METODOLOGIA DE TREINAMENTO EM SECO PARA APRIMORAMENTO DO DESEMPENHO DE POLICIAIS MILITARES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202507130101


Daniel Teixeira Hauer


RESUMO

Este artigo apresenta uma metodologia de treinamento em seco (dry fire) desenvolvida especificamente para aprimorar o desempenho de policiais militares no uso de armas de fogo. Considerando as restrições orçamentárias para aquisição de munições e as dificuldades burocráticas associadas ao treinamento em estandes de tiro, o treinamento em seco emerge como alternativa viável e eficaz. A metodologia proposta fundamenta-se em princípios científicos de neurociência, aprendizagem motora, biomecânica e cinesiologia, estruturando-se em cinco fundamentos: plataforma, empunhadura, visada, controle do gatilho e follow-through. O artigo apresenta exercícios específicos para cada nível de habilidade, além de integrar técnicas de voo mental e ensaio motor visual. Os resultados esperados incluem economia significativa de recursos, maior frequência de treinamento e desenvolvimento acelerado de habilidades técnicas, contribuindo para a proficiência e segurança dos policiais militares em suas atividades operacionais.

INTRODUÇÃO

A proficiência no uso de armas de fogo constitui habilidade fundamental para o desempenho eficaz das funções de policiais militares, impactando diretamente a segurança pública e a preservação de vidas. Entretanto, o desenvolvimento e manutenção desta proficiência enfrentam obstáculos significativos no contexto das instituições policiais brasileiras, destacando-se dois fatores principais: o elevado custo das munições e a complexidade burocrática associada à utilização de estandes de tiro.

O treinamento em seco (dry fire), definido como a prática de manipulação e operação de armas de fogo sem munição real, apresenta-se como alternativa viável para superar estas limitações. Esta modalidade de treinamento permite o desenvolvimento de habilidades técnicas sem os custos, restrições e riscos associados ao tiro com munição real, possibilitando maior frequência e volume de treinamento.

Este artigo propõe uma metodologia estruturada de treinamento em seco especificamente adaptada às necessidades dos policiais militares, fundamentada em princípios científicos de neurociência, aprendizagem motora, biomecânica e cinesiologia. A metodologia foi desenvolvida com foco na economia de movimento e no rastreamento preciso dos movimentos como fundamentos para o desenvolvimento da velocidade como subproduto da habilidade técnica refinada.

Contextualização do Problema

As instituições policiais militares brasileiras enfrentam desafios orçamentários que frequentemente resultam em limitações na quantidade de munição disponível para treinamento. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), o custo médio anual com munição para treinamento por policial militar no Brasil representa aproximadamente 1,2% do orçamento total destinado a cada agente, resultando em média de apenas 50-100 disparos anuais por policial em treinamentos formais.

Além da questão financeira, o acesso a estandes de tiro é frequentemente limitado por fatores logísticos e burocráticos, incluindo disponibilidade de instalações, deslocamento, agendamentos e procedimentos administrativos. Estes fatores combinados resultam em frequência insuficiente de treinamento prático, comprometendo a manutenção e desenvolvimento de habilidades essenciais.

Justificativa e Relevância

O treinamento em seco apresenta-se como solução viável para estes desafios, oferecendo vantagens significativas:

  1. Economia de Recursos: Eliminação do custo de munição, permitindo milhares de repetições sem impacto orçamentário adicional.
  2. Acessibilidade: Possibilidade de realização em diversos ambientes, sem necessidade de estandes de tiro.
  3. Frequência Elevada: Viabilização de treinamento diário e consistente, fundamental para o desenvolvimento e manutenção de habilidades motoras.
  4. Segurança: Minimização de riscos associados ao treinamento com munição real.
  5. Foco Técnico: Eliminação de fatores como recuo e ruído, permitindo concentração total no refinamento técnico.

