NEUROEDUCAÇÃO APRESENTANDO OS CAMINHOS DA MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202507180751


Mackson Azevedo Mafra1
Igor Azevedo Araújo2
Paulo Itaciomar Teles Bastos3
Raiana dos Santos Nascimento4
Jaqueline Pereira dos Santos5
Elissandra Nascimento Araújo6


RESUMO 

Como função cognitiva e elemento central da identidade humana, a memória desempenha um papel  vital na construção do conhecimento e da experiência individual e coletiva. Compreender os caminhos  da memória é crucial não apenas para entender como processamos e armazenamos informações, mas  também para explorar seu impacto em nossas interações sociais, formação cultural e preservação  histórica. Este artigo explora a importância do estudo da memória, seu impacto em diversas áreas do  conhecimento e como ela afeta os indivíduos e a sociedade de forma mais ampla. A memória humana  pode ser compreendida por meio de diferentes sistemas e processos inter-relacionados. A psicologia  cognitiva identificou três tipos principais de memória: memória sensorial, memória de curto prazo e  memória de longo prazo. Cada memória possui características únicas que influenciam a forma como a  informação é adquirida, retida e recuperada. Compreender esses mecanismos é crucial para aprimorar  métodos educacionais, psicoterápicos e intervenções sociais. Além disso, estudos recentes  demonstraram que a neuroplasticidade pode alterar os circuitos neurais relacionados à memória,  abrindo novas perspectivas para o tratamento de doenças neurodegenerativas. Neste sentido esta  revisão de literatura mostra como a Neuroeducação e a memória estão correlacionados, formando mais  um alicerce para o desenvolvimento educacional. 

Palavras chave: Neuroeducação, Memoria, Educação 

ABSTRACT

As a cognitive function and a central element of human identity, memory plays a vital role in the  construction of knowledge and individual and collective experience. Understanding memory pathways  is crucial not only for understanding how we process and store information, but also for exploring its  impact on our social interactions, cultural formation, and historical preservation. This article explores the  importance of studying memory, its impact on various fields of knowledge, and how it affects individuals  and society more broadly. Human memory can be understood through different interrelated systems  and processes. Cognitive psychology has identified three main types of memory: sensory memory,  short-term memory, and long-term memory. Each memory has unique characteristics that influence how  information is acquired, retained, and retrieved. Understanding these mechanisms is crucial for  improving educational methods, psychotherapy, and social interventions. Furthermore, recent studies  have shown that neuroplasticity can alter neural circuits related to memory, opening new perspectives  for the treatment of neurodegenerative diseases. In this sense, this literature review shows how  Neuroeducation and memory are correlated, forming another foundation for educational development. 

Keywords: Neuroeducation, Memory, Education 

INTRODUÇÃO 

A Neuroeducação é uma área interdisciplinar que combina conhecimentos da  neurociência, psicologia e educação para aprimorar o processo de ensino.  Compreender como o cérebro aprende, armazena e recupera informações é essencial  para o desenvolvimento de estratégias educacionais mais eficazes. Este artigo explorará a interseção entre neurociência e educação, com foco em como os  mecanismos de memória afetam a aprendizagem. 

A memória é um dos pilares da aprendizagem e pode ser dividida em diferentes  tipos, como memória de curto e longo prazo. Pesquisas mostram que a memória não  é fixa, mas um processo dinâmico que envolve múltiplas áreas do cérebro, incluindo  o hipocampo e o córtex pré-frontal. A plasticidade sináptica, que se refere à  capacidade das conexões neurais de se fortalecerem ou enfraquecerem ao longo do  tempo, é essencial para a formação de memórias duradouras. Explorar esses  fundamentos neurobiológicos pode ajudar educadores a desenvolver técnicas para  melhorar a retenção de informações pelos alunos. 

As emoções desempenham um papel importante na aprendizagem e na  formação da memória. A teoria do processamento emocional sugere que experiências  emocionais intensas podem facilitar ou dificultar a retenção de informações. Em  ambientes educacionais, é fundamental criar um ambiente emocional positivo para  incentivar o engajamento dos alunos. Pesquisas mostram que, quando os alunos se  conectam emocionalmente com o conteúdo, sua capacidade de memorizar e aplicar  o conhecimento melhora significativamente são as chamadas Estratégias Instrucionais  Baseadas em Evidências. 

Neste sentido, conhecer os caminhos da memória e de como o cérebro recebe, processa e aprende é de fundamental importância para que se possam ser criadas  estratégias que aprimorem a transmissão do conhecimento de forma eficaz. Esta  investigação está registrada na Plataforma Brasil sob o número CAAE  74771523.0000.5015, a qual submeteu o projeto de pesquisa ao conselho de ética da  Universidade Nilton Lins registrada com o cep: 69.058-030, que conforme parecer  número: 5.582.158, aprovou a realização da investigação aqui desenvolvida.

NEUROEDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIA: TECENDO VISÕES DOS BENEFÍCIOS  DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INOVADORAS NO COTIDIANO ESCOLAR 

A neurociência é uma ciência nova que está cada vez mais se consolidando  em ambientes educacionais. Ao analisar como o cérebro aprende e como se relaciona  com o ambiente, é possível compreender a estimulação necessária para desenvolver  o cérebro de forma otimizada. Nesse caminho, ganha destaque a importância de os  educadores basearem suas práticas instrucionais em conhecimentos neurocientíficos  que correspondam à singularidade de cada aluno. 

Como já foi descrito neste trabalho, o desenvolvimento do sistema nervoso  humano se inicia logo nas primeiras semanas de gestação do embrião, inicialmente  parecendo a um minúsculo tubo que tem suas paredes formadas por células-tronco  que originam todos os neurônios e também a maior parte das células gliais. Essas  células-tronco dividem-se continuamente para que haja a formação de novos  neurônios, que em pouco tempo se tornam bilhões.  

