MÚSICA: INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NA REABILITAÇÃO COGNITIVA COM IDOSOS COM DÉFICT DE MEMÓRIA UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7068944


Autoras:
Layla Katharine de Freitas Ferreira Santana1
Maria de Fátima Ferrão Castelo Branco2


RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma revisão de literatura de cárater qualitativo, cujo objetivo foi compreender o que a literatura vigente traz sobre influência a utilização da música como instrumento de intervenção terapêutica ocupacional em idosos com déficit de memória.Os dados foram na base coletados da Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil) na língua inglesa e portuguesa sendo averiguados pela análise de conteúdo,modalidade temática e período de publicação. Os resultados evidenciaram que existem inúmeros benefícios da música na memória do idoso, que desencadeiam desde resgates de lembranças, situações vivenciadas; evocação de sentimentos;e até mesmo o controle da dor. Por sua vez, a música na reabilitação cognitiva, pode ser inserida pelo terapeuta ocupacional durante a intervenção, pois ela acarreta resultados duradouros e sensações de alívio e relaxamento, melhorando assim a qualidade de vida do paciente.Concluiu-se,portanto, que a música é um intrumento positivo na busca do bem-estar do indivíduo idoso e na estimulação cognitiva é uma ferramenta eficaz.

Palavras-chave: idoso, música, memória, terapia ocupacional.

ABSTRACT

The present study is a literature review with a qualitative focus whose objective is observing what the literature brings about the influence of music as an instrument of occupational therapy intervention in elderly with memory deficits. The data were collected from the Scientific Electronic Library Online (SciELO Brazil) in English and Portuguese language, being checked for content analysis, thematic modality, and publication period. The results showed countless benefits of music in the memory of the elderly from rescues of memories, situations experienced; evocation of feelings, or even pain control. For this reason, music in cognitive rehabilitation can be inserted by the occupational therapist during the intervention. It leads to lasting results and feelings of relief and relaxation, thus improving the patient’s quality of life. It was concluded, therefore, that music is a positive instrument in the search for the well-being of the old person, and cognitive stimulation is an effective tool.

Keywords: elderly, music, memory, occupational therapy.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o Brasil passou por grandes mudanças demográficas e uma relevante transição com um aumento na população de idosos. A expectativa de vida brasileira alcançou 73 anos e de acordo alguns estudos em 2030, eles serão 36%. Na América Latina e restante do mundo não é diferente, entre 1975 e 2000, a população com 60 anos ou mais cresceu de 6,5% para 8,2% (Steier, et al 2017). A taxa projetada para 2025 é de 15% e, para 2050, 24%, correspondendo a uma taxa de crescimento de 2,4% entre 2025 e 2050. Com esse envelhecimento global da população, medidas necessitam serem tomadas para todos os sistemas de saúde oferecerem melhor atendimento e qualidade de vida a esses cidadãos (ROMAN et al, 2017).

A perda da memória recente impacta várias áreas da vida do sujeito, ocasionando uma perda significante no desempenho ocupacional. A Terapia Ocupacional trabalha com todos os contextos e visualiza o ser humano como um ser holístico, as ferramentas de trabalho usadas são vastas. A música por sua vez, está presente no cotidiano da humanidade, carregam muitas histórias e significados. Portanto, acredita-se que a utilização da música, como um objeto de intervenção terapêutica ocupacional, é eficaz no resgate de lembranças da família, lugares, amigos, à memória musical, à memória recente e à evocação de sentimentos. Portanto, acredita-se que a música proporciona aos idosos a sensação de bem-estar, alívio da dor, relaxamento, distração e conforto e por isso é o foco da nossa pesquisa.

De acordo Yassuda et al (2006), a memória é crucial para o desenvolvimento da linguagem, orientação temporal, espacial, construção da auto-imagem e reconhecimento do próximo. Em outras palavras podemos afirmar que a memória é a nossa história, faz parte do ser humano, e sem ela toda a sequência cronológica perde o sentido.

Acredita-se, também que, através da música o idoso também imerge em suas lembranças e emoções, trazendo-as para o presente de acordo com sua possibilidade cognitiva atual. É sempre importante destacar, principalmente para terapeutas ocupacionais, que o repertório musical utilizado na intervenção deve ser elaborado de acordo com o contexto individual do paciente, sempre levando em consideração as particularidades, gostos e crenças (YASSUDA et al, 2006).