A implementação de uma metodologia estruturada de treinamento em seco nas instituições policiais militares tem potencial para elevar significativamente o nível técnico dos agentes, resultando em maior eficácia operacional e redução de incidentes.

Objetivos

Este artigo tem como objetivos:

  1. Apresentar uma metodologia estruturada de treinamento em seco específica para policiais militares, fundamentada em princípios científicos.
  2. Detalhar os fundamentos técnicos e exercícios específicos para diferentes níveis de habilidade.
  3. Integrar técnicas de voo mental e ensaio motor visual como complemento ao treinamento físico.
  4. Propor um programa de implementação progressiva nas instituições policiais militares.
  5. Discutir os benefícios esperados em termos de custo-efetividade e aprimoramento do desempenho operacional.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neurociência da Aprendizagem Motora

A eficácia do treinamento em seco fundamenta-se em princípios neurológicos que explicam como o cérebro aprende e refina habilidades motoras complexas. Segundo Dayan e Cohen (2011), a aquisição de habilidades motoras ocorre através de processos neuroplásticos que modificam as conexões sinápticas em resposta à prática repetida.

Plasticidade Neuronal e Mielinização

O conceito de neuroplasticidade, definido como a capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura e função em resposta a experiências, constitui a base biológica para o aprendizado de habilidades motoras (Kleim & Jones, 2008). A prática repetida promove o desenvolvimento da bainha de mielina ao redor dos axônios neurais, aumentando a velocidade e eficiência da transmissão de sinais nervosos, processo crucial para a execução rápida e precisa de movimentos complexos (Fields, 2008).

Estudos utilizando neuroimagem funcional demonstram que a prática repetida de movimentos específicos resulta em reorganização cortical, com aumento da representação neural das áreas corporais envolvidas (Karni et al., 1995). Este fenômeno explica como o treinamento em seco, mesmo sem o feedback do disparo real, pode produzir adaptações neurais que transferem efetivamente para o desempenho com munição real.

Memória Procedural e Automatização

O treinamento em seco desenvolve a memória procedural (implícita), permitindo a execução de habilidades motoras complexas sem necessidade de atenção consciente a cada componente do movimento (Squire & Dede, 2015). Com prática suficiente, movimentos inicialmente conscientes e deliberados tornam-se automáticos, liberando recursos cognitivos para aspectos táticos e tomada de decisão, fator crucial em situações operacionais de alta pressão enfrentadas por policiais militares.

Princípios de Aprendizagem Motora Aplicados ao Treinamento em Seco

Especificidade do Treinamento

O princípio da especificidade estabelece que as adaptações neuromotoras são específicas aos movimentos praticados (Magill & Anderson, 2017). Este princípio justifica a importânciadequeotreinamentoemsecorepliquecommáximafidelidadeospadrões de movimento necessários para o desempenho real, incluindo equipamentos, posições e contextos relevantes para a atuação policial.

Transferência de Habilidades

Estudos sobre transferência de aprendizagem motora demonstram que habilidades desenvolvidas no treinamento em seco transferem-se efetivamente para o tiro real quando os padrões de movimento são idênticos ou extremamente similares (Schmidt & Lee, 2019). Esta transferência é particularmente eficaz para componentes técnicos como empunhadura, controle do gatilho e alinhamento de miras.

Interferência Contextual

A variação planejada de exercícios e condições de prática (prática randômica vs. bloqueada) promove aprendizagem mais robusta e transferível (Shea & Morgan, 1979). A implementação de variabilidade controlada no treinamento em seco, incluindo diferentes posições, condições de iluminação e cenários táticos, potencializa a transferência para situações operacionais reais enfrentadas pelos policiais militares.

Feedback e Prática Deliberada

O feedback imediato e preciso sobre o desempenho acelera a aprendizagem e previne a consolidação de erros técnicos (Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer, 1993). No contexto do treinamento em seco, a utilização de sistemas de feedback como dispositivos laser, análise de vídeo e supervisão qualificada potencializa o desenvolvimento técnico.

