O CARÁTER HOMOSSEXUAL DA POLÍTICA E DA VIOLÊNCIA RACIAL: Experiência em uma escola pública municipal em Teresina-PI

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7934178


Elizangela Ferreira Barreto Feijó
Karla Marine Silva Sales
Raimunda Nonata Nobre da Silva Soares
Wilson de Andrade Freitas
Yago Victor da Costa Holanda1
Prof.ª. Drª Hilda Mara Lopes Araújo²


RESUMO

Percebe-se cada vez mais urgente a necessidade de se trabalhar nas escolas assuntos considerados polêmicos como: homossexualidade, homofobia, machismo e racismo. É fundamental a discussão desses temas para assim, despertar nos educandos uma consciência crítica diante dessas reflexões. Conforme esses aspectos, o objetivo geral desse estudo foi analisar como a escola pesquisada lida com as temáticas: homossexualidade, homofobia, machismo e racismo no âmbito escolar. Foi realizada uma pesquisa qualitativa com método bibliográfico baseado em Brasil (1997), Drummontt (1980), Nogueira (1985), Parolin (2007) e Pinar (2016), entre outros. Também foi realizada uma pesquisa de campo em uma escola da rede municipal de Teresina-PI. Os sujeitos da pesquisa foram dois professores e uma coordenadora pedagógica. A coleta dos dados foi feita através de uma entrevista semiestruturada em que foi permitida a gravação da conversa e, posteriormente, a observação de suas práticas em sala de aula.  O estudo nos permitiu um conhecimento mais amplo acerca dos temas: homossexualidade, homofobia, machismo e racismo tão presentes em nossa sociedade e mostrou que a escola pesquisada de fato trabalha esses assuntos tendo como base central o respeito perante as diferenças. Os professores estão preparados para orientar sobre dilemas polêmicos rompendo de forma segura a lacuna do silêncio que contribuía para o desenvolvimento da discriminação, apresentando informações esclarecedoras sobre o diferente, não só para o mundo escolar em que estão inseridos, mas a toda sociedade que o cercam. A educação tem que ser a ferramenta principal para combater o preconceito e romper de vez com a homofobia, o racismo e o machismo que permeiam a sociedade brasileira e o mundo. Contudo, é necessário destacar a importância da cumplicidade da família x escola x aluno nesse processo de aprendizagem.

Palavras chaves: Homossexualidade. Homofobia. Machismo. Racismo. Escola.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta reflexões de como o negro, o homossexual e a mulher são vistas no contexto escolar da sociedade brasileira. Também descreve as dificuldades enfrentadas por esse público-alvo para serem inseridas no currículo escolar. O professor tem o papel de ser o mediador entre o aluno e essas temáticas na escola. Ele deve apresentar adequadamente reflexões acerca destes questionamentos ainda considerados tabus, desenvolvendo o pensamento crítico de seus educandos.

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal Barreto de Andrade, localizada no bairro Marquês em Teresina-PI, através de uma entrevista semiestruturada. Essa escola foi fundada em 1965, atende cerca de 605 alunos do 6° ao 9° ano, de tempo integral. Possui um quadro de aproximadamente 100 (cem) funcionários, dentre os quais pode-se destacar: 48 (quarenta e oito) professores; 1(um) diretor; 1 (um) diretor adjunto; 2 (dois) diretores pedagógicos; 2 (duas) coordenadoras pedagógicas e 1 (uma) bibliotecária. Em sua infraestrutura possui 17 (dezessete) salas de aula com ar-condicionado, 1 (uma) sala para professores, 1 (uma) secretaria, 1(uma) diretoria, 1 (uma) coordenação, 2 (dois) pátios para recreação, 2 (dois) banheiros femininos ambos com cabines, 2 (dois) banheiros acessíveis e 1 (um) banheiro unissex.

Foram entrevistados dois professores (Felipe Feijó e Robert Costa) e uma coordenadora pedagógica (Milena Fontes), os quais contribuíram significativamente para a pesquisa, respondendo com clareza ao que se era questionado. Foi um momento rico de trocas de conhecimento entre todos os envolvidos.

