O CONCEITO DE SEDENTARISMO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR: ABORDAGENS NO CONTEXTO DO ENSINO FUNDAMENTAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202412181043


Marly Neves Garces Melonio
Lenir Basso Zanon


Resumo

Este artigo aborda a problemática do sedentarismo no ensino escolar, com ênfase nas abordagens voltadas ao Ensino Fundamental. A pesquisa investiga como o conceito de sedentarismo é tratado em livros didáticos, diretrizes curriculares e práticas pedagógicas. Com base em uma análise documental qualitativa, foram examinados materiais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e livros das disciplinas de Educação Física, Ciências da Natureza e História. Os resultados revelam lacunas na abordagem do tema, tanto no nível conceitual quanto prático, e destacam a importância de uma educação integral que promova a conscientização sobre hábitos de vida saudáveis desde a infância. O artigo sugere atividades interdisciplinares e estratégias pedagógicas que podem contribuir para a formação crítica dos estudantes, incentivando a prática de atividade física como parte do desenvolvimento humano e social.

Palavras-chave: sedentarismo, ensino fundamental, BNCC, educação integral, atividade física.

Introdução

O sedentarismo é uma problemática social crescente, diretamente associada ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e hipertensão. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que cerca de 43% das crianças e 37% dos adultos estão acima do peso, e uma parcela significativa dessa população vive em condições de inatividade física regular.

Como discute Winter (2008), o avanço tecnológico na sociedade moderna foi transformando os modos de interação, com o advento da eletrônica, emergindo novos estilos de vida que marcam o sedentarismo como prática sociocultural cada vez mais crescente. Diante desse cenário, a escola desempenha um papel crucial na formação de hábitos saudáveis e no combate ao sedentarismo.

No entanto, observa-se que, no Ensino Fundamental, o tema é tratado de forma fragmentada e, muitas vezes, negligenciado em termos de abordagem teórica e prática (Severino e Silva, 2014). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC; Brasil, 2017), ao propor uma educação integral, reforça a necessidade de incorporar temas como qualidade de vida, saúde e atividade física de maneira interdisciplinar e sistemática.

Este artigo objetiva discutir sobre como o conceito de sedentarismo é abordado no ensino escolar, com foco nas práticas desenvolvidas em eulas do Ensino Fundamental.

A pesquisa qualitativa utilizou análise documental de livros didáticos e diretrizes educacionais, apontando lacunas no tratamento do tema e sugerindo estratégias pedagógicas que ampliem o protagonismo dos estudantes em relação à saúde corporal e ao bem-estar social. Resultados corroboram com Silva (2004), em defesa da potencialidade da educação escolar ara favorecer abordagens sobre a problemática da vida sedentária, mediante estudos sobre as práticas corporais numa perspectiva intercultural e interdisciplinar.

Metodologia

Este estudo adota uma abordagem qualitativa baseada na análise documental (Gil, 2010) de materiais didáticos e diretrizes educacionais, com foco na abordagem do conceito de sedentarismo no 5º ano do Ensino Fundamental.

A pesquisa se fundamentou em obras de referência, como Vigotski (2008), que destaca a importância da educação integral no desenvolvimento humano e na formação de conceitos pelos alunos e Zabalza (2004) que discute o papel do registro reflexivo sistemático sobre os dilemas da prática na sistematização do processo de pesquisa e formação do professor. Os principais documentos analisados incluem: BNCC, Livros Didáticos de Educação Física, Ciências da Natureza e História utilizados em escolas municipais de Balsas (MA) e Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2017).

A análise foi realizada com base na Análise Textual Discursiva (Moraes e Galiazzi, 2016), buscando identificar lacunas e potencialidades nas abordagens sobre o tema, bem como conexões com as práticas pedagógicas. Além disso, foram considerados registros da pesquisadora, coletados em diários de campo durante interações com professores e estudantes em escolas da rede pública.

Resultados e Discussões

1. Lacunas nas Abordagens sobre Sedentarismo

A análise dos livros didáticos demostrou que o conceito de sedentarismo é frequentemente tratado de maneira superficial e fragmentada. Em Ciências da Natureza, o tema aparece associado ao corpo humano, mas sem explorar os impactos sociais e culturais da inatividade física. Já em História, menções ao sedentarismo são feitas no contexto histórico da civilização, mas não relacionadas ao estilo de vida atual. Em Educação Física, o foco predominante é em atividades práticas, com pouca ênfase em conteúdos conceituais que promovam a reflexão crítica dos estudantes sobre saúde e qualidade de vida.

