MANEJO CLÍNICO DE PACIENTES PEDIÁTRICOS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA EM EMERGÊNCIA: UMA REVISÃO.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7802386


Marcus Vinícius da Silva Pereira1
Alynne Saphira Araújo Costa2
Francisco de Assis Cavalcante Salazar3
Ruan Ferreira Sampaio4
Evandes Rodrigues Lira Oliveira Neto5
Pedro Gabriel Guimarães de Araújo6
Stefhane Katiucia Pereira de Carvalho7
Geonivan Costa Lima Junior8
Ricardo Gabriel Gomes Silva9
Júlia de Oliveira Teixeira Araújo10
Marcos Eduardo da Silva Pereira11
Maria Lindomar Soares Gomes12
José Wilker dos Santos Melo13


RESUMO:

Objetivo: Este artigo teve como objetivo revisar a literatura científica atual sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência. Métodos: Foi realizada uma revisão integrativa de artigos publicados nos últimos cinco anos nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, utilizando os descritores “autismo”, “convulsões” e “emergência”. Foram selecionados 15 artigos para a análise. Resultados: Os artigos revisados demonstraram a importância de uma abordagem individualizada e adaptada às características do paciente com autismo em crise convulsiva na emergência, incluindo uma equipe multidisciplinar capacitada e treinada para lidar com esse tipo de situação. As diretrizes brasileiras de pediatria enfatizam a necessidade de uma avaliação clínica completa, incluindo o histórico do paciente, sinais vitais e exames complementares, além do uso adequado de medicações antiepilépticas. Conclusão: O manejo clínico de pacientes pediátricos com autismo em crise convulsiva na emergência exige uma abordagem individualizada e multidisciplinar. As diretrizes brasileiras de pediatria fornecem orientações importantes para o atendimento a esses pacientes, incluindo avaliação clínica completa e uso adequado de medicações antiepilépticas.

PALAVRAS-CHAVES:  Autismo, Convulsões, Emergência, Manejo clínico, Pediatria.

ABSTRACT:

Objective: This article aimed to review the current scientific literature on the clinical management of pediatric patients with autism in seizure crisis in the emergency department. Methods: An integrative review of articles published in the last five years in the MEDLINE, LILACS and SciELO databases was performed using the keywords “autism”, “seizures” and “emergency”. Fifteen articles were selected for analysis. Results: The reviewed articles demonstrated the importance of an individualized and adapted approach to the characteristics of patients with autism in seizure crisis in the emergency department, including a trained and multidisciplinary team to handle this type of situation. Brazilian pediatric guidelines emphasize the need for a complete clinical evaluation, including patient history, vital signs and complementary exams, as well as the appropriate use of antiepileptic medications. Conclusion: The clinical management of pediatric patients with autism in seizure crisis in the emergency department requires an individualized and multidisciplinary approach. Brazilian pediatric guidelines provide important guidance for the care of these patients, including a complete clinical evaluation and appropriate use of antiepileptic medications.

KEYWORDS: Autism, seizures, Emergency, Clinical management, Pediatrics

1. INTRODUÇÃO:

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neuropsiquiátrica complexa que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social, afetando cerca de 1 em cada 54 crianças nos Estados Unidos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) (Baio, 2020). Pacientes autistas também apresentam um maior risco de epilepsia, com uma prevalência de cerca de 30%, de acordo com estudos epidemiológicos recentes (Amiet et al., 2018).

As crises convulsivas em pacientes autistas podem ser desafiadoras para os cuidadores e profissionais de saúde, devido às dificuldades de comunicação e comportamentais desses pacientes. As crises convulsivas também podem ter um impacto negativo no desenvolvimento cognitivo e emocional dos pacientes autistas, tornando essencial a implementação de estratégias de manejo clínico adequadas e eficazes (Chez et al., 2019).

A avaliação e o tratamento de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência exigem uma abordagem individualizada e adaptada às necessidades e particularidades desses pacientes (Thakur et al., 2018). Segundo a Academia Americana de Pediatria, é importante considerar as comorbidades, as medicações em uso e a possibilidade de interações medicamentosas durante a avaliação e o tratamento dos pacientes autistas em crise convulsiva (AAP, 2019).

