MANEJO DE DEJETOS DE SUÍNOS E AVES: SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA A PRODUÇÃO ANIMAL

SWINE AND POULTRY MANURE MANAGEMENT: SUSTAINABLE SOLUTIONS FOR ANIMAL PRODUCTION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411301250


Daiane Dias Siqueira
Fernanda Lyra Silva
Gustavo Neri
João Victor Freire de Souza
Maiara Marques Alvarenga
Ricardo dos Santos Alcântara
Vívian da Silva Souza Marins
Alana Camargo Poncio1
Domethila Mariana de Souza Aguiar dos Santos2


Resumo

O manejo sustentável de dejetos provenientes da suinocultura e avicultura é fundamental para mitigar impactos ambientais e promover sistemas produtivos mais eficientes. Estima-se que a produção global de resíduos pecuários alcance milhões de toneladas anuais, representando um desafio e uma oportunidade para a sustentabilidade na produção animal. Este estudo analisa tecnologias como compostagem, digestão anaeróbica e fertirrigação, destacando seus benefícios para a agricultura, geração de energia e redução de emissões de gases de efeito estufa. A compostagem converte resíduos orgânicos em biofertilizantes ricos em nutrientes, melhorando a fertilidade do solo e reduzindo a dependência de fertilizantes químicos. A digestão anaeróbica transforma matéria orgânica em biogás, uma fonte de energia renovável, enquanto o subproduto gerado, conhecido como digestato, pode ser usado como biofertilizante líquido. A fertirrigação, por sua vez, utiliza dejetos líquidos tratados, promovendo a eficiência no uso da água e aumentando a produtividade agrícola. Além dos benefícios econômicos e ambientais, são apresentados os desafios enfrentados para a implantação dessas práticas em larga escala, como os custos iniciais elevados, a necessidade de infraestrutura adequada e a falta de conscientização entre os produtores. Os resultados deste estudo demonstram que o manejo adequado de dejetos pode transformar um passivo ambiental em ativos valiosos, integrando a pecuária aos princípios da economia circular e fortalecendo sua sustentabilidade. Por fim, destaca-se a importância de políticas públicas, capacitação técnica e investimentos para ampliar a adoção dessas tecnologias.

Palavras-chave: sustentabilidade, dejetos, compostagem, suinocultura, avicultura.

1. INTRODUÇÃO

A crescente demanda por carne e ovos tem impulsionado a intensificação da produção de suínos e aves, que, por sua vez, gera volumes substanciais de dejetos. Apenas no Brasil, o setor suinícola produz mais de 190 milhões de toneladas de resíduos anualmente. Quando não manejados adequadamente, esses resíduos podem causar contaminação do solo, poluição de recursos hídricos e emissões de gases de efeito estufa, como metano e óxido nitroso (Alves et al., 2019).

Por outro lado, o potencial desses dejetos como insumos valiosos para a agricultura e energia renovável é inegável. Estudos recentes demonstram que o aproveitamento adequado pode reduzir custos com fertilizantes químicos e contribuir significativamente para a transição energética sustentável. Este trabalho explora tecnologias disponíveis para o tratamento de dejetos, seus benefícios ambientais e econômicos, e os desafios enfrentados para implementação em larga escala.

A utilização de biodigestores, por exemplo, tem se mostrado uma solução promissora para a transformação dos resíduos em biogás e biofertilizantes. De acordo com Lopes e Pereira (2018), a digestão anaeróbica não apenas reduz a carga orgânica dos dejetos, mas também minimiza emissões de gases de efeito estufa e gera energia renovável, sendo uma alternativa economicamente viável para produtores rurais. Além disso, os resíduos tratados podem ser aplicados como fertilizantes orgânicos, enriquecendo o solo e promovendo ciclos agrícolas mais sustentáveis (Costa et al., 2020).

