REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10408309
Vanessa Klock Moser
RESUMO: O presente estudo teve como objetivo geral investigar a Literatura Infantil como elemento mediador no processo de alfabetização de crianças. De maneira específica objetivamos: Identificar as contribuições e a importância da Literatura Infantil no processo de alfabetização; indicar o papel da escola na inclusão da Literatura Infantil; verificar de que forma o professor utiliza a Literatura Infantil na prática pedagógica. Após um breve histórico do conceito de Literatura Infantil a pesquisa volta-se para uma abordagem sobre a contribuição desta para o processo de alfabetização. Para sustentação e apoio teórico, buscaram-se dentre outros os principais autores: Cunha (2006), Faria (2004), Ferreiro (2001), Góes (2010), José (2007), Soares (2003), Oliveira (1999), Lajolo; Zilberman (2006), Zilberman (2003). Com a concretização desse estudo foi possível constatar que a Literatura Infantil configura-se como excelente ferramenta na alfabetização das crianças desenvolvendo capacidades e habilidades que as tornarão aptas para o crescimento educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Infantil. Alfabetização. Leitura.
1. INTRODUÇÃO
A inserção da criança no mundo da leitura e da escrita é um processo difícil, que por vezes é repleto de traumas e dificuldades, tanto para os alfabetizadores quanto para os educandos. Nesse sentido, a utilização da Literatura Infantil como elemento mediador na alfabetização das crianças torna-se uma ferramenta que pode contribuir bastante nesse momento, uma vez que por falar a língua das crianças facilita o entendimento e a aprendizagem do que lhe está sendo ensinado.
Para as crianças o mundo sobrenatural é completamente livre e natural, cheio de cores e fantasia. O mundo que as crianças descobrem através da Literatura Infantil é admirável, o que para os adultos parece ser tão lógico, para eles é algo fora do comum, e à medida que elas crescem, surgem novos mundos na sua imaginação, que vão se consolidando em forma de sonhos e fantasias.
No processo de alfabetização, a literatura infantil deve ter um espaço especial, pois faz parte do mundo da criança e do universo humano. Sua função é recreativa e pedagógica, quando trabalhada de forma lúdica e criativa, porque desperta não só o interesse pelo mistério, pelo sonho e pela magia, mas também o gosto por criar, reproduzir e compreender.
Diante do exposto e tendo como pressuposto a ideia de que a Literatura Infantil pode contribuir para facilitar o processo de alfabetização, apresenta-se como questão norteadora a seguinte indagação: Como a Literatura pode contribuir no processo de alfabetização de crianças?
Para efetivar o pleno desenvolvimento do estudo em pauta foram definidos os objetivos. Assim são colocados como objetivo central da pesquisa: investigar a Literatura Infantil como elemento mediador no processo de alfabetização de crianças, e objetivos específicos: Identificar as contribuições e a importância da Literatura Infantil no processo de alfabetização; apontar o papel da escola na inclusão da Literatura Infantil; Verificar de que forma o professor utiliza a Literatura Infantil na prática pedagógica.
O interesse por este tema emergiu do fato de sempre estar em contato com a Literatura Infantil desde a minha infância e nos estágios poder constatar sua importância na formação da criança e também na aquisição da leitura e escrita.
Estudos sobre a utilização da Literatura Infantil no processo de alfabetização são de extrema importância, uma vez que podem contribuir no gosto das crianças pela leitura, estimular o imaginário, aguçar o vocabulário e a criatividade, fazendo com que as crianças viagem no mundo que elas mesmas criaram.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As explanações feitas a seguir foram fundamentadas em cima de ideias e conclusões dos teóricos que fundamentaram a pesquisa. Nesse sentido, para que possamos abordar de forma clara e sucinta, a importância da Literatura no processo de alfabetização é preciso fazer uma abordagem quanto aos aspectos conceituais e históricos da Literatura Infantil no Brasil e no mundo, bem como sua importância e aplicação no contexto escolar.
2.1 Origem e importância da Literatura Infantil
O termo Literatura Infantil é ainda hoje muito discutido, visto que, durante muito tempo as crianças eram tratadas como adultos em miniatura e somente a partir do século XVIII ela passa a ser considerada diferente do adulto e com características próprias. É diante dessa situação que a Literatura Infantil institui-se um gênero, momento este, em que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam-se.
As raízes da Literatura Infantil são orientais e ficaram mais conhecidas por meio da expressão oral, difundindo-se pelo mundo ocidental através das adequações que foram realizadas por cada região da Europa. Segundo Arroyo (2011 p. 18-19), “as alterações e os acréscimos de cada povo a cada história em sua forma original foi um fenômeno de profunda repercussão”.
De acordo com Zilberman e Lajolo (2006), no século XVII foram publicados os primeiros livros que vieram a ser englobadas como literatura para crianças: as Fábulas, de La Fontaine, editadas entre 1668 e 1694, As aventuras de Telêmaco, de Fénelon, lançadas postumamente, em 1717 e os Contos da Mamãe Gansa de Charles Perrault.
Até o século XVII as crianças conviviam do mesmo modo com os adultos, não existia um mundo infantil, diferente e separado, ou uma visão especial da infância. Segundo Zilberman (2003), somente na primeira metade do século XVIII período em que a Revolução Industrial é deflagrada é que surge um novo conceito de família, de vida privada e de inserção social, determinando a valorização dos laços de afetividade e não mais de parentesco e herança conforme era vista no sistema medieval. Detentora de um novo papel na sociedade, a criança agora passa a ser um dos eixos em torno do qual a classe econômica se organiza.
