NEUROEDUCAÇÃO E TRANSDISCIPLINARIDADE: ABORDAGENS PARA O USO DE TELAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248091322


Alaide Palagano Ferreira1
Ronaldo do Nascimento Carvalho 2
Valeska Regina Soares Marques 3


RESUMO

A crescente presença de telas na vida cotidiana das crianças, incluindo dispositivos como tablets, smartphones e computadores, levanta questões significativas sobre os efeitos desse uso sobre o desenvolvimento cerebral e o processo de aprendizagem. O presente artigo objetiva analisar a integração entre a Neuroeducação à Educação Infantil, de forma Transdisciplinar, para compreender e gerenciar de maneira eficaz as interações entre crianças e os dispositivos eletrônicos, propondo diretrizes baseadas em evidências para uma utilização saudável, consciente e construtiva do uso das telas digitais no contexto educativo. A pesquisa envolveu revisão de literatura científica e acadêmica, abrangendo artigos, livros e periódicos datados dos últimos cinco anos, além de obras mais antigas relevantes, com abordagem básica qualitativa e descritiva. A dificuldade em encontrar material específico para o tema em apreciação, tornou a pesquisa mais desafiadora. Investigou-se a origem da Neurociência à Neuroeducação, a interação de ambas com a Transdisciplinaridade no uso das telas na Educação Infantil. Foram incluídas na coleta de dados orientações e diretrizes de Órgãos de Saúde e Educação, contribuições de especialistas em Neurociências e desenvolvimento infantil, para educadores, pais e formuladores de políticas públicas. Na análise e discussão de resultados, utilizou-se a metodologia de categorização baseada em Bardin (2011). O uso de telas por crianças é um fenômeno moderno que pode influenciar o desenvolvimento cerebral de várias maneiras, desta forma, analisar a interação entre a Neuroeducação e a Transdisciplinaridade, auxilia  a prática educativa, pois a  Neuroeducação fornece insights sobre como o cérebro aprende e como as tecnologias digitais podem ser projetadas para apoiar o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças pequenas e a Transdisciplinaridade, por sua vez, promove a integração de múltiplas disciplinas e áreas, para criar um currículo mais holístico e interconectado.

Palavras-chave: Neuroeducação e Transdisciplinaridade, Origem da Neuroeducação, Origem da Neurociência, Neuroeducação e telas digitais, Abordagem Holística.

ABSTRACT

The increasing presence of screens in the daily lives of children, including devices such as tablets, smartphones, and computers, raises significant questions about the effects of this usage on brain development and the learning process. This article aims to analyze the integration of Neuroeducation into Early Childhood Education in a Transdisciplinary way, to understand and effectively manage the interactions between children and electronic devices, proposing evidence-based guidelines for healthy, conscious, and constructive use of digital screens in the educational context. The research involved a review of scientific and academic literature, encompassing articles, books, and journals from the last five years, as well as relevant older works, with a basic qualitative and descriptive approach. The difficulty in finding specific material on the topic under consideration made the research more challenging. The origins of Neuroscience and Neuroeducation were investigated, along with the interaction of both with Transdisciplinarity in the use of screens in Early Childhood Education. Data collection included guidelines and directives from Health and Education Agencies, as well as contributions from specialists in Neuroscience and child development, aimed at educators, parents, and policymakers. In the analysis and discussion of results, a categorization methodology based on Bardin (2011) was employed. The use of screens by children is a modern phenomenon that can influence brain development in various ways; therefore, analyzing the interaction between Neuroeducation and Transdisciplinarity aids educational practice, as Neuroeducation provides insights into how the brain learns and how digital technologies can be designed to support the cognitive and emotional development of young children. Transdisciplinarity, in turn, promotes the integration of multiple disciplines and areas to create a more holistic and interconnected curriculum.

Keywords:   Neuroeducation and Transdisciplinarity, Origin of Neuroeducation, Origin of Neuroscience and Neuroeducation, Digital Screens, Holistic Approach.

  1. INTRODUÇÃO

  A crescente onipresença das telas digitais no cotidiano infantil, abrangendo dispositivos como tablets, smartphones e computadores, suscita questões relevantes acerca dos impactos deste uso no desenvolvimento cerebral e no processo educacional das crianças. A Neuroeducação e a Transdisciplinaridade são duas abordagens educacionais inovadoras que têm o potencial de transformar o ensino e a aprendizagem para a nova geração do século XXI: a Neuroeducação integrando conhecimentos da Neurociências e da Psicologia para aprimorar as práticas pedagógicas e os princípios da Transdisciplinaridade, que por sua vez, busca soluções para problemas complexos a partir da integração de múltiplas disciplinas e áreas afins.

O presente artigo busca integrar a Neuroeducação à Educação Infantil de forma Transdisciplinar, visando analisar e gerenciar de maneira eficaz as interações entre crianças e telas digitais, propondo orientações e diretrizes baseadas em evidências para promover uma utilização saudável, consciente e construtiva das tecnologias digitais tanto no ambiente educacional quanto no contexto familiar. O ensejo de trabalhar com a Transdisciplinaridade, consiste em evitar uma visão reducionista, analisando pontos de convergência e divergência entre diversos autores e Órgãos Governamentais da Saúde e Educação.

