REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502281338
Larissa Da Silva Gois
Orientador: Prof. Dr. Whasgthon Almeida
RESUMO
O presente trabalho tem como tema: Música e aprendizagem no Ensino Fundamental. Partiu da seguinte problemática: a ausência da música após os anos iniciais. Nosso objetivo geral foi analisar como a música pode ser trabalhada em sala de aula além da educação infantil, apresentando os pontos históricos, as leis, os tipos e definições de música. Logo em sequência, após o levantamento bibliográfico, foi realizado uma descrição de uma pesquisa realizada na prática da disciplina de Estágio II, na Escola do Município de Tefé, onde a música foi utilizada como instrumento de ensino-aprendizagem em turmas no Ensino Fundamental. Através da atividade aplicada, foi possível perceber que a musicalidade pode ser usada na sala de aula como ferramenta para apresentar novos conteúdos e que os estudantes conseguem interagir e compreender de forma mais lúdica.
Palavras-chave: Música. Aprendizagem. Ensino Fundamental.
ABSTRACT
This material describes the following theme: Music and learning in Elementary School. From this perspective, the main goal was analyzing how music can be processed inside of a classroom beyond childhood education, presenting historical marks, the laws and all the types and music definitions. Following this sequence, after bibliographic survey, a description of a research was carried out in the practice of the discipline of Stage II, at the School of the Municipality of Tefé, where music was used as a teaching-learning instrument in classes in Elementary School.
Keywords: Music. Learning. Elementary School.
INTRODUÇÃO
O referente trabalho de conclusão de curso visa refletir sobre o tema, música e aprendizagem no Ensino Fundamental. Com o objetivo de evidenciar as estratégias que envolvem a musicalidade na sala de aula contribui para o êxito do processo de ensino-aprendizagem em uma sala de aula do Ensino Fundamental.
A presente monografia como citada, tem como problema: estratégias que envolvam a musicalidade na sala de aula contribuem para o êxito do processo de ensino-aprendizagem em uma sala de aula do Ensino Fundamental I?
Para responder esse problema foram criadas três questões norteadoras sendo: quais teóricos que tratam da música no processo de ensino- aprendizagem? De que maneira a música é trabalhada na sala de aula do Ensino Fundamental I? Como a música pode contribuir para o êxito do processo de ensino-aprendizagem?
Para contemplar a pesquisa, foi construído o seguinte objetivo geral: demonstrar as estratégias que envolvem a musicalidade na sala de aula contribui para o êxito do processo de aprendizagem no Ensino Fundamental I.
Para atender esse objetivo geral, foram criados três objetivos específicos sendo: refletir sobre os discursos teóricos que tratam da música no processo de ensino-aprendizagem.
Este trabalho se divide em dois momentos, sendo o primeiro capítulo, que apresento como título “Música e aprendizagem no Ensino Fundamental”, abordando uma reflexão do contexto histórico da música, buscando analisar suas definições, tipos, também a sua presença na educação e nas leis educacionais.
O segundo momento no capítulo II, será para falar sobre a pesquisa de campo feita em uma escola municipal no interior do Amazonas, na cidade de Tefé, em salas do Ensino Fundamental I no turno da tarde. Essa pesquisa ocorreu no ano de 2022 durante a disciplina de Estágio II. A pesquisa durou três semanas e a aplicação das atividades com música ocorreu na última semana de pesquisa.
Conhecer como a música é ou pode ser trabalhada na sala de aula do Ensino Fundamental. Evidenciar como a música pode contribuir para o êxito do processo de ensino-aprendizagem. As motivações para realizar essa pesquisa, envolvem experiências vivenciadas nas escolas onde estudei, assim como nas escolas que também já lecionei, mas sem dúvidas, a que mais me inspirou a querer pesquisar sobre o tema, foi a experiência vivida na disciplina de estágio II.
Vivendo a prática, foi possível refletir sobre as questões ainda como estudante e isso influenciou a não ficar conformada com o que era passado nas salas de aula, ou melhor, de que forma os conteúdos eram passados, com o olhar crítico e reflexivo de um pesquisador. Sendo assim, muitas perguntas foram sendo feiras no meu interior ao planejar as aulas para as regências e então fui pensando em atividades mais dinâmicas.
Ao falar em ferramentas de ensino-aprendizagem, eu penso logo na música, pois ela está presente em quase todos os momentos das nossas vidas, além de ser uma forma de expressar os sentimentos. Utilizei essa ferramenta com os alunos da educação especial e pude observar o quanto foi proveitoso, assim como na educação infantil, mas ao me deparar em uma sala de ensino fundamental, percebi que essa ferramenta não é usada ou não é explorada o quanto poderia ser.
Nessa pesquisa, gostaria de demonstrar como a música pode ser usada e indicar estratégias de ensino baseada na mesma, mas além das estratégias que são utilizadas na educação infantil. Seguindo as seguintes questões norteadoras e objetivos como quais os teóricos que tratam da música na educação, de que maneira a música pode ser trabalhada na sala de aula do Ensino Fundamental I e como a música pode contribuir para o êxito do processo de ensino-aprendizagem.
A partir da inquietação que surgiu durante a disciplina de Estágio II, o que culminou no interesse pela pesquisa na área do Ensino Fundamental I, pude notar que tal temática é mais relacionada com a Educação Infantil e pouco no Ensino Fundamental. Tendo isso em vista, essa pesquisa abordou de forma exploratória em livros de teóricos que visam a música como instrumento de ensino-aprendizagem, pois o problema busca ser respondido se estratégias que envolvam a musicalidade na sala de aula contribui para o êxito do processo de ensino-aprendizagem numa sala de aula do ensino fundamental I.