Nesse período com a conquista do poder político coerente com sua capacidade econômica, a classe burguesa impõe seus valores e sua cultura, criando um mercado livreiro específico cuja finalidade era de educar as crianças, adotando uma postura pedagógica que defendia os valores burgueses, a fim de assegurar sua utilidade.
Por todos esses aspectos, a escola participa do processo de manipulação da criança, conduzindo-a ao respeito da norma vigente, que é também a da classe dominante, a burguesia, cuja emergência desencadeou os fatos até aqui descritos. (ZILBERMAN, 2003, p.23)
A partir desse momento, faz-se necessário a criação de instituições e produtos culturais que divulgassem tais proposições e condicionaram a criança a um novo papel a ser desempenhado por ela. Literatura infantil e escola, inventada a primeira e reformada a segunda, são convocadas a cumprir essa missão (ZILBERMAN, 2003). A escola e a literatura surgem junto com ideias de controle do desenvolvimento intelectual e emocionais das crianças, sem o intuito de despertar a imaginação e a criatividade, a literatura não era vista como arte e sim como uma forma de dominação e de cunho moralista. Pregando às crianças regras, valores e ideais já consagrados. Desde o surgimento da Literatura Infantil, até a atualidade, há uma enorme discussão entre os teóricos sobre o seu papel e importância. Durante muito tempo esta foi vista como uma forma de moldar a criança, só a partir dos anos 70 a Literatura Infantil passa por uma revalorização. Hoje é muito mais extensa e importante, pois proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutível para a formação de leitores críticos.
Quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, os sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham os valores sociais, como conflito, sonho, realidade, a idade, dor, perda, fantasia além, de ensinarem infinitos assuntos através, da leitura infantil é em uma história que se pode, descobrir: outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica é ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. Se nem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 2008, p.17)
À medida que a criança tem contato com a Literatura Infantil, alarga-se sua grandeza de compreensão da linguagem. A leitura reflexiva, a aquisição de vocabulário, de conceitos, assim como as preferências, o gosto pela leitura, a escolha de valores é adquirida também através da literatura, portanto suas funções são amplas (GÓES, 2010). É a partir do contato com a Literatura Infantil que as crianças vivenciam experiências que ajudam na sua criatividade e promovem a formação de ideias próprias, estimulando a imaginação e a fantasia.
Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar clara suas emoções […] (BETTELHEIM, 2009, p. 11)
Muito mais do que um adulto, a criança vive as experiências do tempo presente, e possui apenas vagos conhecimentos do futuro. Portanto, suas aflições frente a eventuais problemas e angústias do cotidiano são bastante profundas, e é exatamente na melhoria de seus anseios internos que as histórias infantis são um benefício. Conforme ressalta Bettelheim (2009), a Literatura Infantil além de auxiliar o desenvolvimento da mente e a personalidade da criança, deve ajudá-la a lidar com seus difíceis problemas íntimos.
Partindo deste pressuposto, Góes (2010) nos leva a crer que ainda podemos definir como função da Literatura Infantil, deleitar, entreter, instruir e educar as crianças, e melhor ainda quando há as quatro coisas de uma vez.
A literatura, especialmente a infantil, tem um trabalho fundamental a ser desempenhado na sociedade em modificação, expressa Coelho (2000, p. 15), “seja de servir como agente de formação seja no espontâneo convívio com o leitor/livro, no diálogo leitor/ texto estimulado pela escola”. A formação da consciência do mundo das crianças e dos jovens, atribuídos a maior responsabilidade aos livros e a palavra escrita.
A Literatura Infantil é uma ferramenta essencial na construção do leitor. Mas quando utilizada de forma importuna, pode gerar sérios danos no desenvolvimento da criança e na sua habilidade de interpretação, seja literária ou de leitura de mundo. Nesse sentido José (2007, p. 30) ressalta ainda que:
O livro infantil, ponto de partida para um imaginário bem estimulado, nem sempre é adquirido pelos pais. São mais adquiridos por escolas realmente voltadas à boa formação da infância e para possibilitar uma variedade de escolhas pelas crianças. Algumas escolas, entretanto, também valorizam pouco a leitura, não têm uma biblioteca infantil rica e variada, como deveriam ter. Preocupam-se muito com a merenda escolar, com o alimento para o corpo. Esquecem do alimento do espírito, da emoção e da inteligência.
A imaginação, o sonho, a fantasia são fontes que alimentam a inteligência da criança, portanto, contribuem para sua formação. Nesse sentido, o prazer de ler um bom livro é essencial para atrair a criança em uma leitura agradável e descontraída, pois se não proporcionar prazer à obra não poderá ser considerada literária e sim didática. Dentro dessa perspectiva, a Literatura Infantil como fonte de prazer e conhecimento constitui-se como ferramenta indispensável na formação da criança, tornando o mundo mais divertido e prazeroso.
2.2 A Literatura Infantil no Brasil
Em 1808 com a chegada da família real no Brasil e a implantação da Imprensa Régia começaram a publicar livros para crianças, esses livros eram traduções e adaptações de várias histórias europeias e que circulavam muitas vezes em edições portuguesas. Porém essas publicações só eram feitas de vez em quando e, portanto, insuficientes para caracterizar uma produção literária brasileira regular para a infância (ZILBERMAN; LAJOLO, 2006).
