MOCEM: ESTRATÉGIA PARA A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E O ENSINO DE CIÊNCIAS

MOCEM: STRATEGY FOR SCIENTIFIC DISSEMINATION AND SCIENCE TEACHING

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8141009


Luciano Gustavo Oliveira da Silva1
Eline Deccache Maia2
Christine Ruta3
Lucrécia Oliveira Martins4
Eline Deccache-Maia5


Resumo: A feira de Ciência é uma oportunidade para os alunos validarem seus resultados de pesquisa e aprimorarem suas habilidades de comunicação, promovendo a construção e compartilhamento de conhecimento. Durante esse evento, ocorrem momentos de divulgação científica nos quais os estudantes-pesquisadores têm a chance de apresentar suas descobertas para diversos públicos. Neste estudo de caráter qualitativo, foi traçado o objetivo de analisar o impacto da Mostra de Ciências das Escolas de Barra Mansa (MoCEM) na trajetória de formação dos alunos e investigar como a participação na MoCEM contribuiu para o desenvolvimento pessoal e profissional. O instrumento de pesquisa foi elaborado com questões fechadas que solicitaram informações de identificação, faixa etária e formação acadêmica dos participantes, bem como perguntas abertas sobre as percepções dos alunos em relação à sua participação na MoCEM. Para a análise de dados, usamos como técnica a análise temática de Fontoura. Parte dos alunos respondentes, reconhecem que as feiras de Ciências despertam a curiosidade e aumentam o interesse pela Ciência, incentiva a busca do saber, estimula a pesquisa e a partir daí pode descobrir novas vocações. A feira contribui no ensino de Ciências, aproximando os alunos da pesquisa e podendo estimular jovens a ingressarem na carreira científica.

Palavras-chave: Feiras de Ciências. Divulgação Científica. 

Abstract: The Science Fair is an opportunity for students to validate their research results and improve their communication skills, promoting knowledge building and sharing. During this event, there are moments of scientific dissemination in which student-researchers have the chance to present their discoveries to different audiences. In this qualitative study, the aim was to analyze the impact of the Science Exhibition of Barra Mansa Schools (MoCEM) on the students’ training trajectory and to investigate how participation in MoCEM contributed to personal and professional development. The research instrument was elaborated with closed questions that asked for identification information, age group and academic background of the participants, as well as open questions about the students’ perceptions regarding their participation in MoCEM. For data analysis, we used Fontoura’s thematic analysis as a technique. Part of the responding students recognize that Science fairs arouse curiosity and increase interest in Science, encourage the search for knowledge, stimulate research and from there you can discover new vocations. The Exhibition contributes to the teaching of Science, bringing students closer to research and encouraging young people to embark on a scientific career.

Keywords: Science Fairs. Scientific divulgation. 

1. Introdução

A divulgação científica teve sua origem na Europa, quando os primeiros esforços foram feitos para tornar os conhecimentos científicos mais acessíveis à sociedade em geral e ao longo do tempo vem se tornando, cada vez mais, agradável e divertida. O direito à informação científica, hoje considerado pelos governos democráticos como obrigação, foi sendo conquistado aos poucos, desde o século XV. (CARIBÉ e MUELLER, 2010)

A divulgação Científica é um termo frequentemente utilizado e muitas vezes com definições diferentes. Para Albagli (1996) é definido como uso de processos e recursos técnicos para a comunicação da informação científica e tecnológica ao público em geral. Já para Souza (2011) a divulgação científica é considerada como prática que objetiva promover a aproximação do leigo ou não iniciado em Ciência a alguns princípios, produtos e implicações da atividade Científica. O termo é polifônico, mas de acordo com as definições apresentadas por diversos autores, a ideia da divulgação científica é um movimento que busca com que o discurso produzido pela Ciência, que usa uma linguagem hermética, possa ser entendido por um público mais amplo, levando a uma maior democratização do direito à informação científica. (DECCACHE-MAIA, 2023). Sendo assim, esse movimento leva ao campo da comunicação, como diz Sánshez Mora (2003), não se trata de uma tradução, e sim criar uma ponte entre o mundo da Ciência e os outros mundos. A comunicação pode apresentar dois sentidos, o primeiro “comunicar”, equivalente a informar e transmitir e o segundo de “comunicar-se”, em diálogo horizontal com o outro. (GERMANO e KULESZA, 2006). Nessa perspectiva reflexiva, comunica-se num processo horizontal de compartilhamento e diálogo. Contrapõe ao modo dominante, onde um fala e o outro apenas escuta. Essa concepção dialógica se aproxima do que sugere Freire (1981) a dialogicidade e a problematização são essenciais no ato educativo. Afastando dessa forma a mera transmissão unilateral e autoritária de um conhecimento do especialista para o não especialista. 

