O BRINCAR NAS CRIANÇAS AUTISTAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12523374


Alyson Sabino Goes1, Elizama Alves de Aquino2, Francisca Maria dos Santos3, Herica Pimenta Redlinski Almeida4, Joana Luiza de Figueiredo5, Maria de Nazaré Alves De Aquino6, Roseli Maria de Jesus Soares7, Iveuda Maria dos Santos8, Marina Rolim Aragão9, Rejane Beatriz Souza Weber Cavalcante10, Sandra Key Silva Rezende11, Silvana da Silva Reis12


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo entender o modo como o ato de brincar se faz nas crianças portadoras do transtorno do espectro autista. A brincadeira é uma atividade que vai muito além do lazer. Através do ato de brincar as crianças exploram o mundo que as cercam, imitam os padrões da sociedade em que estão inseridas, compreendem regras de convívio e se desenvolvem física, mental e emocionalmente. As crianças autistas, comumente conhecidas por seu isolamento, possuem uma maneira diferente de brincar. Além desta maneira é de suma importância para seu desenvolvimento, é preciso que essa criança seja estimulada a participar de todos os tipos de brincadeiras, para que ela possa usufruir de todos os benefícios que a brincadeira proporciona.

Palavras-chave: Autismo. Brincadeira. Desenvolvimento. Estímulos.

1 INTRODUÇÃO

A infância é uma fase única, onde a criança adquire aprendizagens essenciais para seu desenvolvimento ao longo de toda a vida. Nesta fase tão importante e fundamental é imprescindível o brincar e todo o conhecimento que se adquire com ele. Através da brincadeira que a criança percebe a si mesma e ao outro, o mundo que a cerca, e desenvolve muitas habilidades (BRASIL, 2002).

Com base nessa premissa o brincar é essencial para um desenvolvimento pleno do indivíduo. Mas como podemos desenvolver essas habilidades com as crianças autistas? Segundo a Classificação Internacional de Doenças – CID 10 (Organização Mundial da Saúde, 1993, p. 247), o autismo é definido como um transtorno invasivo do desenvolvimento, identificado pelo surgimento antes da idade de 3 anos e “pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo”. O ato de brincar também é afetado pelas características gerais do transtorno, uma vez que a crianças autista apresentam padrões de comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados, que dificultam a interação com o outro e seus padrões de brincadeira.

Muitos estudiosos dos transtornos invasivos do desenvolvimento afirmam que as crianças autistas demonstram mais interesse nos objetos do que nas pessoas, o que dificulta uma interação e um brincar compartilhado. Suas brincadeiras são, de modo geral, solitárias e repetitivas, com manipulações e movimentos estereotipados de brinquedos ou mesmo objetos diversos, e vistos pelas pessoas próximas como algo sem sentido e sem intenção lúdica (BRASIL, 1998).

Com esse olhar recorrente sobre o comportamento autista há pouco, ou mesmo nenhum incentivo ao desenvolvimento do brincar, já que o processo depende, antes de mais nada, na interação da criança com o meio e com o outro, e no desenvolvimento da imaginação e da ludicidade (CHIOTE, 2015).

O presente trabalho tem como objetivo central analisar o modo como se dá o brincar nas crianças com transtornos do espectro autista e quais as possibilidades de trabalho para auxiliar o desenvolvimento infantil destas crianças através de brincadeiras e da ludicidade.

A metodologia utilizada na realização deste artigo será através de pesquisa bibliográfica, baseada em periódicos, artigos e livros, e bases teóricas fornecidas por autores estudiosos dos transtornos do espectro autista. Autores como Piaget, Kishimoto e Santana, construirão pontos de vista ao longo desse trabalho.

Neste contexto, o presente trabalho apresentará no tópico 2 o brincar no desenvolvimento infantil, o quanto é importante este estímulo para o seu crescimento e desenvolvimento.

O tópico 3, trará a temática do presente trabalho, ressaltando o autismo e a brincadeira, o quanto esse relacionamento tem agregado no comportamento da criança autista, principalmente em suas ações do dia a dia.

2. O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O ato de brincar é essencial no desenvolvimento de toda criança, assim como se alimentar e descansar, pois, através da brincadeira a criança descobre o mundo, se comunica e se relaciona com o outro. Brincar é tão importante na vida da criança que é um direito assegurado em lei.

