REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504181618
Fabiane Hoscheidt Trescastro1
RESUMO
Ainda que saibamos da importância da leitura no cotidiano da Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, percebemos que muitos educadores demonstram incertezas em como apresentar às crianças a importância e o entendimento da leitura em suas práticas no cotidiano das escolas. Assim, através deste artigo, busca-se compreender de forma qualitativa e bibliográfica aspectos que possamos alinhar a teoria e prática no contexto escolar propiciando uma mediação da leitura qualificada. Também, esta pesquisa visa aprimorar os conhecimentos das distintas ações reflexivas, onde possamos promover momentos nos quais as crianças sintam o desejo, o gosto, a importância e compreendam que através da literatura infantil , podemos fazer a leitura do mundo no qual vivemos e que a mesma oportuniza distintas estratégias de criar seus próprios enredos tornando a aprendizagem significativa.
Palavras-chaves: Mediação e Importância da leitura; Crianças, Literatura Infantil e Escola.
ABSTRACT
Although we know the importance of reading in the daily life of early childhood education and early years of elementary school, we realize that many educators demonstrate uncertainties in how to present to children the importance of reading and understanding in their everyday practice in schools. Thus, through this article, we seek to understand the qualitative aspects and bibliographical way we can align theory and practice in the school setting providing a mediation of skilled reading. Also, this research aims to improve the knowledge of the various reflex actions, which can promote moments in which children feel the desir, the taste, the importance and understand that through children’s literature, we can make a reading of the world in which we live and that it provides opportunities distinct strategies to create your own scenarios making meaningful learning.
Keywords: Mediation and reading Importance; Children, Children’s Literature and School.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo trata de apresentar pesquisas bibliográficas, referente a ações reflexivas sobre a mediação da leitura do contexto escolar.
Atualmente percebe-se, que apesar de muitos programas que incentivam a mediação da leitura e uma vasta disponibilidade de recursos pedagógicos que facilitam os diferentes momentos com esta, há ainda muitos educadores que demonstram incertezas das formas significativas de apresentar propostas nas quais as crianças passam interessar-se pelo o universo da Literatura Infantil, qualificando a aprendizagem.
Práticas como construção de espaço em sala de aula que proporcione a manipulação das crianças com livros, fantoches, gibis, contação e criação de histórias, projetos desenvolvidos tendo como meio de pesquisa o livro, têm sido cada vez mais escassos no ambiente escolar, fazendo com que as crianças não construam relevantes interações com o outro e de certa forma, elas não interpretam a importância da leitura em nossa sociedade com as práticas vividas no ambiente escolar.
Muitos profissionais da área da educação, acreditam que a influência da tecnologia está fazendo com que as crianças, jovens e adultos não demonstrem tanto interesse para com os livros como antigamente, ressaltam que suas práticas escolares não atraem tantos os educandos. Contudo, acredita-se que a tecnologia é um avanço que possibilita a ampliação do conhecimento, cabe aos profissionais desta área conduzir as aulas de maneira com que interajam com os diversos meios de comunicação presentes no momento.
Assim, possibilitar às crianças momentos de práticas pedagógicas ricas e relacionadas à leitura é um dos meios mais importantes de favorecer a experiência com o conhecimento científico e com a cultura, estabelecendo trocas de aprendizagens e estimulando o interesse das mesmas pelas diversas formas de leitura do mundo, como por exemplo as manifestações artísticas, culturais e científicas.
Silva, um dos pioneiros no uso da terminologia ” pedagogia da leitura”, afirma: ” Ler é, última instância, não só uma ponte para tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela a escrita e passa a compreender-se no mundo”(1987:45)
Ainda, observa-se que as crianças estão cada vez mais desmotivadas com relação à leitura e escrita em seu contexto escolar, apresentando diversas dificuldades de aprendizagens relacionadas a estas, necessitando muitas vezes na intervenção de psicopedagogos para realizarem sessões que possibilitem às crianças a ampliação dos conhecimentos voltados a práticas de alfabetização e importância da leitura para uma vida em sociedade.