Ainda segunda as autoras, a Literatura Infantil Brasileira se consolida, ainda que de forma irregular e precária, a partir da Proclamação da República, quando o Brasil passava por inúmeras transformações, entre elas a mudança de governo que antes era monarquia e agora passa para um novo regime, a república, que traz consigo a imagem de um Brasil em processo de modernização e a ascensão de uma nova classe média urbana.
Decorrente dessa rápida urbanização que se deu entre o fim do século XIX e o começo do XX, o momento se torna favorável para o aparecimento da Literatura Infantil. De acordo com Zilberman (2005) o surgimento dos primeiros livros para crianças no Brasil atende as solicitações e reivindicações da classe social emergente. Esse grupo é responsável pelos avanços e retrocessos ocorridos no país.
Os grandes pioneiros da Literatura Infantil Brasileira foram Carl Jansen (1823- 1829), que nasceu na Alemanha, mudando-se jovem para o Brasil, onde trabalhou como jornalista e professor, percebendo que no Brasil faltavam livros apropriados para o público infantil, tratou de traduzir alguns clássicos literários. Os outros foram Figueiredo Pimentel (1869-1914), brasileiro e como Jansen, militava na imprensa e Olavo Bilac (1865-1918), cujas poesias foram recitadas e memorizadas por várias gerações.
Este momento da Literatura Infantil Brasileira foi marcado pela forte presença nacionalista, segundo Zilberman e Lajolo (2006) a justificativa para tantos apelos nacionalistas e pedagógicos, estimulando o surgimento de livros infantis brasileiros, era o panorama fortemente marcado por obras estrangeiras.
Entre 1921- 1945 abre-se um novo período para a Literatura Infantil brasileira cujo maior representante foi Monteiro Lobato, de um lado como autor, incorporando elementos estilísticos inovadores; de outro, como empresário, fundando editoras e contribuindo para a modernização da produção editorial.
Com Monteiro Lobato, teve início a verdadeira Literatura Infantil. Com uma obra diversificada quanto ao gênero e orientação, cria esse autor uma literatura centralizada em algumas personagens, que percorrem e unificam seu universo ficcional (Cunha, 2006, p.24)
Monteiro Lobato escreveu o primeiro livro originalmente voltado ao público infantil, em 1921, que se chamou inicialmente A Menina do Narizinho Arrebitado, vindo depois o acréscimo de outros episódios que denominaram-se Reinações de Narizinho. Desde o início Lobato percebe a necessidade de se escrever histórias para crianças numa linguagem acessível e que as interessasse. Segundo Zilberman (2005 p.23) “a sistemática adotada por Lobato mostrou-se desde o começo muito útil”.
Ainda segunda a autora vale a pena lembrar outros autores que atuaram no período mediado pela vida e influência de Monteiro Lobato. Um deles, Viriato Correia é lembrado a propósito de Cazuza, história publicada em 1938 que se tornou uma das obras populares destinadas ao público infantil. Viriato ainda publicou outras obras tendo como assunto episódios da história do Brasil como: História do Brasil para Crianças, Meu Torrão, A Descoberta do Brasil e a Bandeiras das Esmeraldas, mas consagrando-se com Cazuza, obra que até hoje pode ser lida com a mesma satisfação.
Outro que vale a pena mencionar é Graciliano Ramos e Érico Veríssimo, responsáveis por obras que se eternizaram na história da Literatura Infantil brasileira. Graciliano Ramos decidiu escrever livros infantis quando já era um novelista e publicou sua primeira obra infantil em 1939, A Terra dos Meninos Pelados, onde predominava uma linguagem de fantasia. Érico Veríssimo dirigiu para crianças um grupo de seis obras curtas como Aventuras do Avião Vermelho (1936), O Urso com Música na Barriga (1938), A vida do Elefante Basílio (1939), Os Três Porquinhos Pobres (1936), Outra Vez os Três Porquinhos (1939) e Rosa Maria no Castelo Encantado (1936).
Já nos anos 1970 e 1980 a Literatura Infantil brasileira foi privilegiada com diversos autores preocupados em narrar textos que contribuíssem de forma significativa para a formação infantil. Dentre os quais se destacaram Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Vinícius de Morais e muitos outros escritores.
Como vimos, a Literatura Infantil brasileira foi marcada pela contribuição de vários autores, lembrados por várias gerações e que colaboraram cada um a seu modo para que a Literatura Infantil no Brasil contasse atualmente, com riquíssimo acervo de obras e com conceituados autores que até hoje conquistam a sociedade em geral.
2.3 A aplicação da Literatura Infantil nas escolas
A nova valorização da infância gerou os meios de controle do desenvolvimento intelectual da criança e a manipulação de suas emoções. A Literatura Infantil ganhou importância, já que contribuía para a formação dessa criança, imprimindo-lhe os padrões impostos pela sociedade burguesa. É nesse período que a escola é convocada a colaborar para a solidificação política e ideológica da classe emergente, o espaço que se abre é ocupado pelas normas e valores dessa classe dominante, e posteriormente transmitida ao estudante.
Segundo Lajolo e Zilberman (2006), a partir do século XVIII, a escola converte-se na atividade obrigatória das crianças, bem como a sala de aula em seu ambiente natural, configurando-se como espaço de mediação entre a criança e a sociedade.