Quem se consagra a lecionar com a Educação de seres humanos, principalmente da Educação Infantil,  idade compreendida de zero a cinco anos, determinada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, alterada pela redação da Lei Federal nº 12.796/2013, Brasil (1996, 2013), é indispensável que  tenha o  conhecimento básico do sistema nervoso, de como o cérebro humano se desenvolve e aprende, a fim de direcionar propostas pedagógicas que atendam eficazmente às funções e necessidades cognitivas dos alunos.  Corroborando com esta perspectiva, o neurocientista Roberto Lent (2019), em sua obra “O Cérebro Aprendiz: Neuroplasticidade e Educação”, minuta a frase “A propriedade do sistema nervoso que está na raiz da educação.” (p. IX), evidenciando que há a necessidade da compreensão por parte dos educadores, de como funciona o sistema nervoso, abrangendo o cérebro e todos os seus componentes, para propor estratégias educacionais mais eficazes e alinhadas ao funcionamento cerebral dos alunos. Qualquer abordagem educacional diligente deve levar em consideração como o sistema nervoso funciona e como ele responde a diferentes métodos de ensino, ambientes de aprendizagem e estímulos externos (Lent, 2019).

Diante do exposto, o papel da Neuroeducação é imprescindível na Educação Infantil, uma vez que esta é a etapa mais importante do crescimento e amadurecimento cerebral humano, podendo através de estímulos, moldar o comportamento do indivíduo através de constantes alterações sinápticas cerebrais (Black et. al, 2016).

A relevância em integrar os estudos da Neurociência à Educação Infantil em relação ao uso dos dispositivos eletrônicos, como posicionam os neurocientistas Cosenza e Guerra (2011 apud Crespi, Noro e Nóbili, 2020), dá-se pelo fato de que, nesta faixa etária o cérebro humano tem a maior capacidade de sinapses. Quando a criança nasce, o cérebro pesa em torno de 400g e ao final do primeiro ano de vida dobra de peso e passa a ter cerca de 800g, devido à plasticidade cerebral que cria novas ligações ou sinapses (Cosenza e Guerra, 2011, apud Crespi, Noro e Nóbili, 2020).

O neurocientista Lent (2019), alude que o período mais importante de desenvolvimento cerebral encontra-se nos três primeiros anos de vida da criança, pois a arquitetura cerebral passa por diversas alterações estruturais, através de fatores geneticamente herdados e de estímulos externos, que quanto mais frequentes, tornam-se mais fortalecidos (Lent, 2019).

 Desta forma, cada vez mais as pesquisas em diversas áreas como Neurociências, Neuroeducação, Educação, Psicologia, dentre outras, devem começar na Educação Infantil para compreender o ser humano adulto ou reparar algo que possa vir a ser preocupante no futuro.

 2. METODOLOGIA

Este estudo adotou uma abordagem básica, qualitativa e descritiva, focando na análise de literatura e aplicação dos conceitos de Neuroeducação e Transdisciplinaridade, relacionando-as ao uso das telas digitais na Educação Infantil.  No processo de levantamento de aporte teórico, foram tecidas investigações embasadas em apreciações científicas, revisão bibliográfica, artigos acadêmicos, livros, literaturas publicadas, periódicos, com corte temporal de cinco anos, em portais internacionais e nacionais como: Google Acadêmico e Scielo, embora na revisão da literatura, muitos autores com obras mais antigas foram utilizados, por trazerem relevância ao estudo. Dificuldades significativas foram encontradas para localizar materiais adequados que abordassem especificamente as palavras-chave relativas ao tema: “Neuroeducação e Transdisciplinaridade”, “Neuroeducação e telas digitais”, “Neuroeducação e telas na Educação Infantil”, fato este, que tornou a pesquisa deste artigo mais desafiadora e instigante. Na coleta de dados foram incluídas orientações e diretrizes de Órgãos de Saúde e Educação, bem como de especialistas em Neurociências, Neuroeducação e desenvolvimento infantil. Na análise e discussão de resultados, utilizou-se a metodologia de categorização baseada em Bardin (2011).

3. RESULTADOS

3.1 Da Neurociência à Neuroeducação – Um Breve Histórico

   3.1.1 A origem da Neurociência

Segundo a SBNeC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (2018), a Neurociência emergiu com o propósito de desvendar as estruturas do sistema nervoso em seu estado normal e alterado, estudando as doenças mentais e neurológicas, ou seja, uma ciência predominantemente ligada à biologia e a saúde humana. As inovações tecnológicas das Neurociências na contemporaneidade não estão mais restritas à Neurologia, Biologia Celular, Psiquiatria ou à saúde humana. Atualmente a Neurociência é reconhecida como multidisciplinar com aplicações em diversos campos, tais como, Psicologia, Educação, Medicina, Ciência da Computação, Psiquiatria, Engenharia, Filosofia, Fonoaudiologia, Antropologia, dentre outros campos de estudo, buscando compreender o funcionamento do sistema nervoso, desde a estrutura básica das células nervosas até os processos complexos que governam o comportamento humano e animal.

Stanley Finger é um renomado historiador da Neurociência que se dedicou a detalhar a evolução do estudo do sistema nervoso ao longo dos séculos. Em sua obra Origens da neurociência: uma história de explorações sobre a função cerebral” (2001), oferece uma narrativa abrangente sobre como a Neurociência emergiu quanto campo de estudo desde os tempos antigos até o período contemporâneo. Abaixo encontram-se alguns pontos principais que Stanley Finger (2001), aborda em seu livro para detalhar a origem da Neurociência:

