O CONSÓRCIO DE CULTURAS COM BRAQUIÁRIAS: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA A AGRICULTURA MODERNA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12797528


Jeferson Vilela Gomes


Resumo

O consórcio de culturas com braquiárias é uma prática agrícola sustentável que oferece vários benefícios ambientais e agronômicos. Essa técnica, que envolve o cultivo de braquiárias juntamente com culturas principais, ajuda a suprimir plantas daninhas, reduzir a necessidade de herbicidas, conservar o solo contra erosão e compactação, e aumentar a retenção de umidade. As braquiárias melhoram a saúde do solo ao reciclar nutrientes e aumentar a matéria orgânica, promovendo uma maior atividade microbiana e fertilidade. A técnica é especialmente vantajosa em regiões com chuvas irregulares e solos frágeis, contribuindo para sistemas agrícolas mais resilientes e produtivos.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Braquiárias, Conservação do Solo, Controle de Plantas Daninhas, Aumento de Produtividade.

A Revolução Verde introduziu o uso de fertilizantes químicos, herbicidas e variedades de culturas de alto rendimento, permitindo aumentos significativos na produtividade agrícola. No entanto, esses avanços também levaram a uma maior dependência de insumos externos e a diversos impactos ambientais negativos, como a degradação do solo, a poluição da água e a perda de biodiversidade1,2.

Além disso, a concentração da agricultura em grandes fazendas trouxe desafios econômicos e sociais para as pequenas propriedades rurais. Muitas pequenas fazendas não conseguiram competir com as grandes operações agrícolas, resultando no abandono das terras e no êxodo rural. Comunidades rurais, que antes eram vibrantes e autossuficientes, passaram a enfrentar dificuldades econômicas e sociais significativas, incluindo o declínio dos serviços comunitários e a perda de empregos agrícolas.

Para mitigar este problema, uma prática agrícola que tem se mostrado altamente vantajosa tanto do ponto de vista agronômico quanto ambiental é o consórcio de culturas com braquiárias (Brachiaria spp.)³. Essa técnica envolve o cultivo de braquiárias juntamente com culturas principais, oferecendo uma série de benefícios que promovem a sustentabilidade na agricultura moderna.

Um dos principais benefícios é a supressão de plantas daninhas. As braquiárias competem eficazmente com as plantas daninhas por luz, água e nutrientes, reduzindo a necessidade de herbicidas químicos e, consequentemente, os custos de produção4. Esse fator é crucial, especialmente em áreas onde a resistência das plantas daninhas a herbicidas como o glifosato tem se tornado um problema crescente.

Além disso, o sistema radicular profundo das braquiárias desempenha um papel fundamental na conservação do solo, ajudando a proteger contra a erosão e a compactação. Isso mantém a estrutura e fertilidade do solo, o que é particularmente importante em regiões sujeitas a chuvas intensas ou com solos frágeis5. A decomposição da biomassa das braquiárias contribui para a reciclagem de nutrientes no solo, melhorando a saúde do solo ao aumentar o teor de matéria orgânica e a disponibilidade de nutrientes para as culturas subsequentes6. Este processo resulta em uma melhor estrutura do solo, maior atividade microbiana e, consequentemente, maior fertilidade do solo.

A cobertura do solo proporcionada pelas braquiárias também ajuda a reduzir a evaporação da umidade do solo, mantendo níveis de umidade mais elevados durante períodos secos. Isso é especialmente benéfico em áreas com chuvas irregulares ou períodos de seca prolongada, pois ajuda a sustentar o crescimento das culturas e reduz a necessidade de irrigação7.

Outros benefícios da utilização da braquiária incluem a capacidade adaptativa da planta em suportar diferentes tipos de solo. Em solos arenosos, seu sistema radicular ajuda a manter a estrutura do solo, prevenindo a erosão. Em solos compactados, a braquiária auxilia na descompactação e cria canais que facilitam a drenagem da água da chuva após a morte das raízes.

É fato que a braquiária, uma planta amplamente utilizada no Brasil, apresenta uma série de vantagens para práticas de manejo agrícola mais sustentáveis. Além do exposto, uma das grandes vantagens da braquiária é que ela elimina a necessidade de herbicidas ou dessecantes como o glifosato8. No entanto, esta planta não sobrevive em climas frios, pois suas raízes morrem quando expostas a condições de frio intenso ou gelo.