Diante disto, neste artigo científico busca-se compreender as maneiras nas quais os profissionais da educação infantil e ensino fundamental podem desenvolver suas práticas de leitura, visando oportunizar pesquisas e instigações, onde as crianças expressem suas curiosidades, hipóteses e possibilidades, buscando aprimorar o pensamento crítico e a melhor forma de expressão.
2. MEDIAÇÃO DA LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
De acordo, com a teoria histórico-cultural de Vygotsky (1993), o indivíduo constituiu-se, principalmente, nas interações sociais.
São de Vygotsky as palavras […] postulamos que o que cria a Zona de Desenvolvimento Proximal é um traço essencial da aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta uma série de processos evolutivos internos capazes de operar apenas quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em cooperação com algum semelhante. Uma vez que estes processos tenham se internalizado, tornam-se parte das conquistas evolutivas independentes das crianças. […] (VYGOTSKY, 1937, apud ANTUNES, op cit.)
Desse modo, a mediação da leitura oportunizada pelo educador, implica nas trocas compartilhadas dos saberes, experiências e vivências de ambos, possibilitando a construção da aprendizagem para com a leitura de forma que, a criança desperte o interesse por esta prática significativa em seu contexto escolar e social. De acordo com Garcia:
Mediar a leitura é estar no meio de uma atividade essencial à escola, à vida, sem tomar nas mãos rédeas do processo, como se fosse o professor o único a saber o caminho; é estar presente mesmo que sutilmente ausente; é saber que o ato de ler é condicionado por condições e características psicológicas, sociais, econômicas e intelectuais de cada indivíduo e, nesse sentido, cada leitura faz parte de um todo maior (1992:37).
São diversos os caminhos a seguir para proporcionar momentos de mediação da leitura no cotidiano das crianças, entre eles, o espaço da leitura que a construção se dá nas próprias salas de aulas, proporcionando momentos de interações diretas com os distintos materiais: jornais, revistas, livros infantis, científicos, gibis e etc. Com a disponibilização dos materiais, as crianças sentem a vontade de realizar as descobertas e se encantar com tais recursos pedagógicos. Além disso, ao manusear estes, elas fazem leituras de imagens, experimentação e sentem o desejo de conhecer a letras e palavras escritas, desenvolvendo nas crianças um processo natural para as primeiras experiências nos momentos da alfabetização nos anos iniciais.
Ainda, sendo estes espaços bem organizados e convidativos, proporciona às crianças instantes de construções de brincadeiras relevantes, onde elas alinham o faz- conta com as vivências das diferentes histórias disponibilizadas à elas.
O olhar de um educador atento é sensível a todos os elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como organizamos materiais e móveis, e a forma como crianças e adultos ocupam esse espaço e como interagem com ele são reveladores de uma concepção pedagógica. Aliás, o que sempre chamou minha atenção foi a pobreza frequentemente encontrada nas salas de aula, nos materiais, nas cores, nos aromas; enfim, em tudo que pode povoar o espaço onde cotidianamente as crianças estão e como poderiam desenvolver-se nele e por meio dele se fosse mais bem organizado e mais rico em desafios. (HORN, 2004, p. 15).
Outro aspecto pertinente são os momentos de Contações de Histórias no contexto escolar, esta mediação mágica e encantadora é capaz de estimular nas crianças as construções de suas próprias histórias e ampliação dos conhecimentos e reflexão sobre a importância da escrita e leitura em sua vida. Segundo Ostetto 2007, o educador como essa pessoa-chave para mediar os caminhos da criança no mundo simbólico da cultura e da arte. E nesse caminhar, na experiência compartilhada, ele vai aprendendo a reparar em seu ser poético.
Acredita-se, na contação de história como meio de encanto e encontros na educação infantil e ensino fundamental, onde as crianças vivenciam as histórias de maneira intensa, sendo transformadora e provocante, apresentando às crianças oportunidades ricas e construções de novos repertórios com relação a leitura. Quando apresentam-se contações de histórias significativas, observa-se o desejo das crianças em apreciar o livro de distintas formas.