  • Antiguidade: Finger (2001) examina como civilizações antigas, como os egípcios e os gregos, começaram a desenvolver concepções rudimentares sobre a mente e o cérebro. Ele destaca figuras como Hipócrates e Aristóteles, que foram pioneiros em discutir as funções cerebrais e o papel do cérebro no comportamento humano.
  • Renascimento: Durante o Renascimento Europeu, houve um ressurgimento do interesse pela anatomia e fisiologia humanas. Stanley Finger (2001), discute como anatomistas como Andreas Vesalius realizaram estudos detalhados sobre o corpo humano, incluindo o cérebro e o sistema nervoso, utilizando técnicas de dissecação que permitiram um entendimento mais preciso da estrutura cerebral.
  • Séculos XVIII e XIX: Com o avanço das técnicas científicas, como a microscopia e o desenvolvimento de métodos de coloração de tecidos, houve um aumento significativo nas descobertas sobre a estrutura e as funções do sistema nervoso. Stanley Finger (2001), destaca figuras como Emil du Bois-Reymond e Hermann von Helmholtz, que foram fundamentais no estudo dos processos elétricos e na compreensão dos impulsos nervosos.
  • Neuroanatomia e Neurofisiologia: No século XIX, cientistas como Santiago Ramón y Cajal realizaram avanços significativos na descrição da estrutura celular do sistema nervoso. Finger (2001), explora como essas descobertas foram cruciais para entender como os neurônios se comunicam e formam redes complexas no cérebro.
  • Neurociência Moderna: O livro de Finger (2001), também discute como o século XX trouxe avanços revolucionários na Neurociência, com o desenvolvimento de técnicas como a eletroencefalografia (EEG), a ressonância magnética (MRI) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET). Essas tecnologias permitiram aos cientistas estudar o cérebro vivo e investigar processos cognitivos e emocionais com detalhes sem precedentes.

Ao longo de sua obra, Stanley Finger (2001), não apenas traça a evolução das ideias e descobertas científicas, mas também contextualiza como diferentes conjunturas culturais e avanços tecnológicos moldaram o campo da Neurociência ao longo do tempo.

   3.1.2   A origem da Neuroeducação

 Embora a Neuroeducação tenha começado a despontar no cenário acadêmico e educacional no início do século XXI, muitos educadores ainda não estão familiarizados com o conceito. Sua gênese remonta à defesa de uma Tese de Doutorado de Tracey Noel Tokuhama-Espinosa em 2008, na Universidade Capella, Estados Unidos (Capella University, Minneapolis, Minnesota, USA), tendo como orientadora a Dra. Elena Kays. Contudo, as pesquisas da Dra. Tokuhama-Espinosa relativas a esta temática, iniciaram-se nos anos 70 fomentadas por dois autores: Show e Stewart (1972) e Gardner (1974 apud Espinosa, 2008). Ao comparar as teorias de ambos, Espinosa (2008), descobriu que convergiam em alguns princípios, como por exemplo, que não há dois cérebros idênticos, devido à herança biológica (pontos congênitos) e ao meio externo (experiências).  O “elo” interligando a Neurologia, a Psicologia e a Educação, formando a nomenclatura à época “neuro-educadores”, de acordo com Sheridan (2005 apud Espinosa, 2008), partiu das percepções do Dr. Howard Gardner.

Sheridan (2005 e seus colaboradores apud Espinosa, 2008), passaram a ser os desbravadores em uma espécie de um protótipo de “Neuroeducação”, porém ao interligarem as três áreas: Neurologia, Psicologia e Educação, cometeram uma série de desacertos, violando e desrespeitando princípios éticos humanos. Professores e psicólogos analisavam exames médicos e prescreviam medicações aos alunos; neurologistas opinavam nos conteúdos pedagógicos e criavam softwares educativos, gerando uma série de problemas.

À luz do exposto, diversos pesquisadores debruçaram em pesquisas para estruturarem eticamente o que Espinosa passou a chamar de “Neuroeducação” em sua defesa de Tese de Doutorado em 2008, integrando três áreas, na qual as descobertas da Neurociência passaram a ocupar o lugar da Neurologia, ou seja, a tríade sobreveio a ser a integração entre a Psicologia, Neurociência e Educação (Espinosa, 2008).

Espinosa (2008 apud Silva e Azevêdo, 2024), elencou quatorze princípios básicos como fio condutores da Neuroeducação que não seguem necessariamente uma ordem hierárquica:

“a) estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; b) stress impacta aprendizado; c) ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; d) estados depressivos podem impedir aprendizado; e) o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não-ameaçador; f) as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., intenções boas ou más);g) feedback é importante para o aprendizado; h) emoções têm papel chave no aprendizado; i) movimento pode potencializar o aprendizado; j) humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; k) nutrição impacta o aprendizado; l) sono impacta consolidação de memória; m) estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; n) diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos.” (Espinosa, 2008, p. 78, apud Silva e Azevêdo, 2024).

3.2 Contribuições da Neuroeducação e da Transdisciplinaridade à    Educação Infantil

A Neuroeducação é um campo emergente que aplica descobertas da Neurociência e Psicologia ao contexto educacional para aprimorar as práticas pedagógicas, promover o desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos. Esta abordagem se baseia em princípios como a plasticidade cerebral, o desenvolvimento das funções executivas e a importância de criar ambientes de aprendizagem que atendam às necessidades neurocognitivas dos alunos (Consenza e Guerra, 2011 apud Silva e Azevêdo, 2024).

A plasticidade cerebral é definida por Consenza e Guerra (2011 apud Silva e Azevêdo, 2024), como a capacidade do cérebro em se reorganizar e se adaptar em resposta a novas experiências e aprendizagens. A Neuroeducação usa esse conceito para criar estratégias de ensino que podem moldar e melhorar as habilidades cognitivas ao longo da vida. As funções executivas são habilidades mentais que incluem a memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva, que são essenciais para o sucesso escolar e a adaptação social (Conzenza e Guerra, 2011 apud Silva e Azevêdo, 2024).