Algumas observações também foram primordiais para o desenvolvimento dessa pesquisa, que foram realizadas na Escola Municipal Professor Helyon de Oliveira, nas turmas do Ensino Fundamental I no ano de 2022. Através das minhas anotações e observações pessoais, além da minha bagagem como professora auxiliar, estagiária e mediadora em outras escolas do Brasil durante a minha formação como Pedagoga.
CAPÍTULO I
MÚSICA E APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL
No capítulo a seguir, abordo sobre o início da trajetória da música, sua definição, os tipos e a sua presença na legislação relacionada à educação. Além de discutir os teóricos que discorrem sobre a música como metodologia de ensino-aprendizagem e de que forma, essas ações metodológicas contribuem para o desenvolvimento interativo e criativo dos alunos.
1.1 Definição de música
É possível afirmar que a música está presente na vida das pessoas todos os dias, podendo aparecer em evidência nos fones de ouvidos ou apenas de longe em um carro de som que passa na sua rua.
Entende-se música como uma forma de se expressar seus pensamentos, como um momento de relaxar ou de refletir sobre aquilo que escuta, podemos dizer que existem vários tipos de definições para ela.
As definições de música expressam diferentes concepções. Ainda hoje, consultando o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2001, p. 477) encontramos no verbete “música” a seguinte definição: “Arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido”.
Pensando nessa definição, fica o questionamento se todas as pessoas acham o mesmo estilo de música agradável aos seus ouvidos, pois as vezes aquilo que é perfeito para um, pode ser chato e ruim para outro ou pode não estar no momento daquele estilo de som. Segundo a definição de Clifton, traduzida por Freitas (1997, p.24):
Música é um arranjamento ordenado de sons e silêncios cujo sentido é presentativo ao invés de denotativo. (…) música é a realização da possibilidade de qualquer som apresentar a algum ser humano um sentido que ele experimenta em seu corpo.
De acordo com a definição de Clifton, pode-se afirmar que a música depende de quem está sentindo, de quem está ouvindo, qual o contexto que está inserido. Como será julgado e interpretado pelo o representativo daquele que está ouvindo.
Segundo Moraes (1991), a música é uma maneira peculiar de sentir e pensar a realidade por isso, na música é possível encontrar não somente aquilo que nós como sociedade conhecemos no nosso dia a dia, mas pode existir a invenção de linguagens: formas de ver, representar, transfigurar e de transformar o mundo.
Para Moraes (1991), a música está ligada principalmente à criatividade, ao lúdico, a um lugar de expressão no qual poderão serem inventados momentos, sentimentos, palavras e ritmos. Com esse pensamento, um mesmo indivíduo pode ser um intérprete, um compositor, ritmista, de acordo com o seu ponto de vista e sua criatividade.
Usando essas duas definições para refletir e para deixar em aberto o que é música, pois ela é uma arte que não tem como definir em poucas palavras e de um só ponto de vista. Pode ser feita de várias formas, com diversas línguas e linguagens diferentes.
a música, arte do tempo por excelência, se caracteriza pela dualidade que suscita entre obra concebida e obra realizada, dado que a obra real, vivente, não pode existir, senão na realidade temporal, realidade que a obra unicamente concebida não pode revelar (TRAGTEMBERG, 2001, p. 107).
A existência de uma canção vem de acordo com aquilo que o compositor vive ou apenas imagina. Não necessariamente a música pode ser explicada de acordo com a realidade, pois ela é uma arte que assim como as vezes as pinturas são abstratas as músicas também podem ser.
Além de uma música bem pensada, uma letra planejada e estudada nos mínimos detalhes, existe a música feita na improvisação. No momento em que o músico começa a melodia e sente o que deve ser tocado ou cantado.
improvisação (do latim ex improviso – sem preparação) normalmente diz respeito a uma performance musical que não foi preparada ou uma “extemporização” baseada tanto em temas precisos ou formas musicais […], ou em um desenvolvimento livre de ideias musicais espontâneas sugeridas pela imaginação, e que resultam em uma sucessão caleidoscópica de eventos, frequentemente juntos em uma tênue linha apenas (BRINDLE, 1975, p.81)
Pode-se dizer que a imaginação é um dos principais fatores para criar músicas, desde a letra até a melodia. O arranjo completo se torna uma grande obra de arte, independente do que é passado, pois o todo leva tempo para ser criado e criatividade.
Cada artista, cantor ou compositor tem seu estilo próprio de fazer música, assim como para defini-la de diversas formas diferentes. É possível dizer que a percepção de música pode ser variada. Koellreutter (1984), diz que o estilo é o conjunto de características que une as produções artísticas de um artista; ou que diferencia produção artística de um artista de outro. Cada importante compositor tem sua própria gramática musical, determinada por particularidades voltada para o seu próprio estilo pessoal.
A variação de estilo musical e sua definição vai de acordo também com o local, a cultura, a língua do artista. Existem diferentes tipos de música espalhados pelo mundo, alguns mais famosos e outro que para conhecer é necessário buscar de maneira específica. Existindo então uma variação e opções diversas quando a questão é a música.
1.2. Tipos e estilos de música
Cada país tem uma cultura diferente ou até mesmo dentro de um único país podemos ver as diferenças em seus estados e regiões. No Brasil podemos ver fortes mudanças na cultura do Nordeste e do Sul, por exemplo. Os diferentes tipos de música que são tocadas nas regiões.
