O COMPORTAMENTO HUMANO E SUAS INFLUÊNCIAS EM POLÍTICAS PÚBLICAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10059497


Felipe Bernardo Silva1
Chimene Kuhn Nobre2


RESUMO

O ciclo de política pública coloca muita importância nas organizações e nos formuladores de política pública, não levando em consideração o comportamento humano daquela sociedade e os arranjos culturais e sociais que moldam o comportamento deles. Nesse contexto, o objetivo desse artigo é analisar como o comportamento humano influencia na implementação da política pública, por meio de uma revisão bibliográfica. Os objetivos específicos são analisar como o comportamento humano interfere nas outras etapas do ciclo de política pública, além de investigar a existência de uma relação de causalidade entre políticas públicas e comportamento humano.  Os principais resultados obtidos é que o comportamento humano influencia os resultados de uma determinada política, sendo necessário então, nas etapas de formulação, implementação e decisão levar em consideração o comportamento das pessoas naquela sociedade vigente.    

Palavras-chave: Política Pública. Gestão pública. Comportamento. 

ABSTRACT 

The public policy cycle places a lot of importance on organizations and public policy makers, not considering the human behavior of that society and the cultural and social arrangements that shape their behavior. In this context, the objective of this article is to analyze how human behavior influences the implementation of public policy, through a literature review. The specific objectives are to analyze how human behavior interferes in other stages of the public policy cycle, in addition to investigating the existence of a causal relationship between public policies and human behavior. The main results obtained are that human behavior influences the results of a given policy, making it necessary, in the formulation, implementation and decision stages, to consider the behavior of people in that current society.

Key words: Public Policy. Public Management. Behavior.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Dias e Matos (2012) às políticas públicas são decisões de ação governamental, realizadas em cincos estágios: construção da agenda, formulação da política, processo decisório, implementação e avaliação. Essas cinco etapas constituem o ciclo de política pública (PROCOPIUNCK, 2013). 

Dentro do processo de implementação de políticas públicas, muito se dá importância para as decisões individuais das organizações públicas e privadas na formação e implementação dessas políticas, deixando de lado fatores culturais e sociais. Como afirma Gonçalvez et al (2017) é preciso levar em consideração o comportamento das pessoas na hora de formular e implementar tal decisão política.

Apesar das teorias acerca das políticas públicas estarem voltadas a importância das organizações e dos formuladores de política pública, alguns autores como Sen (2018), North (1971), Chang (2008) e Lima (2013) iteram a importância da investigação do comportamento humano para a implementação de políticas públicas.

Assim, dentro do estágio de implementação, pouco se dá importância aos fatores que afetam o comportamento humano, como a cultura, religião, relação do homem com o meio ambiente e afins. O que muito se observa é uma relação de causalidade entre políticas públicas e comportamento humano, todavia, ele não se pode dizer sobre a influência do comportamento humano na implementação de tais políticas. 

A problemática central deste estudo se baseia em “qual a importância do comportamento humano na etapa de implementação de políticas públicas?”. A resposta para essa pergunta será buscada por meio de uma revisão bibliográfica da literatura existente, sobretudo, analisar textos a respeito de implementação da política pública. Assim o presente estudo, visa abordar as demais concepções teóricas a cerca da formulação de políticas públicas, a fim de compreender a importância do comportamento humano e as variáveis que o influenciam no processo de implementação da política pública.     

Este trabalho tem como objetivo analisar a relação do comportamento humano no processo de implementação política, por meio de uma abordagem qualitativa, fundamentada em uma revisão bibliográfica. O objetivo geral é compreender como o comportamento humano impacta no processo de implementação de política pública.

   Os objetivos específicos são analisar o impacto do comportamento humano dentro do ciclo de política pública, buscando compreender se o comportamento impactou outras etapas como a formulação, processo decisório e avaliação. Além disso, tem-se como objetivo investigar a existência de uma relação de causalidade entre comportamento humano e políticas públicas e políticas públicas e comportamento humano.

O estudo se divide em 3 seções: sendo a primeira a de material e métodos, visando objetivar qual foi a abordagem escolhida e as vantagens do uso da mesa. Logo após temos a seção de resultados onde iremos apresentar os artigos utilizados para a construção desse trabalho. E por fim a última seção que se divide em três tópicos: o comportamento humano, políticas públicas e comportamento humano e políticas públicas.  

