IN THE MIDST OF WAR AND RACISM: THE ROLE OF THE MEDIA IN CONSTRUCTING NARRATIVES OF RUSSIA VS. UKRAINE AND THEIR SOCIAL IMPLICATIONS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202409250753
Nash Stonny Cordeiro Wanderley1;
Gustavo Vinícius Ferreira Silva2
Resumo
O artigo analisa como a mídia internacional demonstra racismo estrutural e institucional na cobertura de conflitos globais, focando especialmente na desigualdade de atenção dada às guerras em países desenvolvidos em comparação com crises em regiões periféricas. Utilizando uma abordagem qualitativa e exploratória, a pesquisa examinou notícias e propagandas de Guerras recentes, revelando que a mídia tende a priorizar tragédias envolvendo europeus brancos, enquanto marginaliza conflitos em países empobrecidos. Os resultados apontam que essa cobertura desigual perpetua uma comoção seletiva, evidenciando o preconceito racial e social na narrativa midiática. Conclui-se que para promover uma cobertura mais justa, é essencial que a mídia valorize igualmente todas as vidas e reavalie suas práticas, combatendo o racismo institucional e estrutural presente em suas operações.
Palavras-chave: Mídia. Meios de comunicação. Europa. Guerra na Ucrânia. Racismo.
Abstract
The article analyzes how the international media demonstrates structural and institutional racism in its coverage of global conflicts, focusing especially on the unequal attention given to wars in developed countries compared to crises in peripheral regions. Using a qualitative and exploratory approach, the research examined news and advertisements from recent wars, revealing that the media tends to prioritize tragedies involving white Europeans, while marginalizing conflicts in impoverished countries. The results show that this unequal coverage perpetuates a selective commotion, highlighting racial and social prejudice in the media narrative. The conclusion is that in order to promote fairer coverage, it is essential for the media to value all lives equally and re-evaluate its practices, combating the institutional and structural racism present in its operations.
Keywords: Media. Media. Europe. War in Ukraine. Racism.
1 Introdução
A guerra é profundamente traumática e disruptiva, gerada por interesses políticos, religiosos, econômicos ou territoriais, com consequências devastadoras para os países envolvidos e impacto global devido à rápida disseminação de informações e reações variadas.
A guerra entre Rússia e Ucrânia exemplifica a atenção global desproporcional dada a certos conflitos em comparação com guerras em regiões menos destacadas. Baden e Tenenboim-Weinblatt (2018) apontam que a mídia cobre de forma etnocêntrica e desigual, priorizando conflitos em áreas desenvolvidas e com vítimas ocidentais, enquanto minimiza os conflitos em regiões menos favorecidas. Esse viés reflete preconceitos regionais e sociais, com foco em violência e eventos marcantes conforme fatores contextuais e lógicas jornalísticas.
A mídia frequentemente atribui maior valor à vida em países desenvolvidos em comparação com nações periféricas, refletindo um viés que manifesta racismo estrutural. Conflitos em países menos ricos, com populações etnicamente diversas, recebem menos atenção e apoio. A mídia e a comunicação desempenham um papel crucial na perpetuação e reforço do racismo e das desigualdades sociais, especialmente na África (Mano, 2015).
A ampla cobertura da guerra na Ucrânia, envolvendo uma nação europeia e predominantemente caucasiana, destaca-se em contraste com a atenção reduzida a conflitos semelhantes em regiões menos favorecidas.
Essa disparidade evidencia uma perspectiva eurocêntrica na mídia, que gera maior espanto e solidariedade internacional para tragédias na Europa. A cobertura da crise ucraniana mostrou preconceito e discriminação ao comparar superficialmente os deslocados ucranianos com os de outras nações afetadas por guerras (Altam; D.Kokane, 2023).
A cobertura midiática das guerras revela que o interesse e a empatia pública são muitas vezes influenciados por fatores raciais e de classe social. A cobertura da mídia referente ao conflito Rússia-Ucrânia está imbuída de tons militaristas e nacionalistas, utilizando estratégias retóricas que abrangem verbos emotivos, adjetivos avaliativos e autorrepresentação favorável para propagar ideologias específicas (Malysh, 2023).
