REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202411261250
Misleny Araújo Da Silva1
Dra. Maria Bárbara da Costa Cardoso2
Resumo: Tendo em vista que o processo educativo é permanente e deve estar sempre ocorrendo de forma continuada no tempo e espaço, o que significa abrir possibilidades outras de intervenções educacionais no universo de alunos que convivem desde muito tempo e, até de forma ancestral, com a natureza na Ilha de Caratateua e, em uma escola cercada por uma mata nativa com 12 hectares, estudar esse sistema que apresenta uma educação sustentável, torna-se em tempos de COP-30, essencial para o desenvolvimento de técnicas educacionais em arte. O problema dessa pesquisa está nas implicações artísticas, educacionais, ambiental e cultural, que as várias linguagens, símbolos e metáforas apresentam ao ensino na FUNBOSQUE. Esse artigo apresenta como objetivo o componente curricular Arte, buscando associá-lo à performance ensino-aprendizagem do Centro de Referência em Educação Ambiental Profº Eidorfe Moreira – Escola Bosque, para isso, adotou-se como metodologia, a pesquisa bibliográfica, por ser um método de estudo muito utilizado por pesquisadores, visto que um dos documentos que irão servir como base para esse estudo se tratar do PPP da escola. Por se tratar de uma pesquisa em andamento os resultados obtidos e principais conclusões ainda estão sendo produzidos.
Palavras-chave: Currículo, Componente Curricular Arte, Sustentabilidade, Escola Bosque, Educação.
Introdução
O presente estudo visa problematizar o Currículo de Arte e sua performance na Educação Básica da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira, lócus do estudo, na Ilha de Caratateua, corpus da pesquisa, para isso apresenta como questão de pesquisa o componente curricular Arte, objeto de análise nesse artigo, a intenção é estudar as performances de alunos e alunas por meio do currículo no contexto da escola básica, influenciado pelas características das águas e florestas, paisagens peculiares nas regiões que compõem a Amazônia legal, e o município de Belém do Pará, onde se localiza a fundação, não foge essa regra, visto que está cercado por inúmeras ilhas que transformam sua paisagem natural, tornando-o um celeiro fértil de possibilidade educacionais diferenciadas e diferenciadoras no processo de ensino aprendizado.
O interesse por esse estudo surgiu pela minha vivência como professora de arte na escola, um dispositivo curricular com um imenso poder de transformação social e educativa, capaz de formar alunos/atores coadjuvantes de sua própria história, ao buscar dinamismos nas práticas pedagógicas e processos de aprendizagem na educação básica, incentivados por projetos estimuladores dos processos de desenvolvimento e desconstruções humanas, elementos cognitivos, subjetivos e culturais que se intercruzam na formação de vivências e memórias de cada personagem do espaço escolar, território onde se expressam sujeitos/intencionalidades que, atreladas às manifestações do contexto local, marcados pelos impactos socioambientais, histórias de vida e situações-problema oriundas das realidades socioeconômicas, buscam percepções que os auxiliem neste contexto e que se transformem em práticas de resistência e superação das condições de abandono intelectual, um currículo que tenta oprimir suas historicidades.
O componente curricular arte destaca-se nesse cenário educacional pela importância na dinamização de um processo de aprendizado articulado com meio ambiente, um currículo sustentável que tem, como práxis, as diversas linguagens, símbolos e metáforas, trazendo à tona discussões, vivências e experiências relevantes sobre educação, cultura e meio ambiente. Essa integração de saberes e conhecimentos técnicos se intensifica ao estimular, pela criatividade e imaginação dos alunos, o alcance educacional das intervenções pedagógicas, ferramenta propícia para mudanças significativas na aprendizagem de educandos da FUNBOSQUE, possibilitando novas formas de ensinar e aprender de forma sustentável.
Diante desse cenário convém perguntar: De que maneira o currículo de Arte se expressa por meio da performance educacional na Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira? Para isso me proponho a analisar o componente curricular arte e performance educacional em seu viés artístico, educacional, ambiental e cultural, por meio de simbologias e metáforas que dinamizam o currículo da FUNBOSQUE. Para tanto é necessário: abordar o componente de Arte da Escola Bosque; identificar, por meio da arte-educação, os projetos educacionais, as perspectivas ambientais e educacionais da escola e, evidenciar as experiências de arte-educação vivenciadas em sala de aula, além de outros espaços pedagógicos.