Com isto, pensa-se nas palavras ressaltadas pela ABRAMOVICH:
Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes…. Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção… Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras… contar histórias é uma arte… E tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro…. Ela é o uso simples e harmônico da voz. (ABRAMOVICH, 1989, p.18)
Também, observa-se que se faz necessário, nas práticas escolares a mediação da leitura com as famílias, pois fazer com que estas participem de rotinas que viabilizem a importância da leitura na vida das crianças, demonstrando a elas a compreensão da leitura e escrita na vida de seus filhos, sendo um aspecto social e não apenas escolar.
Segundo Edcleid da Silva Pereira e Janei Alves Barbosa 2012, é importante que a instituição educacional e a família desenvolvam o hábito da leitura na criança desde cedo, considerando-o como uma das atividades mais importante para o desenvolvimento do seu vocabulário e constroem suas ideias, vivenciam experiências que contribuem com seu conhecimento de mundo.
Acredita-se, que as práticas de mediação da leitura no contexto escolar, oportuniza a interação das crianças durantes as “contações” de histórias, estimulando-as a levantar e criar hipóteses em relação as situações vivenciadas nestas, criando condições para que as mesmas possam fazer a interpretação das histórias através das distintas expressões: escrita, desenho, teatro, música, enfim, apresentando as suas diferentes habilidades diante dos enredos apreciados, assim, de forma lúdica as crianças constroem e compreendem a importância das mediações em entender o mundo letrado a sua volta.
Sendo a leitura de literatura infantil um importante instrumento de conscientização e de transformação do sujeito, por apresentar ao seu leitor uma visão aberta de mundo, com novas possibilidades de interpretação da realidade, cabe ao professor realizar atividades adequadas de leitura que despertem o gosto e o interesse das crianças pela literatura. Pois ao ler uma história a criança desenvolve um raciocínio crítico, que a leva a pensar, questionar, duvidar e através da identificação com as personagens, encontra respostas para seus próprios problemas e indagações (COELHO, 2001; ABRAMOVICH, 1993; FRANTZ, 2005).
3. O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO
Atualmente, as crianças vêm apresentando distintas dificuldades de aprendizagens nos primeiros anos do ensino fundamental, devido a problemas emocionais, cognitivos, orgânicos. Também, observa-se que as dificuldades de aprendizagens relacionadas a leitura e escrita são originadas pela falta de compreensão dos educandos sobre a importância destes aspectos em sua vida escolar e social.
Muitos profissionais debruçam-se para compreender como o processo de alfabetização nos primeiros anos do ensino fundamental está sendo oportunizado e as diferentes aprendizagens para com a criança que instantes atrás estava em “encontros e encantos da educação infantil” e ao completar seis anos de idade , passa a vivenciar conteúdos programáticos e um vasto repertório de linguagens, onde muitas vezes não é proporcionada de forma interdisciplinar ocasionando incertezas à estes educandos.
A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreender os processos de aprendizagens, pois haviam questões que somente a área orgânica ou a emocional individualmente não explicavam.
De acordo com Nádia Bossa, a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. (2000, p.11).
Através de estudos, consta-se que muitos educadores necessitam da intervenção psicopedagógica para entender as dificuldades que os educandos apresentam diante as propostas pedagógicas, assim, o psicopedagogo ao receber o encaminhamento do professor ele desenvolverá sessões psicopedagógica com a crianças para analisar as causas destas dificuldades.
No entanto, em muitos casos as queixas dos professores são relacionados ao processo de alfabetização, onde as crianças não conseguem desenvolver leituras e escritas de palavras, frases e textos. Com isto, estes profissionais ao receberem o encaminhamento destes educandos, passam a realizar sessões para detectar a causa da dificuldade de aprendizagem e sessões de tratamento com o objetivo de oportunizar à criança o entendimento sobre aspectos relacionados a aprendizagem de forma individual.
O saber acerca da indefesa constitutiva de um ser que só pode formar sua identidade na enaltação de condições interpessoais e estabilizar em condições de reconhecimento intersubjetivo brota da familiaridade intuitiva com as estruturas universais (PANIZ, 2014).
