METODOLOGIAS PRÁTICAS EMPREGADAS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA VOLTADAS PARA DEFICIENTES VISUAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7708230


Claudinete da Silva de Melo Lima


RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste na apresentação de materiais didáticos para o uso de gráficos, tabelas, frações e outras aplicações de cunho matemático na explanação da disciplina de matemática para facilitar a aprendizagem, de forma tátil e prática como uma ferramenta e sua efetividade perante ao desenvolvimento intelectual dos alunos, dirigida a partir de regulamentos e normas pedagógicas, realizada por meio de processos metodológicos realizados na sala de aula de uma escola/centro de pessoas com deficiência visual. A intenção é de habilitar os alunos de acordo com os parâmetros mínimos de conhecimento matemático exigidos para uma certificação, expandindo seu currículo para aprovação do Encceja, Enem e do mercado de trabalho. Fundamentado neste argumento, a hipótese de comprovação deste trabalho foi de realizar aulas práticas relativas ao contexto matemático, gerados a partir de variáveis intervenientes, e, verificar se, se enquadram de acordo com as atividades, onde foram analisados os principais estudos experimentais descritos pela literatura. 

Palavras-Chave: Certificação. Conhecimento. Cunho Matemático. 

1. INTRODUÇÃO

O objeto deste artigo, consiste na apresentação de materiais didáticos utilizados como uma ferramenta para auxiliar nas aulas de matemática, sua efetividade perante ao desenvolvimento intelectual, principalmente os relativos aos cálculos, dirigido a partir de regulamentos e normas pedagógicas.

A contemporaneidade traz muitos desafios para o mundo que vem em um processo de crescimento constante ao longo das últimas décadas. No entanto, nos últimos anos a globalização vem influenciando em novos ciclos de conhecimentos que estão afetando diretamente a população com alguma comorbidade visual. Tais mudanças exigem atualização e conhecimento, devem-se, principalmente, à ação tecnológica, ou seja, é um fator natural da própria evolução humana e social, e demanda de novas práticas pedagógicas.

Paulatinamente, as instituições de ensino básico e superior foram desenvolvendo métodos acerca de facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento inclusivo para pessoas com alguma deficiência, a deficiência proveniente da visão, será considerada como critério de transparência efetiva deste trabalho.

No Brasil, os alunos têm desde da educação infantil o primeiro contato com os números, sequências numéricas e operações básicas. Muitos alunos videntes já demonstram a partir daí dificuldade no aprendizado e desenvolvimento matemático, esta dificuldade se torna ainda maior para os alunos que têm algum tipo de comorbidade visual, comprometendo seu desempenho em relação aos videntes.

No centro/Escola de educação estadual, localizado no estado de Alagoas onde foi feito este estudo, foram aplicadas práticas pedagógicas com materiais táteis visando comprovar a facilitação da aprendizagem matemática.

Este trabalho tem como objetivo demonstrar recursos facilitadores utilizados pela professora para auxiliar na evolução das aulas de matemática e de recursos que também poderão ser utilizados em outras áreas.

2. DESENVOLVIMENTO 

A escola é uma instituição que prepara os jovens para uma vida em sociedade, onde os professores são responsáveis por esta mediação aluno-sociedade. O ensino médio é fundamental para a formação de um cidadão, pois é nesta etapa que os alunos gozam do último contato com a escola, pressupondo-se que saíam pessoas mais conscientes e responsáveis. Todavia, podemos perceber que a abordagem voltada à Inclusão no Ensino Superior é muito recente, tendo em vista que, de acordo com o Censo da Educação Superior de 2008, apenas 0,09% do total de 5,8 milhões de universitários são deficientes visuais (COSTA, OLIVEIRA, GONÇALVES, 2014).

Atualmente, no desempenho do seu mestre, o professor encontra grandes desafios, principalmente para passar seus conhecimentos em sala de aula, visto que diante da tamanha evolução tecnológica, ensinar virou um desafio e é ainda maior para os deficientes. De acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o censo escolar em 2016, mostra que 57,8% das escolas brasileiras possuíam alunos com deficiência incluídos em turmas regulares, enquanto que em 2008, esse percentual era de apenas 31% (BRASIL, 2017).

