REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503242206
Andre Ribeiro de Goveia1 / Neila Barbosa Osório2 / Débora Oliveira de Souza3 / Leonardo Sampaio Baleeiro Santana4 / Claudiany Silva Leite Lima5 / Leila Cardoso Machado6 / Raquel Nascimento de Souza7 / Marcela Cristina Barbosa Garcia8 / Samuel Marques Borges9 / Mirelly Ferreira Barbosa10 / Ana Élita Gomes dos Santos11 / João Antônio da Silva Neto12 / Elba Maria Rabelo Alves13 / Joselma dos Reis Gouveia14 / Sâmila Serpa da Silva Mafra15
RESUMO
Este trabalho analisa a poesia como ferramenta pedagógica no desenvolvimento do letramento literário, com base em uma pesquisa qualitativa e bibliográfica. O estudo discute como a interação com textos poéticos pode enriquecer o processo de ensino-aprendizagem, promovendo habilidades interpretativas, reflexivas e criativas. Aborda-se o papel transformador da poesia na formação integral, destacando sua capacidade de conectar elementos estéticos, culturais e sociais. A análise identifica desafios, como a falta de formação docente, e aponta possibilidades para integrar a poesia de maneira mais significativa no ambiente universitário. Conclui-se que a valorização da poesia no currículo contribui não apenas para o aprendizado técnico, mas também para a construção de uma educação mais sensível, inclusiva e crítica.
Palavras-chave: Poesia; Letramento Literário; Educação.
1. INTRODUÇÃO
A poesia é uma das expressões mais antigas e universais da linguagem humana, capaz de capturar emoções, provocar reflexões e transcender fronteiras culturais e temporais. No contexto educacional, essa forma literária apresenta um potencial transformador que vai além da estética, integrando-se à formação integral do indivíduo. Contudo, sua presença na sala de aula, especialmente como ferramenta pedagógica para o letramento literário, ainda é subutilizada, muitas vezes limitada a análises mecânicas ou relegada a segundo plano no currículo. Este trabalho busca compreender como a poesia pode ser efetivamente utilizada como recurso pedagógico, investigando sua capacidade de enriquecer o ensino e promover uma formação mais sensível, crítica e criativa.
O problema que norteia esta pesquisa é: de que maneira a poesia pode ser utilizada na educação para promover o letramento literário e transformar a experiência de aprendizagem dos estudantes? A questão emerge da constatação de que muitos ambientes escolares e universitários enfrentam desafios em engajar os alunos e acadêmicos na leitura literária, limitando o potencial dessa prática a abordagens técnicas e fragmentadas. Essa lacuna é agravada pela falta de formação docente direcionada ao uso criativo e inclusivo da literatura, especialmente da poesia, no cotidiano do acadêmico.
Com o objetivo de explorar essa problemática, esta pesquisa qualitativa e bibliográfica propõe-se a analisar o papel da poesia no contexto educacional, a partir de uma revisão aprofundada da literatura acadêmica sobre o tema. A metodologia adotada baseia-se na seleção e análise de obras que discutem as dimensões pedagógicas, culturais e sociais da poesia, permitindo uma compreensão crítica e articulada de suas potencialidades. Por meio dessa abordagem, busca-se não apenas identificar os benefícios do uso da poesia em sala de aula, mas também apontar os desafios e possibilidades de aprimoramento dessa prática.
A justificativa para este estudo reside na necessidade urgente de valorizar a literatura como uma ferramenta transformadora no ambiente escolar. Em um momento em que as práticas educativas enfrentam pressões por resultados imediatos e mensuráveis, a poesia oferece um contraponto essencial, permitindo que os estudantes desenvolvam habilidades cognitivas e emocionais que vão além do conteúdo técnico. Acredita-se que o letramento literário, promovido pela interação com textos poéticos, não apenas enriquece a formação dos alunos, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais reflexiva, empática e inclusiva.
Este trabalho, portanto, propõe-se a discutir o uso da poesia como ferramenta pedagógica, articulando perspectivas teóricas que evidenciem sua relevância no desenvolvimento do letramento literário e da formação integral dos estudantes. A análise será guiada por uma abordagem crítica, que considera tanto os benefícios quanto às limitações do uso da poesia no ambiente escolar, oferecendo uma contribuição relevante para o campo educacional. Ao final, espera-se que os resultados deste estudo inspirem novas práticas e pesquisas que coloquem a poesia no centro da educação, reconhecendo seu valor inestimável como uma linguagem que transforma tanto o indivíduo quanto a coletividade.