Ainda segundo as autoras, numa sociedade que se desenvolve através da industrialização e se moderniza em decorrência dos novos recursos tecnológicos disponíveis, a Literatura Infantil assume desde o início, a condição de mercadoria. Como a Literatura Infantil trabalha sobre a língua escrita, e dela depende a capacidade de leitura das crianças, a escola constitui-se como principal elo entre Literatura e escola.
Os laços entre a Literatura e a escola começam desde este ponto: a habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que coloca a Literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo que se impõe aos poucos; e, de outro, como caudatária da ação da escola, a quem cabe promover e estimular como condição de viabilizar sua própria circulação. (LAJOLO; ZILBERMAN 2006, p.18)
Saindo de uma educação puramente normativa em que o objetivo era formar crianças, moldando-as de acordo com os valores impostos pela sociedade, atualmente, compreende-se que a educação bem como a Literatura Infantil ocupa um papel formativo tendo como maior preocupação formar o indivíduo crítico, atuante e capaz de pensar. Nesse sentido, de acordo com Góes (2010), a escola e a Literatura, enquanto instituições provam sua utilidade quando se tornam espaço para a criança refletir sobre sua condição pessoal, ou seja, quando permite ao aluno a capacidade de construir e participar do processo de construção do seu próprio conhecimento.
Dentro do contexto escolar, a Literatura Infantil atua como um instrumento valioso na formação do leitor, e em se tratando da aquisição da leitura, a história pode oferecer a criança muito mais do um universo ficcional, pois a realidade pode ser transmitida em uma linguagem acessível ao pequeno leitor. Nesse sentido, para que o aprendizado ocorra é necessário que a escola pense nas concepções de leitura que fundamentam a prática do educador em sala de aula, na medida em que se assume como formador de leitores.
[…] a leitura exige um grau maior de consciência e atenção do recebedor- leitor. Seria, pois, muito importante que a escola procurasse desenvolver no aluno formas ativas de lazer – aquelas que tornam o indivíduo crítico e criativo, mais consciente e produtivo. A Literatura teria papel relevante neste espaço. (CUNHA, 2006, p.47)
A leitura de obras literárias constitui-se como uma forte aliada de uma educação de qualidade, além disso, com a prática de leitura é imprescindível para que a escola oportunize o desenvolvimento do gosto pela leitura, por meio de textos significativos para o aluno. Nesse aspecto, de acordo com Bettelheim (2009), a literatura, principalmente a dos contos de fadas é o melhor caminho para ensinar o “significado” para a criança, uma vez que ao ouvir uma história ela também pode conhecer os padrões morais de uma sociedade, levando, assim, para o seu cotidiano os conceitos presentes nas histórias.
Além disso, para Góes (2010), o desenvolvimento da prática de leitura entre as crianças resultará em um enriquecimento progressivo no campo dos valores morais, da cultura, da linguagem e no campo racional. Sendo assim, podemos perceber que a Literatura Infantil no âmbito escolar contribui significativamente como instrumento de cunho pedagógico para o desenvolvimento infantil.
Observando como a prática de leitura é importante para um aprendizado efetivo, percebe-se a necessidade de que desde a primeira infância a criança tenha contato com obras literárias, tendo em vista sua contribuição para a sua formação.
Como vimos, o primeiro contato de uma criança com livros é ouvindo histórias. Começando a educação para leitura com histórias lidas em voz alta, o gosto da antecipação é a mais importante condição para a leitura ser despertada. Escutando histórias interessantes o vocabulário infantil aumenta o que é essencial para iniciar o indivíduo no percurso de leitor.
No presente capítulo é elaborada uma breve referência ao conceito de alfabetização, e ao papel da Literatura Infantil, assim como a importância do livro nesse processo.
2.4 Conceitos de Alfabetização
Por um longo período as concepções de leitura e escrita foram imaginadas de modo diferentes, segundo Barbosa (1994) até os mestres escolares eram especializados, havia aqueles que ensinavam a ler, outros ensinavam a escrever e outros, só a contar. Foi somente com a fundação da escola republicana que a crença do lema “escolarizar para alfabetizar” se cristalizou, nascendo assim a concepção do processo de alfabetização que conhecemos atualmente. A partir desse momento, aprender a escrever se aplica a aprender a ler, e ler se aprende escrevendo.
Essa concepção do processo de alfabetização esteve durante muito tempo limitado ao simples ato de codificação e decodificação de palavras, assim o ato de ler e escrever era concebido apenas como uma habilidade mecânica imposta pela escola, contudo sem nenhum significado verdadeiro para a criança.
Nesse sentido, Soares (2003) classificou e enumerou o processo de alfabetização em três tipos, o primeiro se refere à alfabetização como processo de representação de fonemas em grafemas e vice-versa. Portanto, estaria alfabetizado quem pudesse reconhecer o alfabeto, ler sílabas ou palavras isoladas. O segundo diz que alfabetização seria o processo de expressão/compreensão de significados, ou seja, a decodificação. Deste modo somente seria considerado alfabetizado quem pudesse compreender o que escrevia e interpretar o seu significado. Já sua terceira concepção acredita que a alfabetização depende de características culturais, econômicas e tecnológicas, ou seja, para um lavrador a alfabetização teria fins e objetivos bem diferentes do que para um operário da região urbana. Soares (2003) ainda conceitua alfabetização como a ação de alfabetizar, ou seja, de tornar o indivíduo alfabetizado, e alfabetizar seria então torná-lo capaz de ler e escrever.