A matéria de matemática, a qual é tão temida na escola, tornou-se desinteressante para os alunos, seja pela dificuldade em compreendê-la, seja pelo fato de sua parte teórica ser má interpretada pelo corpo discente. Nesta conjectura, fez-se necessário manter o foco na aprendizagem interdisciplinar com o cotidiano, trazendo aulas práticas experimentais e expositivas, explorando o próprio aluno como sendo o autor principal, incentivando-o a interagir e tentando mostrar a ele a disciplina de uma forma mais agradável. Apesar de estarmos vivenciando a era da informação e acessibilidade das novas tecnologias destinadas a indivíduos cegos, existem materiais e informações que se dão apenas através da leitura mediada pelo leitor (BOAS, 2014).

A atividade experimental tem se mostrado relevante diante de um maior aprendizado nas disciplinas de exatas, pois oferece uma exposição sobre o argumento textual. É preciso que o professor que tem um aluno com deficiência visual esteja atento às suas necessidades e esteja disposto a novas formas de planejar, a rever sua forma de ensinar e suas estratégias em sala de aula. No entanto, o êxito no processo de aprendizagem depende também do esforço contínuo de pais, professores e profissionais envolvidos, visando, de fato, a implementação de um ambiente escolar democrático, que envolva a todos os alunos, sem distinção (MARIANO; REGIANE, 2015, p. 24).

O aluno é parte fundamental nesse desenvolvimento, pois através de sua participação neste contexto experimental pode se notar a sua evolução aprendizagem. Ao desenrolar da experimentação, surgem indagações e o aluno questiona-se sobre o fundamento científico, atreve-se a questionar suposições prováveis e fórmulas matemáticas para encontrar um resultado.

3. METODOLOGIA 

Este trabalho foi desenvolvido numa escola/centro da rede pública estadual localizada no estado de Alagoas, que dá suporte educacional inclusivo para pessoas com deficiência visual, onde posteriormente foi aplicado um questionário para constatar se houve ou não uma melhoria no aprendizado dos alunos. 

O questionário foi aplicado em turmas distintas, onde houve o desenvolvimento destas atividades práticas no decorrer do ano letivo de 2019.

Os resultados destas atividades servirão como um auxiliador para futuramente servir como um meio para um melhor planejamento e desenvolvimento das atividades práticas em sala de aula.

3.1 ALGUMAS FERRAMENTAS UTILIZADAS

Todos os experimentos foram previamente selecionados e analisados pelo professor responsável, os materiais utilizados não oferecem riscos à saúde ou à integridade física dos alunos e envolvidos.

Tendo em vista que o tato, para pessoas com deficiência visual, é o meio mais eficaz para se adquirir conhecimento, ao passo que somente a oralidade se torna ineficaz para que este aprendizado aconteça (MOLOSSI, 2013)

3.1.1 SOROBAN (O ÁBACO JAPONÊS):

O ábaco é um antigo equipamento de cálculo que começou como um simples instrumento onde eram registrados valores e realizadas operações de adição e subtração, seu aperfeiçoamento proporciona realizar cálculos envolvendo raízes e até contas mais complexas, no Brasil seu uso é voltado para cegos e pessoas de baixa visão para simular a uma calculadora, como visto na imagem 1. 

Imagem 1 – SOROBAN (O ÁBACO JAPONÊS)

Image

FONTE: Internet – https://ginasticadocerebro.com.br/soroban-3/ (2022)

O objetivo no uso do soroban é de facilitar na realização de cálculos, estimular a concentração, atenção, memorização, coordenação motora e o cálculo mental, visto que o praticante é o principal responsável pelos cálculos e não o instrumento, como visto nas fotos 1 e 2.