2. DIMENSÕES EDUCATIVAS E TRANSFORMADORAS
A poesia, enquanto forma de arte, exerce um papel inquestionável na formação humana, integrando elementos estéticos, culturais e sociais. No contexto educacional, ela se revela como uma ponte para o desenvolvimento de competências que transcendem a mera decodificação textual. Quando introduzida na prática pedagógica, a poesia oferece uma oportunidade de criar experiências literárias marcantes, estimulando a sensibilidade, a criatividade e o pensamento crítico. Essa dimensão educativa, no entanto, requer intencionalidade e planejamento por parte dos educadores, de modo que não se limite a um recurso esporádico, mas integre de forma contínua o processo de ensino-aprendizagem (Candido, 2006).
A leitura de poesias na escola é uma prática que amplia os horizontes culturais dos estudantes, conectando-os a tradições literárias diversas e permitindo-lhes explorar questões subjetivas e coletivas. Essa prática não se restringe a interpretar versos; ela exige um mergulho profundo no imaginário poético, onde o leitor é convidado a reconstruir significados e a dialogar com as múltiplas camadas do texto. Essa interação estimula a construção de uma visão mais crítica sobre a sociedade e os valores que a permeiam, reforçando a importância de formar leitores que não apenas consumam textos, mas se engajem com eles de maneira ativa e reflexiva (Cosson, 2014).
A poesia, quando narrada em sala de aula, transforma-se em um ato performático que transcende o texto escrito. A oralidade, nesse contexto, desempenha um papel central, pois estabelece uma relação direta entre o poeta, o narrador e o ouvinte. Essa prática revigora o caráter comunitário da literatura, rompendo com a ideia de que a leitura é uma atividade exclusivamente individual. O ato de contar poesias torna o texto vivo, pulsante, e cria um ambiente propício para o compartilhamento de emoções e ideias. Essa dinâmica promove não apenas o aprendizado de técnicas literárias, mas também a construção de laços afetivos e sociais entre os participantes do processo educativo (Scheid, 2014).
Ao integrar a poesia no currículo escolar, os professores devem considerar a riqueza simbólica e semântica que os textos poéticos oferecem. Mais do que uma análise formalista, é essencial promover discussões que conectem os temas abordados nos poemas às experiências vividas pelos estudantes, criando um diálogo entre o texto e a realidade. Essa abordagem dialógica favorece a construção de uma consciência crítica e desperta nos jovens a capacidade de questionar estruturas sociais e culturais que muitas vezes passam despercebidas. Assim, a poesia se transforma em um instrumento de emancipação intelectual e cultural (Pilati, 2017).
Os primeiros anos escolares apresentam um terreno fértil para a introdução da poesia, especialmente por meio de atividades que valorizem a ludicidade e a musicalidade presentes nos textos poéticos. Elementos como rimas, ritmos e repetições capturam a atenção dos estudantes facilitando o processo de aprendizagem e contribuindo para o desenvolvimento da oralidade e da alfabetização em alguns casos de acadêmicos que estão no processo. Ao explorar os aspectos sonoros e visuais dos poemas, dos estudantes são incentivados a experimentar a linguagem de maneira criativa e prazerosa, estabelecendo uma relação positiva com o ato de ler e aprender. Essa prática é essencial para criar leitores literários desde cedo, fomentando o prazer pela leitura como um valor que transcende as exigências escolares (Rosa, 2009).
No ensino médio, a poesia assume novas dimensões, permitindo discussões mais complexas e reflexivas. Poemas que abordam temas sociais, políticos e filosóficos tornam-se ferramentas valiosas para fomentar debates críticos e engajados. Nesse contexto, os jovens podem analisar questões como desigualdade, preconceito, gênero e meio ambiente a partir de uma perspectiva literária, ampliando sua compreensão sobre essas temáticas e desenvolvendo uma postura ativa frente aos desafios do mundo contemporâneo. Essa abordagem conecta a literatura à realidade, mostrando que a arte não é apenas uma representação do mundo, mas também um meio de transformá-lo (Vernant, 2002).