A primeira missão que esses novos neurônios recebem é a de deslocar-se para  seus lugares de origem. Ao chegar ao seu destino, iniciam-se o crescimento dos  prolongamentos dos dendritos e axônios, indispensáveis para a recepção e envio de  estímulos a outras células, processo conhecido como sinapses. Neste processo de  construção, os neurônios são gerados em uma proporção muito além do que seria  preciso, por esse motivo, muitos são descartados, principalmente por não estarem  localizados no lugar correto ou por não formarem as ligações neurais necessárias.  Cosenza & Guerra, 2011, exemplifica esse processo a “brincadeira infantil das  cadeiras”, em que os participantes que não conseguem assegurar o seu lugar vão  sendo eliminados um após o outro.

O corpo humano é hoje considerado, como uma máquina, pode-se afirmar, a  mais perfeita e complexa já criada, com capacidades de percepção de  diferentes formas de energias provindas do ambiente, que ao chegar aos  receptores sensoriais periféricos, são transmitidas como informação ao SNC,  após, passam por um processo de seleção que permite distinguir aqueles que  são importantes. Para Cosenza & Guerra, muito dessa distinção parte da capacidade da atenção, pois: “Através do fenômeno da atenção somos capazes de focalizar em cada momento determinados aspectos do ambiente deixando de lado o que for dispensável.” (COSENZA & GUERRA 2011, p. 41).

Há dois tipos de atenção: a reflexa e a voluntária. A primeira dá atenção  especial aos estímulos periféricos enquanto a segunda dá maior atenção aos estados internos do próprio organismo. Estudos cerebrais afirmam que há dois circuitos  reguladores do processo de atenção. O circuito orientador que permite o desligamento  da atenção de determinado foco, deslocando-o para outro, selecionando o estímulo  mais relevante. O segundo circuito é o executivo, este possibilita manter de maneira  prolongada a atenção ao foco em questão, desprezando intencionalmente estímulos  distratores. Conforme Siquara 2014:

As funções executivas representam um conjunto de habilidades cognitivas  que, de forma integrada, permitem que os humanos dirijam comportamentos  a metas, planejando e executando ações de forma sequenciada e voluntária para atingir os objetivos. (SIQUARA 2014).

O circuito executivo é relevante para que haja o funcionamento adequado da  aprendizagem consciente, por estar ligado à capacidade de mudança de  comportamento. É interessante mencionar que a atenção executiva tem estreita  ligação com o controle cognitivo e o emocional, existem comprovações que uma  atividade pode inibir a outra. Os estudos de Cosenza & Guerra, ressaltam que:  “Emoções negativas intensas podem interferir na atenção ao processamento  cognitivo.” (2011, p. 46). Nesse processo de atenção, quando fazemos duas coisas paralelamente, por exemplo: estudar e escutar música, não serão processadas ambas  as informações passadas ao mesmo tempo pelo mesmo canal, pois o cérebro fará  uma alternância entre as concorrentes, o que traz a conclusão que parte da  informação será perdida.  

O cérebro possui os dispositivos necessários e estes estão a todo o momento  pronto para aprender, no entanto, para que de fato aconteça é necessário que este  reconheça o aprendizado como significante. Para os alunos de modo geral, não é  diferente, eles necessitam reconhecer o conteúdo a ser estudado como algo  importante, para que tenham as suas atenções capturadas para aquela aula  determinada. 

Neste contexto, o professor tem papel de extrema importância no momento da  aprendizagem, que vai desde a sua formação acadêmica, passa pela elaboração de  seu plano de aula até a execução do mesmo. Quanto à escolha do conteúdo a ser  ministrado, deve ser feito de maneira menos aleatória possível, aliás, essa é uma  forma que deveria ser totalmente descartada da prática dos docentes. É necessário  pensar sobre a finalidade deste conteúdo e sobre o objetivo a ser atingido. Como  apresentá-los aos alunos de maneira atraente e significativa? 

Nesta etapa seria importante a informação acerca de como cada aluno aprende  melhor, qual a área cerebral mais indicada individualmente para aquisição dos  saberes, se é por meio da música, da dramatização, da leitura, por vídeo, ou pela  explicação do professor no quadro.  

O professor precisa saber que o cérebro é estimulável, e que necessita de  estímulo para se desenvolver, e quando há a concorrência entre dois estímulos, por  exemplo, o bate-papo entre colegas e o assunto exposto na lousa, ele optará pelo que  lhe parecer mais atraente. Por isso, se os alunos perceberem que o professor usa  sempre as mesmas práticas pedagógicas, dia após dia, para ministrar suas aulas,  usando apenas o livro didático, a lousa e o pincel como suas ferramentas de trabalho,  não encontraram dificuldades em mudar seu foco de atenção, pois já sabem  exatamente os passos a serem traçados pelo professor. Sem contar que estas  práticas não serão contabilizadas como experiência para a discente e sim mera  repetição. 

Mas, se esse profissional vier diariamente munido com estratégias  diferenciadas, como, quis, trabalho em grupo ou dupla, perguntas relâmpagos,  competição entre meninos e meninas, entre outras, com certeza o cenário será outro,  a chance do cérebro optar pelas conversas paralelas, reduzem-se em um nível  considerável, o cérebro irá optar pelo NOVO, pois isso o atrai. 

Em um dos seus mais célebres estudos, Augusto Cury (2003), propõe um  contraste entre os bons professores e os professores fascinantes, aponta que os  primeiros podem fazer seus trabalhos com perfeita maestria, no entanto, o segundo  grupo, são aqueles que acreditam na vida e transformam a daqueles que passam por  suas mãos. São os que percebem que educar é também realizar a mais bela e  complexa arte da inteligência, que possui a humildade e serenidade para esvaziar-se  e a sensibilidade para estar disponível em aprender. Sabem a importância de educar  a emoção, incentivando seus alunos a irem além, reconhecendo suas debilidades e  vencendo seus medos. Fazem da memória o suporte da arte de pensar, por  acreditarem que fazer e criar vai muito além de uma simples reprodução e repetição. 