A Lei Federal 8069/90- Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu capítulo II, artigo16, inciso IV afirma que as crianças tem direito a brincar, praticar esportes e divertir-se. O capítulo I, artigo 4, ressalta que esse direito deve ser garantido por sua família, comunidade, sociedade em geral e poder público.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (RCNEI, 1998, p. 22).

Compreende-se assim que o brincar tem papel de grande importância na infância, pois através da brincadeira, criando situações e histórias, que a criança reflete sua forma de agir e pensar, trazendo grandes benefícios tanto em seu desenvolvimento físico, como intelectual, afetivo e social. Negrine (1994, p.19) afirma que:

As contribuições das atividades lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança.

Além disso a brincadeira possibilita explorar o mundo de forma dinâmica, recriando suas vivências através do lúdico e desenvolvendo suas capacidades cognitivas, afetivas e motora.

Segundo Rosamilha (1997, p. 77)

A criança é, antes de tudo, um ser feito par brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos.

É através da fantasia que a criança revive seus momentos de alegria, trabalha seus medos e angústias, assimilam valores, regras, costumes e cria uma relação com o outro. Segundo Silva (1999) a ludicidade pode ser entendida sob diversos pontos de vista:

Do ponto de vista filosófico, o brincar é abordado como um mecanismo para contrapor a racionalidade. A emoção deverá estar junto na ação humana tanto quanto a razão. Do ponto de vista sociológico, o brincar tem sido visto como a forma mais pura de inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando crenças, costumes, regras, leis e hábitos do meio em que vive;

Do ponto de vista psicológico, o brincar está presente em todo o desenvolvimento da criança nas diferentes formas de modificação de seu comportamento; do ponto de vista da criatividade, tanto o ato de brincar como o ato criativo estão centrados na busca do “eu’. É no brincar que se pode ser criativo, e é no criar que se brinca com as imagens e signos fazendo uso do próprio potencial. Do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se revelado como uma estratégia poderosa para a criança aprender. (SILVA, 1999 apud DELLABONA; MENDES, 2004, p.108).

Vygotsky (1984) ressalta a importância do ato de brincar na constituição do pensamento infantil. É através da brincadeira que a criança trabalha seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor. Nesse momento lúdico a criança reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo assim seu próprio pensamento.

Segundo Vygotsky (1984, p.97),

A brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potência determinada através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz.

Através da brincadeira a criança se prepara parar as futuras atividades cotidianas, ampliando sua capacidade de concentração e atenção, estimulando sua autoestima e fortalecendo sua relação de confiança consigo e com os outros.

De acordo com Gardnei apud Ferreira; Misse; Bonadio (2004 p. 15),

Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos

Considera-se então que o lúdico é uma das ferramentas mais importantes no processo de aprendizagem da criança e um dos principais meios de socialização e integração do indivíduo com o meio e com os outros. Pois através do ato simbólico que se cria ao brincar a criança recria comportamentos, posturas e conceitos diferentes de sua realidade.

Afirma Vygotsky; Leontiev apud Francisco (2011, p. 02),

É por meio do brinquedo que a criança se apropria do mundo real, domina conhecimentos, se relaciona e se integra culturalmente. Ao brincar e criar uma situação imaginária, a criança pode assumir diferentes papéis: ela pode se tornar um adulto, outra criança, um animal, ou um herói televisivo; ela pode mudar o seu comportamento e agir e se comportar como se ela fosse mais velha do que realmente é, pois, ao representar o papel de “mãe”, ela irá seguir as regras de comportamento maternal, porque agora ela pode ser a “mãe”, e ela procura agir como uma mãe age. É no brinquedo que a criança consegue ir além do seu comportamento habitual, atuando num nível superior ao que ela realmente se encontra

Piaget (1998) afirma que a atividade lúdica é indispensável no desenvolvimento da criança pois essa é o berço obrigatório das atividades intelectuais do indivíduo. Segundo ele o aspecto intelectual é inseparável do físico e assim não é possível o aprendizado sem um funcionamento total do organismo. Neste ponto a brincadeira e o jogo tem papel fundamental na ida de todos os seres humanos.

“Quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas, da função que a criança lhe atribui” (PIAGET apud KISHIMOTO, 2010, p. 66).