De acordo com Sommerman (2006  apud  Pereira, Adão e Silva, 2022), o termo  Transdisciplinaridade, foi introduzido por Jean Piaget em 1970,  durante o I Seminário Internacional sobre Pluridisciplinaridade e Interdisciplinaridade, na Universidade de Nice, França, organizado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), através da necessidade da limitação do ensino ser fragmentado em disciplinas especializadas.Parte superior do formulárioParte inferior do formulário

 Basarab Nicolescu (2008 apud Pereira, Adão e Silva, 2022), define que a Transdisciplinaridade vai além da mera colaboração entre disciplinas; ela propõe a criação de novos paradigmas de conhecimento que transcendem os limites das disciplinas tradicionais. Ao integrar saberes diversos, a Transdisciplinaridade visa abordar problemas complexos de maneira holística. Como sugere o prefixo “trans”, a Transdisciplinaridade se refere ao que está situado simultaneamente entre, através e além das disciplinas. Seu propósito é entender o mundo atual e um dos princípios fundamentais para alcançar isso é a integração dos conhecimentos. Edgar Morin, Morin (2007 apud Pereira, Adão e Silva, 2022), introduz o conceito de Transdisciplinaridadecomo uma maneira de superar as limitações do conhecimento fragmentado e disciplinar, ou seja, não é apenas uma combinação de diferentes disciplinas, mas um esforço para integrar e conectar saberes de maneiras que vão além das fronteiras disciplinares tradicionais. Essa abordagem busca compreender o mundo de maneira mais global e integrado, levando em consideração a complexidade e a interdependência dos fenômenos (Pereira, Adão e Silva, 2022).

Através da integração da Neuroeducação e da Transdisciplinaridade, resulta-se em novas metodologias de ensino que consideram não apenas os aspectos cognitivos, mas também os contextos sociais e culturais dos alunos. Por exemplo, uma abordagem transdisciplinar pode considerar como os fatores socioemocionais influenciam a aprendizagem e como as intervenções baseadas na Neurociências podem ser ajustadas para contextos específicos (Lent, 2019).

 3.2.1 Exemplos práticos da aplicação da Neuroeducação integrada à                                        Transdisciplinaridade na Educação Infantil

Lent (2019), defende que um currículo eficaz deve integrar diferentes áreas do conhecimento e experiências de vida para promover uma aprendizagem significativa, através de:

  • Projetos Transdisciplinares: Atividades de aprendizagem que integram todos os campos de experiências, explorando temas como mudanças climáticas ou sistemas ecológicos. Estes projetos podem ser estruturados para envolver a exploração prática de conceitos científicos e matemáticos, ao mesmo tempo que desenvolvem habilidades de pesquisa.
  • Ensino de Habilidades Sociais e Emocionais: Incorporar práticas de Neuroeducação que promovem o desenvolvimento das funções executivas e a regulação emocional dentro de atividades que cruzam diferentes áreas curriculares.
  • Ambientes de Aprendizagem Flexíveis: Criar ambientes de aprendizagem que promovam a colaboração entre disciplinas e que usem tecnologias e recursos digitais para conectar teoria e prática.

3.3 Abordagens sobre o Uso das Telas Digitais na Educação Infantil à Luz da Neuroeducação

De acordo com Panjeti-Madan e Ranganathan (2023), o uso das telas e a exposição a dispositivos digitais podem influenciar diferentes aspectos do desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças.  Estudos recentes indicam que o tempo excessivo de tela pode estar associado a problemas de atenção e dificuldades de socialização, mas também há evidências de que, quando usado adequadamente, pode oferecer oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Panjeti-Madan e Ranganathan (2023), sugerem algumas maneiras de como a Neuroeducação e a Transdisciplinaridade contribuem para a compreensão do neurodesenvolvimento infantil, conforme disposto abaixo:

  • Desenvolvimento Cognitivo: A Neuroeducação investiga como as telas digitais podem afetar a atenção, a memória e a capacidade de resolução de problemas. Estudos sugerem que o uso excessivo de telas pode estar associado a uma diminuição na atenção sustentada e na capacidade de concentração. Ao compreender esses efeitos, educadores e pais podem ajustar o tempo de tela e escolher conteúdos mais benéficos para apoiar o desenvolvimento cognitivo.
  • Impacto na Emoção e Comportamento: A exposição a telas digitais pode influenciar o desenvolvimento emocional e comportamental das crianças. A Neuroeducação examina como as interações digitais afetam o processamento emocional e as habilidades sociais. Por exemplo, o uso excessivo de redes sociais pode levar a problemas de autoestima e dificuldades na regulação emocional. Com essas informações, é possível promover estratégias para equilibrar o uso de telas e fomentar um desenvolvimento emocional saudável.
  • Alterações na Estrutura e Função Cerebral: Estudos de neuroimagem mostram que o uso intenso de telas pode afetar a estrutura e a função cerebral, especialmente em áreas relacionadas ao processamento visual e à função executiva. A Neuroeducação ajuda a identificar essas mudanças e a compreender como elas podem impactar o aprendizado e o comportamento das crianças.
  • Desenvolvimento Social: A interação social é crucial para o desenvolvimento infantil. A Neuroeducação explora como a exposição a interações virtuais em comparação com interações presenciais pode afetar o desenvolvimento das habilidades sociais e empáticas. Isso ajuda a identificar maneiras de equilibrar o tempo digital com experiências sociais reais para promover um desenvolvimento social mais robusto.
  • Cognitivo e Motor: A Neuroeducação também examina como o uso de dispositivos digitais pode afetar o desenvolvimento motor e a coordenação visomotora. Jogos e atividades digitais podem ter efeitos variados, e a pesquisa ajuda a identificar quais são benéficos e quais podem ter impactos negativos.
  • Desenvolvimento da Empatia: A Neuroeducação comprova que a falta de interação física pode limitar o desenvolvimento da empatia e das habilidades sociais, embora algumas plataformas digitais ofereçam oportunidades para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.
  • Problemas de Visão e Postura: A Neuroeducação investiga e comprova que o uso prolongado de telas pode causar fadiga ocular, problemas de visão e posturas inadequadas. Diretrizes de ergonomia e pausas regulares são necessárias para mitigar esses riscos.
  • Intervenções e Estratégias Educacionais: Com base nos conhecimentos da Neuroeducação, é possível desenvolver intervenções e estratégias para otimizar o uso de telas digitais. Isso inclui recomendações sobre tempo de tela, tipos de conteúdo e práticas educativas que considerem os princípios do desenvolvimento neurocognitivo infantil.