As feiras de Ciências são alternativas a esse modelo autoritário e unidirecional de transmissão de conhecimento, pois valorizam o diálogo entre os pares e o público visitante. Em contraste com a abordagem tradicional de ensino, onde o professor é a única fonte de informação e os alunos são receptores passivos, as feiras de Ciências incentivam a interação ativa e a troca de ideias. Dentro desse contexto, Feiras e Mostras de Ciências podem ser um ambiente que auxilia na divulgação científica. Santos (2012) relata que as feiras e mostras de ciências são importantes para promover o desenvolvimento da cultura científica. As feiras são consideradas como espaços de educação não formal e de divulgação científica e como destacam os autores  Rocha et al (2021) a participação de alunos tem grande potencial para trocas, diálogos, apropriação participante, aprendizagem e processos de transformação.

No Brasil, as primeiras feiras de Ciências ocorreram na cidade de São Paulo durante a década de 60. De acordo com Mancuso (2000), essas feiras tinham um caráter demonstrativo e serviam para familiarizar alunos e a comunidade escolar com materiais de laboratório, que eram praticamente inacessíveis e desconhecidos na época. Diversos autores têm diferentes definições para as feiras de ciências. Barcelos et. al. (2010) afirmam que essas feiras são instrumentos que permitem a integração de conteúdos de diferentes disciplinas curriculares, além de oferecerem espaço para o trabalho e estudo de temas extracurriculares. Eles também afirmam que as feiras fortaleceram os vínculos afetivos e funcionaram para a formação cidadã, considerando as dimensões sociais e culturais das relações entre os envolvidos no projeto. Oaigen (2004) define como Feiras de Ciências atividades informais que desempenham um papel importante na disseminação da produção científica de todos os envolvidos, proporcionando uma oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos. De acordo com Farias (2006), essas feiras possibilitam a mudança e a manutenção da visão de mundo dos participantes, expositores e visitantes, contribuindo para a socialização e troca de experiências de ensino-aprendizagem-conhecimentos com a comunidade. Elas permitem a divulgação de resultados de pesquisas e troca de experiências entre pares para validar o conhecimento.  A Feira de Ciência é um evento envolvente que incentiva a divulgação científica, além de ser um importante impulsionador de pesquisas científicas e tecnológicas independentes. Ela reúne alunos, professores e famílias, promovendo uma educação voltada para a ciência, onde a aquisição de conhecimento se dá por meio da investigação científica, buscando encontrar soluções para problemas do dia a dia ou de interesse geral. (PAVÃO e LIMA, 2019). Diante das definições apresentadas podemos afirmar que as feiras de ciências são eventos sociais, científicos e culturais, tem a intenção de expor os trabalhos desenvolvidos e oportunizar um diálogo com os visitantes.

Em 2004, o Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia foi estabelecido dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia (MCT), com o objetivo de promover políticas públicas nessa área. Essa iniciativa resultou em um aumento notável nos esforços de divulgação científica, incluindo o incentivo de apoio financeiro e a criação de uma coordenação nacional para várias dessas iniciativas. Durante os dez anos seguintes, aproximadamente trinta editais foram lançados, com recursos provenientes do MCT e principalmente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a fim de apoiar projetos de divulgação científica. Entre esses projetos, destacam-se a criação e o desenvolvimento de centros e museus de ciências, a organização de olimpíadas e feiras de ciências, a realização de exposições científicas e a promoção de atividades durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. (MASSARANI e MOREIRA, 2021)

As feiras de ciências desempenham um papel crucial na divulgação científica e têm uma importância significativa no contexto da popularização da ciência. Elas proporcionam uma oportunidade única para os alunos, professores e pesquisadores compartilharem conhecimentos científicos de maneira interativa e envolvente com o público em geral.