Entretanto, a adoção de tais tecnologias enfrenta desafios significativos, incluindo altos custos iniciais de instalação, a necessidade de capacitação técnica e barreiras regulatórias. Segundo Silva e Almeida (2020), muitos produtores ainda carecem de incentivo e suporte técnico adequado para incorporar práticas mais sustentáveis em suas operações. Políticas públicas mais robustas e campanhas de conscientização podem ser determinantes para superar esses entraves e expandir a utilização de tecnologias de tratamento de dejetos em todo o setor.

Além disso, iniciativas como a compostagem têm demonstrado ser eficazes para transformar os resíduos sólidos em fertilizantes orgânicos de alta qualidade. Gomes e Andrade (2021) destacam que esse processo, ao reaproveitar a matéria orgânica, reduz o impacto ambiental e melhora a qualidade do solo, especialmente em regiões onde o uso intensivo de fertilizantes químicos comprometeu a fertilidade natural. Portanto, a integração de práticas sustentáveis no manejo de resíduos é crucial para conciliar a produtividade agrícola com a preservação ambiental.

A fertirrigação também tem ganhado destaque como uma prática sustentável no manejo de dejetos de suínos e aves além das tecnologias de biodigestão e compostagem. Esse método consiste em diluir os resíduos líquidos e aplicá-los diretamente no solo, promovendo a nutrição de culturas agrícolas. Estudos realizados por Costa et al. (2020) mostram que a fertirrigação não apenas reduz a dependência de fertilizantes químicos, mas também auxilia no gerenciamento eficiente da água, especialmente em regiões que enfrentam escassez hídrica. Contudo, sua aplicação requer planejamento cuidadoso para evitar a contaminação de lençóis freáticos e a liberação de nutrientes em excesso, que poderiam causar eutrofização em corpos d’água.

Por fim, a integração de sistemas de produção sustentável, como a abordagem conhecida por “agricultura circular”, apresenta grande potencial para o reaproveitamento eficiente dos recursos. Nessa lógica, os resíduos gerados na criação de suínos e aves são reaproveitados como insumos agrícolas, enquanto a energia gerada por biodigestores pode ser reinvestida em atividades produtivas da propriedade. Silva e Almeida (2020) argumentam que essa abordagem não apenas reduz os impactos ambientais, mas também melhora a resiliência econômica dos produtores ao diversificar suas fontes de receita. A transição para esses modelos mais integrados exige cooperação entre governos, instituições de pesquisa e o setor privado, fortalecendo uma visão mais ampla de sustentabilidade no agronegócio.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Adubação Orgânica

Os dejetos de suínos e aves são ricos em nutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e potássio. De acordo com Souza e colaboradores (2019), a utilização de adubos orgânicos melhora a estrutura física e química do solo, aumenta a retenção de água e favorece a atividade microbiana, promovendo um ciclo de nutrientes mais sustentáveis.

A utilização de dejetos de suínos e aves na adubação é uma prática crescente e vantajosa para a agricultura sustentável. Esses resíduos orgânicos são ricos em nutrientes essenciais, como fósforo (P), nitrogênio (N) e potássio (K), que contribuem para a melhoria da fertilidade do solo e a produtividade das culturas. A decomposição da matéria orgânica presente nesses resíduos também favorece a liberação gradual de nutrientes, promovendo sua disponibilidade por períodos mais longos e reduzindo perdas por lixiviação (Eira, 1992; Bayer & Mielniczuk, 1999).

Assim, a utilização de biodigestores alinha a produção suinícola com práticas sustentáveis, mitigando impactos ambientais e promovendo uma economia circular. Iniciativas como essas são essenciais para consolidar uma economia de baixo carbono, conforme recomendado pelo MAPA (2012).

A adubação orgânica tem sido amplamente considerada como uma alternativa sustentável e eficiente em comparação aos fertilizantes químicos, trazendo benefícios econômicos, ambientais e produtivos. Sua aplicação melhora a fertilidade do solo e a retenção de água, resultando em maior produtividade agrícola.