A utilização da poesia como recurso pedagógico exige, entretanto, que os professores estejam preparados para lidar com as especificidades dessa forma literária. A formação docente precisa incluir discussões sobre como abordar a poesia de maneira que ela não seja vista como um conteúdo hermético ou inacessível. É fundamental que os educadores sejam capacitados para explorar os aspectos culturais, históricos e sociais dos poemas, criando pontes entre o texto e o universo dos estudantes. Essa capacitação é crucial para superar resistências e preconceitos em relação ao uso da poesia na sala de aula, garantindo que ela seja compreendida como um recurso dinâmico e inclusivo (Marsiglia; Martins; Lavoura, 2019).
A inclusão da poesia na escola também deve considerar sua capacidade de estimular a imaginação e a criatividade. Textos poéticos, ao subverterem a lógica convencional da linguagem, oferecem aos estudantes um espaço para experimentar novas formas de expressão e pensamento. Essa liberdade criativa é essencial para o desenvolvimento de habilidades como o pensamento divergente, a resolução de problemas e a inovação. Além disso, a prática da criação poética em sala de aula pode ser uma experiência transformadora, permitindo que os alunos expressem suas emoções e vivências de forma artística, fortalecendo sua autoestima e identidade (Siqueira, 2014).
A narrativa poética, ao ser compartilhada em círculos de leitura ou oficinas, também contribui para a construção de uma comunidade de leitores. Esses espaços de convivência literária incentivam o diálogo, a troca de ideias e a valorização das múltiplas perspectivas presentes na sala de aula. A poesia, nesse contexto, se torna um catalisador de interações sociais que enriquecem o processo educativo e fortalecem os vínculos entre os participantes. Essa dimensão comunitária é particularmente importante em contextos escolares onde a diversidade cultural é marcante, pois promove a inclusão e o respeito às diferenças (Cosson, 2014).
Ao resgatar a importância da poesia na educação, é possível perceber que ela vai além de uma prática literária; ela é uma ferramenta de formação humana que potencializa a construção de uma sociedade mais sensível, criativa e consciente. A escola, ao incorporar a poesia como prática pedagógica, assume o papel de mediadora entre a tradição cultural e as novas gerações, garantindo a continuidade de valores que humanizam e transformam. Essa integração exige um compromisso com a valorização da arte e da cultura como elementos indispensáveis para a formação de cidadãos plenos e engajados (Candido, 2006).
2.1. A Poesia como Ferramenta de Letramento Literário
Quando inserida no ambiente educacional como ferramenta de letramento literário, a poesia se torna mais que um objeto de estudo; ela é um convite à imersão na linguagem em seu estado mais essencial e criativo. Ao romper com a rigidez da prosa informativa, a poesia permite que o leitor explore a multiplicidade de significados, promovendo uma relação ativa com o texto. Nesse movimento, o sujeito-leitor não apenas decodifica palavras, mas também descobre caminhos interpretativos que o conectam à sua subjetividade e ao mundo ao seu redor (Candido, 2006).
O letramento literário, enquanto processo que extrapola a alfabetização técnica, encontra na poesia um aliado singular. Por meio de sua estrutura estética e simbólica, a poesia desafia o leitor a mergulhar em camadas de significado que demandam sensibilidade, intuição e reflexão. Essa interação não é passiva; exige uma postura investigativa e criativa que cultiva habilidades fundamentais, como a capacidade de inferir, questionar e relacionar ideias. A poesia, com sua linguagem condensada e evocativa, estimula o raciocínio analógico e a percepção estética, elementos cruciais para o desenvolvimento de um pensamento crítico e autônomo (Cosson, 2014).
Em um mundo onde a pressa frequentemente sacrifica a contemplação, a poesia restaura o tempo necessário para observar, sentir e interpretar. Esse exercício é essencial para o letramento literário, pois ensina o leitor a valorizar o ritmo, as imagens e os silêncios presentes nas palavras. A musicalidade do verso, as metáforas sutis e as pausas entre os significados constituem uma gramática própria, que educa o leitor a ler não apenas o que está escrito, mas também o que se insinua nas entrelinhas. Esse aprendizado expande as fronteiras da linguagem e da cognição, criando leitores mais atentos e críticos (Pilati, 2017).