Pesquisas indicam que o consórcio com braquiárias pode levar a aumentos significativos nos rendimentos das culturas principais, com estudos mostrando um aumento de 10% a 20% na produtividade após o uso de braquiárias. Esse aumento na produtividade é atribuído à melhoria da saúde do solo, melhor controle de plantas daninhas e maior disponibilidade de nutrientes.

Existem diferentes técnicas de aplicação das braquiárias, incluindo a semeadura aérea e o plantio direto. Após a dessecação da cultura principal, como a soja, as braquiárias podem ser semeadas por via aérea para estabelecer rapidamente uma cobertura do solo. No caso do milho, as braquiárias podem ser plantadas diretamente nas linhas juntamente com o adubo, garantindo que se beneficiem dos mesmos nutrientes fornecidos à cultura principal e promovendo um crescimento robusto e uma cobertura eficaz do solo. O consórcio de culturas com braquiárias oferece uma alternativa sustentável e eficaz ao uso excessivo de insumos químicos na agricultura. Seus numerosos benefícios incluem proteção do solo, supressão de plantas daninhas, reciclagem de nutrientes, conservação de umidade, aumento da produtividade das culturas e redução da contaminação ambiental. À medida que a agricultura continua a enfrentar desafios decorrentes das mudanças climáticas e da degradação ambiental, adotar o consórcio com braquiárias apresenta uma solução viável para promover sistemas agrícolas resilientes e produtivos. A implementação dessas práticas sustentáveis trará benefícios significativos, garantindo a produção sustentável mesmo sob condições climáticas desfavoráveis e contribuindo para a saúde ambiental de forma mais ampla.


¹Fonte: Matos, A. K. V. Revolução verde, biotecnologia e tecnologias alternativas. Cadernos da FUCAMP, v. 10, n. 12, p. 1-17, 2011. Disponível em: https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/134
²Fonte: Lourenço. L. C. de B. Et. all. Formação institucional da inovação agrícola dos EUA. Revista de Política Agrícola. Anos XXIX. Jun. 2020. p. 69
³Fonte: Kluthcouski, J.; Cobucci, T.; Aidar, H.; Yokoyama, L. P.; Oliveira, I. P.; Costa, J. L. S.; Silva, J. G.; Vilela, L.; Barcellos, A. O.; Magnabosco, C. U. Sistema Santa Fé – tecnologia Embrapa: integração lavoura pecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras, em áreas de lavoura, nos sistemas plantio direto e convencional. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2000. 28 p. (EmbrapaArroz e Feijão. Circular técnica, 38).
4Fonte: GIMENES, M. J. Alternativas de consórcio entre milho e braquiária no manejo e controle de plantas daninhas. 2007. 82 f. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
5Fonte: CRUZ, S. C. S.; PEREIRA, F. R. da S.; BICUDO, S. J.; SANTOS, J. R.; ALBUQUERQUE, A. W. de; MACHADO, C. G. Consórcio de milho e Brachiaria decumbens em diferentes preparos de solo. Acta Scientiarum:agronomy, Maringá, v. 31, n. 4, p. 633-639, Oct./Dec. 2009.
6Fonte: Santos, D. D. F. (2022). Crescimento e acúmulo de matéria seca e de potássio, pela braquiária decumbens, utilizada como planta de cobertura de solo.
7Fonte: Capalbo, D. M. F. et al. OGM e Biossegurança Ambiental. Costa, M. A, F.; Costa, M. De F. B. Biossegurança de OGM:(uma visão integrada). Rio de Janeiro, Publit Soluções Editoriais, 2009. p. 190-219. COSTA, M. A, F.; COSTA, M. de F. B. Biossegurança de OGM:(uma visão integrada). Rio de Janeiro, Publit Soluções Editoriais, 2009. p. 89-111. Disponível em: https://www.academia.edu/download/56575613/101027_Biosseguranca_de_OGM_V1_1.pdf
8Fonte: Resende, A. D., Giehl, J., Simão, E. D. P., Abreu, S. C., Ferreira, A. D. B., Borin, A. L. D. C., … & Gontijo Neto, M. M. (2021). Créditos de nutrientes e matéria orgânica no solo pela inserção do capim-braquiária em sistemas de culturas anuais. Sete Lagoas: Embrapa.