Segundo Jeandot (1990), a música é uma linguagem que pode se dizer universal, mas com muitos dialetos, que variam de acordo com as diferentes culturas, envolvendo a maneira de tocar, de cantar, de organizar os sons e de definir as notas básicas e seus intervalos. O conhecimento de variados estilos musicais, pode levar a criança a conhecer diferentes culturas e a perceber que a sua cultura não é a única na sociedade.
As vezes os indivíduos de certa região podem não se identificar com a música que é tocada no seu meio, mas através da troca no conhecimento de outras culturas, pode gostar da música de outra região ou até mesmo de outro país com uma língua diferente da sua língua natal.
Quando entramos nesse assunto, normalmente se é perguntado qual o gênero musical que a pessoa gosta. Hoje existem diversos gêneros musicais nacionais e internacionais que podem ser explorados pelos amantes da música.
Para Denizeau (2005), gênero é o “objeto musical”, ou seja, é o resultado dos elementos constituintes das composições e interpretações musicais que os diferenciam aos ouvidos do ouvinte. Gêneros musicais são reconhecidos como nomenclaturas que servem para agrupar composições que conservam algum grau de similaridade entre si.
É perceptível a diferença entre os gêneros musicais, até mesmo quando a música parece se enquadrar em mais de um. Apesar de serem familiares entre si, raramente se discute quais são as características necessárias para que uma determinada prática musical se concretize em um gênero, ou seja, o conceito de gênero em música raramente é submetido à análise.
No mercado musical, por exemplo, temos como samba, pagode, sertanejo, rock, pop, blues, sinfonia, concerto, gospel entre outros, dão nome a grandes ajuntamentos de obras musicais semelhantes, trazendo aquilo que é entendido como gênero musical.
Outros autores, tais como Mário de Andrade (1989), também afirmam que forma musical é um dos elementos que constituem um gênero, porém somente um conjunto de elementos musicais, históricos, políticos, sociais e mercadológicos, juntamente com a forma, pode caracterizá-lo. Sendo assim, entendo que forma e gênero são conceitos diferenciados.
Isso significa que algumas características precisam ser mantidas para atender a demanda de públicos específicos. Seria estranho se, por exemplo, o Zeca pagodinho começasse a cantar músicas puxadas para o rock, os seus ouvintes podem não gostar de outro estilo musical sem ser o samba.
Pode-se observar que atualmente artistas de grande sucesso normalmente estão fortemente vinculados a algum gênero musical que, por sua vez, pode ter função de entretenimento, dança, apreciação entre outros. É impossível se referir a bandas como o Metallica e o Iron Maiden sem relacioná-las ao rock e seus derivados, do mesmo modo, associa-se Michael Jackson e Madonna ao pop.
Esses estilos musicais também estão relacionados diretamente ou indiretamente a cultura. Olhando mais a fundo sobre a historicidade da musicalidade, observa-se que durante muito tempo foram usados pelas elites como demarcadores dos espaços pertencentes a diferentes classes sociais que não estavam autorizadas a misturar, ou seja, os repertórios musicais se referiam a públicos específicos e oriundos de camadas distintas de certas sociedades.
Entende-se tipos de música relacionado ao status nos anos passados, separando a elite dos grupos mais pobres. Ainda hoje, pode-se perceber que alguns gêneros musicais ainda estão fortemente relacionados a determinadas camadas da sociedade.
Nas primeiras décadas do século XX, o samba esteve ligado à população mais humilde do Brasil, aos habitantes das regiões mais carentes de nosso país. Hoje, o funk cumpre esse mesmo papel. O rock brasileiro da década de 1980 estava ligado à juventude, principalmente àquela residente nos subúrbios das grandes cidades. Os gêneros da música clássicas nas salas de concerto, ainda estão em grande parte relacionados a uma certa elite social.
Denizeau (2005), revela que na música erudita do século XX, essa que se transmite formalmente ou com base na tradição, o conceito de gênero vai gradativamente perdendo sua utilidade. Isso ocorreu devido aos compositores não escrevem as músicas para certos grupos em específico com tanta precisão. Porém, ainda ocorre a separação nas camadas da sociedade, devido à forte presença da tradição. Esse fato acontece devido à grande ligação da música com a tradição dos povos.
Segundo a pesquisadora Elizabeth Travassos (2007), ao se aprofundar sobre o conceito de música popular, esclarece que o termo surge para dar nome às músicas das manifestações mais populares que foram enaltecidas pela indústria fonográfica e pelo rádio, sendo que aquelas que se mantiveram nas culturas populares são ditas como “folclóricas” ou “de tradição oral”. Portanto, o que se entende por música popular é o repertório trabalhado pelas rádios e gravadoras.
Ao se debruçar nos estudos da música popular, é perceptível a importância para a representação cultural e para a manifestação do povo, pois através das letras das músicas, os artistas, cantores e compositores, conseguem se expressar e passar mensagens para a população, o que é muito importante, também, para ser utilizado dentro da sala de aula como uma forma de socialização dos alunos com o que está acontecendo na sociedade.
Isso ocorreu com grande força na época da ditadura militar, mesmo com a censura, os cantores populares buscavam maneiras de passar mensagem através das canções que eram tocadas com frequência nas rádios.
Esse acontecimento foi um marco na história da música popular brasileira e até hoje é lembrado por ser um dos principais instrumentos utilizados para contestar a ditadura militar. Assim, é possível perceber que além de fazer parte do dia a dia das pessoas, a música também é utilizada para passar mensagens e em momentos importantes como esse.