Uma das principais vantagens das feiras de ciências é que elas incentivam os alunos a se envolverem ativamente no processo de descoberta e exploração científica. Os alunos têm a oportunidade de escolher um tema de pesquisa, formular uma pergunta científica, planejar e realizar experimentos, coletar dados e analisar os resultados. Essa abordagem prática ajuda a despertar o interesse pela ciência, ao mesmo tempo em que desenvolve habilidades de pensamento crítico, resolução de problemas e comunicação. Além disso, as feiras de ciências proporcionam um ambiente propício para a interação entre os participantes, promovendo o compartilhamento de ideias e o trabalho em equipe. Os alunos têm a oportunidade de discutir suas descobertas, trocar experiências e aprender uns com os outros. Isso estimula a criatividade, a colaboração e o desenvolvimento de habilidades sociais importantes.

As feiras de ciências também têm um impacto positivo na comunidade em geral. Elas permitem que as pessoas tenham acesso ao conhecimento científico em diversas áreas. Isso ajuda a desmistificar a ciência, tornando-a mais acessível e compreensível para o público leigo. Além disso, as feiras de ciências podem despertar o interesse das pessoas em seguir carreiras científicas e tecnológicas, desejando o desenvolvimento de futuros profissionais nessas áreas.

Por fim, as feiras de ciências podem servir como um espaço para que investigadores e instituições científicas apresentem e promovam suas pesquisas e avanços científicos. Isso fortalece a ligação entre a comunidade científica e a sociedade, permitindo que o conhecimento científico seja compartilhado e valorizado por um público mais amplo.

As feiras de Ciências têm um papel fundamental na promoção da busca por informações e no desenvolvimento de habilidades. Essas feiras são instrumentos valiosos que possibilitam a integração de conteúdos e oferecem espaço para o protagonismo do aluno. No contexto específico de Barra Mansa, a MoCEM (Mostra de Ciências das Escolas Municipais) é organizada e coordenada pelo MICInense (Museu Interativo de Ciências do Sul Fluminense), que está em sua sétima edição.

O objetivo principal do MoCEM é promover a divulgação científica para todos os alunos da rede municipal. Sua linha de ação é despertar o interesse pela ciência e tecnologia, estimulando a realização de atividades experimentais nas escolas, incentivando a execução de projetos na área de ciências, desenvolvendo a criatividade dos alunos e identificando jovens talentos na área da ciência e tecnologia. Além disso, o MoCEM tem como objetivo divulgar o conhecimento científico. A MoCEM recebe apoio financeiro por meio de editais lançados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ocorre a cada dois anos no município. 

A mostra é realizada em três etapas distintas. A primeira constitui-se na realização de feiras de ciências nas 20 escolas do município que oferecem o segundo segmento do ensino fundamental, incluindo escolas rurais e aquelas localizadas em áreas de vulnerabilidade econômica e social. Aproximadamente cinco mil alunos participam dessa etapa a cada edição.

A segunda etapa envolve a realização de uma feira municipal, na qual os três melhores trabalhos de cada escola são selecionados para participar. Durante esse evento, são realizadas palestras ministradas por pesquisadores das áreas de Química, Física e Biologia. Cerca de 250 pessoas, além de visitantes, participaram dessa etapa.

Por fim, a terceira etapa consiste na entrega dos certificados aos melhores trabalhos, escolhidos pela Comissão Científica. Os vencedores do MoCEM têm a oportunidade de participar de edições da FECTI (Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro).