2 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo segue uma aplicação pura, que segundo Richardson (1999), consiste na formulação de novas teorias ou na modificação das existentes, a fim de incrementar conhecimentos científicos ou filosóficos, sem aplicação imediata.

A técnica de dados utilizada foi a qualitativa, que segundo Creswell (2021) a pesquisa qualitativa emprega diferentes alegações de conhecimento, estratégias e métodos de coleta de dados. A justificativa da usabilidade dessa técnica de pesquisa se encontra em Richardson (1999) que afirma que a abordagem qualitativa é usada para compreender a natureza de um fenômeno social.

Este estudo advém de uma pesquisa bibliográfica (MARCONI, LAKATOS, 2018) constituída por levantamento de dados secundários, de obras seminais e artigos científicos publicados em classificação de periódicos. A coleta de dados foi feita através da plataforma “Scielo” buscando artigos com as palavras chaves “comportamento humano” e “políticas públicas”   

3 RESULTADOS

Essa seção se dedica a mostrar a literatura encontrada que permitiu a realização do presente estudo. No quadro 1 estão apontados os autores usados para compreender a relação de comportamento humano e políticas públicas

Quadro 1

AutorTítuloResumo
Silva e Carvalhaes (2016)Psicologia e Políticas Públicas: impasses e reinvençõesOs autores demonstram a importância pensar na característica únicas dos indivíduos ao se pensar em políticas públicas
Campos et al (2020)CIÊNCIASCOMPORTAMENTAISE POLÍTICASPÚBLICASO comportamento pode influenciar as políticas públicas e vice-versa
Lima (2013)IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS:PERSPECTIVAS ANALÍTICASSugerem um modelo de implementação da política público levando em consideração o comportamento das pessoas   
Sen (2018)Desenvolvimento como liberdadeEnfatiza as pessoas como os protagonistas do processo de decisão de uma nação.
Weigelt (2004)O PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: AREGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE COMO OPORTUNIDADE DE APRENDIZADOCOLETIVOA implementação de políticas públicas, está envolvida em um ambiente de incerteza, devido às diversas motivações individuais que cada ator tem.
Chang (2008)Um estudo sobre a relação entre Instituições e Desenvolvimento Econômico –Algumas Questões Teóricas FundamentaisOs indivíduos apesar de terem seu comportamento moldado pela cultura, ainda, exibem um caractere único que podem fazer com que ele desvie do comportamento coletivo 
North (1971)Institutions, Institutional Change and Economic performance,O autor demonstra como as instituições informais e formais se relacionam, moldando assim, o estado e as organizações vigentes.
Furtado (2000) Introdução ao desenvolvimento Afirma que as escolhas econômicas e políticas, alteram a estrutura e os arranjos sociais de um país. 

4 DISCUSSÃO

4.1 O comportamento humano 

O comportamento humano, pode ser definido como o conjunto de todas as ações associadas a um indivíduo ou mesmo a um grupo social. De acordo com Skinner (1945, apud ANDERY, 2011) o comportamento social e verbal é essencial para a explicação do comportamento humano. Segundo Andery (2011) o comportamento social pode ser representado pela cultura – conjunto de contingências sociais de um grupo, sendo a parte constitutiva do comportamento dos seres humanos. No que tange a cultura, é importante, observar a importância das relações interpessoais para a formação de um novo paradigma cultural, assim, a cultura é a base do comportamento humano, ao mesmo, tempo que é moldado pelas novas formas como as pessoas interagem e vivem entre si: 

Uma cultura define-se, portanto, como uma entidade abstrata que tem temporalidade indefinida, mas que certamente envolve práticas comportamentais e produtos destas práticas – que são fenômenos comportamentais e ambientais – que se reproduzem entre indivíduos e gerações de indivíduos. Uma cultura é constituída de miríades de práticas culturais, definidas como padrões de comportamento aprendido que se reproduzem entre indivíduos e gerações de indivíduos (ANDERY, 2011)

Segundo Gomes e Santos (2011) as bases culturais que influenciam o comportamento humano, são resultado de um processo histórico, começando a partir dos primeiros indícios de sociedade, começando a se manifestar em formas de plantio, moradia, devoção, costumes, hábitos, relações e alimentações. Os autores afirmam, ainda, que o comportamento humano está junto a todas as pessoas desde o seu nascimento, como uma resposta ao ambiente, sendo condicionado pela exposição a fatores internos e externos sobre ele.

