O DESAFIO DO VAREJO NA VENDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS:  ESTUDO DE CASO EM UM SUPERMERCADO DE LINHARES – ES

THE RETAIL CHALLENGE IN SALES SUSTAINABLE AGRICULTURAL PRODUCTS: CASE STUDY IN A LINHARES SUPERMARKET – ES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11513663


Brenda Hellen Pereira de Souza¹;
Gabriela Borgue Serafim²;
Reofran Pereira dos Santos³.


Resumo

O artigo aborda a importância da produção e consumo sustentáveis, com foco especial na agricultura orgânica. Destaca-se a relevância de práticas empresariais responsáveis, a economia circular e a conscientização do consumidor para enfrentar desafios socioambientais. O estudo visa compreender as motivações de compra e os desafios enfrentados pelo mercado de produtos agrícolas orgânicos, especialmente em Linhares, ES. Para isso, adota uma abordagem qualitativa exploratória, visando uma análise aprofundada do tema. A metodologia utilizada inclui pesquisa qualitativa exploratória, realizada por meio de entrevistas e análise documental. Foram entrevistados coordenadores de hortifrútis em um supermercado local para compreender suas práticas e desafios relacionados aos produtos orgânicos. Os resultados indicam um crescimento significativo no mercado de produtos orgânicos em Linhares, impulsionado pela busca dos consumidores por opções mais saudáveis e sustentáveis. Embora os produtos orgânicos tenham uma presença significativa nas prateleiras do supermercado estudado, ainda representam uma pequena porcentagem das vendas totais, devido principalmente ao alto custo e à irregularidade no fornecimento. A pesquisa destaca a importância da certificação orgânica na garantia da qualidade e autenticidade dos produtos para os consumidores. Além disso, aponta a necessidade de políticas tributárias que incentivem a produção e o consumo de produtos orgânicos, garantindo sua acessibilidade e viabilidade econômica. O estudo também destaca o compromisso do supermercado em promover produtos sustentáveis e sua intenção de expandir e aprimorar sua seleção de produtos orgânicos no futuro.

Palavras-chave: Agricultura orgânica; Consumo sustentável; Economia circular; Produção sustentável; Sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade regida pelo consumo em que a maioria das vezes quer mais do que saciar nossas necessidades biológicas, mas também saciar nosso desejo consumista. Até pouco tempo o próprio pensamento econômico dominante nas sociedades urbano-industriais almejava que o planeta tivesse um padrão de consumo. Este padrão refere-se aos hábitos, comportamentos e escolhas de uma comunidade ou população em relação a bens e serviços.

Quanto as práticas adotadas atualmente, bem como para tornar o consumo e produção mais sustentáveis, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida a população, sem comprometer nosso meio ambiente e o futuro das gerações que estão por vir. Como no conceito de “American Way of Life” também conhecido como “O jeito americano de viver” que teve sua origem no início do século XX, particularmente durante a década de 1920, esse modo de vida consumista continuou a se fortalecer ao longo do século XX, com os Estados Unidos emergindo como uma potência econômica e cultural global.

Nos últimos anos, a busca por práticas sustentáveis tem ganhado destaque em diversas esferas da sociedade, incluindo a produção e o consumo de alimentos. Nesse contexto, os produtos agrícolas orgânicos têm emergido como uma alternativa cada vez mais popular, impulsionada pela preocupação crescente com a saúde, o meio ambiente e a sustentabilidade. A transição para uma produção e consumo sustentáveis não apenas beneficia o meio ambiente, mas também promove a saúde humana e contribui para o desenvolvimento econômico.

No entanto, esse movimento enfrenta uma série de desafios, desde a disponibilidade e o acesso a esses produtos até questões relacionadas à certificação e tributação. Este estudo visa explorar e analisar esses desafios, bem como identificar estratégias e iniciativas que possam promover o crescimento e a consolidação do mercado de produtos agrícolas orgânicos no Brasil.

Através de uma análise abrangente da literatura existente e de uma pesquisa de campo realizada em um supermercado específico, buscamos compreender as motivações dos consumidores, os obstáculos enfrentados pelos varejistas e produtores, e as oportunidades para impulsionar o mercado de orgânicos. Ao abordar essas questões de maneira integrada, esperamos contribuir para um maior entendimento do papel dos produtos agrícolas orgânicos na promoção da sustentabilidade e na construção de um sistema alimentar mais saudável e responsável.