Evidências Científicas da Eficácia do Treinamento em Seco

Diversos estudos demonstram a eficácia do treinamento em seco para o desenvolvimento de habilidades de tiro. Nagashima et al. (2018) observaram melhoria significativa na precisão de tiro em cadetes policiais após programa estruturado de treinamento em seco, com transferência positiva para o desempenho com munição real.

Em estudo controlado com policiais militares, Monteiro et al. (2020) documentaram que grupo submetido a programa de treinamento em seco de 8 semanas apresentou melhoria de 27% na precisão e 18% na velocidade de resposta em comparação com grupo controle que realizou apenas treinamento convencional com munição real.

Estas evidências corroboram a eficácia do treinamento em seco como ferramenta válida e custo-efetiva para o desenvolvimento de habilidades de tiro em profissionais de segurança pública.

METODOLOGIA DE TREINAMENTO EM SECO

Abordagem Adaptativa: Considerando Filtros Individuais, Materiais e Circunstanciais

A metodologia proposta reconhece que a técnica ideal varia de acordo com três filtros fundamentais que influenciam a execução do tiro:

  1. Filtro Individual: Respeita as características biológicas de cada operador, incluindo peso, tamanho, força e limitações físicas. A técnica deve ser adaptada às características individuais, não o contrário.
  2. Filtro Material: Considera os equipamentos e materiais disponíveis, reconhecendo que diferentes armas e acessórios exigem adaptações técnicas específicas. O equipamento deve servir ao operador, não impor limitações desnecessárias.
  3. Filtro Circunstancial: Reconhece que diferentes situações exigem diferentes abordagens técnicas. Por exemplo, situações que permitem tempo e distância favorecem o uso de elementos visuais precisos e acionamento controlado do gatilho, enquanto situações de proximidade e urgência exigem técnicas mais rápidas e instintivas.

Esta abordagem adaptativa permeia toda a metodologia, enfatizando que não existe uma técnica universalmente “correta”, mas princípios fundamentais que devem ser adaptados para cada indivíduo, equipamento e circunstância.

Fundamentos Técnicos

A metodologia estrutura-se em cinco fundamentos técnicos essenciais:

1. Plataforma (Base + Postura)

A plataforma é definida como o conjunto de subsistemas e interfaces que formam uma estrutura de suporte para o atirador, incluindo:

  • Base: Posicionamento natural e confortável dos pés, priorizando estabilidade funcional sobre posições padronizadas
  • Postura: Alinhamento corporal que otimiza o controle e a absorção do recuo
  • Ponto Natural de Mira: Alinhamento intuitivo do corpo com o alvo

A plataforma não é algo fixo ou estático, mas um sistema dinâmico que se adapta às necessidades do momento. Para policiais militares, o desenvolvimento de uma plataforma eficiente é particularmente relevante considerando a necessidade de manter precisão em diferentes posições e condições operacionais.

2. Empunhadura

A empunhadura constitui o ponto de interface entre o atirador e a arma, sendo fundamental para o controle durante o disparo. A metodologia enfatiza dois princípios fundamentais:

  • Princípio de Alavancagem: Posicionamento alto da mão na empunhadura para maximizar o controle e reduzir o torque, utilizando a pressão do mindinho para controlar o movimento vertical da arma
  • Princípio de Fricção: Contato máximo das superfícies das mãos com a arma para estabilidade

Estes princípios se manifestam através de três aspectos práticos: – Altura: Posicionamento da mão o mais alto possível na empunhadura – Envolvimento: Cobertura máxima da empunhadura pelas mãos – Pressão: Aplicação de força nos pontos corretos para controle ótimo

Uma empunhadura eficiente reduz a interferência no controle do gatilho e facilita o retorno natural da arma à posição original após o recuo.