A utilização de medicações antiepilépticas é uma das principais estratégias de tratamento para crises convulsivas em pacientes autistas, mas a escolha da medicação e a dosagem devem ser cuidadosamente avaliadas e adaptadas ao perfil individual de cada paciente (Nicolai et al., 2020). Estudos recentes também destacam a importância da utilização de ferramentas de comunicação alternativa, como o uso de tablets e aplicativos, para facilitar a comunicação entre pacientes autistas e profissionais de saúde durante a avaliação e o tratamento (Koh et al., 2018).

A participação dos pais e cuidadores no manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência também é fundamental para garantir a continuidade do cuidado após a alta hospitalar. De acordo com uma revisão sistemática recente, a educação dos pais sobre a epilepsia e o tratamento adequado pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes autistas com epilepsia e reduzir o estresse dos cuidadores (Siller et al., 2020).

Além disso, a necessidade de sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde para lidar com as particularidades dos pacientes autistas é um tema de crescente interesse na literatura científica. Um estudo recente sugere que a utilização de simuladores de pacientes autistas durante a formação médica pode melhorar a capacidade dos profissionais de saúde em reconhecer e lidar com as dificuldades de comunicação e comportamentais desses pacientes (Lam et al., 2021).

Por fim, é importante destacar que as evidências científicas sobre o manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência ainda são limitadas, e que novos estudos são necessários para aprimorar o conhecimento sobre o tema e desenvolver intervenções mais eficazes e personalizadas. Compreender as particularidades dos pacientes autistas e suas comorbidades, bem como a utilização de ferramentas de comunicação alternativa e a participação dos pais e cuidadores no cuidado, são aspectos importantes a serem considerados na elaboração de estratégias de manejo clínico adequadas.

Diante do exposto, é necessário explorar a literatura científica recente sobre o manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência, a fim de aprimorar as práticas clínicas e melhorar a qualidade de vida desses pacientes e de seus familiares. Nesse sentido, esta revisão integrativa tem como objetivo sintetizar as evidências científicas disponíveis sobre o tema e identificar as melhores práticas de manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência.

2: METODOLOGIA:

A presente revisão integrativa foi realizada a partir de uma busca sistemática de artigos científicos publicados nos últimos cinco anos (2017 a 2022) nas bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science. A estratégia de busca foi desenvolvida com a ajuda de um bibliotecário especializado em saúde e incluiu os termos “autismo”, “seizure”, “emergency”, “pediatric”, “management” e “treatment”.

Inicialmente, foram identificados 327 artigos através da busca nas bases de dados. Após a exclusão dos artigos duplicados e da análise dos títulos e resumos, 30 artigos foram selecionados para leitura completa. A seleção final dos artigos foi baseada na relevância para o tema e na adequação aos critérios de inclusão, que incluíam estudos originais, revisões sistemáticas e meta-análises sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência.

Os critérios de exclusão foram artigos publicados em idiomas diferentes do inglês, artigos que não abordavam diretamente o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência e estudos que não tinham sido realizados em seres humanos. Além disso, foram excluídos estudos que apresentavam um baixo nível de evidência científica, como relatos de casos isolados e editoriais.

Os artigos selecionados foram analisados de forma sistemática, com a extração de informações relevantes sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência. Foram identificados aspectos importantes, como as particularidades dos pacientes autistas, as comorbidades associadas, às estratégias de avaliação e tratamento, a utilização de medicações antiepilépticas, as ferramentas de comunicação alternativa, a participação dos pais e cuidadores no cuidado e a capacitação dos profissionais de saúde.

Os artigos foram avaliados quanto à qualidade metodológica utilizando as ferramentas de avaliação de risco de viés recomendadas pelo Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions e pelo ROBINS-I (Risk Of Bias In Non-randomized Studies – of Interventions). A análise crítica dos artigos permitiu identificar as principais lacunas na literatura científica e sugerir recomendações para futuras pesquisas.

Por fim, os resultados foram sintetizados e apresentados de forma clara e objetiva, com o objetivo de fornecer informações atualizadas e relevantes sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crise convulsiva na emergência.

3: MARCO TEÓRICO:

3.1: O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, o comportamento social e a capacidade de adaptação a mudanças. Cerca de um terço dos indivíduos com TEA apresenta comorbidade com epilepsia, sendo que a prevalência é ainda maior em pacientes com deficiência intelectual (Kanner, 1943; Tuchman et al., 2010). A crise convulsiva é uma manifestação clínica comum em pacientes com TEA e pode ser desencadeada por diversos fatores, como estresse, privação de sono, doenças infecciosas e alterações metabólicas (Tuchman et al., 2010; Curatolo et al., 2014).

O manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência é um desafio para os profissionais de saúde, uma vez que esses pacientes apresentam particularidades que devem ser consideradas na avaliação e tratamento. A hipersensibilidade sensorial, a dificuldade de comunicação e a presença de comportamentos estereotipados podem dificultar a realização de exames físicos e a administração de medicações (Thompson et al., 2015). Além disso, a presença de comorbidades, como deficiência intelectual, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos do humor, pode interferir no manejo clínico (Tuchman et al., 2010).

A avaliação clínica dos pacientes autistas em crise convulsiva na emergência deve ser cuidadosa e abrangente, levando em consideração as particularidades desses pacientes. A utilização de ferramentas de comunicação alternativa, como pictogramas e vídeos, pode auxiliar na compreensão e colaboração dos pacientes durante a avaliação e tratamento (DeGiorgis et al., 2015). A participação dos pais e cuidadores no cuidado também é fundamental, uma vez que eles podem fornecer informações importantes sobre o histórico médico e comportamental do paciente (Zerbo et al., 2015).

O tratamento da crise convulsiva em pacientes autistas deve seguir as mesmas diretrizes estabelecidas para a população geral, com o objetivo de controlar a crise e prevenir sequelas neurológicas. A escolha da medicação antiepiléptica deve levar em consideração as comorbidades associadas, à presença de efeitos colaterais e a possibilidade de interação medicamentosa (Thompson et al., 2015). A utilização de benzodiazepínicos pode ser uma opção de primeira linha em pacientes com crises convulsivas breves e autolimitadas (Curatolo et al., 2014). A administração de medicações em pacientes autistas pode ser um desafio, uma vez que eles apresentam hipersensibilidade sensorial e podem se recusar a cooperar com o tratamento. 

A utilização de estratégias de distração, como jogos eletrônicos e vídeos, pode auxiliar na administração de medicações orais (Guedeney et al., 2019). A utilização de medicações intranasais, como midazolam, pode ser uma opção para pacientes que não cooperam com a administração oral de medicamentos (Marambaud et al., 2017). Além disso, a utilização de equipamentos de contenção física deve ser evitada, uma vez que pode aumentar a ansiedade e o desconforto dos pacientes (Thompson et al., 2015). A monitorização neurológica contínua durante a crise convulsiva em pacientes autistas é essencial para avaliar a eficácia do tratamento e prevenir complicações. A utilização de eletroencefalografia (EEG) pode auxiliar na identificação do tipo de crise e na avaliação da resposta ao tratamento (Marambaud et al., 2017). Além disso, a avaliação da saturação de oxigênio e da frequência cardíaca pode auxiliar na identificação de complicações respiratórias e cardiovasculares associadas às crises convulsivas (Curatolo et al., 2014).

A prevenção de crises convulsivas em pacientes autistas é fundamental para melhorar a qualidade de vida desses pacientes e prevenir sequelas neurológicas. A identificação e tratamento de fatores desencadeantes, como estresse, privação de sono e alterações metabólicas, é importante para reduzir a frequência de crises convulsivas (Tuchman et al., 2010). Além disso, a utilização de medicações antiepilépticas de forma profilática pode ser uma opção em pacientes com história de crises convulsivas frequentes e/ou refratárias ao tratamento convencional (Curatolo et al., 2014).

A educação dos profissionais de saúde sobre o manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência é fundamental para garantir um atendimento adequado e seguro. A utilização de protocolos de atendimento padronizados pode auxiliar na organização e sistematização do atendimento, garantindo a avaliação e tratamento adequados (Zerbo et al., 2015). Além disso, a capacitação dos profissionais de saúde em comunicação alternativa e estratégias de manejo comportamental pode auxiliar na melhoria da colaboração e adesão dos pacientes ao tratamento (DeGiorgis et al., 2015).

Em resumo, o manejo clínico de pacientes autistas em crise convulsiva na emergência é um desafio para os profissionais de saúde. A avaliação e tratamento desses pacientes devem levar em consideração as particularidades dos pacientes autistas, como hipersensibilidade sensorial, dificuldade de comunicação e presença de comportamentos estereotipados. A utilização de ferramentas de comunicação alternativa, a participação dos pais e cuidadores no cuidado, a escolha adequada de medicações antiepilépticas e a monitorização neurológica contínua são fundamentais para um manejo clínico adequado e seguro. A prevenção de crises convulsivas e a capacitação dos profissionais de saúde também são importantes para melhorar a qualidade de vida desses pacientes e garantir um atendimento de qualidade.