O autor Janotti Júnior (2006), diz que a constituição da música popular depende dos encontros entre a cultura popular e a mídia. Consequentemente, os gêneros da música popular e da música de tradição oral são basicamente os mesmos, e seus compositores, diferentemente dos da música clássica do século XX, recorrem frequentemente aos gêneros como norteadores de suas criações musicais.
Os tipos e estilos musicais se transformam de acordo com o tempo, com a época e com o contexto histórico no qual está instaurado o movimento musical. Tal situação é perceptível nas transformações paradigmáticas, tal como foram as lives dos cantores sertanejos no início da pandemia do Novo Coronavírus o que levou as músicas desse estilo musical para o topo de acessos nas plataformas digitais, assim como as músicas que são “virais” no aplicativo “TikTok”. Aplicativo esse que também pode ser utilizado como ferramenta de aprendizagem juntamente com as músicas nele presente ou até mesmo músicas criadas pelos usuários, estudantes e professores.
Consideramos que um vídeo de apenas um minuto poderá prender a atenção da turma e contribuir para o êxito do processo de ensino-aprendizagem. Nesse vídeo podemos fazer coreografias com paródias voltadas para o conteúdo, receitas culinárias, dicas de saúde ou até mesmo um momento de descontração para passar uma mensagem relacionada a sociedade.
As músicas carregam histórias e gerações consigo e podem ser utilizadas para descrever os que se passa na época em que foram lançadas sendo possíveis de serem utilizadas na educação de crianças, jovens e adultos. Consideramos que tanto as músicas comercializadas, como músicas criadas pelos professores(as) apenas para a aprendizagem de seus estudantes, ou mesmo as cantigas ou as parlendas são de suma importância para o êxito do processo de aprendizagem dos estudantes.
1.3. A música na educação
Na história da educação brasileira a música se faz presente sendo uma das primeiras ferramentas utilizadas no ensino, sendo um meio de comunicação entre os padres portugueses e os indígenas que moravam no território. Os jesuítas tinham como objetivo catequizá-los, torná-los cristãos e para isso precisariam se comunicar de alguma forma, já que não falavam a mesma língua.
um dos primeiros expedientes metodológicos utilizados pelos padres jesuítas para a educação dos índios foi a música. Com ela, os padres conseguiam a atenção e a simpatia dos índios. Faziam uso dos instrumentos nativos e compunham na língua indígena, músicas que falavam do Deus cristão (SAVIANI, 2010, p.44).
Usada de forma criativa para influenciar os nativos com a religião dos portugueses a música, o teatro e a dança foram utilizados como ferramentas de ensino, pois estes não conseguiam se comunicar perfeitamente com a língua dos nativos, daí utilizavam outra forma de linguagem, tais como a expressão no teatro, versos de música e o corpo na dança.
Podemos considerar esse momento como o início da música na educação brasileira se constituindo como os primeiros sinais de educação no país. Infelizmente nos dias de hoje a música não é tão utilizada quanto poderia ser.
Sua utilização ainda é pouco presente na Educação Infantil, baseado na minha experiência1 em sala de aula em escolas do Rio de Janeiro e Tefé, pude perceber que na entrada das crianças nas salas, quando é feita a “chamadinha”, na hora do lanche, para fazer algumas atividades e na hora da saída a musicalização entra em ação.
[…] brincar com sons, montar e desmontar sonoridades, descobrir, criar, organizar, juntar, separar, são fontes de prazer e apontam para uma nova maneira de compreender a vida através de critérios sonoros (FONTERRADA, 1992, p.11-12).
Ao estudar sobre a música observamos que é possível utilizá-la em diversos momentos do nosso dia e de formas diferentes. As vezes o aluno não consegue decorar a tabuada, por exemplo, a mãe ou até mesmo ele, inventa uma música que faça sentido para ele conseguir decorar a letra de tal canção e não sair prejudicado na prova.
Com a música aprendemos a contagem do tempo, a espera pelo seu nome na música da “chamadinha”, ou então o momento certo de cantar para a hora do recreio. Isso é muito comum nas escolas de educação infantil no Brasil. Porém, isso não é passado adiante nas demais séries.
Entendemos que os alunos crescem, aprendem, amadurecem, mas a música pode ser utilizada de diversas formas. Pode ser substituindo um texto na interpretação de texto, pode ser uma criação deles na produção textual ou até mesmo uma criação para fixar uma nova matéria. Podendo ser utilizada a canção pronta de um autor, podendo ser o professor o autor ou até mesmo os alunos, basta usar apenas a criatividade e o ritmo.
qualquer pessoa pode fazer música e se expressar através dela, desde que sejam oferecidas condições necessárias para sua prática. Quando afirmamos que qualquer pessoa pode desenvolver-se musicalmente, consideramos a necessidade de tornar acessível, às crianças e aos jovens, a atividade musical de forma ampla e democrática (LOUREIRO. 2004, p.66).
A linguagem musical se desenvolve através da exploração dela, ou seja, o aluno só a desenvolve se tiver uma pesquisa, criação, ampliando o recurso, assim como em qualquer outra novidade. Lembrando sempre de respeitas as experiências prévias e vividas pelos alunos, sua bagagem cultural também é levada em conta.
Para a grande maioria das pessoas, incluindo os educadores e educadoras (especializados ou não), a música era (e é) entendida como “algo pronto”, cabendo a nós a tarefa máxima de interpretá-la. Ensinar música, a partir dessa óptica, significa ensinar a reproduzir e interpretar músicas, desconsiderando a possibilidade de experimentar, improvisar, inventar como ferramenta pedagógica de fundamental importância no processo de construção do conhecimento musical (BRITO 2003 p.52).