3. Visada

A visada refere-se ao alinhamento visual que permite direcionar a arma com precisão, adaptando-se às circunstâncias específicas:

  • Foco na mira frontal para maior precisão quando tempo e distância permitem
  • Foco no alvo para maior velocidade em situações de proximidade
  • Miras naturais utilizando o corpo como indexador (principalmente o quadril) em situações de extrema urgência

A metodologia reconhece o fenômeno do foco seletivo: em situações de perigo, o cérebro naturalmente direciona o foco para a ameaça, tornando difícil ou impossível o foco nas miras metálicas. Por esta razão, o desenvolvimento da propriocepção e das miras naturais é fundamental para situações operacionais reais.

4. Controle do Gatilho

O controle do gatilho constitui elemento crítico para a precisão, envolvendo:

  • Pressão constante e suave, diretamente para trás
  • Isolamento do movimento do dedo indicador
  • Aplicação do “esforço suficiente”: usar apenas a força necessária para vencer a resistência do gatilho
  • Adaptação da velocidade de acionamento de acordo com o objetivo e a situação

A metodologia enfatiza que não existe uma posição “correta” universal do dedo no gatilho, pois esta varia de acordo com a arma e a mão do atirador. O importante é acionar o gatilho sem causar desvios no sistema de pontaria, independentemente da porção do dedo utilizada.

5. Follow-through

O follow-through refere-se à manutenção da técnica antes, durante e após o disparo, incluindo:

  • Manutenção da técnica durante todo o processo
  • Recuperação da visada após o recuo
  • Controle da arma durante todo o ciclo de funcionamento
  • Preparação imediata para o próximo disparo
  • Aplicação de forças iguais em ambas as mãos para evitar desvios laterais durante o recuo

O follow-through não é apenas um elemento pós-disparo, mas um processo contínuo que começa antes mesmo do acionamento do gatilho e continua até a preparação para o próximo disparo.

Estrutura da Metodologia

A metodologia estrutura-se em quatro fases progressivas:

Fase 1: Avaliação e Diagnóstico

  • Identificação do nível atual de habilidade
  • Análise biomecânica da técnica individual
  • Detecção de pontos fortes e áreas de melhoria
  • Estabelecimento de objetivos específicos e mensuráveis
  • Avaliação das características individuais que afetam a técnica

Fase 2: Desenvolvimento Técnico Compartimentalizado

  • Treinamento isolado dos fundamentos
  • Refinamento progressivo de cada elemento
  • Integração gradual dos fundamentos
  • Automatização de padrões motores otimizados
  • Personalização da técnica para características individuais

Fase 3: Integração e Aplicação

  • Combinação de fundamentos em sequências completas
  • Variação de condições e contextos
  • Simulação de cenários específicos relevantes para atuação policial
  • Transferência para situações operacionais realistas
  • Adaptação da técnica a diferentes circunstâncias

Fase 4: Avaliação e Refinamento

  • Mensuração objetiva do progresso
  • Ajustes baseados em dados de desempenho
  • Refinamento contínuo da técnica
  • Estabelecimento de novos objetivos
  • Desenvolvimento de soluções para desafios específicos

Exercícios Específicos para Policiais Militares

A metodologia inclui exercícios específicos para cada fundamento, adaptados às necessidades operacionais dos policiais militares:

Exercícios de Plataforma

  1. Estabilidade sob Estresse Objetivo: Desenvolver manutenção da plataforma sob condições de estresse fisiológico Execução: – Realizar exercício cardiovascular limitado (10-15 segundos) – Imediatamente assumir posição de tiro com técnica perfeita – Manter posição estável por 30 segundos – Progressivamente aumentar intensidade do estressor
  2. Transições Táticas Objetivo: Desenvolver capacidade de estabelecer plataforma estável durante movimentos táticos Execução: – Partir de posição de cobertura – Movimentar-se para nova posição de tiro – Estabelecer plataforma estável no menor tempo possível – Variar direções e distâncias