Do ponto de vista econômico, a adubação orgânica pode reduzir os custos de produção, especialmente em sistemas agrícolas de pequena escala, ao reutilizar resíduos agrícolas. Na cultura do milho, o uso de biofertilizantes derivados de resíduos da agricultura familiar tem se mostrado uma alternativa viável para aumentar a eficiência nutricional, promovendo o desenvolvimento sustentável (Barbosa, 2019). Além disso, estudos mostram que a adubação orgânica pode reduzir em até 20% os custos de produção de milho e soja, com um aumento de produtividade de até 15% após três anos de aplicação contínua (Massad et al., 2017).

A sustentabilidade é outro ponto forte da adubação orgânica. A utilização de resíduos orgânicos diminui a dependência de fertilizantes químicos, contribuindo para a redução da poluição ambiental. Conforme Macêdo et al. (2018), a aplicação de adubos orgânicos em pastagens tropicais melhora a estabilidade do ecossistema, promovendo maior biodiversidade e conservação dos recursos.

Por fim, o impacto positivo da adubação orgânica se estende à resiliência das culturas agrícolas às variações climáticas. O aumento da capacidade de retenção de água no solo e a melhoria de suas propriedades físicas e químicas ajudam a reduzir os efeitos adversos de eventos extremos, como secas e chuvas intensas. Essas características tornam a prática uma ferramenta crucial para a segurança alimentar em um contexto de mudanças climáticas globais (Araújo et al., 2014; Nakao et al., 2016).

O uso de resíduos de origem animal influencia a dinâmica do fósforo no solo. Estudos mostram que os ácidos orgânicos liberados durante a decomposição ajudam a solubilizar fosfatos ligados ao ferro e ao alumínio, tornando-os mais acessíveis às plantas (Iyamuremye, Dick & Baham, 1996; Gerke, 1994). Essa interação é particularmente importante em solos tropicais altamente intemperizados, como os Latossolos brasileiros, que têm elevada capacidade de adsorção de fósforo (Novais & Smyth, 1999; Andrade et al., 2003).

Os dejetos também desempenham papel importante na melhoria das propriedades físicas e biológicas do solo. A adição de matéria orgânica promove o aumento da capacidade de retenção de água, a estabilização de agregados e o estímulo à atividade microbiana, elementos fundamentais para a manutenção da saúde do solo (Duiker & Beegle, 2006; Franchini et al., 2003).

Alves et al. (2008) discutem como o uso de jatos de solo pode afetar negativamente a macrofauna do solo, evidenciando uma relação entre a adubação orgânica e a melhoria da estrutura e saúde do solo. Esses benefícios são fundamentais para a sustentabilidade da agricultura moderna, pois são recomendados para a regeneração do solo e para a redução da dependência de insumos externos, promovendo práticas mais ecológicas e menos agressivas ao meio ambiente (Kiehl, 1985). 

Contudo, o uso indiscriminado desses materiais pode trazer riscos ambientais, como a contaminação de corpos d’água e a emissão de gases de efeito estufa. Portanto, é essencial que a aplicação de resíduos de suínos e aves seja feita com base em análises de solo e recomendações agronômicas específicas para evitar impactos negativos (Ohno & Crannell, 1996; Rheinheimer, 2000).

2.2 Produção de Energia

A produção de energia a partir de projetos de suínos e aves tem ganhado destaque como uma solução ambientalmente sustentável e economicamente viável. O processo básico envolve a digestão anaeróbica desses resíduos, onde os microrganismos decompõem a matéria orgânica na ausência de oxigênio, gerando biogás, uma mistura composta principalmente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) (Ohno & Crannell, 1996; Pavinato, 2007 ). Este biogás pode ser utilizado para a geração de eletricidade ou energia térmica, promovendo uma alternativa energética renovável que contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, especialmente o metano, que possui um potencial de aquecimento global considerável.

Do ponto de vista agrícola, o resíduo sólido resultante da digestão anaeróbica, conhecido como “digestato”, pode ser utilizado como fertilizante orgânico, fechando o ciclo de nutrientes e promovendo a melhoria da fertilidade do solo. Estudos apontam que a adição de compostos orgânicos, como o digestato, pode melhorar a estrutura do solo e aumentar a disponibilidade de nutrientes essenciais para as plantas (Eira, 1992; Franchini et al., 2003). 