Os docentes não são super-heróis e estão longe da perfeição, porém acreditam  que através da boa educação, podem deixar sua parcela de contribuição para a  humanidade. E isso os torna inesquecíveis na vida daqueles que foram ensinados a resolverem seus problemas, não só na sala de aula, mas na vida, local para o qual  eles foram educados. Além de todos esses ensinamentos, o autor sugere que:

Bons professores têm uma boa cultura acadêmica e transmitem com segurança e eloquência das informações em sala de aula. Os professores fascinantes ultrapassam essa meta. Eles procuram conhecer o funcionamento da mente dos alunos para educar melhor. Para eles, cada aluno não é mais um número na sala de aula, mas um ser humano complexo, com necessidades peculiares. (CURY, 2003, p. 57).

Ser um professor fascinante, é proporcionar ao aluno uma viagem sem sair do  lugar, cada vez que uma nova aula se inicia, é muito mais do que usar a voz, é fazer  uso do sentimento e gerar nestes o amor pelo aprendizado, assim, será cativada além  da atenção, a emoção. É ultrapassar a boa didática e tocar o coração de seus alunos,  apesar de parecer que esse processo está sendo romantizado, o que se precisa nos  dias de hoje, com a geração que chega a escola, não são bons professores, mas,  professores fascinantes. 

Fazendo uma analogia com uma das histórias presentes na bíblia, pode-se  sugerir que seja este o “Golias” de boa parte dos professores, e assim como a bíblia  relata que Davi o venceu, assim também tais profissionais precisam vencer esse  gigante. Neste sentido acreditamos que o professor deve trazer conteúdos que  estejam ligados ao cotidiano dos estudantes, atendendo as particularidades do  ambiente social que o discente está inserido. Fazer a evocação dos conteúdos prévios  já estudados é uma boa estratégia para atender as expectativas desses alunos e  alcançar o objetivo na transmissão do novo assunto a ser estudado. O professor  estará oportunizando aos alunos a relação do conteúdo novo com aquele que ele já  aprendeu em outro momento.  

Sendo assim, a plasticidade sináptica é essencial para a aprendizagem e  memória, e estudos destacam a importância da interação entre genes, experiências e  fatores sociais no desenvolvimento cerebral e comportamental (Hohl, 2020; Oliveira  et al., 2019; Dias & Reis, 2009). A memória permite que o indivíduo crie sua identidade  e compreenda o mundo. Para que as informações sejam registradas na memória  é necessário aprender (Barros & Sousa, 2022; Gomides et al., 2021). 

Anteriormente, foi citado que as sinapses que ocorrem através dos neurônios  são formadas e organizadas considerando a trajetória e vivência individuais dos  alunos, por isso, não tem como deixar de frisar que o meio em que se está inserido,  as experiências e ensinamentos adquiridos em outros momentos e em determinadas  circunstâncias irão contribuir neste processo do novo. Para Vygotsky 2000: “o  aprendizado das crianças começa muito antes de elas frequentarem a escola. 

Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem  sempre uma história prévia.” (VYGOTSKY, 2000, p. 210). 

No contexto educacional, o ensino é mediado pelo professor, e a neurociência  busca entender os mecanismos neurais da formação da memória e aprendizagem  para aprimorar a educação. Hermann Ebbinghaus foi um pioneiro nesta pesquisa,  destacando a importância da repetição e associação de informações na fixação da  memória (Gomides et al., 2021). 

Desta forma, a aprendizagem envolve mudanças na estrutura dos neurônios,  afetando a memória (Barros & Sousa, 2022; Gomides et al., 2021; Hohl, 2020).  Durante a memorização e aprendizado, as sinapses podem se fortalecer ou  enfraquecer devido a experiências externas. A consolidação da memória é um  processo que converte traços de memória instáveis em formas mais permanentes  (Barros & Sousa, 2022; Rodrigues, 2022), com o sono desempenhando um papel  importante nesse processo, permitindo ao cérebro reforçar memórias na ausência de  estímulos externos (Barros & Sousa, 2022). 

Portanto, o ensino adquire mais valor para o aluno quando este consegue filtrar  nas informações que estão sendo recebidas conexões com aquilo que ele já está  familiarizado. Neste sentido o professor deve sempre fazer um link entre o novo e o  antigo, assim o professor poderia aproveitar o momento e solicitar que alguns alunos  relatassem algum fato vivido por eles, como o repasse do troco errado ao ir comprar  alguma coisa, antes de inserir os conhecimentos das operações matemática,  demonstrando a importância e necessidade de tal conteúdo ou nas aulas de ciências  ou biologia ao trabalhar certos tipos de doenças comuns, o docente poderia solicitar  que os alunos usassem seus conhecimentos empíricos para dizer qual planta  medicinal seria recomendada para curar certas doenças e assim sucessivamente em  todas as disciplinas e conteúdo a serem trabalhados. 

MEMÓRIA 

Na extraordinária trajetória da aprendizagem, a mesma perpassa por uma  importante via denominada memória, valiosa peça em armazenar e guardar as  informações e conhecimentos. Uma das propriedades mais instigantes do ser humano  e que desperta curiosidade em muitos para saber como a mesma é processada e  como é seu desenvolvimento no decorrer da vida dos indivíduos. 

A memória é utilizada na função cognitiva e encontra-se praticamente em  todos os momentos de vida do indivíduo, alguns estudiosos arriscam que seja desde  a concepção embrionária. Sua falta pode tornar em grandes desafios atividades  simples do cotidiano. Dalmaz & Netto, 2004, contribuem dizendo que:

Considere aquilo que você sabe a respeito do mundo, dos outros e de você mesmo: toda essa informação foi adquirida através da experiência e está armazenada em suas memórias. Somos seres com história, construímos nossa identidade através de um processo que mescla as experiências vividas  no ambiente e as nossas vivências interiores; assim, somos quem somos  porque aprendemos e lembramos. (DALMAZ & NETTO, 2004, p.30).