3.3.1 Diretrizes para a aplicação da Neuroeducação ao uso das telas digitais na Educação Infantil

O uso de telas digitais na Educação Infantil deve ser baseado em princípios neuroeducacionais que considerem como as crianças aprendem e se desenvolvem (Lent, 2019). De acordo o autor, segue abaixo algumas diretrizes facilitadoras para o contexto escolar:

  • Design de Conteúdos Educacionais: Os aplicativos e programas digitais devem ser projetados com base em princípios neuroeducacionais, como a criação de experiências de aprendizagem que sejam envolventes e que promovam a exploração ativa e a resolução de problemas.
    • Exemplo: Aplicativos que combinam jogos interativos com desafios cognitivos podem ajudar a desenvolver funções executivas, como o planejamento e a memória de trabalho.
  • Tempo de Tela e Saúde Cognitiva: A Neuroeducação sugere que o tempo de tela deve ser equilibrado com atividades físicas e sociais. Diretrizes como Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam limites de tempo e a supervisão de atividades digitais para prevenir efeitos negativos no desenvolvimento cognitivo e emocional.
    • Exemplo: A utilização de telas pode ser complementada com atividades off-line, como jogos de construção ou leitura de livros físicos, para oferecer uma variedade de estímulos e experiências.
  • Currículo Transdisciplinar com Telas: As telas podem ser usadas para conectar diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma abordagem educativa que vá além do conteúdo digital.
    • Exemplo: Um projeto que usa um aplicativo de ciências para explorar o ciclo da água pode ser integrado com atividades de arte para criar representações visuais do ciclo, e com atividades de matemática para medir e registrar dados sobre o processo.
  • Integração entre Teoria e Prática: A Transdisciplinaridade pode ser aplicada ao desenvolvimento de práticas pedagógicas que conectem as experiências digitais com atividades práticas e experiências do mundo real.
    • Exemplo: Após uma atividade em um aplicativo de matemática, as crianças podem resolver problemas matemáticos no mundo real, como medir ingredientes para uma receita.
  • Exploração de Temas Através de Múltiplas Perspectivas: Usar um aplicativo de leitura digital para explorar um livro pode ser complementado com discussões em grupo, atividades de escrita criativa e dramatizações.
    • Exemplo: Após ler um livro digital sobre um tema específico, as crianças podem escrever suas próprias histórias sobre o tema, criar ilustrações e compartilhar suas histórias com a turma.
  • Uso de Telas para Facilitar Aprendizagens Ativas: Aplicativos que permitem a criação de projetos, como vídeos ou histórias digitais, podem ser usados para promover a aprendizagem ativa e a expressão criativa.
    • Exemplo: Crianças podem usar um aplicativo para criar um vídeo sobre um conceito aprendido em aula, como o ciclo da vida de uma planta, e compartilhar seus vídeos com a turma.

3.4 A Aprendizagem Holística Advinda da Transdisciplinaridade, Neuroeducação e do Desenvolvimento de Competências

Embora Lent (2019), não utilize o termo “Transdisciplinaridade” diretamente, seus conceitos sobre a integração de teorias e práticas para o desenvolvimento de competências são congruentes aos da Transdisciplinaridade.  Lent é conhecido por sua “Teoria da Competência”, que enfatiza a importância de conectar teoria e prática para o desenvolvimento de habilidades que são aplicáveis a uma variedade de contextos. O autor argumenta que o ensino deve ser orientado para o desenvolvimento de competências que preparem os alunos para enfrentar desafios reais (Lent, 2019).

 Desta forma, com base nas teorias de Lent (2019) ao integrar as abordagens Transdisciplinares com a Neuroeducação, leva-se a uma aprendizagem integrada e holística, conforme descrita a seguir:

  • Currículo Transdisciplinar: A aplicação da Transdisciplinaridade permite a criação de currículos que conectam diferentes disciplinas com base em princípios neuroeducacionais. Por exemplo, a integração de ciência, matemática, e artes pode ajudar a solidificar conceitos através de múltiplas perspectivas e experiências (Lent, 2019).
  • Métodos de Ensino Baseados em Evidências: Usar métodos que considerem a plasticidade cerebral e as funções executivas pode ser mais eficaz quando esses métodos são aplicados de maneira transdisciplinar. Por exemplo, projetos que envolvem várias disciplinas podem ajudar os alunos a desenvolver habilidades cognitivas enquanto exploram problemas reais (Lent, 2019).