A utilização da música na reabilitação cognitiva, com idosos com déficit de memória, apresenta eficácia devido a três fatores cruciais: percepção, sensibilidade e emoção. Esses fatores permitem que a memória relacionada à música permaneça mais tempo, ou seja, permite efeitos duradouros. Além disso, pode melhorar o humor, as funções metacognitivas e, até mesmo, o comportamento (YASSUDA et al, 2006).

Como foi citado, número de idosos tem sido cada dia mais crescente e com eles também se agrega a necessidade de estarmos preparados para atender as demandas ocasionadas com o envelhecimento, entre elas a perda da memória. A Terapia Ocupacional como uma ciência responsável pelo fazer humano, tem como objetivo buscar novos modelos de intervenção para atuar juntamente com essa população, e a música surge com uma excelente proposta (MASUCHI et al, 2010)

Com base na pesquisa desse presente artigo de revisão acerca dos efeitos da música no corpo humano e principalmente cognição, entende-se que esta atinge todo o organismo, provocando efeitos de âmbito biológico, fisiológico, psicológico, intelectual, social e espiritual, agindo de maneira significativa no sistema nervoso, respiratório, circulatório, digestivo e metabólico (YASSUDA et al, 2006).

Com base nestes argumentos, o objetivo deste artigo é descrever os efeitos da música em idosos com déficit de memória, ilustrando de como a música é uma facilitadora para minimizar os danos causados pela falta de memória.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo trata de uma revisão bibliográfica, exploratória de caráter qualitativo, que seguiu o desempenho dos seguintes passos: 1) Delineamento do tópico seguindo a pergunta condutora; 2) Estabelecimento das estratégias de busca e definição dos critérios de elegibilidade, tendo como inclusão publicações, nos últimos dez anos, especificamente entre 2008 a 2018, escritos na língua portuguesa e inglesa, com os descritores: idoso; memória; música; terapia ocupacional; 3) A busca foi realizada na base de dados da Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil); 4) Avaliação crítica e categorização dos estudos, no que dizrespeito ao ano de publicação, as revistas publicadas, os pesquisadores com suas respectivas formações, além do tema abordado e, 5) Descrição e discussão dos achados da pesquisa com autores encontrados na pesquisa da Terapia Ocupacional. Sabendo do quão abrangente é a área de conhecimento da Terapia Ocupacional, inquieta-nos conhecer como a música é estudada/citada pelos pesquisadores. Neste contexto, formulamos a seguinte questão: Qual a influência da música na intervenção terapêutica ocupacional com pacientes idosos com déficit de memória? Os resultados, descreveremos a seguir, a partir de três tabelas que caracterizamos segundo nossos interesses supracitados.

RESULTADOS

Diante da pesquisa realizada na Base de Dados do Scielo, conforme demonstrado na tabela 1 (descritor: música), encontramos 15 (quinze) artigos que atenderam as exigências metodológicas supracitadas para a realização desta pesquisa. Dentre os quinze artigos, encontramos publicações entre 2008 e 2018, com intervalos de publicação que variam de um a dois anos, quanto às revistas, pertencem aos campos de Sociologia, Enfermagem, Psicologia, Medicina, Teologia, Medicina do esporte, Anesteologia e Psiquiatria, no que diz respeito aos pesquisadores, temos um total de 41 pesquisadores com formação em Medicina, Enfermagem, Psicologia, Teologia, Medicina do esporte, sociologia e psiquiatria. Destacamos também, as áreas de conhecimento implícitas nas produções científicas: Musicoterapia, Artes, Filosofia, ética, Neurociências e Ciência do Comportamento. Diante destas áreas de conhecimento, foram categorizadas três temáticas: música, Terapia Ocupacional e idosos.

