REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202508032216
Ariane Marciele Veiga Gripa Bordin2; Daniela Maria Pantaleão; Erasmo Carlos Gonçalves Saldanha; Geisibel Vargas Soares; Juliano Tonin; Leonardo Athayde de albuquerque; Neli Maria Lazzarotto; Odete Roseli de Oliveira; Pamela Georg; Sisnando Leiria Júnior
RESUMO
A valorização da história no contexto turístico contemporâneo constitui elemento central para a construção de práticas sustentáveis e socialmente responsáveis. Ao reconhecer o passado como componente essencial da identidade cultural de um território, o turismo se fortalece como instrumento de preservação patrimonial, de educação e de valorização das comunidades locais. A memória, nesse sentido, não apenas narra, mas também estrutura e orienta os percursos turísticos que buscam mais do que entretenimento: buscam sentido. O turismo sustentável, quando alicerçado na história, promove a conservação dos bens materiais e imateriais, estimula a economia local de forma equilibrada e assegura que as narrativas culturais não sejam apagadas ou distorcidas. Tal abordagem demanda o reconhecimento dos sujeitos históricos e o respeito às dinâmicas sociais do lugar visitado. Em oposição ao turismo predatório, que explora os recursos culturais de forma efêmera e descompromissada, a proposta de um turismo sustentado pela memória busca estabelecer vínculos duradouros entre visitantes e comunidades receptoras. Assim, a história se transforma em elo entre o passado e o presente, permitindo que o turismo atue como meio de diálogo intergeracional, de fortalecimento identitário e de valorização da diversidade. A memória, longe de ser mero arquivo, torna-se movimento, despertando consciência crítica sobre os espaços vivenciados e orientando práticas mais responsáveis. O turismo que respeita a história contribui para a preservação da dignidade cultural dos povos e para a construção de uma experiência mais ética, reflexiva e sustentável nos territórios que se tornam destinos turísticos.
Palavras-chave: Memória. História. Turismo sustentável.
ABSTRACT
The appreciation of history in contemporary tourism constitutes a central element for the construction of sustainable and socially responsible practices. By recognizing the past as an essential component of a territory’s cultural identity, tourism is strengthened as a tool for heritage preservation, education, and the valorization of local communities. Memory, in this sense, not only narrates but also structures and guides tourism experiences that seek more than entertainment: they seek meaning. Sustainable tourism, when founded on history, promotes the conservation of tangible and intangible assets, stimulates the local economy in a balanced way, and ensures that cultural narratives are not erased or distorted. Such an approach demands the recognition of historical subjects and respect for the social dynamics of the visited place. In contrast to predatory tourism, which exploits cultural resources in a fleeting and uncommitted manner, the proposal of tourism sustained by memory seeks to establish lasting bonds between visitors and host communities. Thus, history becomes a link between past and present, allowing tourism to function as a means of intergenerational dialogue, identity strengthening, and appreciation of diversity. Memory, far from being a mere archive, becomes movement, awakening critical awareness of experienced spaces and guiding more responsible practices. Tourism that respects history contributes to the preservation of the cultural dignity of peoples and to the construction of a more ethical, reflective, and sustainable experience in territories that become tourist destinations.
Keywords: Memory. History. Sustainable tourism.
1 INTRODUÇÃO
A relação entre turismo e memória tem se fortalecido nas últimas décadas como um eixo essencial para o desenvolvimento de práticas sustentáveis no setor. Ao contrário das abordagens convencionais que tratam o turismo apenas como vetor econômico, o enfoque histórico permite resgatar sentidos profundos vinculados à identidade cultural dos territórios. Nesse cenário, a história deixa de ser um pano de fundo decorativo para assumir papel ativo na construção de experiências turísticas mais conscientes, éticas e comprometidas com a preservação patrimonial.
O turismo sustentável demanda um olhar atento para o passado, na medida em que práticas turísticas descontextualizadas tendem a reduzir o valor dos bens culturais a produtos de consumo imediato. A memória coletiva, quando respeitada e valorizada, fortalece o vínculo entre visitante e lugar, contribuindo para que o turismo deixe de ser um ato de passagem e se torne um ato de escuta. Dessa maneira, os elementos históricos ganham relevância não apenas enquanto atrações, mas como pilares estruturantes de um modelo turístico que se compromete com a continuidade das tradições e com a voz das comunidades locais.