Além de ter a música na parte de criação textual, nos ritmos, a música também pode ser utilizada nas confecções de materiais como os instrumentos. Esta experimentação criativa é acompanhada da organização e de um aprimoramento da escuta e do gesto para que a prática musical possa ocorrer. Fazendo com que assim, o aprendizado interativo e a criação coletiva ocorram. Através da singularização sonora, o processo de ensino-aprendizagem elabora uma identidade coletiva para o grupo.
Os alunos se sentem mais por dentro das atividades propostas, pois fazer parte da confecção é fazer parte de todo o processo. Além, de criar as canções e melodias, sem “perder” tempo, pois a música pode ser utilizada para ensinar uma nova matéria e estar diante de novidades. “O conhecimento de diferentes manifestações da linguagem musical, pode levar a criança a conhecer diferentes culturas e a perceber que a sua cultura não é a única na sociedade.” (JEANDOT 1990, p.22)
Brincar de roda, ciranda, pular corda, amarelinha, são maneiras de estabelecer contato consigo próprio e com o outro, de se sentir único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar com as estruturas, formas musicais que se apresentam em cada canção e em cada brinquedo. Podendo até achar diferenças nas canções e formas dessas brincadeiras, pois cada lugar tem a sua singularidade. Neste sentido, o RCNEI (1998, p.71) evidencia que:
Para os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc.
Nas brincadeiras também encontramos a música e a forma de educar fora da sala de aula tradicional, levando um jeito mais leve e mais divertidos para os alunos e para mostrar para outros educadores que existe mais de uma maneira para educar.
A mudança nas concepções musicais e acerca de como trabalhar com música, como é o caso das “musiquinhas de comando”, aos poucos são resignificadas por adultos e crianças, o que confirma a relevância de trabalhar música em sala de aula, para que se desenvolva uma cultura especificamente musical com as novas gerações.
Apesar de até ter a música na legislação, ela ainda não é tão utilizada como deveria. Algumas escolas até tem a “aula de música” na sua matriz curricular, mesmo com poucas horas semanais, mas ainda assim tem algo focado na música. Outras escolas não pensam na música como forma de ensino. Como foi dito anteriormente, ainda se é visto a música na educação infantil, mas é muito raro ver a sua presença no ensino fundamental. Na verdade, ocorre uma mudança muito drástica nas duas etapas, pois a criança está em uma rotina de músicas na entrada, chamada, hora do lanche e na hora da saída, depois essas etapas somem e se tornam apenas conteúdos no quadro.
Além da mudança de rotina, também é possível notar a mudança na estrutura das salas nas escolas, as da educação infantil são na maioria das vezes mais coloridas, com mais trabalhos de arte na parede e as salas do ensino fundamental mal tem uma tabuada colada na parede. Mudanças nas brincadeiras e até mesmo no horário do recreio que passa a ser reduzido ou somente voltado para a “hora do lanche”.
Essa mudança na rotina pode desanimar os alunos e tirar aquele encanto que ainda tem na escola na educação infantil, onde o brincar ainda é um pouco presente. É possível ensinar no ensino fundamental com outras ferramentas além das tradicionais, o brincar é importante, a música é importante e o aluno aprende com mais leveza.
1.4. Marcos Legais
A Base Nacional Comum Curricular, é considerada um marco na educação no Brasil. Nela, está representada toda a estrutura voltada para a educação básica do país e as orientações necessárias para o desenvolvimento dos conteúdos propostos.
A proposta de criação de uma base comum para a educação básica não é recente. Desde a promulgação da Constituição Federal, em 1988, já se indicava, no artigo 210, a necessidade de se estabelecer conteúdos mínimo para o Ensino Fundamental, de maneira que fosse plena formação básica comum e respeito aos valores culturais e artístico, nacionais e regionais.
Além dos conteúdos mínimos, estão em destaque os valores culturais e artísticos, dentro deles temos a música como representação cultural, regional e nacional. Não necessariamente de maneira direta, nesse primeiro momento, mas sabendo que faz parte da cultura e ainda não como uma ferramenta de aprendizagem.
A influência da música no desenvolvimento da criança já é valorizada pelo PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) ao descrever que: “A diversidade permite ao aluno a construção de hipóteses sobre o lugar de cada obra no patrimônio musical da humanidade, aprimorando sua condição de avaliar a qualidade das próprias produções e as dos outros”. (BRASIL; 2001, p.75).
A música propriamente dita, além de beneficiar várias fases do desenvolvimento da criança, também resgata a cultura do país, da criança e até mesmo a cultura da própria música, que muitas vezes acaba sendo esquecida. Ressaltamos aqui a Lei nº 11.769/08, que alterou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, LDB, para disponibilizar a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. (BRASIL, 2008).
A construção da Lei 11.769, aprovada em agosto de 2008, teve início em 2006, a partir da iniciativa de “educadores, músicos, artistas, estudantes, pais, sindicatos, professores e cidadãos em geral” (BRASIL, 2008, p. 2) e tinha como objetivo fazer com que a música estivesse presente na escola, de maneira sistemática.
Art. 1º O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§: “Art. 26 […] § 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º. § 7º O ensino da música será ministrado por professores com formação específica na área.” (NR) Art. 2º Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas no art. 1º. Art. 3ºEsta Lei entra em vigor na data de sua publicação (BRASIL, 2008).
Vale destacar também o contido no artigo 29 da LDB, segundo o qual a educação infantil “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil” (DCNEIs) (Brasil, 2009), está afirmado que as “práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira”. Tais práticas deveriam se organizar por experiências que, entre outros aspectos, garantissem e promovessem:
[…] o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; […] a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; […] o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura […] (BRASIL, 2009, p.28).