Lopes e Pereira (2018) relataram que uma unidade de digestão anaeróbica em uma fazenda com 500 suínos pode produzir energia suficiente para abastecer 20 residências. Além disso, o resíduo final do processo, conhecido como digestato, é um biofertilizante líquido rico em nutrientes que pode ser aplicado diretamente no solo.

Os dejetos suínos representam uma fonte significativa de poluição ambiental, principalmente quando não tratados especificamente. Dados da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) indicam que a gestão contém esses resíduos compromete os recursos hídricos e o solo (ABCS, 2016). Nesse contexto, os biodigestores se destacam por possibilitarem a biodigestão anaeróbia, transformando os jatos em biogás e biofertilizantes. Segundo Angonese et al. (2007), esse processo pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em unidades suinícolas, contribuindo para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2018)

Outro benefício dos biodigestores é a perspectiva econômica. Uma análise de Cancelier et al. (2015) revelaram que a implantação desses sistemas em propriedades rurais é financeiramente atrativa, considerando o retorno econômico pela venda de energia excedente. Já os biofertilizantes, subproduto da biodigestão, enriquecem o solo e prejudicam o uso de fertilizantes químicos (Costa et al., 2014).

Entretanto, a implementação de sistemas de biodigestão requer um planejamento cuidadoso, incluindo a avaliação de custos iniciais, como a construção de biodigestores, e o dimensionamento adequado do sistema para garantir a eficiência energética e a previsão econômica a longo prazo. A adaptação aos diferentes contextos rurais também é fundamental para o sucesso da tecnologia (Bayer & Mielniczuk, 1999; Pavinato, 2007; Pohlman & McColl, JG, 1986).

2.3 Compostagem

A compostagem transforma resíduos orgânicos em um material estável e rico em nutrientes, eliminando patógenos e reduzindo odores. Segundo Gomes e Andrade (2021), a técnica pode ser ajustada para atender às necessidades de propriedades de diferentes tamanhos, sendo uma solução acessível para pequenos produtores.

Além dos benefícios ambientais, a compostagem é uma alternativa eficiente para a fertilização de solos, proporcionando uma liberação gradual de nutrientes e melhorando a capacidade de retenção de água, especialmente em solos mais ácidos ou empobrecidos. A utilização de compostagem como prática agrícola oferece uma solução sustentável, alinhando a necessidade de nutrientes para as plantas com a preservação ambiental, tornando-se uma estratégia importante na agricultura moderna (Costa, Silva & Rodrigues, 2020). A compostagem de resíduos como esterco animal, restos de culturas e outros materiais orgânicos também reduz a necessidade de insumos químicos, promovendo uma agricultura mais ecológica e menos dependente de fertilizantes sintéticos (Silva & Almeida, 2020).

A compostagem tem impacto direto na qualidade do solo ao aumentar sua biodiversidade e estimular a atividade de microrganismos benéficos, como observam Alves, Oliveira e Costa (2019).

Esses fatores são importantes para a regeneração e o fortalecimento dos ecossistemas agrícolas, aumentando a resistência das plantas às doenças e melhorando sua adaptação às variações climáticas. Portanto, a compostagem se destaca como uma solução integral que favorece tanto a sustentabilidade quanto a eficiência produtiva no campo ” (Gomes & Andrade, 2021; Alves, Oliveira & Costa, 2019; Costa, Silva & Rodrigues, 2020).

Essa prática pode ser complementada com outras estratégias de manejo, como a fertirrigação e o uso de biocombustíveis, que otimizam o uso dos recursos naturais e aumentam a eficiência das operações agrícolas (Costa et al., 2020). Com isso, a compostagem se estabelece como uma prática fundamental para a sustentabilidade no setor agrícola, promovendo a integração entre as atividades.