TABELA 1 – DESCRITOR: MÚSICA

ANOREVISTATÍTULOÁREA DE ESTUDO
2010Revista Brasileira de AnestesiologiaMúsica e AnestesiaAnestesiologia
2011Texto & Contexto – EnfermagemInfluência dos encontros musicais no processo terapêutico de sistemas familiares na quimioterapiaEnfermagem
2011Revista Escolar de EnfermagemA música na terminalidade humana: concepções
familiares
Enfermagem
2012Psicologia Reflexiva CríticaEmoções de uma escuta musical afetam  a  percepção subjetiva de tempo Psicologia
2014Health SA GesondheidO uso terapêutico da música experimentado por pacientes com cirurgia cardíaca de uma unidade de terapia intensivaEnfermagem
2014Arquivo MédicoPistas auditivas musicais na fisioterapia em grupo de doentes com ParkinsonMedicina, Reabilitação e Epidemiologia
2015Verbum EcclesiaO componente “cognitivo” e “emotivo” das músicas  cristãs: rastreando as mudanças nas canções tradicionais contemporâneasTeologia prática
2015Koers“Criar música que abrirá o coração de uma pessoa”: uma perspectiva sobre o bem-estar emocional e social como retratado em três filmes Artes musicais
2015Revista Brasileira Medicina do EsporteProtocolo de samba brasileiro para reabilitação cardíacaCardiologia
2017Verbum EcclesiaUma avaliação metafísica e neuropsicológica de tons musicais para afetar o cérebro, relaxar a mente e curar o corpo Teologia e ética cristã
2017Verbum EcclesiaLiturgia de cura: o papel da música e do canto Teologia
2017MotriO corpo na Performance Musical: Percepções, Saberes e ConvicçõesTeologia, Filosofia e Letras
2017SociologiaCiências sociais, arquivos e memórias: considerações a
propósito das culturas musicais urbanas contemporâneas 
Economia e Letras
2017Archieve Clinical Psychiatry (São Paulo)Ansiedade de desempenho musical: uma revisão crítica de aspectos etiológicos, causas percebidas, estratégias de enfrentamento e tratamento Neurociências
2017Jornal Brasileiro de
Psiquiatria
Eficácia da musicoterapia nos sintomas neuropsiquiátricos da demência: revisão sistemática Psiquiatria
Fonte: Autores.

Diante da pesquisa, realizada na Base de Dados do Scielo, conforme demonstrado na tabela 2 (descritor: Terapia Ocupacional), encontramos 28 (twent) artigos que atenderam as exigências metodológicas supracitadas para a realização desta pesquisa. Dentre os seis artigos, encontramos publicações entre 2008 e 2016, com intervalos de publicação que variam de um a 3 anos, quanto às revistas, pertencem aos campos de Terapia Ocupacional, Saúde Pública, Enfermagem e Psiquiatria, no que diz respeito aos pesquisadores, temos um total de 25 pesquisadores com formação em Medicina, Enfermagem e Terapia Ocupacional. Destacamos também, as áreas de conhecimento implícitas nas produções científicas: Neurociências, Estatísticas e Sociologia.

TABELA 2 – DESCRITOR: TERAPIA OCUPACIONAL

ANOREVISTATÍTULOÁREA DE ESTUDO
2008Revista de Saúde PúblicaConfiabilidade do Instrumento para Classificação de Idosos quanto à Capacidade para o Autocuidado Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia
e Estatística 
2013Revista Latino-Americana de EnfermagemAssociações entre papéis ocupacionais, independência, tecnologia assistiva e poder de compra de indivíduos com deficiência física Terapia Ocupacional
2015Caderno de Saúde
Pública
Atividades avançadas de vida diária e incidência  de  declínio cognitivo em idosos: Estudo SABESaúde pública, Enfermagem e Medicina
2015Revista Escolar de EnfermagemEstresse, coping e burnout da Equipe de Enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva: fatores associadosEnfermagem
2016Arquivos de
Neuro-psiquiatria
Avaliação do comprometimento nas atividades de vida diária no comprometimento cognitivo leve através de uma escala individualizadaNeuro-psiquiatria
2016Revista de Estudios SocialesTerapia ocupacional: autonomia, overnamentalidade e subjecção Terapia Ocupacional
Fonte: Autores.

Diante da pesquisa, realizada na Base de Dados do Scielo, conforme demonstrado na tabela 3 (descritor: idoso), encontramos 15 (quinze) artigos que atenderam as exigências metodológicas supracitadas para a realização desta pesquisa. Dentre os vinte e três artigos, encontramos publicações entre 2008 e 2017, com intervalos de publicação que variam de um a três anos, quanto às revistas, pertencem aos campos de Terapia Ocupacional, Saúde Pública, Enfermagem, Neurologia e Psicologia, no que diz respeito aos pesquisadores, temos um total de 25 pesquisadores com formação em Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Medicina, Psicologia, Agronomia, Odontologia e Administração. Destacamos também, as áreas de conhecimento implícitas nas produções científicas: Neurociências, Saúde Coletiva, Saúde da Família, Sociologia.