O supermercado em questão adota medidas como priorizar produtores locais de alimentos orgânicos ou estabelecer parcerias com fornecedores certificados, visando garantir a autenticidade e qualidade dos produtos orgânicos oferecidos aos clientes. Além disso, o estabelecimento disponibiliza seções específicas destinadas exclusivamente a produtos orgânicos, simplificando a identificação e acesso dos clientes a uma ampla variedade de opções de alimentos, que incluem frutas, vegetais, carnes e laticínios.

Como promover de forma eficaz a comercialização de produtos agrícolas sustentáveis em supermercados, considerando os desafios enfrentados, como o preço mais elevado em comparação com produtos convencionais e a demanda crescente dos consumidores por opções mais saudáveis e ambientalmente responsáveis?

A produção sustentável refere-se à utilização de alternativas que buscam reduzir os impactos ambientais e sociais ao longo do ciclo de produção de bens ou serviços de consumo. Um conceito correto e amplo de desenvolvimento sustentável está associado a soluções, caminhos e programas para salvar a vida de todos, adotando práticas sustentáveis e alcançando um progresso comum para todos. Contribuir para a nossa experiência pessoal e transmiti-la ao coletivo é um fator decisivo para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Com tais considerações, o presente trabalho teve como objetivo investigar os desafios e oportunidades enfrentados pelo varejo na venda de produtos agrícolas sustentáveis neste estabelecimento.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 PROMOVENDO A PRODUÇÃO E O CONSUMO SUSTENTÁVEIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA UM FUTURO RESPONSÁVEL

A produção sustentável refere-se à criação de bens e serviços de uma forma que minimize o impacto ambiental, otimize a utilização de recursos e considere o bem-estar social e econômico. Uma estratégia que tem ganhado força nos últimos anos é a adoção de fontes de energia renováveis nos processos produtivos. Ao abandonar a energia baseada em combustíveis fósseis, as empresas podem reduzir significativamente a sua demanda de carbono.

A implementação de técnicas de produção mais limpa é outro aspecto importante da produção sustentável. Isto envolve o uso eficiente de recursos, a redução de resíduos e a minimização da poluição. As empresas podem conseguir isto através da implementação de práticas de produção enxutas, da adoção de embalagens sustentáveis e da promoção de princípios de economia circular.

No geral é possível verificar a correlação entre classe social e a priorização das propostas. “Nas opções do “caminho sustentável”, quanto mais alta classe, maior a prioridade. Nas opções do “caminho consumista”, o inverso: será tão maior a prioridade quanto mais baixa é a classe social” (Akatu consumo consciente para um futuro sustentável, 2013, p.35).

Um dos principais quadros teóricos que apoiam a produção e o consumo sustentáveis é o conceito de economia circular. A economia circular é uma alternativa ao tradicional modelo linear de produção e consumo, que se baseia numa abordagem “pegar-fazer-descartar”. Em contrapartida, a economia circular visa manter os recursos em utilização durante o maior tempo possível, promovendo a reciclagem, a refabricação, a partilha e reparação de produtos.

Nas palavras de Catherine Weetman (2019, p. 33) a economia circular desconecta o crescimento das empresas do consumo de recursos, pois, diferentemente da abordagem da economia linear de extrair, produzir, descartar, “a economia circular adota uma abordagem em que usamos recursos, em vez de consumir recursos, e elimina os resíduos no design do produto, não no descarte do lixo”.

Ao analisar os impactos ambientais e sociais associados a cada fase, o pensamento do ciclo de vida permite uma tomada de decisão informada para minimizar os impactos negativos. Esta abordagem incentiva a adoção de práticas sustentáveis na concepção, produção, distribuição e gestão do fim da vida.

De acordo com Soares (2004), além disso, o conceito de produção e consumo sustentáveis está estreitamente ligado aos princípios da responsabilidade social empresarial (RSE) e à comunicação de informações sobre sustentabilidade. A RSE refere-se às ações voluntárias tomadas pelas empresas para integrar preocupações sociais, ambientais e econômicas nas suas operações. Implica a responsabilidade das empresas para com as partes interessadas, incluindo funcionários, consumidores, comunidades e o meio ambiente.

Ao longo da última década, a responsabilidade social corporativa tornou-se um tema recorrente nas organizações. Uma característica fundamental desse movimento é a proposta de recomposição das questões éticas nas organizações e em suas relações com os públicos externos (consumidores, clientes, fornecedores, governos e acionistas) (Soares, 2004, p.03).