A partir desta ideia, o indivíduo torna-se produto das influências exercidas tanto das culturas organizacionais quanto das culturas externas (pessoais) que também norteiam o comportamento do colaborador e causam inevitáveis choques culturais, onde o indivíduo se vê na necessidade de conciliação entre os padrões que são impostos pela organização e o que foi adquirido ao longo de seu desenvolvimento pessoal através de interações sociais, e como esses choques culturais podem e vão influenciar o comportamento desse indivíduo na organização (GOMES; SANTOS, 2011).

North (1990), traz à tona as concepções de instituições e suas importâncias para o crescimento econômico e o impacto e usabilidade do Estado como regulador. As instituições podem ser divididas em instituições formais – Estado, igreja, organizações, agências públicas – e instituições informais – cultura, condutas morais e éticas, padrões de comportamento, valores e visões. Apesar da diferença entre essas duas formas de instituições, as duas apresentam uma relação de causalidade, assim, as instituições informais influenciam as formais, e a consolidação das instituições formais induzem mudanças nas instituições informais. 

A cultura ainda pode ser influenciada pelas decisões econômicas, como alegam Furtado (2000), Sen (2018), Dathein (2003), o processo de modernização de uma economia muda a forma como a sociedade convive com os avanços tecnológicos. Furtado (2000) aponta, que a substituição da carroça pelo carro, não só mudaram a forma de transporte, mas também a forma como a sociedade se organizava em relação a essa mudança, criando assim condutas de comportamento, leis e regras. 

Segundo a psicologia, o comportamento é a forma como o indivíduo reage ao ambiente ao qual está inserido, podendo proceder de formas variadas de acordo com os estímulos, culturas ou padrões pré-definidos pelo ambiente e/ou seus integrantes. A psicologia destaca que a estabilidade do uso desses padrões é chamada de conduta (GOMES, SANTOS, 2011).

Seguindo o objetivo central deste trabalho “a influência do comportamento humano no processo de implementação das políticas públicas” não nos interessamos aqui, discutir a terminologia de cultura muito menos ter uma abordagem muito profunda do assunto. Todavia, para compreendermos as bases do comportamento humano, é necessário compreender as razões culturais que norteiam e definem as condutas humanas. Entretanto é importante que apesar das pessoas estarem sujeitas a cultura, os seres humanos, apresentam um caráter único, que é formado em pelos fatores internos e externos ao qual o homem está inserido, o que muitas vezes pode se desviar do comportamento coletivo, existindo assim, uma característica única para cada indivíduo, permitindo que ele busque os seus próprios interesses (CHANG, 2008).

  • 4.2 Política pública

Segundo Dias e Matos (2012) o conceito de política pode ser dividido em dois: o termo político que se refere ao conjunto de interações estratégicas entre atores a fim de melhorar seu rendimento e alcançar certos objetivos. A política nada mais é que a política, sendo assim, a construção de um consenso de luta e poder. A política pode ser encontrada nos mais distintos grupos podendo ser uma política familiar, organizacional, social ou empresarial. Além disso, o termo politics pode-se referir à carreira profissional de um político. O segundo termo de política é o policy que é definido como uma ação do governo. Constituindo então uma atividade social que se propõe a assegurar, por meio de coerção física, baseada no direito, a segurança externa e a assistência interna de um território específico. Dias e Matos (2012) definem policy como política pública: 

A política pode ser adjetivada em função do campo de sua atuação ou de especialização da agência governamental encarregada de executá-lá. Desse modo, podemos nos referir à política de educação, saúde, assistência social, agrícola, fiscal etc., ou seja, produtos de ações que tem efeitos no sistema político e social (DIAS, MATOS, 2012, p 2).