A apropriação consciente da história no turismo permite combater narrativas hegemônicas que apagam ou distorcem a diversidade cultural. Ao considerar o patrimônio histórico como uma construção viva, em constante transformação, as práticas turísticas podem colaborar para o reconhecimento de memórias silenciadas e para a inclusão de diferentes sujeitos históricos nos roteiros de visitação. Tal postura valoriza o território não apenas pela sua paisagem, mas pelas suas histórias e significados acumulados.
Nesse contexto, torna-se evidente que a história opera como alicerce para a sustentabilidade turística. Ela fornece a base para o respeito à memória dos povos, para a valorização da singularidade dos lugares e para a construção de uma relação equilibrada entre visitantes e comunidades receptoras. Ao tornar-se instrumento de mediação entre o passado e o presente, a história propicia experiências que transcendem o consumo visual e estimulam a reflexão crítica sobre os espaços vivenciados.
A valorização da memória, quando integrada às práticas turísticas, é capaz de transformar o turismo em uma ferramenta educativa, de valorização identitária e de fortalecimento comunitário. Dessa forma, o turismo histórico-sustentável passa a ser não apenas uma alternativa ao turismo predatório, mas também uma resposta concreta às demandas contemporâneas por respeito, justiça patrimonial e preservação cultural. A história, quando mobilizada como elemento estruturante, contribui para a redefinição do turismo como experiência de consciência e diálogo.
2. DESENVOLVIMENTO
A valorização da história como base para o turismo sustentável exige, antes de tudo, o reconhecimento de que o patrimônio cultural não é um dado estático, mas uma construção coletiva em constante transformação. Ao considerar os lugares turísticos como espaços de memória, torna-se possível construir experiências que respeitam as temporalidades locais e estimulam a preservação de práticas socioculturais. Esse entendimento rompe com a lógica reducionista que transforma bens históricos em simples produtos de consumo, propondo, em seu lugar, uma abordagem que compreende a história como elemento central na mediação entre visitante e comunidade (ALMEIDA,2016).
Nesse sentido, a incorporação da história aos roteiros turísticos contribui diretamente para o fortalecimento identitário das populações locais. Quando o turismo reconhece e valoriza a memória dos grupos sociais envolvidos, ele passa a atuar não como força de deslocamento cultural, mas como mecanismo de reconhecimento e empoderamento simbólico. Essa valorização estimula o pertencimento comunitário e consolida estratégias de desenvolvimento que integram cultura e sustentabilidade, além de contribuir para a manutenção da diversidade cultural como valor social inegociável (BARBOSA,2018).
A presença ativa da história nos projetos turísticos também amplia a função social do patrimônio, ao transformar a visita em um ato de aprendizagem e reflexão. O turista é convidado a interagir com contextos históricos reais, o que o afasta de uma postura meramente contemplativa e o aproxima de uma vivência crítica. Ao promover essa forma de engajamento, o turismo deixa de ser um processo alienante e passa a estimular a consciência histórica, tão essencial para a convivência democrática e plural (BRITO,2017).
Ao reconhecer a história como eixo estruturante do turismo sustentável, é possível estabelecer estratégias de preservação que conciliem uso turístico e proteção patrimonial. Esse equilíbrio evita tanto a fossilização de bens culturais quanto sua exploração predatória, favorecendo práticas que respeitam as dinâmicas vivas das comunidades envolvidas. A integração entre passado e presente oferece, assim, condições para a valorização da cultura local e para a construção de relações mais justas entre o turista e o território visitado (COSTA,2015).
Outro aspecto fundamental reside na superação da visão centralizada e excludente do patrimônio, frequentemente orientada por perspectivas hegemônicas. Ao integrar a história local e as narrativas silenciadas aos roteiros turísticos, amplia-se o repertório cultural acessível ao visitante e, ao mesmo tempo, fortalece-se a voz das comunidades tradicionalmente marginalizadas. A democratização do acesso à memória torna-se, portanto, elemento-chave para um turismo verdadeiramente sustentável, que respeita a multiplicidade de experiências e reconhece o valor dos saberes locais como parte integrante do patrimônio histórico (CUNHA,2019).
