LITERATURA: ROMANTISMO, FUNÇÃO SOCIAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11167079


Luzia Alice dos Santos Barbosa1;
Lucas Bandeira da Silva2;
Wendersan Gomes Silva3.


Resumo: Diante de leituras do texto “vários escritos” de Antônio Cândido, direito a literatura, no qual, direitos humanos e literatura mesclam-se dando ênfase aos problemas sociais, em textos em prosa, que aborda a literatura como bens incompressíveis. A partir das reflexões em Cândido, percebe-se a relevância da literatura condoreira de Castro Alves, da obra poética os escravos, épico-dramático do maior representante da última geração ultra-romântica da literatura brasileira. O poeta por meio da lírica busca conscientizar a sociedade de que há nela um lado esquecido à escravização e opressão dos negros, procura denunciar é conscientizar por meio da lírica. O trabalho propõe-se a analisar o poema “sec’lo” da obra Os Escravos (1865), abordando a função social e algumas características da escola romântica bem como o contexto histórico do poema. No poema o autor discorre sobre tirania e repressão, através de uma linguagem subjetiva faz crítica ao período colonial e utiliza recursos de linguagem como: travessões, ponto de exclamação, reticências que ajuda na eloquência e persuasão na construção da abordagem é assim também como figuras de linguagem: metáfora, antítese, personificação e personagens bíblicos na arte de contestação política ideológica na visão ultra-romântica. Objetivando demonstrar a criticidade presente no texto como estilo da obra. Como referencial teórico Antônio Cândido (1988); Afrânio Coutinho (1999); Massaud Moisés (1974) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (2006).

Palavras-chave: Castro Alves; Reflexão; Literatura e sociedade; Função Social.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo, analisar algumas estrofes do poema Século, da obra Os Escravos de Castro Alves, a partir dos estudos em Antonio Cândido (1988), descrever a função social do poema, relacionada ao contexto histórico é as características da escola romântica.

2. ASCENDÊNCIA DO ROMANTISMO

O romantismo fora um movimento de oposição as ideias ao neoclassicismo, movimento ao qual inspiravam-se na razão, pensamento lógico e estética formal, diante de vários acontecimentos históricos nos países ocidentais, surge assim, uma nova ideologia na literatura e na arte, na qual, surgi o homem romântico diante de vários acontecimentos aos contextos sociais.

Como afirma Van Trighem:

É em fatos aparecidos, nos treze anos entre 1797 e 1810 que deve situar o início do Romantismo propriamente é a aparição da escola Alemã, dos Lakisten ingleses, de Walter Scott, chateanbrind, Mme de Stael. Esses marcos principais, ao lado dos quais outros em diferentes países, constituem a linha sinuosa que configura o período.  Assim ainda segundo Van Tieghem, 1795 para Alemanha, 1798 para Inglaterra (data inicial para Inglaterra é adiantada por Bowra, para 1789, publicação dos Songs of innocene de Blakel; o início do XIX para França e os países escandinavos: 1816, para Itália, e um todos países estão mais ou menos conquistado pelo movimento que por volta do meado do século de notará completo esgotamento.

A palavra romântica é de origem inglesa (romantic) e derivada do substantivo romant de origem francesa (romant ou Roman). Dessa forma, o romantismo se junta à Alemanha, posteriormente França, e subsequente a toda a Europa.

Em qualquer que tenha sido o período que iniciou o movimento e todas suas ideologias, o período, reflete-se aos acontecimentos históricos que consiste na transformação, mudança na produção dos autores literatos.

Para Adilson Citelli, em sua obra romântica:

A extrema motividade, o pessimismo, a melancolia, a valorização da morte, o desejo de evasão, são algumas das muitas formas do romântico revelar sua perplexidade ante o momento cujos valores tornaram inaceitáveis (2007:11)

Diante do contexto histórico, nas últimas décadas do século XVIII ao meado do século XIX, o mundo ocidental vivenciava várias transformações dos planos sociais, economia, política e ideológica.

No plano econômico a Inglaterra presenciara a revolução Industrial tendo como conseqüência a divisão do trabalho e revoltas sociais. Na França o romantismo surgiu com os ideais da Revolução Francesa, idéias nas quais a Burguesia acedente lutara contra o poder absolutista da Monarquia.

(…) Por um lado, prazer e trabalho formam de fato, uma velha oposição, atribuída desde a antiguidade ao conceito de experiência estética. A medida que o prazer estético se libera da obrigação prática do trabalho das necessidades naturais do cotidiano, funda uma função social que sempre caracterizou a experiência estética. Por outro lado, a experiência estética não era deste o princípio, oposta ao conhecimento e a ação (JAUS, 2002. p, 95).