De acordo com Galúcio (2019) ao se valorizar a arte e sua performance educacional, cria-se oportunidades outras de enriquecer e dinamizar o ensino, nesse viés a Escola Bosque Profº Eidorfe Moreira, tem a possibilidade de desenvolver um espaço educativo propício à mudanças sistêmicas e significativas na formação dos estudantes, uma vez que a arte amplia os horizontes da educação, enriquecendo o currículo e aproximando os alunos de sua ancestralidade histórica. Em um mundo cada vez mais preocupado com as questões climáticas, a arte-educação na Escola Bosque pode, e deve, ajustar seu currículo, de modo que contribua significativamente para sensibilizar e conscientizar os estudantes sobre a importância da preservação do Meio Ambiente usando para isso seu componente curricular.
Essa abordagem artística pode despertar o interesse de educandos ao promover reflexões, provocando aspirações para um futuro mais sustentável e dinâmico, para tanto, é necessário associar essa temática no currículo, dando espaço para o desenvolvimento das potencialidades dos educandos em construírem uma educação subjetiva e objetiva, já que para Freire (1996), através da arte e de suas múltiplas expressões, a educação busca proporcionar aos alunos novas perspectivas, potencializando o processo educacional.
Essa abordagem artística inspira reflexões e ações voltadas para a preservação ambiental e um futuro mais sustentável. Essa dobradinha arte e cultura/educação, torna-se, nesse cenário epistemológico, um viés empírico e científico incentivador para o conhecimento, a criatividade e o engajamento de educandos na transformação do ambiente escolar. A arte e sua relação com a educação têm raízes antigas, desde as pinturas rupestres até as manifestações artísticas contemporâneas, sua força ancestral é desafiadora, uma vez que não se limita meramente a reproduzir a realidade, ela busca transformar o cotidiano dos alunos, usando para isso seu currículo. Estudos contemporâneos deixam claro a relevância da arte na educação básica, como elemento essencial para o equilíbrio emocional, o autoconhecer-se e o desenvolvimento cognitivo dos educandos. Na BNCC a Arte, os pressupostos como a sensibilidade, a intuição, o pensamento e as subjetividades se manifestam como formas de expressão no processo de aprendizagem, onde os processos de criação são tão relevantes quanto os eventuais produtos.
A arte-educação em seu viés sustentável e ambiental é apresentada nesse artigo como um espaço propício para mudanças e discussões em torno do currículo, da consciência ambiental e questões educacionais. Esse componente curricular, carregado de desejos e possibilidades, provoca discussões de forma abstrata e concreta, extensões performáticas possíveis de serem vistas, experimentadas e/ou criadas, já que o currículo é um artefato performático movediço, circulado e atravessado por conhecimentos outros, se revelando um instrumento dinâmico, plástico e inquietante. Pensar nesse currículo como uma extensão artística e cultural implica proporcionar aos educandos a oportunidade de conhecer novos mundos e compartilhar novas experiências estéticas, ao estimular suas potências criativas através de atividades performáticas no jogo lúdico da aprendizagem, um dispositivo que, associado à cultura, expressão ancestral, atualiza o passado, proporcionando uma apropriação identitária ao fortalece as lutas sociais e históricas por um mundo melhor e mais sustentável.
Fundamentação teórica
A arte tem ocupado atualmente um lugar imprescindível na história da humanidade, nos acompanhando desde a era em que morávamos nas cavernas e, ao longo do tempo, se constituiu em um processo de interação dos indivíduos com o Mundo. Tão antiga quanto a história humana, a arte surgiu ligada a manifestações religiosas primitivas, trata-se de:
um fenômeno constante em todas as civilizações com diferentes tipos de manifestações que vão desde cultos de adoração a deuses até à era pós-moderna das mídias digitais. Desde o início da história da humanidade a arte sempre esteve presente em praticamente todas as formações culturais. O homem que desenhou um bisão numa caverna pré-histórica teve que aprender de algum modo, seu ofício. E, da mesma maneira, ensinou para alguém o que aprendeu (Brasil, 1997, p. 21).