Teve-se como figura principal o professor Robert, licenciado em Educação Física e possui mestrado em Artes Cênicas. É um educador bastante acessível que permite um diálogo aberto com seus alunos sobre qualquer tema, além de ser comprometido com o desenvolvimento deles. Por ser assumidamente homossexual, esse profissional convive no seu cotidiano com os preconceitos impostos pela sociedade, assim é considerado o mais apto para trabalhar a homossexualidade na escola. Através da dança e do teatro Costa traz para seus alunos de forma lúdica, as características e a importância de superar preconceitos, como homofobia, racismo e machismo.

O professor Felipe e a coordenadora Milena desenvolvem o Programa Escola da Inteligência – E.I, que implementa uma cultura para o desenvolvimento da inteligência emocional, da saúde psicossocial e da construção de relações saudáveis, a partir de aplicação de 1hora/aula, dentro da grade curricular. A escola trabalha esse programa juntamente com a família.

A princípio o presente trabalho surgiu da proposta feita pela professora da disciplina de Teoria de Currículo do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí-UFPI, a qual discutiu as temáticas: homossexualidade, homofobia, racismo e machismo em sala de aula e a partir de então despertou o interesse de aprofundar-se nesses temas.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivos verificar como o currículo aborda esses temas tabus: homossexualidade, homofobia, racismo e machismo, identificar como o professor trabalha a homossexualidade, a homofobia, o racismo e o machismo em sala de aula e analisar como a escola discute com as famílias a homossexualidade, a homofobia, o racismo e o machismo, e assim, responder as questões norteadoras desta pesquisa.

No item a seguir será falado sobre a metodologia que direcionou toda a pesquisa.

METODOLOGIA

A pesquisa teve início com a revisão bibliográfica sobre os temas: homossexualidade, homofobia, racismo e machismo, embasados em Brasil (1997), Drummontt (1980), Nogueira (1985), Parolin (2007) e Pinar (2016), entre outros. O tipo de pesquisa desenvolvida nesse trabalho é de natureza qualitativa, procurando buscar a fundo as informações requeridas. Segundo Triviños (1987), a pesquisa qualitativa é:

[…] uma espécie de representatividade do grupo maior dos sujeitos que participarão no estudo. Porém, não é, em geral, a preocupação dela a quantificação da amostragem. E, ao invés da aleatoriedade, decide intencionalmente, considerando uma série de condições (sujeitos que sejam essenciais, segundo o ponto de vista do investigador, para o esclarecimento do assunto em foco; facilidade para se encontrar com as pessoas; tempo do indivíduo para as entrevistas, etc. (TRIVIÑOS, 1987, p.132).

            O cunho bibliográfico desta pesquisa reúne diversas informações sobre o tema sugerido, para assim ter uma gama maior de conhecimentos. Segundo Gil (2008, p.69), “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Após as análises bibliográficas, utilizamos a pesquisa de campo como orientação no desenvolvimento desse trabalho.  Segundo Gonçalves (2001):

A pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas […] (GONÇALVES, 2001, P. 67).

O trabalho foi realizado em uma escola municipal de Teresina-PI, através de uma entrevista, mais precisamente uma roda de conversa com dois professores e uma coordenadora pedagógica. Também foi feita observações em sala de aula para averiguação de como a instituição trabalha esses temas. Todos os profissionais que participaram do círculo tiveram seus nomes no anonimato. Além do momento de trocas de conhecimentos, foi assistida uma aula para averiguação de como se trabalha essas temáticas no âmbito escolar, como os professores tratam seus alunos e como é o relacionamento entre os próprios educandos. O objetivo dessa pesquisa seria analisar como a Escola Municipal Barreto de Andrade trabalha esses assuntos ainda considerados tabus nos estabelecimentos de ensino.

No item a seguir falaremos sobre o referencial teórico no qual se embasará toda a pesquisa.

A HOMOSSEXUALIDADE E A HOMOFOBIA NA ESCOLA

Haja vista o currículo ser uma prática discursiva faz-se extremamente importante discutir esses assuntos em sala de aula.  A família também deve estar inserida no meio escolar para que através da parceria escola x aluno x família se possa trabalhar essas questões da forma correta e assim, acabar com o preconceito existente tanto dentro como fora das instituições de ensino. De acordo com Parolin (2007):

[…] tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança, no entanto ela necessita da família para concretizar seu projeto educativo (PAROLIN, 2007, p.99).