 3.1.2 TABUADA FLEXÍVEL:

É uma forma de tabela pitagórica, só que feita de um material flexível (tecido ou emborrachado), ou seja, de fácil dobradura. Ela é um quadro de dupla entrada em que são registrados os números representados por um ponto circular mais saliente relativo ao restante do material, cada ponto representa um número, são 10 pontos na linha horizontal e 10 na vertical, podendo realizar multiplicações, de 1 x 1 até 10 x 10 – o número da linha deve ser multiplicado pelo da coluna e, fazendo a dobradura da quantidade de número no espaço correspondente ao encontro das duas, o produto do cálculo é soma total dos pontos que ficaram em evidência após a realização do processo de dobrar. 

Por exemplo: 2×3 (o aluno dobra duas linhas verticais, após a primeira dobradura, fará o mesmo nas linhas horizontais, ou seja, ficarão 2 linhas de 3 pontos, somando todos os pontos dará o número 6, que é o resultado).

3.1.3 MULTIPLANO:

O Multiplano é um instrumento desenvolvido para abranger grande parte do ensino da matemática, por exemplo, permite usar o tato para compreender um gráfico do plano cartesiano, desenvolver o raciocínio combinatório de forma simples, ou seja, sair do simbolismo para a prática. Este material é destinado a todos os estudantes, em especial aos cegos, como forma de auxiliar a aplicação dos conteúdos das ciências exatas. Esse material foi escolhido porque possibilita trabalhar com diversos tipos de atividades, como a geometria em geral (incluindo figuras planas e figuras tridimensionais), estatística, funções, entre outros, e é de fácil manuseio. Ainda, o instrumento possui utilidade para se trabalhar com figuras espaciais (MACHADO, 2014).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O questionário aplicado foi composto por 10 questões objetivas e simples, para que desta maneira não se tornassem cansativos em sua leitura e fossem respondidas de forma rápida. O questionário foi para as turmas onde foram realizados experimentos no decorrer do ano de 2019, tendo como objetivo analisar e comparar os dados.

As questões continham três escolhas como respostas, sendo elas: Sim, pouco e não. Elaboradas para definir quais as dificuldades encontradas pelo aluno, pontos positivos e negativos da disciplina de matemática, e de que forma as experiências podem ajudar na melhoria da aprendizagem. A entrevista semiestruturada apresenta um roteiro com perguntas estruturadas, tendo como grande vantagem a aproximação do pesquisador e o entrevistado, através da conversação (diálogo), além de apresentar-se flexível, possibilitando sua adaptação (COSTA MARCO E COSTA MARIA, 2011). 

Questão 1. Você gosta da disciplina de Matemática?

GRÁFICO 1. QUESTÃO 1 DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 5 marcaram a alternativa “sim”, 3 marcaram “pouco” e 2 marcaram “não”. 

Questão 2. Você encontra dificuldades para o entendimento desta disciplina?

GRÁFICO 2. QUESTÃO 2 DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 2 marcaram a alternativa “sim”, 4 marcaram “pouco” e 4 marcaram “não”.

Questão 3. Você gostou das atividades práticas desenvolvidas durante as aulas?

GRÁFICO 3. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 8 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 0 marcaram “não”.

Questão 4. As atividades experimentais desenvolvidas na sala de aula despertaram o seu interesse pelo conteúdo e pela disciplina?

GRÁFICO 4. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 8 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 0% marcaram “não”.

Questão 5. Conseguiu identificar o que estava acontecendo durante a prática experimental

GRÁFICO 5. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 7 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 1 marcaram “não”.

Questão 6. Conseguiu assimilar os experimentos com o conteúdo visto na teoria

GRÁFICO 6. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 6 marcaram a alternativa “sim”, 3 marcaram “pouco” e 1 marcaram “não”.

Questão 7. Adquiriu novos conhecimentos, após a realização dos experimentos?

GRÁFICO 7. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 8 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 0 marcaram “não”.

Questão 8. As atividades experimentais auxiliaram na sua aprendizagem?

GRÁFICO 8. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 8 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 0 marcaram “não”.

Questão 9.  A explicação da professora, durante a prática, foi de forma clara e de fácil entendimento?