Dito de outra forma, a nova corrente surge em vários países ao mesmo tempo, com estética própria, na qual, os autores se posicionavam as suas insatisfações, referente ao contexto histórico, através da arte nas produções artísticas. Os escritores para expressar o estado de inconformismo referente ao contexto histórico inspiraram-se nos precursores da literatura como: Byron, Goethe, Hugo, os quais influenciaram os escritores do movimento romântico.

No Brasil o movimento romântico processou-se da mesma forma que os modelos Europeus, por meio das gerações subsequentes. Tradicionalmente são descritas três gerações românticas.

A primeira geração nacionalista, indianista. Segunda geração ou Byronina caracterizada como mal do século: egocentrismo exagerado, pessimismo. Terceira geração ultra-romântica, desenvolveu a poesia lírica realista com função social formada pelo grupo condoreiro ou hugoano, influenciada pelo Frances Victor Hugo corrente na qual Castro Alves é o poeta de maior destaque nesta fase em que mesclam-se três correntes: indianismo, subjetivismo lírico e realista. 

O romantismo veio opor-se aos modelos neoclássicos formais na literatura e arte, em que os escritores expressavam-se com base na razão, é a nova literatura acedente inspiravam-se nos modelos medievais, romance, narrativas, aventuras de amor, e buscava a liberdade formal nas produções literárias.

Sabemos que em literatura uma mensagem ética, política, religiosa ou mais geralmente social só tem eficiência quando for reduzida a estrutura literária, a forma ordenada. Tais mensagens são válidas como quaisquer outras, e não podem ser proscritas; mas a sua validade depende da forma que lhes dá existência como um certo tipo de objeto. (CÂNDIDO, 1995, P. 250).

Diante do exposto, a corrente condoreira estava comprometida com as causas sociais abolicionistas e republicanas, nas quais, desenvolveram a poesia social, na qual Castro Alves, fora o maior representante, apresentara grande eloquência buscando persuadir o leitor, conquistá-lo para as causas sociais. O estilo do autor fora marcado por utilizar, reticências e pontos de exclamações que por meio destes recursos gráficos que procurava reproduzir a oralidade em suas obras.

3. ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO NO POEMA SÉCULO

3.1. FUNÇÃO SOCIAL DA POESIA, POSICIONAMENTO ULTRA-ROMÂNTICO

O poema século foi escrito por Castro Alves, em 1865, o qual integra a obra os escravos. No poema o eu lírico é enfático volta-se para o mundo exterior, fala do sofrimento durante os séculos, no decorrer do poema discorre sobre tirania e repressão, por meio da lírica próxima da oratória. 

O poeta relata sobre a escravidão durante os séculos descrevendo o sofrimento de povos de algumas nações como: Roma, Grécia e Hungria. Cita o nome de um dos precursores da literatura romântica, que influenciou a segunda fase do romantismo, mais que de modo metafórico para expressar o estado depreciativo que o eu lírico descreve o cenário da escravidão. 

O SEC’LO é grande… No espaço
Há um drama de treva e luz.
Como o Cristo – A liberdade
Sangra no poste da cruz.
Um corvo escuro, anegrado,
Obumbra o mano azulado,
Das asas d’águia dos céus…
Arquejam peitos e frontes…
Nos lábios dos horizontes
Há um riso de luz… É Deus. (1865, p. 15)

Na primeira estrofe o autor distribuí a estrofe em dez verso em que utiliza-se do apostrofo , é um recurso tipicamente romântico para que o substantivo século fique próximo da oralidade (forma coloquial). Assim também utiliza-se da figura de linguagem personificação atribuindo ação a seres animados a mata. Através destes recursos de linguagem o autor relata sobre o sofrimento do povo no período colonial, ao não serem percebidos pela sociedade como seres humanos, sendo assim, inferiorizados a situações subumanas.

É importante ressaltar que Castro Alves em algumas de suas produções poéticas, busca valorizar a pátria ao escrever alguns poemas de maneira oral, buscando valoriza a linguagem dos negros, pois eram estigmatizados naquela época colonial.

Às vezes quebra o silêncio
Ronco estrídulo, feroz.
Será o rugir das matas,
Ou da plebe a imensa voz?…
Treme a terra hirta e sombria…
São as vascas da agonia (1865, p. 15)

Na segunda estrofe os versos são compostos por rimas externas aliteração e assonância baseado na semelhança sonora, das palavras no final dos versos, utilizando-se assim do recurso musical para prender a atenção do leitor para aquela problemática histórica, na qual, retrata o sofrimento dos escravos que eram castigados fisicamente pelos senhores das senzalas. 