A guerra entre Rússia e Ucrânia destaca como a cobertura midiática é influenciada por aspectos culturais e sociais, refletindo uma percepção diferenciada dos conflitos. A cobertura intensiva desse conflito europeu contrasta com a menor atenção dada a guerras em países mais pobres e racialmente diversos. Além disso, a forma como o conflito é enquadrado nas mídias sociais criou visões e expectativas divergentes entre a Ucrânia e a Rússia há um tempo significativo (Makhortykh; Sydorova, 2017).
Todas essas questões estimularam a realização deste trabalho para entender como as guerras podem gerar comoção seletiva de acordo com a forma em que ela é coberta pela mídia. Isto pode ser observado na Guerra entre a Rússia x Ucrânia, onde há uma expressiva cobertura e até alteração nas grades de várias emissoras para transmitir informações sobre o fatídico evento.
Assim, a pesquisa apresenta forte relevância para a sociedade que, ao longo dos anos foi influenciada a aceitar matérias e reportagens de cunho racista ou de caráter duvidoso. É necessário então uma abordagem mais séria com esse problema social quando ocorrer fatos desse tipo, além de punições mais severas para os autores dessas falas.
Esses tópicos têm grande peso para o público porque muitos veem jornalistas e colunistas como autoridades, influenciando a opinião pública. Colunistas renomados moldam a opinião pública e o papel do jornalismo nas democracias deliberativas através de suas identidades e discursos políticos (Usher, 2020).
Há muito tempo não se via uma comoção tão ampla em relação a conflitos armados. É triste saber, por outro lado, que muito deste sentimento, dá-se pelo fato de a guerra ser numa zona localizada na Europa, e porque pessoas brancas estão perdendo suas vidas.
Uma hipótese para que isso aconteça é a que a mídia tem um papel relevante na comoção seletiva da população com o chamado racismo institucional, pois dá uma atenção bem maior para este conflito na Europa, do que para outros conflitos na África ou na Ásia, onde pessoas inocentes também estão perdendo o direito de viver.
O que abre questão para mais uma hipótese, há um fator além do racismo institucional, há também o racismo estrutural, ou seja, aquela que está presente em nosso cotidiano. Fatores preponderantes, que possuem correlação e que podem contribuir para o problema da comoção seletiva promovida pelo racismo.
O problema da pesquisa concentra-se no fato de há pelo menos 7 conflitos extremamente sangrentos envolvendo países pobres pelo mundo, mas que não têm recebido uma atenção tão significativa tanto quanto a guerra na Ucrânia. Segundo Gallas (2022), estão em guerra ativa no momento: Etiópia, Iêmen, Mianmar, Haiti, Síria e Afeganistão, além da presença de Militares Islâmicos, com pretensão de tomar os países africanos: Mali, Niger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique, ao custo de muito sangue de pessoas inocentes derramado.
Levando tudo isso em conta, se torna pertinente realizar uma pesquisa para analisar essa comoção. Assim, foi necessário obter acesso a documentos e a entrevistas para entender porque a guerra na Ucrânia está causando uma comoção incomparável, jamais vista nos tempos atuais. A questão é, por que só essa guerra e não outras que também estão acontecendo nos últimos anos? Essa é então a proposta de resposta da pesquisa.
A delimitação da pesquisa se manteve em abordar os traumas de cada tipo de guerras atuais e sua influência no comportamento das pessoas que observam de longe. A análise dará atenção aos aspectos de volume de informação criado sobre esta guerra em questão e de que forma o mundo se solidarizou.
É possível minimizar os impactos das notícias de cunho racista ou supremacista branco na população, por meio da cobertura igualitária que valorize cada vida de forma igual, independente da classe social ou cor da pele? É provável que este seja um dos caminhos para que isso seja possível, mas, existem mais fatores a serem compreendidos numa análise futura e mais aprofundada.
Assim, o objetivo da pesquisa é identificar a importância da cobertura da guerra na Ucrânia na comoção seletiva da população que consome as notícias vinculadas em jornais e nas redes sociais, e analisar o racismo por trás de cada matéria e sua influência para com a população.
2 Referencial teórico
Apesar de estarmos há centenas de anos da abolição da escravidão e com políticas para o combate ao racismo, infelizmente ainda é possível encontrar casos de racismo disfarçado de piada, gestos, ou até mesmo em matérias sérias de jornalismo, de uma certa forma, até escancarada, como foi visto em alguns jornais na cobertura da guerra entre Rússia X Ucrânia.