A teoria da competência de Roberto Lent (2019) aborda o desenvolvimento humano e a aprendizagem a partir da perspectiva das competências, enfatizando a importância de habilidades e conhecimentos que vão além da mera transmissão de informações. Principais bases desta teoria: desenvolvimento integral do alunos, contextualização, formação permanente e dinamismo. A formação de competências é vista como um processo dinâmico e contínuo, que ocorre ao longo da vida, e que pode ser aprimorado por meio da prática e da reflexão.

A aprendizagem holística busca formar indivíduos mais completos, capazes de lidar com a complexidade da vida contemporânea. Essa abordagem é particularmente relevante em um mundo em rápida mudança, onde habilidades como empatia, colaboração e pensamento crítico são essenciais.

3.5 Confrontando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com a Neuroeducação, a Transdisciplinaridade e a Teoria da Competência

Em consonância com a Teoria da Competência de Roberto Lent (2019), com as teorias da Neuroeducação e a Transdisciplinaridade, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2017), documento normativo para a educação nacional pública e privada brasileira, base obrigatória para elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas, designa as “competências” e “habilidades” que devem ser desenvolvidas ao longo de toda a Educação Básica. Com o advento da BNCC, trocou-se os termos antiquados para a Educação Infantil, tais como, matemática, linguagem oral e escrita, ciências da natureza, artes visuais, dentre outros, propondo uma nova organização curricular com os “Campos de Experiências”, que leva em consideração experiências que desenvolvam a criança integralmente, corrobora com o enfoque da Neuroeducação.

 Em relação as definições dos termos “competência” e “habilidade”, “Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana […]” (Brasil, 2017, p.8). Todos esses conceitos envolvem a Neurociência, uma vez que as capacidades relatadas são ativadas por um sistema cognitivo gerido pelas funções executivas, que são coordenadas pelo córtex pré-frontal e englobam habilidades cognitivas cruciais para a realização de tarefas com o objetivo de alcançar metas. As habilidades socioemocionais, atitudes e valores são principalmente controladas e mediadas pelo Sistema Límbico, Córtex Cingulado Anterior, Ínsula e pelo Córtex Pré-Frontal do cérebro. O desenvolvimento de competências, que inclui conceitos e procedimentos, envolve várias regiões do cérebro que colaboram para a aquisição do conhecimento, habilidades e a execução de tarefas complexas. As principais áreas envolvidas são: Córtex Pré-Frontal, Córtex Motor, Córtex Parietal, Córtex Temporal, Hipocampo, Córtex Cingulado Anterior (Dispenza, 2023).

A Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2017) e a Teoria da Competência de Roberto Lent (2019), compartilham várias similaridades, tais como: a formação integral do aluno, a definição do desenvolvimento de competências e habilidades ao longo da educação básica, contextualização do ensino, aprendizado significativo e ligado à realidade dos alunos, integração dos saberes e práticas do cotidiano, formação que vai além do conteúdo curricular, integração de diferentes áreas do conhecimento, promoção de habilidades socioemocionais, as competências desenvolvidas na escola são essenciais para o aprendizado contínuo, formação de alunos autônomos, críticos e capazes de tomar decisões.

Essa sinergia entre as abordagens pode contribuir para uma prática educativa mais efetiva e relevante no contexto atual.

3.6 Diretrizes para o Uso Saudável das Telas Digitais Segundo os Órgãos de Saúde e Educação

A Organização Mundial da Saúde – OMS (2019), emitiu diretrizes específicas sobre o uso de telas para crianças com base em evidências científicas, sobre os impactos da exposição à mídias digitais. Segue abaixo um resumo das principais recomendações da OMS:

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE DIRETRIZES PARA O USO DE TELAS POR CRIANÇAS
FAIXA ETÁRIARECOMENDAÇÃO
Crianças menores de 1 anoA recomendação é que crianças menores de um ano não sejam expostas à telas, exceto para vídeochamadas com familiares e amigos.
  Crianças de 1 a 2 AnosA recomendação é que o tempo de tela deve ser limitado a menos de uma hora por dia. Se a exposição ocorrer, deve ser de qualidade e acompanhada por um adulto, para garantir que as interações sejam educativas e enriquecedoras.
Crianças de 2 a 5 AnosA recomendação é que o tempo de tela não ultrapasse uma hora por dia para crianças de dois a cinco anos. Novamente, a exposição deve ser monitorada por um adulto e deve ser de conteúdo educativo e apropriado.
A Importância da Atividade Física e SonoA OMS enfatiza que o tempo de tela não deve substituir atividades físicas e deve ser equilibrado com tempo para brincadeiras físicas, sono adequado e interações sociais.

  Fonte: Autoria dos Pesquisadores

Essas orientações visam promover o desenvolvimento saudável das crianças, reduzindo riscos associados ao uso excessivo de mídias digitais, como problemas de sono, comportamento sedentário e impactos no desenvolvimento social e cognitivo.

A Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP (2016, 2019, 2019-2021), oferece diretrizes detalhadas sobre o uso de telas por crianças, com base em evidências sobre os impactos no desenvolvimento infantil. Aqui está um resumo das principais recomendações da SBP aos pais e/ou responsáveis:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA DIRETRIZES PARA O USO DE TELAS POR CRIANÇAS
FAIXA ETÁRIARECOMENDAÇÃO
Crianças com Menos de 2 AnosA SBP recomenda que crianças menores de dois anos não tenham acesso a telas, com exceção de vídeochamadas para interações com familiares e amigos.
  Crianças de 2 a 5 AnosPara crianças entre dois e cinco anos, a SBP sugere que o uso de telas seja limitado a no máximo uma hora por dia. É importante que esse tempo seja supervisionado por um adulto e que o conteúdo seja apropriado e de qualidade.
Acompanhamento e SupervisãoA SBP destaca a importância de os pais ou responsáveis acompanharem o uso de telas, garantindo que o conteúdo seja educativo e que a exposição seja equilibrada com atividades físicas e interações sociais.
Promoção de Atividades SaudáveisAlém das limitações no tempo de tela, a SBP enfatiza a necessidade de promover atividades físicas regulares, sono adequado e brincadeiras não digitais para um desenvolvimento saudável.

