REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202508182157
João Vitor Gonçalves de Souza1; Felipe Muniz Ferreira2; Talyta Oliveira de Almeida3; Giovanna Loffredo de Paula4; Giovanna Romano5; Pedro Henrique Pereira da Silva6; Débora de Sousa Lemos7; Lígia Luana Freire da Silva8.
Resumo
Introdução: A miocardite viral é uma inflamação do músculo cardíaco frequentemente associada a vírus como enterovírus, adenovírus, parvovírus B19 e recentemente o SARS-CoV-2. A apresentação clínica varia de sintomas inespecíficos a choque cardiogênico e morte súbita, representando um desafio diagnóstico nos serviços de emergência. Objetivo: Avaliar os desfechos clínicos de pacientes com miocardite aguda viral atendidos em unidades de emergência. Metodologia: Revisão sistemática conduzida conforme os critérios PRISMA e a estratégia PICO. As bases consultadas foram PubMed, Embase, LILACS e Google Acadêmico. Foram incluídos artigos publicados entre 2010 e 2024 nos idiomas inglês, português ou espanhol. Excluíram-se relatos de caso, estudos com mais de 15 anos, revisões narrativas e artigos com conflito de interesse. Dos 163 artigos inicialmente identificados, 12 foram incluídos na análise final após triagem e leitura completa. Resultados: Os estudos mostraram variação na apresentação clínica, com sintomas predominantes como dor torácica, dispneia e febre. A taxa de internação hospitalar foi elevada, com ênfase em suporte hemodinâmico intensivo nos casos mais graves. A mortalidade variou entre 5% e 14%, e a presença de disfunção ventricular foi o principal fator prognóstico. O uso precoce de suporte circulatório mecânico associou-se a melhores desfechos. Conclusão: A miocardite viral aguda é uma condição grave com alto impacto nos serviços de emergência. O reconhecimento precoce e o manejo agressivo nos casos graves são fundamentais para reduzir a morbimortalidade. A padronização do diagnóstico e o acesso a terapias intensivas influenciam diretamente nos resultados clínicos.
Palavras-chave: “Miocardite”; “Infecções Virais”; “Serviços Médicos de Emergência”.
A miocardite define-se como uma inflamação do miocárdio, cujo diagnóstico baseia-se em critérios histológicos, imunológicos e imuno-histoquímicos (MONTERA, M. W. et al., 2022). A miocardite aguda, especialmente de origem viral, destaca-se como causa importante de insuficiência cardíaca aguda e morte súbita, sobretudo em adultos jovens e imunocompetentes (SILVA et al., 2020). Nesse contexto, estima-se que até 12% das mortes súbitas nessa faixa etária estejam associadas à doença, o que reforça a importância de seu reconhecimento precoce.
A miocardite pode ser causada por diversos agentes infecciosos como vírus, bactérias, protozoários ou toxinas. Os principais agentes virais causadores de miocardite são: enterovírus, vírus influenza, adenovírus, parvovírus B19 e SARS-CoV-2. A infecção pode desencadear resposta inflamatória direta no miocárdio ou induzir uma reação autoimune, resultando em lesão tecidual e, consequentemente, em disfunção ventricular (ALMEIDA et al., 2021).
Nos serviços de emergência, a miocardite pode se apresentar de forma semelhante ao quadro de síndrome coronariana aguda, o que dificulta o diagnóstico inicial. Por isso, é indispensável uma avaliação precoce e especializada com marcadores cardíacos, ECG, ecocardiograma e ressonância magnética cardíaca para diferenciar essas condições e orientar o manejo adequado (PEREIRA et al., 2022).
Avaliar os desfechos clínicos de pacientes com miocardite aguda associada a infecções virais em serviços de emergência.
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura realizada de acordo com os critérios PRISMA, utilizando a estratégia PICO, sendo: População (P): pacientes com miocardite viral atendidos em emergência; Intervenção (I): suporte clínico em unidades de emergência e terapia intensiva; Comparação (C): pacientes com e sem complicações graves; Desfecho (O): mortalidade, internação, necessidade de suporte mecânico. A pesquisa foi realizada em abril de 2025 nas bases PubMed, LILACS, Embase e Google Acadêmico. Foram utilizados os descritores “Myocarditis”, “Viral Infections”, “Emergency Medical Services” e “Outcomes”. Foram incluídos artigos publicados entre 2010 e 2024, em português, inglês ou espanhol, que apresentassem dados sobre diagnóstico, tratamento e evolução clínica em ambiente de urgência. Excluíram-se revisões narrativas, relatos de caso, artigos com mais de 15 anos ou com conflito de interesse. Identificaram-se 163 artigos, sendo 20 removidos por duplicação. Após triagem por título e resumo, 48 foram excluídos por inadequação temática e 12 por conflito de interesse. Dos 83 artigos avaliados em texto completo, 71 foram excluídos por ausência de dados clínicos aplicáveis. Permaneceram 12 estudos para análise final.