Dessa maneira, desde tempos mais remotos, a humanidade sente a necessidade de se expressar, de transmitir seus conhecimentos e de mostrar sua capacidade de transformar o meio ambiente. Essa necessidade converge em prol da satisfação humana de maneira individual ou coletiva de demarcar território, antes por serem nômades fugindo do perigo natural ou se protegendo do mesmo. Após o advento da cultura de cultivo de grãos para acumulação e para comercialização de alimentos ele (o ser humano) demarcou o meio ambiente para seu convívio, numa interação continua do uso da linguagem, da comunicação e da sua própria construção cultural.
A criação e o uso de ferramentas foram importantes na construção do homem como entidade transformadora da natureza, não só na condição de observador do meio, mas na criação de instrumentos, na capacidade de imitar os animais, de inventar estratégias de caça, de desenvolver a linguagem, etc. Para Fischer (1987), isso fez com que o homem estabelecesse o poder sobre a natureza. Foi desta maneira, com o uso do trabalho e da vida coletiva, que os seres humanos evoluíram para se tornarem sujeitos e assim transformar o mundo. Esse poder de criar coisas e modificar a sua volta foi o passo mais concreto e precursor da arte. Nesse ponto a arte não é direcionada ou determinada por regras nem é explicitada como uma linguagem de fórmulas rígidas, ela “é, por conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior atenção ao seu próprio processo de sentir” (Duarte Jr, 2009, p. 66).
Quando analisa-se as propostas pedagógicas do componente curricular arte-educação e educação-ambiental na BNCC, é notório várias possibilidades concretas para uma ação didática interdisciplinar que ajude a fomentar o processo de sensibilização e conscientização em uma perspectiva educacional crítica, trata-se de um currículo artístico/cultural que permite apontar as aspirações e relações diretas com outras culturas e tradições, direcionando à práticas baseadas em valores éticos humanos através da capacidade de reflexão e diálogo, representando possibilidade real de mudanças e construção de novos rumos para a humanidade. Nesse sentido, é possível identificar na arte uma relação de interatividade com a educação ambiental, uma vez que “capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só suportá-la, como a transformá-la” (Fischer, 1987 p. 57).
Para o filósofo inglês Herbert Read (1987) a educação pela arte era a única forma de salvar a civilização das ações insensatas e mecânicas da indústria moderna. Apesar de sua importância, o ensino da arte no Brasil só veio de fato a ter seu espaço como concepção de ensino com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 5.692/71, que a instituiu como disciplina do currículo nacional. No entanto, sua prática consolidou-se como atividades que ainda hoje são identificadas no cotidiano das escolas onde se enfatiza o canto como rotina escolar, a decoração das escolas em datas comemorativas, etc. Nas décadas de 80 e 90, cresceram os movimentos de arte-educadores em prol da obrigatoriedade do ensino de arte nas escolas públicas. Frente a esse movimento a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Nº 9.394/96, determina em seu artigo 26, parágrafo 2º que “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos, liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber” (Brasil, 1996, p. 23).
Durante muito tempo, o ensino da arte no Brasil, salvo raras exceções, teve suas ações voltadas para uma atuação tecnicista: artesanatos, desenho, pintura e figuras geométricas para serem utilizados em trabalho técnico, valorizando o produto em detrimento do processo, minimizando-se o compromisso com a diversidade, a criatividade e o desenvolvimento cultural, princípios estes capazes de favorecer o desenvolvimento da consciência, inclusive despertando para a problemática ambiental, que se traduz em uma ação política que objetiva a redução dos danos causados à natureza pela intervenção humana, em uma busca pela sustentabilidade.
A Política Nacional da Educação Ambiental (PNEA) Lei nº 9.795/99, em seu artigo 2º determina a “educação ambiental como um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (Brasil, 1999, p. 1). Em seus objetivos fundamentais orienta que a educação ambiental deva estimular o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, voltada para a sustentabilidade.