2.1 História em Movimento: A Memória como Fundamento do Turismo Sustentável
A compreensão da história como parte essencial do turismo sustentável passa pela necessidade de reconfigurar a relação entre os visitantes e os territórios a partir de uma abordagem crítica da memória coletiva. Isso implica considerar os espaços turísticos como palcos vivos de narrativas múltiplas, onde a presença humana, os conflitos históricos e os processos de resistência moldaram identidades que não podem ser reduzidas à estética ou ao consumo. Essa perspectiva é evidenciada quando o turismo deixa de explorar a história como objeto e passa a reconhecê-la como sujeito da experiência, como propõe o turismo de base comunitária, centrado na valorização dos saberes locais (MEDEIROS,2016).
Nessa direção, o fortalecimento de práticas turísticas ancoradas na memória exige que os processos de gestão do turismo contemplem, de forma efetiva, a escuta ativa das comunidades receptoras. O uso da história para fins turísticos não pode prescindir da participação dos sujeitos que vivenciam cotidianamente os territórios, pois são eles os detentores legítimos das narrativas e dos significados ali presentes. A ausência dessa participação costuma gerar distorções, apagamentos simbólicos e apropriações indevidas da cultura local, o que compromete qualquer proposta de sustentabilidade verdadeira (PEREIRA,2019).
O turismo histórico-sustentável, quando baseado na construção compartilhada da memória, possibilita que os roteiros sejam instrumentos de reconhecimento e não apenas de exposição. Nesse processo, a vivência do passado deixa de ser linear ou romantizada e passa a refletir a complexidade das experiências sociais. Isso é fundamental para romper com narrativas hegemônicas que tradicionalmente marginalizam grupos subalternizados, como povos tradicionais, comunidades quilombolas e populações periféricas, ampliando as possibilidades de pertencimento e protagonismo social por meio da prática turística (PONTES,2017).
Essa abordagem implica, ainda, o deslocamento do foco turístico das grandes narrativas para as memórias periféricas, abrindo espaço para novas vozes e experiências. O reconhecimento das histórias silenciadas não apenas fortalece a diversidade cultural como também promove justiça simbólica. Ao incluir múltiplos olhares sobre os territórios, o turismo deixa de ser ferramenta de apagamento para tornar-se uma plataforma de reparação e ressignificação, contribuindo para a consolidação de práticas mais equitativas e respeitosas (RODRIGUES,2015).
A mobilização da memória como fundamento do turismo exige, por fim, a consolidação de políticas públicas que assegurem a proteção dos territórios históricos e garantam a mediação qualificada da experiência turística. Isso inclui o incentivo à formação de guias locais, o apoio a projetos de educação patrimonial e a regulamentação do uso turístico dos bens culturais. A história, quando tratada com respeito e profundidade, torna-se elemento estratégico para o fortalecimento das identidades locais e para a construção de um turismo comprometido com a justiça social e a preservação cultural (RIBEIRO,2018).
A incorporação do passado como instrumento ativo no planejamento turístico permite confrontar a tendência de transformar o patrimônio em produto fragmentado, descontextualizado e subordinado ao apelo do consumo. Em vez de reproduzir um modelo de exploração estética dos espaços históricos, o turismo sustentável propõe um envolvimento mais sensível e reflexivo com os contextos visitados, convidando o visitante a se engajar criticamente com o que vê, ouve e percorre. O engajamento com a memória, portanto, não apenas enriquece a experiência, mas também protege a integridade cultural dos territórios (MEDEIROS,2016).
Ao reconhecer a centralidade da história nas práticas turísticas sustentáveis, cria- se espaço para repensar o papel do visitante como sujeito ético em relação às culturas com as quais interage. Em vez de consumir símbolos, paisagens e monumentos sem reflexão, espera-se que o turista atue com empatia, consciência histórica e respeito pela complexidade local. Isso requer uma transformação no modo como os roteiros são concebidos e conduzidos, valorizando a mediação cultural como eixo formativo da experiência turística (PEREIRA,2019).