Como vimos o processo ou conceito de alfabetização passou por diversas transformações ao longo dos anos, pois se antes para ser considerado alfabetizado era necessário apenas codificar palavras, hoje é preciso não apenas codificar palavras isoladamente, mas compreender o seu real significado levando em consideração o contexto social no qual o indivíduo está inserido.
Partindo desse pressuposto conforme as teorias desenvolvidas por Ferreiro (2001) a alfabetização para ter sentido e ser um processo interativo é preciso trabalhar com o contexto da criança, com histórias e com intervenções, desde que essas palavras ou histórias façam algum sentido para elas. Portanto, não é porque o aluno participa de forma direta da construção do seu conhecimento que o professor não precisa ensiná-lo, ou seja, cabe ao professor organizar atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre a escrita, porque é pensando nela que ela aprende.
Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar- se da escrita. (FERREIRO, 2001 p.23)
Quando a criança chega à escola, ela já traz consigo conhecimentos apreendidos anteriormente, nesse sentido é papel do professor potencializar tais conhecimentos, possibilitando assim a mesma uma aprendizagem significativa a partir de sua realidade social.
Compartilhando desse mesmo pensamento temos Freire e Macedo (1990) que afirmam que o início do processo de alfabetização, a leitura em si, deve estar amplamente envolvido com a história e os conhecimentos individuais do aluno. É preciso que o mesmo aprenda baseando-se no espaço em que está inserido, nas suas experiências e cultura. Esta apreensão do contexto do aluno é o que Freire denominou de leitura de mundo.
Ler a palavra e aprender como escrever a palavra, de modo que alguém possa lê-la depois, são precedidos do aprender como “escrever” o mundo, isto é, ter a experiência de mudar o mundo e de estar em contato com o mundo (FREIRE; MACEDO, 1990, p.31)
Para que a leitura tenha real sentido é necessário que ela esteja ligada à realidade social de cada leitor. Pois só a partir da leitura do mundo o indivíduo estará hábil para desenvolver a leitura da palavra. Esta, por sua vez, servirá como ferramenta para refletir acerca da realidade que nos envolve, portanto será por meio da escrita que levaremos nossos valores, saberes e anseios para outras pessoas.
Tendo em vista a importância do processo de alfabetização para a cidadania, a UNESCO diz que a alfabetização precisa ser concebida como:
[…] conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação; em sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades […] A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito básico para a educação continuada durante a vida. (UNESCO, 1999, p. 23)
Como podemos concluir a alfabetização é um processo complexo, cercado de diversos sentidos, assim é importante percebê-la como um sistema profundamente marcado por valores culturais e pelo contexto social em que é utilizado, tornando-se assim diferente em cada contexto, sem perder, contudo, seu autêntico valor na sociedade em geral.
2.5 Processos de alfabetização
Os estudos no campo do desenvolvimento da criança são amplos e, de acordo com Carvalho (2008), diversas teorias se dispõem a explicar como as crianças aprendem. Nesse sentido, a autora apresenta duas teorias: a primeira por associação, estímulo/resposta e outra pela interação do sujeito com o objeto intermediado por outro sujeito.
Essas teorias assumem um papel de grande relevância na formação de professores em contextos históricos diferentes, dando-lhes embasamentos metodológicos e teóricos, que envolvem o ato de alfabetizar. Portanto, faz-se necessário que o professor entenda como se dá o processo de aprendizagem da criança de maneira a colaborar para seu desenvolvimento cognitivo.
Diante da postura do professor com relação à aprendizagem Oliveira (1991) ressalta que:
[…] a competência ou o bom senso do Professor ainda é o melhor caminho para que se atinjam resultados satisfatórios; as metodologias, os procedimentos se valorizam nas mãos, no coração, no espírito do bom Professor, que estará sempre atento às causas de fracassos de seus alunos e aos meios de eliminá-las, saná-las, ou, pelo menos, diminuir seus efeitos. (OLIVEIRA, 1991, p.22)
Nesse sentido é muito importante que o professor promova em sala de aula um ambiente acolhedor, favorável à aprendizagem que propicie assim à criança a aquisição de novos conhecimentos, colaborando para torná-la um ser crítico e capaz de refletir a realidade que lhe cerca.
A criança, durante o período de alfabetização vai evoluindo gradativamente, e essa evolução foi caracterizada de acordo com Ferreiro (2001) em quatro grandes níveis silábicos: pré-silábico, silábico, silábico alfabético e alfabético.
Segundo a autora, durante o nível pré-silábico a criança não consegue estabelecer relação entre a fala e a escrita. Fase gráfica primitiva caracterizada pela presença de símbolos e pseudoletras, misturadas com letras e números. Nessa fase as crianças escrevem garatujas, desenhos e números, como se soubessem escrever, sem nenhuma preocupação com as características sonoras da escrita.
No nível silábico a criança relaciona grafia e som, de maneira que relaciona cada som através de uma letra. Nesse período a criança alcança um nível silábico evoluído representando a sílaba com a vogal ou a consoante que aparece na sílaba. Esse processo acontece porque a criança já começa a relacionar a escrita ao som das sílabas. A criança passa, então, a conviver com esses dois tipos de correspondências entre a grafia e o som.