No contexto escolar, a poesia desafia o paradigma funcionalista que reduz a leitura a uma ferramenta utilitária. Ela amplia o horizonte literário ao apresentar aos estudantes formas de linguagem que dialogam com o imaginário, a emoção e a criatividade. O letramento literário, nesse sentido, não se limita a ensinar técnicas de leitura, mas busca formar indivíduos que compreendam a literatura como espaço de expressão e transformação. A poesia, com sua capacidade de provocar e surpreender, é o veículo ideal para essa jornada, pois cativa o leitor ao mesmo tempo que o desafia a desconstruir e reconstruir significados (Rosa, 2009).
A poesia, quando narrada em sala de aula, transforma-se em um ato performático que transcende o texto escrito. A oralidade, nesse contexto, desempenha um papel central, pois estabelece uma relação direta entre o poeta, o narrador e o ouvinte. Essa prática revigora o caráter comunitário da literatura, rompendo com a ideia de que a leitura é uma atividade exclusivamente individual. O ato de contar poesias torna o texto vivo, pulsante, e cria um ambiente propício para o compartilhamento de emoções e ideias. Essa dinâmica promove não apenas o aprendizado de técnicas literárias, mas também a construção de laços afetivos e sociais entre os participantes do processo educativo (Scheid, 2014).
A prática poética, ao ser trabalhada em sala de aula, também promove uma experiência de letramento que vai além do individual. A partilha de poemas em círculos de leitura, saraus ou oficinas literárias cria uma comunidade de leitores que interagem, questionam e se apoiam na construção de sentidos. Essa dimensão colaborativa do letramento literário é essencial para fomentar o diálogo e a empatia, habilidades indispensáveis em um mundo plural e interconectado (Cosson, 2014).
Ao resgatar a importância da poesia na educação, é possível perceber que ela vai além de uma prática literária; ela é uma ferramenta de formação humana que potencializa a construção de uma sociedade mais sensível, criativa e consciente. A escola, ao incorporar a poesia como prática pedagógica, assume o papel de mediadora entre a tradição cultural e as novas gerações, garantindo a continuidade de valores que humanizam e transformam. Essa integração exige um compromisso com a valorização da arte e da cultura como elementos indispensáveis para a formação de cidadãos plenos e engajados (Candido, 2006).
2.2. Perspectivas Pedagógicas no Uso da Poesia em Sala de Aula
A poesia oferece uma forma única de articular emoções, imaginação e raciocínio crítico, sendo uma ferramenta de ensino que pode transformar a experiência educativa. Essa prática, no entanto, exige uma perspectiva pedagógica que reconheça a poesia como um espaço de múltiplas conexões: entre o aluno e o texto, entre a linguagem e o mundo, e entre as subjetividades que emergem no processo de leitura e escrita.
A abordagem pedagógica da poesia requer um movimento de desconstrução das práticas tradicionais que restringem a literatura a uma análise mecânica ou conteudista. É fundamental criar um ambiente onde a poesia seja vivenciada como experiência estética, sensorial e reflexiva. Nesse contexto, o professor atua como mediador, orientando os alunos a explorarem as nuances do texto poético e a dialogarem com seus múltiplos significados. Essa mediação, longe de ser diretiva, é um convite ao encantamento e à descoberta, permitindo que os estudantes se tornem coautores na construção do sentido (Cosson, 2014).
A natureza da poesia é rica em metáforas, imagens e ritmos, permite que temas de diversas áreas do conhecimento sejam abordados de maneira integrada. Por exemplo, um poema que explore elementos da natureza pode ser um ponto de partida para discussões em ciências; já um texto que evoque acontecimentos históricos pode enriquecer a compreensão do contexto social e político em aulas de história. Essa abordagem transversal não só amplia o alcance do conhecimento, como também promove uma visão mais holística e significativa do aprendizado (Pilati, 2017).
Trabalhar textos poéticos de diferentes autores e origens é uma oportunidade de apresentar aos alunos perspectivas diversas sobre o mundo, fomentando o diálogo intercultural. A valorização de vozes poéticas de diferentes regiões, gêneros e contextos sociais ajuda a desconstruir preconceitos e a construir uma consciência crítica sobre questões de desigualdade, identidade e pertencimento. Nesse sentido, a sala de aula se torna um espaço onde a pluralidade é celebrada por meio da linguagem poética (Scheid, 2014).
