REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10992085
Crislaine dos Santos Lima1
RESUMO
Por meio do brincar, crianças desenvolvem suas habilidades, percepções, raciocínio, criatividade e aprendem sobre o mundo que as cerca. Ao considerar a inclusão escolar de crianças com deficiência na educação infantil, pressupõe-se que o brincar seja um instrumento importante para que elas aprendam e superem suas dificuldades. Partindo deste ponto, este estudo teve como objetivo descrever o espaço da educação infantil e refletir sobre a inclusão para crianças com deficiência, por meio de uma pesquisa bibliográfica. O presente trabalho aborda aspectos da história da Inclusão Escolar, bem como opções de brincadeiras e brinquedos que influenciam no ensino-aprendizagem dos estudantes com necessidades especiais. No decorrer da pesquisa, evidenciou-se que as crianças com deficiência devem ter oportunidades e serem estimuladas, por meio do brincar, favorecendo o seu desenvolvimento e que a relação de interação entre aluno e o professor são fundamentais para o desenvolvimento e aprendizagem de ambos, através das brincadeiras se constroem relações de aproximação da realidade dentro de uma sala de aula.
Palavras-Chave: Educação especial; Educação infantil; Jogos e brinquedos.
INTRODUÇÃO
A inclusão de crianças com necessidades especiais na educação infantil por meio do brincar é o tema abordado nesse trabalho, que vem crescendo a cada ano junto com o desafio de garantir uma educação de qualidade a todos. Na escola inclusiva os estudantes aprendem a viver com a diferença. A constituição brasileira garante o acesso ao ensino fundamental regular a todos, sem exceção, e deixa claro que a criança com necessidade educacional especial deve receber atendimento especializado complementar, de preferência dentro da escola regular.
O papel da educação infantil assume, a cada ano, uma importância maior dentro da perspectiva da sociedade, pois é a partir deste momento que as crianças começam a ter acesso ao mundo escolar e a vivência com vários tipos de pessoas e culturas. Por isso, a importância de uma inclusão, onde a educação infantil é o primeiro passo em que a criança vai dar ao seu mundo escolar.
De acordo com Nobre e Gagliardo (2001), durante os primeiros anos de vida de uma criança há um intenso desenvolvimento de habilidades, que dependem da integração dos sistemas sensoriais e motores, fundamentais para o desenvolvimento intelectual e emocional.
A capacidade da criança em explorar ao seu redor é extensiva e necessita de estímulos adequados. A partir de mudanças no sistema nervoso, as explorações são desenvolvidas, contribuindo assim para aquisições de habilidades perceptuais e cognitivas da criança. O brincar apresenta importante papel para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social da criança, e é considerado uma importante forma de comunicação, pois possibilita o processo de aprendizagem da criança e facilita a construção de sua autonomia e o desenvolvimento de sua criatividade.
Considera-se importante conscientizar os pais, educadores e sociedade sobre o papel do brincar durante a infância, na medida em que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa não exclusivamente de lazer, mas sim, um ato de aprendizagem. O brincar na educação infantil é fundamental para aprendizagem e desenvolvimento; sabe-se que inúmeras ações em educação tem se mostrado necessárias para inclusão e para a relações familiares e escolares.
Nessa perspectiva, aborda-se a compreensão do papel do brincar na inclusão escolar, a construção de espaços inclusivos, e o brincar e sua contribuição para o desenvolvimento infantil, relatando tipos de brincadeiras e brinquedos inclusivos, bem como o importante papel do professor como mediador da aprendizagem. Sendo assim, ao considerar os aspectos acima mencionados, objetivou-se descrever o espaço da educação infantil e refletir sobre o brincar inclusivo para crianças com deficiência, por meio de uma pesquisa bibliográfica fundamentada na reflexão de leitura de livros, artigos e revistas. Dentre a literatura pesquisada, vale destacar dois livros sobre o brincar inclusivo, elaborados pela UNICEF (2012) e BRASIL (2015).
1. CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
O trabalho dentro de um Centro de Educação Infantil ou de uma unidade que trabalha com a Educação Infantil resume-se em dois momentos: O pedagógico e o lúdico. Na Educação Infantil o brincar é uma das partes mais importantes, pois o desenvolvimento conquistado por meio dessas atividades é visível.