É importante ressaltar que a parceria escola x família é fundamental, pois através dessa interação, o educando se sentirá mais preparado e assim, irá desenvolver-se com mais facilidade.  Durante a pesquisa muito foi falado sobre essa cooperação, inclusive, os pais de alunos da Escola Municipal Barreto de Andrade participa ativamente das atividades escolares, podendo opinar sobre os assuntos nos quais são solicitados.

Foi relatado que a escola trabalha de forma natural com seus alunos os temas: homossexualidade, homofobia, machismo e racismo por serem de interesse dos alunos e estarem presentes na realidade de muitos deles. Na verdade, se faz necessário que essas polêmicas sejam discutidas não só nas instituições de ensino, mas em diversos espaços na sociedade, tendo em vista fazerem parte do nosso dia a dia.  A homossexualidade é um dos tabus que mais desperta a atenção dos estudantes, pelo fato de conviver e até mesmo ser homossexual, mas também, é causa de estranhamento para outros, por não conhecer de fato, por ter preconceito com o que foge os padrões da sociedade.

A homofobia está presente em todos os ambientes, inclusive nos estabelecimentos escolares, ficando a cargo dos profissionais da educação procurar meios para solucionar ou ao menos amenizar essa situação. De acordo com Brasil:

Cabe à escola abordar os diversos pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade para auxilia o aluno a encontrar um ponto de autorreferência por meio da reflexão. Nesse sentido, o trabalho realizado pela escola, denominado aqui de Orientação Sexual, não substitui nem concorre com a função da família, mas antes a complementa. Constitui um processo formal e sistematizado que acontece dentro da instituição escolar, exige planejamento e propõe uma intervenção por parte dos profissionais da educação (BRASIL, 1997, p. 83).

Nesse sentido, a instituição escolar irá desempenhar o papel de orientadora de seus alunos quanto à importância do respeito ao diferente. Essas questões devem ser trabalhadas em conjunto com a família, tendo em vista que a escola irá reforçar aquilo que foi aprendido em casa.

A instituição pesquisada trabalha a questão da homossexualidade e da homofobia com seus alunos de forma a fornecer meios de conhecer e compreender essas realidades. Foi relatado que essas temáticas são discutidas em sala de aula e que quando surgem dúvidas sobre o assunto, os alunos questionam e os professores logo respondem a esses questionamentos de maneira natural.  Ao que se percebe, não existe preconceito para com o homossexual na Escola Municipal Barreto de Andrade, pois a relação com o diferente é bem trabalhada por todos.

DESCONSTRUINDO O MACHISMO NO AMBIENTE ESCOLAR

Outra situação que é trabalhada pela escola é o machismo. Pinar (2016) relata que o homem desde muito tempo atrás, sempre se considerou superior ao homem negro quanto à mulher. A mulher tinha como papel exclusivo o cuidado para com a família, ficando a cargo do homem o provimento da família. O autor fala que o homem se sente ameaçado a partir do que a mulher começa a conseguir destaque na sociedade. Muitos homens por temerem perder sua autoridade para com a mulher usam da força, tornando-se muitas das vezes violentos, opressores e até mesmo assassinos. Para esse tipo de homem, a mulher é vista como um objeto. Segundo Drummontt (1980):

O machismo enquanto sistema ideológico oferece modelos de identidade, tanto para o elemento masculino como para o elemento feminino: Desde criança, o menino e a menina entram em determinadas relações, que independem de suas vontades, e que formam suas consciências: por exemplo, o sentimento de superioridade do garoto pelo simples fato de ser macho e em contraposição o de inferioridade da menina (DRUMMONTT, 1980, p.81).

O homem machista exerce domínio sobre a mulher, ele é quem determina as regras. Na escola onde foi realizada a pesquisa, o machismo é trabalhado através da dança e de peças teatrais, há também o atendimento individual aos alunos, onde muitas vezes eles desabafam como vivem em suas residências, as relações de abusos que suas mães sofrem e outras questões que passam em seus lares.

O RACISMO NO CONTEXTO ESCOLAR

A Instituição visitada trás para realidade de seus educandos outro tema que muito ocorre nos ambientes sociais que é o racismo e a discriminação contra a pessoa negra. O preconceito racial está presente em toda sociedade, inclusive nas realidades escolares. Conforme Nogueira (1985):

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem. (NOGUEIRA, 1985, p. 78-9)

Diante disso, cabe aos professores, ou seja, todo corpo docente procurar soluções para sanar o problema do racismo. Pinar (1996) fala dos linchamentos que eram expressos de diversas formas, dentre elas: verbal (xingamentos, palavras agressivas, etc.), físico (o enforcamento do negro; os negros eram crucificados em postes; destruição do corpo negro); moral (humilhações em público) e online (através da internet mensagens de discriminação contra o negro).