A prática pedagógica da poesia também favorece o desenvolvimento de habilidades orais e expressivas. A declamação de poemas, por exemplo, permite que os estudantes exercitem a interpretação e a comunicação, ao mesmo tempo em que desenvolvem confiança em si mesmos. O uso da voz, do ritmo e da entonação para dar vida ao texto poético transforma a leitura em uma performance artística, promovendo o protagonismo dos alunos e tornando o aprendizado mais dinâmico e envolvente (Rosa, 2009).
Ademais, a escrita de poesias pode ser uma atividade poderosa para estimular a criatividade e a expressão pessoal dos estudantes. Quando convidados a criar seus próprios textos, os alunos são desafiados a articular suas emoções, pensamentos e experiências de maneira artística. Esse processo não apenas fortalece suas habilidades de escrita, mas também proporciona um espaço seguro para a autorreflexão e a exploração de sua identidade. A poesia escrita pelos próprios estudantes tem o potencial de transformar o cotidiano em arte, revelando as singularidades de cada indivíduo (Siqueira, 2014).
Para que o uso da poesia em sala de aula seja efetivo, é crucial que o professor adote práticas pedagógicas que estimulem a participação ativa dos alunos. Estratégias como oficinas literárias, rodas de leitura e debates poéticos são formas de engajar os estudantes de maneira mais profunda. Essas atividades promovem não apenas a interação com o texto, mas também o diálogo entre os participantes, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem por meio da troca de ideias e perspectivas (Cantuario; Marques; Da Silva, 2019).
Além disso, é importante reconhecer que a poesia não precisa ser trabalhada apenas em momentos formais ou estruturados. Ela pode ser integrada ao cotidiano escolar como um elemento de inspiração e reflexão, seja por meio de leituras rápidas no início das aulas, seja como um recurso para abordar temas contemporâneos e estimular o pensamento crítico. Essa flexibilidade no uso da poesia amplia sua relevância e torna sua presença mais natural e acessível no ambiente escolar (Candido, 2006).
Desta feita, ao explorar as possibilidades pedagógicas da poesia, é essencial valorizar a subjetividade e a liberdade interpretativa dos estudantes. Cada aluno traz consigo um repertório único de experiências e percepções, que influencia a forma como ele interage com o texto poético. Respeitar essas interpretações e encorajá-las é uma forma de fortalecer a autonomia e a confiança dos estudantes em suas capacidades intelectuais e criativas. A poesia, nesse sentido, não é apenas um objeto de estudo, mas uma ferramenta para a construção de uma educação mais humana, sensível e transformadora (Pilati, 2017).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussões apresentados neste trabalho refletem uma análise crítica baseada em estudos bibliográficos sobre o uso da poesia como ferramenta pedagógica no letramento literário. A revisão das obras consultadas revelou que a poesia ocupa um papel central na promoção de habilidades interpretativas, reflexivas e criativas, contribuindo significativamente para o desenvolvimento de leitores críticos e engajados. Os autores analisados oferecem perspectivas variadas que dialogam entre si, destacando a riqueza e a complexidade dessa prática educativa.
Candido (2006) afirma que a literatura, incluindo a poesia, transcende a mera função estética para atuar como um elemento de formação humana. Segundo o autor, o estudo analítico do poema permite ao leitor desenvolver um olhar mais atento e sensível, promovendo o entendimento das relações entre linguagem e experiência. Essa visão é corroborada por Cosson (2014), que destaca o letramento literário como um processo formativo que capacita o sujeito a compreender e interagir criticamente com o mundo. Esses autores concordam que a poesia possui uma força educacional que vai além da leitura superficial, exigindo um engajamento profundo do leitor.
Os estudos também evidenciam que a poesia, ao explorar a musicalidade e a metáfora, estimula a imaginação e a sensibilidade dos leitores. Pilati (2017) argumenta que o texto poético, com sua estrutura aberta e evocativa, desafia o leitor a construir significados, fomentando a autonomia interpretativa. Rosa (2009) complementa essa ideia ao afirmar que a poesia é especialmente eficaz nas séries iniciais, onde elementos como rima e ritmo atraem o interesse das crianças, facilitando o processo de alfabetização e/ou prazer pela leitura. Esses autores oferecem uma perspectiva consistente sobre o potencial da poesia para engajar os leitores em diferentes faixas etárias.