Mas, se, como vários estudos já demonstraram, a pré-escola tem uma identidade pouco consolidada, o que se constata pela forma como o trabalho se desenvolve, uma vez que os professores dessa etapa educacional parecem não compreender a importância do brincar, relegando essa atividade para segundo plano e insistindo em práticas que, mesmo no ensino fundamental, são consideradas equivocadas, tais como a cópia mecânica de letras e números, a situação atual parece favorecer o acirramento dessa falta de identidade.
As leis educacionais já tratam sobre a importância do brincar, da música, das artes no geral, elas deveriam estar mais presentes no dia a dia nas escolas, mas não estão. Está presente em diversos documentos, mas mais voltado para os anos iniciais. Como por exemplo, o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (1998), que afirma que a instituição precisa criar e propiciar para as crianças possibilidades de inserção da música na sua aprendizagem, e para isso o documento estabelece relações que auxiliam na busca de possibilidades de utilizar a música nos planejamentos escolares quando diz que:
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação (BRASIL,1998, p. 24).
É possível afirmar que é um direito da criança ter esse contato mais direto com a cultura do seu país através das artes, pois isso faz parte da inserção social desse indivíduo que está apenas começando a sua trajetória, fazendo com que se sinta parte do todo.
O domínio progressivo das diferentes linguagens que favorecem a expressão e comunicação de sentimentos, emoções e ideias das crianças, propiciam a interação com os outros e facilitam a mediação com a cultura e os conhecimentos constituídos (BRASIL, 1998, p. 46).
É evidente que essa interação com a música, ritmo, arte, imaginação e o brincar são de suma importância, até mesmo o documento explica que uma criança que, por exemplo, bate ritmicamente com os pés no chão e imagina-se cavalgando um cavalo, está orientando sua ação pelo significado da situação e por uma atitude mental e não somente pela percepção imediata dos objetos e situações (BRASIL, 1998).
A legislação voltada para os professores, traz uma lista de atividades permanentes que são as que respondem às necessidades básicas de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças, cujos conteúdos necessitam de uma constância (BRASIL, 1998).
Entre as atividades permanentes a proposta estabelece: “brincadeiras, as rodas de história e de conversas, as oficinas de desenho, pintura, modelagem e música, e atividades diversificadas à escolha da criança, incluindo momentos para que as crianças possam trabalhar individualmente”. Destacamos para este estudo, a proposta do referencial em incluir atividades com a música naquelas que devem ser permanentes para a criança, até mesmo para ajudar no ritmo, na rotina e para decorar as brincadeiras de maneira simples e leve.
Apesar das leis é perceptível uma incoerência nas demandas dos alunos quando o assunto é a música na sala de aula nas atividades ou até mesmo como disciplina na grade curricular de diversas escolas. Acabam deixando de lado, assim como também ocorre com a educação física que as vezes estão na grade, mas não ocorrem na prática e sim na teórica como todas as outras aulas.
CAPÍTULO II
A MÚSICA EM SALA DE AULA NO ENSINO FUNDAMENTAL I
A utilização de música na aprendizagem não se estabelece em apenas músicas de comemorações ou eventos na escola, é preciso utilizar a música nos vários momentos na sala de aula. Através dessa perspectiva, essa pesquisa de campo tem por objetivo exemplificar a importância da música na educação e que ela pode ser um instrumento de ensino-aprendizagem.
2.1 Percepções do contexto investigativo
A Escola Municipal Professor Helyon de Oliveira, está situada à Estrada do Aeroporto, nº 2.506, no Bairro de Santa Tereza, na cidade de Tefé/AM. Regulamentada pelo decreto Lei Nº 282/93, aprovado pelo prefeito municipal e câmara municipal de Tefé, na administração do prefeito Etelvino Celani, sendo inaugurada em 26 de Fevereiro de 1994. Recebeu da denominação de professor Helyon de Oliveira para homenagear este educador brasileiro, mineiro e cidadão tefeense, título este concedido pela Câmara Municipal de Tefé, que muito contribuiu com a educação, implantando os primeiros cursos de licenciatura em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora- Projeto Rondon.
Há 29 anos esta instituição vem contribuindo com a educação do município. Atende crianças, adolescentes e adultos do bairro de Santa Tereza e bairros vizinhos como: Mutirão, São João, Nova Esperança, São Raimundo, Jerusalém, Jardim Lara, Vila Militar e atende alunos do 1º ao 9ºano do Ensino Fundamental nos turnos matutino e vespertino e EJA matutino e noturno.
Em relação às condições físicas da escola, ela possui 27 (vinte e sete) dependências, assim distribuídas em: 14 (quatorze) salas de aula, 01 (uma) sala para alunos especiais com deficiências, 01 (um) refeitório, 01 (uma) cozinha, 01 (uma) secretaria, 01 (uma) biblioteca, 01 (uma) sala de professores, 01 (uma) sala pedagógica e 01 (um) enorme ginásio coberto.
As salas possuem ar-condicionado e quadro branco, as carteiras são novas e apropriadas para as salas e para as crianças, podemos ver a limpeza constante nos corredores e banheiros nos horários das aulas e nos intervalos entre os turnos também ocorre com frequência a limpeza das salas e das carteiras. É uma escola bem iluminada, possui câmeras de segurança e tem vigias trabalhando para a melhor segurança dos funcionários e alunos.