Pode-se afirmar que o ser humano é fruto de suas memórias. Parafraseando o pensador Martins: O homem sem história é um homem sem raízes. E Augusto  Cury, corrobora com esse pensamento afirmando que: Um homem sem história é  como um livro sem letras. Ambos os pensamentos poderiam ser complementados, ao  afirmar-se que um indivíduo sem memória é um ser sem história. Imagine como seria  sua vida se não houvesse as lembranças de momentos vividos, independentes das  circunstâncias e se estes foram tristes ou felizes, e se caso, não houvesse a  possibilidade de lembrar-se das aprendizagens antes adquiridas? Seria, como um  corpo ausente, sem ter partido. 

Carretero & Castorina, org. (2014) definem memória como:

Um componente básico da cognição que permite ao indivíduo interagir com o meio e que embasa os demais processos cognitivos. Armazenamos em nossa memória as imagens que recebemos as novas informações aprendidas recentemente e, além disso, utilizamos nossos conhecimentos prévios para compreender novos conceitos, bem como para resolver problemas e raciocinar. (CARRETERO & CASTORINA, 2014, p.41).

Os estudos de Izquierdo (, 2018), traz a concepção de que só será lembrado  àquilo que foi gravado, aquilo que foi aprendido. Para ele não há a possibilidade de  alguém fazer o que não sabe ou comunicar o que desconheça. Aponta à  impossibilidade da disposição dos conhecimentos inacessíveis, cada um tem o seu  acervo próprio de memória o que torna de todos, ser único e individual. No entanto,  estudos de Cury, 2003, apontam que há a possibilidade da falta de lembrança, não  pela inexistência da mesma, mas por um bloqueio ocorrido na memória por algum  trauma, devido a sofrimentos vivenciados em determinada fase da vida. Ele afirma  que: “Este bloqueio é uma defesa inconsciente que evita o resgate e a reprodução da  dor emocional.” (CURY, 2003, p. 108) 

É nítido quão importante é o processo da memória para o ser humano, pode se dizer que ela é a premissa para uma vida feliz e para o autoconhecimento, é através  desse incrível componente que se vivenciam momentos marcantes e tem-se o poder de  defini-los como tal. Para o senso comum, a memória trata-se do armazenamento de  fatos, acontecimentos e experiências vividas por cada indivíduo. Bacelar, 2009, define  memória como: “A capacidade de registrar a informação e depois evoca-la.”  (BACELAR, 2009, p. 18). O autor acredita ser indispensável para a aprendizagem a  utilização da memória e que não há como uma existir sem a outra. Para ele:

A memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivamento e a recuperação de experiência. Portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a aquisição de novos conhecimentos. A memória é a retenção dos conhecimentos aprendidos. (BACELAR, 2009, p. 18).

A memória é essencial ao aprendizado. Cury traz em seus estudos o  questionamento a respeito de como ocorre esse processo. Para ele: “O aprendizado  depende do registro diário de milhares de estímulos externos (visuais, auditivos,  táteis) e internos (pensamentos, e reações emocionais), nas matrizes da memória.”  (CURY, 2003, p. 22). Com base nesse processo, a maneira mais prática e rápida para  o professor verificar se o aluno aprendeu ou está dominando determinado conteúdo  exposto é por meio do resgate de suas memórias, local onde é plantada a educação.  Os professores podem verificar a consolidação desses conhecimentos, através de  relatórios ao final das aulas, podendo acontecer de forma escrita, oral, em debates  entre outros. 

Por vezes, memória e aprendizagem são pensadas com a mesma definição, e  apesar de estarem entrelaçadas, ambas possuem seus próprios conceitos. A primeira  é o depósito de armazenamento do que foi adquirido pela segunda, no entanto, esse  armazenamento não acontece de forma tão simples como parece. Há um processo a  ser seguido e vários estágios a serem vencidos. 

Existem diferentes tipos de memória, classificadas como: memória sensorial,  memória de curto prazo (MCP) e memória de longo prazo (MLP). Carretero &  Castorina, 2014, contribuem mostrando como se dá o caminho da informação, os  autores afirmam que:

A informação proveniente do meio, obtida através dos sentidos, é registrada na memória sensorial; desta passa à memória de curto prazo, onde é codificada e mantida durante alguns segundos; e, por fim, transferida à memória de longo prazo, onde será armazenada de forma mais permanente. (CARRETERO & CASTORINA, 2014, p.44).

Através dos avanços das pesquisas científicas, houve o aparecimento de  outras classificações que permitem definir melhor o funcionamento da memória. A  memória de curto e longo prazo subdivide-se em: Memória de trabalho ou operacional,  memória declarativa ou explícita e memória não declarativa ou implícita. Por sua vez, a declarativa ainda se divide em: memória semântica e memória episódica. O quadro  a seguir exemplifica tal divisão:

DIVISÃO DA MEMÓRIA

Fonte: http://psicologiacop.blogspot.com/p/memoria.html

MEMÓRIA SENSORIAL 

A memória sensorial que está na ordem de milissegundos, é a memória  considerada a mais rápida de todas. É onde acontece à primeira impressão na  consciência. Dar-se-á através da ajuda dos sentidos do corpo, como visão e audição,  que por meio destes, permite uma descrição completa do meio, neste estágio o  cérebro poderia ser comparado a uma peneira, pois, boa parte das informações  passadas nessa etapa, são simplesmente descartadas. Isso porque, não há sentido,  por exemplo, em o aluno guardar a lembrança da sensação da primeira vez que  segurou a caneta ou o lápis, ou do toque de sua farda em seu corpo, ou até mesmo o  som da voz de sua professora ao dar a primeira saudação para a turma. Cury, 2003,  alerta que: A educação clássica transformou a memória humana num banco de dados.

A memória não tem essa função. Como disse, grande parte das informações  que recebemos nunca será recordada. No entanto, apesar do pouquíssimo tempo que  essa informação tem de durabilidade é suficiente para ser codificada e enviada à  próxima memória, denominada de curto prazo. Neste caso, se a informação  processada for digna de relevância poderá ser mantida, ao contrário a mesma será  desprezada. 