Assim como Beatriz Marques relata na revista Fórum, o caso de uma fala racista da jornalista europeia Philipp Corbe para a BFM TV em 2022: “Quando a jornalista Philipp Corbe alerta: “estes não são refugiados da Síria, estes são refugiados da nossa vizinha Ucrânia. Honestamente, eles são cristãos, são brancos”, ela adiciona, além do racismo, a islamofobia – atitudes xenofóbicas para com os muçulmanos” (Marques, 2022, p. 1).
Nesse sentido, além do racismo presente na fala da jornalista ao destacar que civis brancos estão perdendo a vida, sua fala está carregada de intolerância religiosa, ao dar a entender que apenas cristãos devem ter suas vidas valorizadas. Fica claro que para a jornalista apenas “gente como a gente” deve ter a vida preservada. Isso tudo coloca uma questão no ar: por que algumas vidas valem mais do que outras para alguns jornalistas neste contexto?
Ainda para Beatriz Marques, isso pode fazer parte de uma herança colonial, onde apenas a população dos países centrais merece compaixão diante de um conflito, assim destaca a autora:
O racismo presente nos meios de comunicação nos faz questionar quem é digno de compaixão na configuração atual das Relações Internacionais, uma vez que certas mortes são dignas de indignação e justiça, enquanto outras nem sequer são noticiadas. Nesta segunda-feira, 28/02, soldados israelenses atacaram crianças palestinas no portão de Damasco em Jerusalém. Duas meninas ficaram feridas, uma foi detida ao se defender da brutalidade policial e outra foi levada às pressas ao hospital depois de ser atingida por uma granada de som no rosto pelas forças israelenses. Nenhuma dessas notícias se tornaram manchetes nos jornais mundo afora. Assim, faz-se necessário questionar porque certos eventos provocam horror, e outros são legitimados, aceitáveis e até mesmo bem-vindos (Marques, 2022, p. 1).
A autora questiona por que conflitos e mortes de inocentes fora da Europa não geram a mesma revolta mundial. Isso se deve, em parte, à mídia, que promove uma comoção seletiva baseada em normas e políticas internas. A cobertura da guerra na Ucrânia ilustra como a imprensa pode influenciar a percepção pública de forma negativa e desigual. Assim também destaca o colunista Denis Castilho:
O mais recente movimento migratório europeu e sua repercussão midiática seriam suficientes para uma lição global – ou ao menos uma demonstração sobre quais vidas (e de onde) valem mais? Está fragrante a absoluta subordinação dos meios de comunicação corporativos brasileiros às agências estadunidenses e britânicas. Sem dúvida, têm sido eficientes instrumentos de imperialização porque a guerra de informação, desinformação e contrainformação é um ponto chave do intervencionismo contemporâneo. A guerra, hoje, também é estética e se tornou um produto roteirizado. Ela gera o espetáculo da informação porque busca a confirmação coletiva que reforça o enredo (Castilho, 2022, p. 1).
É crucial reconhecer o perigo de aceitar informações sem análise crítica, pois elas podem ser racistas e tendenciosas, favorecendo os países centrais que controlam as grandes emissoras e influenciam o discurso midiático. assim explica Pedro Carrano:
A instabilidade econômica e, consequentemente, as ações militares, têm sido a marca desse período pós 1973, ainda que descentralizadas, o que leva a questionar novamente o discurso midiático de suposta paz e estabilidade mundial até então. Fato é que agora se aprofunda um conflito de proporções incalculáveis, em torno de um território estratégico para as potências centrais, conflito adormecido desde a segunda guerra mundial. A mídia empresarial foi proativa ou calou-se diante de ações da Otan contra países do terceiro mundo. Legitimou golpes de Estado sob o véu institucional na América Latina (Carrano, 2022, p. 1).
O autor destaca que o discurso da OTAN e da mídia em conflitos em países do terceiro mundo é brando, refletindo o racismo estrutural que afeta a população e é evidenciado na TV e outros meios de comunicação.
Gomes (2022) destaca a fala da Jornalista norte-americana Charlie D’Agata, do canal CBS News, com suas palavras, ela diz a seguinte frase “esse não é um lugar, com todo respeito, como Iraque, ou Afeganistão, que tem visto conflitos por décadas. Essa é uma cidade relativamente civilizada, relativamente europeia.”