Essa forma de brincar é definida por Piaget como jogo simbólico, que é quando a criança se utiliza de um objeto para representar outro, atribuindo novos significados. Esse jogo é formando por uma expressão de gestos acompanhados pela fala. Kishimoto (2010, p.111) destaca o “faz de conta” como um exemplo de jogo simbólico.

Nos jogos de papéis ou de faz de conta, a criança é livre para escolher papéis a desempenhar e definir suas regras. Seu funcionamento é o processo que tem um fim si mesmo. A criança brinca e tem prazer de brincar. Nesses jogos a criança toma iniciativas, organiza ações, enfim, planeja e substitui o significado dos objetos com o objetivo de reproduzir as relações e os fenômenos observados por ela.

Para Kishimoto (2006) a brincadeira também representa um desafio para a criança, pois ela cria situações que vão além de seu comportamento diário, busca compreender problemas, se sente estimulada e interage melhor com o mundo que a cerca, assim “o lúdico possibilita o encontro de aprendizagens, é uma situação comportamental de forte potencial simbólico que pode ser fator de aprendizagem” (BROUGÉRE, 1998, apud KISHIMOTO, 2010, p.10).

A brincadeira auxilia na ampla formação do indivíduo, pois possibilita, além da interação com o próximo e o meio, a formação da linguagem, o desenvolvimento da imaginação e o aprendizado cultural. Através do brincar a criança se apropria de sua cultura e dos valores sociais.  Scholze (2007 apud BORBA, 2007, p.35) afirma que

O brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão de ação pelas crianças assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Tal concepção se afasta da visão predominante da brincadeira com atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais, cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança e sua integração à sociedade.

Com base na importância do ato de brincar percebe-se a necessidade de promover a ludicidade na educação infantil, uma vez que através da brincadeira a criança constrói sua identidade, desenvolve sua comunicação, percebe o meio em que está inserida, representando as regras e papéis sociais.

Segundo o RCNEI,

O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998, p. 22).

3 O AUTISMO E A BRINCADEIRA

O transtorno do espectro autista é classificado como um distúrbio global do desenvolvimento, onde há comprometimento em diversas áreas do comportamento e do psiquismo. Segundo a Classificação Internacional de Doenças – CID 11 (OMS, 2019) o autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento, que surge antes dos 3 anos e é identificado pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo” (p. 247). O transtorno do espectro autista recebe o nome de espectro (espectro) pois envolve situações e apresentações bastante diversas, numa graduação que se apresenta de leve à grave. Todas, porém, estão relacionadas, em maior ou menor grau, com dificuldades qualitativas de comunicação e nas relações sociais.

Devido a essas dificuldades o ato de brincar da criança autista muitas vezes difere de uma criança considerada típica. O DSM-V (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) indica que o indivíduo autista apresenta

Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares (DSM-V, 2014, p. 50).

Estudos com crianças autistas reiteram que essas não conseguem brincar com seus pares e fazer amigos, apresentam dificuldade no quesito criatividade e iniciativa, muitas não possuem empatia e dão preferência a objetos e não a pessoas. Soifer (1992, p. 231) descreve as brincadeiras das crianças autistas como sendo “solitárias e consistem geralmente em fazer rodar um carro com as mãos (meninos) ou ter nos braços uma boneca (as meninas)”

Geralmente o interesse dos indivíduos autista é focado em objetos, que podem ser manipulados por longos períodos de tempo. Há um comprometimento de muitas funções, entre elas está relacionada ao brincar simbólico, que se caracteriza por recriar as vivências da criança através da fantasia, favorecendo a interpretação e a ressignificação do mundo no qual ela vive. A brincadeira da criança autista está marcada por atividades repetitivas, estereotipadas e sem diversidade (GIKOVATE, 2009).

Segundo Gikovate (2009, p. 17) a criança autista

(…) apresenta interesses e manias pouco comuns. Mostra grande atração por objetos que rodam e escolhe como “brinquedo” preferido coisas incomuns como barbantes ou caixas de papelão. Manipula estes objetos de forma extremamente repetitiva, e assim pode permanecer por horas. (…) O brincar muitas vezes se mostra rígido e repetitivo, alinhando os objetos ou colocando e retirando algo de uma caixinha. A criança pode passar horas decorando mapas e lista telefônica.