2. Educação Integral como Caminho Transformador

A pesquisa destaca a necessidade de integrar conceitos teóricos e práticos nas aulas de Educação Física, promovendo a reflexão sobre os impactos do sedentarismo. A Educação Integral, como proposta pela BNCC, surge como uma abordagem promissora, pois incentiva a articulação entre disciplinas e o desenvolvimento do protagonismo estudantil. Estratégias interdisciplinares podem enriquecer o currículo, utilizando o sedentarismo como tema central para trabalhar questões de saúde, cidadania e bem-estar.

3. Propostas Pedagógicas

Entre as estratégias sugeridas para enfrentar as lacunas identificadas, destacam-se:
– Leituras e Discussões: Trabalhar textos científicos e jornalísticos sobre os riscos do sedentarismo.
– Circuitos de Atividades Físicas: Promover a prática de exercícios em estações, integrando teoria e prática sobre o funcionamento do corpo.
– Projetos Interdisciplinares: Envolver disciplinas como Ciências, História e Educação Física em estudos sobre a relação entre atividade física, saúde e sociedade.

Atividades como essas, além de contribuir para a formação crítica dos alunos, podem ser adaptadas para diferentes contextos escolares e faixas etárias, ampliando o impacto positivo da educação na promoção da consciência sobre a necessidade de vivenciar hábitos saudáveis, como é o caso do enfrentamento da problemática da vida sedentária.

Mudanças necessárias de serem empreendidas para a qualificação da educação escolar sejam lentas e difíceis, mas urge avançar na compreensão de limites e possibilidades que se interpõem. Estudos e reflexões são o caminho necessário para enfrentar a tendência da vertente de pensamento de que o ensino deva seguir nos moldes tradicionais, ou seja, num fundamento continuísta sobre a prática, em que os especialistas ditam o currículo que é apenas implementado no espaço escolar.

Garrido (2002, p.182) discute a problemática de que “a prática gera a prática. As práticas são reprodutoras das regularidades, nas quais foram geradas, requerem a sobrevivência de um passado ativo e reativa pela sua reativação.”. A autora contribui na reflexão crítica sobre a postura do ensino da prática profissional que deixa à margem o valor dos conceitos educativos no domínio da aprendizagem.

Nesse ponto de vista, a educação toma uma faceta estática e regulamentaria, visto que as subjetividades e contribuições de quem aprende são quase nulas, assim como o fato de que o conhecimento profundo sobre aprendizagem também se torna menosprezado. Avançar no conhecimento sobre a perspectiva de uma educação integral e interdisciplinar é, pois, o caminho propulsor de mudanças relevantes de serem pensadas e desenvolvidas em contexto escolar.

Conclusão

O sedentarismo representa um desafio significativo no contexto social e educacional contemporâneo, demandando ações sistemáticas que integrem teoria e prática no ambiente escolar. Este artigo evidenciou lacunas nas abordagens do tema nos livros didáticos utilizados no 5º ano do Ensino Fundamental, bem como nas práticas pedagógicas que priorizam atividades físicas repetitivas em detrimento de reflexões críticas e interdisciplinares.

Ao propor estratégias pedagógicas como circuitos de atividades físicas, projetos interdisciplinares e discussões fundamentadas em conteúdos teóricos, este estudo reforça a importância da Educação Integral para enfrentar o problema do sedentarismo. A articulação entre disciplinas, o protagonismo dos estudantes e o envolvimento das comunidades escolares são elementos fundamentais para a formação de cidadãos conscientes sobre a importância da atividade física regular para o bem-estar e a qualidade de vida.

Por fim, conclui-se que a escola, como espaço formador, possui potencial transformador para atuar como catalisadora de mudanças culturais relacionadas à vida sedentária. Cabe aos educadores, gestores e formuladores de políticas públicas ampliar as discussões e iniciativas que promovam o ensino de práticas saudáveis, preparando os alunos não apenas para os desafios do presente, mas também para uma vida mais plena e saudável no futuro.

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: Ministério da Educação, 2017.

GARRIDO, E. Práticas pedagógicas e currículos: reflexões sobre o papel do professor. São Paulo: Cortez, 2002.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise textual discursiva. 3. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2016.

SEVERINO, A. J.; SILVA, C. A. A relação entre sedentarismo infantil e habilidades motoras. São Paulo: Editora Vida e Saúde, 2014.

SILVA, S. P. Currículo Intercultural e Práticas Corporais no contexto educacional interdisciplinar. Revista Kinesis, Santa Maria, RS, v.42, n.esp. 2, e87914, p.1-21, 2024.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

WINTER, E. G. Ginástica laboral e qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Phorte, 2008.

ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.