Ao adotarem a RSE e os relatórios de sustentabilidade, as empresas podem demonstrar o seu compromisso com a produção e o consumo sustentáveis, promovendo a transparência e a responsabilização. Além disso, a produção e o consumo sustentáveis são influenciados por fatores sociais mais amplos, incluindo valores culturais, quadros institucionais e comportamento do consumidor (Vieira, 2019).

Ainda citando Vieira (2019), os valores culturais desempenham um papel significativo na formação dos padrões e preferências de consumo. Por exemplo, as sociedades que priorizam o minimalismo e a frugalidade podem apresentar níveis mais baixos de consumo e uma maior ênfase na durabilidade e na qualidade. Os quadros institucionais, tais como regulamentos e políticas, também podem impactar os padrões de produção e consumo. As intervenções governamentais, tais como impostos sobre as emissões de carbono ou incentivos às energias renováveis, podem encorajar práticas sustentáveis. Por último, o comportamento do consumidor, influenciado por fatores como o rendimento, a educação e a consciencialização, desempenha um papel crucial na formação da procura de produtos e serviços sustentáveis.

Quando se trata de políticas ambientais, além da utilização dos instrumentos de comando e controle (apoiadas por leis, decretos, tratados, etc.) e dos estímulos de mercado (baseados no princípio do poluidor-pagador como os impostos, subsídios e direitos negociáveis de poluir), devem ser considerados também os instrumentos voltados à comunicação, que atuam na concentralização, informação e educação dos agentes poluidores (Lustosa et al., 2010, p.169).

Iniciativas e conceitos para promover a Produção e Consumo Sustentável como a transição para o PCS exige uma mudança de paradigma, tanto na produção quanto no consumo. Iniciativas como a Circular de Economia propõem a necessidade de compensar a maneira como os produtos são projetados, fabricados e descartados, alterando o uso eficiente de recursos, a redução do desperdício e a maximização da reciclagem. Além disso, a Eco Inovação incentiva o desenvolvimento de produtos e processos sustentáveis, com menor impacto ambiental e maior eficiência energética (Mendonça, 2022).

Dentre os benefícios do PCS está os benefícios econômicos, sociais e ambientais. Os lucros produtivos, ao aplicarem práticas sustentáveis, podem reduzir custos operacionais, promover a inovação e melhorar sua imagem perante os consumidores. A longo prazo, o PCS contribui para a preservação dos recursos naturais, a redução da poluição e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas.

A promoção da produção e do consumo sustentáveis é essencial para enfrentar os desafios socioambientais que enfrentamos atualmente. Através da adoção de práticas de produção mais limpas, da integração da responsabilidade social empresarial e do estímulo à economia circular, as empresas podem desempenhar um papel fundamental na construção de um futuro mais responsável e sustentável. No entanto, para que essa transição seja eficaz, é crucial o envolvimento de todos os atores da sociedade, incluindo governos, empresas e consumidores.

A conscientização sobre a importância da sustentabilidade, aliada a políticas públicas eficazes e incentivos adequados, pode acelerar significativamente o processo de transição para uma economia mais verde e inclusiva. Nesse contexto, é importante destacar o papel dos produtos agrícolas orgânicos como uma peça-chave na promoção da produção e do consumo sustentáveis. Ao optarmos por produtos orgânicos, estamos apoiando práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente, promovem a saúde do solo e dos ecossistemas, e reduzem a exposição a produtos químicos nocivos. Portanto, ao desvendar o conceito de produto agrícola orgânico, estamos dando um passo importante em direção a um sistema alimentar mais sustentável e saudável para todos.

2.2 DESVENDANDO O CONCEITO DE PRODUTO AGRÍCOLA ORGÂNICO

Diante do desenvolvimento de processos de produção, distribuição e comercialização que enfatizem a sustentabilidade e a responsabilidade social e ambiental, a compreensão do comportamento do consumidor bem como a apresentação de novas perspectivas e mudanças para o público, tem se tornado um dos grandes desafios atuais nos estudos de marketing.

Este crescimento do mercado que, por um lado abre grandes perspectivas, por outro, evidencia as limitações relacionadas não só às questões de estruturas de produção, fornecimento e comercialização, mas principalmente, a compreensão das reais motivações que determinam o comportamento de compra do consumidor de produtos orgânicos, elemento essencial para que o processo se Consolide (Vilas Boas,2005).