Os jogos e brincadeiras infantis possibilitam à criança, momentos que, na contagem de objetos presentes no jogo, podem levá-la à abstração reflexiva (pensamento), e perceber elementos presentes nos objetos fazendo relações entre eles. Freinet afirma que:
[…] só falando se aprende a falar, só andando se aprende a andar e só o desejo superior que indivíduo sente de subir e de se realizar, para satisfazer as exigências vitais, o leva a transpor obstáculos e procurar incessantemente um máximo de perfeição. (FREINET, 1977, p. 28),
Ao brincar desde muito cedo as crianças conhecem seu próprio corpo, e o mundo que as cercam, elas imitam através do faz de conta os comportamentos dos adultos, assimilando valores e hábitos culturais. A brincadeira é transmitida muitas vezes de geração em geração ou aprendida nos grupos infantis, na rua, nas escolas, etc. Nos momentos de lazer as crianças usam gestos, objetos e os espaços ganham significados especiais. Tem que haver consciência da diferença entre a brincadeira e a realidade.
Não é à toa, que o direito à liberdade de brincar está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. É um direito humano garantido a toda e qualquer criança e adolescente por inúmeras leis, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989 (Art. 31), a Constituição Federal (Art. 217) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 4 e16). É r é a maneira lúdica de relacionar-se com o mundo e com os outros, permitindo às pessoas aprender e ensinar as diversas formas de enxergar o mundo. Os brinquedos e as brincadeiras devem ser universais, inclusivos e permitir a participação de quem quiser participar ou quiser ajudar na brincadeira (FISCHER, 2003).
A brincadeira deve ser encarada como algo sério e que é fundamental para o desenvolvimento infantil. As crianças utilizam o brinquedo para externar suas emoções, construindo um mundo a seu modo e, dessa forma, questionam o universo dos adultos. Elas já nascem em um meio pautado por regras sociais e deve adaptar-se a essas normas. Segundo Kishimoto sobre o pensamento de Vygotsky:
[…] em seu ensaio psicológico A imaginação e a arte na infância, afirma que não há uma fronteira impenetrável entre a fantasia e a realidade. Segundo ele, os processos criadores desde os primeiros anos da infância se refletem basicamente em suas brincadeiras e jogos e são produto de um tipo de impulso criativo, entendido como aquele que possibilita ao sujeito reordenar o real em novas combinas. KISHIMOTO (1998, p. 124)
Elas satisfazem certas necessidades no brinquedo, mas essas necessidades vão evoluindo no decorrer do desenvolvimento. Assim, como as necessidades das crianças vão mudando, é fundamental conhecê-las para compreender a singularidade do brinquedo como uma forma de atividade.
Para Vygotsky (1998), a imaginação surge originalmente da ação. Assim, pode-se inverter a velha frase que afirma que o brincar da criança é a imaginação em ação. A situação imaginária de qualquer brincar está incutida de normas de comportamento. Dessa forma, é possível concluir que não existe brinquedo sem regras, mesmo que não sejam as regras estabelecidas. O brincar está envolvido em regras da sociedade. Por exemplo: a criança imagina-se como mãe de uma boneca; nesse ato de brincar ela irá obedecer às regras do comportamento maternal.
Vygotsky aponta que o brinquedo ajudará a desenvolver uma diferenciação entre a ação e o significado. A criança, no seu desenvolvimento passa a estabelecer relação entre o seu brincar e a ideia que se tem dele, deixando de ser dependente dos estímulos físicos, ou seja, do ambiente concreto que a rodeia.
Ainda no pensamento de Vygotsky segundo Kishimoto (1998 p. 126 e 127), destaca que a criança compreende através de diferentes formas relacionando o real e a fantasia, a primeira fala do papel que a criança representa e a relação dela com o objeto iram depender das regras. Crianças muito novinhas ainda não conseguem se envolver em uma situação imaginária, pois a criança se baseia na realidade, no meio em que vive e em suas experiências vividas acumuladas para criar o imaginário.
A segunda forma é quando ela constrói a imaginação, não baseada em experiências vividas, mas sim em experiências de outras pessoas, como quando houve conversas e histórias, ou seja, nesta segunda a criança dependente totalmente de sua criatividade. A terceira se dá através das emoções que se manifestam entre a realidade e a imaginação de duas formas, uma é quando os sentimentos influenciam a imaginação e a outra faz o processo contrário quando a imaginação influência nos sentimentos da criança. Na quarta a criança cria através de sua essência, não ocorre por experiências vividas nem delas nem do outro, nem de nada que ela conheça é simplesmente uma criação particular onde nada será igual.