Ao realizar tais estudos, percebe-se que em diversos casos as causas da dificuldade de aprendizagem apresentada pelo o educando está na incompreensão destes sobre a importância real da leitura e escrita em sua vida. Percebe-se, que em diversos casos as propostas apresentadas pelos educadores não estimulam a criança a pensar sobre determinado assunto e as práticas escolares são desenvolvidas de tal forma que os mesmos devem aceitá-las de forma passiva não tendo a oportunidade de instigar e questionar o quanto determinada disciplina será importante para o seu saber. Segundo Paulo Freire 1996, p. 26: “Nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito de processo.”
Assim os psicopedagogos (a) tendem buscar um novo olhar para os educandos e suas dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita, demonstrando de maneira lúdica o papel importante deste aprendizado em sua vida escolar e social. Além disso, estes profissionais buscam rever com educadores suas práticas pedagógicas apresentando para estes formas de ressignificar a mediação da leitura no ambiente escolar, assim, proporcionando às crianças maneiras interativas, onde todos sejam contemplados de momentos de “gostosuras e maravilhamento” para com as diversas formas de percepção da leitura.
“Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de tudo, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não pela manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade” (FREIRE,2006, p.8).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, estudiosos aplicam-se em pesquisas para apresentar aos profissionais da educação distintas maneiras de pensar sobre a criança em seu contexto escolar, familiar e social, nos apresentando a criança como sujeito único, ativo e questionador. No entanto, alguns profissionais ainda tendem a não aceitar este novo olhar para com a criança, assim utilizando-se de métodos de memorização e “decoreba”, não transformando a aprendizagem rica e prazerosa para os educandos.
Diante disto, através das estratégias demonstradas neste artigo, percebe-se a contação de histórias como algo enriquecedor na perspectiva do trabalho pedagógico e de cunho psicopedagógico, salientando esta intervenção como possibilidade essencial para o desenvolvimento da aprendizagem do leitor em formação.
Ao pensar na mediação da leitura no contexto escolar, buscou-se apresentar formas convidativas para a aprendizagem da leitura e escrita, as quais proporcionam o gosto e a vontade das crianças em realizar suas próprias descobertas e criar seus próprios questionamentos através da literatura infantil. Além disto, o contato do leitor com variado meio de leitura, provoca nesta criança o desejo de conhecer e reconhecer as palavras, frases que fazem parte do contexto de determinada história, proporcionando uma aprendizagem significativa e natural, onde a criança sente-se pertencentes a este mundo letrado e internalizando a compreensão da leitura e escrita em sua vida escolar e social.
Assim, pensou-se em apresentar diferentes formas de envolver os educando no contexto da leitura e escrita, utilizando diversos recursos que proporcionam uma aprendizagem reflexiva e ativa, onde todos possam compartilhar de tais momentos construindo o verdadeiro saber.
5. REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. – Coleção Leitura
MAIA, JOSEANE, Literatura na formação de leitores e professores, São Paulo: Paulinas,2007. – (Coleção literatura & ensino).
WILLINGHAM, D.T, Por que os alunos não gostam da escola? Porto Alegre: Artmed, 2011.
ZIBERMAN, REGINA, A Literatura infantil na escola,11ª ed. São Paulo: Global, 2003.
NONO, Maévi Anabel, Organização do Tempo e do Espaço na Educação infantil – Pesquisas e Práticas. Disponível em:http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/297/1/01d13t08.pdf
PEREIRA, Edcleide da Silva. BARBOSA, Janei Alves, A literatura infantil no desenvolvimento cognitivo das crianças. Disponível em:http://www.webartigos.com/artigos/a-literatura-infantil-no-desenvolvimento-cognitivo-das-criancas/93984/#ixzz3mK0RcvJk
1Professora de Educação Infantil, orientadora Educacional no Centro Universitário Internacional, Formadora Municipal pelo programa Compromisso Nacional com a Leitura e Escrita na Educação Infantil, Especialista em Neuropsicopegagogia Institucional, Psicopedagogia Clínica e Institucional, Educação Ambiental e Sustentabilidade, Contadora de Histórias, Brinquedista e Mestre em Educação.