Exercícios de Empunhadura

  1. Estabelecimento Rápido Objetivo: Desenvolver capacidade de estabelecer empunhadura correta instantaneamente Execução: – Partir de posição de pronto ou coldre – Ao sinal, sacar e estabelecer empunhadura perfeita no menor tempo possível – Verificar aplicação dos princípios de alavancagem e fricção – Repetir com variações (diferentes posições iniciais, mão fraca, etc.)
  2. Retenção sob Pressão Objetivo: Desenvolver manutenção da empunhadura sobpressãofísica Execução: -Estabelecerempunhaduracorreta-Aplicarresistência externa à arma (puxões controlados) – Manter empunhadura estável e controle da arma – Variar direção e intensidade da pressão

Exercícios de Visada

  1. Aquisição em Movimento Objetivo: Desenvolver capacidade de obter visada precisa após movimento Execução: – Realizar deslocamento tático (5-10 metros) Parar e obter visada precisa no menor tempo possível – Verificar alinhamento correto antes de simular o disparo – Variar velocidade e padrão de movimento
  2. Transição entre Sistemas de Visada Objetivo: Desenvolver capacidade de alternar entre diferentes sistemas de visada Execução: – Estabelecer visada com foco na mira frontal – Ao sinal, transicionar para foco no alvo – Ao sinal, transicionar para miras naturais – Praticar transições rápidas entre os três sistemas

Exercícios de Controle do Gatilho

  1. Pressão Adaptativa Objetivo: Desenvolver controle preciso do gatilho em diferentes contextos Execução: – Assumir posição de tiro com visada estabelecida – Executar acionamentos lentos e precisos (situações de precisão) – Executar acionamentos rápidos mantendo controle (situações de urgência) – Alternar entre os dois tipos de acionamento conforme comando
  2. Esforço Suficiente Objetivo: Desenvolver capacidade de aplicar apenas a força necessária Execução: – Estabelecer empunhadura e visada – Concentrar-se em aplicar apenas a força mínima necessária para vencer a resistência do gatilho Verificar ausência de movimento da arma durante o acionamento – Progressivamente aumentar a velocidade mantendo o princípio do esforço suficiente

Exercícios de Follow-through

  1. Controle Contínuo Objetivo: Desenvolver manutenção da técnica durante todo o processo Execução: – Executar sequência completa com ênfase na manutenção da técnica antes, durante e após o disparo simulado – Verificar que nenhum elemento técnico se deteriora em nenhum momento – Manter forças iguais em ambas as mãos durante todo o processo – Praticar com diferentes velocidades de execução
  2. Transição para Próximo Engajamento Objetivo: Desenvolver capacidade de preparação imediata para o próximo disparo Execução: – Executar disparo em seco – Completar follow-through técnico – Transicionar imediatamente para novo alvo – Estabelecer visada e preparar para próximo disparo – Variar posições e distâncias entre alvos

Integração com Voo Mental e Ensaio Motor Visual

A metodologia integra técnicas de visualização e ensaio mental como complemento ao treinamento físico:

1. Visualização de Cenários Operacionais

Objetivo: Preparar mentalmente para situações operacionais específicas Execução: – Visualizar cenário operacional realista (abordagem, entrada tática, etc.) – Imaginar execução técnica perfeita durante o cenário – Incluir elementos de estresse e tomada de decisão – Repetir visualização com variações táticas

2. Ensaio de Procedimentos Operacionais Padrão

Objetivo: Reforçar mentalmente procedimentos operacionais específicos Execução: – Visualizar sequência completa de procedimento operacional – Executar mentalmente cada etapa com técnica perfeita – Incluir comunicações e coordenação com equipe Alternar entre visualização e execução física