Portanto, é essencial conhecer as características do consumidor, suas necessidades, valores e crenças, avaliando os aspectos e características determinantes da compra. Fator primordial para que estratégias de marketing adequadas sejam desenvolvidas, como, por exemplo, pela utilização das redes sociais, como canais de comunicação e de informação para os consumidores com conteúdo e interações de qualidade.

A Instrução Normativa nº 19 trata dos mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica, enquanto o Decreto nº 6.323 define a qualidade orgânica como aquela que incorpora os princípios da produção orgânica relacionados à saúde, meio ambiente e aspectos sociais. A qualidade orgânica é uma noção relativa, abrangendo diferentes expectativas dos produtores, transformadores, distribuidores e consumidores. Estas incluem aspectos como qualidade agronômica, tecnológica, sensorial, nutricional, sanitária, holística, ambiental, ética e social (Brasil, 2009).

Na tentativa de compreender o comportamento dos clientes no mercado consumidor, estudiosos do marketing têm realizado diversas pesquisas utilizando diferentes conceitos, dentre elas, a teoria da cadeia de meio e fins, que tem como base não apenas os atributos do produto, mas, as consequências em se utilizar esses produtos, bem como, os valores pessoais e, crenças que conduzem às escolhas de compra dos consumidores (Pimenta; Vilas Boas, 2008).

Diante disso, surge o conceito de consumo consciente, que aponta o equilíbrio entre o consumo para a satisfação pessoal e, para a sustentabilidade, aumentando as consequências positivas deste ato, não só para o próprio consumidor, mas também para as relações sociais, a economia e a natureza (Silva, 2013).

Na compreensão ampla, da maneira como cada pessoa atua em relação à questão do consumo consciente, torna-se necessário considerar atributos tais como: a cultura na qual essa sociedade do consumo está envolvida; o estilo de vida adotado; o poder aquisitivo da população; as questões éticas assumidas por cada um, bem como, a educação à qual essa sociedade está sujeita para obter uma percepção da necessidade dessa consciência (Silva; Gómez, 2010).

O mercado de produtos agrícolas orgânicos no Brasil está em constante expansão, impulsionado pelo crescente interesse dos consumidores por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. No entanto, para que esse crescimento seja sustentável e significativo, é crucial compreender as motivações e comportamentos dos consumidores em relação aos produtos orgânicos. Nesse sentido, a análise das características do consumidor, suas necessidades, valores e crenças, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de marketing eficazes. A utilização de ferramentas como as redes sociais como canais de comunicação e informação pode ser uma abordagem eficaz para alcançar e engajar os consumidores de produtos orgânicos. Além disso, é importante considerar os mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica, bem como os diferentes aspectos que envolvem a percepção de qualidade pelos produtores, transformadores, distribuidores e consumidores.

A qualidade orgânica é uma noção relativa, que abrange diversos aspectos, desde a qualidade agronômica até aspectos éticos e sociais. O conceito de consumo consciente também desempenha um papel relevante nesse contexto, incentivando o equilíbrio entre o consumo para a satisfação pessoal e a preocupação com a sustentabilidade. A compreensão ampla do comportamento do consumidor em relação ao consumo consciente requer a consideração de diversos atributos, como cultura, estilo de vida, poder aquisitivo e questões éticas. Portanto, para promover o crescimento e a consolidação do mercado de produtos agrícolas orgânicos no Brasil, é essencial continuar investindo em pesquisas e estratégias de marketing que levem em conta as características e necessidades dos consumidores, bem como os princípios da produção orgânica e os valores associados ao consumo consciente.

2.3 O MERCADO DE ORGÂNICOS NO BRASIL: ANÁLISE E CONCEPÇÕES

Com um aumento de 30% em 2020 e 12% em 2021 no Brasil, o mercado de produtos orgânicos demonstra um vasto potencial de expansão. Ele integra uma tendência global que valoriza o consumo de alimentos naturais e saudáveis como uma maneira de fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças. A demanda por alimentos orgânicos está em ascensão entre os consumidores (SEBRAE, 2022).

Em 2019, 19% dos brasileiros relataram consumir regularmente esses produtos, sendo que 35% deles afirmaram fazê-lo mais de cinco vezes por semana. Esse aumento de 4 pontos percentuais em relação a 2017 sugere um avanço considerável e indica um potencial ainda maior de crescimento para o mercado de orgânicos (SEBRAE, 2022).