MEMÓRIA DE CURTO PRAZO 

Ao tratar-se das informações armazenadas com pouca durabilidade de tempo,  evidencia-se a memória de curto prazo, com informações geralmente trazidas da  memória sensorial. Segundo Longoni, 2003:

A memória de curto prazo possui uma capacidade limitadora de  armazenamento, podendo, portanto, conter e elaborar apenas uma quantidade pequena de informações; além disso, se mesmo estas não forem retidas de alguma maneira, por exemplo, sendo repetidas mentalmente ou em alta voz, elas se perdem. (LONGONI, 2003, p. 9).

A principal característica da memória de curto prazo é sua limitação quanto ao  armazenamento de informações e quantidade dessas que dura em média de 15 a 30  segundos. Apesar da memória em questão manter um número reduzido de  informações em curto espaço de tempo, elas são produzidas de forma consciente. 

Estudos indicam que, para a formação da memória e curto prazo (MCP), são  necessárias alterações estruturais e funcionais nos neurônios, incluindo mudanças  morfológicas nas sinapses, pontos de comunicação neuronal, causadas por vários  sinais intracelulares (Gomides et al., 2021) 

Na memória de curto prazo, há a memória denominada operacional ou de  trabalho, é uma memória transitória, antes conhecida como de curta duração. O  desempenho das tarefas próprias do cotidiano está direcionado a ela como de sua  responsabilidade básica, além de fazer a seleção e análise de tais informações, bem  como conectar, sintetizar e resgatar aquelas já apreendidas fazendo conexões com  as novas. Nos estudos de Longoni, a autora afirma que a memória de trabalho,  remete-se a década de 80, e que apesar de manter-se a essência da memória de  curto prazo, por meio de suas características básicas quanto à limitação e ao  armazenamento temporário das informações, ela é vista como um sistema bem mais  complexo, por não funcionar apenas como um armazém temporário, mas, por participar efetivamente como um elaborador de informações no decorrer da realização  de diferentes tarefas de aprendizagem. 

Portanto para Baddeley, 2011: “A MO pressupõe o armazenamento temporário,  mas também a manipulação, de modo a permitir que as pessoas executem atividades  complexas como raciocínio, aprendizado e a compreensão.” (Baddeley, 2011, apud  SIQUARA 2014). Os estudos de Carretero e Castorina, org. (2014), ressaltam que:

A memória de curto prazo ou operacional está intimamente ligada à amplitude  atencional, isto é, à capacidade ou ao número de unidades às quais um indivíduo, em determinado momento, pode prestar atenção e recordar posteriormente (CARRETERO & CASTORINA, org. 2014, p. 42).

Para Cosenza & Guerra, 2011, há um fator determinante para haver essa  transição de MCP para MO. Segundo os autores:

A memória de trabalho dispõe, contudo de um processo adicional que vai permitir a conservação da informação por mais tempo. Isso é feito por meio da ativação de registros já armazenados no cérebro, tornando-os acessíveis à consciência para o uso na ocasião. (COSENZA & GUERRA, 2011, p.54).

No entanto, a MO é uma memória transitória, necessita de ativações por meio  de repetição da aprendizagem ou informação adquirida, caso contrário o resultado  será o rápido esquecimento. Esta memória é de extrema importância no processo de  ensino-aprendizagem, para Siquara 2014:

Evidências apontam que quanto melhor a capacidade da MO, melhor é a capacidade de aprendizado. Crianças que possuem baixa capacidade de memória operacional têm dificuldades em seguir instruções em sala de aula, executar tarefas mais complexas e são mais lentas na capacidade de  aprendizado. (SIQUARA 2014).

Neste estágio da memória, pode-se compará-la a uma ponte, que ligará as  informações relevantes da memória sensorial com a memória de longo prazo, no  entanto, nesta etapa da memória, as informações devem ser acessadas e  reproduzidas de imediato. Conforme os autores acima demonstraram, a memória de  trabalho é fundamental no âmbito escolar, é através dela que há a possibilidade do  entendimento das instruções verbais ou não verbais, a resolução de cálculos e  problemas matemáticos mentalmente, a leitura de textos e sua exposição oral, entre  outros. Quando, por exemplo, em sala de aula, a criança é instruída verbalmente a  escrever as palavras ditadas, formar uma frase com cada uma delas e após escolher  duas palavras para que seja feito um desenho bem bonito. O aluno que possuir uma  boa memória operacional conseguirá seguir tais instruções sem maiores dificuldades,  porém se a criança que por algum motivo, emocional, patológico ou por déficit de atenção, tiver essa memória comprometida, quando a professora finalizar o último  comando, ela não lembrará o que era para ser feito no primeiro. 

Quando o professor orienta seus alunos que após a leitura do texto feita por  ele, os mesmo irão fazer uma exposição oral baseado naquilo que foi lido, e após,  algum aluno se posiciona, dizendo que não consegue fazer porque não entendeu  nada, ou simplesmente não lembra o que foi lido, pode ter ocorrido à falta de atenção  pelo mesmo, mas, também pode ter ocorrido desse aluno ter problemas relacionados  à memória operacional. Se o professor, não possuir o conhecimento sobre essa  debilidade cerebral, apontará que o aluno está inapto à aprendizagem. Ou se o  professor estiver sobrecarregado apenas irá deixar passar despercebido, ou ainda se  o docente não dominar a transmissão de conhecimento criará uma lacuna nessa  comunicação, pois, em muitos casos alguns alunos conseguem entender a explicação  feita por um colega, mas não consegue ter o mesmo entendimento quando proferido  pelo seu professor. 

Neste momento, se o aluno não identificar ou não julgar o conteúdo que está  sendo transmitido como relevante, não demonstrará a atenção necessária. Por vezes,  este, não percebe tais conteúdos como úteis para serem utilizados em um futuro mais  distante, por isso, estudam somente para passar na prova, utilizam a repetição como  estratégia para decorar o que precisa para tirar uma boa nota, isso apenas permitirá  o armazenamento das informações até o momento da avaliação ou enquanto estiver  sendo repetida, no entanto, após esse período terá pouca durabilidade, pois essa  memória não obteve uma boa significância ou traço de memória forte. 