Pensando que a afetividade é o ponto de partida para o desenvolvimento e que a criança se organiza a partir da relação com o outro. A afetividade é o elo mais forte na elaboração do pensamento, portanto ela é fundamental na formação de personalidade. É no ato das brincadeiras que ela avança em seu processo de desenvolvimento, pois, mesmo sem intenção, coloca todas as suas funções e aptidões a prova, chegando, às vezes, a ultrapassar seus próprios limites, fazendo assim, com que se desenvolva passando de um estágio ao outro do desenvolvimento.
O conceito de deficiência já passou por diversas definições, a depender do contexto histórico. O documento da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, homologada pela Assembléia das Nações Unidas em 2006, compreende que pessoas com deficiência são: “pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”.
A inclusão escolar da criança com deficiência vem se desenvolvendo a cada dia. Muitas são as estratégias a serem abordadas e os desafios a serem superados para sua real efetivação. Atualmente, a busca pela inclusão de crianças com deficiência se torna cada vez mais parte da nossa realidade. Porém, é preciso a compreensão de todos os envolvidos. Quando frequentam um Centro de Educação Infantil, precisam ter seus ritmos respeitados, ter uma ou duas figuras adultas fixas de referencia, e ter oportunidades de exploração do ambiente (os espaços, os materiais e as pessoas com quem interagem) para descobrirem a si mesmas e adquirirem autonomia. Um ambiente adequado contribui para o desenvolvimento integral da criança, respeitando seus movimentos, curiosidades, progressos e potenciais (FRIEDMANN et al, 2015).
Trabalhar em sala de aula com as diferenças é somente o início de todo um processo de descobrimento e aceitação, que levam a todos os participantes desse processo ao crescimento e maturidade. Nesse sentido, a inclusão traz como eixo norteador a legitimação da diferença e as diferentes práticas pedagógicas, em uma mesma sala de aula para que a criança com deficiência possa acessar o objeto de conhecimento.
2. EDUCAÇÃO INFANTIL NA CRECHE COM INCLUSÃO
A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), tendo como finalidade o desenvolvimento integral de crianças de zero a seis anos em creches e pré-escolas, compreendendo os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (BRASIL, 1996).
A creche hoje, além de uma necessidade é um direito de toda e qualquer criança, independente de classe, gênero, cor ou sexo. O trabalho dos educadores de creche corresponde à assistência e à educação, oferecendo atendimento comprometido com o desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos, emocionais, emocionais, cognitivos e sociais (BRASIL, 1996).
As oportunidades de relações oferecidas na creche entre educadores e crianças entre si, sem laços familiares ou de parentesco, diferem daquele que se recebe em casa. A creche entendida como instituição educativo-profissional, torna-se o primeiro local em que a criança vivencia situações de inclusão. Neste ambiente é comum as crianças serem designadas a salas específicas conforme sua idade (FISCHER, 2003).
Em determinado momento da permanência da criança será inevitável o seu remanejamento, ou seja, a mudança de sua sala para outra devido a sua idade e também a demanda por vagas. Este remanejamento segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação precisa ser gradativo, pois as crianças pequenas constroem vinculo afetivo com o adulto de referência, e a criança com necessidade especial é mais sensível, a mudança altera sua rotina e isto para essa criança é muito difícil de ser aceito, a base sobre o qual vão se sentir seguros para explorar o ambiente e se relacionar com novas pessoas (BRASIL, 1998).
Entendendo a criança como alguém em desenvolvimento, mesmo sendo uma com necessidades especiais, compreende-se que não se age com ela como se esta não interagisse. Mesmo pequena ela tem suas vontades, suas necessidades e desejos que precisam ser considerados, compreendidos e respeitados. Toda ação precisa ser refletida, discutida antes de ser praticada. Neste sentido, é a criança antes de qualquer pessoa, que precisa ser questionada e ouvida por alguém que ela confie, pois é ela que vai se desligar de um grupo no qual interagia.
Tentar criar um novo vínculo com outras crianças precisa do apoio de uma equipe especializada da Educação Especial. O remanejamento dela para outra turma pode parecer para nós adultos algo normal, sem maiores complicações. Porém para a criança com necessidades especiais representa uma perda de algo significativo naquele momento, que são os colegas, o educador, os brinquedos, as brincadeiras, o próprio ambiente onde de certa maneira já estava adaptada, lhe expressa conforto, segurança, acolhimento (FISCHER, 2003).