Essa iniciativa demonstra o interesse do MICInense em desenvolver a MoCEM e desta forma incentivar a educação científica e o envolvimento dos alunos nas áreas de ciência e tecnologia, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento de habilidades científicas e a promoção do conhecimento.

2. Metodologia

O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem. (MINAYO, 2014). Sendo assim, optou-se pela abordagem qualitativa por se tratar de histórias sociais sob a ótica dos autores. O estudo de caso foi usado como procedimento. A preferência se deu pela possibilidade de fazer a investigação e examinar o impacto de determinadas ações numa realidade concreta. Neste estudo exploratório, de caráter qualitativo, foi traçado o objetivo de analisar o impacto da MoCEM na trajetória de formação dos alunos e investigar como a participação na MoCEM contribuiu para o desenvolvimento pessoal e profissional. 

Foram enviados dez formulários para ex-alunos que participaram da MoCEM e foram finalistas em edições anteriores, sendo alunos contemplados com uma bolsa de iniciação científica júnior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq). Cinco desses ex-alunos responderam ao questionário dentro do prazo solicitado. O formulário de pesquisa iniciou com a solicitação de assinatura de anuência. Todos os alunos assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas da Resolução n°196, do Conselho Nacional de Saúde de 10 de outubro de 1996. A pesquisa realizou procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem e a não estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas. 

O instrumento de pesquisa foi elaborado com questões fechadas que solicitaram informações de identificação, faixa etária e formação acadêmica dos participantes, bem como perguntas abertas sobre as percepções dos alunos em relação à sua participação na MoCEM. As questões perguntadas aos participantes da MoCEM foram: 1) Você acredita que iniciativas de incentivo à ciência, como feiras científicas, por exemplo a MoCEM, contribuem para o descobrimento de vocações e incentivam o ingresso na carreira científica? 2) Quais foram as contribuições da sua participação na MoCEM para a sua vida? 3) Quais foram os benefícios de ser um bolsista de iniciação científica júnior? 4) Considerando sua trajetória de vida, você gostaria de compartilhar alguma consideração sobre a relação entre a MoCEM e suas experiências pessoais? Utilizamos o Google Formulários para coletar as informações dos ex-alunos, uma vez que muitos deles não residem mais no município.

Para a análise de dados, usamos como técnica a análise temática de Fontoura (2011), que pode ser sintetizada em sete passos: 1) Transcrição do material coletado; 2) Leitura flutuante do material transcrito; 3) Delimitação do corpus de análise; 4) Agrupamento de temas relevantes para o objetivo do trabalho; 5) Definição de unidades de contexto e unidades de significado; 6) Separação das unidades de contexto do corpus de análise; e 7) Interpretação dos resultados à luz dos referenciais teóricos

3. Resultados e Discussão 

Os resultados da pesquisa demonstram que todos os alunos bolsistas que foram pesquisados ​​estudaram em escolas públicas, especificamente na rede municipal de educação de Barra Mansa. No momento em que participavam da MoCEM , estavam matriculados no ensino fundamental. A faixa etária dos alunos durante a pesquisa variou entre 17 e 25 anos. 

Entre os alunos participantes da pesquisa, dois optaram por ingressar nos cursos técnicos oferecidos pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ. Um deles escolheu o curso Técnico em Agropecuária, enquanto o outro decidiu cursar Técnico em Meio Ambiente. Os demais alunos cursaram o ensino médio regular. 

Após o ensino Médio, todos os cinco alunos matricularam-se em um curso superior. Os cursos de graduação que os alunos estavam frequentando são: Farmácia, Direito, Cinema, Odontologia e Medicina Veterinária. Dentre eles, dois ingressaram em instituições da rede federal de Ensino. O aluno que participou da primeira edição da MoCEM e contribuiu na pesquisa estava matriculado no Mestrado em Direito Penal na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Quadro 1. Categorias do Tema “a relação do participante com formação acadêmica”