2.4 Fertirrigação

A utilização de práticas sustentáveis ​​como a fertirrigação tem apresentado resultados positivos na redução de impactos ambientais e no aumento da eficiência agrícola, promovendo um manejo mais racional de recursos naturais (Costa, Silva & Rodrigues, 2020). Essa técnica permite a aplicação precisa de nutrientes distribuídos na água, reduzindo a lixiviação e otimizando a absorção pelas plantas, o que contribui para a preservação do solo e dos recursos hídricos (Silva & Almeida, 2020; Ohno & Crannell, 1996). 

No setor peculiar, a digestão anaeróbica de resíduos tem se destacado como uma alternativa para a produção de biogás e biofertilizantes, permitindo a redução das emissões de gases de efeito estufa e a geração de energia renovável (Lopes & Pereira, 2018; Angonese, Campos & Elter , 2020). O uso de biodigestores, além de minimizar os impactos ambientais, também fornece biofertilizantes ricos em nutrientes que melhoram a qualidade do solo, tornando-o mais produtivo (Amaral et al., 2019; Cervi, Esperancini & Bueno, 2021). 

A integração de adubação verde e esterco animal também se mostra eficiente para a recuperação de áreas degradadas, proporcionando um aumento na matéria orgânica do solo e na capacidade de retenção de água (Duiker & Beegle, 2006; Franchini et al., 2003). A adubação verde com leguminosas, combinada com o uso de esterco bovino, tem sido amplamente empregada em sistemas tropicais, melhorando a estrutura e a fertilidade do solo (Massad et al., 2017; Macêdo et al., 2018). Esses métodos também promovem a mineralização do fósforo no solo, aumentando sua disponibilidade para as plantas e diminuindo a necessidade de insumos externos (Eira, 1992; Gerke, 1994).

Finalmente, o Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas busca consolidar práticas de baixo carbono na agropecuária, incentivando o uso de biofertilizantes e a geração de energias renováveis ​​em sistemas de produção animal e vegetal (MAPA, 2020). As iniciativas voltadas para a sustentabilidade e eficiência energética fortalecem o setor agropecuário, tornando-o mais resiliente às mudanças climáticas e ampliando sua competitividade internacional (Silva & Almeida, 2020; Cancelier et al., 2020). A adoção dessas estratégias não só contribui para a preservação ambiental como também assegura a sustentabilidade econômica e social das atividades agrícolas (Costa, Silva & Rodrigues, 2020; Souza, 2020).

A integração entre a irrigação agrícola e o manejo de resíduos de suínos e aves representa uma abordagem sustentável que beneficia tanto a produção quanto o meio ambiente. A prática de fertirrigação, que combina a aplicação de água com nutrientes provenientes de resíduos orgânicos, tem demonstrado ser eficiente na melhoria das condições do solo e no aumento da produtividade agrícola (Costa, Silva, & Rodrigues, 2020).

O uso de resíduos da produção animal como fertilizantes na irrigação reduz a dependência de insumos químicos e promove a reciclagem de nutrientes, contribuindo para a sustentabilidade das lavouras (Silva & Almeida, 2020). Estudos indicam que a compostagem de resíduos orgânicos gera biofertilizantes ricos em matéria orgânica e nutrientes essenciais, que podem ser diluídos na água de irrigação para potencializar a fertilidade do solo (Gomes & Andrade, 2021).

Além disso, sistemas de biodigestores são frequentemente utilizados para tratar os resíduos de suínos, transformando-os em biogás e biofertilizantes, o que minimiza os impactos ambientais e otimiza o aproveitamento dos recursos na produção agrícola (Lopes & Pereira, 2018). A adoção dessas tecnologias também reduz as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para mitigar os impactos das mudanças climáticas no setor agrícola (Angonese, Campos, & Elter, 2020).