No entanto, apesar desse crescimento, os números poderiam ser ainda mais expressivos. Além do preço, a dificuldade de acesso aos produtos orgânicos é um dos principais motivos apontados para a não aquisição. Em termos de preferência de consumo, os produtos orgânicos mais populares entre os consumidores são os itens de hortifrúti, seguidos por grãos e cereais.

As projeções para o mercado global de produtos orgânicos são igualmente impressionantes, com previsão de alcançar US$ 497,3 bilhões até 2030, representando um aumento de 178,75% em relação a 2021. Para 2022, as estimativas apontam para um valor de US$ 199,2 bilhões. No contexto brasileiro, a previsão para 2021 era de US$ 0,95 bilhões, com expectativa de crescimento para US$ 1,77 bilhão em 2026, representando um aumento significativo de 86,3%. Esses números refletem o crescimento contínuo e o potencial promissor do mercado de produtos orgânicos no Brasil e no mundo (SEBRAE, 2022).

Com a produção vegetal predominante em 36.689 estabelecimentos. Outros 17.612 estabelecimentos se dedicam à produção animal, enquanto uma parcela menor de 10.389 estabelecimentos realiza tanto a produção animal quanto a vegetal de forma orgânica (Albuquerque, 2023).

Ainda citando Albuquerque (2023), o varejo deve expandir o espaço nas prateleiras para oferecer produtos agroecológicos aos consumidores, reconhecendo o valor agregado desse segmento e a crescente demanda por esse tipo de produto. Embora o preço seja frequentemente um fator limitante, a redução nos preços ocorrerá à medida que o consumo aumentar. Além disso, o uso de tecnologias apropriadas na produção pode diminuir os custos, tornando esses alimentos mais acessíveis tanto para os supermercados quanto para os consumidores.

2.4 A IMPORTÂNCIA DA CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA E A TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS

A certificação de produtos orgânicos é um processo vital para assegurar aos consumidores que determinado produto, processo ou serviço cumpre os padrões da produção orgânica. Realizada por certificadoras credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e acreditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), essa certificação é representada por um selo afixado na embalagem do produto. (Scalco, 2021).

No Brasil, os produtores orgânicos devem estar cadastrados no Sistema Nacional de Produtores Orgânicos (SisOrg) e certificados por organismos de avaliação credenciados. Existem três mecanismos de certificação: auditoria por certificadoras, sistema participativo de garantia e controle social na venda direta, cada um com requisitos específicos (Scalco, 2021).

A certificação não apenas garante a qualidade do produto ao consumidor, mas também regulamenta os processos de produção, contribuindo para a credibilidade do setor orgânico. Além disso, é fundamental para a abertura de mercados internacionais, pois oferece segurança aos importadores quanto à autenticidade dos produtos. Os benefícios do consumo de orgânicos incluem o fortalecimento da saúde, a preservação do meio ambiente e a promoção da sustentabilidade.

Ainda citando Scalco (2021), os produtos certificados vão desde alimentos in natura até produtos processados, com destaque para café, cacau, frutas, óleos e laticínios. No Brasil, os principais produtores são os agricultores familiares, que representam cerca de 90% do total, e empresas privadas, responsáveis por 10% da produção. A certificação orgânica, além de garantir a qualidade dos produtos, é essencial para a consolidação e o crescimento do mercado de orgânicos, promovendo uma produção mais sustentável e responsável.

A certificação de produtos orgânicos desempenha um papel crucial na garantia da qualidade e autenticidade dos produtos para os consumidores. Além de assegurar que os produtos atendam aos padrões da produção orgânica, ela também regula os processos de produção, contribuindo para a credibilidade do setor orgânico e facilitando a entrada em mercados internacionais. Os benefícios do consumo de orgânicos são vastos, incluindo a promoção da saúde, a preservação do meio ambiente e o apoio à sustentabilidade. No entanto, apesar dos avanços no mercado de orgânicos, há desafios adicionais a serem considerados, como a tributação de produtos agrícolas.

A tributação pode afetar significativamente a viabilidade econômica da produção orgânica, especialmente para os pequenos agricultores familiares. Portanto, é essencial explorar maneiras de promover políticas tributárias que incentivem a produção e o consumo de produtos orgânicos, garantindo que esses alimentos saudáveis e sustentáveis permaneçam acessíveis e viáveis para todos.