CategoriasUnidades de contexto
Incentivo na vida acadêmica“Isso traz um grande incentivo na vida acadêmica do estudante”. (Aluno 1)
“para saber sobre diversas áreas da ciência”. (Aluno 4).
Aumenta o interesse “ou então aumentando o interesse do aluno”. (Aluno 1)
“Feiras de ciências são formas lúdicas de despertar o interesse de crianças e adolescentes para as ciências. Nesses momentos os alunos são estimulados a pesquisar experimentos, incentivando a curiosidades. (Aluno 3)
“desperta a curiosidade do estudante”. (Aluno 4)
“consegui desenvolver muito o interesse para a área”. (Aluno 5)
Estimula a pesquisa
“Descobri que era apaixonada em ciências biológicas graças à MoCEM, além de que queria trabalhar com pesquisa”. (Aluno 2)
“Acredito que qualquer forma de incentivo a pesquisa é importante”. (Aluno 3)
“Claro, com a MoCEM conseguiu desenvolver muito o interesse para a área da pesquisa científica e atualmente participo de uma iniciação científica na graduação .(Aluno 5)
Reconhece vocações“descobrindo uma nova vocação” . (Aluno 1)
“ Descobri que era apaixonada em ciências biológicas graças à MoCEM, além de que queria trabalhar com pesquisa”. (Aluno 2)
“Claro, com a MoCEM conseguiu desenvolver muito o interesse para a área da pesquisa científica e atualmente participo de uma iniciação científica na graduação” .(Aluno 5)

Após a análise dos dados da pesquisa, verificou-se que parte dos alunos respondentes, reconhecem que as feiras de Ciências despertam a curiosidade e aumentam o interesse pela Ciência, incentiva a busca do saber, estimula a pesquisa e a partir daí pode descobrir novas vocações.

Quadro 2. Categorias do Tema “contribuições ao participar da MoCEM”

CategoriasUnidades de contexto
Contribui com o aprendizado“A MoCEM é um momento de muita emoção, muita ansiedade. Você faz as pesquisas, a montagem do trabalho é uma grande satisfação e emoção. E a ansiedade porque você quer apresentar o trabalho, quer saber o resultado. E durante a realização do trabalho com as pesquisas, o aluno fica focado em aprender, O que contribui com o aprendizado do aluno. (Aluno 1)
“Eu acho que foi muito importante ter participado da mostra de ciências, tendo valido a pena ter me empenhado na elaboração do projeto. Foi um passo importante no despertar da curiosidade científica. Além disso, foi muito interessante ver os projetos dos outros alunos. Dentre eles, foi possível ver muito potencial. Acredito que seja fundamental a existência de projetos como esse. (Aluno 3)
Aproxima da pesquisa“A MoCEM me levou a ter meu primeiro contato com artigos científicos, que usei de referências bibliográficas para meu próprio projeto. Além disso, graças a MoCEM, tive a oportunidade de participar e conhecer outras feiras e mostras, como a Fecti (Feira Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro). Ademais, foi graças a esse contato com a pesquisa científica que embasei meu objetivo para após a faculdade: ser pesquisadora da Fiocruz. (Aluno 2)
“Além de ter me ajudado no crescimento científico, ajudou no meu currículo lattes” (Aluno 5)

Ao analisar as contribuições decorrentes da participação na MoCEM, foi observado um notável entusiasmo nas mensagens dos alunos. Alguns deles ressaltaram a importância de participar e destacaram que a feira de Ciências contribui para o processo de aprendizagem do aluno. O aluno ao participar das feiras de Ciências desenvolve habilidades que serão necessárias para a divulgação dos resultados de sua pesquisa. Sua capacidade argumentativa, é um elemento essencial utilizado por esses alunos pesquisadores para explicar seus achados para seus pares e para o público visitante. Além de expor seus trabalhos a diversos públicos, as feiras oferecem momentos formativos, promovendo a troca de conhecimentos entre o próprio pesquisador e outros participantes. É possível pensar em momentos de divulgação científica (entre os estudantes pesquisadores e outros estudantes visitantes ou envolvidos em outros projetos de pesquisa). Essas experiências, proporcionam a construção de conhecimentos para além de um currículo engessado escolar, indo ao encontro dos interesses reais dos envolvidos. (GALLON et al, 2019)