A legislação brasileira, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305), incentiva práticas que priorizam a gestão integrada de resíduos e a aplicação de tecnologias sustentáveis, reforçando a importância de sistemas de irrigação aliados à produção pecuária como uma estratégia viável e responsável (Brasil, 2010). A combinação desses elementos promove uma produção mais eficiente e ambientalmente equilibrada, atendendo às demandas de um mercado cada vez mais preocupado com a sustentabilidade.Costa e colaboradores (2020) destacam que, em regiões semiáridas, a fertirrigação é uma solução eficiente para combater a escassez hídrica, permitindo o cultivo de culturas como milho e cana-de-açúcar em solos marginalizados. 

2.5 Impactos Ambientais

O manejo inadequado de dejetos de suínos e aves é uma das principais fontes de poluição de corpos d’água e emissões de gases de efeito estufa. A introdução de tecnologias de manejo sustentável pode mitigar esses impactos. Alves et al. (2019) ressaltam que a digestão anaeróbica reduz as emissões de metano em até 50% em comparação com o descarte tradicional de resíduos.

O manejo inadequado de dejetos provenientes da produção intensiva de suínos e aves resulta em sérios impactos ambientais. A presença de elevados níveis de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, favorece a contaminação de corpos d’água e solos, além de promover a eutrofização, que prejudica ecossistemas aquáticos e a qualidade da água (Silva & Almeida, 2020). Esses impactos tornam evidente a necessidade de práticas mais sustentáveis no setor.

Além disso, os dejetos são uma importante fonte de gases de efeito estufa, como metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O), que possuem elevado potencial de aquecimento global. A digestão anaeróbica natural, que ocorre em sistemas inadequados de armazenamento, intensifica a emissão desses gases, contribuindo para as mudanças climáticas (Lopes & Pereira, 2018). A mitigação dessas emissões é um desafio crítico para a pecuária moderna.

Soluções sustentáveis têm sido amplamente estudadas para o manejo dos dejetos. A compostagem, por exemplo, transforma os resíduos em fertilizante orgânico, reduzindo a carga poluente e reaproveitando nutrientes no solo (Gomes & Andrade, 2021). Já a utilização de biodigestores possibilita a conversão de dejetos em biogás, fonte de energia renovável, e biofertilizantes, promovendo benefícios ambientais e econômicos (Cancelier et al., 2020).

A fertirrigação controlada também desponta como uma alternativa eficiente para reaproveitar os nutrientes presentes nos dejetos. Essa prática reduz a dependência de fertilizantes químicos, promove o aumento da produtividade agrícola e evita o acúmulo excessivo de nutrientes no solo, minimizando os riscos ambientais (Costa, Silva & Rodrigues, 2020). Contudo, sua adoção requer cuidados técnicos para evitar impactos adversos.

A integração de tecnologias modernas ao manejo sustentável de dejetos, aliada à aplicação de políticas públicas, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, é essencial para reduzir os impactos ambientais no setor (Brasil, 2010). Assim, a sustentabilidade da pecuária dependerá do equilíbrio entre a produção eficiente e a preservação dos recursos naturais, considerando práticas que promovam uma economia de baixo carbono.

3. METODOLOGIA 

Primeiramente, foi realizada uma revisão extensiva da literatura existente sobre o tema, utilizando bases de dados científicas como SciELO e revistas especializadas como a Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. As publicações selecionadas incluíram estudos relevantes sobre mecanismos de resistência de carrapatos, eficácia de acaricidas, e impactos econômicos e sociais da pecuária leiteira (Dantas-Torres, 2008; Grisi et al., 2014; Baffi et al., 2012).

A coleta de dados foi realizada através da identificação e seleção de artigos científicos, teses, dissertações e relatórios técnicos publicados entre 2000 e 2023. O critério de inclusão considerou apenas estudos que abordassem diretamente a resistência de carrapatos a acaricidas e a eficácia de diferentes tratamentos em bovinos. Além disso, foram incluídos estudos que discutissem os impactos das doenças transmitidas por carrapatos na produção leiteira (Duarte & Barbosa, 2018; Vidotto & Amarante, 2020).