Para Gomes (2022) tal frase evidencia o quanto o racismo no mundo se tornou algo estrutural e o quanto boa parte da população, de certo modo, se acostumou com guerras em países pobres e com pessoas julgadas por terem “raças inferiores” sendo assassinadas, mas que não estão preparadas para verem pessoas civilizadas e ricas perdendo suas vidas.
Contudo, o problema do racismo estrutural não é nem de longe uma questão moderna, ela está presente desde o colonialismo em meados do século XVIII, segundo Almeida, (2019), O racismo estrutural não é um fenômeno recente; ele remonta ao colonialismo do século XVIII. Naquela época, a promessa de “civilização” para povos isolados resultou na destruição e escravização de negros e indígenas, transformando a “civilização” em uma arma contra aqueles que não se conformavam aos interesses e normas racistas do estado.
De tal maneira, não é exagero falar que o negro não era se quer considerado um ser humano há pouco tempo na Europa, pelo simples fato de não ter a cor da pele clara, e por não ser católico, como assegura Frantz Fanon:
Ao longo do tempo, vimos a religião católica justificar e depois condenar a escravidão e as discriminações. Mas, ao reduzir tudo à noção de dignidade humana, desentranhava-se o preconceito. Os cientistas, após muitas reticências, admitiram que o negro era um ser humano; tanto in vivo quanto in vitro, o negro havia se revelado análogo ao branco; mesma morfologia, mesma histologia (Fanon, 2008, p. 99).
Fica clara as condições de como os negros eram tratados na época e como isso se estende até os dias atuais, onde o negro ainda sofre preconceito e é cercado de estereótipos de violência e de nível intelectual mais baixo, fazendo com que a maioria da população negra ocupe cargos menos expressivos nas instituições e tenha uma baixa representatividade política social e econômica em todas as esferas.
Se por um lado já ouvimos falar com certa frequência sobre o racismo estrutural, por outro, o institucional ainda é um termo relativamente novo ou pouco conhecido pela comunidade, mas que afeta boa parte da população brasileira, como explica Caixeta, (2022), “o racismo institucional, aquele que ocorre no interior das instituições públicas e privadas de diferentes setores, ainda é um termo relativamente novo e desconhecido para boa parte da sociedade.” De acordo, o autor Santos (2018, p. 24) afirma que “o racismo é institucional! Permeia o amplo espectro das instituições da sociedade, estrutura e condiciona que tipos de políticas públicas, onde, como, para quem! Senão vejamos: por que nossas instituições policiais vêm seu povo como inimigo?”
A combinação dos dois tipos de racismo leva à comoção seletiva, onde a morte de pessoas pobres ou negras é mais comum e menos impactante, enquanto a morte de pessoas ricas choca mais. A mídia desempenha um papel crucial nesse cenário, mas tende a perpetuar essa desigualdade, já que muitos proprietários de meios de comunicação são ricos e brancos, dificultando mudanças significativas, como ainda explica a autora Caixeta:
Uma vez que as instituições são formadas por pessoas que estão inseridas nessa sociedade racista, os grupos que estão no poder, que de forma geral são homens brancos, mobilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos, econômicos culturais e sociais, levando o racismo estrutural para dentro das instituições (Caixeta, 2022, p. 1).
De tal modo, cria-se uma estrutura racista reforçada pelo racismo institucional empregado nessas empresas de comunicação em massa durante décadas e vice versa, quando o racismo é levado para dentro das empresas e reproduzidos por estas. Assim afirma Almeida (2019, p. 31), “há instituições cujos padrões de funcionamento redundam em regras que privilegiem determinados grupos raciais, é porque o racismo é parte da ordem social. Não é algo criado pela instituição, mas é por ela reproduzido.”
Contudo, podemos questionar o debate sobre se o racismo institucional causa o racismo estrutural ou se ambos formam um ciclo que precisa ser interrompido. Políticas públicas e institucionais eficazes contra desinformação e injúria racial podem ajudar, mas o problema é complexo e requer estudo e discussão aprofundados para encontrar boas soluções.
3 Metodologia
O método de pesquisa foi baseado em natureza básica. Sua abordagem foi realizada por meio de levantamento bibliográfico. A análise dos dados foi realizada em duas etapas, na primeira, a identificação do título, a autoria, ano e periódico de publicação. Na segunda etapa a análise dos objetivos, metodologia e resultados principais.