Ainda de acordo com pinar (2016), a violência racial está intimamente ligada ao sexo, principalmente nos Estados Unidos da América. Como afirma Calvin C. Hernton (1988[1965]):

A Sexualidade do racismo nos Estados Unidos é um fenômeno singular na história da humanidade; é uma anomalia de primeira ordem. De fato, há um envolvimento sexual, ao mesmo tempo real e substitutivo, ligando brancos e negros na América que estende a história deste país da era da escravidão até o presente, um envolvimento tão imaculado, mas tão perverso, tão etéreo, mas tão concreto, que todas as relações de raças tendem a ser, no entanto, sutis relações de sexo.

Diante do exposto, fica claro que o autor acredita que o racismo é uma forma de homoerotismo deturpado e reprimido, ligado ao ódio aos negros pelos brancos de maneira inconsciente, observando principalmente a prática do linchamento e os estupros nas prisões.

Os assuntos discutidos nesse estudo precisam ser articulados em todos os ambientes seja educacional, familiar ou social. É de fundamental relevância a supremacia do respeito para com o próximo, independente de gênero, raça e orientação sexual, a escola e a família são os melhores lugares onde se devem levantar essas questões. Através das discussões poderão chegar a uma alternativa de enfrentamento em defesa dos alunos que sofrem os preconceitos impostos pela sociedade e impedir que a lacuna do silencio continue se proliferando nas mentes sem informação.

Na seção a seguir serão apresentados os resultados e discussões obtidos com as pesquisas bibliográficas e de campo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As principais fontes utilizadas para a coleta dos dados foram as entrevistas e as observações feitas na escola e principalmente em sala de aula. Durante os questionamentos, foi possível conhecer um pouco sobre a instituição, a metodologia de ensino e o potencial dos professores. Foi permitida a gravação e posteriormente feito a transcrição para análise. Durante as observações realizadas nas aulas, pode-se perceber como os docentes e discentes se relacionam e como os próprios alunos interagem entre si.

Para realização do estudo, foi feito o deslocamento até a escola-objeto da pesquisa, com um grupo de cinco componentes, com o objetivo de obter o maior número de informações e respostas possíveis. A visita ocorreu nos dias 05 e 06 de novembro de 2019, com duração de aproximadamente 3 horas cada encontro.

No primeiro dia foi realizada a entrevista com dois professores e uma Coordenadora Pedagógica, onde todos participaram de uma roda de conversa, respondendo de maneira clara e dinâmica aos questionamentos. Foram perguntas abertas e sucintas, deixando os entrevistados à vontade para respondê-las. Segundo Vergara (2009):

“A entrevista é um procedimento no qual você faz perguntas a alguém que, oralmente, lhe responde. A presença física de ambos é necessária no momento da entrevista (…) A entrevista pode ser informal, focalizada ou por pautas. Entrevista informal ou aberta é quase uma “conversa jogada fora”, mas tem um objetivo específico: coletar dados de que você necessita. Entrevista focalizada também é tão pouco estruturada quanto a informal, porém já aí você não pode deixar que seu entrevistado navegue pelas ondas de múltiplos mares; antes, apenas um assunto deve ser focalizado. Na entrevista por pauta, o entrevistador agenda vários pontos para serem explorados com o entrevistado. Tem maior profundidade” (VERGARA, 2009, p.52).

Foi um diálogo bastante produtivo, em quer os entrevistados, sem um roteiro previamente estabelecido, respondiam na medida em que a conversa fruía e novas perguntas surgiam. Os protagonistas do estudo tiveram total liberdade para responder as indagações solicitadas e todos se envolveram participando ativamente. Foi um momento de grande relevância pela troca de conhecimentos entre os pesquisados e os pesquisadores.

No segundo dia, a atividade foi realizada através da observação em sala de aula, onde os pesquisadores tiveram a oportunidade de assistir à atuação do professor e averiguar se de fato o docente trabalha os temas citados.