Quebre-se o cetro do Papa,
Faça-se dele – uma cruz!
A púrpura sirva ao povo
P’ra cobrir os ombros nus.
Que aos gritos do Niagara
– Sem escravos, – Guanabara
Se eleve ao fulgor dos sóis!
Banhem-se em luz os prostíbulos,
E das lascas dos patíbulos
Erga-se a estátua aos heróis! (1865, p. 19)

Na estrofe Castro Alves utiliza rimas externas, atribuindo sonoridade a estrofe é mostra uma tomada de posição em relação ao período colonial, mostrando que ele tem consciência dos problemas existenciais, faz crítica à igreja quando manda quebrar o cetro do Papa, no período em que a igreja era detentora do poder, considerada assim estado. 

“Banhem-se em luz os prostíbulos”, ( 8º verso da 15º estrofe), o autor faz crítica aos senhores donos de senzala, pois alguns deles molestavam as suas escravas, tinham filhos com elas, no entanto, a sociedade não poderia fazer nada, porque os ditos senhores, coronéis do período eram os que ditavam as leis. Sendo assim, o poeta Castro Alves retrata um dos lados obscuro da época.

De acordo com CÂNDIDO: “Feito esta ressalva, vou me demorar na modalidade literatura que visa descrever e eventualmente a tomada de posição em fase das iniquidades sociais, as mesmas que alimentam o combate pelos direitos humanos.” (1988, p.181).

A função social da literatura é buscar humaniza o leitor, por conter inserido na linguagem literária valores, ideologias, por demonstrar acontecimentos reais, fazendo com que o leitor tenha consciência de problemas sociais e a partir das obras, nas quais, os escritores descrevem por meio de uma estética todo um contexto social que busca humanizar o leitor. 

Basta!… Eu sei que a mocidade
É o Moisés no Sinai;
Das mãos do Eterno recebe
As tábuas da lei! Marchai!
Quem cai na luta com glória,
Tomba nos braços da História,
No coração do Brasil!
Moços, do topo dos Andes,
Pirâmides vastas, grandes,
Vos contemplam séc’los mil! (1865, p. 19)

Na última estrofe do poema, percebe-se uma das características do romantismo, o escapismo, pois o poeta tenta fugir da realidade transportando suas ideias para o passado em eras remotas, no qual, relata a fé de Moisés no monte Sinai, personagem bíblico líder religioso que a fé comandava seu espírito nas suas ações. É possível confirmar esse pensamento no livro de Êxodo, capítulo 34 do versículo 1 ao 9. 

O poeta faz uma intertextualidade entre o período colonial e ao período do personagem Moisés, utilizando-se da figura de linguagem metáfora de comparação quando faz relação entre o período colonial é as eras remotas de Moisés, comparando o sofrimento da primeira época com a segunda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho desenvolveu-se, segundo os estudos em Cândido, Afrânio Coutinho, Massaud Moisés e os Parâmetros Curriculares Nacionais, no qual se realizou a análise do poema “Século” e o posicionamento do autor Castro Alves, relacionando ao contexto histórico, bem como, a importância da escola romântica na literatura.

REFERÊNCIAS 

ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia Sagrada, o antigo e o novo testamento. Rio de janeiro – RJ-. Imprensa bíblica brasileira, Brasil, 1996.

ALVES, Castro. Os Escravos. Editora Klick, 1883.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46º edição 1º reimpressão, 2007.

CÂNDIDO, Almeida. Vários Escritos, 1988.

Linguagens, códigos e suas tecnologias/ Secretaria de Educação Básica – Brasília. Ministério da Educação, Secretaria de Educação, 2006, 239p. (Orientações curriculares para o ensino médio; volume 1)

Moisés, Massand, História da literatura: brasileira comentado, Castro Alves. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

htpp://www.unimasterbh.com.br/wp-content/uploads/2012/05/NavioNegreiro-Castro-Alves.pdf. Acesso em 16 de Jun de 2014

htpp://www.bibliotecadigital.ufmg.br/a representação do negro na poética. Acesso em 16 de Jun de 2014.

htpp://www.jurisway.org.br/v2/dhaII:asp?!d-dh=3805. Acesso em 16 de Jun de 2014.


1Barbosa, Luzia Alice dos Santos; Graduada em Licenciatura Plena em Língua Portuguesa – e-mail: aliceluiza1@hotmail.com.
2Lucas Bandeira da Silva, Licenciatura Plena em Educação do Campo na Área especifica Ciência Humanas e Sociais – bandeirasilva.83@gmail.com
3SILVA, Wendersan Gomes; Graduada em Licenciatura Plena em Língua Portuguesa-UEPA-e-mail: wendersansilva@hotmail.com.