Entrando assim no nível silábico alfabético a criança já tem a habilidade de percepção, onde a mesma vê que cada representação gráfica corresponde a um som. Nesse nível há duas formas de correspondência entre sons e grafias: silábica (sílaba é o som produzido por uma só emissão de voz) e alfabética (análise dos fonemas, que são os elementos sonoros da linguagem e têm nas letras o seu correspondente). Durante esse período a criança escreve uma letra para cada sílaba e costuma usar somente as vogais, porque combina com uma porção de palavras, mas para elas em uma palavra, não pode repetir a mesma letra duas ou mais vezes numa mesma escrita, pois assim o resultado será algo “não legível”. Nesse nível, a criança já começa a acrescentar letras na primeira sílaba.
A partir daí ela evolui para o nível alfabético, que se estabelece mais constantemente sobre sua percepção da relação entre a grafia e o som. Assim a criança já consegue entender que a sílaba é composta de letras que devem ser representadas distintamente, e se torna capaz de perceber outras características da comunicação gráfica, tais como as diferenças entre letras, sílabas, palavras e frases, ainda que ela falhe nessas representações.
Como observamos durante o processo de alfabetização a criança passa por uma série de passos ordenados até que compreenda a natureza de nosso sistema alfabético de escrita. Esses níveis provocam sempre um processo construtivo nos quais as crianças levam em conta parte da informação que recebem do meio.
É nesse momento que a literatura atua como forma de ajudar a despertar na criança o interesse pela leitura. O resultado desse processo são construções originais, tão estranhas ao nosso modo de pensar, que, à primeira vista, parecem confusas, mas é o caminho para o desenvolvimento da leitura e escrita.
Segundo Carvalho (2002), a aprendizagem da leitura se torna mais eficiente quando os leitores trazem o conhecimento a respeito das convenções, características, tipo de estrutura do texto cuja leitura vão iniciar. A variedade de textos apresentados aos alunos traz convenções nem sempre tão claras para leitores iniciantes. É por isso que trabalhar desde cedo com os alunos à combinação da linguagem escrita pode ajudar a formar bons leitores e consequentemente bons escritores.
Por meio do contato com a Literatura Infantil, o professor pode proporcionar às crianças experiências agradáveis no período de alfabetização, podendo trazer resultados satisfatórios por toda a sua vida acadêmica.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica da literatura. A revisão bibliográfica é um método de revisão abrangente, pois inclui a literatura teórica e empírica assim como estudos de aspectos quantitativo e qualitativo, ambos com a finalidade de reunir pesquisas que poderão contribuir com o tema proposto, permitindo maior síntese dos dados a fim de elaborar um trabalho mais completo que será feito a partir dos resultados de cada estudo utilizado (MARCONI; LAKATOS, 2012).
Para sustentação e apoio teórico, buscaram-se dentre outros os principais autores: Cunha (2006), Faria (2004), Ferreiro (2001), Góes (2010), José (2007), Soares (2003), Oliveira (1999), Lajolo; Zilberman (2006), Zilberman (2003).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atualmente, as escolas contam com grandes acervos de livros literários que podem ajudar o professor a incentivar o aluno a ser um leitor ativo, porém o professor tem que ser criativo nas leituras, deve usar métodos que cultive no aluno a vontade de ler. Nascimento (2016, p. 17) escreve que:
Quando se vai lê uma história -seja qual for- para a criança, não se pode fazer de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou várias) empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito como o autor construiu suas frases e ir dando as pausas nos lugares errados fragmentados um parágrafo porque perdeu o fôlego ou fazendo ponto final quando aquela ideia continuava deslizando na página ao lado.
Pensar em incentivar o hábito da leitura tem que ser bem planejado desde a escolha do livro, a história que vai ser lida e o mais essencial, ler muito bem, fazer deste momento o mais prazeroso possível, onde a criança se imagina na história e passe a ter vontade de ler ainda mais.
Por fim, todo trabalho bem planejado tende a resultado positivo, pensar estratégias com leitura diversificada gincanas, trabalhar produção de texto onde o próprio aluno construa seu texto e apresente em forma de roda de leitura, isso faz com que o aluno interage com o mundo da imaginação, é uma possibilidade de desenvolver novos olhares para a leitura.
Ultimamente é através da leitura que formamos indivíduo transformadores capazes de levar conhecimento e transformar o mundo que nos rodeia como afirma Silva (2017) a leitura pode ser:
1ª A leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda a própria vida do ser humano.
2ª A leitura está intimamente relacionada com o sucesso acadêmico do ser que aprende; e, contrariamente, à invasão escolar.
3ª A leitura é um dos principais instrumentos que permite ao ser humano situar-se com os outros, de discussão e de crítica para se poder chegar às práxis.
4ª A facilitação da aprendizagem eficiente da leitura é um dos principais recursos de que o professor dispõe para combater a massificação galopante executada principalmente pela televisão.
5ª A leitura, possibilitando a aquisição de diferentes pontos de vista e alargamento de experiências, parece ser o único meio de desenvolver a originalidade e autenticidade dos seres que aprende.
A escola, como instituição formadora, fica com a responsabilidade do ensino da leitura, não se pode esquecer que vivemos em um mundo rodeado de leituras audiovisuais, no qual livro ainda é o mais importante na nossa sociedade, pois através da leitura favorece o desenvolvimento de alunos, como pessoas sensíveis às problemáticas sociais, sujeitos ativos, capazes de mudar a realidade de uma cultura, que muitas vezes é massacrante principalmente com aquele que é considerado analfabeto.