A interdisciplinaridade aparece como um aspecto recorrente nos estudos analisados. Cantuario, Marques e Da Silva (2019) discutem como a poesia pode ser usada para conectar diferentes áreas do conhecimento, criando pontes entre literatura, história, ciências e artes. Essa abordagem enriquece o aprendizado ao oferecer uma visão integrada e contextualizada dos conteúdos escolares. Essa perspectiva dialoga com as reflexões de Marsiglia, Martins e Lavoura (2019), que defendem o uso da poesia para superar reducionismos no método dialético, promovendo um ensino mais amplo e significativo.
Siqueira (2014) destaca o papel das oficinas poéticas na escola, afirmando que essas práticas ajudam os alunos a expressar suas emoções e lidar com questões pessoais de forma construtiva. Essa ideia é expandida por Della Fonte (2014), que argumenta que a poesia tem o poder de promover a empatia e a reflexão ética, elementos essenciais para a formação de cidadãos conscientes e sensíveis.
Embora os estudos apontem muitos benefícios no uso da poesia como ferramenta pedagógica, também identificam desafios significativos. Um dos principais é a resistência de alguns professores, que se sentem inseguros para trabalhar textos poéticos em sala de aula. Cosson (2014) argumenta que essa dificuldade está relacionada à formação inicial dos docentes, que muitas vezes negligencia o ensino de literatura como prática reflexiva e criativa. Para superar esse obstáculo, o autor sugere a implementação de programas de formação continuada que capacitem os professores a lidar com a complexidade do texto poético.
Os autores analisados também discutem a importância de adaptar a prática pedagógica às realidades culturais e sociais dos alunos. Scheid (2014) e Salomão (2014) enfatizam a necessidade de valorizar as expressões poéticas locais e regionais, como cordéis e cantigas, para estabelecer conexões entre a literatura e as experiências vividas pelos estudantes. Essa abordagem inclusiva não apenas enriquece o repertório cultural dos alunos, mas também fortalece seu senso de identidade e pertencimento.
A discussão dos resultados evidencia que a poesia não é apenas uma ferramenta de ensino, mas também um meio de transformação social e cultural. Os estudos demonstram que o contato com a poesia incentiva o pensamento crítico, a criatividade e a sensibilidade, preparando os leitores para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Essa visão é reforçada por Paulino (2001), que argumenta que o letramento literário vai além da formação acadêmica, contribuindo para a formação de sujeitos autônomos e engajados.
Conclui-se que os resultados obtidos a partir da revisão bibliográfica oferecem um panorama robusto e consistente sobre as possibilidades e os desafios do uso da poesia em contextos educacionais. Os autores analisados fornecem uma base teórica sólida para compreender a importância da poesia no letramento literário, apontando caminhos para futuras pesquisas e práticas pedagógicas. A poesia, nesse contexto, reafirma-se como uma linguagem indispensável para a educação, não apenas como objeto de estudo, mas como uma experiência transformadora que enriquece a vida dos indivíduos e das comunidades.
4. CONCLUSÃO
A poesia, enquanto ferramenta pedagógica, se revela como um elemento transformador na educação, capaz de transcender as barreiras do ensino tradicional. Sua presença em sala de aula não apenas amplia as possibilidades de letramento literário, mas também enriquece a formação integral dos estudantes, despertando neles a capacidade de sentir, interpretar e dialogar com o mundo. A poesia oferece um espaço de conexão entre a imaginação e a realidade, promovendo experiências de leitura que não se limitam à decodificação, mas que instigam reflexões profundas e críticas sobre as múltiplas dimensões da linguagem e da vida.
Ao promover o contato com o texto poético, a escola não apenas cumpre seu papel de ensinar, mas também cria oportunidades para a formação de sujeitos sensíveis, criativos e engajados. A poesia, em sua essência, rompe com a rigidez do cotidiano e convida os leitores a vivenciarem a linguagem como arte e expressão. Essa vivência literária contribui para o fortalecimento de habilidades cognitivas e emocionais, oferecendo aos estudantes ferramentas para compreenderem suas próprias experiências e se posicionarem frente às demandas da sociedade contemporânea.