Os primeiros temas discutidos durante a entrevista foram a homossexualidade e homofobia. É sabido que a relação íntima entre duas pessoas do mesmo sexo já acontecia desde a antiguidade, contudo na idade Média a homossexualidade passou a ser vista como uma bestialidade e sodomia, motivo de muita vergonha e críticas que se manifestavam de várias formas, dentre elas: físicas, sociais, políticas e raciais.

O homossexualismo é uma denominação errônea da homossexualidade, pois há pouco tempo atrás a intimidade entre pessoas do mesmo sexo era classificada como uma doença mental, que gerava desvio de conduta perante a sociedade, necessitando de tratamento com psicólogos e psiquiatras, conhecido popularmente como a cura gay.       

 De acordo com Derrick (1997), os processos intensos e poderosos da formação de identidade masculina, que chama de “desejo pela coisa da masculinidade, então, pode quase sempre criar o desejo homoerótico pelo corpo de outro homem como seu subproduto inevitável”. Isto comprova que o desejo sexual em pessoas do mesmo sexo é inerente ao ser humano, este não tem o poder de escolha, faz parte de sua composição genética e biológica. A falta de esclarecimentos por parte da família e da escola sobre as diferentes orientações sexuais, ou seja, a lacuna do silêncio permite que se crie atitude de homofobia pelo adolescente.  

A homofobia é a repulsa ou preconceito contra a relação intima entre pessoas do mesmo sexo, é uma espécie de medo irracional ao homossexual. Caracteriza- se pela ação agressiva e discriminatória, gerando posições radicais contra a homossexualidade. É um conjunto de emoções negativas como aversão, ódio, medo a intimidade homoafetiva, onde em muitos casos não entende nem o porquê desse posicionamento, somente segue o que faz a maioria.

O professor, em sua prática pedagógica inclui sua preocupação quanto a inclusão do homossexual no meio escolar e esse estudo permite compreender que a escola é o local mais propicio para se trabalhar e desmistificar o preconceito ao homossexual, é o lugar onde se está formando personalidades e o educador é o orientador fundamental nesse processo de aprendizagem. Conforme o PCN (1997, p. 8):

A orientação sexual na escola deve ser entendida como um processo de Intervenção pedagógica que tem como objetivo transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade incluindo posturas, crenças, tabus e valores a ela associados. Tal intervenção ocorre em âmbito coletivo, diferenciando-se de um trabalho individual, de cunho psicoterapêutico e enfocando as dimensões sociológicas, psicológicas e fisiológicas da sexualidade. Diferencia-se também da educação realizada pela família, pois possibilita a discussão de diferentes pontos de vista associado a sexualidade sem a imposição de determinados valores sobre outros.

A homossexualidade e a homofobia são trabalhadas pela escola através de palestras com os pais e alunos, tratando de questões como aceitação, respeito e compreensão. O professor Robert Costa destacou a importância de se trabalhar esses dilemas na escola. Quando perguntado sobre a importância de se discutir esses temas no ambiente escolar, ele respondeu:

“Impossível não se trabalhar a homossexualidade e a homofobia em sala de sala, são temas presentes no nosso cotidiano, então deve ser falado sim. O aluno quer saber, então o professor tem que saber responder. O professor tem que trabalhar os temas que fazem parte da realidade do aluno”. (Prof. Robert Costa).

É sabido que a escola contribui para a formação do ser humano. Assim como o prof. Robert Costa, Junqueira, (2009, p.13) e Britzman, (1996, p. 3), falam a importância de se trabalhar a homossexualidade no ambiente escolar, eles afirmam que a escola “fabrica sujeitos, seus corpos e suas identidades”.

O Prof. Robert Costa também falou que os alunos perguntam mesmo sobre o assunto da homossexualidade e o fato de ele ser assumidamente homossexual, dá mais abertura para que os mesmos tirem suas dúvidas. Sobre isso ele falar:

“O professor tem que ter o consenso de que é preciso trabalhar os temas na sala de aula e como educador, tenho que está preparado para responder de forma clara os questionamentos de meus alunos. Antes de dá a resposta sempre pergunto o que eles sabem sobre o que foi perguntado. Após eles falarem, respondo ao questionamento feito” (Prof. Robert Costa).