A política pode ser definida como um conjunto de procedimentos que expressam relação de poder (DIAS, MATOS, 2012; PROCOPIUNCK, 2013). Esse poder se orienta para a resolução de conflitos que se referem aos bens públicos, possibilitando assim, a resolução de conflitos de forma pacífica. Segundo Procopiunck (2013) às instituições podem se apresentar como simples regras e constituir fundamentos para o comportamento político. Estas regras podem ser formais, códigos legislativos, ou informais, como os padrões culturais que influenciam o comportamento.  

Golçalvez et al (2017) aponta dois elementos fundamentais das políticas públicas: a intencionalidade pública que seria a motivação para se estabelecer ações para tratamento ou resolução de um problema. E o segundo elemento é o problema público, que nada mais é diferença entre a situação atual vivida (status quo) e uma situação ideal possível à realidade coletiva. 

De acordo com Golçavez et al (2017), Dias e Matos (2012) e Procopiunck (2013) às políticas públicas podem ser definidas como soluções específicas de como manejar os assuntos públicos. Para Golçavez et al (2017) as policys nascem através da geração de um conjunto de escolhas de políticas plausíveis para resolver determinados problemas. A política pública se fecunda, quando uma situação se transfigura em um problema público, demandando assim, mobilização e ação política.

políticas públicas é “justamente a atividade que busca, pela concentração institucional do poder, sanar os conflitos e estabilizar a sociedade pela ação da autoridade; é o processo de construção de uma ordem”, que permita a pacífica convivência entre pessoas diferentes, com interesses particulares e que buscam a felicidade para si, condição que lhes é assegurada (ou pelo menos deveria ser) pela ação política do Estado (DIAS, MATOS, p 3).

Continuando o nascimento das políticas públicas, Golçavez et al (2017) argumenta que o nascimento da mesma se deriva de um processo de escolha, ao qual uma decisão irá se repercutir junto a grupos, como organizações e indivíduos, os quais devem ser trazidos para o centro do debate e da negociação que formulará a policy. O autor argumenta que cabe ao gestor público levar em consideração o que o corpo técnico da administração pública pensa e averiguar sua capacidade face aos recursos materiais e pessoais disponíveis (GOLÇAVEZ et al, 2017, p 99).   

Rua (2009, apud COLÇAVEZ et al, 2017) sugere que quando as políticas públicas são formuladas, ocorre uma formulação de expectativas a respeito do ações e consequências de terminada política. Assim, mesmo quando os formuladores identificam os problemas que querem abordar e expressam suas opiniões, de forma transparente, o público pode não ser favorável às possíveis soluções.   

Segundo Colçavez et al (2017, p 61) a primeira parte do processo de formulação de uma política pública, quando determinado problema é identificado, é definido quais ações deverão ser adotadas para resolver o problema em questão. Nesse processo pode haver um conflito de interesses entre os grupos políticos que verão as linhas de ação como favoráveis ou contrárias a seus interesses e da população. Nesse momento devem ser definidos os objetivos da tal política, além dos programas desenvolvidos e as metas a serem alcançadas. Segundo Matos e Dias (2012) às políticas públicas podem ser de diferentes tipos, como política social, política macroeconômica, política administrativa e política setorial.

  O processo de implementação de uma política pública é dinâmico e não linear e acontece no momento que as decisões políticas se transformam em ações (GOLÇAVEZ et al, 2017). As ações políticas, precisam de uma análise do contexto estrutural, social e econômico em que serão implementadas a fim de garantir eficiência máxima.  

Segundo Golçavez et al (2017) a forma como é concebido o problema de implementação de uma política pública, depende exclusivamente, da análise a partir das demandas da sociedade. Apesar dos formuladores terem motivações pessoais para implementar tal política, a sua eficiência depende de como os formuladores conseguem compreender os padrões sociais e demandas da sociedade vigente. Assim, para garantir um resultado eficiente é necessário levar em consideração fatores estruturais daquela sociedade, visto que a implementação define o nível de abrangência de determinada política (GOLÇAVEZ et al, 2017, p 59). 

Seguindo a abordagem teórica deste presente estudo, ao qual o comportamento humano tem papel fundamental no processo de implementação das políticas públicas, Matos e Dias (2012) alegam que com o aumento da complexidade das sociedades, e o aumento da capacidade de intervenção do ser humano ao longo do século XX, mostraram a necessidade de ampla de participação da população nos processos de decisões. 