GRÁFICO 9. DAS TURMAS ONDE TIVERAM AULAS PRÁTICA

Num total de 10 alunos, 7 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 1 marcaram “não”.

Questão 10. O seu conceito sobre matemática após as atividades experimentais mudou?

GRÁFICO 10. QUESTÃO 10 DA 3 SÉRIE DO MÉDIO

Num total de 10 alunos, 8 marcaram a alternativa “sim”, 2 marcaram “pouco” e 0 marcaram “não”.

5. CONCLUSÃO 

Através da iniciativa deste projeto, foi possível entrever o quanto a atividade experimental melhora o aprendizado e a estimulação dos alunos pela matéria, visto que os conteúdos teóricos podem ser melhorados e bem mais aceitos juntos de uma boa atividade prática experimental, mesmo não sendo em laboratórios sofisticados, utilizando materiais alternativos de baixo custo aquisitivo, talvez, assim reparando este pensamento negativo sobre a disciplina de matemática.

Dentre os resultados analisados, notou-se que a grande maioria das respostas foram positivas, denotando o quanto foi importante a aplicação desses questionários como forma de comparação e melhoria para uma atividade futura, pois mesmo sendo minoria as respostas com pouco ou não, são acentuadas e merecem uma atenção especial. 

Contudo, mostrou-se com este trabalho que a experimentação deve seguir atrelada ao conteúdo teórico para assim dar mais ênfase ao aprendizado da matéria, assim como desenvolver a curiosidade e participação dos alunos em sala de aula. 

ANEXOS

ANEXO A

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS

1. Você gosta da disciplina de Matemática? 

(  ) Sim          (  ) Pouco         (  ) Não

2. Você encontra dificuldades para o entendimento desta disciplina?

(  ) Sim          (  ) Pouco         (  ) Não

3. Você gostou das atividades práticas desenvolvidas durante as aulas?

  (  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

4. As atividades experimentais desenvolvidas na sala de aula despertaram o seu interesse pelo conteúdo e pela disciplina?

 (  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

5. Conseguiu identificar o que estava acontecendo durante a prática experimental?

(  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

6. Conseguiu assimilar os experimentos com o conteúdo visto na teoria?

( ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

7. Adquiriu novos conhecimentos, após a realização dos experimentos?                                     

(  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

8. As atividades experimentais auxiliaram na sua aprendizagem? 

(  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

9.  A explicação da professora, durante a prática, foi de forma clara e de fácil entendimento?

 (  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

10. O seu conceito sobre matemática após as atividades experimentais mudou?

(  ) Sim          (  ) pouco         (  ) Não

6. REFERÊNCIAS

BOAS, L. L. V. Três instâncias mediadoras na compreensão textual do gênero notícia com cegos de diferentes níveis de formação. Tese de Doutorado em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014. Disponível em: http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/14106. Acesso em 20 de janeiro de 2017.

BRASIL, SEMTEC. PCNs+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002.

COSTA, Douglas Ricardo; OLIVEIRA, Camila Tenório Freitas; GONÇALVES, Sandro Salles. As experiências de ensino de um futuro professor cego a um aluno cego usando materiais manipuláveis. In: FEIRA NACIONAL DE MATEMÁTICA, 3, Salvador, 24-26 set. 2014. Anais. Salvador: MCT/UNEB, 2014.

COSTA, M.A.F.da; COSTA, M.F.B.da. Projeto de pesquisa: entenda e faça. Petrópolis, RJ: Vozes, 2ª edição, 2011.

INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira | CENSO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA 2016- Notas Estatísticas- Brasília-DF | Fevereiro de 2017 <https://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2017/notas_estatisticas_censo_escolar_da_educacao_basica_2016.pdf>

MARIANO; REGIANE, REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO REMOTO E SUA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO PÚBLICA – 2015, p. 24

MOLLOSSI, Lui Fellippe da Silva Bellincantta. Educação Matemática no Ensino Fundamental: Um estudo de caso com estudante cego. Joinville, 2013. Disponível em: http://pergamumweb.udesc.br/dados-bu/00001a/00001ad9.pdf