Ao analisar algumas mensagens, fica explícito a emoção dos alunos ao participarem e apresentarem as suas pesquisas durante o evento. Assim como relatado pelo aluno 1 

A MoCEM é um momento de muita emoção, muita ansiedade. Você faz as pesquisas, a montagem do trabalho é uma grande satisfação e emoção. (Aluno 1)

As emoções têm um impacto significativo no desempenho acadêmico, uma vez que o estado emocional de um indivíduo influencia sua capacidade de aprendizado. Estudos na área da neurociência demonstram uma forte conexão entre cognição e emoção. Segundo Cosenza e Guerra (2011), às emoções ativam processos cognitivos, como atenção e percepção, e indicam a importância de certos eventos ou situações.

Alguns alunos informaram uma maior familiaridade com os instrumentos da Ciência, o contato com artigos, eventos e o currículo Lattes, que os inseriram no universo da pesquisa. Essa experiência contribuiu significativamente para o crescimento acadêmico desses alunos.

Quadro 3. Categorias do Tema “Benefícios de ser um bolsista de Iniciação Científica Júnior”

CategoriasUnidades de contexto
Incentivo a pesquisa“Ser um bolsista além de ser uma grande conquista para o aluno, também é um grande incentivo à pesquisa. Uma recompensa que mostra para o aluno que compensa estudar. (Aluno 1)
“Me proporcionou muito contato: com alunos, professores, outros bolsistas, outros pesquisadores, o Lattes, todo um mundo que eu não conhecia.(Aluno 2)
“Eu acho que foi um passo inicial para meu ingresso na pesquisa. Posteriormente, no ensino médio, ingressei em outro projeto de pesquisa e na graduação, em outro. Sem dúvidas, ter recebido essa oportunidade foi muito importante para mim. Se não tivesse recebido, talvez eu não teria conhecido tão cedo o projeto de iniciação científica, que foi fundamental em minha formação. ( Aluno 3)
Apoio financeiro“A bolsa me ajudou a pagar um curso de inglês. (Aluno 4)
Muitos, aprendi de mais no projeto, os orientadores são maravilhosos e estavam ali para repassar conhecimento a tudo que você precisasse ! Além disso, com o valor da bolsa na época consegui pagar meu curso de informática!” (Aluno 5)

Durante a análise das mensagens, notou-se  a importância enfatizada pelos alunos em relação ao estímulo à pesquisa. Uma parcela dos alunos enfatizou a salvaguarda da questão financeira, destacando que o valor recebido foi direcionado para a realização de cursos de formação. Essa atitude demonstra uma preocupação pessoal com uma formação mais abrangente e a busca por ampliar seus conhecimentos.

Segundo (Massarani e Moreira, 2021) uma das formas mais eficazes de educar os jovens e o público sobre ciência é colocá-los no papel de pesquisadores e fazer com que utilizem, mesmo que em um nível restrito, os métodos da Ciência em um diálogo efetivo entre as Ciências, seus principais atores e público. As feiras de Ciências cumprem esse papel. São uma ferramenta valiosa de divulgação científica, pois estimulam o interesse pela ciência, desenvolvem habilidades científicas e sociais nos participantes e aproximam a comunidade científica da sociedade. 

Dessa maneira, alunos que são colocados no papel de pesquisadores, podem se aproximar da pesquisa, reconhecer vocações e seguir carreiras na área. Assim como demonstrado no relato do aluno 5.

“A MoCEM tangenciou minha trajetória com a ciência, apesar do meu projeto na época ter sido voltado para ciências biológicas na parte de ecologia e meio ambiente, e eu, atualmente ter optado por ciências biológicas, na área de saúde como profissão. Ao apresentar meu projeto e ter tanto contato com pesquisadores e futuros pesquisadores, projetos e ideias a serem desenvolvidos, nutri muito amor pela área de pesquisa, e tive noção de que era isso que eu queria pra mim.” (Aluno 3)

Dentro desse contexto, Feiras e Mostras de Ciências podem ser um ambiente que auxilia na divulgação científica e, concomitante, estimula o desenvolvimento científico do país. Pois são eventos que proporcionam aos participantes uma vivência que estimula o interesse em conhecer mais sobre a Ciência e são esses jovens que muitas vezes vão ingressar no ensino superior, participando de projetos de pesquisas e possivelmente vão melhorar e incentivar o desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias. Como demonstrado pelo relato do aluno 5. 