  Fonte: Autoria dos Pesquisadores

A Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP (2016, 2019, 2019-2021), fornece orientações específicas para o uso de telas em ambientes escolares, refletindo preocupações com o desenvolvimento saudável das crianças. Aqui estão algumas das principais recomendações da SBP para as escolas:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS PARA O USO DE TELAS EM AMBIENTES ESCOLARES DE EDUCAÇÃO INFANTIL
  Limitação do Tempo de TelaA SBP recomenda que o tempo de uso de telas seja limitado também nas atividades escolares. A utilização de dispositivos digitais deve ser controlada para evitar a exposição excessiva e garantir que não substitua atividades físicas e interações sociais importantes.
  Uso Educativo e SupervisionadoAs telas devem ser usadas para fins educativos e de forma supervisionada. É crucial que o conteúdo acessado seja apropriado para a idade e que as atividades digitais sejam integradas ao currículo de maneira que enriqueçam o aprendizado, sem substituir métodos tradicionais de ensino.
Integração com Atividades Off-lineA SBP sugere que as atividades com telas sejam equilibradas com atividades off-line, como jogos, esportes e interações sociais. O objetivo é promover um desenvolvimento equilibrado, evitando que o tempo de tela interfira em aspectos essenciais do crescimento infantil.
  Ambiente de AprendizadoAs escolas devem criar um ambiente de aprendizado que não dependa excessivamente da tecnologia. A integração das tecnologias digitais deve ser feita de forma a apoiar e complementar o ensino, sem sobrecarregar os alunos.
  Educação sobre o Uso de Tecnologia:É importante que as escolas ofereçam orientações e educação tanto para alunos quanto para pais sobre o uso saudável e seguro de tecnologias digitais. Isso inclui ensinar sobre os riscos associados ao uso excessivo e a importância de manter um equilíbrio.
  Acompanhamento e AvaliaçãoAs escolas devem monitorar e avaliar regularmente o impacto do uso de telas no aprendizado e no bem-estar dos alunos. Ajustes devem ser feitos conforme necessário para garantir que o uso de tecnologia beneficie a educação sem comprometer a saúde e o desenvolvimento das crianças.

 Fonte: Autoria dos Pesquisadores

Essas recomendações visam promover um ambiente educacional saudável e equilibrado, garantindo que a tecnologia seja utilizada de forma que apoie e enriqueça o processo de aprendizagem, ao mesmo tempo que preserve o bem-estar geral dos alunos.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Desafios e Oportunidades

Ao analisar a integração entre a Neuroeducação à Educação Infantil de forma Transdisciplinar, para compreender e gerenciar de maneira eficaz as interações entre crianças e os dispositivos eletrônicos, propondo diretrizes baseadas em evidências para uma utilização saudável, consciente e construtiva das tecnologias digitais no contexto educativo, é importante destacar que a Neuroeducação não visa resolver todos os desafios educacionais, mas se apresenta como uma ferramenta complementar. De acordo com Silva e Azevêdo (20024), a Neuroeducação não apresenta bula, receita, nem prescreve soluções definitivas para estimular a aprendizagem, mas oferece orientações para que os educadores enfrentem o desafio de criar experiências que favoreçam o funcionamento neural dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo.

Através da pesquisa e com base na metodologia de categorização de Bardin (2011), seguem alguns pontos de destaque abaixo:

1. Pontos relevantes

  •  Conhecimento sobre o Sistema Nervoso por parte dos Educadores: Conforme destaca Lent (2019), conhecer o funcionamento do sistema nervoso, faz com que os educadores desenvolvam métodos de ensino eficazes para melhorar a memória, atenção e a compreensão dos alunos, a gestão de comportamento, o desenvolvimento cognitivo e emocional; a inovação e a melhoria contínua da qualidade do ensino.
  •  Tempo de Tela: Educadores e pais devem seguir as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (2019) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016, 2019, 2019-2021), que recomendam limites específicos para o tempo de tela com base na idade e promovem um equilíbrio entre as atividades infantis.
  •  Conteúdo Educativo: É necessário que na escolha deaplicativos e programas digitais que sejam baseados em evidências, com objetivos claros e adequados à faixa etária e que incentivem a aprendizagem ativa e criativa (Lent, 2019).
  • Supervisão e Mediação: É de suma importância acompanhar o uso das telas pelas crianças, discutindo o conteúdo e garantindo que a tecnologia seja usada para fins educativos e não apenas como uma forma de entretenimento passivo (SBP, 2016, 2019, 2019-2021).
  • Ambientes de Aprendizagem: Os ambientes de aprendizagem devem ser criados de forma a integrar as telas de maneira estratégica e intencional, com a presença de adultos capacitados guiar e mediar as experiências digitais (Lent, 2019).
  • Políticas Públicas: O poder público deverá desenvolver programas de formação para pais e educadores sobre os impactos das telas e as melhores práticas para o seu uso saudável (SBP, 2016, 2019, 2019-2021).
  • Políticas Escolares: É de suma importância criar políticas escolares que integrem o uso de tecnologia de forma equilibrada, promovendo a educação digital e a formação de habilidades para a vida (Lent, 2019).
2. Neurociência e Educação Infantil
  •  Desenvolvimento Cognitivo: A neurociência tem mostrado que o cérebro infantil é altamente plástico e sensível às experiências. Isso significa que a forma como as crianças interagem com o ambiente pode ter um impacto significativo no desenvolvimento cognitivo. Experiências ricas e variadas podem promover conexões neuronais mais robustas e uma melhor capacidade de aprendizagem (Lent, 2019).
  •  Atenção e Memória: Estudos indicam que a atenção e a memória das crianças podem ser afetadas pela exposição a diferentes tipos de estímulos. A aprendizagem ativa e a interação com o ambiente físico tendem a promover uma melhor retenção de informações comparado ao aprendizado passivo (Lent, 2019).
 3. Neuroeducação e Práticas Pedagógicas
  •  Metodologias de Ensino: A Neuroeducação aplica conhecimentos da neurociência para otimizar o processo de ensino-aprendizagem. Metodologias que envolvam a prática ativa, a repetição e a multimodalidade (uso de vários sentidos) são mais eficazes porque alinham-se com os processos naturais de aprendizagem do cérebro (Lent, 2019).
  • Individualização do Ensino: O conhecimento sobre as diferenças individuais no desenvolvimento cerebral permite que os educadores personalizem o ensino para atender às necessidades únicas, promovendo um ambiente mais inclusivo e eficaz (Lent, 2019).
4.Transdisciplinaridade na Educação
  •   Integração de Conhecimentos: A Transdisciplinaridade envolve a integração de diferentes áreas do conhecimento para resolver problemas complexos. Na educação infantil, isso significa que os educadores podem combinar abordagens de diversos Campos de Experiências para oferecer uma aprendizagem mais holística e conectada (Lent, 2019).
  •  Desenvolvimento de Competências: A abordagem Transdisciplinar promove habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas e colaboração, que são essenciais para o desenvolvimento integral das crianças (Lent, 2019).
5. Uso de Telas Digitais na Educação Infantil
  •   Benefícios: As telas digitais, quando usadas de forma controlada e com propósito educativo, podem oferecer recursos interativos e multimodais que estimulam o aprendizado. Aplicativos educacionais e vídeos podem ser ferramentas úteis para introduzir novos conceitos e manter o engajamento das crianças (Panjeti-Madan e Ranganathan (2023).
  •   Riscos e Desafios: A exposição excessiva às telas pode ter efeitos negativos, como a redução da capacidade de atenção, memorização, postura, problemas de visão e impactos no desenvolvimento social e emocional. A prática de atividades físicas e interações sociais presenciais são fundamentais para o desenvolvimento equilibrado das crianças (Panjeti-Madan e Ranganathan 2023).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Adentrar no campo de estudo da Neuroeducação e Transdisciplinaridade para analisar e aprofundar os conceitos, é uma tarefa valiosa e enriquecedora principalmente em relação à Educação Infantil, uma vez que é a faixa etária da etapa mais importante do desenvolvimento cerebral humano.

A Neuroeducação e a Transdisciplinaridade são ferramentas fundamentais para a compreensão, fundamentação e orientação quanto à parcimônia e ao equilíbrio em relação ao uso das telas digitais pelas crianças da Educação Infantil. Investigar sobre o desenvolvimento cerebral e adotar uma abordagem integradora, holística e interconectada para compor os currículos, permitem que os dispositivos digitais sejam utilizados de forma que potencializem o aprendizado e o desenvolvimento das crianças, ao mesmo tempo que previnam os impactos negativos no futuro. A chave é criar um ambiente educacional que aproveite os benefícios das tecnologias digitais, promovendo uma experiência de aprendizagem rica e diversificada.

O tema do artigo abre portas para novas pesquisas, uma vez que o assunto não finda-se por aqui. Ao explorar a relação entre Neuroeducação, Transdisciplinaridade e o uso de telas digitais por crianças da Educação Infantil, com foco em evidências científicas, trouxe contribuições que resultaram na promoção do uso equilibrado e consciente da tecnologia, que respeita o desenvolvimento neurocognitivo das crianças, bem como apresentou orientações e diretrizes práticas para uma utilização saudável das tecnologias digitais, com recomendações para pais, educadores e formuladores de políticas públicas, visando promover um uso equilibrado e benéfico das telas digitais em prol da infância.

REFERÊNCIAS

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BLACK, M.M. et al..Lancet Early Childhood Development Series Steering Committee. Early childhood development coming of age: science through the life course. Lancet. 2017 Jan 7;389(10064):77-90. doi: 10.1016/S0140-6736(16)31389-7. Epub 2016 Oct 4. PMID: 27717614; PMCID: PMC5884058. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)31389-7/abstract Acesso em: 23 jul. 2024

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1 (alaidepalagano@hotmail.com), Mestranda no curso de Ciências da Educação da Universidad de la Integración de las Américas – UNIDA/PY. https://orcid.org/0009-0001-8439-0434

2 (dr.ronaldocarvalho@gmail.com)  Pós-Doutor na Universidad Ibero Americana/PY, Doutor em administração pela Universidad Americana/PY, Doutor em educação pela Universidad Columbia del Paraguay, Mestre em administração pela Universidad Americana/PY, Mestre no Programa território e expressões culturais no cerrado – TECCER/UEG.  https://orcid.org/0000-0002-5957-9518

3 (valeska_br@hotmail.com)Pós-Doutor na Universidad Ibero Americana/PY, Doutora em Saúde Pública pela Universidad Americana; Mestre em Saúde Pública pela Universidad Americana, Especializada em Docência do Ensino Superior; Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Graduada em pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Boa Esperança. https://orcid.org/0000-0003-1274-9345