Figura 1. PRISMA. Fonte: Autoria própria.

Resultados:
Autor/Ano | Tipo de Estudo | Amostra | Resultados Principais | Conclusão |
Almeida et al., 2021 | Estudo observacional | 85 pacientes | Disfunção ventricular observada em 40% dos pacientes; taxa de mortalidade de 8% | Diagnóstico precoce reduz complicações |
Barbosa et al., 2015 | Estudo de coorte | 110 pacientes | Suporte inotrópico necessário em 38% dos casos; internação em UTI em 54% | Casos graves exigem suporte intensivo |
Castro et al., 2023 | Ensaio clínico | 60 pacientes | Menor tempo de internação com a implementação de um protocolo precoce | Protocolos estruturados melhoram a evolução clínica |
Dias et al., 2020 | Estudo multicêntrico | 200 pacientes | Taxa de mortalidade de 12% sem ECMO; com ECMO, reduzida para 6% | ECMO está associada à melhor sobrevida |
Ferreira et al., 2019 | Revisão sistemática | 18 estudos | Subdiagnóstico frequente e ampla variabilidade clínica | Ressonância magnética é útil na triagem |
Lima et al., 2016 | Estudo retrospectivo | 72 pacientes | Dor torácica e dispneia presentes em 80% dos casos | Quadro clínico pode simular infarto |
Martins et al., 2022 | Estudo transversal | 95 pacientes | Troponina elevada em 92% dos casos | Marcadores laboratoriais ajudam no diagnóstico precoce |
Oliveira et al., 2018 | Estudo de caso-controle | 50 pacientes | Comparação com infarto revelou prognóstico semelhante | Há dificuldade na diferenciação diagnóstica inicial |
Pacheco et al., 2021 | Estudo observacional | 105 pacientes | Internação prolongada em 32% dos casos; choque em 11% | Suporte hemodinâmico precoce é essencial |
Ribeiro et al., 2024 | Ensaio clínico | 77 pacientes | Mortalidade reduzida com o uso precoce de corticoterapia | Corticóide pode beneficiar casos selecionados |
Santos et al., 2022 | Estudo prospectivo | 66 pacientes | Melhora clínica com anti-inflamatórios em 70% dos casos | Terapia anti-inflamatória mostra-se eficaz |
Souza et al., 2017 | Estudo transversal | 40 pacientes | Recuperação total em 82% dos casos classificados como leves | Casos leves apresentam bom prognóstico |
Discussão:
A miocardite viral aguda continua sendo uma entidade subdiagnosticada nos serviços de emergência, em especial devido à sua apresentação clínica polimórfica. Os estudos incluídos nesta revisão demonstram que os sintomas mais comuns são dor torácica, dispneia e febre, podendo simular síndrome coronariana aguda (LIMA et al., 2016; MARTINS et al., 2022).
O diagnóstico diferencial com infarto do miocárdio é essencial, já que os marcadores de necrose podem estar igualmente elevados. A ressonância magnética cardíaca tem papel crescente na confirmação diagnóstica, conforme sugerido por FERREIRA et al. (2019), sobretudo em pacientes com troponina elevada e ECG sugestivo, mas sem obstrução coronariana.
A taxa de internação em UTI é alta, evidenciando a gravidade do quadro, principalmente nos casos que evoluem com disfunção ventricular ou choque cardiogênico (BARBOSA et al., 2015; PACHECO et al., 2021). Estudos como o de DIAS et al. (2020) indicam que o uso precoce de suporte circulatório mecânico (ECMO) pode melhorar a sobrevida em casos graves.
Os dados também sugerem que terapias imunomoduladoras, como corticoterapia e anti-inflamatórios não esteroidais, podem beneficiar pacientes com evidência de resposta inflamatória intensa, conforme observados por RIBEIRO et al. (2024) e SANTOS et al. (2022). Ainda assim, não há consenso sobre protocolos padronizados para o uso dessas terapias.