Os produtos resultantes da agroecologia e da agricultura orgânica enfrentam uma carga tributária elevada, tornando-os inacessíveis para a maioria da população. Enquanto isso, o governo isenta agrotóxicos e promove a produção de alimentos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. É essencial reverter essa situação e garantir que alimentos saudáveis cheguem à mesa das famílias (Perugini, 2024).

A certificação de produtos orgânicos desempenha um papel crucial na garantia da qualidade e autenticidade dos alimentos, promovendo a saúde e a sustentabilidade. No entanto, a tributação excessiva sobre esses produtos pode representar um obstáculo significativo para os produtores e consumidores. Portanto, é fundamental buscar políticas tributárias que incentivem a produção e o consumo de alimentos orgânicos, garantindo que eles permaneçam acessíveis e viáveis para todos. Além disso, é importante conscientizar sobre a importância de apoiar a agricultura orgânica como uma alternativa saudável e sustentável, visando o bem-estar das pessoas e do meio ambiente.

3 METODOLOGIA

Neste estudo, a pesquisa tem dois objetivos principais: explorar e descrever. A parte exploratória busca fornecer informações iniciais sobre produtos orgânicos, enquanto a descritiva busca delinear características específicas desse fenômeno. Quanto aos métodos utilizados, a pesquisa é bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa bibliográfica envolve a análise de materiais já publicados sobre o tema, enquanto a documental utiliza documentos existentes relacionados ao assunto. A pesquisa de campo envolveu a coleta direta de dados através de um questionário direcionado ao coordenador da área de hortifrúti de um supermercado em Linhares – ES.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A venda de produtos orgânicos está crescendo no Espírito Santo e em todo o Brasil, impulsionada pela busca dos consumidores por opções mais saudáveis e ecologicamente sustentáveis. O Supermercado onde o estudo foi realizado se destaca como uma das principais varejistas da região que oferece uma ampla variedade desses produtos. Três produtos orgânicos em particular têm sido muito demandados no estado: café orgânico, mamão papaya orgânico e mel orgânico. A produção desses itens tem aumentado para atender à crescente procura dos consumidores. O café orgânico é especialmente emblemático devido à tradição do Espírito Santo na produção de café Arábica, enquanto o clima favorável da região contribui para o cultivo de frutas tropicais como o mamão e a criação de abelhas para a produção de mel.

Figura 1 – Hortifruti do Supermercado em Linhares/ES

Fonte: Acervo das autoras

Embora o Supermercado ofereça uma variedade significativa de produtos orgânicos, como mostrado na Figura 1, predominantemente hortifrútis, a venda desses produtos ainda representa uma pequena porcentagem em comparação com os produtos convencionais. Isso se deve em parte ao alto custo dos produtos orgânicos, o que pode ser uma barreira para alguns consumidores. A disponibilidade consistente de produtos orgânicos nas prateleiras dos supermercados é um desafio, especialmente devido à irregularidade na oferta de pequenos agricultores locais. A falta de fornecedores locais e a dificuldade em encontrar alternativas em outros estados são problemas enfrentados pelo Supermercado.

Apesar dos desafios, a rede tem investido em destacar os produtos orgânicos em suas prateleiras e acredita que vale a pena promover esses produtos, mesmo que não representem grandes lucros financeiros. Isso reflete uma tendência de mercado e um compromisso em oferecer opções mais saudáveis aos consumidores. No entanto, garantir a autenticidade e a rastreabilidade dos produtos orgânicos é essencial para manter a confiança dos consumidores, a Figura 2 ilustra o rótulo, descrevendo sobre a procedência dos produtos orgânicos. É importante estabelecer sistemas eficazes de certificação e rastreamento para evitar fraudes e garantir a integridade desses produtos.

Figura 2 – Rótulo dos produtos orgânicos no Supermercado em Linhares/ES

Fonte: Acervo das autoras

Os resultados da pesquisa indicam que o Supermercado adota critérios como origem, qualidade e comprometimento ambiental dos produtores ao selecionar produtos sustentáveis para serem vendidos. A equipe avalia a sustentabilidade dos produtos fornecidos pelos fornecedores, preferencialmente de pequeno porte e agricultura familiar, embora não haja diretrizes específicas ou padrões formais seguidos. Os produtos sustentáveis mais comuns oferecidos aos clientes são frutas, legumes e verduras. Para comunicar aos consumidores sobre a sustentabilidade dos produtos disponíveis, o supermercado utiliza estratégias como vídeos diretos das propriedades dos produtores, divulgação em redes sociais e televisores da loja, mostrando o processo de produção até a chegada à área de venda.