Bagarollo afirma que, partido da premissa vigotskiana, a brincadeira é um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento infantil. Através de pesquisas a autora concluiu que crianças autistas precisam de pares que incentivem o lúdico

para haver tanto a possibilidade de interrelação entre sujeitos autistas e as outras pessoas quanto à constituição do brincar e, consequentemente, das outras funções mentais, é necessário que o outro da relação proponha contato, insista, chame, faça-os perceber os outros e os objetos do mundo, sendo imprescindível então, estabelecer a mediação necessária para haver instituição das relações sociais e a constituição do brincar (BAGAROLLO, 2005, p. 126).

Bagarollo (2005, p. 143) revela que o não brincar da criança autista está ligado à escassez de experiências e do pouco acesso da criança à brinquedos e brincadeiras e não somente a impedimentos orgânicos. Segundo a pesquisadora muitas vezes são os indivíduos que convivem com a criança autista que desistem de tentar brincar ou mostrar-lhe os brinquedos, pois acreditam que ela não seja capaz de imaginar. Com isso a criança fica privada do lúdico, o que acaba repercutindo negativamente em seu desenvolvimento. Ela também identificou, em suas pesquisas, que os movimentos estereotipados que geralmente as crianças autistas apresentam são ressignificados nos momentos lúdicos, brincadeiras e faz de conta, a partir da mediação do outro.

Chiote (2015) também investiga qual o papel do outro na ressignificação do brincar as crianças autistas. A pesquisadora acredita que é através das relações com os adultos e/ou crianças que o autista aprende a brincar. Segundo Chiote o ato de brincar é fundamental para o desenvolver as funções superiores das crianças com autismo, porque

ao brincar, a criança imita situações reais, como cuidar de um bebê, dirigir um carro, interpretar papéis de adultos, mas não como uma reprodução mecânica daquilo que observam, pois, ao representar situações reais em plano imaginário, a criança emancipa-se da situação concreta, assimila suas experiências, ao mesmo em tempo que as representa de forma criativa, operando com regras e valores sociais, que, na realidade concreta, muitas vezes não seria possível operar (CHIOTE, 2015, p. 98).

Neste contexto percebe-se que é preciso uma compreensão ampla das características e peculiaridades cognitivas das crianças autistas. Entende-se que somente assim será possível elaborar estratégias específicas que auxiliam no desenvolvimento da criança, visando melhorar sua comunicação, seu comportamento, sua sociabilidade e, por fim, seu aprendizado escolar.

A interação da criança autista com o ambiente escolar e seus pares depende da iniciativa e sensibilidade das pessoas que interagem com o autista e entendem a importância do ato de brincar. Segundo Silva, Dias, Martins e Tenório (2013, p. 87)

A interação social é uma das principais habilidades não construídas e a primeira a ser pensada no desenvolvimento de crianças com autismo. Numa brincadeira o comemorar, o ajudar, o olhar, o falar, são de extrema importância no processo de interação, mas nem toda forma de brincar é interação, pois muitas vezes a criança só tolera a pessoa, para isso, torna-se necessário o afeto. Assim, deve-se fazer uma ponte entre a criança, a sociedade e o mundo, para isso, existem o facilitador educacional que está diretamente ligado com essa criança buscando penetrar no seu mundo, conseguir um contato visual, trazer sempre o olhar do autista para a atividade que ele está fazendo, entreter-se com suas brincadeiras, criar hábitos agradáveis.

De acordo com Fiaes (2010), apesar do consenso geral afirmar que as crianças autistas vivem em um mundo próprio e particular e não interagem com o meio, há evidências que apontam que essas são capazes de socializar. Em seu estudo Fiaes aponta que os autistas, 

(…)são capazes de socializar, que observam as atividades de seus colegas e que se interessam por temas vistos na mídia de forma semelhantes às crianças com desenvolvimento típico. A investigação da brincadeira espontânea, nos mostrou também que crianças autistas brincam mais quando têm oportunidade para isso e que ver e ser convidado para brincar por outras crianças aumenta a probabilidade de brincar. Uma atenção maior sobre as interações ao longo dos registros nos fez refletir sobre o papel ativo das crianças na iniciação de episódios de interação e na emissão de comportamentos de cuidado. Curiosamente as crianças autistas foram as que mais iniciaram interações. Tal fato pode levar a uma mudança de visão sobre as possibilidades dessas crianças, para serem vistas não apenas como alvos de intervenções e de ajuda, mas também como parceiras no processo de socialização e como sujeitos brincantes (FIAES, 2010, p. 152).