Portanto, sempre que o cérebro identificar que uma informação é relevante irá  caracterizar o processo da memória operacional. Quando a mesma passa por um filtro  de atenção, após por um processo de codificação, até que finalmente a experiência  vivenciada ou a informação recebida ativa os neurônios para que aconteça o processo  da sinapse. 

MEMÓRIA DE LONGO PRAZO 

Quando a MO passa pelo processo de consolidação temos a transição desta,  para a memória de longo prazo. Desta consolidação, Cosenza & Guerra, 2011,  entendem que a mesma é:

Indispensável para que os registros no cérebro sejam repetidos por tempo maior. Na consolidação ocorrem alterações biológicas nas ligações entre neurônios, por meio das quais o registro vai se vincular a outros já existentes, tornando-se permanentes. (COSENZA & GUERRA, 2011, p. 63).

A memória apresentada logo acima, é a que permite registrar no cérebro as  informações de maneira mais prolongada, denominada de memória de longo prazo,  Longoni, 2003, esclarece que: “A memória de longo prazo possui uma capacidade  enorme, no sentido de que pode conter um número praticamente ilimitado de  informações, as quais nela residem de maneira mais ou menos permanente.”  (LONGONI, 2003, p.9). Esta memória perpassa por três processos necessários para que a informação seja fixada de maneira definitiva no cérebro: repetição, elaboração  e consolidação. Para Carretero & Castorina Org.2014:

Os processos de repetição e elaboração é que vão determinar a força do registro ou traço de memória que será formado. Informações muito repetidas, ou muito elaboradas, resultarão em novas conexões nervosas estabilizadas no cérebro. Elas se constituirão em registros fortes, que tendem a resistir ao  tempo e mesmo a alterações do funcionamento cerebral. (CARRETERO &  CASTORINA, ORG. 2014, p.63).

Nesta etapa da memória, são usadas as informações que possuem  maior durabilidade. É nesta memória que se encontram aqueles conteúdos que foram  transmitidos pelo professor de modo eficiente, através de recursos didáticos  diferenciados tornando as aulas mais dinâmicas. Neste estágio as informações são  transformadas em estímulos e são recordadas após dias, meses e anos, aliás,  dificilmente são esquecidas, bastando que as mesmas sejam reforçadas com o passar  do tempo. 

A memória de longo prazo permite modificações estruturais e funcionais no  cérebro, ativando as conexões sinápticas, ou seja, a troca de informações por meio  dos neurônios, no córtex cerebral as informações ou aprendizagens novas  confrontam-se com antigas, fortalecendo estas últimas e formando as primeiras. Neste  estágio da memória o aluno consegue dar sequência a conteúdos aprendidos nas  séries anteriores. Daí a importância do professor está fazendo esse resgate dos  conteúdos prévios de seus alunos, para que estes possam fazer ligamentos ou  conexões dos conteúdos novos com os já aprendidos em outro momento, fortalecendo  as sinapses, permitindo a consolidação dessa memória. 

Desses conteúdos, muitos serão perdidos no decorrer do caminho, no entanto,  outros estarão seguros nas lembranças e aptos para serem evocados a qualquer momento. Essa memória é considerada sem restrições, com quantidade praticamente  ilimitada de informações por tempo indefinido. 

MEMÓRIA EXPLÍCITA 

A memória de longo prazo é dividida em: memória declarativa também  conhecida por memória explícita e memória não declarativa ou memória implícita.  Silvério & Rosat, 2006 reforçam tal afirmativa dizendo que:

A memória humana possui duas amplas categorias – a declarativa (ou  explícita) e a não declarativa (ou implícita). A memória declarativa. Está associada à rememoração consciente de fatos, conceitos e eventos; a não declarativa opera no inconsciente. (SILVÉRIO & ROSAT, 2006).

A memória explícita é definida como reconhecimento ou lembrança consciente  dos conhecimentos adquiridos. Para Longoni, 2003: “Por memória declarativa  entende-se todas aquelas informações que uma pessoa consegue descrever e sobre  as quais é capaz de refletir, por exemplo, a lembrança de um evento específico.”  (LONGONI, 2003, p. 17). Nesta memória estão armazenados os episódios marcantes  da infância, as travessuras que por ventura deixaram algumas marcas no corpo ou  episódios traumáticos que marcaram a mente, assim como os conhecimentos  adquiridos na escola. Ou seja, todas as informações que se tornem possíveis de  verbalizar. Para Cury, há na memória as Zonas de Conflitos, que também podem ser  conhecidas como favelas da memória. São aquelas lembranças que foram marcando  a memória negativamente. 

Muitos alunos encontram-se depressivos ou agem agressivamente por esses  tipos de situações. E boa parte dos professores, por não terem conhecimento do que  está acontecendo, preferem optar pelo julgamento a oferecer-lhes ajuda. Na maioria  das vezes, o aluno insensível e brigão, já sofreu muito e sua agressividade é uma  reação desesperada de pedido de ajuda. Durante o período escolar, são  apresentados muitos conteúdos aos alunos, das diversas disciplinas obrigatórias de  acordo com cada ano de ensino. Quando por exemplo, o professor ministra uma aula  de história falando sobre o descobrimento do Brasil, e pergunta aos alunos o que eles  sabem a respeito, e estes começam a relatar conhecimentos adquiridos dos anos  anteriores fazendo ligação destes com os ensinos atuais, eles estão fazendo uso da  memória declarativa, ou seja, declarando, verbalizando uma aprendizagem que foi  adquirida no passado. Assim como há alunos, que quando o professor diz, por  exemplo, vocês lembram que aprenderam sobre o que é sílaba e como se faz sua separação? Vamos precisar desses ensinamentos para dar início ao novo assunto,  classificação quanto ao número de sílabas, e esses alunos ficam “perdidos”, como se  nunca tivessem escutado falar em algo parecido. É a falta ou comprometimento da  área responsável pela memória explícita. 