A valorização do patrimônio imaterial, como festas populares, saberes tradicionais e práticas orais, reforça ainda mais essa abordagem. A história, nesse caso, extrapola os marcos arquitetônicos e passa a ser percebida como uma expressão viva, transmitida por pessoas, gestos e rituais cotidianos. O turismo, ao incluir essas dimensões nas suas práticas, contribui para manter vivas culturas muitas vezes invisibilizadas pelas lógicas dominantes de mercado, e oferece às comunidades oportunidades reais de fortalecimento cultural (PONTES,2017).
Por outro lado, a ausência de leitura crítica da história nos roteiros turísticos pode intensificar processos de apagamento e descaracterização cultural. Quando as memórias locais são instrumentalizadas apenas para fins comerciais, corre-se o risco de produzir narrativas simplificadas, excludentes ou mesmo distorcidas, que não representam a diversidade e a complexidade dos territórios. Esse risco reforça a necessidade de um turismo comprometido com a verdade histórica e com a inclusão de múltiplas vozes na construção do discurso turístico (RODRIGUES,2015).
Assim, ao aproximar o turismo da história viva dos territórios, promove-se um modelo de desenvolvimento que respeita o tempo social das comunidades e reconhece a importância das heranças culturais não como mercadorias, mas como patrimônios coletivos. A prática turística, nesse sentido, passa a ser uma forma de engajamento com o passado e de projeção de futuros mais inclusivos e sustentáveis. O uso ético da história, ancorado na escuta e no reconhecimento mútuo, transforma o turismo em espaço de aprendizagem e fortalecimento da cidadania cultural (RIBEIRO,2018).
A apropriação consciente da história nos roteiros turísticos permite superar a visão homogênea e hegemônica dos destinos, frequentemente moldada por interesses econômicos ou narrativas oficiais. Ao incluir múltiplas memórias no processo de construção do turismo, reconhece-se que o patrimônio é resultado de disputas simbólicas e de trajetórias sociais diversas. Dessa forma, o turista é convidado a se aproximar de realidades complexas, cujas histórias nem sempre estão visíveis nos monumentos, mas vivem na oralidade, na arquitetura popular e nas práticas cotidianas das comunidades (ALMEIDA,2016).
Essa multiplicidade de memórias possibilita, inclusive, o fortalecimento de sentimentos de pertencimento nos grupos locais. A partir da visibilidade das suas narrativas históricas, comunidades tradicionalmente marginalizadas passam a ocupar lugar central no processo turístico, assumindo papel ativo na mediação cultural. A história, nesse caso, não é um recurso externo ao território, mas parte constitutiva da identidade coletiva que dá sentido ao espaço vivido e visitado. O turismo, assim concebido, fortalece os laços sociais e a autoestima coletiva (BARBOSA,2018).
A dimensão crítica da história também contribui para desestabilizar visões idealizadas dos territórios turísticos. Ao revelar contradições, conflitos e resistências presentes no passado local, o turismo histórico deixa de promover uma estética do encantamento e passa a apresentar um conteúdo formativo. Isso torna a experiência turística mais densa, provocadora e ética, ao invés de meramente superficial. A complexidade histórica dos lugares passa, então, a ser vista como valor pedagógico e não como obstáculo ao consumo (BRITO,2017).
A valorização da história como prática viva também rompe com o mito da neutralidade dos espaços turísticos. Cada lugar visitado carrega marcas, disputas e trajetórias que precisam ser reconhecidas para que a visita se transforme em encontro e não em exploração. O turismo sustentável, ao respeitar esse princípio, transforma-se em prática cidadã, promovendo uma experiência que não apenas respeita o outro, mas também reconhece os limites e as responsabilidades envolvidas no ato de circular por memórias alheias (COSTA,2015).
Dessa forma, a mobilização da história como ferramenta crítica do turismo exige que os processos educativos estejam no centro da experiência. Isso implica promover visitas guiadas qualificadas, elaboração de materiais informativos que contemplem diferentes perspectivas e desenvolvimento de projetos turísticos que incluam comunidades locais na produção do conhecimento. O turismo, nesse cenário, transforma-se em um espaço formativo contínuo, orientado pela ética da memória e pelo respeito à diversidade cultural (CUNHA,2019).