Assim, a poesia não deve ser vista como um recurso secundário, mas como uma prática essencial no contexto educacional. Sua inclusão no currículo escolar pode ressignificar o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o mais humano, inclusivo e significativo. O desafio, portanto, reside na valorização da poesia como uma linguagem viva e necessária, que transforma a leitura em um ato de resistência, criação e liberdade, essenciais para a construção de uma educação que vá além do conteúdo, alcançando as profundezas do ser.
4.1. limitações da pesquisa
As limitações desta pesquisa se concentram, primeiramente, na natureza teórica e bibliográfica do estudo, que, embora ofereça uma análise aprofundada e rica em discussões, não permite verificar empiricamente os efeitos práticos do uso da poesia como ferramenta pedagógica em sala de aula. A ausência de dados provenientes de experiências ou intervenções realizadas diretamente no ambiente escolar limita a possibilidade de mensurar, com precisão, o impacto das práticas pedagógicas propostas sobre o letramento literário dos estudantes.
Apesar de ter sido fundamentada em obras reconhecidas e relevantes, a pesquisa não conseguiu contemplar todas as perspectivas e abordagens existentes sobre o tema. Questões como a diversidade de contextos culturais, socioeconômicos e regionais, que influenciam diretamente a recepção e a aplicabilidade da poesia no ambiente escolar, poderiam ter sido exploradas de forma mais detalhada, considerando as especificidades dos diferentes públicos.
4.2. recomendações para estudos futuros
Com base nos resultados e nas limitações identificadas, recomenda-se que estudos futuros explorem o impacto prático do uso da poesia como ferramenta pedagógica por meio de pesquisas empíricas em diferentes contextos escolares. Investigações que envolvam intervenções em sala de aula, acompanhadas de metodologias qualitativas e quantitativas, podem oferecer insights mais detalhados sobre os benefícios e desafios dessa abordagem. Essas pesquisas permitirão observar diretamente o desenvolvimento do letramento literário, a evolução das competências interpretativas e os efeitos emocionais e sociais nos estudantes.
Outro campo promissor é a análise do papel da formação docente na implementação de práticas pedagógicas baseadas na poesia. Estudos que examinem como a capacitação continuada de professores influencia a escolha e a aplicação de textos poéticos podem contribuir para a elaboração de programas de formação mais alinhados às demandas do ensino literário. Além disso, é recomendável investigar como os professores percebem e lidam com as resistências de alunos ou suas próprias limitações em trabalhar a poesia, oferecendo soluções práticas para superar esses obstáculos.
Estudos que analisem como esses gêneros dialogam com o universo dos estudantes e contribuem para a inclusão e a valorização de identidades plurais podem ampliar significativamente o campo do letramento literário. Tais investigações podem não apenas enriquecer a prática educativa, mas também oferecer subsídios para a formulação de políticas públicas que integrem a poesia como elemento estruturante do currículo escolar.
REFERÊNCIAS
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1Mestrando em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: andregoveiar@gmail.com
2Pós-Doutora em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: neilaosorio@uft.edu.br
3Doutora em Administração. Centro Universitário FEI/SP. E-mail: deb.sec@gmail.com
4Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: leonardosbsantana@gmail.com
5Mestre em Biotecnologia. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: claudianymilk@gmail.com
6Mestre em Linguística Aplicada. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. E-mail: leila.machado@uems.br
7Mestre em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: raquelnascimento@uft.edu.br
8Mestranda em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: marcelacristina@uft.edu.br
9Mestrando em Educação. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: samuelbiologo11@gmail.com
10Especialista em Metodologia da Pesquisa. Centro Universitário UNIRG. E-mail: mirelly.barbosa@professor.to.gov.br
11Especialista em Orientação Educacional. Graduada em Pedagogia. E-mail: anagomes@professor.to.gov.br
12Bacharel em Psicologia. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: joaonetosat@gmail.com
13Graduada em Direito. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: elbarabelo@hotmail.com
14Especialista em Orientação Educacional. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: joselmareisgouveia689@gmail.com
15Graduada em Ciências Biológicas. Universidade Federal do Tocantins. E-mail: samilaserpa@hotmail.com