À medida que o Robert Costa respondia aos questionamentos, os outros entrevistados também participavam da conversa dando suas opiniões. O professor Felipe Feijó destacou a importância do relacionamento professor x aluno. Ele ressaltou que:

“Aqui na escola o aluno tem total liberdade para conversar com o professor sobre qualquer assunto. O professor tem que estar preparado para responder a qualquer questionamento, ele tem que está sempre buscando novos conhecimentos” (Prof. Felipe Feijó).

Como afirma o Prof. Robert, o bom relacionamento entre professor e aluno se faz necessário, pois é através do diálogo que as dúvidas são sanadas. Conforme Miranda (2008):

A interação professor-aluno ultrapassa os limites profissionais e escolares, pois é uma relação que envolve sentimentos e deixa marcas para toda a vida. Observamos que a relação professor-aluno, deve sempre buscar a afetividade e a comunicação entre ambos, como base e forma de construção do conhecimento e do aspecto emocional (MIRANDA, 2008, p. 2).

Ainda sobre a homossexualidade, a professora Milena relatou que a escola teve uma aluna transexual assumida. A instituição teve que procurar meios para ajudar essa aluna, pois a mesma não se sentia confortável ao usar o banheiro masculino e as outras meninas também não se sentiam bem ao ter que dividir o banheiro com ela. A coordenadora falou que:

“Tivemos que buscar meios para ajudar essa aluna. Enviamos o projeto para construção de um banheiro transgênero, foi um projeto bem argumentado e, porém, aceito. Hoje temos esse banheiro a mais” (Coord. Milena).

Outro tema questionado foi o racismo. O racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. A colonização brasileira foi marcada pelo racismo, mais precisamente pela discriminação do homem branco pelo homem negro, visto como simplesmente uma mercadoria, sem alma e sem dignidade. Essa visão tem consequências até os dias atuais, pois esse público-alvo é prejudicado de diversas maneiras na sociedade mesmo com políticas públicas direcionadas para compensar essa desvalorização.

Quando perguntado se a escola trabalha o tema do racismo, se já houve algum caso de preconceito na instituição, a Coordenadora Milena falou o seguinte:

“Nunca presenciamos nem um ato de racismo na escola, mas mesmo assim, esse tema também é discutido em sala de aula pelos professores. A escola trabalha todas essas temáticas existentes na nossa sociedade. Nós tivemos uma aluna chamada Sofia que sofria Bullying em outra escola, isso fez com que ela mudasse de escola. Após avaliação com os pais e a aluna, foi comprovado que aqui ela sentia-se acolhida” (Coord. Milena).

Embora a Coordenadora Milena fale que não existe racismo na escola pesquisada, é de fundamental importância que a escola trabalhe em seu currículo a questão do racismo, pois esse preconceito está presente em todos os ambientes, inclusive no escolar. De acordo com Brasil (1997):

Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que visem à superação do preconceito e da discriminação. (BRASIL, 1997, p. 129).

Segundo os entrevistados, a instituição faz acompanhamento individual com os alunos que tem algum problema em seu ambiente familiar. A Coordenadora Milena juntamente com o professor Felipe desenvolve um projeto de assistência a esses alunos. Segundo o docente Felipe, há muitos casos de violências contra a mulher nas famílias dos discentes da escola. Diante disso, o professor Robert passou a trabalhar essas temáticas através da dança. Sobre isso, ele falou:

“Convidamos os pais dos alunos para assistirem a uma peça através da dança. A peça era sobre violência doméstica, de início as mães não sabiam do que se tratavam. Ao final da apresentação, muitas mães estavam chorando, pois, a apresentação tratou de temas vivenciados por elas. É extremamente importância discutir esses assuntos em sala de aula” (Prof. Robert Costa).

Ambos os entrevistados reforçaram a importância de se trabalhar os temas que para muitos ainda são considerados inapropriados para o ambiente escolar. Mais uma vez foi frisado que a educação escolar é a continuidade da educação familiar, portanto sendo necessária a parceria família x escola x aluno para o desenvolvimento pleno dos alunos. Segundo Rocha (2008):

Considerando a escola como o espaço na qual estereótipos, preconceitos e práticas discriminatórias são desconstruídas, ela reúne instrumentos pedagógicos que viabilizam esse propósito a partir da reflexão dos profissionais que a compõem. Docentes e técnicos podem “pôr abaixo” grande parte dos entraves interpostos às populações afrodescendentes que as impedem de viver plenamente a cidadania. A apresentação positiva da História e da cultura dessas populações é uma das estratégias a serem colocadas em prática de modo efetivo e consecutivo. (ROCHA, 2008, p. 58).