TABELA 3 – DESCRITOR: IDOSO

ANOREVISTATÍTULOÁREA DE ESTUDO
2008Arquivos de
Neuro-psiquiatria
Efeito dos níveis de cortisol no desempenho da memória
operacional de idosos com doença de Alzheimer 
Enfermagem e Neurologia
2010Psicologia: Reflexão e Crítica Treino de memória episódica com ênfase em categorização para idosos sem demência e depressãoPsicologia
2011Revista Escolar de Enfermagem ReferênciaEfeito da estimulação cognitiva em idososEnfermagem
2012Acta Paulista de EnfermagemQualidade de vida de idosos e participação em atividades
educativas grupais
Enfermagem
2013Psicologia: Reflexão e Crítica Efeito de um programa de treinamento da memória de trabalho em adultos idosos Psicologia
2013Acta Paulista de EnfermagemDoença de Alzheimer: declínio funcional e estágio da demênciaEnfermagem
2013Arquivos de
Neuro-psiquiatria
Fragilidade e alteração cognitiva em idosos comunitáriosFisioterapia
2013Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde MentalEstimulação cognitiva em idososEnfermagem
2015Ciência & Saúde ColetivaDeterminantes do envelhecimento ativo segundo a qualidade de vida e gênero Odontologia
2016Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar A linha ténue entre a demência e depressão no idoso: relato de casoMedicina
2016Ciência & Saúde ColetivaQualidade de vida e autoestima de idosos na comunidadeEnfermagem,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional
2016Texto & Contexto – Enfermagem Atitude do idoso da comunidade frente ao lazer: uma interface com a promoção da saúdeEnfermagem,
Psiquiatria e Agronomia 
2017Revista Escolar de Enfermagem ReferênciaUnidade de cuidados na comunidade e promoção da saúde do idoso: um programa de intervenção Enfermagem
2017Texto & Contexto – Enfermagem Fatores associados ao bem-estar subjetivo dos idosos Enfermagem e Políticas públicas
2017Revista da Associação Médica BrasileiraComprometimento cognitivo leve e progressão para a demência da doença de AlzheimerPsiquiatria
Fonte: Autores.

DISCUSSÃO

A música que liberta

O simples fato de ouvir uma canção já exige a união de todo o corpo, a música faz um elo entre a percepção corporal e a percepção musical. O corpo, por sua vez, toma o lugar de um agente que reage, traz vida através de movimento e muitas vezes a dança, em qualquer escala. Este entendimento do papel do corpo é essencial à expressão do sujeito e muitas vezes artisticamente, também (CALITZ,2 017).

Nas últimas décadas, os novos interesses de pesquisa na cognição da música inspiraram novas abordagens e pontos de vista que obrigou-nos a refletir acerca da relação entre o ser humano corpo e experiência musical. Quando analisamos a música cognitivamente e seu percurso pelo corpo humano podemos melhor compreender que a percepção musical é constituída de uma experiência corporal e multimodal (CALITZ,2017).

Afirmamos que a mesma é também multimodal ,pois a música é recebida por nós pelos sentidos através do som, mas também com a ajuda de imagens visuais e sensações de movimento. Logo, crer-se que a experiência através da música não se restringe exclusivamente à audição, mas atinge e causa reações por todo o corpo (CALITZ, 2017).

Em um século rendido pelo visual e pelo verbal, reerguer o significado da música é uma tarefa difícil (CALITZ,2017). Contudo, os antigos já acreditavam no poder desse instrumento milenar, ilustrado através das visitas de membros da igreja a hospitais para cantar para os doentes, ou até mesmo visitas a casas para pessoas idosas cantarem ou com elas na esperança de curar e transformar vidas (CALITZ, 2017).

É de provável conhecimento geral que a música afeta várias partes do cérebro, por exemplo, o hipocampo da memória, a amígdala para reação emocional à música, até o cerebelo que leva os movimentos da dança. A música leva muitas informações aos nossos cérebros, de tal forma que podemos afirmar que ela afeta o sistema nervoso autônomo. Recentes pesquisas apontam que a música envolve o cérebro em quase todos os níveis e alcança a própria área de estudo, chamada como Neurociência musical ou Musicologia Cognitiva (CALITZ, 2017).

Desde a antiguidade, a música tem sido reconhecida por seu valor terapêutico. Médicos gregos usaram flautas, liras e zitters para curar seus pacientes, eles até usavam a vibração para ajudar na digestão, tratar distúrbios mentais e induzir o sono (323-373 AC apud PRETORIUS, 2017).