A memória explícita divide-se em: episódica e semântica. A primeira está  relacionada aquelas lembranças de momentos da vida pessoal e a segunda refere-se  a lembranças dos símbolos, daquilo que traz algum significado para o que se encontra  ao nosso redor. Dias & Fernandez, explicam que:

A memória episódica e a memória semântica representam componentes independentes da memória de longo prazo. Por via de regra, a primeira possibilita a formação da segunda, fornecendo conteúdo para isso, enquanto a semântica facilita que novas memórias episódicas sejam formadas (Greenberg & Verfaellie, 2010, apud. Dias & Fernandez 2011, p.21).

Longoni, 2003, traz em seus estudos evidências de que a memória episódica  esteja alicerçada principalmente nas lembranças daquilo que faça referências a  própria pessoa que vive a memória, ou seja, aquelas que têm ligação direta com quem  lembra tal fato acontecido, a autora sugere que seja a sensação de reviver a  experiência do próprio evento. São as memórias que remetem a eventos específicos,  como lembrar o nome da primeira professora e o nome do melhor amigo da época da  escola. Evidencia também, que a memória semântica, é a que possui o conhecimento  geral do mundo, possui como característica distintiva o uso dos conhecimentos sem  preocupação em como os mesmos foram adquiridos. São as recordações de fatos e  conceitos do mundo em geral, como saber que Manaus é a capital do Amazonas, ser  capaz de associar as letras a seus fonemas e saber quando foi declarada a  independência do Brasil, por exemplo. 

As duas memórias mencionadas complementam uma a outra, a memória  semântica permite a expressão do que aconteceu já a episódica, permite a evocação  desse acontecimento em dado momento e local específico, no entanto, vale ressaltar,  que memória semântica e episódica, baseiam-se em sistemas diferentes, não  dependendo uma da outra, apesar de se complementarem. 

MEMÓRIA IMPLÍCITA 

A memória implícita é a capacidade de realizar uma ação consciente, mas sem  a necessidade do resgate intencional de nenhuma lembrança ou experiência adquirida  anteriormente. Também chamada de não declarativa, que coloca em pauta lembranças e aprendizagens que não necessitam de intenção ou esforço para serem  manifestadas, Bolognani et al., entendem por memória implícita como aquela que tem  a:

Capacidade de adquirir habilidades percepto-motoras ou cognitivas, através da exposição repetida a um estímulo ou atividade; estas experiências só podem ser aferidas pela melhora no desempenho do indivíduo, já que não são expressas de desempenho do indivíduo, já que não são expressas de maneira consciente ou internacional (BOLOGNANI, et al., 2000 apud MAPURUNGA & CARVALHO, 2018, p. 68).

Carretero & Castorina, 2014, corroboram dizendo que:

A estrutura física do processamento humano de informação se baseia no modelo do armazenamento múltiplo proposto por Atkinson e Shiffrin (1968), no qual se postulam três sistemas ou armazéns sequenciais de memória: a memória ou armazém social, a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. (CARRETERO & CASTORINA, org. 2014, p. 46).

Nesta, há a memória que está intrinsecamente associada às habilidades  referentes ao cotidiano, instalada por meio da repetição, a memória de procedimentos.  Essa memória é uma das mais utilizadas nas atividades humanas, como por exemplo:  danças, esportes, atividades que requeiram habilidades motoras. Essas  aprendizagens são consideradas mais ou menos automatizadas por isso se diz que  foge a consciência. Dias e Fernandez declaram que: “A memória implícita caracteriza se pelo fato de não depender de processos conscientes e de difícil verbalização.  Envolve procedimentos, habilidades motoras, e hábitos.” 

A memória implícita permite a realização de ações motoras comuns, está  relacionada a tudo aquilo que a maioria das pessoas fazem sem a necessidade de  pensarem a respeito, por serem atividades consideradas mecânicas, ligadas no  conhecido “modo automático”. Como, andar de bicicleta, escovar os dentes, escrever,  ir à escola pelo caminho habitual, entre outros. Como diz o conhecido ditado popular:  “É como andar de bicicleta, você nunca esquece”. São aquelas atividades que  independente do tempo que não são realizadas, ainda assim é possível voltar a  realizá-las.  

Acima foram apresentados dois tipos principais de memória e suas subdivisões  e como estas são processadas, a memória faz referência à identidade do indivíduo. É  uma ferramenta que o torna único, afinal cada um tem as suas. É o que permite ao  ser humano a plena liberdade de ir e vir, traduzindo no sentido mais amplo dos direitos  universais do mesmo, pois é considerada como: “A caixa de segredos da personalidade. Tudo o que somos, o mundo dos pensamentos e o universo de nossas  emoções são produzidas a partir dela.” (CURY, 2003, p. 104) 

É um processo complexo, no entanto, usa-se com frequência a analogia do  computador, permitindo a compreensão do funcionamento desta de forma mais  simplista. Tal comparação dar-se-á pelo grande armazenamento de arquivos em um  computador e o acesso a eles, parecido ao processo de armazenamento da memória  no cérebro e sua evocação. Em ambos há diferentes tipos de memórias, com tempos  de armazenamento bem diferenciados. Porém, há alguns pontos distintos, que  diferenciam os participantes desta analogia, no computador, o arquivo guardado ao  ser acessado, independentemente do tempo de armazenamento, estará intacto, tal  qual como era ao ser gravado, no cérebro é diferente. Os arquivos foram guardados  por trechos, e ao serem acessados serão encontrados apenas aqueles selecionados  como relevantes. 

Através das literaturas consultadas, consolida-se a noção da importância da  memória para todos os indivíduos. Sabendo que a mesma não é um processo unitário,  pois depende de uma cadeia neuronal, de fatores periféricos e internos para  acontecer. Pelos apontamentos, é possível afirmar que diante das situações  vivenciadas no cotidiano os diversos tipos de memória interagem entre si. As regiões  responsáveis pelo armazenamento das lembranças são diversas, não sendo  restringido a uma área específica.