Para tanto, a instituição desenvolve vários projetos em parceria com os pais de alunos, dentre um deles, a “Escola da Inteligência – E.I”, baseada em Augusto Cury, onde se trabalha liderança e o eu no comando.  O educador Felipe falou que esse programa é uma nova proposta curricular e pautada na BNCC que trabalha o aluno e a família.

De acordo com a Coordenadora entrevistada, a escola trabalha assuntos específicos como: protagonismo juvenil, bullying, utiliza como ferramenta a dança, teatro e palestras sobre homossexualidade, suicídio e violência doméstica, dentre outras.

No próximo item traremos as considerações finais sobre a pesquisa realizada na Escola Municipal Barreto de Andrade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos nossa pesquisa com o objetivo de analisar como a Escola Municipal Barreto de Andrade lida com as temáticas: homossexualidade, homofobia, machismo e racismo no âmbito escolar. A partir da pesquisa realizada pode-se concluir que os objetivos propostos para esta pesquisa foram alcançados, tendo em vista os entrevistados terem respondido todos os questionamentos feitos e que as observações realizadas em sala de aula pelos pesquisadores confirmaram o que os entrevistados haviam falado.

Diante do estudo conclui-se que os profissionais da instituição pesquisada são comprometidos com o bem-estar de seus discentes e com seus processos de aprendizagem. São educadores de fato preparados para orientar sobre dilemas como homossexualidade, homofobia, racismo e machismo dentre outros. As medidas tomadas pela escola têm sido de grande relevância, pois tem conseguido fazer a diferença na vida de seus discentes e de seus familiares rompendo com a lacuna do silêncio que contribuía para o desenvolvimento da discriminação, apresentando informações esclarecedoras e ensinando o respeito ao diferente não somente ao mundo escolar que estão inseridos, mas a toda sociedade que os cercam.

Percebe que atualmente ainda se tem muito preconceito ao diferente, a tudo aquilo que sai do padrão determinado como normal pela sociedade, mas, contudo, o homossexual, o negro e a mulher têm conquistado espaços através de lutas incansáveis no Brasil e no mundo. As mobilizações sociais são fundamentais para que reconheçam o direito do outro, mostrando que o respeito deve estar acima de tudo e de todos. A educação tem que ser a ferramenta principal para combater a discriminação e romper de vez com a homofobia, racismo e machismo na sociedade brasileira e no mundo.

É primordial que dentro do currículo escolar tenha como foco central estratégias de informações e esclarecimentos, que quebre a barreira do silêncio e que permita florescer na mente dos discentes o respeito, semente fundamental para o bem comum.    

REFERÊNCIAS

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VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Editora Atlas, 11ª Ed., 2009.

OUTRAS FONTES

DESIGUALDADE DE GÊNERO: O machismo reinante na sociedade. Disponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/direito/desigualdade-genero-machismo-reinante-na-sociedade.htm. Acesso em 15 de novembro de 2019.

Homossexualidade na Educação: perspectiva docente. Disponível em:https://rbeducacaobasica.com.br/homossexualidade-na-educacao-perspectiva-docente/. Acesso em 15 de novembro de 2019.


Questionário para pesquisa

  1. Os temas homossexualidade, homofobia, racismo e machismo são trabalhados em sala de aula?
  2. Qual a importância de se trabalhar esses temas no ambiente escolar?
  3. Como é o relacionamento dos professores com os alunos?
  4. A escola conta com a parceria família x escola x aluno?
  5. O que você acha da liderança dos pais? Como eles reagem a ao trabalhar esses temas?
  6. Você considera o Brasil um país preconceituoso?
  7. Qual sua posição sobre a BNCC?
  8. O que acham da proposta curricular da rede municipal de Teresina?
  9. Como funciona a inclusão nessa escola?
  10. Houve algum caso de homofobia ou racismo na escola?
  11. Existem projetos na escola sobre essas temáticas? Algum desses projetos é específico (que já vem instaurado no currículo)?
  12. Nas palestras oferecidas pela escola, os alunos têm livre arbítrio ou são “obrigados” a participar?

1Estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Piauí- UFPI.
2Doutora em Educação, Professora da Universidade Federal do Piauí – UFPI – DMTE/CCE.