A análise dos dados foi conduzida de forma sistemática, utilizando uma abordagem qualitativa para sintetizar as informações encontradas. Foram identificadas tendências gerais, como a crescente resistência dos carrapatos aos acaricidas e a importância do manejo integrado de parasitas. Estudos que apresentaram resultados conflitantes foram avaliados criticamente para compreender as possíveis causas das discrepâncias, tais como diferenças nos métodos de aplicação dos medicamentos e variações regionais na infestação por carrapatos (Moraes et al., 2019; SciELO, 2023).

Para assegurar a confiabilidade dos dados, foram seguidos rigorosamente os princípios de revisão bibliográfica, verificando a autenticidade e a relevância das fontes utilizadas. A metodologia do carrapatograma foi destacada como um método eficaz para avaliar a eficácia dos medicamentos, com base em estudos que demonstraram sua aplicação prática e seus resultados (Guglielmone et al., 2010).

Finalmente, os resultados foram discutidos à luz das implicações práticas para os produtores de leite, ressaltando a necessidade de estratégias de controle sustentável e a importância de novas pesquisas para desenvolver tratamentos mais eficazes e combater a resistência dos carrapatos. O impacto econômico e social da pecuária leiteira no Brasil também foi considerado, sublinhando a relevância de um manejo eficiente dos parasitas para garantir a produtividade e a sustentabilidade do setor (IBGE, 2022; Embrapa Suínos e Aves, 2024).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Os resultados indicam que as tecnologias de manejo de dejetos oferecem múltiplos benefícios:

4.1 Compostagem:

Redução de custos com fertilizantes químicos em até 40%.

Melhoria da qualidade do solo, com aumento de 25% na retenção hídrica (Gomes & Andrade, 2021).

4.2 Digestão Anaeróbica:

Produção de até 1.200 m³ de biogás por tonelada de resíduos.

Redução de 60% na carga poluidora dos efluentes (Lopes & Pereira, 2018).

4.3 Fertirrigação:

Incremento de 30% na produtividade agrícola em propriedades que adotaram a prática (Costa et al., 2020).

Apesar dos avanços tecnológicos, os desafios persistem. A necessidade de investimentos iniciais elevados e a falta de infraestrutura dificultam a adoção em pequenas e médias propriedades. Além disso, a expansão dos produtores é limitada, especialmente em regiões onde o acesso à informação técnica é precário (Costa, Silva & Rodrigues, 2020; Lopes & Pereira).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A integração entre a irrigação agrícola e o manejo de resíduos de suínos e aves representa uma estratégia eficaz e sustentável para a agricultura moderna. Ao utilizar resíduos orgânicos como fontes de nutrientes, é possível reduzir a dependência de fertilizantes químicos, promovendo a reciclagem de nutrientes e contribuindo para a melhoria da qualidade do solo. Além disso, a prática de fertirrigação, que combina a aplicação de água com nutrientes provenientes desses resíduos, tem se mostrado eficiente no aumento da produtividade agrícola e na melhoria das condições do solo. Essa abordagem não apenas otimiza os recursos disponíveis, mas também ajuda a minimizar os impactos ambientais associados ao descarte inadequado de resíduos, como a contaminação de corpos d’água e a emissão de gases de efeito estufa.

A fertirrigação, por sua vez, se destaca como uma solução viável para enfrentar a escassez hídrica em regiões semiáridas, melhorando a eficiência no uso da água e promovendo o cultivo de culturas importantes para a economia. No entanto, a melhoria das tecnologias enfrenta os desafios, como os altos custos iniciais e a necessidade de infraestrutura adequada, além da falta de capacitação e capacitação de muitos produtores. Superar esses obstáculos é fundamental para garantir a expansão dessas práticas sustentáveis, que são essenciais para a construção de um sistema agrícola mais eficiente, equilibrado e adaptado às demandas ambientais e econômicas atuais.

REFERÊNCIAS

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1Mestre em Ciências Veterinárias Universidade Federal do Espírito Santo Mimoso do Sul, ES, Brasil
2Mestre em clínica e reprodução animal UFF- Neurocientista.