Segundo Lombroso (2004), o hipocampo e o lobo temporal medial são responsáveis pela formação das memórias explícitas, ao passo que várias outras regiões do cérebro, incluindo o estriado, a amígdala e o cerebelo, estão envolvidos na memória implícita. (LOMBROSO, 2004, apud MAPURUNGA & CARVALHO, 2018, p. 68).

A mesma representa uma função de extrema complexidade e de maior valia  para o ciclo da vida. Possui estreita ligação com a aprendizagem, pois esta última  depende da primeira para sua efetiva consolidação. Neste processo percebe-se a  importância ímpar dos professores, no entanto, ser um bom professor não é o  suficiente, estes precisam ser “fascinantes”, verdadeiros garimpeiros à procura de  tesouros que estão guardados na particularidade de cada aluno, de modo especial.  Pois cada um carrega consigo suas próprias experiências, umas positivas e  agradáveis e outras nem tanto. 

Portanto, com base nas explicações dos autores podemos concluir sem medo,  que sem memória, as pessoas teriam um mundo menos colorido, menos feliz e com menos vida. Portanto, a memória, em todos os seus viés e estruturas, das mais  rápidas até as mais duráveis, tem um peso imensurável na balança chamada vida.  Pois é dela que parte, nossas motivações, anseios, desejos, medos, felicidades e  tantos outros sentimentos que impulsiona o ser humano a querer ir além e aprimora se cada vez mais. 

CONSIDERAÇÕES REFLEXIVAS 

A aplicação dos princípios da neurociência à educação pode levar a práticas  de ensino mais eficazes. Estratégias como repetição espaçada, prática ativa e uso de  multimídia baseiam-se em pesquisas sobre como o cérebro se lembra de informações.  Além disso, a aprendizagem personalizada, que leva em consideração estilos de  aprendizagem individuais, também se mostra promissora. A implementação desses  métodos exige treinamento contínuo dos educadores para garantir que se mantenham  atualizados com as últimas descobertas científicas. 

Apesar dos avanços na Neuroeducação, integrá-la às salas de aula continua  sendo um desafio. A resistência à mudança nas instituições de ensino e a falta de formação profissional de professores podem limitar a aplicação de práticas baseadas  em evidências, o futuro da Neuroeducação depende não apenas dos avanços na  pesquisa científica, mas também da colaboração entre cientistas e educadores para  criar ambientes de aprendizagem que respeitem as necessidades cognitivas dos  alunos. 

A memória não é apenas um fenômeno individual, mas também se manifesta  de forma coletiva por meio do que se conhece como “memória coletiva”. A “memória  coletiva” refere-se à maneira como grupos sociais, comunidades e nações se lembram  dos eventos significativos que moldaram sua identidade. Por meio de narrativas  históricas, rituais e tradições, a memória coletiva ajuda a estabelecer um senso de  pertencimento e continuidade entre os membros de uma sociedade. Analisar essas  memórias coletivas é crucial para a compreensão de conflitos sociais, dinâmicas de  poder e processos de reconciliação em sociedades pós-conflito. 

A Neuroeducação representa uma oportunidade valiosa para transformar  práticas educacionais ao entender melhor os mecanismos da memória e  aprendizagem humana. A interdependência entre emoção, cognição e contexto social  deve ser considerada no desenvolvimento curricular. Ao adotar uma abordagem  baseada em evidências, os educadores podem não apenas melhorar a retenção de conhecimento, mas também fomentar um ambiente mais inclusivo e motivador para  todos os alunos. 

Conhecer os caminhos da memória é um empreendimento multidimensional  que envolve não apenas aspectos psicológicos e neurológicos, mas também  considerações culturais, sociais e éticas. À medida que avançamos no entendimento  dessa complexa rede de experiências humanas, torna-se evidente que a memória  desempenha um papel fundamental na formação das sociedades contemporâneas. A  valorização desse conhecimento pode contribuir para práticas mais eficazes em  educação, saúde mental e políticas públicas, promovendo uma sociedade mais  consciente de sua história e capaz de aprender com seus erros. 

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SIQUARA, Gustavo Marcelino, A influência da memória operacional no  desempenho acadêmico em crianças de 7 a 12 anos de idade. Salvador, 2014.


1DOUTOR em Ciência da Educação pela Universidad de lá Integración de Las Américas, UNIDA PY, Graduado em Geografia – UEA 2013, Graduado em Pedagogia pela Faculdade ÚNICA, PROMINAS – 2024, Professor da SEDUC-AM, E-mail: mackson.azevedo@hotmail.com;

2Graduado em enfermagem pela UNIP no ano de 2020, Graduado em Matemática pela Faculdade ÚNICA, PROMINAS – 2024,  Especialista em UTI Urgência e Emergência, Enfermeiro na Agsus-DSEI-ARS, contato: igorazevedo@outlook.com.br

3DOUTOR em Ciência da Educação pela Universidad de lá Integración de Las Américas, UNIDA PY, Graduado em Ciências  Biologicas pela UFAM 1999, Professor da SEDUC-AM / Coordenador da UAB, E-mail: itaciomarbastos@yaoo.com.br

4Especialista em Administração escolar, Supervisão e Orientação pela UNIASSELVI, Graduada em Pedagogia pela Universidade  do Estado do Amazonas no ano de 2011, Professora da SEDUC-AM. Contato: rnsantos2012@yaoo.com.br

5Doutoranda em Ciência da Educação na Universidad de lá Integración de Las Américas, UNIDA PY, Graduada em Pedagogia  pela UFAM no ano de 1999, Pedagoga na SEDUC-AM, Contato: Jaqueline.doutorado2024@gmail.com

6DOUTORA em Ciência da Educação pela Universidad de lá Integración de Las Américas, UNIDA PY, Graduada em Pedagogia  pela UFAM no ano de 2003, Assessora Pedagógica na SEDUC e SEMED, Contato:elissandra1311@gmailcom