3. Preparação Pré-Serviço

Objetivo: Preparação mental antes do turno de serviço Execução: – Sessão breve (5 minutos) de visualização antes do serviço – Imaginar respostas técnicas perfeitas a cenários prováveis – Visualizar controle emocional e tomada de decisão eficaz – Estabelecer estado mental ideal para o serviço

IMPLEMENTAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS MILITARES

Programa de Implementação Progressiva

A implementação da metodologia nas instituições policiais militares pode seguir estrutura progressiva:

Fase 1: Piloto e Validação

  • Seleção de unidade piloto para implementação inicial
  • Treinamento de instrutores na metodologia
  • Implementação controlada com avaliação de resultados
  • Ajustes baseados no feedback e resultados iniciais

Fase 2: Expansão Controlada

  • Ampliação para unidades adicionais
  • Formação de multiplicadores internos
  • Desenvolvimento de materiais didáticos específicos
  • Integração com programas de treinamento existentes

Fase 3: Implementação Institucional

  • Incorporação formal nos currículos de formação e capacitação continuada
  • Estabelecimento de protocolos de avaliação e progressão
  • Desenvolvimento de infraestrutura específica
  • Monitoramento contínuo de resultados

Recursos Necessários

A implementação requer recursos mínimos, constituindo vantagem significativa:

Recursos Materiais

  • Armas de treinamento ou armas de serviço verificadas (descarregadas)
  • Munição de manejo (snap caps)
  • Alvos impressos ou projetados
  • Cronômetros para mensuração de desempenho
  • Opcional: sistemas laser de treinamento (SIRT, LaserAmmo, etc.)

Recursos Humanos

  • Instrutores capacitados na metodologia
  • Multiplicadores nas unidades operacionais
  • Suporte técnico para desenvolvimento de materiais didáticos

Infraestrutura

  • Salas de treinamento com espaço adequado
  • Áreas para simulação de cenários táticos
  • Opcional: sistemas de gravação para análise de desempenho

Integração com Treinamento Convencional

A metodologia não substitui, mas complementa o treinamento convencional com munição real:

  • Preparação: Treinamento em seco como preparação para sessões com munição real
  • Manutenção: Prática regular entre sessões de estande
  • Refinamento: Foco em aspectos técnicos específicos identificados durante treinamento real
  • Multiplicação: Aumento do volume total de treinamento sem custos adicionais

RESULTADOS ESPERADOS

Benefícios Operacionais

A implementação sistemática da metodologia proposta pode resultar em benefícios significativos:

Aprimoramento Técnico

  • Melhoria na precisão de tiro em situações operacionais
  • Redução no tempo de resposta em situações críticas
  • Maior consistência técnica sob condições de estresse
  • Aprimoramento da tomada de decisão tática

Segurança Operacional

  • Redução de disparos não-intencionais
  • Maior controle em situações de alta pressão
  • Melhoria na identificação e avaliação de ameaças
  • Aprimoramento da disciplina de gatilho

Confiança Profissional

  • Aumento da confiança dos policiais em suas habilidades técnicas
  • Redução da ansiedade associada ao uso potencial da arma
  • Maior disposição para treinamento contínuo
  • Desenvolvimento de cultura de excelência técnica

Benefícios Institucionais

Além dos benefícios operacionais diretos, a implementação da metodologia oferece vantagens institucionais:

Economia de Recursos

  • Redução significativa nos custos de treinamento
  • Otimização do uso de munição disponível
  • Menor dependência de infraestrutura especializada
  • Redução de custos logísticos

Padronização Técnica

  • Uniformização de procedimentos técnicos
  • Facilitação da avaliação de desempenho
  • Estabelecimento de padrões objetivos de proficiência
  • Continuidade metodológica na formação continuada

Cultura de Treinamento

  • Promoção de prática regular e autônoma
  • Desenvolvimento de responsabilidade individual pelo aprimoramento técnico
  • Normalização do treinamento como atividade cotidiana
  • Valorização da excelência técnica como valor institucional

CONCLUSÃO

O treinamento em seco representa alternativa viável e eficaz para superar as limitações orçamentárias e burocráticas que restringem o treinamento convencional com munição real nas instituições policiais militares brasileiras. A metodologia proposta, fundamentada em princípios científicos e estruturada em cinco fundamentos técnicos essenciais, oferece abordagem sistemática para o desenvolvimento de habilidades críticas para a atuação policial.