Por fim, apesar das políticas públicas serem geradas pelas instituições de poder, sobretudo o Estado, é necessário levar em consideração o comportamento humano e os fatores que influenciam o mesmo, para assegurar a eficácia da política pública e de que ela será capaz de resolver o problema público em questão. 

A próxima seção deste trabalho, vista construir essa abordagem, de como o comportamento humano e as políticas públicas se influenciam, e a necessidade dos formuladores em prestar atenção para o comportamento da sociedade na hora de formulação e implementação das políticas públicas.    

4.3 Comportamento humano e políticas públicas 

O indivíduo racional, maximizador de sua utilidade e informações é o principal protagonista dos modelos clássicos econômicos. Todavia, autores como North (1971), Chang (2008) e Campos et al (2020) alegam que os indivíduos possuem racionalidade limitada, assim, não teriam informações completas do ambiente. Além disso, Campos et al (2020) assevera que os indivíduos são facilmente influenciados pelos seus grupos sociais, e pelos seus impulsos. Dessa forma, quando uma política pública é elaborada, é necessário levar em consideração as pessoas que estão formulando a política, como também, os indivíduos que são afetados por elas. 

De acordo com Lima (2013) existem duas abordagens na literatura sobre implementação de políticas públicas. A primeira tem como foco de análise o processo de formulação da política pública, e as variáveis destacadas são referentes às normas que a estruturam. A segunda abordagem, por sua vez, enfatiza elementos dos contextos de nos quais a política será implementada. O que é observado é que nenhuma delas contempla a relevância do comportamento humano para a implementação da política pública.

Amartya Sen (2018, p 349) afirma que o comportamento das pessoas é fator decisivo na implementação de políticas públicas. Segundo o autor cada país tem uma forma de comportamento, devido a cultura local, assim, é importante que as políticas públicas sejam arquitetadas e implementadas olhando a sociedade vigente ao qual está estabelecida. North (1971) afirma que as instituições informais – que seriam cultura, padrões morais e éticos, conduta de comportamento – podem alterar as instituições formais – organizações, agências públicas, igrejas e o estado. Assim pode-se observar uma dinâmica de causalidade entre comportamento humano e formação das políticas públicas (vice-versa), como afirma Hallsworth: 

Cabe lembrar que não são apenas as pessoas que são o alvo de um programa ou política pública que se distanciam do modelo ideal do agente racional. Formuladores e implementadores de políticas públicas também devem estar atentos a seus próprios vieses de forma a aprimorar sua atuação e alcançar os resultados desejados (HALLSWORTH, 2018, apud CAMPOS et al, 2020).

É importante então compreender que as políticas públicas estão sujeitas ao comportamento humano, seja através dos seus formuladores que tem seus próprios vieses e objetivos individuais a se realizar com a formulação de tal política, ou na fase de implementação que dependem de serem desenhadas para aquele arranjo social vigente. Assim, algo importante a salientar é que a implementação de políticas de outros arranjos sociais, tendem a ser ineficientes, pois, não se adequam ao modelo comportamental daquela população. 

Lima (2013) informa que os resultados das políticas públicas e planos inovadores são imprevisíveis. Essa imprevisibilidade deve-se ao processo de implementação, em decorrência, da diversidade de participantes em diferentes tipos de organizações com interesses diferentes. Além disso, o autor argumenta que os atores podem mudar ao longo do tempo, mudando, assim, a interação entre os agentes, visto que o comportamento que um ator tem do outro podem mudar. 

De acordo com Lima (2013) existem dois modelos de análise de implementação o primeiro se baseia, de uma abordagem sequencial, sendo a política pública é enquadrada como fruto de uma sequência de etapas distintas e guiadas por lógicas diferentes. O segundo modelo enfatiza a discricionariedade dos implementadores é inevitável, já que eles detêm conhecimento das situações locais e podem adaptar os planos a elas. Esse segundo modelo possui um erro, visto que, coloca os formuladores como maximizadores de suas informações, mas é importante lembrar, que os autores possuem racionalidade limitada como os autores North (1971), Chang (2008) e Campos et al (2020) afirmam. Lima enfatiza os erros desses dois modelos como: 

Os modelos analíticos apresentados encontram seus limites na superestimação da importância das normas ou da discricionariedade dos executores. O foco na estrutura normativa desconsidera a influência dos implementadores. Por outro lado, a capacidade de determinação atribuída a eles no desenho retrospectivo subestima a influência exercida pelas variáveis normativas na implementação (LIMA, 2013).