O sábio Aristóteles (323-373 AC apud PRETORIUS, 2017), em seu renomado livro de Anima, escreveu que a música da flauta poderia trazer fortes emoções e lavar a alma. Os antigos egípcios descrevem encantamentos musicais para curar os doentes. Contudo, de acordo com os registros de pesquisas encontrados, os pesquisadores começaram sistematicamente a buscar mais a aplicação da música na medicina e na cura, apenas no final do século XIX. Estudos como a relação da música e e pressão arterial (PA), foram pioneiramente relatados por Diogel apenas em 1700, aproximadamente, em Paris. Os neurônios têm uma habilidade especializada para gerenciar informações bioelétricas e para se comunicarem entre si, trocando informações químicas na forma de neurotransmissores (por exemplo, dopamina e serotonina) por meio de conexões com outros neurônios conhecidos como sinapses (323-373 AC apud PRETORIUS, 2017).

Além disso, Stebnicki afirma que nosso cérebro também consiste de uma massa fenomenal de vias neurais conectando cada neurônio que afeta nossos corpos (positiva ou negativamente). Quanto mais usamos cada via neural, mais alicerçados eles se tornam. Da mesma forma, quanto mais ouvimos certas músicas, o efeito emocional que elas exercem sobre nós torna-se comuns e mais usados esses caminhos neurais (PRETORIUS, 2017).

Tendo em vista o que foi exposto, acredita-se veemente que o uso da música é uma ferramenta terapêutica ocupacional valiosa, que exerce influência sobre os aspectos cognitivos, emocionais, psíquicos e sociais do idoso , pois ela desempenha importante papel na manutenção e melhora da qualidade de vida, além de propiciar maior interação com o contexto que o idoso está inserido ( ALBURQUERQUE et al., 2012).

Memória

É válido ressaltar que para neurociências existem várias formas de memória e as mesmas se subdividem em distintas categorias, que são: memória imediata ( a informação recebida é retida durante um curto tempo de aproximadamente 30 segundos); recente (refere-se a informações adquiridas há dias ou semanas); remota (refere-se a informações armazenadas há meses ou anos); declarativa (refere-se à aquisição de fatos, experiências e informações sobre eventos); semântica (se refere ao conhecimento geral de fatos ou informações) e episódica (se refere a informações ligadas a um determinado lugar e situação) (IZIQUIERDO,1989). Cada tipo de memória é armazenada de maneira exclusiva e inúmeras redes cerebrais estão envolvidas nesse processo. O processo, por sua vez, começa a partir de um estímulo externo que desencadea uma resposta química no neurônio. A proporção de neurônios envolvidos é diretamente ligado a intesidade do estímulo. As memórias são codificadas e arquivadas mesmo quando não exista mais os estímulos externos, para futuramente ser acessada ou não (SCHACTER, 2003).

De acordo Schacter, a memória não é uma pintura exata do externo, pois ela é acrescida de nossas experiências e sensações. Portanto quando resgatamos nossas memórias, não teremos uma cópia exata de como aconteceu, mas recriaremos nossas experiências liagadas as tais lembranças (SCHACTER, 2003).

Estudos mostram que existe uma relação benéfica a entre o desempenho cognitivo do idoso e sua estimulação contínua da memória. O exercício diário da mente no individuo em processo de envelhecimento pode previnir o declínio cognitivo, e é possível até auxiliar na organização da rotina, e é nesse aspecto que entra o auxílio através da Terapia Ocupacional ( GUERREIROS; CALDAS, 2001).

Terapia Ocupacional utilizando a música na intervenção

Para a Terapia Ocupacional, a música não é o principal agente terapêutico no processo, ela é o meio e o paciente deve está ativamente envolvido nela. Contudo, muitas vezes a música pode ser um instrumento inicial para uma atividade de memória posterior, por exemplo: músicas de carnaval e jogo da memória de carnaval em seguida.

Sempre é válido destacar que quanto mais inserido o paciente estiver na atmosfera musical, mais ele será beneficiado. De acordo com Campbell (1997 apud CALITZ, 2017) quando indivíduos participam das músicas cantando ativamente, tocando ou fazendo gestos elas se envolvem ativamente na atividade de fazer música. E o autor afirma ainda que, esse processo auxilia no que ele chama de “ritual de liberação”, o que proporciona ao paciente um abandono de emoções negativas e angústias. A esse respeito, Campbell (1997, p. 90 apud CALITZ,2017 ) diz: “Eu toco, logo existo!”, e o mesmo se aplica a voz, pois a mesma é vista como o instrumento mais apropriado e disponível para a cura.