Enquanto a criança brinca com um grupo, os contatos são fontes preciosas de crescimento e amadurecimento interior. Nas brincadeiras, não basta ter uma idéia, ela precisa ser discutida e argumentada para convencer o grupo. Nestas situações a criança precisa aprender a ouvir e fazer-se ouvir, discutir, pensar em equipe, decidir o caminho para brincá-lo. São nas simples situações que se transmitem valores, crenças e costumes da sociedade. São nesses momentos compreendidos como simples que se constrói e reconstrói a história social subjetiva e coletiva de uma cultura (FISCHER, 2003).
Os profissionais da creche precisam ter em mente que neste local sempre estarão com questões que envolvem separação, conquistas e progressiva autonomia das crianças. Estas questões giram em torno da inclusão e consequentemente da exclusão. Respostas ou receitas para um trabalho inclusivo na creche não existem, não é somente uma graduação em pedagogia que trará subsidio para tal investida. O que precisa ocorrer é um trabalho efetivamente em grupo com cada membro responsável em fazer a sua parte. Esse trabalho em grupo não envolve somente educador, mas, toda a instituição e principalmente as famílias (FISCHER, 2003).
3. BRINCANDO: BRINCADEIRAS E BRINQUEDOS INCLUSIVOS
Para tornar inclusivas as brincadeiras em um Centro de Educação Infantil, muitas vezes bastam algumas mudanças nas regras ou nos acessórios utilizados. Inicialmente, quando uma criança com deficiência participa, é preciso estimular a colaboração de todos os envolvidos nesse processo. Algumas atitudes devem ser estimuladas para isso, por exemplo, é possível que um amigo empurre a cadeira de rodas da criança com deficiência física; que oriente na mobilidade do amigo com deficiência visual; ou que auxilie aquele que não apresenta linguagem oral na hora de se comunicar.
Conforme Vygotsky (1998, p. 126), “é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não pelo dos incentivos fornecidos pelos objetos externos”.
É preciso ter bom senso e disposição para conhecer e respeitar as necessidades de cada pessoa. Dessa forma, é possível construir uma sociedade inclusiva e adequada para todos. Também se faz necessário a flexibilidade para adaptações, sempre com a participação de todos.
Proporcionar brinquedos e brincadeiras acessíveis, muitas vezes, depende de adaptações simples e de criatividade. Para crianças com deficiência visual, os brinquedos com texturas e objetos que produzem sons podem ser explorados, assim como utilizar cores fortes e contrastantes. Brinquedos que possuem escritas, também podem ser anexadas palavras em braile. Nos casos de deficiência física, algumas adaptações simples, como prender o brinquedo no braço e usar materiais que não deslizam facilmente, como antiderrapantes, podem favorecer o brincar. Dar oportunidade à criança de interagir com os brinquedos é essencial, assim você pode observar quais mudanças e adaptações são necessárias em cada caso (UNICEF, 2012).
O brincar inclusivo, não depende de brinquedos e materiais caros. As brincadeiras podem se tornar acessíveis por meio de adaptações e pelo uso de materiais simples. Alguns deles são:
Colchonetes e tapetes; Massinha de modelar; Fantasias e objetos (roupas, telefones, panelas, espelhos…); Bolas de todos os tipos e tamanhos (com guizo também); Bambolês;
Macarrão de natação; Tintas; Argila; Lençol grande (as crianças podem arrastar umas às outras com lençóis, além de criar cabanas e esconderijos); Caixas de papelão (podem virar móveis, brinquedos, avião, palco de teatro de fantoches); Fantoches (podem ser feitos com lã e botões costurados ou colados em meias); Velcro (para fixar peças de jogos); Ímã (também para fixar peças) (UNICEF, 2012, pg. 24)
Dentre as brincadeiras, destaca-se as de cunho artístico, ao considerar a importância do processo criativo das crianças quando envolvidas com essas atividades. Ao estimular sua expressão artística, estará favorecendo a expressão de ideias, sentimentos, autoconhecimento, aprendizado lúdico, liberdade de criar e descobrir. A leitura e o lúdico proporcionam às crianças o aprendizado de ouvir, interagir, pensar, comunicar-se e explorar o meio ao seu redor .