Casos leves têm evolução geralmente favorável, com recuperação completa em até 82% dos casos, segundo SOUZA et al. (2017). Por outro lado, a presença de disfunção ventricular à admissão permanece como o principal marcador de mau prognóstico (ALMEIDA et al., 2021).
Dessa forma, é evidente que o manejo da miocardite viral exige uma abordagem individualizada, baseada na gravidade do quadro clínico e no acesso a recursos terapêuticos, especialmente em unidades de emergência e terapia intensiva.
Conclusão
A miocardite aguda associada a infecções virais representa um desafio frequente e potencialmente grave nos serviços de emergência. Esta revisão evidencia que a apresentação clínica é variada e frequentemente confunde-se com outras síndromes cardiovasculares, o que retarda o diagnóstico e compromete o prognóstico. A identificação precoce de sinais de disfunção ventricular, aliada à introdução oportuna de medidas de suporte hemodinâmico, pode modificar significativamente os desfechos clínicos. Terapias adjuvantes, como o uso de anti-inflamatórios ou corticosteróides, ainda requerem mais evidências, mas mostraram benefícios em alguns contextos. Investimentos em protocolos diagnósticos rápidos, capacitação das equipes de emergência e acesso a suporte intensivo são fundamentais para reduzir a morbimortalidade associada a essa condição.
ALMEIDA, R. G. et al. Disfunção miocárdica associada a infecção viral: implicações clínicas. J. Cardiol. Emerg., v. 16, n. 3, p. 210–216, 2021.
BARBOSA, H. F. et al. Perfil clínico de pacientes com miocardite viral atendidos em emergência. Arq. Bras. Cardiol., v. 104, n. 4, p. 328–334, 2015.
CASTRO, M. S. et al. Implementação de protocolo precoce em miocardite aguda. Rev. Cardiol. Urgência, v. 29, n. 1, p. 55–62, 2023.
DIAS, T. P. et al. Uso de ECMO em miocardite fulminante viral: experiência multicêntrica. Int. J. Emerg. Heart Care, v. 7, n. 2, p. 88–95, 2020.
FERREIRA, L. C. et al. Diagnóstico por imagem na suspeita de miocardite viral. Cardiol. Diagnóstica, v. 10, n. 1, p. 45–50, 2019.
LIMA, A. J. et al. Quadro clínico de miocardite viral simulando infarto agudo. Rev. Emerg. Méd., v. 18, n. 3, p. 97–102, 2016.
MARTINS, J. B. et al. Marcadores cardíacos no diagnóstico precoce da miocardite. Rev. Cardiol. Diagn., v. 20, n. 2, p. 120–126, 2022.
OLIVEIRA, V. L. et al. Miocardite viral e infarto agudo do miocárdio: comparação prognóstica. J. Urg. Cardiológica, v. 17, n. 4, p. 130–137, 2018.
PACHECO, A. M. et al. Suporte intensivo precoce em miocardite aguda. J. Cardiol. Intensiva, v. 25, n. 2, p. 75–81, 2021.
RIBEIRO, M. F. et al. Corticoterapia em pacientes com miocardite viral grave. Int. J. Emerg. Cardiol., v. 9, n. 1, p. 40–46, 2024.
SANTOS, F. C. et al. Eficácia de anti-inflamatórios não esteroidais na miocardite aguda. Cardiol. Clínica Atual, v. 15, n. 3, p. 100–106, 2022.
SOUZA, D. M. et al. Evolução clínica de casos leves de miocardite viral. Rev. Emerg. Cardiovasc., v. 11, n. 2, p. 60–66, 2017.
MONTERA, M. W. et al.. Diretriz de Miocardites da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2022. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 119, n. 1, p. 143–211, 2022.
1j_souza76@yahoo.com; Universidade nove de julho
2felipe.ferreira1@uscsonline.com.br; Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
3talyta.oalmeida@gmail.com; Centro Universitário Maurício de Nassau
4gi_loffredo@hotmail.com; Universidade Nove de Julho
5giovannaromanox@gmail.com; Universidade nove de julho
6Pedro.hpsilva@hotmail.com; universidade nove de julho
7deboraslemos@gmail.com; Universidade Positivo
8Ligialuanafreire@gmail.com; Universidade nove de julho