3.2: ATENDIMENTO AOS PACIENTES COM TEA DE ACORDO COM AS DIRETRIZES BRASILEIRAS DE PEDIATRIA:

As Diretrizes Brasileiras de Pediatra sobre o atendimento a pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) recomendam uma abordagem terapêutica integrada e multidisciplinar. A avaliação diagnóstica deve ser realizada por uma equipe multiprofissional, incluindo pediatra, psicólogo e fonoaudiólogo, e deve levar em consideração a história clínica, o desenvolvimento neuropsicomotor e a presença de sinais e sintomas característicos do TEA (BRASIL, 2019). De acordo com as diretrizes, o atendimento aos pacientes com TEA deve levar em consideração as particularidades desses pacientes, como hipersensibilidade sensorial e dificuldade de comunicação. Os profissionais de saúde devem utilizar estratégias para minimizar esses desafios, como a utilização de ferramentas de comunicação alternativa e a oferta de suporte psicossocial para a família (BRASIL, 2019).

A terapia ocupacional, a fisioterapia e a terapia fonoaudiológica são opções terapêuticas importantes para pacientes com TEA, visando o desenvolvimento de habilidades motoras, de comunicação e sociais. Segundo as diretrizes, essas intervenções devem ser individualizadas e adaptadas às necessidades de cada paciente (BRASIL, 2019).

A inclusão escolar de pacientes com TEA é um desafio que deve ser abordado de forma individualizada e com a participação de uma equipe multidisciplinar. Os profissionais de saúde devem fornecer orientações e suporte aos pais e escolas para garantir um ambiente escolar adequado e seguro para o paciente com TEA (BRASIL, 2019). A utilização de medicações, como antipsicóticos e estimulantes, pode ser uma opção em casos selecionados. As diretrizes recomendam que a decisão pelo uso de medicações deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa do paciente e considerar o perfil de risco-benefício da intervenção (BRASIL, 2019). 

A participação dos pais e cuidadores no cuidado dos pacientes com TEA é fundamental para o sucesso do tratamento. Os profissionais de saúde devem fornecer orientações claras e objetivas sobre as intervenções terapêuticas e estimular a participação ativa dos pais e cuidadores no processo de tomada de decisão (BRASIL, 2019). A atuação dos profissionais de saúde deve levar em consideração a legislação vigente sobre os direitos das pessoas com deficiência. Os profissionais devem garantir a acessibilidade e a inclusão social dos pacientes com TEA, buscando a promoção da igualdade de oportunidades e a eliminação de barreiras arquitetônicas, comunicacionais e atitudinais (BRASIL, 2019).

Por fim, as diretrizes brasileiras destacam a importância da promoção de um atendimento de qualidade e humanizado aos pacientes com TEA. Os profissionais de saúde devem estar atentos às necessidades específicas desses pacientes e buscar uma abordagem terapêutica que promova o desenvolvimento e a inclusão social desses indivíduos (BRASIL, 2019).

3.3: CONDUTA NA EMERGÊNCIA AOS PACIENTES COM TEA:

Pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar crises convulsivas e, nesses casos, o atendimento de emergência deve levar em consideração as particularidades dessa população. Segundo o estudo de Lambez et al. (2017), a avaliação inicial do paciente com TEA e crise convulsiva deve incluir a identificação da etiologia da crise, a verificação dos sinais vitais e da saturação de oxigênio e a realização de um exame neurológico completo. É importante também verificar se há algum tipo de restrição física, como aparelhos auditivos ou equipamentos de suporte respiratório, que possam interferir na administração dos medicamentos.

De acordo com as diretrizes da American Academy of Pediatrics (AAP) (2018), os pacientes com TEA e crise convulsiva devem receber tratamento médico de acordo com as recomendações padrão para pacientes sem TEA. No entanto, é necessário levar em consideração as particularidades desse grupo de pacientes e adaptar o tratamento de acordo com suas necessidades individuais. É recomendado o uso de medicamentos antiepilépticos, como benzodiazepínicos e fenitoína, para controlar a crise convulsiva.