No entanto, as estratégias utilizadas para favorecer o brincar dependem das especificidades de cada criança, da experiência, e da criatividade e observação do professor com sensibilidade e acuidade, além de uma formação inicial e continuada que o encaminhe para isso (BRASIL, 2015)
Os jogos e as brincadeiras podem e devem fazer parte das atividades curriculares, sobretudo nos níveis pré-escolares e nas séries iniciais:
O jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento (KISHIMOTO, 1998, pg. 44)
Kishimoto (1998) compreende que o jogo é um excelente recurso para facilitar a aprendizagem, pois quando a criança brinca, ela explora e manuseia, e compreende o mundo que a cerca. A partir da vivência com o lúdico, entra em contato sentimentos, apreende conceitos e valores. O autor também acrescenta que:
(…) o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade, denotando-se, portanto em jogo (KISHIMOTO, 1998, p. 28).
4. ENSINO-APRENDIZAGEM E INCLUSÃO POR MEIO DO BRINCAR
A criança que brinca precisa ser respeitada, pois seu mundo é mutante, e está em oscilação entre fantasia e realidade. Precisa tanto de brinquedos como de espaço, o suficiente para que se sinta à vontade. Para Froebel:
O brinquedo dá alegria, liberdade, satisfação, repouso interno e externo, paz com o mundo. Uma criança que brinca integralmente, por determinação, de sua própria atividade, perseverando até que a fadiga física a limpeza, será certamente um homem completo e determinado, capaz de auto-sacrifício para a promoção do bem estar de si mesmo e dos outros (…) O brinquedo espontâneo da criança revela a vida interior futura do homem. Os brinquedos da infância são os germes de toda a vida posterior. (FROEBEL, 2001, pg. 39)
É através da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, a ele se integrando, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com os seus semelhantes e conviver como ser social. As crianças brincam independentemente se são organizadas ou não para isso, qualquer momento e espaço se tornam propícios para a brincadeira.
O professor da educação infantil é considerado o mediador, é aquele que facilita a aprendizagem e, consequentemente, o crescimento dos estudantes. É de fundamental importância que as pessoas envolvidas no processo de desenvolvimento e educacional compreendam o significado do brincar para as crianças e compreendam sua importância para que assim favoreçam um ambiente possível para interagir. Sendo assim, compreender a importância do brincar e criar oportunidades para todas as crianças e em especial às crianças com deficiência, mostra-se relevante.
Os profissionais, aqui em especial os da educação, precisam considerar a situação da infância hoje, os novos paradigmas e as mudanças necessárias para esse processo, dessa forma precisam:
Passar constantemente por um processo de autoconhecimento, desenvolvimento e atualização; Trabalhar com as crianças na transmissão de saberes e na formação integral, estimulando potenciais e criando oportunidades; Conhecer e propiciar a expressão das linguagens verbais e não verbais e das crianças (artes, brincar, movimento, música, poesia, etc.); Transmitir o patrimônio cultural, colher a diversidade cultural das crianças e incentivar a produção das culturas atuais; Ouvir, observar, registrar, analisar e recriar, a partir das necessidades, interesses e potenciais de cada criança e de cada grupo; Criar espaços flexíveis; Adequar as atividades que respeitem ritmos, habilidades e necessidades de cada criança e de cada grupo; Dialogar com os teóricos, a equipe escolar, os pais e com as crianças; Estabelecer uma continua dialética entre as imagens internas das crianças e as imagens que recebem do mundo à sua volta. (FRIEDMANN et al, 2015, pg. 59)
Para Frieddman (1992), estratégias como texturizar, sonorizar ou iluminar possibilitam que o objeto seja melhor percebido. A música, o canto e a representação de histórias são indicados para qualquer criança, inclusive as com limitações importantes no seu desenvolvimento. Atividades com máscaras, fantasias, bonecos e super-heróis podem proporcionar vivências simbólicas significativas. Para estimular a percepção visual, lanternas, e laminados podem ser utilizados durante brincadeiras e atividades. Brinquedos com cores contrastantes favorecem na organização de esquemas visuais. Nessa perspectiva, utilizar todos os sentidos na brincadeira é fundamental para o desenvolvimento de inúmeras habilidades (FRIEDDMAN, 1992)
Durante a rotina de um Centro de Educação Infantil deve-se estimular a prática de atividades lúdicas e motoras, procurando propiciar experiências que promovam o desenvolvimento global. Por meio das brincadeiras a criança aprende seus limites e também progride socialmente e em sua aprendizagem. A prática pedagógica pautada em situações lúdicas, promove o desenvolvimento afetivo, cognitivo, social, psicomotor e linguístico do educando (RONCA, 1989)
Nesse sentido, o Centro de Educação Infantil e a escola devem ser um espaço estimulante onde sejam oferecidas educação, segurança e afetividade, possibilitando uma base sólida, para que a aprendizagem ocorra de forma significativa e contextualizada (RONCA, 1989).