Cremos que a música pode ser inserida na estimulação cognitiva e essa é crucial para pacientes com déficit de memória e a Terapeuta ocupacional é o profissional mais responsável pela saúde cognitiva dos paciente. No Reino Unido, por exemplo, as diretrizes clínicas recomendam que as pessoas com demência leve/ moderada tenham a oportunidade de participar de um grupo estruturado de estimulação cognitiva e esses grupos são coordenados por terapeutas ocupacionais, em grande parte (PRETORIUS, 2017).

A estimulação cognitiva ajuda a melhorar a função cognitiva de idosos com ou sem comprometimento cognitivo e através da música pode-se ampliar da densidade sináptica do cérebro – responsável pela dinâmica e plasticidade do cérebro – e reserva cognitiva, oferecendo assim proteção contra os sintomas clínicos da demência e amenizando, consequentemente, os déficits de memória (PRETORIUS, 2017).

Estudos realizados por Hsieh et al. (2011) destacam que a música reduz o nível das catecolaminas que existem no sistema nervoso central reduzindo desse modo a pressão sobre as paredes dos vasos, ocasionando a reprodução de imagens mentais. Essa influência da rede do cérebro determina experiências emocionais (sistema límbico), onde a liberação dos hormônios neuroquímicos tais como serotoninas, endorfinas, encefalinas, opióides endógenos que são responsáveis, também, de aliviar a dor (ALBURQUERQUE et al., 2012).

Portanto, a utilização da música em idosos com déficit de memória, é viável pois a sensibilidade, emoção, percepção e a memória para a música permanecem um longo tempo depois que as outras formas recentes de memória tenham desaparecido. A música, por sua vez, tem efeitos duradouros, melhora o humor, o comportamento e a função cognitiva, pois a resposta que ela desencadeia persiste por horas ou dias depois de terem sido evocados pela mesma (ALBURQUERQUE et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, cremos que a utilização da música como atividade cognitiva, permite que variadas funções cerebrais sejam acessadas e, também, pode ser um elo de contato com a memória, resgatando assim, lembranças, reconstruindo as histórias individuais e ou grupais juntamente com as sensações presentes em cada memória.

Acredita-se, igualmente que a música evoca sentimentos como felicidade que muitas vezes são expressos durante a atividade através de sorrisos, danças, choros ou aplausos. E, a música em sua natureza traz a sensação de bem-estar, relaxamento, distração, recordações agradáveis e conforto.

No atual contexto global do envelhecimento, promover o bem-estar subjetivo de idosos através da estimulação cognitiva com vistas a aumentar o desempenho ocupacional e satisfação com a vida, é um desafio não só para os profissionais de saúde, que são responsáveis por trabalhar com eles, mas principalmente os terapeutas ocupacionais. As atividades realizadas utilizando música não só mantêm os idosos ativos mentalmente enquanto desfrutam de um tempo agradável, mas também ajudam a promover e preservar e até mesmo enriquecer sua cognição. Assim, atividades de música na velhice é extremamente benéfica e favorece o idoso tenha uma velhice ativa ou bem-sucedida, já que elas promovem, pelo menos em primeira instância, a integração e a até mesmo a socialização com outros idosos através de grupos.

Temos ciência que com o envelhecimento, todo tratamento dessa população é de alto custo, e a estimulação cognitiva através da música aparece nesse cenário A demência e outros distúrbios cognitivos relacionados ao envelhecimento são extremamente uma boa relação custo-benefício. Pois além de tratar, pode prevenir/retardar grau de demência futura. E isso seria uma ferramenta positiva para a economia no setor de saúde e atendimento da população idosa.

Para a Terapia Ocupacional, a importância desta pesquisa traduziu-se na proposta que o uso da música traz um nova perspectiva na intervenção que foge do tratamento convencional. Contudo, como podemos perceber, a maioria dos artigos não foram de profissionais da Terapia Ocupacional, o que demonstra falta de pesquisa nessa temática e a precariedade de conhecimento científico suficiente para inserção da música na intervenção terapêutica ocupacional. Portanto, existe a necessidade de continuação desse estudo de maneira mais aprofundada, principalmente no contexto brasileiro.


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1 Especialista em Gerontologia e Terapeuta Ocupacional. E-mail: laylakatharine@gmail.com
2 Doutora em Psicologia Clínica, Terapeuta Ocupacional e Professora adjunta do Departamento de Terapia Ocupacional da UFPE. E-mail: fatimafcb@yahoo.com.br