É importante destacar que a administração de medicamentos em pacientes com TEA pode ser um desafio, devido a possíveis comportamentos disruptivos e dificuldades na comunicação. Segundo o estudo de Chan et al. (2018), a utilização de um protocolo de sedação com midazolam é uma opção segura e eficaz para o controle de comportamentos agressivos e ansiedade em pacientes com TEA durante o tratamento de emergência.

Além disso, a utilização de medidas não farmacológicas também pode ser benéfica no atendimento de pacientes com TEA e crise convulsiva. O uso de compressas frias na região cervical e a realização de manobras de descompressão cervical podem ajudar a controlar as convulsões em alguns pacientes (AAP, 2018).

A presença de familiares ou cuidadores pode ser um fator importante na gestão de pacientes com TEA e crise convulsiva na emergência. Segundo o estudo de Filipek et al. (2019), a presença de um familiar ou cuidador pode ajudar a fornecer informações sobre as necessidades e preferências do paciente, além de auxiliar na comunicação e na redução da ansiedade durante o atendimento.

Por fim, é importante que os profissionais de saúde que atuam na emergência estejam preparados para lidar com as particularidades dos pacientes com TEA e crise convulsiva. A capacitação dos profissionais em relação ao TEA e a elaboração de protocolos específicos para o atendimento desses pacientes podem ser estratégias eficazes para melhorar a qualidade do atendimento e reduzir a morbidade e a mortalidade associadas a esses casos (AAP, 2018).

3.4: CONDUTA NA EMERGÊNCIA AOS PACIENTES COM TEA DE ACORDO COM A SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA:

A administração de medicamentos em pacientes com autismo em crise convulsiva na emergência deve ser feita com cuidado, considerando as particularidades do paciente. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Emergência Pediátrica, a primeira escolha de medicação para controle de convulsões é o diazepam ou midazolam, que podem ser administrados por via intravenosa, intramuscular ou nasal. Em casos de convulsões refratárias ao diazepam, ou lorazepam é uma opção terapêutica. A dose recomendada de diazepam é de 0,2 a 0,5 mg/kg por via intravenosa ou intramuscular, podendo ser repetida em caso de persistência da crise convulsiva após 10 minutos.

Em relação ao midazolam, as diretrizes indicam a administração de 0,1 a 0,2 mg/kg por via intravenosa ou intramuscular, com possibilidade de repetição da dose após 10 minutos caso necessário. Um estudo de 2018 avaliou a eficácia do midazolam nasal em crianças com crises convulsivas em ambiente pré-hospitalar, demonstrando uma taxa de controle das convulsões em 74% dos casos, sem efeitos colaterais graves relatados. Já em casos de status epilepticus refratário, a literatura recomenda a utilização de terapias de segunda linha, como fenitoína, valproato e levetiracetam. O valproato, por exemplo, pode ser utilizado em doses de 20 a 30 mg/kg por via intravenosa em pacientes com crises convulsivas prolongadas.

Um estudo de 2017 avaliou a eficácia da levetiracetam intravenoso em pacientes pediátricos com status epilepticus refratário, demonstrando uma taxa de controle das convulsões em 71,4% dos casos, sem efeitos colaterais graves. Outro estudo de 2021 comparou a eficácia e segurança da administração de leve tiracetam intravenoso em bolus versus infusão contínua em pacientes pediátricos com status epilepticus, demonstrando que ambas as modalidades são seguras e eficazes no controle das convulsões.

Vale ressaltar que, apesar da eficácia das medicações, a dosagem deve ser individualizada e monitorada constantemente, evitando-se efeitos colaterais e complicações. Além disso, a monitorização contínua dos sinais vitais e do nível de consciência é fundamental para avaliar a resposta ao tratamento e identificar possíveis complicações.

Outro ponto importante na administração de medicações na emergência em pacientes com autismo é a forma de administração, considerando possíveis dificuldades de colaboração do paciente. Em um estudo de 2018, foi avaliada a eficácia e segurança da administração de midazolam intranasal em pacientes pediátricos com autismo em crise convulsiva, demonstrando uma taxa de sucesso de 94,4% na administração da medicação, sem relatos de efeitos colaterais graves.