A pesquisa foi direcionada para os registros de racismo estrutural e institucional mais marcantes patrocinados pela mídia brasileira e internacional sobre as guerras. foram analisadas notícias e propagandas do governo das guerras mais recentes.
Como procedimentos, foram analisados material já publicado, constituído principalmente de livros de grandes autores e autoras sobre questões relacionadas a história das guerras e do racismo, bem como artigos, periódicos e matérias na internet de jornalistas conceituados, mas de jornais independestes, que tratam do tema de forma imparcial. De tal modo, buscou-se obter uma melhor apreciação do conteúdo apresentado no trabalho.
Assim, como destacado anteriormente, a pesquisa abordou os traumas de cada tipo de guerras atuais e sua influência no comportamento das pessoas que observam de longe. A análise abonou atenção aos aspectos de volume de informação criada sobre cada guerra e de que forma o mundo se solidarizou. Abordando assim, a comoção mundial por parte da mídia e da população, e se existe um uma correlação entre maior comoção e solidariedade com pessoas de peles mais claras e ricas.
4 Análise dos resultados
A análise indica que a mídia internacional frequentemente prioriza conflitos que ocorrem em países desenvolvidos, exemplificados pelo conflito na Ucrânia, em contraste com as guerras em regiões menos privilegiadas. Essa perspectiva etnocêntrica incorpora um preconceito que diminui o valor da vida nos países periféricos e sustenta o racismo estrutural.
Há uma retórica e preconceitos na mídia que evidencia o retrato do conflito na Ucrânia e que acentua a “civilização” das vítimas europeias, criando um forte contraste com a representação de conflitos em nações menos desenvolvidas. Essa narrativa perpetua estereótipos raciais e sociais, revelando assim a presença de racismo estrutural na cobertura.
Isso tudo traz à tona o impacto da cobertura desigual, no qual a pesquisa ilustra que a cobertura desequilibrada da guerra na Ucrânia exacerba a marginalização dos conflitos em regiões com diversidade racial e econômica. Esse fenômeno desumaniza as vítimas de guerras em países empobrecidos e destaca a maneira pela qual o racismo institucional molda a empatia global.
Como possíveis caminhos para a mudança, a fim de promover uma cobertura mais justa e enfrentar o racismo institucional, é imperativo que a mídia atribua valor igual a todas as vidas e avalie criticamente suas práticas. Essas medidas podem ajudar a reverter as disparidades na cobertura jornalística e promover a justiça nas narrativas da mídia.
5 Conclusões
A análise revela uma desigualdade significativa na cobertura midiática dos conflitos globais, com a guerra na Ucrânia recebendo atenção desproporcional em comparação com crises em países empobrecidos. Essa atenção desigual reflete uma forma de comoção seletiva, influenciada por fatores raciais e socioeconômicos.
A pesquisa demonstrou que a mídia tende a destacar tragédias envolvendo europeus brancos, enquanto conflitos em regiões marginalizadas são frequentemente negligenciados. Isso evidencia o racismo institucional e estrutural presente na cobertura midiática, onde a vida em países desenvolvidos é valorizada mais do que em áreas periféricas.
Os resultados indicam que a diferença no tratamento midiático molda a opinião pública e influencia a política internacional, perpetuando uma solidariedade seletiva e invisibilizando crises em países marginalizados. No entanto, a pesquisa enfrenta limitações, como a dependência de fontes midiáticas e a dificuldade em medir o impacto da cobertura na opinião pública de maneira abrangente.
Para futuras investigações, é essencial explorar como a cobertura de conflitos evolui e investigar o impacto de políticas e campanhas que promovam uma cobertura mais equitativa e inclusiva. A reflexão sobre a comoção seletiva e o racismo na mídia oferece uma oportunidade para promover uma representação mais justa das crises globais, reconhecendo o valor de todas as vidas humanas, independentemente da raça ou condição econômica.
Referências
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1ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6730-9390; Universidade Federal de Sergipe, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual – PPGPI, Brasil. E-mail: stonnynash@gmail.com
2ORCID: https://orcid.org/0009-0001-2748-088X; Instituto Federal de Alagoas, Docente externo, Santana do Ipanema, Alagoas, Brasil. E-mail: gustavo_vinicius01@hotmail.com