Entre os princípios básicos afim de trabalhar temáticas ambientais com foco humanista, holístico, democrático participativo, reconhecimento e respeito à pluralidade e diversidade. Nesse cenário, a arte tem um papel de conscientização crítica, visto que oportuniza aos alunos a formação objetiva e subjetiva para seu dia a dia, afim de “conhecer aquilo que não temos oportunidade de experimentar em nossa vida cotidiana” (Duarte Jr, 2009, p. 68). Nessa perspectiva, associar o ensino de arte à educação ambiental, significa educar para desenvolver valores socioambientais que promovam novas maneiras de ser e agir no e com o meio ambiente.
Para Barbosa (2015), a arte é um tipo de conhecimento humano no qual é possível expressar ou denunciar de forma criativa os problemas sociais. Segundo Konder (2002, p. 217- 218), “a arte tem sido, predominantemente, expressão de insatisfação, de questionamento, frequentemente de revolta, em face do modo como está organizada a sociedade” ou o que se faz com o meio ambiente. A arte precisa ser afetiva e efetiva, para isso são necessários planejamentos educacionais que avivem a disciplina e empolgue alunos e professores no fazer pedagógico, caso contrário, segundo Arroyo (2013, p. 51), a humanidade caminhará para “um currículo e uma docência sem liberdade, sem possibilidade de ousadias criativas”.
A arte adquire, nessa perspectiva, um papel relevante para a formação do sujeito e o desenvolvimento de suas aptidões, não devendo ser menosprezada em detrimento das demais áreas do conhecimento. Esse reconhecimento fará com que os processos educacionais mudem, visando o acesso a uma educação de qualidade, crítica e reflexiva de forma sustentável e democrática, buscando Segundo Fischer (1987), em arte, questões ambientais representativas. Muitos artistas em suas performances apresentam a natureza e o ambiente devastados e explorados, os elementos naturais (água, fogo, terra, ar), o ser humano e suas ações predatórias no meio ambiente.
Os artistas ligados a um currículo em ascendência crítica, deixando de lado a produção de objetos, passam então a trabalhar no ambiente. Suas proposições passam a associar paisagem às várias formas de apropriação da natureza e do meio ambiente. Sendo assim, o reaproveitamento dos elementos naturais na paisagem, a restauração estética de ambientes danificados, a recriação de um estado de curiosidade em relação a fatores ambientais havia se tornado costumeiros e, com isso, a intervenção do artista ultrapassa seus limites, alcançando discussões universais. Para Argan (1996, p. 589), “o uso capitalista do ambiente […] gera psicoses, neuroses, frustações, que levam inevitavelmente a doença social da droga, da violência, da marginalização. Provocam a paralisia de qualquer atividade criativa”.
Diante desse impasse, parece evidente, a necessidade de reforma do currículo. Nesse sentido, segundo Anjos et al. (2008, p. 29), “o trabalho dos arte-educadores no sentido de despertar a consciência para o meio ambiente não é menos importante. Temos que nos aliar a outros especialistas […] na luta em busca do equilíbrio entre preservação e desenvolvimento”. Educação Ambiental deve ser compreendida como prática do campo educacional e social, processo que procura construir na sociedade a preocupação pelos problemas ambientais, levando informações e auxiliando no despertar de uma consciência crítica. Para Loureiro (2009), ela é o meio estratégico na formação da ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza.
É nesse cenário que a Escola Bosque nasce, sob o ideal da educação ambiental e do diálogo entre os movimentos sociais da Ilha de Caratateua e o poder público local. Esse diálogo iniciou em 1993, sob o desejo positivo da divulgação das questões ambientais a partir da projeção de um plano público da Eco-9224. Nesse momento, o Conselho de representantes da Ilha de Caratateua – Consilha, apresentou à Secretaria de Educação do município de Belém a proposta de criação de uma escola voltada à conservação da natureza. Isso se deu em função das preocupações do movimento com o futuro e a conservação dos recursos naturais da Ilha para as presentes e futuras gerações.
Então a Fundação passa a representar uma nova expressão de luta popular em defesa do meio ambiente, uma vez que nasceu da necessidade de fortalecer a resistência pela melhoria da qualidade de vida dos moradores da Ilha de Caratateua, logo recebeu o nome do professor Eidorfe Moreira (1912 a 1989), geógrafo, filósofo e escritor. Estudou especificamente sobre a região amazônica, dedicando especial atenção à Belém, sem se esquecer da parte insular, produziu obras de cunho geográfico-literário e sobre a história cultural do Pará.