A abordagem adaptativa, que considera os filtros individuais, materiais e circunstanciais, permite personalização da técnica para cada policial, equipamento e situação, maximizando a eficácia operacional. A integração de técnicas de voo mental e ensaio motor visual potencializa o desenvolvimento técnico sem custo adicional.

A implementação desta metodologia tem potencial para produzir benefícios significativos tanto no nível individual, através do aprimoramento técnico e aumento da confiança profissional, quanto no nível institucional, através da economia de recursos e desenvolvimento de cultura de excelência técnica.

Recomenda-se a implementação progressiva da metodologia, iniciando com projetospiloto que permitam validação e ajustes, seguidos de expansão controlada e eventual incorporação formal nos programas de formação e capacitação continuada das instituições policiais militares.

O investimento em treinamento em seco estruturado representa não apenas solução pragmática para restrições orçamentárias, mas oportunidade estratégica para elevação do padrão técnico das forças policiais, contribuindo para atuação mais eficaz, segura e profissional.

REFERÊNCIAS

Dayan, E., & Cohen, L. G. (2011). Neuroplasticity subserving motor skill learning. Neuron, 72(3), 443-454.

Enos, B. (2003). Grip Angle- Kinesiology Differences. Brian Enos’s Forums. https://forums.brianenos.com/topic/5435-grip-angle-kinesiology-differences

Ericsson, K. A., Krampe, R. T., & Tesch-Römer, C. (1993). The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, 100(3), 363406.

Fields, R. D. (2008). White matter in learning, cognition and psychiatric disorders. Trends in Neurosciences, 31(7), 361-370.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. (2023). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. São Paulo: FBSP.

Haley, T. (2016). Working Out with Proper Biomechanics on Shooting. Next Level Training. https://nextleveltraining.com/haley-biomechanics/

Karni, A., Meyer, G., Jezzard, P., Adams, M. M., Turner, R., & Ungerleider, L. G. (1995). Functional MRI evidence for adult motor cortex plasticity during motor skill learning. Nature, 377(6545), 155-158.

Kleim, J. A., & Jones, T. A. (2008). Principles of experience-dependent neural plasticity: implications for rehabilitation after brain damage. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 51(1), S225-S239.

Magill, R. A., & Anderson, D. I. (2017). Motor learning and control: Concepts and applications (11th ed.). McGraw-Hill.

Monteiro, J. R., Silva, A. L., & Oliveira, C. M. (2020). Efeitos de um programa estruturado de treinamento em seco no desempenho de tiro de policiais militares. Revista Brasileira de Ciências Policiais, 11(2), 145-168.

Nagashima, S. O., Fernandes, R. A., & Brito, C. J. (2018). Transferência de habilidades do treinamento em seco para o desempenho real em cadetes policiais. Journal of Physical Education, 29(1), e2917.

Schmidt, R. A., & Lee, T. D. (2019). Motor control and learning: A behavioral emphasis (6th ed.). Human Kinetics.

Seeklander, M. (2019). The Handgun Skills Triad – The Key to High Performance Shooting. Shooting-Performance.com. https://www.shooting-performance.com/thehandgun-skills-triad-the-key-to-high-performance-shooting/

Shea, J. B., & Morgan, R. L. (1979). Contextual interference effects on the acquisition, retention, and transfer of a motor skill. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, 5(2), 179-187.

Squire, L. R., & Dede, A. J. (2015). Conscious and unconscious memory systems. Cold Spring Harbor Perspectives in Biology, 7(3), a021667.