“amava apresentar o projeto e com isso vi a minha verdadeira vocação na vida , pretendo ser professor de graduação e tenho certeza disso pelo tanto de vezes que apresentei trabalho nas férias de ciência, além disso , foi graças a MoCEM que consegui participar 3X da feira de ciência Estadual no centro do Rio e aprendi muito mais lá também! E agora, mesmo na graduação eu estou participando NOVAMENTE de uma iniciação científica e tenho CERTEZA QUE se não fosse esse projeto eu talvez nem saberia disso na graduação! Amei tudo! Se voltasse no tempo faria tudo de novo , me dediquei ao máximo e me entregaria de novo na mesma intensidade !” (Aluno 5)

As políticas públicas constituem um desafio para o desenvolvimento da divulgação científica. As estruturas existentes precisam ser fortalecidas e novas políticas de estímulo devem ser criadas, assim como promovidas a continuidade e a ampliação de meios e recursos. Certamente, dentro destas políticas um lugar de destaque deve caber para a melhoria significativa da educação básica, em particular da educação em Ciências. Corroboramos com as ideias de Massarani e Moreira (2021) e reafirmamos que as feiras de Ciências são ferramentas importantes no ensino de Ciências, aproximando os alunos da pesquisa e podendo estimular jovens a ingressarem na carreira científica. 

4. Conclusão

As escolas têm abandonado aos poucos o ensino transmissivo, unidirecional e autoritário, seguindo em direção a um modelo participativo, que estimula o interesse dos alunos e permite seu protagonismo. Nesse sentido, optam por realizar feiras ou mostras científicas. Consideramos as feiras de ciências como impulsionadoras da comunicação. Portanto, elas possuem um potencial significativo para a divulgação científica, incentivando os alunos a se envolverem em pesquisa, utilizando recursos e processos para compartilhar esses conhecimentos com um público não científico. Os alunos pesquisadores devem adotar diferentes formas de comunicação para transmitir suas descobertas de maneira compreensível para um público leigo. Ao transmitir essas informações científicas, busca-se estimular a curiosidade do público e, assim, orientar a sociedade na tomada de decisões de forma responsável.

Durante a pesquisa, foram observados e destacados dois fatores importantes. O primeiro deles é a aprendizagem. De acordo com os alunos, a participação em feiras de ciências contribui significativamente para o processo de aprendizado. Isso ocorre porque as feiras despertam a curiosidade, o que aumenta o interesse dos estudantes e, consequentemente, promove o desenvolvimento de conhecimentos. O segundo fator identificado nas mensagens é o estímulo à pesquisa. A participação em feiras de ciências aumenta o interesse dos alunos pela área e pode ser um dos elementos no reconhecimento de vocações para a carreira científica. Ao envolver-se em projetos de pesquisa durante essas feiras, os estudantes têm a oportunidade de explorar diferentes áreas do conhecimento científico, desenvolvendo habilidades de investigação e despertando interesses que podem orientar suas escolhas profissionais no futuro.

As feiras de ciências, portanto, desempenham um papel importante no estímulo ao interesse pela ciência, na descoberta de vocações e na promoção de uma educação mais participativa e prática. Essas experiências podem influenciar positivamente o percurso acadêmico e profissional dos alunos.

Investir em políticas públicas que promovem o desenvolvimento e o financiamento de feiras de ciências no Brasil é uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade do ensino e fomentar a divulgação científica no país. 

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1Mestrado, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
2Doutorado, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
3Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro
4Mestrado, Museu Interativo de Ciências do Sul Fluminense