A Funbosque foi pensada para atender o público da Educação Básica, sustentada no tripé do ensino, pesquisa e extensão como forma de integrar educação formal e ambiental às demandas comunitárias. Nesse sentido, a escola é criada com o objetivo central de contribuir para o desenvolvimento do aluno a partir de uma educação focada no respeito interpessoal e ao meio ambiente. O processo de atualização do currículo da escola se deu através de seu Projeto Político Pedagógica que teve início no ano letivo de 2015 com o desafio de articular as representações da comunidade escolar em um movimento de construção coletiva que adotou como metodologia: a pesquisa diagnóstica do contexto socioeducacional, a elaboração e socialização de relatório de análise dos dados levantados e o aprofundamento do estudo e debate sobre a Educação Ambiental no contexto escolar e perfil comunitário.
Inicialmente foi realizada um estudo diagnóstico para traçar o perfil socioeducacional da comunidade escolar bem como da prática pedagógica e impactos ambientais, vislumbrando a aproximação das reais necessidades de cunho pedagógico e educacional, destacando os entraves e formas de superação das situações e problemas identificadas dentro e fora do ambiente escolar. Com este movimento coletivo e qualitativo vislumbrou-se a superação das barreiras de modo a fomentar a materialização de uma cultura institucional de estabelecimento do diálogo comunitário no processo educacional democrático de tomada de decisão dos caminhos da prática e agenda educativa e ambiental na Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira. Esse esforço pressupõe, além do envolvimento da comunidade, a implementação de políticas educacionais efetivas que atenuem os efeitos da degradação ambiental dinamizando o currículo de arte, bem como sua performance na educação básica dentro da fundação. Neste sentido, a arte, como uma área de conhecimento, pode contribuir para a conscientização ambiental, pois “ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo” (Brasil, 1997, p. 44). Essa percepção da relação com o mundo possibilita aos sujeitos sociais a oportunidade de autocritica acerca das relações que historicamente estabelece com a natureza, identificando seus determinantes, bem como suas consequências. Segundo Reigota (2001, p. 24) “a escola é um dos locais privilegiados para a realização da educação ambiental, desde que dê oportunidade à criatividade”.
De acordo com Aranha (2006), a educação não pode ser analisada como um simples condutor de saberes e valores, mas como um instrumento crítico-reflexivo. Assim, entende-se que qualquer atividade educativa deva expressar claramente a sua intencionalidade, pois a práxis educativa não é parcial, mas sim uma prática social intencional e imparcial, que possibilita o crescimento do educando e educador, em interação política e pedagógica com a arte, ação política capaz de construir caminhos que levam a sustentabilidade, o que implica necessariamente na formação de novos valores éticos e culturais. De acordo com Sato (2004), o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece motivos que levam os alunos a se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para as futuras gerações. Para isso, o currículo de arte e sus performance na educação básica da Funbosque deve ser sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino.
Novas capacidades e habilidades deverão ser renovadas sobre a natureza e o meio ambiente, sendo necessário implantar um sistema educacional baseado em dinâmicas pedagógicas lúdicas e conversas nas quais os alunos poderão expor suas ideias e dúvidas, oferecendo meios de vivenciarem experiências de aprendizagem fora da sala de aula, visitando a sua comunidade, empresas e projetos comunitários. O ambiente em que vivem deve estar sempre em equilíbrio, novas atitudes e valores, a construção dos saberes através de meios efetivos e potencialidades devem surgir adotando uma postura construtiva, colaborando com uma sociedade justa e um ambiente saudável através de um currículo que explore a arte- educação de forma sustentável em uma performance que respeite os diferentes modos de ensinar.
Metodologia
O trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica, que de acordo com Severino (2016), fundamenta-se com base em material que já construído, o que incluí artigos científicos publicados em periódicos acadêmicos. permite acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social, do antropológico, do empresarial, da administração. Essa metodologia favorece a observação do processo de maturação e/ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros, para Cellard (2008, p. 295).
[…] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente.