Lima (2013) alega que é importante adicionar a esses modelos variáveis cognitivas, como ideias e visões de mundo dos atores. O autor alega que isso deve acontecer, pois, a implementação da política pública é influenciada pela forma em como os agentes, que a executam, vêm ao mundo. Segundo essa abordagem, é importante levar em consideração na hora de implementar a política pública, as variáveis que influenciam o comportamento humano, como a cultura, grupos sociais, condutos morais e afins. Assim o autor afirma: 

Acreditamos que a trajetória e conformação do processo de implementação são influenciadas pelas características e o conteúdo do plano, pelas estruturas e dinâmicas dos espaços organizacionais e pelas ideias, valores e as concepções de mundo dos atores implementadores. Isso pressupõe o seguinte: esses atores exercem sua discricionariedade, com base em sistemas de ideias específicos; as normas organizacionais formais e informais constrangem e incentivam determinados comportamentos; por último, o plano é um ponto de partida que será interpretado e adaptado às circunstâncias locais (LIMA, 2013).

Silva e Carvalhaes (2016) alegam que na implementação de políticas públicas, é preciso levar em consideração que os indivíduos-alvos de tal ação, estão sujeitos a um processo histórico e aos padrões característicos da sua comunidade. O autor ainda contempla que políticas públicas estão imersas em fatores de coletividade, relações interpessoais, além de dimensões intra subjetivas e/ou individuais. 

Barbosa (2016) alega que o objetivo da política pública interfere em diversas jurisdições ou sofre interferência delas: 

Significa dizer que o processo de implementação de políticas públicas pode envolver atores de diferentes níveis governamentais e organizações com distintos interesses, expertises e formas institucionais, constituindo arranjos intraorganizacionais para a consecução de ações governamentais específicas, sendo que sua estrutura e suas formas de interação influenciam em seu desempenho (BARBOSA, 2016).

A implementação de política pública, por envolver diversos atores, de níveis hierárquicos diferentes – seja organizações, grupos sociais, grupos políticos e propriamente instituições estatais – se defronta com inúmeros interesses na sua concepção e implementação. Assim, é importante observar qual o comportamento dos atores para que as suas formas de interação possam contribuir para um bom desempenho na implementação da política pública.

São as relações interorganizacionais delineadas pela participação desses diversos atores estatais e não estatais que traçam os contornos da complexidade do processo de implementação e que demandam um intenso esforço de coordenação interorganizacional para a efetiva transformação das políticas públicas em resultados (BARBOSA, 2016).

    Segundo Weigelt (2004) a implementação de policy é um processo de interação estratégica entre diversos atores, que operam em incerteza, por diferentes interesses. Por ser permeado por diversos interesses, às vezes conflitantes, tanto a definição do problema como a tomada de decisão podem ser influenciadas (MEDEIROS, FARAH, 2014). Pressman e Wildavsky (1998, apud Weigelt, 2004) refere-se à implementação como evolução, em que metas e atos são partes de um processo de interação. Dessa forma as políticas se desenvolvem em resposta ao meio, existindo, assim uma relação de causalidade entre o meio e a política e vice-versa.  

Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer que os atores sociais guiam-se por valores, e estes também podem ser gerados durante a implementação. As características de uma determinada policy são delineadas durante a formulação e, como o que determina sua identidade é a interação com o meio social, pressupõe-se que, em ambientes democráticos policy e meio sejam suficientemente flexíveis para coexistirem e evoluírem, gerando uma aprendizagem a partir dos erros e acertos (WEIGELT, 2004).

   A implementação de política pública então, precisa levar em consideração o comportamento humano, que legitima as decisões de formulação das políticas por meio das organizações públicas e privadas, levando em consideração que implementadores de política são influenciados pela sua volta, apresentando de certa forma, um caráter de aleatoriedade, visto que os indivíduos podem escolher não seguir a cultura vigente (CHANG, 2008). Todavia não se pode esquecer do caráter influenciador da policy, que pode alterar o comportamento humano daquele país, induzindo, assim, novos conceitos de valores e razões para as pessoas.     