Favorecer as interações sociais entre as crianças possibilita o estabelecimento de laços afetivos, o que contribui para o reconhecimento de si próprio, do outro e para o desenvolvimento da autonomia (BRASIL, 1998)
Com isso, a educação infantil precisa de educadores com qualificação na formação pedagógica, uma vez que a educação infantil precisa ter propostas que garantam o crescimento integral das crianças. De acordo com Soares (2011), a escola é a instituição formadora dos pensamentos, ideias e cidadãos, sendo que o professor é o canal que possibilita isso.
Nessa perspectiva, compreende-se que a formação do professor deve ser um dos fatores mais importantes para proporcionar o processo de qualidade da educação. É necessário estruturar o currículo e o professor deve estar preparado para aplicá-lo. No entanto, os problemas encontrados nesse processo não se resolvem apenas proporcionando aos professores instruções mais detalhadas, é necessário que haja um conjunto de fatores, como a vivência, as experiências e a organização do trabalho docente (SOARES, 2011).
O brincar deve ser reforçado no meio escolar, a brincadeira facilita o aprendizado e ativa a criatividade, ou seja, contribui diretamente para a construção do conhecimento. Portanto, os professores devem estar atentos para essa prática lúdica e aprimorar uma contextualização para as brincadeiras. Por meio da observação do brincar, os educadores precisam estar capacitados a compreender as necessidades de cada criança, os seus níveis de desenvolvimento, a sua organização e, a partir daí, de planejar ações pedagógicas.
A criança no momento do brincar expressa sua criatividade, pois trabalha sua liberdade de expressão e é a partir daí que ela cria alto conceito e autonomia, determinando o que requer mais suas habilidades. Quando o professor trabalha com o lado artístico de seus alunos e orientando à família, a probabilidade dos mesmos serem mais sucedidos é maior, pois na infância desenvolvem manias e adquirem curiosidades de saber e provar tudo, se o professor der suporte a eles, apresentando-lhes materiais construtivos, o interesse de querer aprender mais, será para resto de suas vidas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando optou-se por estudar sobre o espaço infantil e o brincar na Educação Especial, compreendeu-se que essa era uma área abrangente, mas que proporcionaria um enriquecimento sobre as práticas do processo de inclusão escolar de crianças com deficiência.
Constatou-se que os eixos principais no trabalho da educação infantil estão relacionados com identidade e autonomia, que está diretamente relacionado com os desenvolvimentos da socialização. A educação infantil é um direito de toda e qualquer criança e deve oferecer atendimento comprometido com o desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos, emocionais, emocionais, cognitivos e sociais.
Considera-se que a criança, em especial a com deficiência, que possui uma condição de vulnerabilidade, precisa de oportunidades para sentir-se estimulada, assim como para obter êxito na exploração do brinquedo, seja montar um bloco ou apertar um botão. O brincar faz parte da infância, é natural da criança e que o educador não precisa ensiná-la a brincar, porém em questão de aprendizagem, a criança precisa de um ambiente propício para que exercite e desenvolva suas potencialidades. O professor deve observar diretamente, acompanhar seu desenvolvimento.
Os jogos e brincadeiras, adaptados ou não, demonstraram-se como instrumentos importantes neste processo de inclusão escolar. Os educadores de crianças com deficiência podem e devem utilizá-los para estimular o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, motor e comunicativo. Além disso, também podem propiciar aprendizagens curriculares específicas de um Centro de Educação Infantil.
O brincar relaciona-se com a aprendizagem, brincar é aprender! Na brincadeira, reside à base daquilo que, mais tarde, permitirá à criança aprendizagens mais elaboradas. O lúdico torna-se, assim, uma proposta educacional para o enfrentamento das dificuldades no processo ensino-aprendizagem. Para finalizar, é importante ressaltar que deve-se considerar a criança com deficiência um todo integrado, condição básica para promover o seu desenvolvimento. Dessa forma, o professor deve estimular ao máximo o desenvolvimento de suas habilidades, mediando e orientando-as nas atividades realizadas por meio do brincar.
REFERÊNCIAS
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1Programa de Pós-Graduação em Letras, da Fundação Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Campo Grande. Aluna bolsista no Programa Institucional de Bolsas aos alunos de Pós-Graduação (PIBAP) da UEMS. Orientada Pela Profª. Dra. Ana Paula Tribesse Patrício Dargel