Essa metodologia de pesquisa é uma das etapas da investigação científica que requer tempo, dedicação e atenção por parte de quem resolve utilize-la. Esse artigo tem a intenção de buscar, no conhecimento bibliográfico, facilitar o caminho percorrido para sua escrita. Para Boccato (2006, p. 266),
a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Para tanto é de suma importância que o pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de comunicação e divulgação.
Esse método é fundamental para o desenvolvimento de qualquer estudo, ele não deve ser aleatório, pois implica em um conjunto ordenado de procedimentos que buscam solucionar a questão problema e responder os objetivos, sempre atentos ao objeto de estudo. Segundo Lima e Mioto (2007), quando uma pesquisa bibliográfica é bem feita ela é capaz de gerar, especialmente em temas pouco explorados, a postulação de hipóteses ou interpretações que servirão de ponto de partida para outros estudos. Segundo Gil (1999), a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de inúmeros fenômenos. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço.
A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos, convém, porém aos pesquisadores assegurarem-se das condições em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar fontes diversas, estudando-as e examinando-as cuidadosamente, uma vez que ela, como qualquer outra modalidade de pesquisa, desenvolve- se ao longo de uma série de etapas.
Todavia, essa metodologia requer do pesquisador uma reflexão crítica acerca dos assuntos estudados, de forma tal que seja possível identificar controvérsias entre os diferentes autores, identificar abordagens teóricas relevantes para o estudo e, se possível, optar por uma abordagem teórica capaz de fundamentar a produção científica. A pesquisa bibliográfica é um procedimento metodológico decisivo porque a maior parte das fontes escritas são quase sempre a base do trabalho de investigação.
Resultados
Por ser tratar de uma pesquisa em andamento os resultados ainda estão em fase de investigação, esses dados buscam mostrar quantos projetos de educação ambiental estão em atividade na escola e aspectos contemporâneos do currículo de arte na performance educacional da educação básica na Fundação.
Conclusões
A performance artística enquanto linguagem em Arte e experiência sensível desempenha um papel de ativação de saberes e [re]significações no currículo da educação básica. Provocar ações e reflexões por tratar de questões atuais e urgentes, o currículo de arte deve permitir uma articulação dinâmica do trabalho pedagógico e que as mudanças globais só serão possíveis se todos incentivarem, em cada indivíduo, conceitos que falem de valores, ética, cidadania, pluralidade cultural, consumo desnecessário, desperdício. O trabalho pedagógico da arte e educação ambiental, deve-se centrar no desenvolvimento de atitudes e a seleção dos conteúdos deve ajudar a contribuir para a atuação na problemática ambiental.
A ação direta do professor em sala de aula é uma das formas de trabalhar conceitos e fomentar ações de preservação ambiental, dentro de uma performatividade artística que liberte e empodere educandos e a comunidade, para tanto, torna-se importante o desenvolvimento de projetos e programas educacionais na tentativa de reverter ou minimizar os danos causados pelo homem ao meio ambiente e ao seu próprio processo formativo.
Incrementar o currículo e a Educação ambiental são formas eficazes de se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação sociedade-natureza, escola-meio ambiente, currículo-práxis pedagógica este é, sem dúvida, o caminho para que aja uma mudança de hábitos, com atitudes que levem à qualidade de vida. Esse estudo não se encerra aqui, ele segue provocado e provocando, a COP-30, em 2025, virá para a Amazônia, e mais uma vez o currículo escolar estará em foco, bem como as ações pedagógicas de professores e agentes públicos na elaboração de políticas públicas mais eficazes para a educação brasileira, um currículo que “acontece na cultura” (Paraíso, 2010, p. 11), que esse currículo “possa contar outras histórias, incorporar outros saberes, outras narrativas, produzir outros significados e estabelecer outros problemas” (Idem, p. 12).
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1Mestrado Acadêmico em Ciências da Educação, Facultad Interamericana de Ciencias Sociales, Igarapé-Açú, Belém, Pará, Brasil. profmisleny@hotmail.com
2Mestrado Acadêmico em Ciências da Educação, Facultad Interamericana de Ciencias Sociales, Igarapé-Açú, Belém, Pará, Brasil. barbara.costa@csfx.org.br