É importante observar também, que comportamento influencia outras duas etapas do ciclo de política pública: a formulação e a tomada de decisão. O comportamento humano impacta em como será formulada tal política, visto que precisam levar em consideração os indivíduos alvos e qual é o seu comportamento e como isso pode vir a beneficiar ou a prejudicar a política. Assim, para resolver problemas de cunho público é importante levar em consideração as pessoas inseridas nesse ambiente e o que pode vir a acontecer caso formulem uma determinada política. A outra etapa do ciclo é a de tomada de decisão, como já foi frisado aqui nessa seção, os formuladores de política pública têm suas próprias decisões, que são resultados dos seus comportamentos e cultura, e as pessoas, também são moldadas por essas variáveis.

Podemos assim responder à pergunta enunciada no início do trabalho “Qual a importância do comportamento humano na etapa de implementação de políticas públicas?”. Comportamento humano é algo inerente a todo homem, sendo influenciado e regido pela cultura local e as suas relações com o meio em que vive, sobretudo, é importante entender que tanto o alvo da política pública quanto quem as fórmulas são pessoas. Assim é necessário levar em consideração a individualidade presente em cada indivíduo ou comunidade, quando se está planejando uma política pública.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente texto buscou analisar com base em uma abordagem qualitativa a importância do comportamento humano no processo de implementação de políticas públicas, sobretudo, como o comportamento influencia as etapas de formulação do ciclo de política pública.

Mediante a metodologia usada, foi possível sanear o objetivo geral do trabalho “como o comportamento humano impacta no processo de implementação de política pública” observando que para maior eficiência da política adota é necessário levar em consideração o comportamento coletivo e individual dos agentes, sendo esse fator determinante no resultado da política.

O estudo também buscou analisar se o comportamento humano afeta outras etapas do ciclo de política pública, e os resultados encontrados mostraram que o comportamento humano explica o processo decisório, visto que os formuladores são pessoas e são movidas por um comportamento, além disso o processo de decisão pode ser moldado pelo comportamento coletivo daquela sociedade, onde, o formulador deverá avaliar e decidir qual é o objetivo que poderá beneficiar ele as pessoas na sociedade. 

A etapa de formulação da política pública depende, por sua vez, do comportamento vigente das pessoas daquele local. Assim é preciso formular políticas que representem o comportamento daquela população, sendo predominante para determinar o bom desempenho da política.

Além disso, foi observado uma relação de casualidade entre política pública e comportamento humano. Assim determinadas políticas induziram o comportamento das pessoas daquela sociedade, formando assim um novo código de conduta moral e ética, e uma nova forma de comportamento daquela sociedade. 

Diante do exposto é possível compreender que políticas públicas e comportamento humano estão ligadas, assim, é necessário que formuladores e organizações públicas ou privadas levem em consideração a estrutura social vigente, analisando o comportamento das pessoas, a cultura do local, além de fatores externos que possam vir a alterar o comportamento do homem.

Dentre os desafios enfrentados, ao longo da pesquisa, vale ressaltar que para o levantamento de dados foi usado apenas uma única base de dados. O escopo da pesquisa não permitiu analisar qual o impacto do comportamento humano dentro das organizações, além de não conseguir contemplar como o comportamento afeta a etapa na construção da agenda, do ciclo de política pública.

Para os próximos estudos sugere a ampliação de base de dados, como também a quantidade de textos analisadas, além disso, sugere-se o estudo de avaliação de políticas públicas em algumas comunidades, a fim de compreender, como aquele comportamento influenciou aquela política.

Isto posto, os autores esperam que os resultados da pesquisa aqui trazidos possam servir de base ou mesmo de materiais de iniciação científica aos alunos, professores, pesquisadores, empresários, atores, delineadores de políticas públicas que possam se interessar sobre a construção de políticas públicas.

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1Discente do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública do Instituto Federal de Rondônia Campus Porto Velho Zona Norte. e-mail: felipebernardosilva@hotmail.com
2Docente do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública do Instituto Federal de Rondônia Camus Porto Velho Zona Norte. Mestre em Patrimônio Cultural (PPGPC/UFSM). e-mail: chimenkn@gmail.com