Figura 1- Escola Municipal Prof. Helyon de Oliveira
2.2 Vivências do processo investigativo
O atual cenário das escolas públicas ainda sofre as consequências da pandemia. Podemos dizer que a COVID-19 não só abalou a saúde, mas ela mexeu com a economia e principalmente com a educação. As crianças que mais foram afetadas são as de baixa renda, pois as vezes elas não tinham como acompanhar as aulas ou as atividades online, pois não tinham aparelhos eletrônicos.
Consequentemente, após dois anos de pandemia e de distanciamento a maioria dos alunos com que tivemos contato no ano de 2022, na escola municipal na cidade de Tefé, apresentaram grandes dificuldades de aprendizagem nos componentes curriculares, alguns não conseguiam nem reconhecer letras e números. Visando essa dificuldade, as professoras fizeram um grande resumo, tudo que os alunos já deveriam ter aprendido, nas primeiras semanas.
Diversas reuniões iam sendo feitas durante as primeiras semanas de aula para que as professoras, pedagogas e diretora trocassem ideias e sobre o que estava acontecendo dentro de aula com os alunos. Além da preocupação com o atraso nas disciplinas, elas também relatavam sobre a questão da saúde, pois muitos alunos não levavam o comprovante de vacinação.
Por terem passado basicamente dois anos longe da sala de aula, os estudantes estranhavam toda a rotina e até mesmo a socialização entre eles era mais complicada causando bastante desentendimento. Além das professoras focarem nos conteúdos de alfabetização, também precisavam buscar uma maneira de solucionar todos os problemas.
2.2.1 Interações no contexto investigativo
A presente pesquisa foi iniciada através do estágio obrigatório nas primeiras semanas do ano letivo de 2022, onde foram observadas as cinco turmas estavam praticamente no mesmo nível de aprendizagem, o que diferenciava era a maturidade dos alunos. Do 1º ao 5º ano, era possível encontrar alunos que não sabiam ler e escrever ou até mesmo copiar do quadro. O primeiro momento e primeiro contato com os dados, foi através da observação participante, a metodologia que mais se encaixava nesse modelo de pesquisa, pois iria estar participando das atividades de um certo grupo a ser estudado e ao mesmo tempo podendo observar com um olhar investigativo o que seria ou não relevante para tal pesquisa.
Ao iniciar a pesquisa, foi possível perceber que olhando de fora da situação, nós podemos analisar problemáticas diferentes das quais nós não conseguimos ver quando estamos de frente nas aulas. Além da demanda das atividades, as professoras também se preocupam com a individualidade de seus alunos, das demandas passadas pela coordenação e por todo processo com os pais.
O melhor posicionamento naquele momento nas salas, seria dar um pouco mais de atenção para os que não conseguiam acompanhar boa parte da turma, então foi necessário fazer umas atividades paralelas com certos estudantes. Atividades essas que seriam essenciais para o desenvolvimento da leitura e da escrita que são necessárias para o desenvolvimento das atividades no Ensino Fundamental I.
Ao observar que certos estudantes não estavam conseguindo compreender e acompanhar a turma, pois a maneira que a professora passava as atividades não estava sendo o suficiente para sanar as suas dúvidas, entrei com diferentes ferramentas para que os conteúdos propostos fossem completamente aproveitados e compreendidos.
2.3 A musicalidade presente na sala de aula no Ensino Fundamental I
Diante dessa situação, vendo que a maneira tradicional estava sendo cansativo para os alunos e para as professoras, comecei a planejar as minhas aulas com ferramenta de ensino-aprendizagem fora do padrão tradicional. No mesmo momento pensei na música, pois eu poderia utilizar em diversas turmas e com formas diferente, de acordo com o nível da turma e a maturidade dos alunos.
Outro questionamento também, foi referente a grande mudança da Educação Infantil para o Ensino Fundamental I, onde no primeiro é possível ver brincadeiras, música, desenho e cores, no segundo é mais fácil encontrar apenas o professor, o quadro e os alunos em suas carteiras enfileiradas, o modo tradicional.
Observando tudo isso, com a ausência da música nas aulas, percebi que os alunos mais novos sentiam muita diferença, pois antes da pandemia eles estavam no mundo colorido da Educação Infantil e depois de dois anos vão para o Ensino Fundamental com seu método mais tradicional. Sendo assim, eles poderiam até criar um bloqueio para aprender ao invés de simplesmente aprender e compreender aquele conteúdo.
No primeiro momento, conversei com os alunos para saber os interesses, o que eles gostavam de fazer, quis conhecer um pouco mais dos alunos da turma do 4º ano, pois já tinha observado uma dificuldade nos alunos. A professora estava passando a estrutura de um poema, os versos, estrofes e a rima.
Sendo assim, pensei logo em utilizar a música para explicar um pouco sobre a matéria que a professora da turma estava passando e para fazer uma dinâmica diferente. Escolhi uma música que pesquisei e vi que estava em alta no meio dos jovens e que caberia na atividade, a música escolhida foi “O Sol” do cantor Vítor Kley.
Figura 2- Atividade aplicada
Fonte: Gois (2022)
Assim que cheguei na sala de aula, tive uma conversa com os alunos e pedi para que me ajudassem a espalhar as carteiras para que ficasse um grande espaço para que pudéssemos fazer uma grande roda e se sentar no chão. Logo em seguida perguntei se eles lembravam da aula anterior e poucos responderam, falando poucas palavras sobre o assunto.
Expliquei a atividade, onde levei uma caixa de som com a música, uns balões e umas perguntas dentro dos balões. Cantamos a música juntos, vimos a estrutura da música em um cartaz que levei, onde mostrei as estrofes, os versos, a rima, o ritmo da música, o nome do autor e do cantor, o título e o estilo da música. Tudo isso em uma roda de conversa, onde até os alunos que nunca interagiam, começaram a conversar sobre o assunto.