O desenvolvimento das crianças autista é singular e precisa ser bem orientado.  Para trabalhar com alunos com autismo precisa-se levar em conta as características da criança, suas limitações, suas vivências e seu relacionamento com o meio. Através desse processo é possível desenvolver práticas adequadas a cada criança, especificamente, uma vez que, assim como qualquer ser humano, cada criança autista é única e apresenta características próprias.

Com isso percebe-se que os mediadores do processo de ensino aprendizagem tem um papel relevante no desenvolvimento dessas crianças. Santana, Purificação, Teperino, Taceli e Pessoa (2016, p. 43) ressalta que o papel do mediador é possibilitar meios de estimular a criança autista.

(…) os mediadores no processo de ensino-aprendizagem devem possibilitar meios apropriados à sua estimulação, principalmente os voltados à sua interação social que, nesta análise, teve no brincar um elemento relevante. Observa-se a brincadeira como uma prática social que é realizada também pela criança com autismo, e se o professor a colocar na posição de sujeito, poderá garantir seu lugar de participante da cultura. Assim, a brincadeira é uma possibilidade de desenvolvimento da criança nessa condição, sendo um instrumento estimulador de sua interação e inserção cultural e social. O brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança, no que se refere aos aspectos do crescimento, da saúde e socialização, além de ser uma forma de o sujeito se comunicar consigo e com os outros.

Trabalhar o brincar é um dos principais pontos da educação infantil, independente se é uma criança autista ou com desenvolvimento típico. Quando o ato pedagógico é construído com base na ludicidade ele desenvolve plenamente a criança, ampliando sua sociabilidade, sua imaginação, permitindo uma visão ampla do mundo e de suas regras e normas. A criança com autismo precisa ser estimulada para que tenha a possibilidade de desenvolver toda a sua potencialidade (BRASIL, 1998).

4 CONCLUSÃO

O desenvolvimento das crianças autistas tem suas particularidades e precisa de muito estímulo e atenção. O brincar é uma ferramenta poderosa nesse processo de aprendizagem.  Quando a criança brinca, ela vivência através da brincadeira uma situação imaginária toda formulada no mundo que a cerca. É através desse faz de conta que ela compreende as relações sociais que vivência, bem como busca compreender a realidade na qual está inserida.

A criança autista também precisa deste faz de conta para entender o mundo, e para tanto ela necessita da intervenção de seus pais, professores, ou mesmos colegas. Através da brincadeira a criança interage com o próximo e consegue desenvolver sua linguagem, fala e expressão, sua afetividade e seu entendimento das relações sociais que a cercam.

É através do ato de brincar que a criança explora o mundo e compreende seu lugar. Sendo assim o lúdico deve estar muito além do divertimento, sendo parte essencial do processo de ensino aprendizagem, e, portanto, deveria estar sempre presente na prática pedagógica ao trabalhar com crianças com autismo. É preciso que se veja além das singularidades da criança autista, e auxiliá-la nesse mundo do faz de conta, essencial na vida de todos.

REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


1Licenciatura Plena em Pedagogia – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas do Vale do São Lourenço

2Graduação em Pedagogia – Centro Universitário de Várzea Grande

3Especialização em Atendimento Educacional Especializado no Ensino Fundamental, Médio e Superior – Universidade Federal do Piauí

4Especialização em Libras e Educação Inclusiva – Instituto Federal do Mato Grosso

5Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação – Must University/USA

6Graduação em Pedagogia – Centro Universitário de Várzea Grande

7Especialização em Educação Digital: Ação docente para uma atuação inovadora – Universidade Virtual do Estado de São Paulo/SP

8Especialização em Educação Especial – Faculdade Evangélica do Meio Norte

9Mestranda em Educação – Universidade do Estado do Mato Grosso

10Graduação em Pedagogia – Universidade Federal do Mato Grosso

11Especialização em Educação Infantil – Faculdade Integrada de Jacarepaguá

12Graduação em Pedagogia – Universidade Federal de Goiás