O papel fundamental da educação é a formação integral dos indivíduos, a leitura, por sua vez, é o que possibilita essa formação, pois ela é essencial nos diversos ramos da ciência. Formar cidadão com senso crítico é tornar o aluno indivíduo capaz de compreender as leituras de vários gêneros, isso fará com que ele compreenda através da leitura a realidade que as rodeia. Para Silva (2017, p. 34):
Formação deste leitor depende de uma prática plural e intensa de Organizada em torno de textos representativos das diversidades de gêneros que circulam no espaço social em que o aluno está inscrito e é chamado a desempenhar-se como cidadão.
Todo professor precisa ter uma preocupação quanto ao desenvolvimento de seu aluno, verificando se este está se tornando um leitor capaz de decodificar e interpretar todos os gêneros de leitura que circula na sociedade, pois nos deparamos num cenário no qual existem alunos no ensino médio, com dificuldade de codificar a leitura de imagem.
Todo este problema é causado por um sistema de educação voltado somente para o material didático ou aquela aula que o aluno passa o ano inteiro com o estudo voltado para a teoria no qual não se volta para a realidade do dia-a-dia onde está inserido. Magda Becker Soares (2015, p. 24) define a leitura da seguinte forma: “A leitura é interação verbal entre os indivíduos, e indivíduos socialmente determinados o leitor e seus universos, seu lugar nas estruturas sociais, suas relações com o mundo e com os outros”.
Para se derrubar as enormes barreiras frente ao aprendizado da leitura, o trabalho interdisciplinar é um grande aliado para o professor, pois o trabalho pedagógico contextualizado com o mundo possibilita a interação com o outro, pois, o ato de ler não é um ato isolado, quando o professor faz um trabalho voltado para a leitura, o eixo norteador deve ser o mundo que nos rodeia, portanto, o aluno aprenderá a interpretar textos e informações, bem como, através da leitura vai se interagir com o mundo.
Cabe ao professor mediar essa compreensão do aluno em relação à leitura e a sua vida, facilitando o acesso e estimulando cada vez mais o ato de ler, como ao levar o aluno para visitar uma biblioteca ou um espaço cultural onde o aluno entre em contato direto com obras de arte, isso faz com que os alunos queiram conhecer outras obras, aguçando no aluno a vontade de conhecer o autor das obras, o significado e a história de cada uma.
O processo histórico do desenvolvimento da literatura infantil já é antigo. Os primeiros livros direcionados ao público infantil, surgiram no século XVIII. Autores como La Fontaine e Charles Perrault escreviam suas histórias, enfocando principalmente os contos de fadas. Desde essa época, a literatura infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância para a educação. Com isto, muitos autores foram surgindo, como Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade de suas obras. A literatura infantil era tida como mercadoria, principalmente para a sociedade aristocrática. Com o passar do tempo, a sociedade cresceu e modernizou-se por meio da industrialização, expandindo assim, a produção de livros.
Ouvir histórias é um fato tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram ouvir uma boa história, um bom relato, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais delas, já que sua capacidade de imaginar é maior.
A criança tem o primeiro contato com um texto de forma oral, quando o pai, a mãe, ou outra pessoa contam-lhes uma história. A preferida nesta fase, é a história da sua vida. A criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram com ela ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais detalhadas.
Depois de um determinado tempo, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc.
Ao pesquisar sobre o hábito da leitura, chegamos a uma triste constatação de que poucas crianças têm o hábito de ler em nosso país. A maioria tem o primeiro contato com a literatura apenas quando chega à escola. E a partir daí, vira obrigação, pois infelizmente muitos de nossos professores não gostam de trabalhar com a literatura infantil e talvez desconheçam técnicas que ajudem a “dar vida às histórias” e que, consequentemente, produzam conhecimentos.
Muitos não levam em conta o gosto e a faixa etária em que a criança se encontra, sendo que muitas vezes o livro indicado ou lido pelo professor está além das possibilidades de compreensão dela em termos de linguagem. Assim sendo, a formação do pequeno leitor acontece através da relação prazerosa com o livro infantil, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e o levam a vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história, introduzindo assim situações da realidade.
É ouvindo histórias que se pode sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve.
Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela “atmosfera literária” que, segundo Bamberger (2000, p.71) a criança encontra em casa. A criança que ouve histórias desde cedo, que tem contato direto com, certamente terá um desenvolvimento favorável em seu vocabulário, bem como, a prontidão para a leitura.
Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra.
Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolvem na criança um hábito que poderá acompanhá-la por toda a vida.
4.1 Importância da Literatura Infantil no processo de alfabetização
A escola como sendo o principal local onde se inicia a educação formal, é o mesmo lugar onde a maioria das crianças passa a ter um acesso mais frequente a Literatura Infantil, como a obtenção dessas obras não é acessível a todas as camadas populares a escola deveria ser o ambiente no qual as crianças pudessem deleitar-se no mundo dos livros e da fantasia. Porém nem sempre isso ocorre, mas muitas vezes esses métodos são disciplinadores e desmotivadores, fazendo com que a criança ache a escola triste e sem prazer.
De acordo com José (2007, p. 22):
A escola trabalha com vários livros didáticos que ensinam noções de várias ciências, humanas ou lógicas. Mas como ensina mal com o livro que encanta, que causa prazer pelo prazer ou que vai além do prazer e também ensina.
O livro é uma ferramenta ideal no processo educacional. Podemos observar que não há meio de comunicação em massa que não ajude na formação do pequeno leitor, mesmo antes de se dar início ao processo de alfabetização.