Além disso, eles procuram dar mais destaque aos produtos sustentáveis na loja. Em relação aos fornecedores que não atendem aos padrões de sustentabilidade exigidos, o supermercado procura orientá-los, fazendo visitas às propriedades e explicando os benefícios e vantagens da produção sustentável. Os principais desafios enfrentados ao adquirir e promover produtos sustentáveis incluem o preço um pouco mais alto em comparação com os convencionais, devido à produção em baixa escala, o que afeta os custos e os preços para os consumidores. No entanto, há uma demanda crescente por produtos sustentáveis, refletida no aumento das vendas e na preocupação crescente com a alimentação sustentável.

Figura 3 – Prateleira com produtos orgânicos do Supermercado em Linhares/ES

Fonte: Acervo das autoras

Os benefícios percebidos pela empresa ao oferecer uma variedade de produtos sustentáveis incluem o fornecimento de uma alimentação mais saudável e diferenciada, exclusiva das suas lojas. Para expandir e aprimorar a seleção de produtos sustentáveis no futuro, o supermercado planeja orientar e incentivar os produtores a produzir mais produtos sustentáveis.

Além disso, o supermercado possui iniciativas de responsabilidade social corporativa, como parcerias com produtores, visitas, incentivos e pagamentos conjuntos para promover a produção sustentável. A lista de produtos orgânicos e sustentáveis oferecidos pelo supermercado inclui uma ampla variedade de frutas, legumes, verduras e ervas frescas, demonstrando um compromisso com a oferta de opções saudáveis e ambientalmente responsáveis aos clientes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente demanda dos consumidores por produtos agrícolas sustentáveis tem impulsionado a comercialização desses itens nos supermercados, como observado no caso do Supermercado em Linhares, Espírito Santo. No entanto, apesar dos esforços para promover e oferecer uma variedade de produtos orgânicos, ainda existem desafios a serem enfrentados. A pesquisa revelou que, embora haja uma ampla oferta de produtos orgânicos na loja, a venda desses itens ainda representa uma pequena porcentagem em comparação com os produtos convencionais. Isso se deve, em parte, ao preço mais elevado dos produtos orgânicos, tornando-os inacessíveis para alguns consumidores. Além disso, a disponibilidade inconsistente desses produtos nas prateleiras, devido à sazonalidade e à falta de fornecedores locais, também representa um desafio significativo.

No entanto, apesar desses obstáculos, a pesquisa destacou o compromisso do Supermercado em promover produtos sustentáveis e oferecer opções mais saudáveis aos consumidores. Estratégias como destacar os produtos orgânicos nas prateleiras, promover a conscientização sobre sustentabilidade e incentivar os produtores a adotarem práticas sustentáveis demonstram um esforço contínuo para atender às demandas do mercado. Ainda assim, é essencial enfrentar esses desafios de forma proativa, buscando soluções que garantam a disponibilidade consistente e o acesso acessível a produtos agrícolas sustentáveis. Isso pode envolver o estabelecimento de parcerias com produtores locais, o desenvolvimento de sistemas de certificação e rastreamento mais eficazes e o investimento em educação e conscientização dos consumidores sobre os benefícios dos produtos orgânicos.

Em suma, a pesquisa destaca a importância de um esforço conjunto entre produtores, varejistas, autoridades governamentais e consumidores para promover uma transição sustentável em direção a uma alimentação mais saudável e ambientalmente responsável. Ao superar os desafios e capitalizar as oportunidades, os supermercados podem desempenhar um papel significativo na promoção de uma agricultura mais sustentável e na satisfação das crescentes demandas dos consumidores por produtos orgânicos e sustentáveis.

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¹Discente do Curso Superior de Administração da Fundação Faceli Campus Linhares e-mail: hellenbrenda138@gmail.com
²Discente do Curso Superior de Administração da Fundação Faceli Campus Linhares e-mail: gabrielaborgue@hotmail.com
³Docente do Curso Superior de Administração Fundação Faceli Campus Linhares. Mestre em  Administração, Comunicação e Educação pela Universidade São Marcos. e-mail: reofran@gmail.com