A história, ao ser integrada como eixo orientador do turismo sustentável, também cumpre uma função de mediação entre diferentes temporalidades que coexistem nos territórios. O passado, longe de estar encerrado, ressurge como elemento vivo e dinâmico no presente turístico, oferecendo ao visitante a oportunidade de refletir criticamente sobre os processos que configuram o espaço e a cultura local. Essa articulação entre memória e atualidade fortalece a consciência sobre a responsabilidade coletiva de proteger os valores históricos e culturais que estruturam a identidade dos lugares visitados (ALMEIDA,2016).
Ao tratar a história como componente essencial da prática turística, combate-se a tendência de transformar o espaço em espetáculo, o tempo em produto e a cultura em mercadoria. Essa crítica à lógica mercantil do turismo ganha força quando se adota uma perspectiva patrimonial comprometida com a dignidade dos sujeitos históricos. A valorização da história contribui, nesse sentido, para frear os processos de gentrificação simbólica, em que o passado é higienizado e estetizado para atender a uma demanda consumista, sem respeito pela complexidade dos processos sociais que constituem os territórios (BARBOSA,2018).
A sustentabilidade, nesse modelo, não é restrita à dimensão ambiental, mas abrange também a sustentabilidade simbólica e cultural. O uso consciente da história no turismo garante que as heranças culturais não sejam manipuladas ao sabor do mercado, mas preservadas em sua densidade histórica e social. Isso amplia a ideia de sustentabilidade para além da preservação física, incluindo também a preservação das narrativas, dos sentidos e das práticas que dão vida ao patrimônio (BRITO,2017).
Além disso, a centralidade da história contribui para uma abordagem mais ética na relação entre turistas e comunidades anfitriãs. O visitante, ao compreender o percurso histórico daquele espaço, tende a desenvolver maior respeito pelas tradições locais e pela dinâmica sociocultural existente. O turismo deixa, assim, de ser uma prática invasiva para tornar-se uma atividade mediada pelo conhecimento, pela escuta e pela responsabilidade, fatores que o qualificam como ferramenta efetiva de educação para a cidadania (COSTA,2015).
Desse modo, a história, quando tratada com profundidade e respeito, é capaz de produzir experiências de turismo transformadoras, tanto para os visitantes quanto para as comunidades locais. Ao transformar o roteiro em espaço de memória e o ato de viajar em prática de consciência, o turismo histórico-sustentável amplia suas funções educativas, sociais e políticas. A mobilização do passado, neste caso, não visa apenas preservar, mas também inspirar novos olhares sobre o presente e fomentar práticas mais humanas, inclusivas e equilibradas (CUNHA,2019).
A memória, ao ser tratada como fundamento da prática turística, deixa de ocupar um lugar passivo de arquivo e passa a ser compreendida como uma força ativa de construção cultural. Isso implica reconhecer que cada território é carregado de significados acumulados ao longo do tempo, os quais precisam ser protegidos, narrados e compartilhados com responsabilidade. O turismo, ao se comprometer com esse princípio, transforma-se em um agente de valorização identitária e de fortalecimento do pertencimento social (ALMEIDA,2016).
Esse processo de valorização da história através do turismo também contribui para que as comunidades locais se reconheçam como protagonistas do seu próprio legado. A mobilização do patrimônio histórico por meio de práticas turísticas participativas oferece espaços de expressão às populações que muitas vezes foram silenciadas ou excluídas das grandes narrativas culturais. Dessa maneira, o turismo deixa de ser uma ação imposta de fora para dentro e passa a ser um movimento que emerge do próprio território, respeitando sua singularidade e suas memórias (BARBOSA,2018).
Além disso, a integração da história à experiência turística permite promover uma relação mais sensível com o espaço, que ultrapassa a lógica do consumo e resgata o sentido da contemplação reflexiva. O visitante, ao ser confrontado com as camadas históricas que compõem o lugar, torna-se agente de escuta e aprendizado. Essa transformação no perfil do turista reflete uma mudança estrutural na concepção do turismo, que deixa de priorizar a velocidade e o entretenimento para valorizar a profundidade e o encontro (BRITO,2017).