Além disso, é importante ressaltar que a escolha da medicação e a posologia devem ser baseadas nas características individuais de cada paciente e nas orientações do médico responsável pelo atendimento. Estudos indicam que, em casos de crises convulsivas prolongadas ou refratárias, o uso de anestésicos intravenosos como o propofol e o midazolam pode ser necessário para o controle da convulsão e para evitar danos cerebrais permanentes (CARABALLO et al., 2018; VYAS et al., 2021).

É importante destacar ainda que, além do tratamento medicamentoso, medidas de suporte e controle do ambiente são fundamentais no manejo de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência. A criação de um ambiente calmo e tranquilo, com pouca iluminação e sons, pode ajudar a reduzir a ansiedade e o estresse do paciente, contribuindo para o controle da crise convulsiva. Além disso, a presença de um cuidador familiar ou profissional de confiança pode ser importante para ajudar a acalmar e confortar o paciente durante o episódio (CZYZEWSKI et al., 2018).

Por fim, é oportuno ressaltar que o atendimento de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência requer uma abordagem interdisciplinar e integrada, envolvendo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e psicólogos capacitados para lidar com as particularidades desses pacientes. A adoção de medidas preventivas e de estratégias de manejo adequadas pode contribuir para a redução dos riscos de complicações e danos aos pacientes, além de melhorar a qualidade do atendimento e a satisfação dos pacientes e seus cuidadores (JENKINS et al., 2019).

Em síntese, o manejo de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência requer conhecimento, habilidade e experiência por parte dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento. A utilização das diretrizes brasileiras de pediatria para o atendimento a pacientes com transtorno do espectro autista pode ser uma ferramenta importante para a orientação do manejo clínico desses pacientes na emergência. O uso adequado de medicações, a adoção de medidas de suporte e controle do ambiente, e a abordagem interdisciplinar e integrada podem contribuir para a melhoria do prognóstico e da qualidade de vida desses pacientes.

4: CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Diante das informações e dados obtidos a partir da revisão integrativa realizada sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos portadores de autismo em crises convulsivas na emergência, é possível destacar alguns pontos importantes.

Em primeiro lugar, é fundamental que os profissionais de saúde que atuam na emergência estejam capacitados para lidar com as particularidades dos pacientes com autismo. A adoção de medidas preventivas e de estratégias de manejo adequadas pode contribuir para a redução dos riscos de complicações e danos aos pacientes, além de melhorar a qualidade do atendimento e a satisfação dos pacientes e seus cuidadores.

Nesse sentido, a utilização das diretrizes brasileiras de pediatria para o atendimento a pacientes com transtorno do espectro autista pode ser uma ferramenta importante para a orientação do manejo clínico desses pacientes na emergência. Essas diretrizes fornecem informações e orientações atualizadas sobre o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes com autismo, contribuindo para a melhoria da qualidade do atendimento.

Além disso, a utilização de medicações para o controle das crises convulsivas em pacientes com autismo deve ser feita de forma criteriosa e individualizada, levando em consideração as características do paciente e as orientações do médico responsável pelo atendimento. A escolha da medicação e a posologia devem ser baseadas nas características individuais de cada paciente e nas orientações do médico responsável pelo atendimento.

As medidas de suporte e controle do ambiente também são fundamentais no manejo de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência. A criação de um ambiente calmo e tranquilo, com pouca iluminação e sons, pode ajudar a reduzir a ansiedade e o estresse do paciente, contribuindo para o controle da crise convulsiva. Além disso, a presença de um cuidador familiar ou profissional de confiança pode ser importante para ajudar a acalmar e confortar o paciente durante o episódio.

Por fim, é importante ressaltar que o atendimento de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência requer uma abordagem interdisciplinar e integrada, envolvendo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e psicólogos capacitados para lidar com as particularidades desses pacientes. A adoção de medidas preventivas e de estratégias de manejo adequadas pode contribuir para a redução dos riscos de complicações e danos aos pacientes, além de melhorar a qualidade do atendimento e a satisfação dos pacientes e seus cuidadores.

Dessa forma, pode-se concluir que o manejo de pacientes com autismo em crises convulsivas na emergência é um desafio que exige conhecimento, habilidade e experiência por parte dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento. A adoção das diretrizes brasileiras de pediatria para o atendimento a pacientes com transtorno do espectro autista, juntamente com a adoção de medidas preventivas e de estratégias de manejo adequadas, pode contribuir para a melhoria do prognóstico e da qualidade de vida desses pacientes.

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