >. Acesso em: 14 abr. 2010.
11. NISLI, Kemal. Prevalência de cardiopatias congênitas em portadores da síndrome de Down. Jornal de Pediatria. 2009, vol. 85, n. 5, pp. 377-378. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/jped/v85n5/v85n5a02.pdf >. Acesso em: 17 abr. 2010.
12. NISIHARA, R. M. et. al. Alterações do TSH em pacientes com síndrome de Down: uma interpretação nem sempre fácil. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. 2006, vol. 42, n. 5. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442006000500005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >. Acesso em: 18 abr. 2010.
13. SILVA, D. L. et. al. Avaliação da composição corporal em adultos com Síndrome de Down. Arquivos de Medicina. 2006, vol. 20, n. 4, pp. 103-110. Disponível em: < http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/am/v20n4/v20n4a01.pdf >. Acesso em: 14 abr. 2010.
14. FELÍCIO, S. R. et. al. Marcha de crianças e jovens com Síndrome de Down. Conscientiae Saúde. 2008, vol. 7, n. 3, pp. 349-356. Disponível em: < http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/929/92911262010.pdf >. Acesso em: 12 abr. 2010.
15. SILVA, M. F. M. C.; KLEINHANS, A. C. S. Processos cognitivos e plasticidade cerebral na Síndrome de Down. Revista Brasileira de Educação Especial. 2006, vol. 12, n. 1. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382006000100009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >. Acesso em: 12 abr. 2010.
16. RODRIGUES, C. A. Avaliação postural em adolescentes com síndrome de down: análise pela biofotogrametria. São Paulo: 2008. Disponível em: < http://mx.mackenzie.com.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=776 >. Acesso em: 18 abr. 2010.
17. CHAGAS, M. H. et. al. Comparação de duas diferentes intensidades de alongamento na amplitude de movimento. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2008, vol. 14, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86922008000200003&lang=pt >. Acesso em: 20 abr. 2010.
18. MARTIMBIANCO, A. L. C. et. al. Efeitos da propriocepção no processo de reabilitação das fraturas de quadril. Acta Ortopédica Brasileira. 2008, vol. 16, n. 2. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-78522008000200010&script=sci_arttext&tlng=es >. Acesso em: 10 abr. 2010.
Anexo I
Avaliação Fisioterapêutica
1. Nome:
2. Endereço:
3. Data de nascimento:
4. Raça:
5. Telefone:
6. Nome do responsável:
7. Diagnóstico clínico:
8. Grau de escolaridade:
9. Mora com quantas pessoas:
10. Mora com membros da família? Quem?
ANAMNESE
11. Queixa principal:
12. HDA:
13. Hábitos de vida:
14. Antecedentes pessoais/patológicos:
15. Antecedentes familiares:
16. Exames complementares:
17. Uso de medicamentos? Qual?
18. Já realizou cirurgia? Qual? Com quantos anos?
19. Histórico escolar (ate que série/ escola regular ou especial/ motivo pelo qual parou)
20. Se sente feliz?
21. O que mais gosta de fazer?
22. Anamnese materna:
A mãe realizou pré-natal?
Teve alguma doença?
Idade da mãe?
Sofreu alguma queda?
Utilizou algum medicamento?
Com quanto tempo foi diagnosticada a SD?
23. Condições do parto:
Apresentação:
Tipo:
Local do parto:
Nascimento:
Duração:
EXAME FÍSICO
24. Peso
25. Altura
26. IMC
27. Sinais vitais:
28. Inspeção:
Deformidades ósseas:
Alterações posturais:
Alterações visuais:
Alterações cutâneas:
Cicatrizes:
Edema:
Varizes:
Trofismo:
Marcha:
29. Palpação:
Tônus:
Edema:
Flacidez tissular:
Aderência cicatricial:
Temperatura:
Crepitação:
30. Teste de força muscular
– MMSS
Bíceps:
Tríceps:
Deltóide anterior:
Deltóide médio:
Grande dorsal:
Redondo maior:
Subescapular
Infraespinhoso e redondo menor
Flexores de punho:
Extensores de punho:
– MMII
Quadríceps:
Isquiotibiais:
Glúteo máximo:
Adutores:
Abdutores:
Rotadores internos:
Rotadores externos:
Dorsiflexores:
Flexores plantar:
31. Perimetria
Medida real:
Medida aparente:
32. Cirtometria
MMSS de 5-5cm:
MMII de 7-7cm:
33. Goniometria
– Ombro
Flexão:
Extensão:
Abdução:
Adução:
Rotação interna:
Rotação externa:
– Cotovelo
Flexão:
Extensão:
– Punho
Flexão:
Extensão:
Desvio ulnar:
Desvio radial:
-Antebraço
Pronação:
Supinação:
Quadril:
Flexão:
Extensão:
Abdução:
Adução:
Rotação interna:
Rotação externa:
Joelho:
Flexão:
Extensão:
Tornozelo:
Flexão:
Extensão:
Inversão:
Eversão:
34. Teste dos reflexos
Reflexo patelar
Reflexo tricipital
Reflexo mentual
Reflexo Biciptal
35. Avaliação da coordenação:
– Sem uso do equilíbrio
Índex-nariz
Índex-índex
Índex-nariz alternado
– Com uso do equilíbrio
Em pé com pés unidos
Em pé sobre um pé
Marchar no lugar
36. Avaliação do Equilíbrio:
– Estático
Apoio em um membro
Equilíbrio sentado
Romberg
– Dinâmico
Levantar
Caminhar
Girar
37. Avaliação sensorial
Tato
Pressão
Dor
Esteriognosia
Grafestesia
38. Avaliação cognitiva
Se lê
Se compreende algo que alguém lê
Teste de formatos (associação de desenhos)
Escrever um pequeno texto