Outro aspecto relevante é que o turismo baseado na memória incentiva práticas mais duradouras e menos invasivas, contribuindo para a sustentabilidade social e econômica das comunidades. O vínculo construído entre visitantes e territórios a partir da história gera uma fidelização afetiva, que fortalece a economia local de maneira equilibrada e contínua. Ao contrário do turismo de massa, que extrai valor sem compromisso, o turismo histórico estabelece redes de cuidado e solidariedade que permanecem para além da visita (COSTA,2015).
Desse modo, ao devolver à história seu papel de guardiã da cultura e ferramenta de transformação social, o turismo se alinha com os princípios mais profundos da sustentabilidade. A prática turística que reconhece, preserva e valoriza a memória não apenas protege o patrimônio material e imaterial, mas também oferece horizontes de justiça e dignidade aos povos que habitam os territórios visitados. A história, quando tratada com ética e profundidade, torna-se guia para um turismo mais consciente, responsável e verdadeiramente humano (CUNHA,2019).
3. CONCLUSÃO
A centralidade da história no turismo sustentável revela-se como fator determinante para a construção de práticas que respeitam a memória coletiva, valorizam os sujeitos históricos e promovem a conservação dos bens patrimoniais. Ao reconhecer que o turismo pode ser mais do que deslocamento e consumo, propõe-se uma reconfiguração do setor como espaço de diálogo, aprendizagem e reconhecimento mútuo. A história, nesse processo, atua como elo entre visitantes e comunidades, orientando o olhar para além da estética e conduzindo à compreensão dos significados que habitam os territórios.
O turismo pautado na memória rompe com a lógica da superficialidade, promovendo uma relação mais profunda e ética com os lugares visitados. Essa perspectiva contribui para combater o apagamento de culturas locais, frequentemente reduzidas a cenários exóticos ou produtos mercadológicos. O engajamento com a história fortalece a resistência simbólica das comunidades e possibilita que o turismo se torne instrumento de afirmação identitária, em vez de veículo de homogeneização cultural. A memória, nesse sentido, transforma-se em território político e pedagógico.
Ademais, a integração da dimensão histórica ao turismo sustentável amplia a função social do patrimônio, convertendo-o em bem comum acessível e interpretado de forma plural. Isso favorece o desenvolvimento de roteiros inclusivos, que representam diferentes vozes e experiências históricas, rompendo com visões estereotipadas ou eurocêntricas. O turista, ao ser convidado a compreender o contexto histórico dos espaços que percorre, adquire uma postura mais consciente, empática e responsável.
A preservação do passado, contudo, exige compromisso efetivo de todos os agentes envolvidos na cadeia do turismo. Poder público, iniciativa privada e sociedade civil devem atuar em articulação para garantir que o uso turístico do patrimônio respeite as dinâmicas locais e contribua para o fortalecimento comunitário. A história, longe de ser um atrativo isolado, precisa ser tratada como base ética para a elaboração de políticas turísticas justas e sustentáveis, que respeitem o tempo dos lugares e a memória dos seus habitantes.
Desse modo, ao reconhecer a memória como fundamento do turismo sustentável, reafirma-se o papel transformador da história na construção de experiências turísticas verdadeiramente significativas. A escuta do passado, o reconhecimento das lutas e a valorização dos saberes locais devem orientar os caminhos do turismo contemporâneo. A história, quando compreendida como movimento e não como mercadoria, torna-se ponte entre culturas, ferramenta de conscientização e base para um turismo que respeita, preserva e transforma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PONTES, Camila. História compartilhada e turismo local: experiências em territórios periféricos. Maceió, 2017.
RODRIGUES, Beatriz. Turismo e memória coletiva: uma abordagem crítica. Salvador, 2015.
RIBEIRO, Marcelo. História, turismo e pertencimento: os caminhos da sustentabilidade. Porto Velho, 2018.
1 Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de TCC.
2 Discente do curso de História.