Nesse sentido, para Oliveira (1991) o gosto pela leitura depende do exemplo na família e na escola, pois se os pais e professores demonstram interesse pelo livro, a criança é intimamente convidada a ler, ainda que de início por espírito de imitação.
A família bem como a escola assume um papel de grande relevância em nossa sociedade que é o de dar à criança desde cedo a oportunidade de contato com a Literatura Infantil, visto que esta se configura como excelente instrumento para o auxílio da criança no processo de alfabetização.
Partindo desse pressuposto compreende-se que para que a Literatura Infantil seja utilizada como uma ferramenta importante de ajuda no processo de alfabetização devemos nos atentar com a qualidade das histórias que estamos lendo. Sobre isso ressalta Oliveira (1991):
E nós, educadores, devemos despertar na criança o gosto por leituras variadas: a fantasia, a poesia, o romance, as ciências humanas e exatas; vamos mostra lhes a beleza de uma história de fada; a beleza de uma descoberta científica; a beleza de um poema; a beleza de um fato histórico… (OLIVEIRA, 1991, p.64)
A Literatura Infantil deve despertar na criança uma familiaridade com o mundo da escrita que por sua vez, facilita a alfabetização, para isso o professor deverá optar por histórias que despertem o interesse da criança, observando seu nível de complexidade e a estrutura que o texto oferece.
Abordar o trabalho pedagógico não denota usar o livro apenas para a produção de atividades didáticas, mas garantir de maneira eficaz, momentos lúdicos únicos de leitura e escrita, pois ao ler um livro, muito pode ser explorado pelo professor e pelo aluno.
Segundo Faria (2004), a habilidade de educadores para perceber a riqueza e a estrutura do livro de Literatura Infantil é uma das principais alternativas para não reduzir a literatura a uma atividade simplesmente pedagógica. Explorar o livro infantil, sua narrativa, suas ilustrações, seu significado é um recurso que deve ser abordado com competência e criatividade pelo educador. Mas para isso, o professor também precisa saber ser leitor.
Nesse sentido é importante que os professores estejam preparados para formar leitores, e isso só é possível na leitura diária do livro de literatura, na interpretação coletiva, feita com alunos e professor e no registro, que é a construção do sentido do texto. O esforço em escrever algo que se ouve, auxiliado pelo professor, levará a criança à compreensão do velho e à possibilidade de recriação do novo.
5. CONCLUSÃO
O processo de alfabetização configura-se como um momento primordial na vida da criança visto que dela depende o sucesso e o fracasso da carreira do educando e, durante esse processo, a Literatura Infantil oferece suporte facilitando a apreensão de conhecimentos inerentes a esse momento.
Nesse sentido, optou-se por pesquisar a Importância da Literatura Infantil como mediadora no processo de alfabetização. Assim, o presente estudo mostrou que o livro paradidático revela-se como excelente recurso na prática pedagógica, quando trabalhado pelo educador de forma educativa e lúdica, além disso, ela possibilita que a criança desenvolva habilidades tanto na escrita quanto na leitura.
Observamos que o processo de alfabetização por meio da Literatura Infantil se dá através do contato direto das crianças com as mais diversas obras literárias. A Literatura Infantil é uma excelente ferramenta no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança, sendo possível a partir disso desenvolver outras habilidades na criança, como a leitura e escrita, o contato com essa Literatura é fundamental para que desperte no educando a criatividade.
A presente investigação a respeito da inserção da Literatura Infantil apontou que poucas escolas ainda desenvolvem projetos literários. Porém, em muitas é possível perceber que é trabalhado de forma individual em sala de aula a Literatura Infantil como elemento de mediação na alfabetização das crianças. Essas atividades são realizadas através de recitais de poesia, confecção de livros e do hábito da leitura diária por meio da interação entre o professor e o aluno. Porém, de um modo geral as escolas disponibilizam diversos recursos no sentido de oportunizar a prática de leitura diária de obras literárias em sala de aula. Ressaltamos desta forma a importância de a escola construir projetos coletivos de leitura, tornando assim esta prática uma política da instituição
Com relação às estratégias desenvolvidas pelos professores, foi possível observar que se utilizam de boas estratégias no processo de alfabetização por meio da Literatura Infantil, assim o livro é bem aproveitado, quando o professor conduz a criança de forma que está se torne um leitor crítico e reflexivo. Para isso é importante, portanto, que o professor apresenta os mais variados gêneros literários, visto a contribuição que cada um oferece durante esse processo educativo. Vale ressaltar que o processo de seleção das obras literárias deverá se dar de forma criteriosa, partindo da necessidade e realidade da criança, pois a mesma precisa ter significado ao educando.
Nesse sentido, a metodologia utilizada pelo professor é de suma importância para que o trabalho com a literatura junto com a alfabetização possa vir a surtir efeito com seus alunos, pois para o reconhecimento da escrita e seu significado é necessário ler e compreender. A leitura é uma atividade que deve estar inserida num projeto coletivo, cuja diversidade de situações sociais deve mobilizar as estratégias a serem adotadas em sala de aula.
A partir das discussões realizadas durante a pesquisa, concluímos que a Literatura Infantil se faz necessária como mediadora durante o processo de alfabetização, visto que esta quando trabalhada de forma correta pelo professor se configura como um dos caminhos que facilitam a aprendizagem, desenvolvendo assim na criança a imaginação, a capacidade criadora e o prazer pela leitura, aumentando desta forma sua habilidade de explorar o mundo e de posicionar-se corretamente em relação a si mesma a sociedade na qual está inserida.
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