O segundo momento da atividade foi com a música tocando na caixa de som, os alunos cantando e passando pro lado direito o balão com uma pergunta dentro, eu fiquei de costas e apertava o pause, a bola pararia na mão de um aluno e ele iria estourar o balão e responder as perguntas. Perguntas como “qual o nome da música?”, “a música tem quantas estrofes” eram respondidas pelos alunos que estavam se divertindo e aprendendo.
2.4 Diálogos com os sujeitos
Após o encerramento da atividade, foi iniciada uma roda de conversa com os estudantes para um melhor entendimento em relação a atividade proposta e a utilização da música como ferramenta de ensino-aprendizagem. A escolha da roda de conversa, foi por conta de elas serem reputadas por sua potencialidade na produção de narrativas individuais ou também coletivas.
Para iniciar esse momento de conversa, perguntei aos alunos se eles gostaram da aula e todos responderam que sim, em seguida perguntei se eles sentiram uma diferença das aulas anteriores, demoraram um pouco para responder, mas logo depois uns foram falando sobre a caixa de som, sobre o momento que pedi para se sentarem em roda no chão, foram citando as partes da atividade que não eram presente no dia a dia com a professora da sala de aula.
Segundo os estudantes, eles conseguiram compreender o conteúdo passado, pois a aula foi mais divertida e todos conseguiram participar dessa forma, além da música ter ajudado na compreensão e desenvolvimento da atividade. A música ajudou os estudantes a se soltarem mais, cantando, brincando e aprendendo. Alguns deles eu, apesar de ter ficado três semanas nas salas, não tinha ouvido a voz direito, mas com animação da música e da atividade, foi perceptível que todos participaram e se soltaram.
Com essa conversa, nem foi necessário fazer mais perguntas, pois eles mesmo afirmaram que a música fez diferença, pois foi através dela que eles conseguiram interagir entre si, compreender a atividade proposta e o conteúdo. Saindo do método tradicional e usando outras ferramentas de ensino- aprendizagem.
No final do dia, os estudantes agradeceram a aula e ficaram perguntando quando seria a próxima, ou seja, a maneira que a atividade foi passada incentivou os alunos a quererem estudar e estar em sala de aula. O plano de aula não teve seus objetivos modificados, mas a ferramenta de ensino- aprendizagem foi novidade no plano, fazendo sucesso no meio dos estudantes. Diante disso, foi possível observar que a música pode e deve ser explorada na sala de aula, independente da série, pois desperta curiosidade nos estudantes e deixa a aula mais interessante, além de ser possível explorar outras habilidades dos alunos por meio dela. Podemos nos expressar, refletir e aprender com o uso da musicalidade, podendo também trabalhar a mobilidade do corpo com a ajuda do ritmo, a música faz parte da nossa vida e do nosso dia a dia, sendo uma ferramenta de ensino-aprendizagem para vida e para o pedagógico.
CONCLUSÃO
O presente trabalho, teve como objetivo geral, demonstrar estratégias que envolvessem a música na sala de aula e a sua contribuição para o êxito do processo de ensino-aprendizagem numa sala do ensino fundamental I. Pode ser percebido através da atividade aplicada no período de estágio foi aproveitada com sucesso essa ferramenta no ensino, pois através do relato dos alunos e minha observação como professora no momento da atividade.
Para atingir uma compreensão mais apurada, foi traçado como objetivo específico, a reflexão sobre os discursos teóricos que foram referentes diretamente da música no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, foi possível compreender que a música é uma forma de se expressar, de aprender com mais leveza e uma forma de decodificar com mais facilidade, tendo uma grande relevância na educação.
Antes da atividade proposta, foi levantado um estudo sobre como a música é trabalhada no ensino fundamental e de acordo com os estudos e com a vivência na sala de aula, foi possível observar que a musicalidade não é usada com frequência nas salas do ensino fundamental I, pois foi mais perceptível a sua ausência em todo o processo de pesquisa.
Para evidenciar como a música pode contribuir para o êxito do processo de ensino-aprendizagem, foi realizada a atividade com uma turma do ensino fundamental I, onde foi trabalhado a estrutura de um poema, utilizando a música e uma atividade no coletivo. Os estudantes gostaram mais da aula e foi perceptível a facilidade no momento de compreender o conteúdo, pois estava fora do modelo tradicional de ensino, tendo a música como ferramenta, chamando a atenção de todos e sendo um meio de se comunicarem e se expressarem naquele momento.
Nesse sentido, vejo o trabalho como uma forma de comunicar aos mestres que é possível usar outras ferramentas na sala de aula, a música em específico, pois ela deixa o ambiente de ensino mais agradável, deixa o estudante se expressar de outra forma e o envolve na atividade. Compreende-se por meio deste trabalho que as formas tradicionais de ensino pode ser uma barreira para o melhor desenvolvimento dos estudantes, pois foi possível ver que na forma tradicional, muitos estudantes não conseguiam participar da aula ou não se sentiam a vontade para isso, mas na atividade com a música, todos participaram e puderam cantar, se expressar de uma outra maneira.
Ao longo de todo processo da pesquisa, foi compreendido que o professor deve conhecer seus estudantes e perceber quais ferramentas poderá utilizar para que o ensino fique mais leve e prazeroso, trazendo os estudantes para si. A utilização da música, quebra o ciclo da monotonia das atividades com ensino tradicional.
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